Artigo a Inteligência Militar No Exército

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Escola de Inteligência Militar do Exército Escola de Inteligência Militar do Exército Escola de Inteligência Militar do Exército Escola de Inteligência Militar do Exército A Lucerna A Lucerna A Lucerna A Lucerna Ano II - Nº 4 - Nov/2013 ISSN 2316 - 364X Ano II - Nº 4 - Nov/2013 ISSN 2316 - 364X Artigos científicos Artigos científicos Artigos científicos Artigos científicos

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Artigo sobre inteligência militar.

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A LucernaA LucernaA LucernaA Lucerna

Ano II - Nº 4 - Nov/2013ISSN 2316 - 364X

Ano II - Nº 4 - Nov/2013ISSN 2316 - 364X

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Page 2: Artigo a Inteligência Militar No Exército

1 EDITORIAL

2 A INTELIGÊNCIA EM APOIO ÀS OPERAÇÕES NO

AMBIENTE TERRORISTA

Renato de Oliveira Assis

Marco Lúcio Niendziela

Willian Pina Botelho

14 O APOIO DA INTELIGÊNCIA NO LEVANTAMENTO DOS

STAKEHOLDES NAS OPERAÇÕES DE INFORMAÇÃO

Luiz Octávio Carvalho de Penna

Emerson da Silva Moraes

João Gustavo B. de Albuquerque

Pablo Ourthe Cabale

31 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DOS SISTEMAS DE

INTELIGÊNCIA DAS FORÇAS ARMADAS, PARA CONSTRUÇÃO DE

CENÁRIOS PROSPECTIVOS PELO MINISTÉRIO DA DEFESA

Luiz Fernando Medeiros Nóbrega

Jason Silva Diamantino

Emerson Garcia Cavaleiro

Raphael Gustavo Frischgesell

46 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO TERRENO, CONDIÇÕES

METEOROLÓGICAS E INIMIGO (PITCI) POR INTERMÉDIO DO

PROGRAMA "C2 EM COMBATE"

Antonio José Gonçalves Pinto

Paulo Cezar Crocetti

Marcus Vinícius de Andrade Gama

ESCOLA DE INTELIGÊNCIA MILITAR DO EXÉRCITO Cel Inf Antônio Jorge Dantas de Oliveira Comissão Editorial da Revista "A LUCERNA" Cel Inf Antônio Jorge Dantas de Oliveira Ten Cel Inf André Luiz Veloso Ten Cel Cav Vagner Knopp de Carvalho

Ten Cel Inf Marcelo Barbosa Lima Gasse Maj Inf Márcio Fernandes do Nascimento Maj Art André Santos Relva da Fonte Maj Art André Horta Piancó

Maj Art Carlos Gustavo Monteiro Maj Inf Sérgio Henrique Lopes Rendeiro

Capa

1º Sgt Com Leandro Salin Andres

Elaboração Gráfica S Ten QMB Luís Fernando Silva Alves

Revisão Cel Inf Antônio Jorge Dantas de Oliveira Ten Cel Cav Vagner Knopp de Carvalho

Catalogação bibliográfica internacional, normalização

e editoração Biblioteca do Colégio Militar de Brasília Disponível em: http://www.esimex.ensino.eb.br

Contatos:

Av. Duque de Caxias, S/Nr - SMU Cep: 70630-000 - Brasília-DF E-mail: [email protected] Tiragem desta edição: 150 (cento e cinquenta) exemplares

Impressão: Gráfica Athalaia - Brasília-DF

Os artigos desta publicação são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da EsIMEx. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta revista, desde que citada a fonte.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

A Lucerna / Escola de Inteligência Militar do Exército. Ano II Nº 4 (nov 2013). Brasília: Athalaia, 2013. 55p.

Semestral ISSN 2316-364X 1. Inteligência Militar 2. Exército Brasileiro 3. Escola de Inteligência Militar do Exército CDU: 355.40(81)

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2 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

RENATO DE OLIVEIRA ASSIS 1

MARCO LÚCIO NIENDZIELA1

WILLIAN PINA BOTELHO1

1 Oficiais do Exército Brasileiro, Bacharéis em Ciências Mili-

tares pela Academia Militar das Agulhas Negras e Mestres em

Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Ofici-

ais.

1 INTRODUÇÃO

O Brasil deixou de ocupar uma posição de coad-

juvante e passou a ser um dos principais líderes

mundiais na discussão de temas multilaterais atuais.

O envolvimento brasileiro na solução de questões

sensíveis pode tornar o país alvo de ataques extre-

mistas contrários às posições defendidas pelo Brasil.

Da mesma forma, o País ocupa posição de destaque

A INTELIGÊNCIA EM APOIO ÀS OPERAÇÕES NO AMBIENTE TERRORISTA

RESUMO

No dia 11 de setembro de 2001, uma série de atentados terroristas ocorreu nos Estados Unidos.

Uma organização até então desconhecida pela maioria dos órgãos de segurança internacional, denomi-

nada Al-Qaeda, planejou e executou o sequestro de aviões comerciais de passageiros. Dois desses avi-

ões foram conduzidos e se chocaram com as torres do edifício World Trade Center, em Nova York. A

terceira aeronave colidiu com o Pentágono - sede do Departamento de Defesa americano. Tal atentado

provocou cerca de 3.000 (três mil) mortes, a maioria de civis. Indubitavelmente, os dramáticos eventos

perpetrados em 11 de setembro vieram a constituir um rompimento no que se refere à Nova Ordem

Mundial e às ameaças à Segurança Internacional. Trata-se do surgimento da Guerra Irregular e, nesse

universo, está o terrorismo. O Brasil, por sua vez, tem aumentado sua projeção internacional desde o

início do século, a partir de sua estabilização política e econômica. Da mesma forma, o fenômeno da

globalização aproximou o país dos centros de decisão internacional, colocando-o em posição de desta-

que em discussões como o meio ambiente, a questão nuclear, a questão energética e a solução de con-

flitos no mundo, dentre outros. Tais fatores se aliaram à escolha do país para sediar Grandes Eventos

Mundiais, como a Copa das Confederações em 2013, a Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada em

2016. Tudo isso projetou a imagem do Brasil no cenário internacional, inserindo-o também em discus-

sões políticas sensíveis que podem atrair para si o risco de atentados terroristas. Estes visam a causar

grande impacto por meio de ações contundentes, desafiando o poder estatal e semeando o terror entre

as sociedades. Nesse mister, o Brasil, ao ocupar nova posição no contexto geopolítico mundial, neces-

sita possuir um sistema de Inteligência que o proteja de ataques dessa natureza. Porém, sua atual es-

trutura possui entraves que dificultam tal responsabilidade e que precisam ser melhorados, dados que

pretendem ser abordados no presente trabalho.

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EsIMEx - 2º Semestre de 2013 3

no sistema internacional ao ser escolhido para sediar

a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas em 2016.

O País, por sua vez, precisa estar preparado para

atuar eficazmente em ações preventivas e operativas

para se adequar ao ambiente antiterror. Para tanto,

deve contar com Forças Armadas e Órgãos Federais

e Estaduais, civis e militares, em condições de agi-

rem contra o terrorismo em território nacional, inte-

grando seus esforços em prol da segurança do Esta-

do brasileiro. Nesse mister, a presente pesquisa tem

por finalidade definir a atuação integrada dos dife-

rentes órgãos de Inteligência do Brasil dentro de um

ambiente onde o terrorismo passa a ser um ator pre-

sente.

1.1 CONCEITOS E MÉTODOS

1.1.1 Delimitação do Tema

A Inteligência em apoio às Operações no am-

biente terrorista.

1.1.2 Problema

A integração entre os serviços de inteligência

de diferentes órgãos civis e militares, federais e es-

taduais, no combate ao terrorismo, carece de melho-

rias. O Exército Brasileiro (EB) ainda se relaciona

pouco com o Ministério da Justiça.

O mesmo ocorre com a Polícia Federal. Os

Órgãos de Segurança Pública (OSP) Estaduais, por

sua vez, mantêm certa aproximação com o EB, man-

tendo um vínculo amistoso respeitoso e funcional,

mas não o suficiente para permitir a integração ne-

cessária para tratar o assunto. Da mesma forma, o

EB pouco se relaciona com as Polícias Civis.

1.1.3 Questões de Estudo

- O emprego da Inteligência deve ser centrali-

zado em caso de ações terroristas no Brasil?

- Por quem (em qual nível)?

- De quê forma?

- O atual nível de integração entre os diferen-

tes órgãos de Inteligência do país permite sua ação

eficaz no ambiente terrorista?

- O quê deve ser feito para que a atual estrutu-

ra de Inteligência do país seja eficiente e eficaz?

1.1.4 Objetivo

O objetivo geral do trabalho será atingido pelo

cumprimento dos objetivos específicos propostos e

julgados pertinentes. Cada item particular contribui-

rá para a precisão da pesquisa e para se chegar a uma

visão holística da problemática em questão, validan-

do ou não a hipótese formulada.

1.1.4.1 Objetivo Geral

Analisar o atual nível de integração entre os

diferentes órgãos de inteligência do Brasil e apresen-

tar procedimentos para seu emprego eficaz no Teatro

de Operações Anti e Contraterror.

1.1.4.2 Objetivos Específicos

- Apresentar a atual conjuntura do sistema

político internacional, o papel do terrorismo nesse

contexto e suas consequências para o Brasil;

- Apresentar os órgãos de Inteligência do

Brasil;

- Apresentar as principais possibilidades e

limitações do Estado Brasileiro no combate ao terro-

rismo;

- Apresentar as ações já desencadeadas pelo

Brasil para o combate ao terrorismo;

- Apresentar as propostas de integração dos

diferentes órgãos de inteligência no combate ao ter-

rorismo.

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4 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

2 O AMBIENTE TERRORISTA GLOBAL

2.1 O FINANCIAMENTO AO TERRORISMO

O terrorismo somente sobrevive ao longo dos a-

nos se apresentar uma sólida base financeira que

possa lhe assegurar uma estrutura de modus operan-

di internacional. A prática da disseminação do medo

por meio de grandes atos praticados por grupos ter-

roristas apresenta um alto custo financeiro, vez que,

em sua grande maioria, depende de um mínimo de

organização logística.

A atividade terrorista se financia mediante ativi-

dades tanto legítimas como ilegítimas. Existe uma

grande variedade de atividades que contribuem para

a manutenção econômica do terrorismo. A mais des-

tacada e usual consiste no tráfico de drogas, porém,

não se pode deixar de citar outras atividades, como o

tráfico de pessoas, a falsificação de produtos, os

sequestros, a extorsão, a lavagem de capitais, etc.

Todavia, merece relevo mencionar que o vínculo

entre a estruturação econômica do terrorismo e o

comércio ilegal de drogas acabou por apresentar, nos

últimos anos, de forma exacerbada, um aumento

quantitativo nunca antes visto. A razão se deve,

principalmente, à expulsão dos talibãs do Afeganis-

tão, pois muitos deles se reagruparam no Paquistão.

Ademais, vale destacar que os recursos para o fi-

nanciamento de atos terroristas não advém tão so-

mente do narcotráfico, mas também do tráfico de

imigrantes, da extorsão, da lavagem de capitais, da

corrupção estatal e privada, etc.

Nessa direção, pode-se afirmar que a reciclagem

de bens ilícitos e o terrorismo são delitos sem fron-

teiras e que caminham juntos, tendo em vista a reali-

dade atual das grandes organizações criminosas co-

mo, por exemplo, as grandes máfias, as quais neces-

sitam de recursos financeiros “limpos” e “desemba-

raçados” para que suas atividades e objetivos pos-

sam ser alcançados com mais rapidez e eficiência.

Em síntese, a repressão do financiamento do ter-

rorismo é uma meta ambiciosa dos Estados, e seu

êxito dependerá da capacidade destes em dispor de

leis vigorosas e instrumentos de aplicação apropria-

dos ao enfraquecimento do poder financeiro dos

grupos terroristas.

2.2 O "MODUS OPERANDI" DO TERRORISMO

Na atualidade, em qualquer parte do mundo, po-

dem se desenvolver atividades de apoio logístico ou

de recrutamento ao terrorismo. Isso se deve à sua

própria lógica de disseminação transnacional, que

busca continuamente novas áreas de atuação e, tam-

bém, às vantagens específicas que cada país pode

oferecer a membros de organizações extremistas,

como facilidades de obtenção de documentos falsos

ou de acesso a seu território, além de movimentação,

refúgio e acesso a bens de natureza material e tecno-

lógica.

A descentralização das organizações extremistas

amplia sua capacidade operacional e lhes permite

realizar atentado quando as circunstâncias lhes fo-

rem favoráveis e onde menos se espera, para poten-

cializar o efeito surpresa e o sentimento de insegu-

rança, objetivos próprios do ato terrorista. Desse

modo, cidadãos e interesses de qualquer país, ainda

que não sejam os alvos ideais, em termos ideológi-

co-religiosos, podem servir de “pontes” para que

organizações extremistas atinjam, embora indireta-

mente, seus principais oponentes.

O novo cenário geopolítico no Pós-Guerra Fria

determinou a redução dos fundos destinados por

Estados a grupos terroristas. Após o 11 de setembro,

diversos dispositivos legais bloquearam bens e di-

nheiro de patrocinadores e organizações terroristas.

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EsIMEx - 2º Semestre de 2013 5

Assim, estas recorreram às atividades criminosas, o

que resultou em alianças entre terrorismo e crime

organizado. Esses acordos levaram ao intercâmbio

de know-how específico, como: lavagem de dinhei-

ro, produção de explosivos e contrabando. Hoje,

esses grupos possuem características de ambos.

O terrorismo suicida pode ser visto, em princípio,

como um gesto de paixão e fanatismo. Todavia, não

se pode negar sua racionalidade, premeditação e

cálculo, tanto para destruir quanto para aproveitar-se

da mídia, sedenta de audiência. Este pode acontecer

a qualquer hora, em qualquer parte, e mina qualquer

forma eficaz de segurança preventiva. Homens-

bomba continuarão a ser utilizados, por serem de

baixo custo e causarem grandes danos materiais e

poderoso efeito moral no inimigo mais poderoso,

que está preparado apenas para a guerra convencio-

nal (LIMA, 2005).

De qualquer maneira, o terrorismo representa ris-

co para as nações e deve ser evitado. Certos grupos

podem atuar além das fronteiras nacionais, como o

fez a Al-Qaeda, em 11 de setembro de 2001, ao der-

rubar as torres do World Trade Center, em Nova

Iorque. Órgãos de Inteligência devem, portanto, pes-

quisar as causas profundas do terrorismo, estudar e

conhecer cada organização extremista em sua espe-

cificidade, de modo a levar às autoridades conheci-

mentos precisos e úteis à tomada de decisão.

A estruturação das redes terroristas não obedece a

uma formalidade. A formação de suas células carac-

teriza-se pela espontaneidade e é constituída por

parentes e amigos. As ações são desencadeadas a

partir das estruturas inferiores e são decididas local-

mente pela base, contribuindo para o baixo custo

operacional e financeiro. A rede apenas assume a

autoria do atentado. As células são pouco permeá-

veis à infiltração pelo fato de serem formadas em

torno de núcleos familiares ou de convívio social

prévio.

Uma visão bastante interessante é do Gen R/1

Álvaro Souza Pinheiro. Para este estudioso as atuais

organizações terroristas estruturam-se, de maneira

geral, em quatro níveis. O primeiro, a grande base

para os demais, é o do Apoio Passivo, que, normal-

mente, aproveita-se de idiossincrasias, tais como

bolsões de pobreza, corrupção, tráfico de drogas,

conflitos étnicos e religiosos, que se constituem em

oportunidades para cooptar simpatizantes nos diver-

sificados ambientes operacionais em presença. O

segundo é o do Apoio Ativo, o segundo maior e o

mais importante nível da organização terrorista, pois

é o braço de suporte que propicia meios de toda na-

tureza para a organização. Mantém canais de comu-

nicações, opera áreas de homizio, a Inteligência e a

Contrainteligência, além de assegurar que todas as

necessidades logísticas sejam atendidas. O terceiro

nível é o dos Quadros Ativos, braço armado da or-

ganização, responsável pelo planejamento e execu-

ção dos atentados. O quarto nível, o mais alto, é o da

Liderança, responsável pela definição das diretrizes

gerais e pelas ações estratégicas; via de regra, mani-

pula ideologias e filosofias, estabelecendo um ideá-

rio em seu próprio benefício.

Um aspecto importante do sistema de comando e

controle das mais relevantes organizações terroristas

na atualidade é que, embora enfatizando a disciplina

e a hierarquia nas suas estruturas, raramente apre-

sentará estruturas verticalizadas. De uma maneira

geral, toda a integração é efetuada por redes (net-

works). A própria Al Qaeda opera suas redes valen-

do-se de meios diversificados, desde correspondên-

cias pessoais e anúncios anônimos em jornais, até os

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6 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

mais sofisticados recursos disponíveis na tecnologia

da informação, telefones celulares e por satélite,

Internet, e-mails criptografados, videotapes e CD-

ROMs (read-only memory), dentre outros.

3 O BRASIL NO AMBIENTE TERRORISTA

3.1 O BRASIL E O CONTEXTO MUNDIAL

Analisando o cenário internacional, o nosso país

alcançou elevado desenvolvimento econômico nos

últimos anos. Tais fatos podem ser exemplificados

da seguinte maneira:

- foram descobertas jazidas de petróleo no

Pré-sal o que projeta o país como um dos grandes

produtores mundiais;

- o Brasil vive uma relativa estabilidade so-

cial em função da redução das desigualdades e da

pobreza extrema;

- em termos religiosos, predominam o cato-

licismo e as igrejas pentecostais de origem cristã;

- o país possui liderança regional no sub-

continente sulamericano, participando ativamente de

organizações como o Mercado Comum do Sul -

Mercosul, a Organização dos Estados Americanos –

OEA, e a União das Nações Sulamericanas – Una-

sul;

- o Brasil exerce liderança mundial na dis-

cussão de assuntos atuais como a reformulação do

Conselho de Segurança da ONU e os subsídios agrí-

colas concedidos nos Estados Unidos e Europa;

- o país compõe o “BRICS”, juntamente

com China, Rússia, Índia, China e África do Sul,

formando o grupo cujas economias serão as maiores

do mundo em 2030, segundo projeções do banco

Goldman Sachs;

- a nação é vista no restante do globo como

um local de turismo e liberdade sexual;

- o Brasil é um dos maiores exportadores

mundiais de commodities, principalmente grãos e

minérios;

- desde 2007, grandes eventos vêm ocor-

rendo em solo pátrio, como os jogos Panamericanos

(2007), Encontro da Juventude (2013), Copa das

Confederações (2013), Copa do Mundo (2014) e

Jogos Olímpicos (2016); e

- o Brasil passa a ser destino de vários tra-

balhadores europeus afetados pela crise econômica

que aflige o velho continente.

Verifica-se que o Brasil passou a fazer parte da

“sociedade de risco”, ou seja, aquela que se torna

alvo de algum objetivo por qualquer motivação, seja

ela religiosa, política ou outra. Nessa conjuntura, as

fronteiras do Brasil se alargaram sob os efeitos posi-

tivos e negativos da globalização.

3.2 A TRÍPLICE FRONTEIRA

Segundo a Polícia Federal do Brasil, existem

muitas histórias relacionando a cidade de Foz do

Iguaçu, maior da região, com o terrorismo. Porém,

nada que confirme tais acusações. A falta de fiscali-

zação das milhares de pessoas que cruzam diaria-

mente a Ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu à

Cidade do Leste, no Paraguai, é uma constatação

natural. O acesso livre de turistas para quem cruza a

ponte a pé ou se acomoda no interior de ônibus, car-

ros de passeio e motos é constante. Um ambiente

bastante propício para a disseminação de atividades

ilícitas.

3.3 A ESTRUTURA ANTITERROR NO BRASIL

A Secretaria de Acompanhamento e Estudos Ins-

titucionais – SAEI, do Gabinete de Segurança Insti-

tucional da Presidência da República – GSI/PR é,

atualmente, um dos principais órgãos do governo

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EsIMEx - 2º Semestre de 2013 7

federal responsável pelo desenvolvimento de estudos

estratégicos em torno da ameaça terrorista no Brasil.

Em parceria com outros órgãos, como a Polícia Fe-

deral, o Ministério da Defesa, o Ministério da Justi-

ça, o Conselho de Controle de Atividades Financei-

ras do Brasil – Coaf, a Receita Federal e a Agência

Brasileira de Inteligência – ABIN, no qual os setores

de inteligência desses respectivos órgãos estão inclu-

ídos, compõe o atual esquema de coordenação das

medidas anti e contraterror no Brasil.

O terrorismo internacional é pauta constante de

análise sistemática e pragmática da SAEI. A elabo-

ração do primeiro projeto de lei antiterror no Brasil

por essa Secretaria tomou força após o lançamento

da Estratégia Nacional de Defesa, em 2008. Esta

prevê a ameaça terrorista em território nacional, pro-

jeta o Brasil para o centro das discussões internacio-

nais, lideradas por nações que já foram vítimas da

Al-Qaeda, do Hezbollah, do Hamas ou da Jihad Is-

lâmica.

3.4 O BRASIL NO AMBIENTE TERRORISTA

Os órgãos de inteligência brasileiros, entre eles a

Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e a

Inteligência das Forças Armadas, afirmam que não

há registros de existência de grupos, células ou

atividades terroristas internacionais em território

brasileiro. Há indícios, porém, de que grupos

terroristas estejam realizando intercâmbio

“técnico”com organizações criminosas ligadas ao

narcotráfico, o que é possível visto que o modus

operandi dessas organizações nos recentes episódios

nos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro e de

materiais apreendidos em algumas favelas cariocas.

Em uma sociedade globalizada, alguns fatores

contribuem para a ocorrência de atentados. Entre

estes, estão a precariedade das medidas de segurança

e controle no Brasil, a facilidade de ingresso em

território nacional em virtude da grande extensão de

fronteiras terrestres e marítimas e a existência de

pontos de apoio constituídos por segmentos da

comunidade árabe-palestina nos estados de São

Paulo, Pará e Rio Grande do Sul, contrários às

políticas de paz com o Estado de Israel (acordo de

Oslo).

3.5 AS VULNERABILIDADES DO BRASIL

O Brasil apresenta 2 (dois) tipos de

vulnerabilidades: as estruturais e as conjunturais. As

primeiras destacam-se pela grande extensão de

fronteiras terrestres e marítimas (segundo dados do

Ministério da Defesa, o Brasil possui 17.5 mil

quilômetros de fronteiras terrestres com nove

tríplices fronteiras e 8 mil quilômetros de fronteiras

marítimas).

As vulnerabilidades conjunturais compreendem

os grandes vazios territoriais sem fiscalização e

controle, resultado da concentracão demográfica na

faixa litorânea do país, a falta de um plano de

emergência nacional contra terroristas, as

deficiências no controle de entrada, permanência e

saída de estrangeiros em território nacional,

deficiências de efetivos e equipamentos nas Forças

Armadas e na Polícia Federal e obstáculos na

legislação penal brasileira, que não tipifica o crime

de terrorismo.

Abaixo, enumeramos resumidamente alguns do

fatores de vulnerabilidade para a ocorrência de atos

terroristas ou presença de grupos internacionais,

segundo especialistas da Polícia Federal:

- densa malha viária, hidroviária,

aeroportuária e portuária;

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8 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

- ausência do Estado em grandes extensões

do território nacional e deficiências dos instrumentos

de fiscalização e controle, notadamente em área de

fronteira;

- grande número de campos de pouso

clandestinos ou não controlados;

- mercado financeiro estável, o que

possibilita a lavagem de dinheiro;

- crescimento de organizações criminosas

ligadas ao narcotráfico e ao tráfico de armas;

- contato destas organizações criminosas com

grupos terroristas internacionais;

- despreparo técnico e deficiências

tecnológicas das polícias estaduais para atuar neste

tipo de crime.

3.6 PERSPECTIVAS DE ATAQUE TERRORISTA

NO BRASIL

Os atentados terroristas ocorridos na Embaixada

de Israel em 1992 e na Associação Mutual Israelita

da Argentina (Amia) em 1994, ambos em Buenos

Aires, ativaram, pela primeira vez, o alerta do órgão

de Inteligência do Brasil no tocante à presença e à

atuação de terroristas na América do Sul. País sofre

pressões para a adoção de medidas que visem a neu-

tralizar eventuais ameaças terroristas, incluindo o

aprimoramento do controle de estrangeiros e do en-

vio de recursos financeiros ao exterior.

As pressões internacionais para que o Brasil seja

um parceiro ativo das grandes potências no combate

ao terrorismo internacional já são sensíveis e tendem

a crescer. A participação nesse processo vai ao en-

contro dos interesses do País, de maior presença no

cenário mundial, inclusive com pretensões de assen-

to permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Nesse sentido, Buzanelli (2010, p. 44 – 49) elen-

cou dez situações que poderiam envolver o Brasil na

questão do terrorismo:

- atentado no exterior atingindo circunstanci-

almente nacionais ou interesses brasileiros, como no

caso do diplomata Sérgio Vieira de Mello, morto em

Bagdá;

- atentado no exterior contra nacionais, repre-

sentações oficiais ou empresas brasileiras, em fun-

ção do maior protagonismo do país na cena interna-

cional;

- atentado no Brasil contra alvos tradicionais

do terrorismo;

- atentado no Brasil por ocasião de mega e-

ventos;

- atentado no Brasil contra autoridades es-

trangeiras em visita;

- atentado no Brasil contra autoridades na-

cionais, no caso da busca pelo autor de notoriedade

súbita;

- atentado ou sabotagem contra infraestrutura

crítica e recursos essenciais, incluso o terrorismo

cibernético;

- atentado contra instalações e meios de

transporte, abastecimento ou lazer;

- utilização do território nacional como área

de homizio, trânsito, recrutamento e captação de

recursos; e

- reflexos das medidas antiterroristas adota-

das pelos países centrais.

Ademais, a noção de que o Brasil é um país

pacífico, com tolerância religiosa e racial, com for-

mação multirracial, conhecido como o país do car-

naval e do futebol, afastado política e geografica-

mente do foco de tensão dos grupos radicais islâmi-

cos, nada disso afastaria uma eventual escolha pela

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EsIMEx - 2º Semestre de 2013 9

execução de atentados no território nacional frente

às características do terrorismo.

4 A INTELIGÊNCIA NO AMBIENTE DO

TERRORISMO

4.1 A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA

A inteligência no contexto de terrorismo tem

como suas atribuições a obtenção, análise e

disseminação de conhecimentos necessários para

instrumentalizar o processo decisório nacional.

Portanto, no caso em questão, a inteligência é a

responsável pela identificação de células ou grupos

existentes no país, suas bases e regiões de homizio,

prováveis alvos e possibilidades de atuação,

financiadores, ligações com organizações criminosas

e outros segmentos da sociedade, apoiadores,

motivações para uma ação terrorista, elaboração de

conhecimentos e cenários prospectivos, entre outros.

Nesse sentido, um dos ingredientes de sucesso de

governos na luta contra o terrorismo nacional ou

internacional repousa em quatro fatores, amplamente

debatidos pela Comissão Federal dos EUA, que

analisou os episódios do 11 de setembro e apontou

falhas no sistema: (1) confiabilidade na qualidade

das análises e estimativas apresentadas por seus

orgãos ou sistema de inteligência; (2) que o produto

analítico não sofra influências políticas ou de outros

interesses; (3) a real capacidade desses órgãos na

coleta, busca e análise de dados; (4) o nível de

integração e cooperação destes, interna e

externamente, principalmente no que se refere ao

compartilhamento de dados, não obstante o fato de

que os cenários elaborados possam apresentar

divergências, o que seria natural pela diversidade

cultural e entedimento de seus diversos analistas.

Nesse último item, em especial, foi amplamente

discutida pelos integrantes da Comissão a agilidade

dos órgãos de inteligência em repassar os

conhecimentos elaborados às autoridades ou

organizações policiais que irão efetivamente

desencadear a operação de captura e prisão. Outro

fator de suma importância e missão da inteligência é

o interrogatório dos capturados sob a ótica do

levantamento da maior quantidade possível de dados

sobre o grupo, perfil, ligações e natureza,

excetuando-se o aspecto criminal.

De outra forma, também ficou evidente que,

mesmo com o desenvolvimento de altas tecnologias

e dos diversos ramos da atividade que se

complementam, como a inteligência de sinais e a

inteligência geoespacial (uso de satélites), ainda

assim o trabalho de fontes humanas jamais poderá

ser desprezado; ao contrário, assume de importância

ainda maior, pois são estas que irão processar e

analisar os dados que a tecnologia nos disponibiliza.

Portanto, o papel da inteligência é preponderante

não apenas como prevenção na busca de dados

objetivando a detecção e neutralização de ameaças,

mas também como ferramenta para a elaboração do

planejamento tático e estratégico, subsidiando com

informações a ação de grupos especializados e, em

seu sentido mais amplo, contribuindo na construção

de políticas institucionais abrangentes.

Logo abaixo apresentamos algumas variáveis

retiradas de um Estudo de Situação de Inteligência

da Agência Central de Inteligência (CIA) elaborado

na década de 1970 quando a prática de grandes

atentados terroristas por grupos nacionalistas. Por

sua complexidade nas técnicas de busca e coleta de

dados, podemos avaliar a necessidade e a

importância do assessoramento da área de

Page 11: Artigo a Inteligência Militar No Exército

10 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

inteligência para a tomada de decisões tanto no

plano tático como no estratégico.

4.1.1 O levantamento de dados para análise

Os elementos a serem considerados estão

divididos em oito variáveis, tais como características

do grupo, doutrina e tendência, base interna,

características de eventos, características do meio

local, características do cenário global,

interdependência, mudanças sociais e econômicas e

ambiente político.

Quanto às caracteristicas do grupo: é necessário

conhecer o nome da organização ou quem controla

seus membros; país de origem e o relacionamento

com o governo do país de origem, tamanho e

extensão, lideranças e a formação de seus

integrantes no que concerne à média de idades, o

grau de escolaridade e qualificação profissional.

Quanto à doutrina e tendências: a tipologia básica

com particularidades como questões étnicas,

religiosas, linguísticas e regionais, o nacionalismo, a

ideologia e tendência ou não ao anarquismo, a

posição política (esquerdismo radical, comunismo

ortodoxo, extrema direita ou extrema esquerda) e

patologias.

Quanto à base interna são levantados dados sobre

o alcance do apoio e simpatia popular, ligação com

organizações sociais, políticas ou criminosas e

relacionamentos com outros grupos. Também são

necessários dados sobre as ligacões externas com

outros grupos terroristas internacionais ou

transnacionais e governos estrangeiros.

No item características dos eventos busca-se

avaliar o local dos incidentes e a natueraza da ação.

Neste último avalia-se: sequestro, tomada de reféns,

se houve explosão e qual o tipo de carga ou aparelho

detonador, se foram enviadas em cartas ou

encomendas; se houve assaltos armados ou

emboscadas e o tipo de armamento utilizado; se

houve sequestro ou desvio de aeronaves, navios ou

outros meios; se a ação foi por incêndio criminoso,

assassinatos ou mutilação; e se a ação ocorreu por

poluição química, bacteriológica ou radiológica.

No que concerne a esse item em particular, consta

ainda a quantidade e a nacionalidade das vítimas e

dos terroristas, a natureza das exigências

(publicidade, libertação de prisioneiros, pagamento

de resgate, ação ou mudança política), o alvo das

exigências (se governos, empresas ou organizações

internacionais) e duração dos incidentes (atitudes da

pessoas e de autoridades governamentais, até onde

foram satisfeitas as exigências dos terroristas,

extensão dos danos e governos que concederam asilo

aos terroristas).

Quanto às características do ambiente local: tipo e

eficiência da repressão governamental, tradições e

atitudes da sociedade em relação à autoridade e a

violência, homogeneidade da população, níveis de

descontentamento popular e divergências internas,

nível de desenvolvimento socioeconômico,

industrialização, urbanização, alfabetização e

escolaridade da população, desníveis sociais

(distribuição de renda, restrições a mobilidade social

e política).

Quanto às características do cenário global: são

analisados aspectos do progresso tecnológico, com

armamentos sofisticados, sistemas de comunicação

(alcance e influência), comércio internacional de

armas, ações para combater o contrabando de armas,

insumos e produtos químicos disponíveis, entre

outros. Na variável interdependência são verificadas

as vulnerabilidades mais recentes, os sistemas de

Page 12: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 11

transportes, centro comerciais e de comunicações,

para avaliar posteriomente a probabilidade de serem

futuros alvos da ação terrorista. Aqui, busca-se

identificar o surgimento de novas ideologias,

insatisfações, grandes concentrações de pessoas e a

taxas de imigrantes legais e ilegais.

No ambiente político são consideradas alterações

nas prioridades e valores da sociedade, a diluição ou

desgaste da autoridade governamental, o aumento de

organizações internacionais e agentes estrangeiros

que poderão fornecer apoio moral e material,

acordos, tratados e convenções nacionais e

internacionais relacionadas à atividade terroristas,

comportamentao dos países que apoiam os grupos

ou células terroristas, contatos e cooperação entre

grupos terroristas.

A partir da análise desses dados é possível a

utilização da técnica de estudo de cenários e torna-se

mais fácil o assessoramento da inteligência na

tomada de decisões governamentais, pois possui

potencial de uma ação terrorista futura.

4.2 A CONTRAINFORMAÇÃO

A contrainformação é uma das principais estraté-

gias adotadas pelos serviços de inteligência que

combatem o terrorismo. O seu significado forma

uma ponte entre a manipulação da verdade e a dis-

simulação por meio de estratégias que confundem,

iludem e mascaram as reais intenções de uma pesso-

a, grupo ou instituição.

Porém, a contrainformação é também utilizada

por ideólogos terroristas para obter apoio popular às

suas ações. Descobrir o que existe na mente de terro-

ristas é o maior desafio de um Estado, afinal nunca

se sabe, até que seja colocado em prática, quando

acontecerá um novo atentado liderado por organiza-

ções que se utilizam do terrorismo para difundir sua

ideologia ou outros grupos fundamentalistas.

Um dos principais objetivos dos líderes terroristas

é a dissimulação de suas reais intenções, sempre

manipulando a verdade, normalmente apoiados por

um séquito de simpatizantes. O fator surpresa é a

única certeza que oferece vantagens para a elabora-

ção de seus planos ocultos.

4.3 A INTEGRAÇÃO BRASILEIRA DEFICIENTE

A integração entre os serviços de inteligência de

diferentes órgãos civis e militares, federais e estadu-

ais, no combate ao terrorismo no Brasil, carece de

melhorias. O Exército Brasileiro (EB) ainda se rela-

ciona pouco com o Ministério da Justiça. O mesmo

ocorre com a Polícia Federal. Os Órgãos de Segu-

rança Pública (OSP) Estaduais, por sua vez, mantêm

certa aproximação com o EB, mantendo um vínculo

amistoso respeitoso e funcional, mas não o suficien-

te para permitir a integração necessária para tratar o

assunto. Da mesma forma, o EB pouco se relaciona

com as Polícias Civis.

4.4 A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO

COMBATE AO TERROR

Cabe às agências de inteligência o papel primor-

dial no que concerne à coleta de dados e a produção

de conhecimento para combater o terrorismo. A a-

meaça terrorista necessita ser rastreada e identificada

em tempo oportuno para que o comandante em um

teatro de operações possa avaliar o grau de sua ame-

aça e decidir quanto a melhor maneira de neutralizá-

la.

A tarefa de coletar dados se tornou um paradoxo.

Hoje em dia a facilidade de se obter dados de pesso-

as e instituições contrasta com a elevada quantidade

de informações disponíveis. Por conseguinte, cresce

Page 13: Artigo a Inteligência Militar No Exército

12 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

o papel de um analista que possa filtrar e extrair o

que é relevante para as operações contraterror. Além

disso, o analista determina se o dado é fidedigno, a

sua importância e o seu valor. Assim, colabora com

os comandantes, facilitando o processo decisório e

mostrando a sua relevância ao sistema de segurança.

5 CONCLUSÃO

A partir de uma análise de risco de ameaças, em

função das conjunturas global, regional e nacional, é

plausível levantar-se a ameaça terrorista exógena,

materializada por grupos terroristas transnacionais

contemporâneos. Estes, normalmente de origem

fundamentalista islâmica, lançariam seus atentados a

partir de plataformas terrestres limítrofes ao territó-

rio nacional, com destaque para a região da Tríplice

Fronteira. O conflito armado do Século XXI está

sendo e será o Conflito Irregular Assimétrico, onde

se enquadra o terrorismo. Dessa forma, as ações anti

e contraterror podem ser assim definidas:

- existência de um eficiente e eficaz sistema

de Comando e Controle, por meio da integração de

agências governamentais e Forças Armadas, defi-

nindo responsabilidades e criando uma hierarquia de

trabalhos, obedecendo ao princípio da Unidade de

Comando, que pode ser conferido ou a um órgão

civil ou mesmo diretamente às Forças Armadas;

- esse sistema de Comando e Controle tem

por finalidade garantir a eficácia dos trabalhos den-

tro do mais completo ambiente operacional intera-

gências;

- essa integração visa a incrementar a quali-

dade de dados e informações, resultando em uma

consciência situacional muito mais acurada e numa

sincronização das três funções operacionais científi-

co-tecnológicas básicas: o sensoreamento, o proces-

samento e a atuação;

- o apoio de Inteligência possibilita aos co-

mandantes, em todos os níveis, a manutenção da

iniciativa das ações, conservando uma postura ;

- o estabelecimento de Centros Nacionais

Conjuntos de Combate ao Terrorismo, assim como

feito em países como os Estados Unidos, Reino Uni-

do, Alemanha, França, Rússia e Áustria, adotando

como seu ponto focal a atividade de Inteligência,

num ambiente de prevenção e combate ao terroris-

mo. Esses centros são organizações governamentais

especificamente responsáveis pela análise e integra-

ção das informações de todos os matizes, tanto refe-

rentes às células terroristas, quanto às atividades

básicas de Antiterrorismo, Contraterrorismo e admi-

nistração de consequências pós-ataques. São conce-

bidos para operar como verdadeiros centros de Pla-

nejamento de Inteligência Conjunta;

- especial atenção deve ser dada à análise de

risco de ameaça, na medida em que se constitui no

documento que inicia todo o processo de planeja-

mento e execução das atividades de prevenção e

combate ao terrorismo. Deve responder aos Elemen-

tos Essenciais de Inteligência nos questionamentos

referentes à lideranças, motivações políti-

co/ideológicas/religiosas/étnicas, "modus operandi"

usuais, capacitação operacional, fonte de recursos,

etc;

- atualmente, a análise de risco de ameaça

determina um impositivo intercâmbio com agências

de Inteligência de outros países; e

- deve-se determinar o Coordenador da A-

ção Contraterrorista - CACT, que deve ser assesso-

Page 14: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 13

rado por um Estado-Maior específico para o ambien-

te operacional em que atua, a fim de manter o prin-

cípio da Unidade de Comando.

As ameaças existentes atualmente já seriam

suficientes para que o tema terrorismo fosse tratado

no Brasil com o máximo rigor e preocupação. Toda-

via não é exatamente esse ambiente que se percebe.

Na verdade, o que se observa, é que mesmo no nível

do Governo Federal, e de uma maneira geral, na

sociedade, há uma crença de que o país está imune a

esse tipo de problema. Que o território nacional está

protegido por uma falsa sensação de afastamento

físico dos focos dos conflitos armados que se preci-

pitam nos cinco continentes.

REFERÊNCIAS

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Terror. Rio de Janeiro: Ed. Apicuri, 2010.

BUZANELLI, Márcio Paulo. Palestra inaugural e debate. In:

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RISMO INTERNACIONAL. Brasília, DF: Presidência da

República, Gabinete de Segurança Institucional, 2010. p. 21 –

68.

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(reservada): Atividade de Inteligência Militar - 1ª Parte (Con-

ceitos Básicos). Brasília, 1995.

GALHARDO, Reinaldo. Fundamentalismo Islâmico e os seus

efeitos globais: o Brasil na rota do terror? São Paulo: All

Print Editora, 2012.

KLEIN, Aaron J. Contra-Ataque. Tradução: Marilena Moraes e

Iva Sofia. Rio de Janeiro: Ed. Ediouro, 2006.

NEVES, Eduardo Borba; DOMINGUES, Clayton Amaral.

Manual de Metodologia da Pesquisa Científica. Centro de

Estudos de Pessoal. Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais: Rio

de Janeiro: 2007.

PINHEIRO, Álvaro de Souza. A Prevenção e o Combate ao

Terrorismo no Século XXI. CEE ECEME: Rio de Janeiro,

2010.

WOLOSZYN, André L. Terrorismo Global. Rio de Janeiro:

Bibliex, 2010.

Page 15: Artigo a Inteligência Militar No Exército

14 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

LUIZ OCTÁVIO CARVALHO DE PENNA 1

EMERSON DA SILVA MORAES 2

JOÃO GUSTAVO B. DE ALBUQUERQUE 3

PABLO OURTHE CABALE 4

1 Oficial FN da Marinha do Brasil - Mestre em Ciências Navais

(EGN).

2 Oficial de Engenharia do Exército Brasileiro - Mestre em

Ciências Militares (ECEME).

3 Oficial de Artilharia do Exército Brasileiro - Mestre em

Ciências Militares (ECEME).

4 Oficial do Exército da República Oriental do Uruguai.

1 INTRODUÇÃO

O processo de globalização, ocorrido a partir do

fim dos anos 70, implicou, sem sombra de dúvida,

em aumento dos riscos à segurança nacional, pois

passou a existir um caráter não tradicional. A situa-

ção tornou-se ainda mais complexa depois dos ata-

ques de 11 de setembro, que ocasionaram uma mu-

dança significativa nas relações entre as operações

militares e os meios de comunicação em massa, nes-

te, inclusos, os novos meios de tecnologia da infor-

O APOIO DA INTELIGÊNCIA NO LEVENTAMENTO DOS STAKEHOLDERS NAS

OPERAÇÕES DE INFORMAÇÃO

RESUMO

Apresenta uma visão sobre a definição das Operações de Informação dentro de um contexto da reali-

dade brasileira, com o intuito de atender as demandas dos conflitos de Quarta Geração. Demonstra o impacto

do gramscismo na opinião pública brasileira e nos meios de comunicação tradicionais e nos virais. No decor-

rer do trabalho, apresenta uma definição da Teoria dos Stakeholders adaptada pelos autores à realidade do E-

xército Brasileiro, bem como uma visão de como trabalhar com o apoio de stakeholders para controlar o am-

biente informacional com menos custos e com maior aceitabilidade pela sociedade e pelos meios de comuni-

cação de massa. Discorre sobre como a Inteligência pode apoiar as Operações de Informação por intermédio

da produção do conhecimento e do monitoramento dos stakeholders. Discorre como seria o apoio da Inteli-

gência nesta produção do conhecimento sobre os stakeholders apoiando as Operações Psicológicas, os Assun-

tos Civis, as Operações Interagências, a Guerra Cibernética, a Guerra Eletrônica e a Comunicação Social. En-

fatiza a importância da fonte humana de Inteligência na produção de conhecimento sobre os stakeholders. Tra-

ta da viabilidade e da exequibilidade do apoio de Inteligência às Operações de Informação. São abordadas

possibilidades de atuação da Inteligência nas Operações de Informação, com enfoque nos stakeholders. Enfa-

tiza a importância dos RCN e dos EEI no levantamento de dados. Aborda a crescente importância das fontes

abertas na produção de conhecimentos sobre o stakeholders. Descreve a relevância do Apoio de Inteligência

às Operações de Informação. Para comprovar as ideias desenvolvidas ao longo do trabalho, realizou-se ampla

pesquisa. Por fim, na conclusão, analisa e ratifica as hipóteses levantadas ao longo do trabalho, enfatizando a

exequibilidade do apoio da Inteligência no levantamento e monitoramento de stakeholders, bem como a im-

possibilidade de conduzir este tipo de operação sem o apoio decisivo da Inteligência.

Page 16: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 15

mação (TI). Este atentado, episódio que é um marco

na história da humanidade, trouxe à tona uma cruel e

degradante ameaça que se caracteriza por não ter

limites, estratégias ou objetivos definidos, mas que

se caracteriza em impactar as sociedades de forma

transnacional.

O surgimento deste tipo de ameaça não tradicional,

que utiliza as tecnologias da informação em escala

global para alcançar grandes massas populacionais,

inclui-se no que se denomina Guerras de IV Gera-

ção. Thomas X. Hammes5 define como “uma com-

plexa arena de conflito de baixa intensidade. (…).

Abrangem o espectro político, social, econômico e

militar e envolvem agentes nacionais, internacionais,

transnacionais e subnacionais”.

Por isso, as Operações de Informação têm, cada

vez mais, ocupado um papel central nos diversos

Teatros de Operações pela importância crescente de

se controlar o fluxo de informações e seu impacto

nas operações militares.

Um exemplo disto são as mídias sociais, em seus

diversos vetores e a sua capacidade viral de trans-

missão da informação, verdadeira ou manipulada,

em tempo real a qualquer parte do mundo. Este am-

biente favorece, cada vez mais, o “comunicador sem

face”.

Neste ambiente difuso no qual as forças militares

estão se tornando crescentemente dependentes dos

meios de tecnologia da informação e que têm de

atuar conjuntamente com outras forças militares e

5 Guerra de quarta geração (Fourth Generation Warfare –

4GW) é o termo usado pelos analistas e estrategistas militares

para descrever a última fase da guerra na era da tecnologia da

informação e das comunicações globalizadas.

com outros atores estatais e não-estatais e que, ain-

da, são influenciadas decisivamente pela opinião

pública nacional e internacional, faz-se mister con-

trolar, influenciar ou redirecionar o fluxo de infor-

mações em prol dos objetivos militares das forças

que atuam, dentro e fora do Teatro de Operações.

Não se fazem mais guerras sem o apoio da opinião

pública. Vivemos a “ditadura da democracia”.

Restrições de ordem política, econômicas, morais e

legais para as forças militares podem ser controladas

ou relativizadas com uma bem-sucedida Campanha

de Informações. Basta, na história recente, obser-

varmos o caso da Guerra dos Balcãs, considerado

um dos primeiros casos de emprego moderno das

Operações de Informação. Os líderes do governo

semearam o medo e a paranoia entre os sérvios-

bósnios, que, por sua vez, desenvolveram um ódio

violento contra os de etnia bósnia e croata na antiga

Iugoslávia, o que ajudou a convencer os sérvios que

eles estavam, de fato, lutando pela sua sobrevivência

como um povo. Embora essas mensagens fossem

extremamente eficazes entre os sérvios, estes fracas-

saram em influenciar atores externos ao conflito, o

que ocasionou sua derrota, sem que tivessem sofrido

reveses militares significativos durante a guerra ci-

vil.

No Brasil, a situação é ainda mais complexa. Os

meios culturais e a mídia sofrem forte intervenção,

causada pela infiltração gramscista6. Desta forma,

6 Gramscismo deriva das ideias do filósofo comunista italiano

Antônio Gramsci. Procura implantar o marxismo com os ativis-

tas comunistas se infiltrando nos meios jornalísticos, na mídia,

na religião, na política, nos meios educacionais reescrevendo a

História e contando no lugar dela uma história mentirosa para o

povo pensar que o comunismo sempre foi apoiado pelo povo.

Page 17: Artigo a Inteligência Militar No Exército

16 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

são incapazes de ver e esclarecer à população brasi-

leira dos perigos que o País corre e as demandas que

têm de ser atendidas para a consecução dos Objeti-

vos Nacionais Permanentes (ONP)7.

Mas mesmo o atendimento dos ONP, por mais ób-

vios que sejam, são relativizados pelos óbices cria-

dos. Estes óbices podem ser caracterizados pela

atuação de ONGs, grupos ambientalistas, movimen-

tos de pressão, dentre outros. Essas organizações

procuram respaldo em temas de grande aceitação

popular e, muitas vezes, atendendo aos objetivos de

outras nações, com o intuito de criar uma opinião

pública contrária à consecução dos ONP. As opera-

ções militares não fogem desta realidade.

Nos conflitos de Quarta Geração é fundamental a-

tuação preventiva, com o intuito de neutralizar a

propaganda adversa e obter atitudes positivas da

opinião pública para com as operações militares,

neste ambiente operacional caracterizado por ser

extremamente sensível e complexo.

A segunda guerra do Golfo foi o palco para o de-

senvolvimento de uma nova doutrina para gerenciar

o processo de obtenção do domínio da informação,

denominada Operações de Informação.

A despeito de ainda não haver um consenso do que

sejam Operações de Informação no Exército Brasi-

leiro, pode-se considerar as Operações de Informa-

ção como o conjunto de atividades empreendidas por

atores militares e não militares para formar uma

concepção básica do conflito ou da situação e, por-

7 De acordo com a doutrina da Escola Superior de Guerra,

Objetivos Nacionais Permanentes (ONP) são objetivos nacio-

nais que perduram no tempo. São seis: Democracia, Soberania,

Paz Social, Progresso, Integração Nacional e Integridade do

Patrimônio Nacional"

tanto, afetar as atitudes e os comportamentos do pú-

blico-alvo de modo a favorecer as operações milita-

res amigas e / ou dificultar que a força inimiga ou

adversa consiga estes mesmos objetivos. Alguns

exemplos de atividades de Operações de Informação

incluem contatos com stakeholders,, distribuição de

produtos como panfletos e folhetos, ACISO, conta-

tos e entrevistas com órgãos da imprensa, anúncios

pela televisão e rádio, disseminação de informações

pela internet e qualquer outra atividade que promova

a disseminação de informações e, principalmente, de

ideias.

Desse modo, as Operações de Informação encetam

uma gama variada e diversificada de atividades mul-

tidisciplinar que contribuirão para a identificação,

exploração, análise e sensibilização dos públicos

alvos. Embora ainda não haja uma visão totalmente

consolidada no Ministério da Defesa Brasileiro, po-

demos incluir as seguintes atividades militares que

darão suporte as Operações de Informação:

• Informações Públicas (Comunicação Social);

• Operações Psicológicas;

• Guerra Cibernética;

• Inteligência;

• Guerra Eletrônica;

• Operações Interagências;

• Assuntos Civis

Pode-se observar que as Operações de Informação

são complexas e multidisciplinares. Mas, existe um

componente que é a base de todas as Operações de

Informação que é o ser humano, haja vista que este é

o ente a ser influenciado.

As Operações de Informação necessitam de conhe-

cimentos para serem planejadas e conduzidas. Nesse

quesito a inteligência contribuirá por intermédio da

obtenção, em operações de inteligência, na coleta,

Page 18: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 17

nas fontes de qualquer natureza, com especial aten-

ção as novas mídias e ao ambiente cibernético. O

processamento rápido dos dados obtidos, sua poste-

rior análise e difusão oportuna, permitirão aos Co-

mandantes que conduzem as Op Info a possibilidade

de trabalhar novos públicos-alvo e a explorar capa-

cidades críticas do adversário.

2 O PROBLEMA

As Operações de Informação são complexas e mul-

tidisciplinares. Além da necessidade de integração

de diversos atores, elas ainda estão sujeitas ao ampa-

ro legal brasileiro e pela limitação de meios, doutri-

na e estruturas do Exército Brasileiro.

O grande questionamento na condução das Op Info

é como impactar o componente humano de uma

forma mais eficaz e com poucos recursos? As em-

presas já se utilizam da Teoria dos Stakeholders a

mais de trinta anos para realizar ações com cunho

similar, seja para vender um produto, seja para esva-

ziar grupos de pressão.

Questiona-se, então, como a Inteligência pode atu-

ar de forma a contribuir decisivamente para as Ope-

rações de Informação, atuando sobre este componen-

te fundamental, os stakeholders, favorecendo nossas

operações militares, dentro e fora do Teatro de Ope-

rações, e tornando o ambiente psicossocial hostil às

forças adversas?

Diante do problema a Inteligência pode contribuir

para as Operações de Informação levantando dados

negados sobre stakeholders que possam impactar

nas operações, permitindo assim o levantamento de

indicadores de impacto previstos nos planos.

Verifica-se também a adequabilidade do emprego

da Inteligência como um meio de neutralização das

ações adversas, por meio de um acompanhamento

sistematizado das Forças Adversas

A obtenção de dados que atendam os indicadores

de impacto levantados nos Planos de Campanhas e

no Plano de Comunicação Social é outra contribui-

ção da Atividade de Inteligência nas Op Info.

3 OS STAKEHOLDERS E AS OPERAÇÕES DE

INFORMAÇÃO

O termo inglês stakeholder designa uma pessoa,

grupo ou entidade com legítimos interesses nas a-

ções e no desempenho de uma organização ou soci-

edade e cujas decisões e atuações possam afetar,

direta ou indiretamente, essa outra organização ou

sociedade. Estão incluídos nos stakeholders os fun-

cionários, gestores, proprietários, fornecedores, cli-

entes, credores, Estado (enquanto entidade fiscal e

reguladora), sindicatos e diversas outras pessoas ou

entidades que se relacionam com a organização ou

que tenham impacto sobre suas ações.

Para que se possa entender a influência e o alcance

do poder de influenciação destas pessoas ou organi-

zações, tratar-se-á superficialmente sobre a Teoria

dos Stakeholders, para que se possa entender como

estas pessoas ou organizações são importantes para

as Op Info e como a Inteligência pode apoiar as Op

Info atuando sobre os stakeholders.

Em 1984, Freeman publicou o livro Administração

estratégica: a abordagem da parte interessada, no

qual definiu stakeholder como “qualquer grupo ou

indivíduo que foi afetado ou pode afetar a realização

dos objetivos da organização”. Como observado

pelo autor, esse objetivo refere-se à sobrevivência da

organização. Para ele, cada organização possui sta-

keholders específicos. Essa deve identificá-los e

incluir seus interesses em suas decisões estratégicas.

Page 19: Artigo a Inteligência Militar No Exército

18 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

O termo stakeholder apareceu, pela primeira vez,

no trabalho do Standard Research Institute – SRI

(agora SRI International) na década de 1960, e esse

trabalho via o apoio dos stakeholders como um dos

principais componentes do sucesso de uma empresa.

A Teoria dos Staheholders é hoje universal nas

empresas. Os críticos não a desconsideram, mas a-

penas apresentam formas diferentes de interpretá-la.

Estas pessoas ou instituições têm a capacidade de

direcionar ou influenciar o comportamento e as ati-

tudes de muitas outras, gerando um efeito compor-

tamental exponencial.

Embora os conceitos sejam inicialmente semelhan-

tes, o stakeholder é muito diferente de um líder. Na

verdade, o primeiro abrange e engloba o segundo.

Dentro do arquétipo militar é muito comum esta

associação. O líder é um stakeholder, mas a maioria

dos stakeholders não são líderes. Inclusive, um líder

pode ser influenciado por diversos stakeholders. Um

comerciante, um médico ou mesmo uma instituição

ou empresa, podem ser stakeholders. Qualquer pes-

soa ou entidade que impacte nossas operações é um

stakeholder.

Num ambiente de operações militares de quarta ge-

ração existem relações de interdependência entre

estes diversos componentes (stakeholders) e a tropa.

Estas relações são marcadas por influências recípro-

cas que resultam em um maior ou menor impacto

nas operações. Esta reciprocidade deve ser estudada

e o decisor deve ter mecanismos para mudar esta

influência recíproca quando ela é considerada desfa-

vorável.

Apenas como forma de se vislumbrar o emprego

desta Teoria nas operações militares, a figura abaixo

ilustra os possíveis stakeholders macro de uma ope-

ração militar:

Figura 01 – Modelo da Teoria dos Stakeholders de Frelman,

adaptado pelo autor para a realidade de uma operação militar

Fonte: os autores.

Os stakeholders estão efetivamente envolvidos na

operação, seja de forma direta, seja de forma indire-

ta. Eles têm interesses que podem ser positivamente

ou negativamente afetados pela execução da opera-

ção. Eles podem, ainda, exercer influência sobre a

obtenção dos materiais de emprego militar necessá-

rios às operações, sobre os membros do estado-

maior, sobre as tropas ou sobre a capacidade de atu-

ação da opinião pública.

Podemos verificar que são diversos os stakeholders

e que é difícil harmonizar todos os interesses em

jogo. Os stakeholders internos são a cadeia de co-

mando, o estado-maior, os comandantes de fração,

oficiais em geral, praças em funções chaves, além

das lideranças no seio da tropa. Já os stakeholders

externos são todos aqueles que podem influenciar a

atuação de uma determina tropa em operações. Po-

dem ser desde políticos até integrantes de determi-

nada comunidade.

Operação

Militar

Comando da

Operação

Comunidade

local

Governo

Brasileiro

Comunidade

Internacional

Militares

envolvidos Fornecedores

Empresas

terceirizadas

ONGs sociais e

ambientais

Escalão Superior

Governos

Estrangeiros

Agências

Governamentais ONU e suas

agências

Mídias

tradicionais e

cibernéticas

Poder Judiciário

Page 20: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 19

4 A INTELIGÊNCIA, STAKEHOLDERS E O-

PERAÇÕES PSICOLÓGICAS

O impacto das ações psicológicas num cenário de

conflito de 4ª Geração é saturado pela atuação dos

mais diversos stakeholders.

De acordo com o Departamento de Defesa dos Es-

tados Unidos, as Operações Psicológicas são o nú-

cleo central (core) das Op Info. No entanto, as Op

Psc estão intimamente ligadas à Inteligência, pois

sem a qual é impossível planejar e conduzir um Pla-

no de Campanhas bem sucedido.

As Op Psc exigem um planejamento prévio e mi-

nucioso, muitas vezes demorado. Essas operações

devem estar integradas no planejamento do maior

escalão das forças militares presentes no Teatro de

Operações.

Dessa forma, faz-se mister realizar um levantamen-

to dos stakeholders presentes na operação. A célula

de Op Info deverá levantar quais são os interesses

envolvidos, quem será impactado e quem poderá

impactar as operações.

A partir daí, é necessário categorizar os stakehol-

ders. Um exemplo de como se faria isto seria separá-

los por categorias, identificando seu trabalho, res-

ponsabilidades, área de atuação, pessoas influencia-

das, capacidade de impacto nas operações. Para i-

dentificar seu papel e responsabilidades, dever-se-á

criar um Repertório dos Conhecimentos Necessários

para facilitar o monitoramento de cada categoria de

stakeholders, e por conseguinte produzir conheci-

mentos sobre esses públicos.

Com estes conhecimentos em mão, a célula de Op

Info poderá iniciar um planejamento de como atuar

para reforçar comportamentos desejáveis, ou para

evitar ou limitar sua capacidade de impacto negativo

ou ainda para realizar a gestão das partes interessa-

das nas operações. A adoção dessas medidas permi-

tirá o julgamento de quem são os principais stake-

holders com base em sua capacidade de influênciar

nas operações. A partir daí, será necessário priorizar

as Op Psc com foco nos stakeholders com capacida-

de de influenciar nas operações.

É sempre necessário preparar um plano de acom-

panhamento dos stakeholders. Este plano seria geri-

do pela célula de Info. As campanhas de Op Psc

incluiriam estas pessoas como públicos-alvo priori-

tários, seja para reforçar sua influência, seja para

eliminar ou reduzir sua capacidade de influenciação,

de acordo com os objetivos da operação.

A Inteligência deve acompanhar continuamente os

stakeholders que influenciam os públicos-alvo espe-

cificados nos planejamentos para manter o conheci-

mento sobre os stakeholder atualizado. Outro produ-

to que a Inteligência pode fornecer às Op Psc, num

contexto de Op Info, é o de oferecer um feedback

sobre as reações do grupo de controle sobre o resul-

tado obtido com as mensagens de Op Psc e se houve

mudança no comportamento dos stakeholders moni-

torados. A atuação afinada e pontual da estrutura de

intelgiência nas operações, oferecendo os conheci-

mentos necessários e oportunos com a Turma de

Avaliação do Destacamento de Operações Psicoló-

gicas se reveste de fundamental importância para as

Operações em curso. Além disso, a Inteligência pode

obter preciosos dados por intermédio de interrogató-

rios de prisioneiros de guerra, elementos adversos

presos, desertores das forças amigas que depois de

analisados e sintetizados servirão para avaliar, pla-

nejar e executar operações psicológicas em tempo

real e verificar a eficácia das operações em curso,

bem como atualizar o quadro sobre os principais

stakeholders.

Page 21: Artigo a Inteligência Militar No Exército

20 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

Os planejadores de Op Psc devem envidar esforços

para suas necessidades de inteligência sejam difun-

didas as estruturas de inteligência de forma oportuna

de modo que os dados possam ser buscados, proces-

sados e difundidos em tempo hábil. Quando apropri-

ado, os operadores psicológicos também devem i-

dentificar as lacunas de conhecimento para que ge-

rem outras necessidades de inteligência para reorien-

tar o esforço de busca das fontes de diversas nature-

zas para a produção de conhecimentos relevantes e

oportunos sobre os stakeholders.

O Oficial de Inteligência do grande comando em

presença na área de operações também pode auxiliar

o oficial responsável pelo planejamento das Op Psc-

na preparação do Plano de Busca, principalmente na

definição dos Elementos Essenciais de Inteligência

que tenham requisitos específicos e, após a consoli-

dação e das informações obtidas, pode auxiliar na

produção de conhecimentos atinentes aos stakehol-

ders.

Não há hoje nenhum estudo no Brasil que quantifi-

que em estatística qualitativa e quantitativa os im-

pactos da atuação integrada da Inteligência com as

Operações Psicológicas. Com a criação do Sistema

Operacional Informação alguns estudos estão em

andamento, mas, de acordo com a pesquisa realizada

pelos autores deste trabalho, nenhum aborda a sis-

temática de como se daria esta integração. Não há,

pois, medidas de eficácia comprovadas desta inte-

gração.

A abordagem das Op Psc enfocando os stakehol-

ders diminui as limitações legais e materiais impos-

tas ao Exército Brasileiro e permite um apoio inte-

gral da Inteligência às Op Psc num contexto de Op

Info.

5 OPERAÇÕES INTERAGÊNCIAS

Segundo o Manual MD 33 M-12 (2012), “Agên-

cia” é uma organização ou instituição com estrutura

e competência formalmente constituídas, podendo

ser governamental ou não, militar ou civil, nacional

ou internacional. Seguindo o citado conceito, as “O-

perações Interagências” são a interação das Forças

Armadas com outras agências com a finalidade de

conciliar interesses e coordenar esforços para a con-

secução de objetivos ou propósitos convergentes que

atendam ao bem comum, evitando a duplicidade de

ações, a dispersão de recursos e a divergência de

soluções com eficiência, eficácia, efetividade e me-

nores custos.

A Inteligência pode contribuir para as Operações

Interagências buscando dados e produzindo conhe-

cimentos sobre stakeholders que tenham potencial

para impactar ou até impossibilitar a realização des-

sas operações.

A Força Terrestre (FT) pode operar em Operações

Interagências como única força armada presente ou,

também, em Op Cj coordenada pelo Ministério da

Defesa (MD). Atualmente, por imposição do próprio

MD, as ações da FT são, em sua maioria, de forma

conjunta com as outras forças, o que caracteriza essa

forma como a maior probabilidade de emprego em

Op Interagências.

O conceito de processo interagências estabelece

uma visão clara de orientação de esforços visando a

alcançar objetivos convergentes. Durante uma Ope-

ração Interagências, os stakeholders podem impactar

o desenrolar dessa operação, atuando sobre os meios

de comunicações. Um stakeholder pode, facilmente,

ser oriundo da mídia televisiva, impressa ou radio-

fônica, atividades que geralmente são exercidas por

fortes formadores de opinião.

Page 22: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 21

A inteligência pode levantar com antecedência,

desde que devidamente orientada, os dados de sta-

keholders dos meios de comunicação que tem poten-

cial para prejudicar as Operações Interagências. Da

posse dos conhecimentos produzidos a partir dos

dados obtidos o comando da operação pode agir

sobre esse formador de opinião de várias formas.

Uma dessas formas é utilizar as Operações Psicoló-

gicas para influenciar o pensamento do stakeholder,

fazendo com que ele atode atitude de apoio a opera-

ção. Outra forma é utilizar a Guerra Cibernética para

evitar as transmissões de mídia que prejudicam as

ações do Comando Cj.

As ONG são outros atores que poderão atuar em

uma operação interagências. Essas organizações têm

como características sua independência, sua diversi-

dade e sua flexibilidade. Elas possuem uma capaci-

dade de responder rápida e eficazmente às crises,

contribuindo na reduzição as demandas de recursos

que são necessários para a operação.

As organizações não governamentais, geralmente,

possuem vários contatos locais na área de operações

e, por esse motivo, são uma valiosa fonte de dados

sobre as atitudes do governo local e da população

durante uma Operação interagências. O EM Cj deve

explorar o conhecimento dessas organizações, jun-

tamente com o de outras agências presentes na área

de operações com a finalidade de levantar e identifi-

car problemas locais que devem ser levados em con-

ta no contexto das Op Interagências.

Entretanto, a obtenção de dados disponíveis nas

ONG deve ser realizada sempre com ressalvas, pois,

quase sempre existem stakeholders dentro dessas

organizações que possuem imensa influência em

uma determinada localidade e que podem prejudicar

as operações interagências. A identifição desses in-

divíduos influentes, podem ser realizadas por um

trabalho sistemático de Inteligência visando a obten-

ção dos dados necessários dos stakeholders dentro

das ONG. Após a obtenção dos dados necessários,

as Op Psc podem atuar visando a influenciar o pen-

samento do stakeholder menos sensível, para que ele

deixe de prejudicar a operação.

Dentre as Operações Interagências, destacam-se as

Operações ÁGATA, que têm atuado em toda a faixa de

fronteira brasileira, com intuito de combater os delitos

transfronteiriços e ambientais. Atualmente, já está em

sua sétima edição.

Fig 02 - Militares do Exército Brasileiro em atuação

na “Operação Ágata 7” na fronteira sul do país.

Fonte: http://www.forte.jor.br/category/noticiario-nacional/, em 31/05/2013

Diante do exposto, a Inteligência deve contribuir

na Operação Interagência por meio de um trabalho

sistematizado, com o objetivo de reduzir as incerte-

zas do comandante sobre os stakeholder que atuam

nesse ambiente operacional. Também é importante

ferramenta de apoio ao processo decisório ao ofere-

cer os conhecimentos necessários para que o Cmt,

por intermédio das Op Psc possa mudar atitudes e

comportamentos dos stakeholders.

6 ASSUNTOS CIVIS

Os países da Organização do Tratado do Atlântico

Norte possuem um conceito doutrinário com relação

à missão dos Assuntos Civis, o qual é definido como

“apoio ao relacionamento do Comandante com as

Page 23: Artigo a Inteligência Militar No Exército

22 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

autoridades civis e população civil, a promoção da

legitimidade da missão e o aumento da eficácia das

operações militares”8.

As operações desenvolvidas pelos exércitos mais

operativos do Mundo têm XXXX lições aprendidas

a cerca da importância dos Assuntos Civis para o

sucesso dessas operações.

O conceito atual de assuntos civis para apoiar a

administração civil foi originado em operações rea-

lizadas pelos governos militares instituídos durante a

II Guerra Mundial e no período pós-guerra. Forças

de Assuntos Civis foram criadas para ajudar as for-

ças aliadas a governar a Alemanha durante o período

de ocupação. Para cumprir essa missão, o Exército

recrutou oficiais de Assuntos Civis diretamente na

população civil para aproveitar do seu conhecimento

do campo operacional.

Desde o fim da II Guerra Mundial existiram nume-

rosos exemplos dessas operações relacionadas à re-

construção do aparato de governo.

Os Estados Unidos da América provocaram uma

mudança significativa no panorama dos Assuntos

Civis, com a criação da Agência dos Estados Unidos

para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

No entanto, as experiências das unidades de assun-

tos civis que operaram em ambientes não conven-

cionais, como nas missões de paz sob a égide das

Nações Unidas no Congo e no Haiti, também de-

monstraram que as missões das unidades de Assun-

tos Civis é diferente nessas operações, onde é muito

importante ganhar a confiança da população e de

8 Manual de Campanha do Exercito de EE.UU. 41-10, Civil

Affairs Operations. (Washington, DC: Imprensa do Governo

dos EE.UU., Janeiro de 1993), págs. 1-1

seus líderes por parte da tropa lá empregada. Erros

de avaliação em um ambiente de Op Paz podem le-

var ao fracasso militar.

Em 2011, a Comissão Especial de Operações de

Manutenção da Paz de Nações Unidas concordou em

referenciar a função de Assuntos Civis pela primeira

vez em um relatório legislativo, reconhecendo o

importante papel dos oficiais de Assuntos Civis nas

operações de Manutenção da Paz, inclusive, através

de representações cruzadas, monitoramento e facili-

tação ao nível local, apoio a construção de confian-

ça, gestão de conflitos, reconciliação e apoio à res-

tauração e ampliação da autoridade do Estado. A

Comissão Especial destacou que a implementação

bem sucedida de muitos mandatos de operações de

manutenção da paz exige ligação consistente com o

governo local, com a população e, salienta ainda, a

inclusão de pessoal local em componentes de Assun-

tos Civis.

As agências de Inteligência e Seções de Assuntos

Civis podem ser beneficiadas pela troca de conheci-

mentos sobre os stakeholders que atuam numa de-

terminada sociedade. Esta colaboração pode condu-

zir a operações conjuntas ou a uma colaboração mais

estreita, porque pode manipular os atores para bene-

fício de ambas e para o cumprimento da missão atri-

buída ao Comandante do Teatro de Operações.

Os projetos desenvolvidos pela Seção de Assuntos

Civis serão, normalmente, de interesse para os líde-

res locais e para a população em geral, gerando ain-

da mais atração aos stakeholders.

Essas premissas são validas tanto para as Opera-

ções de Combate como para as Operações de Manu-

tenção da Paz.

Na determinação e individualização dos atores faz-

se mister fazer um levantamento do Ambiente Ope-

Page 24: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 23

racional, o qual inclui os aspectos psicossociais, cul-

turais, sociais, econômicos, políticos, religiosos,

dentre outros da população da região que se está

operando. O levantamento sistemático de dados,

pelas estruturas de inteligência e a produção de co-

nhecimento a cerca do ambiente operacional e dos

atores, permitirá a melhor individualização do efeito

das ações sobre os stakeholders da sociedade e por

conseguinte, impactando toda sociedade.

É importante a colaboração entre as Agencias de

Inteligência e as Seções ou organismos criados para

atuar em Assuntos Civis, ambos têm a estrutura ade-

quada para trabalhar conjuntamente e compartilhar

conhecimentos para obter um melhor resultado na

condução de ações que dêem legitimidade a missão

e incremente a eficácia das Operações Militares.

Eles podem ser utilizados como fonte de dados e ou

conhecimentos e proporcionar enlace.

7 GUERRA CIBERNÉTICA

Segundo a Doutrina Militar de Comando e Contro-

le, a Guerra Cibernética corresponde ao uso ofensivo

e defensivo de informação e sistemas de informação

para negar, explorar, corromper ou destruir capaci-

dades de C² do adversário. Compreende ações que

envolvem as ferramentas de Tecnologia da Informa-

ção (TI) para desestabilizar os Sistemas de Tecnolo-

gia da Informação para C² (STIC²) do oponente e

defender os próprios STIC². A oportunidade para o

emprego dessas operações ou a sua efetiva utilização

será proporcional à dependência do oponente em

relação a TI.

A Guerra Cibernética engloba o ataque a redes de

computadores, a proteção contra ataques e a explo-

ração dessas redes para fins de produção de conhe-

cimento de Inteligência, atuando, basicamente, na

esfera das Operações de Informação. Dentro dessas

operações, a Inteligência também pode contribuir,

fornecendo conhecimentos sobre stakeholders que

atuam no espaço cibernético. Esses conhecimentos

deverão ser XXXX para as estruturas de Guerra Ci-

bernética que poderão explorar as deficiências desse

adversário. Normalmente stakeholders que atuam no

ambiente cibernético, isoladamente, ou ainda, coor-

denando e influenciando grupos de hackers.

Os grupos de hackers visam a atacar quase todo o

tipo de redes, como as de governos, de empresas

públicas ou privadas, de particulares e de instalações

militares. A finalidade desses ataques é, principal-

mente, prejudicar as expressões econômica, científi-

co-tecnológica, política, militar e psicossocial de um

país.

Atualmente, a pirataria cibernética está dissemina-

da, entre todas as classes e níveis sociais, favorecen-

do a influência de stakeholders sobre um maior nú-

mero de pessoas, as quais são recrutadas como hac-

kers. O recrutamento visa a realizar ataques ciberné-

ticos, os quais se tornaram uma arma de guerra com

capacidade de atuação em todo o mundo.

A inteligência da fonte cibernética tem condições

de monitorar o espaço cibernético, visando reconhe-

cer e vigiar a “ameaça hacker”, suas redes e os sta-

keholders que as influenciam. Após o levantamento,

a inteligência poderá produzir conhecimentos sobre

esses indivíduos. Utilizando esses conhecimentos, as

Operações Psicológicas poderão atuar sobre as ame-

ças / forças adversas com a finalidade de mudar-lhes

o comportamento ou a posição ideológica. Nesse

contexto a Guerra Cibernética, também, terá condi-

ções de realizar uma engenharia social ou uma cam-

panha de “trollagem” sobre os referidos stakehol-

ders.

Page 25: Artigo a Inteligência Militar No Exército

24 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

Os stakeholders podem estar dentro da imprensa e

dos meios de comunicações, influenciando as emis-

sões e, dessa forma, prejudicando operações conjun-

tas, interagências ou da própria Força Terrestre.

Os peritos norte-americanos já criaram o termo

"cybergedon", ou apocalipse cibernético, o qual po-

deria acontecer quando uma sociedade muito avan-

çada, na qual tudo de importante é dependente dos

computadores, fosse sabotada. Essa sabotagem seria

conduzida por hackers influenciados por algum sta-

keholder, e destruiria quase toda a infrainstrutora, da

referida sociedade. Se os EUA sofrerem um ataque

cibernético em seu território, o governo do país po-

derá responder com um contra-ataque cibernético,

ou uma resposta militar tradicional.

A infraestrutura e a tecnologia de segurança ciber-

nética no Brasil estão desatualizadas, contribuindo

para a ação dos hackers. Aproveitando a situação, os

stakeholders podem influenciar algum grupo de

hackers, os quais canalizariam seus ataques ciberné-

ticos contra a infraestrutura nacional, o governo ou

alguma operação militar.

Atualmente, o Brasil é uma das principais fontes de

ataques cibernéticos do mundo. Essa situação justifi-

ca as precauções do governo e do CDCiber do Exér-

cito Brasileiro com a Defesa Cibernética durante os

grandes eventos, que o país sediará até 2016.

Dentro de uma Op de Informação, o CDCiber utili-

za o Destacamento de Defesa Cibernética, o qual

pode apoiar uma operação em qualquer parte do ter-

ritório nacional, desenvolvendo a Guerra ou Defesa

Cibernética. Esse destacamento irá atuar nos grandes

eventos na célula das Op de Informação juntamente

com a Inteligência, contribuindo na identificação e

monitoramento dos stakeholders que possuam aces-

so a importantes sistemas computacionais.

8 GUERRA ELETRÔNICA

No combate moderno, verificam-se mudanças no

cenário de um conflito armado, pois este ficou muito

mais dinâmico e abrangente, onde a informação flui

com muito mais rapidez, sem restrição das distâncias

envolvidas.

Como se pode observar, a importância desta infor-

mação que flui pelo ambiente operacional já vem

sendo destacada por grandes pensadores do passado,

como é o caso de Sun Tzu (544-496 AC) e Clause-

witz (1780-1831), que já valorizavam este relevante

fator de força. Isto está constatado quando Sun Tzu

(2006, p.28), afirma que “se conhecermos nossas

forças, mas não as do inimigo, para cada vitória te-

remos uma derrota. Se conhecermos o inimigo e a

nós mesmos, não precisamos temer o resultado de

uma centena de combates”.

Fica desta forma ressaltada a importância da posse

da informação para proporcionar um melhor desem-

penho das tarefas, tanto em épocas passadas como

no mundo moderno. Mas o que significa este termo

informação? Dentre várias publicações existentes, a

publicação conjunta 6-0 (UNITED STATES, 1995,

p. I-4) diz que a informação é originada de um dado

coletado do ambiente, devendo ser interpretada e

empregada corretamente. De forma sucessiva, há um

processo que é iniciado com o dado que, ao ser tra-

tado, torna-se uma informação. Aplicada a uma me-

todologia, ela se transforma em conhecimento, sobre

o qual é realizado um julgamento para, finalmente,

resultar na compreensão.

Fica marcante também neste cenário, o avanço tec-

nológico dos meios envolvidos, meios estes que, no

caso do tema abordado, realizam emissões eletro-

magnéticas, deliberadas ou acidentais, como os rada-

res e os sistemas de radiocomunicações. Tais emis-

Page 26: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 25

sões podem ser exploradas e vir a tornar-se objeto de

interesse para o sistema de inteligência, podendo

representar uma importante fonte de obtenção de

dados.

Estas emissões constituem uma das fontes de dados

utilizadas pela Atividade de Inteligência, que é a

fonte de sinais, a qual fornece dados mediante o uso

de sensores eletrônicos, na exploração do espectro

eletromagnético. Esta ação de explorar o espectro e

de tirar proveito das emissões é realizada pela Ativi-

dade de Guerra Eletrônica (GE), que segundo o ma-

nual C 34-1(BRASIL,1999, p. A-6), a define como:

“o conjunto de ações que visam assegurar o

emprego eficiente das emissões eletromag-

néticas próprias, ao mesmo tempo em que

buscam impedir, dificultar ou tirar proveito

das emissões inimigas”.

Dessa forma, verifica-se que a Atividade de Inteli-

gência e a Atividade de GE estão estritamente rela-

cionadas, onde tanto uma quanto a outra podem con-

tribuir reciprocamente na obtenção de dados sobre

stakeholders que podem impactar ou até impossibili-

tar que determinadas operações sejam realizadas.

Observa-se que a cada dia que passa fica mais níti-

do que quem detém a informação está mais fadado a

ter sucesso em seus objetivos e esta informação têm

que ser transmitida por algum meio, ou seja, sempre

tem um emissor e um receptor, e quando o espectro

eletromagnético é o ambiente por onde são trafega-

das estas informações, cresce de importância a ativi-

dade de GE, que possui a capacidade de explorar

estas emissões e a partir daí apoiar de forma mais

efetiva o decisor no cumprimento de sua missão.

A GE atua diretamente relacionada com as ativida-

des de Inteligência, reconhecimento e vigilância para

levantar os stakeholders, que por serem fortes for-

madores de opinião, atuam diretamente nos meios de

comunicações presentes no ambiente operacional.

Dessa forma, o sistema de GE operacionaliza todas

as atividades relacionadas à exploração do espectro

eletromagnético, em proveito do Sistema de Inteli-

gência, compondo com as demais fontes o quadro

operacional dos stakeholders. Cabe ressaltar que o

emprego imediato de seus produtos se adéqua à sua

relevante aptidão para monitorar as ações dos stake-

holders, ou seja, manter constante vigilância sobre

suas ações, por cujo intermédio, o Sistema de Inteli-

gência recebe grande quantidade de informações

passíveis de serem integradas às demais fontes de

dados para a produção de conhecimento e delinea-

mento do cenário operacional.

Pode-se notar que é totalmente viável o suporte da

Inteligência às ações de GE num contexto de Op

Info, com foco nos stakeholders.

9 COMUNICAÇÃO SOCIAL

Com o avanço tecnológico, o surgimento de redes

globais de relacionamentos e de meios que favore-

cem a divulgação instantânea da informação, fica

marcante a evolução do processo de comunicação

entre os membros de uma sociedade, possibilitando,

assim, um maior acesso destes à informação e con-

seqüentemente, influenciando seus comportamentos

diante de temas potencialmente sensíveis, ligados à

defesa nacional e à segurança da população. Com

isso, constata-se que o poder e a influência da opini-

ão pública no contexto atual são latentes, marcantes

e, em muitos casos, decisivos para respaldar deci-

sões político-militares, e desta forma, o posiciona-

mento da opinião pública é um fenômeno cada vez

mais estudado pelos governos e forças armadas.

Nos recentes conflitos, os correspondentes de guer-

ra das grandes redes de comunicação vêm transmi-

tindo, instantaneamente, os efeitos da guerra direto

dos campos de batalha para todo o mundo, assim

Page 27: Artigo a Inteligência Militar No Exército

26 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

imagens e notícias não só informam, mas também

influenciam e manipulam o comportamento da opi-

nião pública. Nesse contexto, os exércitos necessi-

tam atuar pró-ativamente e manter a sociedade e os

públicos-alvo de interesse, informados dos objetivos

e das operações em curso, sem no caso, deixar de

observar o sigilo necessário para não comprometer o

sucesso das operações.

A Comunicação Social (Com Soc) em operações

militares, apesar de não ser algo novo, é produto da

crescente necessidade, por parte das Forças Arma-

das, de obter o apoio da opinião pública nacional e

internacional e de assegurar a coesão das tropas.

Nesse contexto, a opinião pública é considerada um

fator de decisão, porque influencia o planejamento

militar em todos os níveis – estratégico, operacional

e tático – e interfere na escolha e na definição das

estratégias e opções militares. Isso fica constatado

pelo que prevê o manual C 45-1(BRASIL, 2009, p.

1-2 e p. 4-8), quando diz que:

“A Opinião Pública é um dos fatores pre-

ponderantes a ser considerado no proces-

so decisório. A obtenção de dados sobre a

Opinião Pública pode ser realizada por

meio de pesquisa a qual servirá de base

para o planejamento das atividades de

Com Soc.”

“Os planejamentos operacionais devem

considerar mais esse fator – “Opinião Pú-

blica” – para o sucesso da operação.”

“Durante o planejamento do emprego da

Força devem ser analisadas as conseqüên-

cias e repercussões da manobra a executar

perante a opinião pública local, nacional e

internacional.”

Observa-se nos tempos modernos, que com o a-

vanço dos sistemas de comunicações, as informa-

ções são passadas com muito mais rapidez e os a-

contecimentos de uma determinada campanha mili-

tar são vistos quase que instantaneamente, e decor-

rente disto, as pessoas formulam suas opiniões e as

expressam rapidamente, influenciando outras e mais

outras, formando verdadeiras redes. Diante deste

fato, cresce de importância a opinião pública no pla-

nejamento das operações militares, ficando a cargo

das Com Soc a responsabilidade de explorar da me-

lhor forma esta variável.

Com isso, para que se possa obter o apoio desta o-

pinião pública para nossas ações, tem que fazer um

trabalho em cima deste público-alvo formador desta

opinião, com o intuito de atraí-los para nossa causa,

e neste momento a figura dos stakeholders aparece e

são ferramentas de fundamental importância para se

conseguir nosso intuito.

Com a exploração destes stakeholders em nosso

favor, aliado ao fato da necessidade de integração da

Com Soc com as outras atividades de apoio, como a

Op Psico, a GE e a Inteligência, buscando a sinergia

nas atividades, verifica-se que a Com Soc atua proa-

tivamente no seu propósito, que é de dar a notícia

que interessa à Força antes de ser surpreendido pela

notícia que não interessa e assim constata-se que a

Com Soc atua diretamente relacionada com as Ope-

rações de Inteligência na exploração dos stakehol-

ders.

10 CONCLUSÃO

O presente trabalho teve por objetivo verificar co-

mo a Inteligência poderia apoiar as Operações de

Informação por intermédio de sua atuação sobre os

stakeholders.

Pelas razões apresentadas ao longo do trabalho, as

Operações de Informação são vitais para a atuação

de qualquer força tanto em um conflito de Quarta

Geração quanto em um contexto de guerra conven-

Page 28: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 27

cional. Não se faz nenhuma ação militar sem superi-

oridade de informações.

As Operações de Informação já são uma realidade

para o Ministério da Defesa. O Exército Brasileiro já

criou o Sistema Informações. No entanto, até o mo-

mento, não há uma doutrina esse sistema. Sabe-se da

experiência de outros exércitos, particularmente o

dos Estados Unidos, mas esta não se aplica à reali-

dade brasileira.

Assim, uma eventual abordagem das Operações de

Informação pelo Exército Brasileiro terá que consi-

derar a restrição à liberdade de atuação. A Teoria

dos Stakeholders, já amplamente consagrada nos

meios empresariais brasileiros, é uma das possíveis

soluções.

A execução da atividade de Inteligência nas Ope-

rações de Informação com o foco nos stakeholders é

plenamente viável como instrumento de assessora-

mento para apoiar os diversos sistemas envolvidos

nas Op Info.

Nos questionários respondidos, inclusive por mili-

tares do Centro de Inteligência do Exército, ficou

patente que todos concordaram que a Inteligência

pode dar uma importante contribuição às Op Info,

em cada uma das abordagens exploradas no presente

trabalho.

A Inteligência apoiará a definição da inclusão dos

RCN e dos EEI para atender a necessidade de co-

nhecer os stakeholders. Diversas informações po-

dem ser obtidas por intermédio do contato das tropas

diretamente com os stakeholders ou com os públi-

cos-alvo impactados pelas operações militares.

A pesquisa em fontes abertas, principalmente com

aquelas feitas por intermédio da rede mundial de

computadores, é outra importante fonte de conheci-

mento da qual a Inteligência pode se valer para apoi-

ar as Op Info. Com a superlativação das redes soci-

ais, cada vez mais a fonte cibernética se torna priori-

tária.

O levantamento dos stakeholders pode apoiar

qualquer ramo das Op Info. O ser humano é a única

constante em qualquer sistema.

A Inteligência pode apoia as Op Info fornecendo

conhecimentos precisos, oportunos e relevantes so-

bre os stakeholders no ambiente operacional. Os

conhecimentos produzidos pelos analistas de Inteli-

gência são de fundamental importância para alimen-

tar e assessorar os decisores responsáveis pelo plane-

jamento e condução das Op Info.

Concluindo, o papel da Inteligência nas Operações

de Informação é relevante na medida que os conhe-

cimentos produzidos conferem ao poder de influen-

ciação as Operações de Informação no ambiente

operacional moderno é irrefutável que não se faz Op

Info sem o apoio da Inteligência.

Page 29: Artigo a Inteligência Militar No Exército

28 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

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EsIMEx - 2º Semestre de 2013 31

LUIZ FERNANDO MEDEIROS NÓBREGA 1

JASON SILVA DIAMANTINO 2

EMERSON GARCIA CAVALEIRO 3

RAPHAEL GUSTAVO FRISCHGESELL 4

1.INTRODUÇÃO

O Ministério da Defesa (MD), como órgão centra-

lizador e coordenador do trabalho prospectivo de

planejamento no nível setorial, aglutina conhecimen-

tos gerados por diferentes fontes, cada uma com suas

peculiaridades, similitudes e diferenças. Para isso,

uma metodologia adequada para o trato dos conhe-

cimentos coletados faz-se necessária, num processo

1 Oficial de Cavalaria do Exército Brasileiro - Mestre em

Ciências Militares (ECEME)

2 Oficial de Intendência do Exército Brasileiro - Mestre em

Ciências Militares (ECEME).

3 Oficial de Artilharia do Exército Brasileiro - Mestre em

Ciências Militares (ECEME).

4 Oficial da Marinha do Brasil - Mestre em Ciências Navais

(EGN).

de integração que supere as características de cada

Força Armada (FA).

Os estudos teóricos, as análises conjunturais e a

construção de cenários prospectivos constituem par-

te primordial da Concepção Estratégica e Configura-

ção de Forças, primeira fase da Sistemática de Pla-

nejamento Estratégico Militar (SPEM). Estas ativi-

dades ocorrem desde o nível nacional e desenvol-

vem-se nos níveis setorial (MD) e subsetorial (For-

ças Armadas).

É fundamental, na construção de cenários prospec-

tivos, o trabalho do MD no desenvolvimento dos

cenários comuns entre as FA, de forma a aproximar

os planejamentos no nível político-estratégico e uni-

formizar procedimentos gerais que orientarão a for-

mulação de Conceitos Estratégicos de Emprego,

bem como de Configuração das Forças (nível subse-

torial).

O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DOS SISTEMAS DE INTELIGÊNCIA DAS FORÇAS

ARMADAS, PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS PROSPECTIVOS PELO MD

RESUMO

Este artigo avaliou em que medida e com que metodologia ocorrem a produção e integração dos co-

nhecimentos, as similitudes e divergências de cada sistema de inteligência, tudo visando a apontar alternativas

que possam aprimorar o modelo atualmente vigente. Foi estabelecido um arcabouço teórico, onde foi abordada

a organização sistêmica da Inteligência, o Planejamento Estratégico Militar e breve teoria sobre a construção

de cenários. A partir dos resultados da pesquisa de campo , ficou evidenciada a existência insipiente de inte-

gração, os prejuízos decorrentes da inexistência de um Política Nacional de Inteligência aprovada e implanta-

da, além dos resultados positivos decorrentes do trabalho do Sistema de Planejamento Estratégico de Defesa

(SPED). Como conclusão, ressaltou-se a necessidade de maior integração, a indicação do método de cenariza-

ção mais adaptável ao modelo vigente, bem como as tendências para cada SI como partícipes do processo de

alimentação e atualização das conjunturas nacional e internacional.

Page 33: Artigo a Inteligência Militar No Exército

32 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

Diante disso, coloca-se um problema: em face das

peculiaridades, similitudes e diferenças na atividade

de Inteligência desenvolvida por cada Sistema de

Inteligência (SI) das FA, em que medida o processo

de integração dos conhecimentos produzidos tem

sido efetivo, para formulação das conjunturas e

construção de cenários prospectivos?

Coube a esta pesquisa, portanto, estudar o processo

de integração dos sistemas de inteligência estratégi-

cos (SIE) das Forças Armadas (FA), naquilo que

cada um apóia na formulação das conjunturas nacio-

nal e internacional, numa perspectiva setorial, para

construção de cenários prospectivos pelo MD.

A hipótese básica foi da necessidade de aprimora-

mento do processo de integração entre os órgãos do

Sistema de Inteligência Estratégica do Ministério da

Defesa (SIE/MD) pertencentes às FA, na análise

conjuntural e na construção de cenários. O objetivo

foi o de responder às seguintes questões de estudo,

tendo em vista tratar-se de pesquisa de natureza no-

tadamente qualitativa: qual a metodologia para a

formulação de cenários prospectivos no MD? Quais

as metodologias utilizadas para a formulação de ce-

nários prospectivos nas Forças Singulares? Existe

uma metodologia para integração de conhecimentos,

no processo de formulação das conjunturas pelo

MD? Quais são os órgãos internos responsáveis pelo

acompanhamento e elaboração de cenários em cada

uma das Forças Singulares? O MD possui estrutura

para o acompanhamento da conjuntura nacional e

internacional e construção de cenários prospectivos?

Quais são os pontos semelhantes e divergentes na

estrutura de Inteligência dos SI das FA, componen-

tes do SIE/MD, que possam impactar no processo de

integração para construção dos cenários prospectivos

comuns?

Como objetivo geral buscou-se estudar o processo

de integração de conhecimentos produzidos pelos

órgãos componentes do SIE/MD, notadamente dos

SI das FA, propondo possíveis oportunidades de

melhoria para a SPEM.

Partindo-se da premissa que tais análises reportam-

se não apenas ao cenário nacional, em todos os seus

campos de poder, mas também ao entorno estratégi-

co e cenário internacional, é notória a importância

do trabalho realizado pelos diversos componentes do

SISBIN, notadamente os pertencentes ao Sistema de

Inteligência Estratégica (SIE/MD).

A tarefa de aproximar SI de órgãos distintos e fazê-

los trabalhar em regime de cooperação já é, por si

só, um grande desafio. Sabe-se, entretanto, que a

desejada integração pressupõe esforço dirigido e

convergente de todos os atores envolvidos. Quais-

quer medidas que favoreçam tal ambiente são de

grande relevância, não apenas para o SINDE/MD,

mas principalmente para o PEM sob responsabilida-

de do MD, pois, uma vez alcançado o “estado da

arte”, as Forças passarão a alimentar o processo e

realizar as avaliações dos cenários de forma adequa-

da, como preconiza o regulamento que a instituiu.

2 A INTELIGÊNCIA E O PLANEJAMENTO

ESTRATÉGICO

2.1 VISÃO SISTÊMICA DA INTELIGÊNCIA

A atividade de Inteligência, no Brasil, está organi-

zada em uma estrutura sistêmica, ou seja, “os diver-

sos órgãos que tratam da atividade constituem um

conjunto de partes interatuantes e interdependentes,

operando em proveito de um mesmo objetivo, res-

peitada a autonomia funcional de cada uma e obser-

vadas as normas legais pertinentes.” (BRASIL,

2005, p. 16).

Page 34: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 33

O SISBIN tem por objetivo “integrar as ações de

planejamento e execução da atividade de Inteligên-

cia do País, com a finalidade de fornecer subsídios

ao Presidente da República nos assuntos de interesse

nacional.” (BRASIL, 2006, p. 16).

Mediante coordenação, órgãos das unidades da Fe-

deração também poderão compor o SISBIN. A FI-

GURA 1 apresenta o Sistema Brasileiro de Inteli-

gência, com seus órgãos mais atuantes:

FIGURA 1 - Sistema Brasileiro de Inteligência

FONTE: SCIE - MD (2013)

O SINDE “integra as ações de planejamento e exe-

cução da atividade de Inteligência de Defesa, com a

finalidade de assessorar o processo decisório no âm-

bito do Ministério da Defesa – MD.” (BRASIL,

2006, p.16).

Conforme dispõe o Manual MD-32-M-01 (BRA-

SIL, 2011), o Órgão Central do SINDE é o Depar-

tamento de Inteligência Estratégica – DIE, da Secre-

taria de Política, Estratégia e Assuntos Internacio-

nais do MD. Atualmente, o órgão que trata da Inteli-

gência no mais alto nível, no âmbito do MD, é a

Subchefia de Inteligência Estratégica (SCIE), subor-

dinada à Chefia de Assuntos Estratégicos e gerente

do SINDE.

O Brasil ainda não possui, oficialmente, sua Políti-

ca Nacional de Inteligência (PNI), uma vez que,

mesmo tendo sido cumpridas as etapas previstas do

artigo 5° da Lei N° 9883, de 07 de dezembro de

19995, aguarda ainda, desde 2010, a sua fixação e

sanção presidencial (LIMA, 2012, p.55).

Para Gonçalves (2008, p. 187) na PNI devem cons-

tar os objetivos nacionais, as áreas prioritárias de

atuação, bem como diretrizes norteadoras da ativi-

dade de Inteligência de Estado em consonância com

ordenamento constitucional e legal vigente. A essên-

cia do PNI, portanto, consistiria fundamentalmente

em oferecer aos órgãos do SISBIN as condições

indispensáveis para produzir conhecimentos visando

ao aprimoramento, no plano estratégico, do processo

decisório e da ação governamental, à prevenção de

eventuais ameaças e ao aproveitamento das oportu-

nidades oferecidas ao País (BRASIL, 2009).

2.2 O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Conforme preconiza o SPED (BRASIL,2012), o

Planejamento Estratégico não se trata de um plano,

mas de um

"processo de GESTÃO fundamentado

na elaboração de diagnósticos e na de-

finição de objetivos de longo prazo e es-

tratégias de transformação. Seu propósito

é a criação de condições futuras para a ob-

5 A referida Lei institui o Sistema Brasileiro de Inteligência,

cria a Agência Brasileira de Inteligência e dá outras providên-

cias. No Art. 5° estabelece que a execução da PNI, deve ser

fixada pelo Presidente da República, levado a efeito pela A-

BIN, sob supervisão da Câmara de Relações Exteriores e Defe-

sa Nacional do Conselho de Governo. Determina ainda que

antes de fixada pelo Presidente da República a mesma deve ser

remetida ao exame e sugestão do órgão de controle externo da

atividade de inteligência, exercida atualmente pela Comissão

Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI).

SISTEMA BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA

A B I N(órgão central)

M F

C O A F

S R F

Banco Central

M D - SINDE

AIOP

CIM / EMA / CON

CIE / EME

CIAer / EMAer

M J

S E N A S P

D I P / D P F

D P R F

Sec Nac Justiça

CASA CIVIL

M R E

C O C I T

M T E

Sec Executiva

MS

ANVISA

M M A

Sec Executiva

Page 35: Artigo a Inteligência Militar No Exército

34 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

tenção e constante aperfeiçoamento de

capacidades de defesa do Estado brasi-

leiro. Portanto, exige a capacidade de

"pensar no amanhã", que difere do costu-

me de "preocupar-se com o hoje". (BRA-

SIL, 2012, p. 4)

Ainda conforme o SPED (BRASIL, 2012), o Pla-

nejamento Estratégico, no âmbito do MD, está rela-

cionado com a adaptação das Forças a um ambiente

mutável, sujeito a incerteza a respeito dos eventos do

ambiente, sendo orientado para o futuro, ou seja, seu

horizonte de tempo é o longo prazo.

Fig 2 - Fases e Etapas do SPED

Fonte: SPED (BRASIL, 2012)

Como se vê na FIGURA 2, as fases são elaboradas

em sequência crescente. O produto final de cada

fase, após difusão dentro das Forças Armadas, é

avaliado pelo Comitê de Planejamento Estratégico

(CoPE), com a devida ratificação dos Comandantes

de Força, por intermédio dos respectivos Chefes de

Estado-Maior, e submetido à aprovação do Ministro

de Estado da Defesa, na condição de Decisor Estra-

tégico.

Os planos estratégicos do Ministério da Defesa tra-

balham com horizonte temporal de 20 anos, com

atualizações anuais e quadrienais, ou quando houver

alterações significativas na conjuntura. As atualiza-

ções anuais compatibilizam o planejamento com a

Lei de Orçamento Anual (LOA), ao passo que as

atualizações quadrienais visam compatibilizar a pla-

nejamento com o Plano Plurianual (PPA).

A metodologia de planejamento estratégico do Mi-

nistério da Defesa está em fase inicial de desenvol-

vimento, e seu primeiro ciclo terá por base o ano de

2012, concluindo o Plano Estratégico de Defesa

(PED) em 2014, que será compatibilizado ao PPA

em 2015, e entrará em vigor em 2016. O ciclo está

representado na FIGURA 3, em seguida:

Fig 3 -Ciclo de Produção do Planejamento Estratégico no MD

Fonte: SPED (BRASIL, 2012)

O MD30-M-01 (BRASIL, 2011) divide o Planeja-

mento Estratégico em três etapas características:

Avaliação da Conjuntura e Elaboração de Cenários;

Exame de Situação e Planejamento; e Controle das

Operações Militares.

O Planejamento Estratégico Militar (PEM) está re-

gulado desde 2005 pelo Manual MD-51-M-01 - Sis-

temática de Planejamento Estratégico Militar. O

PEM decorre, portanto, da Sistemática do Planeja-

mento Estratégico Militar (SPEM), um amplo pro-

cesso que tem por finalidade estabelecer a sistemati-

zação do planejamento de alto nível para as Forças

Armadas (FA), contribuindo com os objetivos da

Defesa Nacional.

O PEM objetiva, portanto, seguindo o ensino do

MD51-M-01, definir e organizar as atividades rela-

cionadas com o preparo e o emprego do poder mili-

Page 36: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 35

tar. Para tal, expressa-se em três níveis: o nacional,

formado pelas mais altas autoridades do País; o seto-

rial, constituído pelo Ministério da Defesa e o subse-

torial, composto pelas FA.

A formalização deste processo de análise conjuntu-

ral setorial (âmbito MD) dá-se pela Avaliação Estra-

tégica de Defesa (AED), um diagnóstico, sob a ótica

da defesa, “dos ambientes internacional, regional e

nacional visando a subsidiar os planejamentos estra-

tégicos decorrentes da PDN, realizados no Ministé-

rio da Defesa, de modo a possibilitar a formulação

da Política e Estratégia Militares de Defesa” (BRA-

SIL, 2005, p.5)

O SPED preconiza que a operacionalização dessa

metodologia deve se dar mediante a "criação de

grupos de trabalho (GT) temáticos, relacionados

às fases e compostos por representantes do MD,

das Forças e, sempre que adequado, de outros

órgãos governamentais (Legislativo, Executivo e

Judiciário) e não governamentais". (BRASIL, 2012,

p.7).

A SPEM subdivide-se em três fases: Concepção

Estratégica e Configuração de Forças, Planejamento

do Preparo e Planejamento do Emprego Operacio-

nal. Conforme preconiza o Manual MD-51-M-01:

“As atividades da fase da Concepção Es-

tratégica e Configuração de Forças rela-

cionam-se com o processo de identifica-

ção de forças militares necessárias à capa-

cidade que a nação deve dispor para a sua

defesa, enquanto que as atividades da fase

do planejamento do Preparo são as con-

cernentes à obtenção e ao preparo das for-

ças militares identificadas. As atividades

da fase do planejamento do Emprego O-

peracional constituem-se das formulações

de estruturas operativas e de doutrinas que

permitam o emprego das forças milita-

res.” (BRASIL, 2005, p.9)

Os estudos teóricos, as análises conjunturais e a

construção de cenários prospectivos constituem par-

te primordial da fase preliminar à Concepção Estra-

tégica e Configuração de Forças. Tais atividades são

coordenadas de modo centralizado pelo MD, com a

participação das FA, a fim de uniformizar a constru-

ção dos cenários. Após a construção do cenário

prospectivo comum, as FA trabalham separadamente

na configuração de cada, em consonância ainda com

a EMilD e a PMD.

Fig 4 - Fluxograma do Planejamento Estratégico Militar

Fonte: SCIE - MD (2013)

Conforme pode-se observar na FIGURA 4, antece-

dendo à formulação da Política Militar de Defesa

(PMD) e da Estratégia militar de Defesa (EMiD), o

trabalho da SCIE é alimentado por uma Avaliação

Estratégica de Inteligência de Defesa, bem como

pelas Avaliações Estratégicas Setoriais de cada For-

ça, que se somam às avaliações conjunturais conso-

nantes com o Plano de Inteligência de Defesa (PIN-

DE), documento que orienta toda a produção de inte-

ligência no âmbito do MD.

Para tal, o trabalho de alimentação de dados é rea-

lizado em ciclos quadrienais, onde ocorrem periódi-

cas avaliações de conjuntura. Essas avaliações são

apreciações que expressam a opinião de diversos

Page 37: Artigo a Inteligência Militar No Exército

36 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

analistas sobre fatos e situações, passados e presen-

tes, ou de um futuro imediato, referente às conjuntu-

ras nacional e internacional.

Da apreciação resultante de cada ciclo anual, con-

solidada a cada quatro anos, alia-se o trabalho reali-

zado subsetorialmente por cada FA (AES). O vetor

resultante é a avaliação da Defesa (AEID), que con-

substancia os produtos principais da SPEM, quais

sejam a PMD e a EMiD.

4 A CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS PROS-

PECTIVOS

O primeiro a empregar a palavra “prospectiva” foi

o filósofo e pedagogo francês Gaston Berger em sua

obra A atitude prospectiva, de 1957, estabelecendo

como descrever um futuro desejável para o mundo.

Berger propôs o uso do termo “prospectiva” para

mostrar a necessidade de uma atitude orientada para

o futuro.

No Brasil, segundo Buarque (1988), a prática de

elaboração de cenários é recente. As primeiras em-

presas a utilizarem tal prática de elaboração de cená-

rios foram o Banco Nacional do Desenvolvimento

(BNDES), a ELETROBRÁS, a PETROBRÁS e a

ELETRONORTE, em meados da década de 1980,

em função de operarem com projetos de longo perí-

odo de maturação, o que exigia uma visão de longo

prazo.

Uma nova utilização da técnica prospectiva no

Brasil foi coordenada pela antiga Secretaria de As-

suntos Estratégicos da Presidência da República

(SAE), que iniciou em 1996 os estudos que geraram,

em 1997, os Cenários Exploratórios do Brasil 2020

e, em 1998, os cenários desejados para o Brasil. A

iniciativa da SAE incentivou a discussão do tema no

país. (MARCIAL E GRUMBACH, pag 32)

Concordando com as palavras de Peter Schwarts6,

quando trata de prospectar o futuro, há três ideias

que não podem ser esquecidas em qualquer contex-

to: “sempre teremos surpresas; conseguiremos lidar

com elas; muitas podem ser previstas. Na verdade,

podemos fazer algumas suposições bastantes boas

acerca de como a maioria se dará” (SCHWARTS,

2003, p. 15).

Realizado o levantamento e análise das conjuntu-

ras, inicia-se a construção de cenários prospectivos.

Esse processo utiliza metodologias científicas pró-

prias para formular uma antevisão de futuro, em face

da qual deverá ser preparada a capacitação militar.

Trata-se, portanto de um processo pró-ativo, que

busca vislumbrar cenários de tendência e aproximá-

los de cenários desejáveis, na tentativa de reduzir

vicissitudes causadas pela dificuldade de se prever

com oportunidade tensões indesejáveis.

No Exército Brasileiro, a 7ª Subchefia do Estado-

Maior do Exército (7ª SCh EME) tem a responsabi-

lidade de monitorar as conjunturas nacional e inter-

nacional para determinar situações, na área externa

ao EB, que aconselhem iniciativas para superar con-

flitos e crises ou para atender interesses da Defesa

Nacional. Tal missão é consequência direta da ne-

cessidade de monitoramento dos eventos que podem

interferir no cenário alvo, produto principal da análi-

se estratégica desenvolvida pelo Estado-Maior do

Exército, por meio da 7ª SCh EME.

Já o monitoramento de eventos tem por objetivo

fornecer subsídios para a atualização do diagnóstico

estratégico do EB, para a elaboração de cenários e

6 SCHWARTS, Peter. Cenários: as surpresas inevitá-

veis. Rio de Janeiro: Campus, 2003

Page 38: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 37

de indicações, visando atingir o cenário alvo, que

pode ser impactado em razão de ruptura de tendên-

cias e/ou modificação nas estratégias dos atores en-

volvidos. (CARVALHO, 2012)

Podem-se dividir as técnicas de elaboração de ce-

nários em três grupos: de ajuda à criatividade; de

avaliação e de análise multicritérios.

As técnicas de ajuda à criatividade são as seguin-

tes: Brainstorming, Sinéctica, Análise morfológica e

Questionários e entrevistas.

As técnicas de avaliação são: Método Delphi, Mé-

todo dos Impactos Cruzados, Modelagem e simula-

ção. O método consiste em interrogar individual-

mente, por meio de sucessivos questionários, um

determinado grupo de peritos. Depois de cada apli-

cação do questionário aos peritos, as questões são

analisadas e apresentadas a eles outra vez para que

tenham a oportunidade de rever suas opiniões.

No Método Delphi atuam dois grupos: o de peritos,

que é consultado a distância, e o de analistas, que

analisa e interpreta as respostas.

O grupo de peritos tem por tarefa, mediante um

processo de raciocínio lógico, a elaboração de esti-

mativas, que serão comparadas, corrigidas e comple-

tadas em fases sequenciais de estimulação, com base

nas respostas dadas a sucessivos questionários.

(MARCIAL & GRUMBACH, Pag 63). O grupo de

análise (ou controle) tem como tarefa controlar o

processo de elaboração de juízos de valor emitidos

pelos peritos, procurando não promover grandes

alterações que descaracterizem aquelas opiniões em

seu conjunto.

Já o método dos Impactos Cruzados engloba uma

família de técnicas que visam avaliar a influência

que a ocorrência de determinado evento teria sobre

as probabilidades de ocorrência de outros eventos. O

método leva em conta a interdependência de várias

das questões formuladas, possibilitando que o estudo

que se está realizando adquira um enfoque mais glo-

bal, mais sistêmico e, portanto, mais de acordo com

uma visão prospectiva (MARCIAL & GRUMBA-

CH, Pag 64).

A Modelagem e simulação é o estabelecimento de

um modelo matemático para o sistema que se está

estudando. A utilização experimental desses mode-

los constitui a simulação. Variando os parâmetros do

modelo, selecionamos as “políticas”de funcionamen-

to do sistema que mais nos convém, de acordo com

os critérios previamente estabelecidos.

Por fim, as técnicas de análises multicritérios são:

Método dos Éxamenes (Método dos Concursos),

Método Pattern, Método Electre, Método AHP (A-

nalytic Hierarchy Process), Método Macbeth.

Para Godet e Roubelat (1996), citado por MAR-

CIAL & GRUMBACH, Pag 69, não há apenas um

método de construção de cenário, mas vários méto-

dos. Porém, o termo “método de cenário” só se apli-

caria a uma abordagem que incluísse alguns passos

específicos, como análise de sistemas; retrospectiva;

identificação das variáveis, seu comportamento e

relações; estratégia dos atores e elaboração de cená-

rios múltiplos.

Entre os métodos existentes, os descritos por Mi-

chel Godet, Peter Schwartz, Michel Porter e Raul

Grumbach possuem base conceitual digna de men-

ção. Eles diferem no que diz respeito aos passos

utilizados e, não, à filosofia. Todos seguem os prin-

cípios descritos pela prospectiva.

4.1 OS CENÁRIOS DE DEFESA ATUAIS

A Assessoria de Planejamento Institucional (AS-

PLAN), órgão de assessoria direta do Ministro da

Defesa, responde pela execução do Sistema de Pla-

Page 39: Artigo a Inteligência Militar No Exército

38 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

nejamento Estratégico de Defesa (SPED). O SPED

tem como produto final os Cenários de Defesa, de-

senvolvidos com o propósito de orientar todo o pro-

cesso de planejamento estratégico do Ministério da

Defesa. Dessa forma, provê cenários futuros que

fundamentam documentos basilares, como a Política

Nacional de Defesa, a Estratégia Nacional de Defe-

sa, a Política Setorial de Defesa, o Plano Estratégico

de Defesa, além das políticas, estratégias e planos

análogos das Forças Armadas.

Os Cenários de Defesa agregam aspectos conjuntu-

rais e estruturais que podem afetar, nos diversos âm-

bitos analisados, a segurança e a defesa nacionais,

além de suas possíveis evoluções. Assim, pode-se

identificar, em análise posterior, as capacidades ne-

cessárias à garantia da integridade e da soberania do

Estado brasileiro, bem como as ações a implementar

para alcançá-las.

Outro objetivo que de perto interessa a essa pesqui-

sa é que, a partir do Cenários de Defesa as Forças

dispõem de um conjunto de conhecimentos comuns,

a partir dos quais são tomadas as decisões e condu-

zida a gestão estratégica. Em especial busca-se co-

ordenar ações e estabelecer sinergias que resultem

em melhor aproveitamento dos recursos orçamentá-

rios, além de incrementar a eficiência administrativa

e operacional.

A abordagem realizada restringe-se a identificar fa-

tos portadores de futuro, suas respectivas tendências

e possíveis desdobramentos, oportunidades e amea-

ças, sem elaborar juízo de valor sobre as relações de

causa e efeito. Eventos futuros capazes de gerar

grande impacto, mesmo que classificados como im-

prováveis, são analisados, sendo que o nível de deta-

lhamento restringe-se à segurança e à defesa nacio-

nais como um todo, deixando desdobramentos espe-

cíficos a critério de cada Força.

A metodologia para o desenvolvimento dos cená-

rios engloba, além das técnicas de elaboração de

cenários, visitas e consultas a empresas estatais e

privadas, instituições de ensino civis, Escola Superi-

or de Guerra (ESG), além de Marinha, Exército e

Aeronáutica. Os trabalhos são desenvolvidos de

forma conjunta pelos diversos setores da Adminis-

tração Central – Secretarias, EMCFA e CENSIPAN

– e pelas Forças Armadas, os quais fornecem infor-

mações e análises com foco em suas respectivas

áreas.

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS

A análise a seguir é o resultado da compilação das

pesquisas de campo aplicadas a analistas e operado-

res dos diversos órgãos que compõem o SINDE.

Foram enviados questionários qualitativos ao CIM,

CIAer, CIE, 2ª e 7ª Subchefias do EME, SCIE/MD e

SAE/GSI; além disso, foram aproveitadas observa-

ções realizadas durante visitas de instrução da EsI-

MEx7 ao MD, ao CIM e ao CIAer, bem como entre-

vistas pessoais com integrantes da SCIE/MD e AS-

PLAN/MD.

Quanto ao trabalho de formulação de cenários

prospectivos no MD, foi verificado que no MD tal

atividade não está vinculada à Inteligência Estratégi-

ca (SCIE), senão à Assessoria de Planejamento Insti-

tucional do Ministério da Defesa, (ASPLAN), órgão

de assessoramento direto do Ministro da Defesa.

Isso robustece a importância do assunto perante a

estrutura do MD, ao passo em que envolve órgãos

7 Palestras realizadas para integrantes do Curso Avançado de

Inteligência para Oficiais no ano de 2013.

Page 40: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 39

distintos nas tarefas de análise conjuntural e formu-

lação de cenários.

A composição mista dos integrantes tanto da SCIE,

quanto da SPE, favorece a integração dos conheci-

mentos produzidos por cada Força. Já no nível da

ASPLAN, a estrutura existente é favorecida pelo

nível dos integrantes que formam o CoPE, os quais

permeiam toda a estrutura e acessam as diversas

estruturas de inteligência.

A Subchefia de Política e Estratégia (SPE) elabora

apenas a atualização da análise conjuntural, que

quadrienualmente é base para reedição da Avaliação

Estratégica de Inteligência de Defesa (AEID), traba-

lho que subsidia a elaboração da Política Militar de

Defesa (PMD) e da Estratégia Militar de Defesa

(EMiD).

Analisando a metodologia para o desenvolvimento

dos cenários, preconizada no SPED, esta engloba

visitas e consultas a empresas estatais e privadas,

instituições de ensino civis, Escola Superior de

Guerra (ESG), além de Marinha, Exército e Aero-

náutica, tendo o ciclo de teste iniciado em 2012.. Os

trabalhos foram desenvolvidos de forma conjunta,

pelos diversos setores da Administração Central –

Secretarias, EMCFA e CENSIPAN – e pelas Forças

Armadas, os quais forneceram informações e análi-

ses a partir do trabalho realizado em cada área en-

volvida.

O produto deste trabalho será o documento entitu-

lado "Cenários de Defesa 2035", ainda em fase de

aprovação no âmbito do MD, o que representa uma

evolução na gestão estratégica do MD, provendo

cenários futuros que verdadeiramente fundamenta-

rão a Política Nacional de Defesa, a Estratégia Na-

cional de Defesa, a Política Setorial de Defesa, o

Plano Estratégico de Defesa, bem como as políticas,

estratégias e planos análogos das Forças Armadas.

Contudo, o limite temporal estendido é questionável,

ou seja, de 35 (trinta e cinco) anos, uma vez que

autores consagrados como Grumbach apontam para

cenarizações com limites temporais médios de 10

(dez) anos.

A criação GT temáticos para construção de cená-

rios, propostos pelo SPED e compostos por repre-

sentantes do MD, das Forças e de representantes de

outros órgãos do Legislativo, Executivo e Judiciário,

ainda se apresenta de forma insipiente. A previsão,

também, de um grupo de trabalho composto por in-

tegrantes do MD e das três FA, a fim de atualizar as

análises realizadas, conforme preconiza a SPEM,

não é uma realidade, não obstante haja a atualização

conjuntural com base nos conhecimentos, oriundos

de cada Força, que chegam ao MD sob a forma de

atualizações conjunturais.

A existência do Comitê de Planejamento Estratégi-

co (CoPE), composto pelos Chefe de Estado-Maior

Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), Chefes de

Estado-Maior dos Comandos da Marinha (EMA), do

Exército (EME) e da Aeronáutica (EMAER), Secre-

tários das SEORI, SEPESD e SEPROD, Chefes de

Preparo e Emprego, de Assuntos Estratégicos e de

Logística, além do Assessor de Planejamento Insti-

tucional indica uma tendência à maior integração do

trabalho de cenarização, mas também é uma estrutu-

ra insipiente, cujo funcionamento e efetividade ainda

não são possíveis mensurar.

A proposta dos Cenários de Defesa vem ao encon-

tro da necessidade de uniformizar os planejamentos

das Forças, a partir da premissa de que disporão de

um conjunto de conhecimentos comuns, a partir dos

quais serão tomadas as decisões. Tal medida redun-

Page 41: Artigo a Inteligência Militar No Exército

40 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

dará na desejada sinergia e na eficiência administra-

tiva e operacional.

Quanto às metodologias utilizadas para a formula-

ção de cenários prospectivos nas Forças Singulares,

ficou patente a discrepância entre as Forças. A Força

Terrestre utiliza-se do Método Grumbach, e realiza

seu estudo voltado, essencialmente, para os interes-

ses da Força, seus projetos estruturantes e necessi-

dades peculiares. Já as demais forças não realizam

propriamente o trabalho de cenarização, mas de ava-

liação e atualização das conjunturas interna e exter-

na.

Respondentes apontaram que a Força Terrestre

vem utilizando o software PUMA para construção

de cenários. Diante do que foi estudado quanto aos

métodos de cenarização, pode-se afirmar que o Mé-

todo Grumbach, como adaptação dos métodos de

Schwartz e Godet à realidade nacional, apresenta-se

como o mais adaptado para o trabalho de construção

de cenários prospectivos.

Quanto à metodologia para integração de conheci-

mentos, no processo de formulação das conjunturas,

no MD, o método inicia-se com a elaboração de um

documento base, chamado Informativo de Defesa.

Esse documento, não classificado, é elaborado diari-

amente a partir de coleta e seleção, em fontes aber-

tas, de matérias de mídias de maior relevância para

os Objetivos de Inteligência de Defesa previstos no

Plano de Inteligência de Defesa (PINDE); e é divul-

gado para o Subchefe de Inteligência Estratégica,

para os adidos, para a Chefia de Assuntos Estratégi-

cos, para os Subchefes de Política e Estratégia, para

a Subchefia de Assuntos Internacionais, para o

CEMCFA e para o SINDE.

Não obstante a base doutrinária da atividade de In-

teligência no Brasil ser oriunda dos EUA, o modelo

francês analisado demonstra que a integração se faz

na medida em que o órgão de maior nível do sistema

permeia, controla e integra a inteligência em todos

os demais níveis (operacional e tático).

Após a divulgação do Informativo de Defesa, os

analistas de inteligência do MD aprofundam o co-

nhecimento das matérias selecionadas daquele dia, e

levantam, junto as fontes disponíveis, a veracidade

dos dados contidos no documento.

A partir de uma avaliação dos Informativos de De-

fesa, realizada semanalmente, e os conhecimentos

recebidos dos órgãos do SINDE e do SISBIN é pro-

duzido o documento denominado Sumário de Inteli-

gência. Este documento tem um tramite similar ao

Informativo de Defesa, porém já possui classificação

reservado e o raciocínio do analista que pode apre-

sentar uma visão prospectiva.

Por sua vez, a Avaliação da Conjuntura, realizada

quadrimestralmente, é elaborada a partir dos Sumá-

rios de Inteligência, seguindo o mesmo processo dos

documentos anteriores. Este documento é a base

para a elaboração da Avaliação Estratégica de Inteli-

gência de Defesa, realizada quadrienualmente. Al-

guns assuntos presentes nos documentos anteceden-

tes podem perder sua relevância e assim, não consta-

rem desta avaliação.

Pôde-se observar que essa sistemática, muito em-

bora não constar nos manuais já elencados no corpo

desta pesquisa, vem garantindo um fluxo de conhe-

cimentos entre os órgãos do SINDE, mesmo que

num volume proporcionalmente reduzido, dado o

tamanho e complexidade dos órgãos integrantes do

SINDE, em especial as Forças Armadas. As pesqui-

sas apontaram o CIE como o órgão com maior quan-

tidade de documentos enviados (60% do volume

total), seguido das aditâncias militares, da ABIN, e

Page 42: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 41

finalmente do CIM e CIAer, nesta ordem de produ-

ção de conhecimentos. A produção de conhecimen-

tos mencionada sofre, contudo, dificuldades para ser

tratada oportunamente pela SCIE/MD, em face do

pequeno efetivo disponível para essa tarefa.

Os cenários de segurança institucional geram mais

de seiscentos subtemas, em acompanhamento tanto

pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN)

quanto pelos demais órgãos do SISBIN. Nesse nível,

os conhecimentos somente são difundidos por meio

dos Relatórios de Inteligência (RELINT), e a inte-

gração não se dá de forma sistêmica.

Quanto aos órgãos internos responsáveis pelo a-

companhamento e elaboração de cenários, em cada

uma das Forças Singulares, pôde-se observar dife-

rentes formas pelas quais o assunto é tratado: no

Sistema de Inteligência da Marinha (SIMAR), por

exemplo, o Centro de Inteligência da Marinha (CIM)

e o Comando de Operações Navais (ComOpNav)

encaminham subsídios para o Estado Maior da Ar-

mada (EMA) produzir as Conjunturas Nacionais e

Internacionais, quadrimestralmente. Por sua vez, as

Conjunturas vão servir de base para a produção de

uma estimativa com valor quadrianual, denominada

Avaliação Estratégica da Marinha (AEMAR). A

AEMAR é apresentada ao MD como subsídio para a

produção da Avaliação Estratégica de Inteligência

de Defesa. Não há elaboração de cenários prospecti-

vos, dada a dificuldade no calculo probabilístico;

Já no Sistema de Inteligência do Exército (SIEx), a

base para a produção de documentos estratégicos

parte desde as agências de inteligência até o Centro

de Inteligência do Exército (CIE), passando pelos

Comandos Militares de Área. Após a tramitação do

conhecimento produzido no SIEx, o CIE e o EME

são capazes de produzir as Conjunturas e Cenários.

Quanto ao Sistema de Inteligência da Aeronáutica

(CIAer), conquanto os resultados de pesquisa de

campo aplicada não possam ter sido analisados, foi

possível observar que o trabalho de cenarização não

é realizado por aquele órgão, mas tão somente o de

atualização conjuntural.

Verificou-se ainda que os pontos semelhantes e di-

vergentes na estrutura de Inteligência dos SI das FA,

componentes do SIE/MD, não impactam diretamen-

te no processo de integração para construção dos

cenários prospectivos comuns. Em verdade, não há

integração plena de bancos de dados, mas são o

compartilhamento de conhecimentos pertinentes e

úteis, em função de cada situação em estudo, fato

esse que se repete também nos demais órgãos com-

ponentes tanto do SINDE quanto do SISBIN.

Os Sistemas de Inteligência das Forças singulares

possuem estruturas distintas. Assim, dentro destas

estruturas, os órgãos internos responsáveis pelo a-

companhamento e elaboração de cenários não são

correspondentes. A edição recente, entretanto, do

SPED veio sopesar as diferenças subsetoriais num

esforço integrador, isto é, envolvendo a Defesa co-

mo um todo, com o objetivo de se obter um compor-

tamento global e sistêmico, mesmo que o trato, pro-

dução e difusão do conhecimento gerado no âmbito

de cada Força divirja quanto ao método.

O SPED veio como um processo de construção do

consenso, em face da diversidade dos interesses e

necessidades. Sua implementação efetiva deverá

oferecer parâmetros de atendimento de todos os en-

volvidos, operacionalmente sendo realizado em cada

órgão do SINDE.

Quanto aos sistemas de Inteligência das Forças

singulares, analisando a estrutura da Marinha do

Brasil, o SIMAR possui três órgãos de cúpula. O

Page 43: Artigo a Inteligência Militar No Exército

42 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

EMA, responsável pela centralização, coordenação e

produção do conhecimento do campo externo rela-

cionados ao conhecimento estratégico-militar (Con-

junturas) e pela centralização de comunicações de

inteligência com os Adidos Navais. O ComOpNav,

responsável pela centralização, coordenação e pro-

dução dos conhecimentos no campo operacional. E o

CIM, responsável pela centralização, coordenação e

produção dos conhecimentos no campo interno e do

campo externo que afete o campo interno. Os três

órgãos fazem parte do SINDE, mas observa-se a

compartimentação da atividade de Inteligência, com

órgãos distintos responsáveis pelos níveis estratégi-

co, operacional e tático.

Já no SIEx, tal compartimentação não acontece,

posto que o CIE é o órgão central do sistema e res-

ponsável pela produção do conhecimento nos níveis

estratégico, operacional e tático. A confecção de

cenários voltados para a Força terrestre fica a cargo

da 7ª Subchefia do EME, que também participa do

SINDE e é capaz de produzir Cenários, monitorando

e controlando os cenários produzidos, alimentado

por atualizações conjunturais emanadas do CIE.

Soma-se a esse órgãos, ainda, a 2ª Subchefia do

EME, que participa do SIEx no campo da doutrina,

legislação, coordenação dentro do SIEx no campo

político, entre outras atividades.

Todos os Órgãos integrantes do SINDE participam

ativamente do acompanhamento da conjuntura e

elaboração dos cenários prospectivos. De uma forma

geral, os Órgãos integrantes do SINDE repassam

conhecimento de Inteligência para o MD. Contudo, a

integração dos órgãos do SINDE ainda é considera-

da insipiente e parte dos documentos produzidos

pelos órgãos circulam apenas no âmbito dos seus

respectivos sistemas.

Tal tarefa é dificultada pela pouca quantidade de

reuniões do Conselho Consultivo do SINDE (CON-

SECON/SINDE), o que poderia minimizar os efeitos

da baixa integração entre os chefes e analistas, que

atuam somente em atitude colaborativa, sem coorde-

nação. Corroborando com este quadro existem, ain-

da, resistências nos órgãos de Inteligência das For-

ças com relação ao MD, sobretudo em face da falta

de coordenação e integração das atividades por esse

órgão.

Nesse sentido, foi observado que a breve e espera-

da edição do novo Manual de Inteligência de Defesa,

pelo MD, poderá normatizar melhor o trâmite dos

conhecimentos entre os integrantes do SINDE, so-

bretudo no nível estratégico, objeto do presente tra-

balho.

Outro fato pertinente para agravar este quadro, é a

pouca importância dada a Inteligência no âmbito do

MD, por falta de conhecimento e por resquícios do

período de governo militar. Prova desta afirmação é

a demanda recebida pela SCIE para assuntos da as-

sessoria de imprensa, das relações públicas ou mes-

mo de uma delegacia de polícia.

Quanto a tramitação do conhecimento, a SCIE re-

cebe os documentos via Rede de Inteligência de De-

fesa (RINDE), o que aumenta a credibilidade da

SINDE. Os documentos trafegam por redes pré-

estabelecidas e criptografadas, com identificação de

destinatários e remetentes.

Diante das constatações e respostas de pesquisas, a

interação do SISBIN com o SINDE no acompanha-

mento da conjuntura e na elaboração dos cenários

prospectivos é aquela que se dá apenas de forma

eventual, por meio de documentos de inteligência. A

inexistência de uma Política Nacional de Inteligên-

cia agrava o quadro atual, no sentido de gerar inde-

Page 44: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 43

finições quanto ao alcance, limite e obrigatoriedade

do trâmite das informações, bem como insegurança

quanto ao trato sigiloso do conhecimento partilhado.

Aspecto relevante, observado por um dos respon-

dentes, diz respeito ao baixo nível de profundidade e

importância com que o assunto relativo à Análise de

Conjunturas e Prospecção de Cenários é tratado no

Curso de Inteligência Estratégica, da Escola Superi-

or de Guerra (ESG). O ambiente congrega integran-

tes de todos os órgãos integrantes do SINDE, apre-

sentando-se como fórum ideal para disseminação da

necessidade de integração e fomento da atividade de

Inteligência no mais alto nível, sobretudo quanto ao

tema em estudo.

Conforme exposto nas pesquisas aplicadas, atual-

mente não existe interação efetiva do SISBIN com o

SINDE. A dificuldade de integração do SINDE com

os órgãos do SISBIN é gerada pela falta de confiabi-

lidade entre os órgãos.

A fim de melhor evidenciar os principais resulta-

dos alcançados em relação à construção de cenários

e avaliação de conjunturas, o ANEXO B do presente

trabalho sintetiza os aspectos mais relevantes apre-

sentados pelos respondentes.

6 CONCLUSÃO

Ao final da presente exposição teórica, por meio da

qual foram estudados os pressupostos doutrinários

que norteiam o Planejamento Estratégico de Defesa,

bem como analisado o processo de integração dos

sistemas de inteligência estratégicos das Forças Ar-

madas, no trabalho de formulação das conjunturas

nacional e internacional e na construção de cenários

prospectivos, é possível afiançar que a integração

sistêmica é uma realidade em construção.

Não obstante as peculiaridades, similitudes e dife-

renças na atividade de Inteligência, desenvolvida por

cada estrutura de Inteligência das FA, o processo de

integração dos conhecimentos produzidos, no nível

MD, tem gerado efetividade, para formulação das

conjunturas e construção de cenários prospectivos

no âmbito do MD, todavia num processo em etapa

inicial, cuja gênese ocorreu há menos de um ano.

As estruturas de Inteligência do SINDE não estão

subordinadas a um mesmo órgão central; guardam

com a SCIE/MD e AIOp/MD ligações de ordem

técnica, o que diverge da estrutura norte-americana e

francesa, analisadas nesta obra. Somente a adoção de

um modelo similar poderá, de fato, integrar os níveis

estratégico, operacional e tático das três FA, o que

não parece ser a proposta assumida pelo MD, nem

mesmo a longo prazo.

As diferenças estruturais dos SI de cada Força ge-

ram diferentes níveis de resposta às demandas de

produção de conhecimento. Uma vez que o trabalho

de construção de cenários envolve grau de reflexão

mais aprofundado e efetivos maiores envolvidos no

processo, tal trabalho apresenta-se mais estruturado

na Força Terrestre, ao passo que as demais Forças

concentram seus esforços na avaliação e atualização

conjuntural, nos campos externos e interno.

De fato, com a absorção dessa tarefa pelo nível se-

torial (MD), é muito provável que as Forças apresen-

tem uma configuração mais voltada para a alimenta-

ção, do nível ministerial, com dados e conhecimen-

tos analíticos (apreciações e estimativas), em produ-

tos específicos como a AEID e os Cenários de Defe-

sa.

Há, sem dúvida, necessidade de implementação e

otimização do processo de integração entre os ór-

gãos do Sistema de Inteligência Estratégica do Mi-

nistério da Defesa (SIE/MD) pertencentes às FA,

uma vez que os conhecimentos produzidos muitas

Page 45: Artigo a Inteligência Militar No Exército

44 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

vezes nascem e morrem no âmbito dos respectivos

órgãos que o produziram. Um dos fóruns mais ade-

quados para fomentar a desejada integração é, sem

dúvida, a Escola Superior de Guerra, onde novas

propostas e modelos de disseminação do conheci-

mento certamente são produzidos.

A constatação de que a redundância e falta de integra-

ção ocorrem, não somente entre os órgãos do SINDE,

mas até dentro das próprias Forças, demonstra que a

integração plena é uma falácia, senão uma desnecessi-

dade. O compartilhamento de dados não precisa dar-se

de forma plena, mas apenas aquele que seja oportuno

quanto aos conhecimentos produzidos pertinentes ao

objeto de estudo. A edição do novo Manual de Inteli-

gência de Defesa deverá apontar os rumos e parâmetros

nos quais se dará tal compartilhamento.

A criação de estruturas como o Comitê de Plane-

jamento Estratégico (CoPE), composto pelos Chefe

de Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas

(EMCFA), Chefes de Estado-Maior dos Comandos

da Marinha (EMA), do Exército (EME) e da Aero-

náutica (EMAER), Secretários das SEORI, SEPESD

e SEPROD, Chefes de Preparo e Emprego, de As-

suntos Estratégicos e de Logística, além do Assessor

de Planejamento Institucional, indicam positivas

contribuições para uma integração de qualidade, em

especial no trabalho de cenarização. Os resultados

do SPED e da formulação do "Cenários de Defesa",

entretanto, são futuros e incertos, não obstante sina-

lizem significativa melhora no processo em estudo.

Com a efetivação dos Cenários de Defesa, haverá

melhor uniformização dos planejamentos das For-

ças, a partir da premissa de que disporão de um con-

junto de conhecimentos comuns, a partir dos quais

serão tomadas as decisões. A construção dos Planos

Estratégicos Militares dar-se-ão, assim, em confor-

midade com o que preconiza a doutrina, quando pla-

nejamentos serão alinhados desde o nível estratégi-

co.

A inexistência de uma Política Nacional de Inteli-

gência (PNI), há tempos em discussão nas câmaras

legislativas do País, cria dificuldades sensíveis para

o processo de integração e desvincula, ainda, a ativi-

dade de Inteligência do nível político. Sendo efeti-

vada, seu benefício maior será o de integrar e orien-

tar os diversos sistemas de inteligência, seja padro-

nizando técnicas, seja estabelecendo canais técnicos

efetivos e duradouros, além de fortalecer e legitimar

a atividade de Inteligência por meio de um controle

regulamentado.

Por fim, à luz dos objetivos específicos traçados, iden-

tificou-se a metodologia utilizada para integração de

conhecimentos, no processo de formulação das conjun-

turas pelo MD, que mesmo de forma ainda insipiente,

por meio do SPED, promete aproximar os SI num es-

forço comum de formular Cenários de Defesa aplicáveis

à realidades específicas de cada FA.

Ainda, foi possível identificar que as estruturas de

apoio à atividade de Inteligência, nas FA, são diver-

gentes e tratam com graus de profundidade disso-

nantes o trabalho de análise conjuntural e formula-

ção de cenários. Isso impacta no processo de inte-

gração para construção dos cenários prospectivos

comuns, cuja tarefa melhor cabe ao nível setorial.

Finalmente, mostrou-se que a formulação de cená-

rios prospectivos nas Forças Singulares é trabalho

realizado apenas pela Força Terrestre, não necessari-

amente alinhado com os Cenários de Defesa, mas

consoante seus projetos particulares. Essa tarefa vem

sendo desempenhada em face da ausência da formu-

lação de cenários no nível setorial, o que deverá ser

paulatinamente absorvido pelo MD.

Page 46: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 45

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Page 47: Artigo a Inteligência Militar No Exército

46 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

ANTONIO JOSÉ GONÇALVES PINTO 1

PAULO CEZAR CROCETTI 2

MARCUS VINÍCIUS DE ANDRADE GAMA 3

1 Oficial do Quadro de Engenheiros Militares do Exército

Brasileiro, Graduado em Engenharia da Computação pelo Insti-

tuto Militar de Engenharia (IME), Mestre em Engenharia pela

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em

Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do

Exército (ECEME) e Especialista em Inteligência Militar pela

Escola de Inteligência Militar do Exército (EsIMEx).

2 Oficial da Arma de Cavalaria do Exército Brasileiro, Mestre

em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de

Oficiais (EsAO) e Especialista em Inteligência Militar pela

Escola de Inteligência Militar do Exército (EsIMEx).

3 Oficial da Arma de Cavalaria do Exército Brasileiro, Mestre

em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior

do Exército (ECEME) e Especialista em Inteligência Militar

pela Escola de Inteligência Militar do Exército (EsIMEx).

1 INTRODUÇÃO

A importância do “Estudo de Situação do Coman-

dante” fica evidenciada na clássica comparação,

discutida por ANTONY (1995), entre o jogo de xa-

drez e o desenvolvimento das operações militares.

Jogadores de xadrez e comandantes do campo de

batalha necessitam de uma visão clara da situação

para avaliarem suas opções, assim como as dos seus

adversários.

Tanto no xadrez quanto nas operações militares, os

contendores comandam numerosos recursos (peças

do jogo ou elementos de manobra) que possuem

características específicas e as estratégias emprega-

das variam ao longo do tempo. Grupos de peças de

O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO TERRENO, CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS E

INIMIGO (PITCI) POR INTERMÉDIO DO PROGRAMA "C2 EM COMBATE"

RESUMO

O “Estudo de Situação” pode ser entendido como uma metodologia aplicada para a produção do co-

nhecimento necessário para condução das operações militares. Neste contexto, duas áreas assumem grande

relevância: a de Comando e Controle (C2) e a de Inteligência. Enquanto o C2 garante aos comandantes de

todos os escalões a consciência situacional e a direção das ações, a Inteligência reduz as incertezas do campo

de batalha pela integração de fontes para produção de conhecimentos relevantes. No Exército Brasileiro (EB),

o estudo realizado pela Inteligência no campo de batalha é denominado “Processo de Integração Terreno,

Condições Meteorológicas e Inimigo” (PITCI). Um mecanismo que automatize o processo deve manter uma

perspectiva global para assegurar que o significado de cada fragmento de informação seja reconhecido e utili-

zado corretamente e com oportunidade. Diante de tais demandas, o EB desenvolveu o programa C2 em Com-

bate. A pesquisa proposta faz uma revisão bibliográfica sobre o PITCI, preconizado nos manuais militares, e

em paralelo, sobre o estado da arte do programa C2 em Combate, visando determinar a sua relevância no pro-

cesso. Para cumprir tal objetivo, uma pesquisa de campo foi realizada para identificar os principais aspectos

que envolvem o binômio PTICI-C2 em Combate. Um estudo de caso apresentado ao final da pesquisa conso-

lida empiricamente os conhecimentos adquiridos com o trabalho.

Page 48: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 47

xadrez são análogas às organizações de alto nível em

um campo de batalha e o próprio tabuleiro de xadrez

representa as restrições de movimento semelhante às

impostas pelo terreno, pelas condições meteorológi-

cas, pela logística e por outras características típicas

do problema militar. Em ambos os domínios, os ob-

jetivos de alto nível do oponente podem ser conhe-

cidos, mas a tática empregada e os objetivos inter-

mediários são tipicamente desconhecidos.

O comandante militar possui uma visão mais in-

completa e imprecisa do campo de jogo do que o

mestre de xadrez. Este último possui o conhecimen-

to completo da localização das forças oponentes

(peças no tabuleiro), das suas limitações (tabuleiro),

da doutrina do adversário (movimento das peças) e

conta com total controle de todos os recursos dispo-

níveis. Embora os dois problemas sejam metafori-

camente similares, o “Estudo de Situação do Co-

mandante” envolve uma maior complexidade.

O “Estudo de Situação” pode ser entendido como

uma metodologia para produção do conhecimento

necessário para condução das operações militares.

Neste contexto, duas áreas assumem grande relevân-

cia: a de Comando e Controle (C2) e a de Inteligên-

cia. Enquanto a área de C2 garante aos comandantes

de todos os escalões a consciência situacional e a

direção das ações militares necessárias à vitória, a

Inteligência reduz as incertezas do campo de batalha

pela integração das informações relativas ao terreno,

às condições meteorológicas e ao inimigo.

No Exército Brasileiro (EB), o estudo realizado pe-

la Inteligência no campo de batalha é denominado

“Processo de Integração Terreno, Condições Meteo-

rológicas e Inimigo (PITCI)”, sendo definido como

um processo cíclico de caráter gráfico, que permite a

obtenção das possibilidades do inimigo e de seus

possíveis objetivos, além de cooperar na montagem

das linhas de ação. Auxilia, ainda, a análise das li-

nhas de ação opostas, apoia a decisão do comandan-

te, facilita a direção do esforço de busca e permite o

acompanhamento da evolução do combate. (BRA-

SIL, 1999, p. 4-1)

A “digitalização do campo de batalha”, imposta pe-

los avanços tecnológicos no campo militar, tem re-

duzido o tempo disponível e ampliado exponencial-

mente o volume de dados que devem ser considera-

dos no processo de tomada de decisão operacional.

O PITCI busca prover uma abordagem holística para

a análise da informação que endereça a complexida-

de do “Estudo de Situação”. Um mecanismo que

automatize o processo deve manter uma perspectiva

global para assegurar que o significado de cada

fragmento de informação seja reconhecido e utiliza-

do corretamente e com oportunidade. Diante de tais

demandas, foi desenvolvido o programa “C2 em

Combate”.

O Programa C2 em Combate (C2Cmb) é um soft-

ware desenvolvido pelo EB para condução de opera-

ções militares, possibilitando a integração das in-

formações dos seguintes sistemas operacionais: co-

mando e controle; inteligência; manobra; apoio de

fogo; defesa antiaérea; mobilidade, contramobilida-

de e proteção; e logístico. Nos dias atuais, constitui-

se como a principal ferramenta computacional para

apoiar o Sistema de Comando e Controle da Força

Terrestre (SC2FTer), sendo enquadrado como um

sistema de apoio à decisão. O C2Cmb automatiza o

ciclo de Comando e Controle em operações, inde-

pendente de escalão, sendo empregado prioritaria-

mente nos Centros de Comando e Controle e Postos

de Comando.

Page 49: Artigo a Inteligência Militar No Exército

48 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

A pesquisa proposta neste trabalho trata sobre a in-

tegração do terreno, condições meteorológicas e

inimigo no estudo de situação de operações milita-

res, buscando identificar as potencialidades agrega-

das ao processo por intermédio do programa C2 em

Combate.

2 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DO TER-

RENO, CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS E

INIMIGO

Poucos conflitos na História moderna podem ser

caracterizados como pontos de inflexão na evolução

da Doutrina Militar. A Guerra do Golfo de 1991,

depois rebatizada como 1ª Guerra do Golfo, foi, em

muitos aspectos, um destes conflitos históricos.

Maior campanha “convencional” desde a 2ª Guerra

Mundial, a Guerra do Golfo serviu para aplicação de

um sem número de aprimoramentos doutrinários que

se encontravam em desenvolvimento nas Forças

Armadas estadunidenses desde a década de 1980.

Além de campo de testes para novos sistemas de

armas, a rápida campanha serviu para validar novas

concepções doutrinárias e iniciar o processo de “di-

gitalização do campo de batalha”. O trânsito de da-

dos aumentou exponencialmente em relação aos

conflitos anteriores e novos processos metodológi-

cos buscaram integrar esta grande quantidade de

informações e apresentá-la de maneira a subsidiar as

decisões do nível tático ao estratégico.

No Brasil, o primeiro manual que refletiu os ensi-

namentos adquiridos durante a Guerra do Golfo foi

publicado, em 1996, pela Portaria nº 126, do Estado-

Maior do Exército (EME), de 5 de dezembro. Trata-

se da 1ª Edição da Instrução Provisória (IP) 100-1 –

Bases para a Modernização da Doutrina de Emprego

da Força Terrestre (Doutrina Delta). O novo manual

abordava um campo de batalha moderno que de-

mandava um sistema de Comando e Controle (C2)

“calcado em modernos e eficientes sistemas de co-

municações e de inteligência, na informatização, no

sensoriamento e na guerra eletrônica” (BRASIL,

1996, p. 1-3). A IP serviria de base para a aprovação

da 3ª Edição do Manual de Campanha (C) 100-5 –

Operações, que foi definitivamente incorporado à

Doutrina Militar Brasileira (DMB) no ano seguinte.

O Manual de Operações apresentou um arcabouço

completamente novo, que serviria de base para todos

os demais manuais que abordavam, direta ou indire-

tamente, operações militares em campanha. Ele in-

troduziu oficialmente o conceito de “sistemas opera-

cionais”, e “sincronização do combate”. O texto a

seguir ilustra perfeitamente a nova concepção dou-

trinária, que servirá de base para outros estudos nes-

te trabalho.

Os elementos de combate, apoio ao com-

bate e logísticos interagem, integrando

sistemas operacionais, que permitem ao

comandante coordenar o emprego opor-

tuno e sincronizado de seus meios no

tempo, no espaço e na finalidade. Os sis-

temas operacionais são: comando e con-

trole; inteligência; manobra; apoio de fo-

go; defesa antiaérea; mobilidade, con-

tramobilidade e proteção; e logístico.

(BRASIL, 1997, p. 2-13).

Como se pode observar no conceito, a integração

dos sistemas operacionais passou a ser um objetivo

permanente com o intuito de permitir ao Comandan-

te realizar o emprego sincronizado dos seus meios

no tempo e no espaço.

Dois sistemas operacionais serão mais relevantes

para o desenvolvimento deste trabalho: o Comando e

Controle (C2) e o de Inteligência. O mesmo manual

afirma que o C2 “permite aos comandantes de todos

Page 50: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 49

os escalões visualizarem o campo de batalha, apre-

ender a situação e dirigir as ações militares necessá-

rias à vitória” (BRASIL, 1997, p. 2-13). Mais à fren-

te, também afirma que a Inteligência deve “fornecer

uma visão precisa do campo de batalha”, estando

esse sistema “intimamente ligado ao de comando e

controle”. Esta ligação poderá ser observada em di-

versos outros manuais doutrinários, tanto da área de

C2, como da área de Inteligência.

2.1 FUNDAMENTOS DO PITCI

Após a publicação do novo C 100-5, diversos no-

vos manuais passaram a ser revisados e republicados

em novas edições, com os conceitos básicos do Ma-

nual de Operações e da Doutrina Delta inseridos em

seu bojo. O manual que define o processo chamado

de “Estudo de Situação” teve uma nova edição pu-

blicada em 2003, pela Portaria do EME de 8 de se-

tembro. O C 101-5 – Estado-Maior e Ordens – 1º e

2º Volumes, 2ª Edição, revogou a versão anterior,

que estava vigente desde 1971, alterando uma dou-

trina em vigor há mais de três décadas. O novo ma-

nual inseriu, pela primeira vez em um documento

doutrinário do EB, o termo PITCI, apesar de o acrô-

nimo já vir sendo empregado em diversas IP em

elaboração. Com o C 101-5, o PITCI passou a ser

fase obrigatória do planejamento operacional em

todos os níveis, do tático ao estratégico. No entanto,

o detalhamento da metodologia para realização do

PITCI não foi inserida no novo manual, tendo esta

tarefa sido delegada para o conjunto de manuais que

regulam a Atividade de Inteligência Militar no EB.

Antes mesmo da aprovação do novo C 101-5, e

dois anos após a aprovação do C 100-5, foi publica-

da a IP 30-1 – A Atividade de Inteligência Militar –

2ª Parte: A Inteligência nas Operações Militares.

Aprovada pela Portaria nº 186 do EME, reservada,

de 6 de dezembro de 1999, esta IP apresenta em seu

primeiro capítulo sua finalidade principal, que é a-

presentada a seguir.

Estas Instruções Provisórias (IP) propor-

cionam uma orientação aos comandantes,

oficiais de inteligência (Of Intlg), assim

como ao Estado-Maior (EM) de todas as

Armas, Quadros e Serviços de todos esca-

lões de comando. Referem-se aos proce-

dimentos a serem adotados para a execu-

ção da Atividade de Inteligência, voltada

para o emprego da Força Terrestre em

Operações Militares, sejam de Defesa Ex-

terna (Def Ext), de Defesa Interna (Def

Int) ou de Manutenção da Paz (Mnt Paz).

(BRASIL, 1999, p. 1-1)

A abrangência da sua finalidade demonstra que o

manual buscou ser, efetivamente, o documento bási-

co de consulta para a realização da Atividade de

Inteligência em qualquer tipo de operação, em qual-

quer escalão de execução. No seu bojo, são apresen-

tados todos os principais procedimentos a serem

seguidos pelos profissionais de Inteligência visando

a assessorar os Comandantes nos mais diversos ní-

veis. A importância do PITCI pode ser observada

pelo simples fato de que 5 (cinco) dos 11 (onze)

capítulos são dedicados a este assunto. No capítulo

4, a definição de PITCI é apresentada.

O Processo de Integração Terreno, Con-

dições Meteorológicas e Inimigo (PITCI)

pode ser definido como um processo cí-

clico de caráter gráfico, que permite, me-

diante a análise integrada, a obtenção

das possibilidades do inimigo e de seus

possíveis objetivos e cooperar na monta-

gem das linhas de ação. Auxilia, ainda, a

análise das linhas de ação opostas, apóia

a decisão do comandante, facilita a dire-

Page 51: Artigo a Inteligência Militar No Exército

50 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

ção do esforço de busca e permite o a-

companhamento da evolução do combate

(estudo de situação continuado). (BRA-

SIL, 1999, p. 4-1)

Observa-se, da definição, alguns aspectos

importantes. Os primeiros termos do texto apontam

para a retroalimentação do processo, ao mencionar

que ele é cíclico e, portanto, contínuo. A seguir, um

elemento chave na execução do PITCI é a forma de

sua apresentação, ressaltada, desde a definição, pelo

seu “caráter gráfico”. Este aspecto do PITCI pode

ser claramente observado nos procedimentos meto-

dológicos adotados em cada uma de suas fases.

Segundo a IP 30-1, o PITCI está subdivido

em quatro fases distintas, a saber:

- 1ª Fase: Determinação e avaliação da área de operações;

- 2ª Fase: Análise do Terreno e das Condi-

ções Meteorológicas;

- 3ª Fase: Avaliação do Inimigo; e

- 4ª Fase: Integração.

3 PROGRAMA “C2 EM COMBATE”

O Programa “C2 em Combate” teve sua origem na

Portaria nº 11 do EME, de 8 de março de 2002. Esta

Portaria estabeleceu um Grupo de Trabalho (GT)

que teria como principal tarefa a de apresentar uma

proposta de modelo conceitual para o Sistema de

Comando e Controle da Força Terrestre (SC2FTer),

nos níveis Brigada (Bda) e Divisão de Exército

(DE). O GT buscou integrar representantes do pró-

prio EME, como Órgão de Direção Geral (ODG) do

EB, com integrantes da área de Ensino, Ciência e

Tecnologia, Operações e Logística, de acordo com a

estrutura vigente à época. Em cerca de cinco meses,

o GT apresentou uma proposta que, segundo o seu

relatório final, buscou inserir a Força Terrestre no

processo de “digitalização do campo de batalha”,

vigente desde a década de 1990.

O modelo apresentado era audacioso, na medida

em que buscava modernizar um sistema vigente por

décadas, inserindo definitivamente o tráfego de da-

dos nas redes de comunicações táticas. Sobre a in-

fraestrutura de hardware criada para permitir o esta-

belecimento destas ligações, o modelo apresentava a

necessidade de criação de um software de Comando

de Controle (C2) nacional. No relatório final, foi

ressaltado que a “dependência externa em termos de

C2, especialmente em software de Apoio à Decisão,

é indesejável e inadequada” (BRASIL, 2003, an.

H.). Os motivos para o desenvolvimento de uma

solução autóctone são amplamente conhecidos. A

área de C2 permeia todas as operações militares,

impactando diretamente todos os “sistemas opera-

cionais” empregados no campo de batalha. Os custos

para aquisição e manutenção de sistemas “de prate-

leira” podem se tornar proibitivos, além de não per-

mitir a customização que, por vezes, a evolução da

Doutrina Militar pode exigir. Por fim, a sensibilida-

de dos dados transmitidos pelos meios de C2 exige

uma garantia de segurança que pode não ser assegu-

rada por empresas com sede em outros países.

Desde sua concepção em 2002, até os dias atuais,

foram mais de dez anos de desenvolvimento que

geraram cinco versões principais do programa. Sua

versão atual, difundida em 29 de outubro de 2012, é

a 5.0.3. O Portal de Comando e Controle é o sítio

corporativo na Intranet do Exército Brasileiro res-

ponsável por divulgar informações sobre a família

de aplicativos de Comando e Controle. Dentro do

seu conteúdo, são apresentadas definições relevan-

tes, como a transcrita a seguir.

Page 52: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 51

O Programa C2 em Combate é a ferra-

menta de software para apoiar uma Bri-

gada em operações, no contexto do Sis-

tema de Comando e Controle da Força

Terrestre (SC2FTer). Como um software

de Comando e Controle (C2), destina-se à

condução de operações militares e possi-

bilita a integração das informações dos

Sistemas Operacionais de Combate: Ma-

nobra, Inteligência, Apoio de Fogo, Co-

mando e Controle, Defesa Antiaérea, Lo-

gística e Mobilidade, Contramobilidade e

Proteção. (BRASIL, 2013)

Observa-se, da definição, o amplo escopo de pos-

sibilidades atribuído ao Programa C2 em Combate.

Mais do que um sistema de comunicações, permitin-

do a ligação entre os elementos de combate, apoio

ao combate e logísticos, a ferramenta tem como ob-

jetivo a integração de informações utilizadas pelos

sete sistemas operacionais preconizados no Manual

de Operações. Esta possibilidade de integração abre

um amplo leque de possibilidades que podem ser

aproveitadas particularmente na Atividade de Inteli-

gência Militar.

4 VISÃO TÉCNCIA E OPERACIONAL

4.1 VISÃO DO ANALISTA DE INTELIGÊNCIA

O estudo desenvolvido nesta seção teve por objeti-

vo verificar o grau de conhecimento, por parte dos

analistas de inteligência, do programa C2 Cmb e,

principalmente, das possibilidades e limitações na

realização do PITCI. Assim, com enfoque eminen-

temente objetivo, foi estruturada uma entrevista com

perguntas diretas e claras sobre o assunto, contando

com a colaboração de oficiais superiores com Curso

de Comando e Estado-Maior (CCEM).

Objetivou-se saber se o militar, após concluir o

CCEM, foi designado para compor o Estado-Maior

(EM) de uma Grande Unidade (GU) e qual a função

ou funções que desempenhou, tendo como resultado

os gráficos das figuras 1 e 2 a seguir, em que quase

50% dos entrevistados foi designado para integrar o

EM de uma GU na função de oficial de inteligência,

sendo a maior parte em Comando de Brigada.

Fig 1 – Função desempenhada - Fonte: O autor

Fig 2 – Grande Comando (%) - Fonte: O autor

Na sequência, intencionou-se saber se o oficial de

EM tem conhecimento do PITCI e se empregou, ao

longo da função, esse processo no planejamento das

manobras, obtendo como resultado o gráfico da

figura 3. Entretanto, quando se questiona sobre o

emprego do processo no planejamento das

manobras, apenas 19% afirma ter empregado com

certa frequência, como mostra o gráfico da figura 4.

Page 53: Artigo a Inteligência Militar No Exército

52 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

Inferindo-se que, apesar do assessor de EM ter co-

nhecimento do PITCI, o seu emprego ainda é incipi-

ente.

Fig 3 – Conhece o PITCI - Fonte: O autor

Na sequência, questionou-se sobre os meios utili-

zados para a obtenção de dados para a 2ª fase do

PITCI, cujas respostas estão representadas nos gráfi-

cos das figuras 5 e 6.

Fig 5 – Estudo do terreno - Fonte: O autor

Fig 6 – Estudo das condições meteorológicas - Fonte: O autor

Observa-se que, para o estudo do terreno, a carta

topográfica ainda é o meio mais utilizado nessa fase,

representando mais de 80% das referências. Para o

estudo das condições meteorológicas, a internet e as

informações obtidas no DAMEPLAN ainda são as

fontes para obtenção de dados climáticos.

No questionamento sobre a 3ª fase do PITCI, cuja

intenção era saber qual o meio utilizado pelo asses-

sor de EM para realizar o estudo do inimigo, foi ob-

servado que as informações são buscadas principal-

mente no DAMEPLAN.

Fig 7 – Estudo do inimigo - Fonte: O autor

Isso, muito provavelmente, é reflexo da influência

da metodologia utilizada nos bancos escolares e a

falta de adestramento dos oficiais de inteligência em

buscar dados do inimigo no terreno, em fotografias,

imagens de satélite, ou outras fontes mais situacio-

nais.

Concluindo a primeira parte dos questionamentos,

buscou-se saber por qual meio os dados foram

transmitidos para o escalão superior e subordinado,

obtendo-se como resposta, a carta topográfica como

sendo a forma mais utilizada para a transmissão das

informações, como ilustra o gráfico da figura 8.

Page 54: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 53

Fig 8 – Transmissão das informações - Fonte: O autor

Pode se concluir, parcialmente, que apesar dos ofi-

ciais de EM terem conhecimento do PITCI, seu em-

prego ainda não está arraigado na cultura do assessor

e, mesmo com meios mais modernos, a carta topo-

gráfica e o DAMEPLAN são os mais utilizados para

obtenção de dados, muito provavelmente, pela influ-

ência dos bancos escolares.

Na segunda parte do questionário ao qual os analis-

tas foram submetidos, a intenção, era avaliar o grau

de conhecimento do programa C2 Cmb e a sua utili-

zação no PTICI, tendo 100% dos entrevistados afir-

mado conhecer o programa, sendo que apenas 19%

afirma conhecer razoavelmente mal. Pode-se infe-

rir, portanto, que não há razão para não utilização do

programa no planejamento de manobras militares.

Num segundo questionamento, a grande maioria

afirmou que não sabe operar o sistema, tendo conhe-

cimento apenas na condição de assessor de EM, con-

forme representado no gráfico da figura 10.

Fig 9 – Conhece o C2 em Combate - Fonte: O autor

Fig 10 – Conhecimento do C2 - Fonte: O autor

Na sequência, intencionou-se saber se a ferramenta

era utilizada, principalmente na busca de dados de

inteligência. Como resultado, obteve-se um elevado

percentual de oficiais que empregaram poucas ou

nenhuma vez o C2 em planejamento de manobras e,

ainda, um percentual baixo de oficiais de

inteligência, conforme os gráficos das figuras 11 e

12.

Fig 11 – Utiliza o C2 em Combate - Fonte: O autor

Fig 12 – Utilizou o C2 em Combate - Fonte: O autor

Page 55: Artigo a Inteligência Militar No Exército

54 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

Passou-se, então, a questionar sobre o emprego do

programa C2 Cmb no PITCI. Como resultado da 2ª

fase, obteve-se os gráficos das figuras 13 (estudo do

terreno) e 14 (estudo das condições meteorológicas).

Fig 13 – Estudo do Terreno - Fonte: O autor

Fig 14 – Estudo das condições climáticas - Fonte: O autor

De posse desses percentuais, pode-se inferir que a

grande maioria dos assessores não tem o hábito de

empregar o programa C2 Cmb nessa fase e, muito

provavelmente, não tem conhecimento das possibili-

dades do programa.

Concluindo com a 3ª fase do PITCI, foi levantado

se os assessores utilizaram o programa para realizar

o estudo do inimigo e os valores revelam que o as-

sessor de EM pouco utiliza-se desse programa para

realizar o estudo. Foram também formulados questi-

onamentos sobre a opinião do analista do emprego

do programa C2 Cmb no PITCI e 41% das respostas

afirmam como sendo necessário o emprego do pro-

grama no PITCI.

Fig 15 – Estudo do inimigo - Fonte: O autor

Fig 16 – C2 em Combate no PITCI - Fonte: O autor

Finalizando os questionamentos, foi buscado obter

do analista a sua opinião sobre ser ou não vantajoso

a utilização do programa C2 Cmb no PITCI e,

mesmo com o pouco conhecimento e emprego do

programa nesse processo, a grande maioria dos

entrevistados julgou que é vantajoso, conforme nos

revela os dados constantes no gráfico da figura 17.

Fig 17 – C2 em Combate no PITCI - Fonte: O autor

Finalizou-se o questionário deixando espaço ao en-

trevistado para opinar sobre o programa C2 em

Page 56: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 55

Cmb, obtendo-se algumas informações importantes,

a saber:

Há uma grande dificuldade em se obter cartas

militares atualizadas em formato digital para

carregar o sistema, e a cartas existentes, na sua

maioria, não dispõe de recursos 3D e são pesadas,

gerando travamento do sistema;

Ferramenta muito importante, mas que

necessita aprimoramento para se tornar mais útil,

principalmente na inserção dos dados de forma

mais automatizada;

Ferramenta vantajosa, porém seu manuseio

pode ser mais facilitado se as opções de inserção

de dados não fossem eminentemente manuais.

4.2 VISÃO DO DESENVOLVEDOR DO C2

CMB

Esta seção foi elaborada a partir da entrevista reali-

zada com a equipe de desenvolvimento do C2 Cmb,

responsável pela manutenção evolutiva e corretiva

do sistema, abordando as seguintes áreas que envol-

vem o C2 Cmb: a Engenharia de Sistemas, o Banco

de Dados, o Sistema de Apoio à Decisão e o Sistema

de Informações Geográficas.

O projeto C2 Cmb faz parte do portfólio do Centro

de Desenvolvimento de Sistemas do Exército Brasi-

leiro e conta com uma equipe própria de desenvol-

vimento. Atualmente, o grupo de desenvolvimento

possui doze militares dedicados ao projeto, sendo

um major, quatro capitães e dois tenentes e cinco

sargentos. Quando a necessidade exige, a equipe é

reforçada por técnicos civis contratados e conta ain-

da, com especialistas de outras organizações milita-

res da Força Terrestre.

O C2 Cmb é uma ferramenta voltada primariamen-

te para a condução de operações militares, de qual-

quer natureza, sendo que os principais usuários são o

Comando de Operações Terrestres (CO Ter) e os

Comandos Militares de Área. No entanto, uma de

suas características é a facilidade de adaptação e

reutilização, cabendo destacar, por exemplo, o seu

emprego como sistema de tratamento de incidentes

nos V Jogos Mundiais Militares, em 2011.

Os requisitos de evolução do C2 Cmb visam aten-

der prioritariamente a necessidade do SC2FTer e,

quando possível, as solicitações de outros usuários.

Todos os requisitos identificados sofrem uma análise

e são inseridos com ordem de prioridade no registro

de requisitos de software do projeto. A ordem de

prioridade é revista constantemente e pode ser alte-

rada conforme os seguintes fatores: dependência,

oportunidade, complexidade e valor a ser agregado

ao usuário.

A gerência de configuração do C2 Cmb adota uma

metodologia rígida para controlar as versões do

software, as mudanças realizadas (alterações do có-

digo, as bibliotecas utilizadas e os scripts de iniciali-

zação) e a auditoria das configurações. Tal rigor no

processo de desenvolvimento garante o registro do

que foi alterado, a causa da mudança e quando ocor-

reu, quem fez a alteração e se é possível reproduzir

tal mudança.

O gerenciamento da qualidade do C2 Cmb é reali-

zado por meio da realização de testes antes da entre-

ga da versão de produção; de testes de compilação,

testes de stress, testes descentralizados de funciona-

lidades individuais e testes com várias máquinas e

usuários. O objetivo das avaliações é assegurar que o

Page 57: Artigo a Inteligência Militar No Exército

56 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

produto atenda ou supere as expectativas dos usuá-

rios.

A equipe adota a metodologia de desenvolvimento

software ágil chamada SCRUM. Tal metodologia é

baseada em ciclos com período de tempo definido,

chamados sprints, onde se trabalha para alcançar

objetivos bem definidos. Estes objetivos são repre-

sentados em uma lista de itens a realizar e é constan-

temente atualizada. A maior vantagem de tal meto-

dologia é a valorização da qualidade do produto com

a realização de testes contínuos.

O desenvolvimento do Programa C2 tem como

uma de suas premissas básicas o amplo uso de soft-

ware livre. Dentre as principais tecnologias envolvi-

das encontramos o C++ (linguagem de programa-

ção); QT 4.X (plataforma para desenvolvimento em

liguagem C++); o SQLite (biblioteca que implemen-

ta um banco de dados); o Openscenegraph (biblio-

teca para o desenvolvimento de aplicações gráficas

de elevado desempenho); e o Openssl (biblioteca de

funções básicas de criptografia).

O banco de dados adotado no C2 Cmb é o SQLite.

Este banco de dados é recomendado onde a simpli-

cidade da administração, implementação e manuten-

ção são mais importantes que incontáveis recursos

de programas mais complexos. Os “Dados Médios

de Planejamento” (DAMEPLAN) representam in-

sumo fundamental para o trabalho do analista de

inteligência no PITCI, sendo que embora o SQLite

suporte o carregamento da base de dados com dados

do DAMEPLAN, para utilização efetiva dos dados é

necessário desenvolver um modelo de integração

destas informações com o modelo de Comando e

Controle.

O C2 Cmb implementa um sistema que permite a

análise de um grande número de variáveis para que

seja possível o posicionamento a uma determinada

questão. O Sistema de Apoio a Decisão do C2 Cmb

conta com funcionalidades relacionadas com o apoio

à decisão, como conectividade, posicionamento (tro-

pas, instalações e medidas de coordenação e contro-

le, amigas e inimigas, rastreamento em tempo real),

inventário de material e pessoal, planejamento de

operações, ordem de operações, visualização 3D

(perfil do terreno) e visualização de formas geográ-

ficas como hidrografia e cotas. O C2 Cmb não pos-

sui um SAD específico para o analista de inteligên-

cia utilizar no PITCI, cabendo ressaltar que o siste-

ma ainda não está automatizado, no sentido de ma-

nipular os dados e propor linhas de ação para deter-

minadas situações ao usuário.

O C2 Cmb conta com subsistema que permite e fa-

cilita a análise, gestão ou representação do espaço e

dos fenômenos que nele ocorrem. O SIG utilizado

no C2 Cmb é o ATLANTE, que foi desenvolvido

pelo CIGEx com base no Consórcio Geoespacial

Aberto, que encoraja o desenvolvimento e a imple-

mentação de padrões para conteúdo e serviços de

informações geográficas. Atualmente, os padrões

adotados são o WMS (Serviço de mapa pela Inter-

net), GeoTiff, JPEG georreferenciado e shapefile.

O SIG do C2 Cmb já conta com recursos importan-

tes para o analista de inteligência durante o PITCI

como, por exemplo, a visualização dos perfis do

terreno, a partir do modelo 3D, na geração do calco

da análise altimétrica do relevo, a sobreposição de

camadas com informações georeferenciadas na ela-

boração do calco de restrição de movimentos e, ain-

Page 58: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 57

da, exibir informações meteorológicas e astronômi-

cas (luminosidade) a partir de fontes externas.

5 ESTUDO DE CASO

Para constatar as alegações dos usuários do pro-

grama sobre as possibilidades e limitações do em-

prego do C2 Cmb no PITCI, foi organizado um caso

esquemático de forma a observar e estudar o funcio-

namento do programa.

O caso foi montado de forma a seguir, criteriosa-

mente, todas as fases do PITCI, inserindo os dados

necessários a facilitar a compreensão, por parte do

decisor, das interferências do terreno, condições

meteorológicas e inimigo, integrando-as ao final do

estudo.

5.1 PREPARAÇAO DO PROGRAMA

Nesta fase preparatória, foi instalado o programa

C2 em Cmb em um laptop HP 630, com processador

Intel Core i3, adquirido pelo Comando da 3ª Divisão

de Exército com a finalidade de ser utilizado no

Centro de Operações daquele Grande Comando pelo

chefe da 4ª Seção. Iguais equipamentos foram distri-

buídos, também, para os demais integrantes do EM.

Após a instalação, foram carregadas cartas digitali-

zadas para se criar um cenário de operações. Uma

das grandes dificuldades é encontrar cartas com di-

mensão de arquivo compatível com o programa,

bem como o formato.

As cartas disponíveis não são atuais, e os dados e-

xistentes sobre estradas, cidades, obras de arte, etc,

não são confiáveis. Além disso, são pouquíssimas as

cartas disponíveis em cenário 3D. O computador,

por consequência, deve proporcionar suporte a Sha-

der (instrução da placa de vídeo que facilita a confi-

guração de luz e sombras para imagem 3D) para que

os cenários 3D apresentem nitidez e detalhamento

adequados. Assim, os recursos que o programa dis-

põe nesse cenário não podem ser utilizados.

Para esse estudo de caso foram carregadas 08 (oito)

cartas da Região Sul do País, na escala 1:50.000

(ITAPEVI –RS; CACEQUI –RS; ROSARIO DO

SUL –RS; ROSÁRIO DO SUL N – RS; AZEVEDO

SODRÉ –RS; GUARA –RS; SAICA – RS E UMBU

–RS). Quando se tentou carregar mais cartas, o pro-

grama apresentou seguido travamento no equipa-

mento.

Inicialmente a manobra montada foi uma “Marcha

para o Combate de uma Divisão de Exército”. Para

uma melhor visualização, ao final de missão, foi

preparado um ataque coordenado de uma Brigada de

Cavalaria Blindada com o objetivo de isolar uma

localidade.

5.2 MONTAGEM DO CASO ESQUEMÁTICO

Para a montagem do caso esquemático, foi seguido

o que prevê a IP 30-1 – A ATIVIDADE DE INTE-

LIGÊNCIA MILITAR, 2ª PARTE – A INTELI-

GÊNCIA NAS OPERAÇÕES MILITARES, que a

partir do seu Capitulo 4 descreve o Processo de Inte-

gração Terreno, Condições Meteorológicas e Inimi-

go – PITCI.

No intuito de realizar uma análise integrada para

montar uma linha de ação, o processo foi estruturado

de forma a apresentar um caráter gráfico para apoiar

a decisão do comandante.

Deste modo, forão apresentados extratos de cartas

com a representação dos dados inseridos no progra-

ma, de acordo com cada fase do PITCI.

5.2.1 Determinação e avaliação da área de opera-

ções (1ª Fase)

Para se estabelecer o espaço geográfico que será

utilizado para o planejamento da manobra, foram

Page 59: Artigo a Inteligência Militar No Exército

58 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

observadas a Zona de Ação e a Área de Interesse. À

soma desses espaços dá-se o nome de Área de Ope-

rações.

Ao delimitar a área de Operações do caso esque-

mático, encontrou-se a primeira dificuldade do pro-

grama: a resolução da carta x espaço na tela. Quando

se trabalha com detalhes como acidentes do terreno

que sejam facilmente identificáveis para servirem de

limitadores de Z Aç ou como controladores do mo-

vimento, esses pontos devem, também, ser clara-

mente identificados no planejamento realizado. Com

o espaço de tela de um computador, esses detalhes

não foram vistos.

Quando se tentou entrar nesses detalhes do terreno,

foi necessário aumentar as definições da carta utili-

zando-se da ferramenta zoom. Porém, isto dificultou

a realização do traçado dos limites e linhas de con-

trole, já que a ferramenta restringe o traçado de li-

nhas fora da área de trabalho sem ter que modificar

o posicionamento da mesma, seja pela habilidade do

operador em manusear a ferramenta “NAVEGA-

ÇÃO” ou, parando o traçado para modificar o posi-

cionamento da carta com a ferramenta “PAN”.

Assim, foi delimitada a Zona de Ação da 5ª DE

conforme figura 18.

Fig 18 - Delimitação da Zona de Ação da 5ª DE

Fonte: O autor – Estudo de Caso

Na sequência, foi estabelecida a área de interesse

da 5ª DE, conforme figura 19. Para poder desenhar a

área de interesse, foi utilizada a ferramenta “DESE-

NHAR POLÍGONO”, colocando uma máscara com

transparência suficiente para visualização sem, con-

tudo, esconder os dados do terreno existentes na

carta.

Fig 19 - Delimitação da Area de Interesse da 5ª DE

Fonte: O autor – Estudo de Caso

E concluindo, como já foi dito, foi necessário au-

mentar o zoom para visualizar detalhes do terreno.

Por isso, foi estabelecido uma área menor de traba-

lho na carta, com a manobra de uma Brigada de Ca-

valaria Blindada realizando um Ataque Coordenado.

Para isso, novamente utilizando a ferramenta “zo-

om”, foi destacado em qual porção do terreno seria

realizada essa manobra, conforme figura 20.

Fig 20 - Delimitação da Zona de Ação da 5ª Bda C Bld

Fonte: O autor – Estudo de Caso

Delimitacão da área de atuação

da 5ª Bda C Bld

Page 60: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 59

5.2.2 - Estudo do terreno e das condições meteo-

rológicas (2ª Fase)

5.2.2.1 Análise dos aspectos gerais do terreno

Para essa análise, o detalhamento é realizado em

sete etapas, de forma a determinar os aspectos gerais

e militares do terreno que interferem na operação, de

acordo com o escalão considerado, nesse caso, da 5ª

Bda C Bld.

Na primeira etapa foram levantados os dados co-

nhecidos na documentação existente. Uma juntada

de cartas topográficas, fotografias aéreas, imagens

de satélite, reconhecimentos no terreno, é fundamen-

tal para concluir essa etapa.

Na Etapa Nr 2, é elaborado um calco dos aspectos

do terreno.

No estudo dos aspectos gerais do terreno, busca-se

interpretar os dados topográficos existentes como a

vegetação, hidrografia, as elevações existentes e sua

declividade, a natureza do solo, as obras de arte e as

alterações no terreno que impactem a mobilidade.

Assim, levantam-se os terrenos impeditivos, restri-

tivos e adequados para o movimento de tropas, de

acordo com a natureza das mesmas.

A junção dessas duas etapas nos permitiu chegar a

um calco de restrição de movimento em caso de

tempo bom, conforme figura 21.

Fig 21 - Calco de restrição de movimento

Fonte: O autor – Estudo de Caso

A dificuldade encontrada na composição desse cal-

co foi ter que desenhar os polígonos de restrição

manualmente, pois as cartas não são inteligentes e o

programa não consegue identificar, automaticamen-

te, se o desenho de uma mata densa é impeditivo ou

restritivo ao deslocamento de tropas, principalmente

motorizadas, mecanizadas ou blindadas.

Além disso, a carência de cartas em 3D não permi-

te identificar qual a declividade do terreno e sua in-

terferência no deslocamento de tropas. Essas ferra-

mentas automáticas, se disponibilizadas, poderiam

aumentar a eficácia do programa nessas etapas estu-

dadas.

5.2.2.2 Análise das condições meteorológicas

Essa é a etapa 3 da 2ª fase do PITCI. Utilizando a

ferramenta condições meteorológicas, pode-se le-

vantar o prognóstico das condições meteorológicas

para a área de operações para o período considerado.

Os dados dessa ferramenta são obtidos através de

uma busca na internet.

No caso esquemático, foi digitada a localidade de

Rosário do Sul e obtido a previsão para o período,

conforme figura 22, mas para efeito de estudos, foi

considerada a probabilidade de chuvas, o que tem

interferência para a manobra.

Fig 22 - Previsão do tempo para a Região

Fonte: O autor – Estudo de Caso

Page 61: Artigo a Inteligência Militar No Exército

60 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

Assim, depois de uma análise das condições climá-

ticas e sua interferência no terreno, foi montado um

calco de restrição de movimento em caso de chuvas,

conforme figura 23.

Fig 23 - Calco de restrição de movimento em caso de chuvas

Fonte: O autor – Estudo de Caso

A dificuldade nessa etapa é que o link de acesso ao

banco de dados de clima direciona para um site do

CPTEC/INPE, cujos dados são apresentados para 3

dias, e não são discriminados por hora do dia. As-

sim, fica impreciso usar esses dados como subsídio

para o planejamento do emprego de tropas.

5.2.2.3 Integração do terreno com as condições me-

teorológicas.

Na etapa 4, depois de confeccionados os calços das

etapas anteriores, os mesmos foram superpostos, já

que o programa permite a seleção de quais cenários

serão visualizados. Dessa forma, chegou-se ao calco

de restrição de movimento, conforme figura 24.

Fig 24 - Calco de restrição integrado terreno e clima

Fonte: O autor – Estudo de Caso

5.2.2.4 Identificação dos corredores de mobilidade e

das vias de acesso.

Com o calco de restrição de movimento pronto, já

se torna possível identificar os corredores de mobili-

dade e as vias de acesso que afetam ou não o movi-

mento das tropas.

Com base no DAMEPLAN, foram medidos os es-

paços no terreno com a ferramenta régua para identi-

ficar a capacidade de cada corredor de mobilidade,

conforme exemplo da figura 25.

O espaço existente nos terrenos adequados devem

ser adequados à área necessária para o movimento

de tropas blindadas, que irão atuar nessa faixa de

terreno.

A dificuldade encontrada reside no tempo necessá-

rio para medir cada espaço existente.

Fig 25 - Medição do terreno para avaliação do espa-

ço para manobra - Fonte: O autor – Estudo de Caso

Antes de se desenhar os corredores de mobilidade,

foram levantados os acidentes capitais que influen-

ciam a manobra planejada. O resultado é representa-

do na figura 26.

Ferramenta régua

em uso

Page 62: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 61

Fig 26 - Acidentes capitais

Fonte: O autor – Estudo de Caso

Quando se tentou desenhar os corredores de mobi-

lidade, deparou-se com uma dificuldade que é a au-

sência de uma ferramenta que desenhasse conforme

a padronização de manual. Um subterfúgio para isso

foi colocar a letra “I” como separador de subunida-

de, conforme apresentado na figura 27.

Fig 27 - Corredores de Mobilidade

Fonte: O autor – Estudo de Caso

Pelo mesmo motivo, as vias de acesso também fo-

ram simbolizadas de forma diferente do que prescre-

ve os manuais, por essa limitação do programa. Foi

utilizado a ferramenta “DESENHAR CORREDOR”

para representação gráfica, o que resultou a figura

28.

Fig 28 - Vias de Acesso

Fonte: O autor – Estudo de Caso

5.2.2.5 Análise do terreno

Com base nas vias de acesso levantadas, se faz

uma minuciosa análise tanto para o lado do amigo

quanto do inimigo de forma a se levantar aspectos

como: Observação e campos de tiro, cobertas e abri-

gos, obstáculos, acidentes capitais, adequação do

espaço para manobra, facilidade de movimento e

outros aspectos relevantes.

Cada um desses aspectos pode acrescentar um as-

pecto gráfico no calco de integração, mas que deve

ser realizado em cada via de acesso. Ao final, uma

comparação de vias de acesso deve ser realizada.

As cartas em 3D apresentam melhores recursos pa-

ra a obtenção desses dados, já que permitem dimen-

sionar o campo de batalha virtualmente, inclusive

com a visualização do que é ou não visto pelo ob-

servador em qualquer ponto no terreno.

Por não dispormos de cartas desse tipo, não foi

possível montar um gráfico adequado para essa fase

e, muito menos, efetuar a comparação das vias de

acesso.

5.2.2.6 Efeitos do terreno sobre as operações mili-

tares.

Após toda a produção gráfica do terreno, o analista

de inteligência deve concluir sobre os efeitos para as

operações, devendo deduzir qual é mais favorável

para o tipo de operação que será desencadeada.

Isso poderá, ao final dos trabalhos, ser apresentado,

também, de forma gráfica, para o decisor, mas deve-

rá, também, ser convencionado pelo operador do

programa, já que o mesmo não possui uma ferra-

menta adequada para otimizar esse processo.

Page 63: Artigo a Inteligência Militar No Exército

62 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

5.2.3 - Estudo do Inimigo (3ª Fase)

O estudo do inimigo com o emprego do programa

depende, basicamente, da habilidade do operador em

lançar os dados corretamente no sistema, pois já foi

realizado o processo de estudo do terreno e condi-

ções meteorológicas e seus impactos para ambos os

contendores.

Assim, cabe apenas localizar, com base nos dados

levantados pelo sistema de inteligência existente,

seja das fontes humanas, de sinais ou de imagens, o

posicionamento das tropas inimigas.

Após isso, e possível visualizar as principais hipó-

teses que o inimigo poderá desencadear.

Para se visualizar a representação no Programa C2

Cmb o dispositivo, valor, localização e composição

das tropas inimigas, foi apresentada a figura 44.

Fig 29 - Situação do Inimigo

Fonte: O autor – Estudo de Caso

Ao final, apresentar-se-ia um calco completo de si-

tuação do inimigo referente a suas unidades de ma-

nobra, apoio de fogo e logística, de forma a subsidiar

o decisor quanto às operações que poderão ser de-

sencadeadas e sua interferência na manobra.

5.2.4 4ª Fase - Integração

A integração é a consolidação de todos os estudos

realizados pelo oficial de inteligência de forma a

apresentar ao comandante a “linha de ação mais

provável do inimigo”.

A metodologia empregada permite o acompanha-

mento evolutivo e situacional no inimigo e poderá

ser representada em forma de uma matriz das linhas

de ação.

Pode ser montado, ainda, uma sequência de calços

de eventos com o posicionamento atual e futuro das

tropas inimigas, utilizando-se do mesmo processo

braçal.

O lançamento de dados no programa pelos elemen-

tos de 1º escalão sobre o posicionamento das tropas

inimigas, utilizando-se de transmissão por radiofre-

quência, poderá agilizar o processo decisório dos

escalões enquadrantes, porém, os equipamentos de-

vem ser modernizados e militarizados para possuí-

rem capacidade e rusticidade nas operações.

6 CONCLUSÃO

No Exército Brasileiro (EB), o estudo realizado pe-

la Inteligência no combate é denominado “Processo

de Integração Terreno, Condições Meteorológicas e

Inimigo (PITCI)”. A chamada “digitalização do

campo de batalha” imposta pelos avanços tecnológi-

cos do campo militar tem reduzido o tempo disponí-

vel e ampliado exponencialmente o volume de in-

formações a serem consideradas no processo de to-

mada de decisão operacional. Neste contexto, o EB

desenvolveu o programa “C2 em Combate”.

Este trabalho de pesquisa teve como objetivo de-

terminar a relevância da utilização da do programa

“C2 em Combate” como subsídio ao PITCI. A pes-

quisa analisou o uso dessa ferramenta, identificando

as vantagens e as desvantagens para o analista de

Inteligência. Adicionalmente, explorou os procedi-

Page 64: Artigo a Inteligência Militar No Exército

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 63

mentos adotados pelo analista na execução da Ativi-

dade de Inteligência voltada para o Emprego da For-

ça Terrestre em Operações Militares.

O estudo do PITCI revelou a grande demanda do

analista no esforço de análise, com muitas tarefas

repetitivas que exigem tempo, particularmente se a

área a ser analisada for muito grande. A profundida-

de da análise está diretamente relacionada com o

tempo disponível para realizá-la. Assim, é importan-

te disponibilizar, para o analista, ferramentas que

diminuam o trabalho manual a ser realizado na aná-

lise do terreno e condições meteorológicas.

O PITCI também exige do analista a consulta a ex-

tensos bancos de dados sobre MEM e Matriz Dou-

trinária do Inimigo. Por exemplo, para cada arma-

mento empregado pelo inimigo, o analista poderá

desenhar, graficamente, o seu raio de ação com base

em suas características técnicas, morfologia do ter-

reno e coberturas vegetais, o que pode ser uma tarefa

extremamente desgastante. Da mesma maneira que

no estudo do terreno, o estudo do Inimigo poderá

facilmente demandar muito tempo do analista, tem-

po este normalmente escasso.

Os cenários que se apresentam no combate moder-

no indicam um aumento na complexidade das opera-

ções, que se desenrolarão em um ambiente de com-

bate continuado, com grandes demandas de Inteli-

gência. O PITCI já se apresenta como um processo

consagrado para subsidiar os planejadores na seleção

da melhor linha de ação possível para fazer frente ao

Inimigo moderno. Quanto mais ferramentas forem

disponibilizadas para o analista de Inteligência, vi-

sando a facilitar seu trabalho e diminuir o tempo

necessário para a realização de sua análise, melhores

serão as condições para se fazer face ao combate

moderno.

O Programa C2 em Combate tem sido utilizado

amplamente no âmbito do Exército Brasileiro, tendo

como principal cliente o Comando de Operações

Terrestres (COTER) que utiliza o software para efe-

tivamente controlar todas as operações com emprego

de tropa atualmente em curso. Seu uso em campanha

tem sido bastante amplo, sendo o software de co-

mando e controle adotado em Simulações de Com-

bate e Exercícios de Campanha em todo o Brasil.

Suas ferramentas gráficas e seus recursos cartográfi-

cos permitem utilizá-lo como ferramenta auxiliar de

análise.

Dos recursos que ele disponibiliza, pode-se obser-

var que é possível a representação gráfica das cama-

das elaboradas nas 4 (quatro) fases do PICTI. Um

limitador do sistema é a própria tela do computador

aonde o sistema estará rodando, que limitará a visão

da área a ser analisada. Por fim, desenhar uma medi-

da de coordenação e controle na tela de um compu-

tador é, inevitavelmente, mais demorado do que de-

senhá-la usando o tradicional método de “lápis e

papel”. A grande vantagem no desenho no computa-

dor será na divulgação do trabalho de análise.

A pesquisa junto aos responsáveis pelo desenvol-

vimento do programa C2 em Combate verificou-se

que a equipe adota padrões modernos e possui plena

capacidade de evolução. O banco de dados pode

suportar dados do DAMEPLAN e, embora não pos-

sua um SAD específico para auxiliar o analista de

inteligência no PITCI, o mesmo poderá ser desen-

volvido no futuro. No caso das entrevistas realizadas

com os assessores de EM foi possível verificar que

apesar das afirmações de que é vantajoso o emprego

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64 EsIMEx - 2º Semestre de 2013

do programa C2 em Combate no PITCI, ficou evi-

denciado que a grande maioria dos usuários desco-

nhece ou não emprega essa ferramenta.

No estudo de caso realizado foi possível verificar

empiricamente alguns aspectos do emprego do C2

em Combate no PITCI. O destaque foi a grande evo-

lução das ferramentas disponíveis para inserção de

dados sobre o terreno, clima e inimigo que resultam

em uma visualização gráfica de todos os fatores que

podem influenciar uma manobra planejada. A opor-

tunidade de melhoria identificada foi referente a

automação das ferramentas e atualização de cartas

vetorizadas, principalmente em terceira dimensão,

para maior efetividade do programa como ferramen-

ta de apoio ao PITCI.

Por fim, diante do trabalho de pesquisa realizado,

verifica-se que é possível empregar com restrições o

C2 em Combate no PITCI. Tais restrições constitu-

em requisitos de evolução do programa.

REFERÊNCIAS

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