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ARTIGO REVISTA PANORAMA edição on line v. 5, n. 1, jan/dez. 2015 ISSN 2237-1087 ARTIGO ACADÊMICO RESUMO Este artigo se propõe a investigar a qualidade dos releases produzidos pelas assessorias de imprensa. Por meio de revisão da literatura, tomando por base Duarte (2011), Ferraretto e Ferraretto (2009) e Wolf (1992), foram definidas as características de um bom release. Em seguida, foram analisados 42 releases recebidos por uma repórter da editoria Geral do jornal O Popular no dia 24 de março de 2014. Os resultados mostram que ainda há muitos problemas na produção e no endereçamento de releases. PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo. Release. Notícia. Assessoria de imprensa. Jornal impresso. USO DE RELEASES PELAS ASSESSORIAS DE IMPRENSA: LIMITAÇÕES E POSSIBILIDADES Por Ana Priscila Donato CAPPS Universidade Estadual Paulista (Unesp) Gabriella Luccianni M. S. CALAÇA Pontifícia Universidade Católica de Goiás 1. Introdução T odos os dias, as assessorias de imprensa lotam de releases as caixas de e-mails das reda- ções Brasil afora. Essa prática reduz as chances de aproveitamento e até de leitura do material, o que leva ao questionamento da real eficácia do uso desse expediente. Em vista dessa problemática, este ar- tigo tem como objetivo investigar a qualidade dos releases produzidos e enviados pelas assessorias de impren- sa. Tomando por base, principalmen- te, Duarte (2011), Ferraretto (2009) e Wolf (1992), foi definido o que é um bom release. A partir daí, investiga- mos se as assessorias produzem rele- ases de qualidade, capazes de gerar pautas jornalísticas. Para tanto, foram analisados 42 relea- ses recebidos pela repórter Gabriela Lima, da editoria Geral do jornal O Popular, no dia 24 de março de 2014. Após esta data, o periódico foi acom- panhado durante uma semana, a fim de verificar quais sugestões de pauta foram aproveitadas e, neste caso, a forma de aproveitamento. Foi realiza- da, ainda, entrevista com a repórter Gabriela Lima, visando a confrontar dados e responder dúvidas. 2. Primórdios da Assessoria de Imprensa A prática de assessoria de impren- sa é relativamente nova no mundo. De acordo com Chaparro (2011), em 1906, o jornalista Ivy Lee abandonou sua profissão para estabelecer, em Nova York, o primeiro escritório de relações públicas do mundo. Na épo- ca, seu desafio era mudar a opinião pública a respeito de seu primeiro cliente, o capitalista selvagem John Rockefeller, que era hostilizado pelo grande público. Lee conseguiu reverter essa imagem negativa divulgando informações favoráveis a Rockefeller - e a outros clientes que surgiram posteriormen- te - na imprensa informativa. Isto é, o jornalista criou uma assessoria es- 15

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ARTIGO ACADÊMICO

REVISTA PANORAMAedição on line v. 5, n. 1, jan/dez. 2015ISSN 2237-1087

ARTIGO ACADÊMICO

RESUMOEste artigo se propõe a investigar a qualidade dos releases produzidos pelas assessorias de imprensa. Por meio de revisão da literatura, tomando por base Duarte (2011), Ferraretto e Ferraretto (2009) e Wolf (1992), foram definidas as características de um bom release. Em seguida, foram analisados 42 releases recebidos por uma repórter da editoria Geral do jornal O Popular no dia 24 de março de 2014. Os resultados mostram que ainda há muitos problemas na produção e no endereçamento de releases.

PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo. Release. Notícia. Assessoria de imprensa. Jornal impresso.

USO DE RELEASES PELAS ASSESSORIAS DE IMPRENSA: LIMITAÇÕES E POSSIBILIDADES

Por Ana Priscila Donato CAPPS

Universidade Estadual Paulista (Unesp)Gabriella Luccianni M. S. CALAÇA

Pontifícia Universidade Católica de Goiás

1. Introdução

Todos os dias, as assessorias de imprensa lotam de releases as caixas de e-mails das reda-

ções Brasil afora. Essa prática reduz as chances de aproveitamento e até de leitura do material, o que leva ao questionamento da real eficácia do uso desse expediente.

Em vista dessa problemática, este ar-tigo tem como objetivo investigar a qualidade dos releases produzidos e enviados pelas assessorias de impren-sa. Tomando por base, principalmen-te, Duarte (2011), Ferraretto (2009) e Wolf (1992), foi definido o que é um bom release. A partir daí, investiga-mos se as assessorias produzem rele-ases de qualidade, capazes de gerar pautas jornalísticas.

Para tanto, foram analisados 42 relea-ses recebidos pela repórter Gabriela Lima, da editoria Geral do jornal O Popular, no dia 24 de março de 2014. Após esta data, o periódico foi acom-panhado durante uma semana, a fim

de verificar quais sugestões de pauta foram aproveitadas e, neste caso, a forma de aproveitamento. Foi realiza-da, ainda, entrevista com a repórter Gabriela Lima, visando a confrontar dados e responder dúvidas.

2. Primórdios da Assessoria de ImprensaA prática de assessoria de impren-sa é relativamente nova no mundo. De acordo com Chaparro (2011), em 1906, o jornalista Ivy Lee abandonou sua profissão para estabelecer, em Nova York, o primeiro escritório de relações públicas do mundo. Na épo-ca, seu desafio era mudar a opinião pública a respeito de seu primeiro cliente, o capitalista selvagem John Rockefeller, que era hostilizado pelo grande público.

Lee conseguiu reverter essa imagem negativa divulgando informações favoráveis a Rockefeller - e a outros clientes que surgiram posteriormen-te - na imprensa informativa. Isto é, o jornalista criou uma assessoria es-

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pecializada em fornecer notícias para serem divulgadas jornalisticamente, não como anúncios ou matérias pa-gas; divulgando informações exatas, de interesse e de importância para o público. Neste quadro, o release se configurou como uma ferramenta im-portante. Estava criada a assessoria de imprensa, que nos Estados Uni-dos se enveredou pelo caminho das relações públicas. Segundo Chaparro (2011) na década de 30 foram criadas cadeiras sobre a matéria nas univer-sidades de Yale, Harvard e Columbia, vinculada à administração.

No Brasil, Duarte (2011) afirma que o release surge na primeira meta-de do século XX como instrumento para divulgar ações dos governos, especialmente durante o Regime Mi-litar, época em que ganhou má fama porque muitos jornais eram pratica-mente obrigados a usar o material governamental. Por isso, a partir do Golpe Militar, em 1964, as relações públicas tiveram vertiginoso cresci-mento no País, atraindo muitos jor-nalistas tanto na iniciativa pública como na privada, estimulada pela estratégia de propaganda e divulga-ção do governo militar, que criava e difundia fatos oficiais.

O embrião da assessoria de impren-sa no Brasil, entretanto, se deu em 1909, quando o então presidente Nilo Peçanha criou a Secção de Pu-blicações e Biblioteca dentro do Mi-nistério da Agricultura, Indústria e Comércio, a fim de integrar serviços de atendimento, publicações, infor-mação e propaganda, reunindo e distribuindo informações por meio de notas ou notícias fornecidas à im-prensa ou pelo boletim do ministério. No setor privado, a divulgação ins-titucional teria surgido nos anos 50, com empresas estrangeiras do ramo automobilístico e de higiene que tra-ziam para o Brasil a experiência de seus países de origem.

Ainda de acordo com Duarte (2011), no final dos anos 70 e início dos 80, com um mercado de consumo con-

solidado e o declínio do autoritaris-mo militar, termina, para as orga-nizações, o período em que o mais importante era ter bom trânsito jun-to às autoridades.

O ressurgimento da democracia, o movimento sindical, a liberda-de de imprensa, novos padrões de competitividade e o prenún-cio de maior exigência quanto aos direitos sociais e dos con-sumidores fazem as empresas e instituições necessitarem comu-nicar-se com a sociedade e seus diversos segmentos (DUARTE, 2011, p. 59).

Assim, o release - definido por Du-arte (2011, p. 305) como material in-formativo distribuído aos jornalistas para servir de pauta, orientação ou ser veiculado completa ou parcial-mente, de maneira gratuita - trans-formou-se em potente ferramenta da iniciativa privada para usar a im-prensa como elo com a sociedade/ mercado consumidor. Desse modo, na década de 80 teve início a rup-tura entre a assessoria de imprensa e suas raízes de relações públicas, criando e consolidando uma experi-ência de assessoria de imprensa jor-nalística única no mundo.

As fontes deixaram de ser pessoas que detinham ou reti-nham informações. Passaram a ser instituições produtoras ostensivas dos conteúdos da atualidade – fatos, falas, sabe-res, produtos e serviços com atributos de notícia. Pensam, agem e dizem pelo que noti-ciam, exercitando aptidões que lhes garantem espaço próprio nos processos jornalísticos, nos quais agem como agentes geradores de notícias, reporta-gens, entrevistas e até artigos. Para isso, se capacitaram pro-fissionalmente, apropriando-se das habilidade técnicas do jor-nalismo. E usam essas habili-dade em estratégias e táticas propagandísticas, tirando pro-veito da credibilidade da lin-guagem jornalística (DUARTE, 2011, p. 19).

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Assim, os assessores passaram a ser vistos por repórteres e editores como intermediários qualificados e facilita-dores – até por conta de as redações serem cada vez mais enxutas e da de-manda por informação ser cada vez maior -, desempenhando o papel de aproximar fontes e imprensa e orien-tar seus clientes em relação às carac-terísticas da imprensa e à necessida-de de estabelecer um relacionamento transparente com a mesma.

A prática da assessoria de imprensa, segundo Duarte (2011), é vantajosa tan-to para a imprensa como para quem contrata o serviço e para o público. Para o jornalista é importante porque os assessores fazem uma pré-seleção dos acontecimentos e os disponibili-zam no formato de notícia. O cliente, por sua vez, se beneficia da visibilidade na mídia e, o público, fica informado.

Para Celso Nucci (1992, p. 1-3), a dife-rença entre o jornalista e o assessor de imprensa é que o primeiro “representa e defende os interesses dos seus leito-res, escuta a comunidade, investiga, confronta, analisa e publica”. O segun-do “trabalha os interesses dos clien-tes”, o ponto de vista mais favorável dos fatos. Esse aparente confronto de perspectivas - de um lado os jornalistas e seu obrigatório vínculo ao interesse público; do outro, os assessores de im-prensa, em ações determinadas pela prioridade do interesse particular – na verdade não se estabelece como um conflito, na perspectiva de Chaparro (2011), pois não se deve cair na simplifi-cação de ver no interesse público o va-lor que se opõe ao interesse particular.

O que se opõe a um interesse particular é outro interesse par-ticular. E o jornalismo não tem como, nem por que, temer ou desprezar os interesses parti-culares; além de legítimos, está neles a engrenagem dos confli-tos da atualidade, dos quais o jornalismo ocupa-se, com as fer-ramentas do relato veraz e do comentário independente (DU-ARTE, 2011, 20).

Nesse mesmo sentido, Traquina (2005) diz que “a promoção das estra-tégias de comunicação é legítima e só é ‘manipulação’ quando métodos ilegítimos, como a mentira ou docu-mentos forjados, são utilizados”.

Ainda que a assessoria de imprensa apresente um ponto de vista único e conveniente para seu assessorado, se não estiver produzindo mentiras, está desenvolvendo um trabalho de interesse público, pois divulga fatos noticiáveis de pessoas e instituições que não conseguiriam ter cobertura da imprensa, em vista da já citada li-mitação das redações.

3. O ReleaseTavares (2010) explica que asses-soria de imprensa pode ser um ór-gão, pessoa ou conjunto de pesso-as responsáveis por ser o elo entre organização e imprensa. Segundo o autor, as principais ações de uma assessoria são: criar e manter o relacionamento com a imprensa; redigir material referente ao negó-cio da empresa que seja útil para os públicos de interesse da mesma; desenvolver clippings e assessorar pessoas que tenham contato com a imprensa, como presidente, di-retores, porta-voz etc. O instrumen-to mais utilizado de informação e relacionamento entre instituições e imprensa é o release, que nada mais é que uma sugestão de pauta do ponto de vista de quem o emi-te. Geralmente enviado por e-mail ou pessoalmente ao jornalista, visa a informar ou chamar a atenção do jornalista para um assunto que pos-sa tornar-se notícia.

Ainda que muito criticado, ques-tionado e até desprezado pela im-prensa, segundo Duarte (2011), o release ainda é um dos meios mais eficientes para divulgação de fatos e ideias e a principal fonte de pau-tas em boa parte das redações, que não raro o publicam na íntegra. A elaboração deste documento tem algumas regras.

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O release deve ser escrito em linguagem jornalística e segun-do critérios essencialmente da área, embora não tenha a pre-tensão de ser aproveitado na ín-tegra como texto final. De modo geral, a função básica é levar às redações notícias que possam servir como material de apoio ou sugestão de pauta, propi-ciando solicitações de entrevis-tas ou de informações comple-mentares (FERRARETTO, 2009, p. 70).

O release, contudo, não é uma mera ferramenta de exposição na mídia, mas um importante meio de pesso-as, empresas e instituições se posi-cionarem estrategicamente junto ao público interno e à sociedade. Desse modo, precisa comunicar com clare-za, objetividade e eficácia. Para tanto, observa a linguagem do jornalismo e a norma culta da Língua Portuguesa, apresentando um assunto de interes-se que se supõe público, mas com o ponto de vista da organização ou fon-te. Segundo Ferraretto e Ferraretto (2009), o release deve chamar a aten-ção pela sua qualidade, isto é, pelo valor das informações, do texto e de sua apresentação visual. “Dados ou opiniões irrelevantes, incorreções na utilização da Língua Portuguesa ou erros de digitação são, portanto, ina-ceitáveis” (FERRARETTO e FERRA-RETTO, 2009, p.71).

Basicamente o release, de acordo com Tavares (2010), deve conter a lo-gomarca da empresa na parte supe-rior da folha; título ou tema em negri-to e centralizado; lead que resuma o conteúdo da informação para facilitar a vida do jornalista; corpo do texto; nome da pessoa que escreveu e re-gistro profissional; data em que foi redigido e informações adicionais: en-dereço físico e eletrônico da empresa e telefones para contato. Na prática, contudo, esse formato não é estrita-mente seguido, pois cada assessoria de imprensa adota um padrão pró-prio, mas esse modelo é a base dos materiais produzidos Brasil afora.

O release também deve primar pela brevidade (FERRARETTO e FERRA-

RETTO, 2009, p. 94). O título precisa anunciar o assunto de forma atra-ente e resumida; deve conter verbo e evitar verbos no passado, artigos definidos ou indefinidos, gerúndio e particípio, formas negativas e condi-cional. Também não é indicado usar nos títulos pontuação, expressões ambíguas, abreviaturas e siglas pou-co conhecidas.

O lead, por sua vez, deve apresentar um “gancho”, algo que desperte a atenção, para estimular a continuida-de da leitura, além de responder às clássicas questões: o que? Quando? Como? Onde? Por quê? Palavras como novo, inédito, novidade e lançamento ajudam a manter o interesse e fazem pairar sobre o jornalista o risco de estar perdendo uma boa informação. Quanto ao corpo do texto, também segue os preceitos do jornalismo, ou seja, deve obedecer à técnica da pi-râmide invertida, com as informações hierarquizadas em ordem decrescen-te de importância.

Ferraretto e Ferraretto (2009) classi-ficam os releases em tipos: padrão, de opinião, dirigido, especial, artigo, para rádio e TV, para internet, cober-tura, convocação, nota oficial e co-municado. A classificação varia con-forme a finalidade do texto (se para veiculação em mídia impressa ou ele-trônica, se para pautar matérias ou artigos) e a ocasião (cobertura de um evento, nota de esclarecimento etc). Independente do tipo, os estudiosos do assunto concordam que o gênero jornalístico fundamental do release é o informativo, pois “destaca o fato em seu estado puro, limitando-se à des-crição de seus aspectos principais” (FERRARETTO e FERRARETTO, 2009, p. 90). É possível, no entanto, usar o gênero opinativo quando é en-viado um artigo, assim como utilizar o gênero interpretativo ao redigir um release especial ou de cobertura, que requer contextualização do assunto e boa quantidade de dados.

Além de o release estar dentro desses padrões de redação, deve atender a uma série de critérios para que pos-sa ser aproveitado pela imprensa. Du-

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arte (2011) estabelece como critérios imprescindíveis: ter interesse público, ser novidade, disponibilidade (se tem informações suficientes, fontes dispo-níveis, material adaptado à natureza do veículo), exclusividade e adequa-ção a cada veículo, programa e edito-ria. A qualidade do release está rela-cionada ao interesse que possa gerar no público do veículo. Não é porque uma empresa implementou certa me-lhoria para seus funcionários que isso vai interessar os leitores de determi-nado jornal. É preciso bom senso na avaliação e não misturar questões de interesse puramente institucionais com questões de interesse público.

As chances de aproveitamento são baseadas na oferta de uma boa pau-ta, mas também são afetadas pela forma adequada de elaboração do texto, de apresentação e distribui-ção. A manutenção de um bom rela-cionamento com os jornalistas tam-bém é necessária. “No processo de triagem dos releases, são levados em consideração o relacionamento entre a empresa e o veículo, o conteúdo do título, que deve ser obviamente de interesse público, o que levará o leitor a seguir ou não para o lead” (TAVARES, 2010, p.68).

Para Duarte (2011), esse contato com repórteres, produtores e editores é importante porque a decisão sobre o destino do texto que chega é do ga-tekeeper, “jornalista que conhece e assume os critérios editoriais do veí-culo em que atua, e faz, permanente-mente, uma seleção do que pode ou não ser notícia, onde, que espaço ob-terá, o enfoque que será dado, a opor-tunidade de uso das informações” (DUARTE, 2011, p. 309).

O conceito de gatekeeper também é usado por Wolf (1992) no sentido de filtragem do processo informati-vo. Para ele, trata-se de muito mais que uma recusa ou aceitação, mas inclui todas as formas de controle de informação, que podem estabe-lecer-se nas decisões sobre a codi-ficação das mensagens, da seleção, da formação da mensagem, da difu-são, da programação, da exclusão

de toda a mensagem ou das suas componentes (WOLF, 1992).

Como os veículos buscam sempre a exclusividade, o fato novo, não é reco-mendado enviar releases para vários veículos, principalmente quando são concorrentes. “Quanto mais selecio-nado o destinatário, mais adequado aos interesses e mais limitada a cir-culação, maiores as chances de apro-veitamento e valorização do conteú-do” (DUARTE, 2003, p.298). Para fazer esse endereçamento adequado é fun-damental manter atualizado o relacio-namento nos veículos.

Para isso, aconselha-se atualizar o mailing pelo menos uma vez por mês. Procurar informações sobre os horários de fechamen-to das redações, pois enviar rele-ases em cima do prazo ou após mostra falta de informação ou despreparo de quem envia. Os meios de comunicação normal-mente carecem de informações nos finais de semana e datas próximas a feriados. Assim, esta é uma excelente oportunidade para o envio de releases (TAVA-RES, 2010, p. 70).

O envio de releases indiscriminada-mente faz com que algumas reda-ções recebam centenas de suges-tões de pauta diariamente, o que reduz as chances de aproveitamen-to e até de leitura do material. Isso porque ainda existem organizações e fontes que avaliam a qualidade de seus assessores pela quantidade de releases enviados, situação agrava-da pela facilidade de disseminação do material por meio de softwares capazes de enviar um texto para mi-lhares de destinatários. Na visão de Duarte, ainda que mal redigido ou tendo um ponto de vista único, o re-lease tem uma salvaguarda, que é a veracidade de seu conteúdo, pois é assinado por um responsável e ofi-cializado por uma instituição. “A ve-racidade do conteúdo do release é a pedra angular que sustenta sua pro-liferação ao longo dos anos, apesar das evidentes limitações que possui e das restrições que a ele são feitas” (DUARTE, 2011, p.308).

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Hoje, com redações cada vez mais enxutas, é conveniente para os jor-nalistas o recebimentos de releases, pois reduz o trabalho de busca de pautas, de apuração e até de edição. Se o material estiver bem escrito, dentro das regras de redação, con-teúdo e formato, e estar endereçado corretamente, acompanhado de um mailing atualizado, certamente será utilizado pela imprensa.

4. A notíciaTavares (2010), Duarte (2011) e Fer-raretto e Ferrareto (2009) são unâni-mes no entendimento de que o rele-ase deve conter notícias. As notícias, para Traquina, são uma construção social, o resultado de inúmeras inte-rações entre diversos agentes sociais que pretendem mobilizá-las como um recurso social em prol das suas estratégias de comunicação. “As no-tícias têm uma estrutura profunda de valores que os jornalistas partilham, como membros da sociedade, com a sociedade. Como um todo. Como seus membros” (TRAQUINA, 2005, p. 29).

O noticiário é um recorte da realida-de, um apanhado do que foi conside-rado mais importante, em dado perí-odo, pelos jornalistas enquanto seres sociais e pela empresa jornalística, formadora de opinião. O jornalista, revestido pela lógica da objetividade e imparcialidade do fazer jornalísti-co, é afetado por inúmeros fatores que o levam a interagir socialmente e a realizar uma série de negociações durante o processo de produção da notícia. A empresa jornalística, por sua vez, é influenciada pelos seus in-teresses econômicos. As notícias são um retrato do mundo, retrato este associado às exigências quotidianas da produção editorial nos meios de comunicação, articulando-se entre a cultura profissional dos jornalistas e a organização do trabalho e dos pro-cessos produtivos. As conexões e re-lações existentes entre esses limites estabelecerão os critérios de relevân-cia que definem a noticiabilidade de cada acontecimento, isto é, sua apti-dão para ser transformado em notí-cia em meio à abundância de fatos que acontecem diariamente.

A noticiabilidade é constituída pelo conjunto de requisitos que se exige dos acontecimentos – do ponto de vista da estrutura do trabalho nos órgãos de infor-mação e do ponto de vista do profissionalismo dos jornalistas – para adquirirem a existên-cia pública de notícias. Tudo o que não corresponde a esses requisitos é excluído, por não ser adequado às rotinas produ-tivas e aos cânones da cultura profissional. Não adquirindo o estatuto de notícia, permanece simplesmente um acontecimen-to que se perde entre a matéria--prima que o órgão de informa-ção não consegue transformar e que, por conseguinte, não irá fazer parte dos conhecimentos do mundo adquiridos pelo pú-blico através das comunicações de massa. Pode também dizer--se que a noticiabilidade corres-ponde ao conjunto de critérios, operações e instrumentos com os quais os órgãos de informa-ção enfrentam a tarefa de esco-lher, quotidianamente, de entre um número imprevisível e inde-finido de fatos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícias (WOLF, 1992, p. 190).

As notícias são a resposta dos meios de comunicação à pergunta: quais fatos quotidianos são importantes? Desse modo, fica claro que só são notícia os fatos considerados relevan-tes pelos meios de comunicação de massa, os mass media, segundo Wolf (1992). Para selecionar esses aconte-cimentos, Wolf identifica cinco cate-gorias de valores-notícia, que são um conjunto de critérios tomados como referência no meio jornalístico para elaboração dos noticiários e que per-mitem a seleção, rápida e rotineira, dos fatos que serão notícia.

A primeira diz respeito aos critérios substantivos relacionados à impor-tância (algo que o público deve co-nhecer) e ao interesse (capacidade de entretenimento, interesse humano) da notícia; a segunda refere-se às ca-racterísticas específicas do produto informativo (sua disponibilidade, sua ruptura da normalidade, sua atuali-dade); a terceira relaciona-se ao meio

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de comunicação (adequação da notí-cia a cada meio); a quarta categoria é sobre o público (a imagem que os jornalistas têm do público); e a quin-ta concerne à concorrência entre os meios de comunicação para obter a melhor notícia ou uma notícia exclu-siva, o “furo” (WOLF, 1992, p. 200). Assim, o conceito de newsmaking (produção de notícias) proposto por Wolf pode ser utilizado para analisar como acontece a divulgação jornalís-tica das empresas e instituições. Se-gundo Monteiro (2011), os assessores de imprensa escolhem, dia a dia, en-tre um número imprevisível e indefini-do de fatos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícias, com a finalidade de atrair a atenção dos jornalistas. O objetivo é ter visi-bilidade e apoio da opinião pública, a fim de sobreviver no mercado e/ou na sociedade, prestar contas e obter, em troca, reconhecimento.

Para tanto, os assessores de impren-sa devem valer-se dos valores-notícia, que são a resposta para a pergunta: quais são os acontecimentos consi-derados suficientemente interessan-tes, significativos e relevantes para serem transformados em notícias? Esses valores são utilizados primeira-mente pelos assessores e, depois, pe-los jornalistas dos veículos, tornando possível a rotinização das práticas produtivas da notícia.

“O agendamento prévio de acon-tecimentos é, portanto, uma das estratégias para aumentar a correspondência entre as ne-cessidades institucionais e as da mídia, uma vez que favorece aos jornalistas a ‘rotinização’ da cobertura noticiosa e amplia as condições do trabalho em ‘tem-po real’, estimulando o valor de atualidade da notícia” (DUAR-TE, 2011, p. 129).

Uma forma de se fazer esse agen-damento prévio, segundo Traquina (apud DUARTE, 2011, p. 133), é uti-lizando o newspeg (gancho), a jus-tificativa da matéria, o fato relacio-nado com o dia a dia. O gancho é o enfoque determinante que sustenta qualquer texto no jornalismo. Para o

autor, os assessores de imprensa po-dem utilizar o gancho de três formas: relacionando um acontecimento da atualidade, já transformado em notí-cia, como ‘gancho’ para outro assun-to ligado a ele; datas comemorativas e o próprio tempo – aniversário de um atentado, de uma lei etc. Ainda há uma quarta forma, não mencio-nada por Traquina, que se trata da sazonalidade, como o calendário agrícola. Uma empresa/instituição que desenvolva atividades sustentá-veis, por exemplo, pode aproveitar o gancho do Dia Mundial do Meio Ambiente para oferecer uma suges-tão de pauta nesse sentido. Quando a sociedade discute o Marco Civil da Internet, um advogado especia-lista no assunto pode ser inserido na mídia para comentar o caso. Da mesma forma, ocasiões como Natal e Dia das Mães, que influenciam o comércio, e safra, que influencia a agricultura, são passíveis de desen-volvimento de pautas que interes-sam os meios de comunicação.

5. MetodologiaPara verificar a qualidade dos relea-ses produzidos pelas assessorias de imprensa, foram analisados 42 relea-ses recebidos pela repórter Gabriela Lima, da editoria Geral do jornal O Popular, no dia 24 de março de 2014. O jornal foi escolhido porque é o diá-rio de maior circulação do Estado de Goiás. A editoria Geral foi seleciona-da por ser voltada a temáticas varia-das sobre Goiânia e outras cidades. Já a repórter porque esta se mostrou disponível e compromissada em re-passar à pesquisadora todos os relea-ses recebidos na data acima referida. A Comunicação, por ser abrangente e mutante, permite aos pesquisado-res a utilização de técnicas peculiares a outras áreas do conhecimento, no caso deste artigo, a análise documen-tal (releases e jornais), que “represen-ta uma entre as técnicas disponíveis aos pesquisadores para qualificar o seu trabalho” e nada mais é que iden-tificar, verificar e apreciar documen-tos para determinado fim (DUARTE, 2011, p. 270-271). Segundo Moreira (2011), as fontes da análise documen-tal frequentemente são de origem se-

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cundária, ou seja, tratam-se de conhecimento, dados ou informações já reunidos ou organizados, em fontes da mídia impressa e eletrônica. No caso desta pesquisa também inclui documentos de origem primária, os releases, que são considerados documentos oficiais e internos de empresas e instituições.

Tabela 1 – Releases analisados

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Os releases foram analisados de acor-do com a teoria estudada em Ferra-retto e Ferraretto (2009) e em Duarte (2011), que definem o tipo de assun-to, formatação e estrutura de textos adequada ao release. De Wolf (1992) foram utilizados conceitos de valores--notícia e newsmaking. Após a data do recebimento dos rele-ases, 24 de março, o jornal O Popular foi acompanhado durante uma sema-na, até 30 de março, para verificar quais os releases, dos 42 recebidos, foram de fato publicados no periódi-co e, neste caso, a forma de aprovei-tamento: na íntegra, parcialmente ou apenas como sugestão de pauta. Esse acompanhamento é chamado de clipping, que segundo Bueno (2011) é o recorte de uma unidade informativa que consolida o processo de intera-ção da empresa ou entidade com de-terminado veículo de comunicação..

Impresso ou eletrônico, repre-senta a etapa final de um esfor-ço de comunicação, geralmente empreendido pelo assessor e mediado pelos veículos, tendo em vista divulgar fatos, informa-ções, produtos etc, de interesse de uma empresa ou entidade (BUENO, 2011, p. 417).

Conforme Bueno, o clipping pode ser utilizado para auditoria de mídia ou como análise tópica de um esfor-ço de divulgação, como se propõe este artigo, que procura entender a repercussão da divulgação dos rele-ases em determinado período. Para esta análise foi avaliado o destaque dado ao assunto, o espaço em que foi veiculado e a utilização ou não do texto e/ou imagens enviadas pe-las assessorias de imprensa. Não foi realizado cálculo de centimetragem, pois como o próprio autor diz, trata--se de análise puramente quantita-tiva e que não corresponde à rea-lidade, visto que os valores usados nessa contagem são referentes ao espaço publicitário, o qual não tem o mesmo valor do espaço editorial.

Foi realizada, ainda, uma entrevista com a repórter Gabriela Lima, para confrontar dados e responder algu-mas dúvidas que a análise dos relea-

ses não foi capaz de sanar. Segundo Duarte, a “entrevista é uma técnica clássica de obtenção de informações nas ciências sociais, com larga ado-ção em áreas como a comunicação” (DUARTE, 2011, p. 62).

Na oportunidade, foi aplicada a en-trevista individual em profundidade, técnica qualitativa que tem como ob-jetivo explorar um assunto a partir da busca de informações e experiências do informante, selecionado por deter informações que se deseja conhecer. Para Duarte, esse tipo de entrevista serve para descrever processos nos quais o entrevistado está envolvido e permite, por exemplo, “explicar a pro-dução da notícia em um veículo de comunicação, (...) conhecer as condi-ções para uma assessoria de impren-sa ser considerada eficiente” (DUAR-TE, 2011, p. 63).

A entrevista foi feita de forma semia-berta, com um roteiro de questões--guia, mas sem perder a flexibilida-de de interferência do entrevistador quando necessário. O meio de coleta utilizado foi o telefone, que é indica-do por Duarte na falta de oportuni-dade de encontro presencial, como foi o caso.

6. Releases descartadosDe acordo com Duarte (2011), os cri-térios imprescindíveis para um bom release são: ter interesse público, ser novidade, disponibilidade, ex-clusividade e adequação a cada ve-ículo, programa e editoria. Levando em conta um juízo preliminar, sem aprofundamento no conteúdo, assim como o jornalista (gatekeeper) faz ao se deparar com dezenas de rele-ases em sua caixa de e-mail, nota--se que 19 textos foram descartados simplesmente por não estarem cor-retamente endereçados.

De acordo com Gabriela Lima, o jornal O Popular recentemente diminuiu seu número de editorias, sendo dividido en-tre Geral, Opinião, Esportes e Magazi-ne. Na prática, no entanto, o diário con-tinua trabalhando como seu houvesse as editorias de Cidades, Economia, Po-lítica, Opinião, Esportes e Magazine.

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6.1 ConteúdoGabriela Lima afirma que, como re-pórter da editoria Geral, recebe em torno de 50 releases por dia, com va-riação, para mais, às quartas e quin-tas-feiras e, para menos, aos sábados, domingos e feriados. Segundo ela, a minoria dos releases é aproveitada porque as assessorias de imprensa enviam “assuntos nada a ver com a editoria ou que não são de interesse público, que dizem respeito apenas à empresa ou instituição. Isso não gera pauta, só é de interesse do cliente da assessoria de imprensa”. Em sua opi-nião, os releases que contribuem para a imprensa são aqueles que contêm “informações que possam realmente gerar pauta, de interesse público, que apresentem alguma inovação, utilida-de pública, curiosidade, inusitado”.

Neste caso, como Gabriela Lima atua na editoria Cidades, deveria ter recebido material estritamente re-lacionado à área, mas não é o que acontece na prática. Releases dos chocolates Harald, Lilica Ripilica (2 e-mails), Calçados Democrata, Bienal Brasil do Livro e da Literatura, Edito-ra Pandorga, escritora Luci Swindoll, Fundação Gilberto Salvador, SP-Arte, Grupo Editorial Record e do próprio Ministério da Cultura, que concer-nem apenas à editoria Magazine (cultura), lhe foram enviados.

Já os textos referentes ao Bank of Tokyo, Passeio das Águas Shopping, SAE Brasil, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empre-sas (Sebrae), SPC Brasil e Genzyme deveriam ter sido endereçados a um repórter ou editor de economia; o ar-tigo do educador financeiro Reinaldo Domingos à editoria de opinião; e o release sobre a senadora Lúcia Vânia aos jornalistas de política. Segundo a repórter, os releases que não dizem respeito à sua editoria ela sequer abre; se o faz, é apenas por curiosida-de, mas não os utiliza.

Outros releases - além de grande parte dos já citados -, de conteúdo nacional, não apenas foram endere-çados erroneamente, mas pouco in-teressam para jornais regionais, que

normalmente assinam agências de notícias para obter conteúdo nacional e internacional e não desenvolvem pautas nesse sentido em suas reda-ções. Tratam-se dos textos da Oxfam, Accor Hoteis, Ministério do Desenvol-vimento Social e Combate à Fome (2 e-mails), Ministério da Pesca e Aqui-cultura, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Fundação Abrinq, Confederação Na-cional da Indústria (CNI) (2 e-mails), Confirp Consultoria Contábil e Asso-ciação Brasileira de Neurologia (ABN). Conforme a repórter de O Popular, ela também não abre o e-mail quando vê que o release é de São Paulo ou de outros lugares que não Goiás.

Assim, nessa seleção inicial foram descartados 31 dos 42 releases rece-bidos pela repórter, o equivalente a mais da metade do material, 73,8%.

6.2 NotíciaPor outro lado, os 11 releases restan-tes foram corretamente endereçados, mas seis deles não atendiam os de-mais critérios estabelecidos por Duar-te: ter interesse público, ser novidade, haver disponibilidade e exclusivida-de. É o caso dos textos disparados pelas assessorias do Laboratório Ata-laia, Universidade Estadual de Goiás (UEG), Ético Sistema de Ensino, Or-dem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO), Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídri-cos de Goiás (Semarh) e Sika.

Segundo Monteiro (2011), “notícia, em geral, é aquilo que foge à ordem natural dos acontecimentos, é o que rompe a rotina” (MONTEIRO, 2011, p. 117). Nessas sete sugestões de pau-ta essa máxima não foi totalmente observada, assim como os cinco cri-térios de valores-notícia identificados por Wolf: importância e interesse da notícia; sua disponibilidade, atualida-de e ruptura com a normalidade; sua adequação ao meio de comunicação; a imagem que os jornalistas têm do público; e a concorrência entre os meios de comunicação para obter a melhor notícia ou uma notícia exclu-siva (WOLF, 1992, p. 200). Além disso,

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crianças com deficiência intelectu-al, usando uma data comemorativa, o Dia Internacional da Síndrome de Down, como gancho. A pauta tem potencial local, mas a instituição é de São Paulo. Se o jornal O Popular desenvolvesse esse assunto, prova-velmente usaria personagens locais, visto que é um diário de circulação restrita ao Estado de Goiás.

Por fim, o boletim da UEG não é exa-tamente uma sugestão de pauta, mas uma compilação das notícias já veicu-ladas no site da instituição isto é, não apresenta novidade nem exclusivida-de, ainda que pudesse conter algum fato interessante.

7. Releases PublicadosDos 42 releases recebidos, sobram cinco, o que corresponde a 11,9%, um índice muito pequeno. Essas cinco sugestões de pauta foram publicadas no jornal O Popular, mas apenas três foram realmente motivadas pelos re-leases enviados pelas respectivas as-sessorias de imprensa: o material da Agência Municipal de Meio Ambien-te (Amma) e do Sindicato dos Traba-lhadores no Serviço Público de Goiás (Sindipúblico), veiculados no dia 25 de março, e o da Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), divulgado na edição do dia 26 de março. Os textos enviados pe-las assessorias do Ministério da Saú-de e da Agência de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp) foram noticiados apenas no portal do jornal O Popular, nos dias 24 e 28 de março, respectivamente, mas os conteúdos eram provenientes de agências de no-tícias, a Agência Brasil e a Agência Estado, ou seja, não foram motivados pela ação das assessorias de impren-sa no jornal O Popular.

No caderno Magazine, entretanto, foi publicado o material do Grupo Edito-rial Record e do Ministério da Cultura, na edição do dia 25 de março de 2014. O primeiro saiu em forma de nota na coluna Biblioteca, como dica de livro, na página 7; e o segundo na página 4, como matéria, mas assinada pela agência de notícias Folhapress.

segundo Gabriela Lima, acontece de as assessorias enviarem pautas in-teressantes, “mas que muitas vezes não dá para desenvolver por conta do tempo, ou mesmo porque matérias factuais se sobressaem”.

A assessoria de imprensa do Labora-tório Atalaia propôs uma pauta fria (não factual) sobre o exame de uri-na detectar vários tipos de doenças. Considerando os valores-notícia ne-cessários para se construir um noti-ciário, essa pauta não seria a respos-ta para a pergunta que os jornalistas se fazem diariamente: Quais são os acontecimentos considerados sufi-cientemente interessantes, significa-tivos e relevantes para serem trans-formados em notícias?, pois não traz novidade, ruptura com a normalida-de e não é exclusiva.

O mesmo vale para sugestão da Se-marh, que trata de plantio de mu-das na nascente do Córrego da Tita, em Santo Antônio de Goiás. Apesar de factual, entre os inúmeros fatos que ocorrem diariamente, este não se destacou para o jornal O Popular porque é ação corriqueira e obriga-ção da secretaria.

A Sika, por sua vez, divulga a reali-zação de um curso para a comunida-de de Carapicuíba (SP), fato que não interessa aos moradores do Estado de Goiás. Na mesma linha segue a sugestão da OAB-GO, que disponibi-lizou a opinião do presidente da insti-tuição sobre a decisão da Câmara Fe-deral de homenagear os golpistas de 1964, ou seja, a análise de um fato na-cional – ainda que o personagem seja local -, uma editoria que o jornal não desenvolve localmente, salvo raras exceções. A pauta, contudo, poderia ser desenvolvida na editoria cidades se abordasse a reação da sociedade goiana frente à iniciativa da Câmara, mas o caso provavelmente não reper-cutiu de forma ostensiva no Estado e, consequentemente, não chamou a atenção do jornal.

A proposta da assessoria de impren-sa do Ético Sistema de Ensino, por sua vez, é sobre a vida escolar de

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Apesar de o assunto contido nesses dois releases ter sido usado pelo jor-nal, não significa necessariamente que os textos foram usados de forma estratégica por parte de suas asses-sorias de imprensa. Conforme entre-vista com a repórter Gabriela Lima, o conteúdo do Grupo Editorial Re-cord só foi usado pelo jornal porque também foi enviado aos jornalistas do Magazine, pois ela mesma nunca encaminha sugestões de pauta para outras editorais: “isso é uma prerroga-tiva do editor de cada editoria”. Isso mostra a falta de filtro das assessorias de imprensa e o modo como enviam releases para jornalistas de todas as editorias, sem critérios.

Já o material do Ministério da Cul-tura não foi provocado pelo release, até porque quem assina é a corres-pondente da agência Folhapress em Roma, Beatriz Santomauro, e em ne-nhum momento o ministério é citado, ou seja, o release não atingiu seu ob-jetivo de promover a instituição.

8. Por dentro dos ReleasesFeita a separação dos 37 releases des-cartados e dos cinco publicados pelo jornal, procede-se à análise dos três releases efetivamente publicados de-vido ao trabalho de suas respectivas assessorias de imprensa, referentes a apenas 7,14% do total recebido. O objetivo é mostrar como uma suges-tão de pauta deve ser e como os as-sessores devem atuar para obterem resultado ao enviar material para as redações jornalísticas..

8.1 Amma e Dema realizam parceria para repressão de pichaçõesO release produzido pela Secretaria Municipal de Comunicação (Secom) para divulgar ação da Agência Muni-cipal de Meio Ambiente (Amma) foi publicado na coluna Giro do jornal O Popular no dia 25 de março de 2014, página 2. Trata-se de um release do tipo padrão, que aborda a pauta de forma objetiva, buscando destacar o fato em si. O texto é conciso, não ex-cede uma lauda, apresenta as infor-mações claramente, tem dados para contato e é assinado pela jornalista que o elaborou, ou seja, segue os cri-

térios teóricos abordados neste traba-lho e quase todas as observações da jornalista que participou da pesquisa:

O bom release tem de ser do meu interesse, começando pelo direcionamento certo da edi-toria. Tem de ter todas as in-formações, data, local, horário, indicação de fonte para entre-vista. Vejo que algumas asses-sorias muitas vezes não fazem o básico, como mandar o local de uma coletiva de imprensa ou não falar o horário de um show (Gabriela Lima).

Ainda relacionado à estrutura, ao contrário do que Duarte e Tavares preconizam, o release não tem logo-tipo e informações do assessorado no topo da página, não tem data de elaboração nem local de envio e não há fontes de informação disponíveis para entrevista.

O título apresenta a essência do as-sunto, é objetivo e contém verbo de ação no presente: “Amma e Dema re-alizam parceria para repressão de pi-chações”. Por outro lado, a autora só colocou o título no assunto do e-mail, não o repetiu no corpo do texto, fa-zendo com que o release começasse com o subtítulo, o que não obedece à técnica de redação jornalística. De acordo com Tavares, o release deve conter “título ou tema em negrito e centralizado”, logo no início da men-sagem (TAVARES, 2010, p. 69).

O lead responde às questões: o que? Como? Onde? Por quê? e o texto foi re-digido de forma correta, conforme o gê-nero informativo, o mais comum no que diz respeito a releases porque destaca o fato em seu estado puro, limitando-se à descrição de seus aspectos principais.

A Agência Municipal do Meio Am-biente (Amma) receberá represen-tantes da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (DEMA) para firmarem parceria contra as pichações espa-lhadas por toda a cidade. Durante a solenidade será entregue a do-cumentação por parte da Dema, onde consta a relação dos autores dos crimes ambientais”

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Em relação ao envio, entretanto, há erros. O release foi encaminhado às 11h, horário condizente com a edito-ria de cidades, que geralmente fun-ciona depois do almoço. O material, no entanto, foi enviado ao mesmo tempo para dezenas de jornalistas, o que foi possível notar devido ao envio do e-mail sem cópia oculta, desvendando todo o mailing da as-sessoria. Desse modo, a assessoria massificou e não personalizou o tex-to, o que pode levar à desconfiança e desmoralização, segundo Duarte. “Tente personalizar o envio, mas se não for possível, pelo menos utilize o recurso da chamada ‘cópia ocul-ta’ (CCO) para evitar que a listagem completa dos destinatários chegue a cada um deles” (DUARTE, 2011).

No geral, o release atende os crité-rios estabelecidos por Duarte: ter interesse público, ser novidade e haver disponibilidade, com exceção da exclusividade, já que foi enviado em massa à imprensa, mas a ação é justificável, pois se tratava de um aviso de consolidação de parceria en-tre duas entidades públicas. Até por conta de ser apenas um aviso de um evento que se daria no dia seguinte, o release foi publicado em forma de fotolegenda na coluna Giro, que no-ticia fatos de política e cotidiano. O colunista Jarbas Rodrigues Jr. fez a ligação do evento, que visava a re-primir a ação de pichadores em Goi-ânia, com foto da Biblioteca Marieta Telles Machado pichada.

Cerco aos Pichadores. A Biblio-teca Marieta Telles Machado, na Praça Universitária, uma das maiores de Goiânia, não tem sido poupada das pichações. A Amma e a Delegacia do Meio Ambiente anunciam hoje par-ceria para combater e prender pichadores na capital (RODRI-GUES JR., 2014).

A publicação do assunto, ainda que o release não tenha seguido todas as regras mencionadas, demonstra que se o jornal considera o fato de interes-se para seu público, passa por cima desses problemas em prol simples-mente da informação. Além disso, foi

publicado numa coluna, o que confe-re status e prestígio à notícia, visto que a coluna tem posição fixa no jor-nal – no caso, a página 2, uma das mais nobres -, permitindo a localiza-ção imediata pelos leitores. “Quanto mais vezes um nome é registrado nas colunas, repetido, mais legitimação social adquire”, (MELO, 2003, p. 142).

8.2 Servidores promovem mobilização para cobrar celeridade do STFRelease produzido pela assessoria de imprensa do Sindicato dos Trabalha-dores no Serviço Público de Goiás (Sindipúblico), publicado na coluna Direito & Justiça do jornal O Popular no dia 25 de março de 2014, página 8. Este release também foi enviado na parte da tarde, às 14h15, mas en-dereçado especificamente à repórter Gabriela Lima, o que denota exclusi-vidade, ainda que isso possa não ter ocorrido de fato. O assunto do e-mail chama a atenção: “Servidores promo-vem mobilização para cobrar cele-ridade do STF” e é mais explicativo que o próprio título usado no release: “Mobilização pelo julgamento do RE 565089”, considerado ruim, visto que não tem verbo e apresenta uma sigla desconhecida, RE, que no lead é ex-plicado: recurso extraordinário.

Além de dar as informações básicas no lead, o release interpreta o cená-rio, explicando a importância da de-cisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para os servidores estaduais, o que é data-base e o motivo da len-tidão para julgar o recurso. Isso faz do texto um release do tipo especial, pois contextualiza o fato, mostrando suas causas e consequências, sempre apresentando alguma ligação com o assessorado. Consequentemente, o texto utiliza o gênero interpretativo, que se aprofunda na informação, bus-cando ligação com outros fatos.

“A Constituição Federal em seu artigo 37, inciso X, prevê a remu-neração dos servidores públicos que somente poderá ser fixada ou alterada por lei específica, observada a iniciativa privati-va em cada caso, assegurada a revisão geral anual – data-base.

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A omissão de legislação espe-cífica que garanta a reposição salarial dos servidores, baseada no índice inflacionário, tem sido questionada pelos servidores via mandado de injunção coleti-vo, individual ou outras medidas judiciais..

Esse aprofundamento, no entanto, faz com que o release atinja três laudas, o que não é recomendado. O ideal, segundo Duarte (2011), é uma lauda com, no máximo, 30 linhas. De modo geral, entretanto, a sugestão de pau-ta foi escrita seguindo as técnicas de redação jornalística e, em sua estru-tura, contém dados de identificação e contato, essenciais para o caso de o jornalista ter interesse em desenvol-ver a sugestão de pauta.

Diferente do que Duarte (2011) e Ta-vares (2010) recomendam, contudo, o release não tem logotipo e infor-mações do assessorado logo no iní-cio, não tem data de elaboração e local de envio e não fornece fontes de informação.

Ainda que tenha apresentado esses erros, o repórter Cleomar Almeida usou a informação principal, a cobran-ça do Sindipúblico por celeridade no julgamento do RE 565089, na coluna Direito & Justiça, a qual elaborou ex-traordinariamente, visto que a titular é a jornalista Carla Borges. Isso de-monstra que independente da apre-sentação, a informação em si atendeu os critérios de valores-notícia e foi considerada noticiável pelo jornal, no-vamente em um espaço nobre, uma coluna, que segundo Mello (2003) “tem contorno levemente persuasivo” e confere status à notícia, por isso a íntima relação dos colunistas com os relações públicas, que visam a proje-tar a imagem dos seus clientes.

8.3 Sudeco promove 4ª Reunião Ordinária do CondelRelease produzido pela Assessoria de Comunicação (Ascom) da Supe-rintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), publicado no jornal O Popular no dia 26 de mar-ço de 2014, no topo da página 16, à direita. Estruturalmente, assim como

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os demais, não tem logotipo e infor-mações do assessorado no topo da página nem fontes de informação disponíveis para entrevista, mas pos-sui data de elaboração e local de envio. O texto também não é assina-do, mas foi o único a identificar que se trata de uma sugestão de pauta. Tem duas laudas, mas o release pro-priamente dito está concentrado na primeira; na segunda está apenas um organograma do conselho delibe-rativo da instituição.

Quanto ao título, “Sudeco promove 4ª Reunião Ordinária do Condel”, é objetivo e aponta para a essência do assunto, descrito no lead de forma clara e aproveitando o “gancho” da reunião do Conselho Deliberativo da entidade (Condel), no dia seguinte ao envio do release.

A Superintendência do Desen-volvimento do Centro-Oeste (Sudeco), o Ministério da Inte-gração Nacional e o Governo do Estado de Goiás realizarão a 4ª Reunião Ordinária do Conselho Deliberativo do Desenvolvimen-to do Centro-Oeste (Condel/Su-deco), nesta terça-feira (25), em Goiânia.

Em relação ao corpo do texto, tam-bém segue os preceitos do jornalis-mo, obedecendo à técnica da pirâ-mide invertida, com as informações hierarquizadas em ordem decres-cente de importância. O release, do tipo padrão, ou seja, focado no fato em si, assim como no caso 1 segue o gênero informativo.

A assessoria de imprensa ainda res-peitou o horário da editoria de ci-dades, enviando o texto às 15h08. Apesar de não deixar aparente sua lista de contatos, a assessoria não mandou o release exclusivamente para a repórter.

Em relação aos demais, esta su-gestão de pauta foi a que mais se aproximou do que os teóricos con-sideram ideal, ainda que não tenha apresentado um critério importante, a exclusividade, o que pode ser ex-plicado pela necessidade de massi-

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ficar a divulgação da reunião. Tanto que foi a única aproveitada em forma de matéria, não como nota.

O release despertou o interesse do jornal, que fez a cobertura da reunião no dia seguinte e elaborou matéria publicada na página 16 da edição de 26 de março. Na agenda do jornal O Popular, este assunto foi considerado mais importante que os demais, ape-sar de os outros também terem se valido de um gancho chamativo, mas não com o mesmo sucesso.

O agendamento da pauta proporcio-nou a cobertura do evento, inclusive com publicação de aspas do ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira, e do governador de Goiás, Marconi Perillo:

Ao fazer um balanço dos inves-timentos do FCO no ano passa-do, o governador Marconi Perillo disse que o Fundo tem sido fun-damental para o desenvolvimen-to econômico dos estados, que ganharam muito em termos de agregação de valor aos produ-tos e commodities, e também em termos de industrialização. ‘No ano passado, Goiás conse-guiu novamente bater recorde, e ajudou a viabilizar quase R$ 2,5 bilhões em empréstimos, consi-derando FCO e FDCO. Se tivés-semos mais recursos, conseguirí-amos colocar tudo no mercado’, disse (O POPULAR, 2014).

Desse modo, o agendamento prévio favoreceu a “rotinização” da cobertura noticiosa. O aproveitamento do relea-se da Ascom da Sudeco atendeu tan-to os anseios da instituição, que teve cobertura jornalística no seu evento, como do jornal, que obteve uma su-gestão de pauta de interesse público.

9. Considerações FinaisA partir dos releases investigados, percebe-se que as assessorias de im-prensa investem na quantidade de material enviado, em detrimento da qualidade. Isso ocorre porque ainda existem clientes que avaliam a quali-dade de seus assessores pela quanti-dade de releases enviados, o que só piora com a facilidade de dissemina-ção do material por meio da internet.Essa enxurrada de e-mails despeja-dos diariamente na caixa de entrada dos jornalistas ocasiona a exclusão das mensagens antes mesmo de se-rem lidas, em vista da falta de crité-rios no envio, principalmente o ende-reçamento para a editoria incorreta e a falta de interesse público das suges-tões de pauta.

Como resultado, a grande maioria dos releases enviados para as reda-ções é descartada sem qualquer tipo de aproveitamento. Nesta pesquisa constatou-se um índice de sucesso de apenas 7,14%, relativo a três releases utilizados de um total de 42 recebidos em um dia pela jornalista Gabriela Lima, do jornal O Popular.

Não se pode generalizar o resultado, no entanto, em vista das limitações deste trabalho, pois foram avaliados os releases enviados para apenas uma repórter, durante um dia e de so-mente um jornal diário.

Este artigo demostra, entretanto, que as assessorias de imprensa cometem muitos equívocos na produção e en-vio de releases e serve como reflexão para os profissionais da área, espe-cialmente os que atuam no Estado de Goiás, para que adotem estratégias de divulgação realmente eficazes.

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