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    Geografia (Londrina), v.22, n.2. p. 43-56, maio/ago. 2013

    Alagamentos frequentes na rea urbana de Paranagu-PR

    Frequent floodings in the urban area of Paranagu-PR

    Emerson Luis Tonetti1Joo Carlos Nucci2

    Francisco Xavier da Silva de Souza3Simone Valaski4

    Resumo: Os alagamentos aparecem na cena urbana como um dos principais problemas que afetamquestes ambientais, sociais e econmicas. O objetivo da pesquisa foi o de identificar e mapear asreas que passam por alagamentos frequentes no municpio de Paranagu e analisar as suas causase as possveis medidas preventivas para esse problema. Foram identificados 16 pontos dealagamentos e que atingem 35 vias de acesso rodovirio. A impermeabilizao do solo, a canalizaoe o assoreamento dos crregos urbanos em associao com a localizao da desembocadura abaixodo limite da preamar, que gera refluxo da gua da chuva escoada, foram identificadas como asprincipais causas dos alagamentos. Criar tanques de reteno de gua temporrios ou permanentesnos equipamentos pblicos, aumento das reas permeveis e com cobertura vegetal, utilizarpavimentos que possibilitem a infiltrao da gua no solo, promover a reteno da gua no lote pormeio de cisternas, telhado verde, entre outras medidas, podem reduzir a rea e a frequncia dosalagamentos. Esse estudo foi realizado para compor o diagnstico que determinou a qualidadeambiental do municpio, com o propsito de se mapear as reas com restries ao processo deadensamento por verticalizao. Concluiu-se, portanto, que devido as caractersticas relacionadascom a dinmica hdrica na rea de estudo, esta no apresenta condies para um adensamentourbano como propem o Plano Diretor do Municpio de Paranagu.

    Palavras-chave: Qualidade ambiental urbana. Planejamento da paisagem. Geografia fsica urbana.Ecologia urbana.

    Abstract : Floodings appear in the urban scene as one of the main problems which affectenvironmental, social and economic issues. The research aim was to identify and map the areas thatgo through frequent floodings in Paranagu town and analyze its causes an the possible preventionmeasures for this matter. It was identified sixteen frequent flooding locations which reach thirty fiverailway Access roads. The land impermeability, the sewerage and the siltation of urban streamsassociated with the location of the mouth below the high tide limit, which generates the reflux of therain drained water as the main causes of the floodings were identified. The creation of holding watertanks, temporary or permanents in public facilities, the increase of the permeable areas and withvegetation cover, to use of pavements that allow water infiltration into the soil, to promote waterretention in the lot by using tankers, green roof, among other measures, can reduce the area and thefrequency of floodings. This study was carried out to compose the diagnosis which determined the

    environmental quality of the town with the intention to map the areas with restrictions on the process ofintensification of the use by the verticality of buildings. It was concluded that because of thecharacteristics related by water dynamics in the study area, this does not present the conditions to theintensification of the urban use as it is proposed by the Director Plan by Paranagu town.

    Keywords: Urban environmental quality. Landscape planning. Urban physical geography. Urbanecology.

    1Bilogo, doutor em GeografiaUFPR. Instituto Federal do ParanIFPRCampus Paranagu.2Bilogo, doutor em Geoografia FsicaUSP. Dpto. de GeografiaUniversidade Federal do ParanCentro

    Politcnico.3Gegrafo, graduado em GeografiaISULPAR. Instituto Superior do Litoral do ParanISULPAR.4Gegrafa, mestre e doutoranda em GeografiaUFPR. Universidade Federal do ParanCentro Politcnico.

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    INTRODUO

    O uso intensivo e muitas vezes inadequado do solo urbanizado, juntamente com

    a falta de uma viso sistmica, entre outras questes, provoca alteraes no ciclo

    hidrolgico que por sua vez acarreta inmeros problemas sociais, econmicos e ambientais,

    tais como: alagamentos, problemas no abastecimento de gua, contaminao do lenol

    fretico e de cursos d`gua, entre tantos outros.

    O conhecimento das caractersticas do ciclo da gua, a identificao dos locais

    que sofrem alagamentos ou inundaes, suas causas, bem como as medidas mitigadorasso questes essenciais para o planejamento e gesto dos ambientes urbanos.

    Algumas das causas desses problemas nos ambientes urbanizados so: a

    excessiva impermeabilizao do solo, a reduo da cobertura vegetal, a canalizao e

    assoreamento dos cursos d`gua. Nesse sentido, as medidas para a preveno dos

    alagamentos devem conciliar o uso dos recursos tecnolgicos com o desenvolvimento de

    tcnicas que respeitem os processos ecolgicos que envolvem o ciclo da gua.

    A proposta deste trabalho foi a de realizar um levantamento das reas passveisde alagamento, discutindo-se as principais causas e as possveis medidas preventivas para

    esse problema, em um segmento da rea urbana do municpio de Paranagu, no contexto

    metodolgico do Planejamento da Paisagem.

    O Planejamento da Paisagem uma teoria do planejamento utilizada e prevista

    em leis na Alemanha e que incorpora a avaliao das potencialidades (limites e aptides) da

    natureza e da paisagem, em reas urbanizadas ou no, para acolher os usos humanos

    (NUCCI, 2008, 2009, 2010).

    O Planejamento da Paisagem na Alemanha um instrumento de proteo e

    desenvolvimento da natureza com o objetivo de salvaguardar a capacidade dos

    ecossistemas e o potencial recreativo da paisagem como partes fundamentais para a vida

    humana e segundo Kiemstedt et al. (1998), suas metas seriam:

    - salvaguardar a diversidade animal e vegetal e suas biocenoses por meio do

    desenvolvimento de uma rede interligada de reas protegidas,

    renaturalizao de cursos dgua, revegetao, reflorestamento, entre outros;

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    - salvaguardar as paisagens, seus elementos e os espaos livres em reas

    urbanas para fornecer a oportunidade de contato contemplativo e recreativo

    na natureza em contraste com as atividades recreativas comerciais;

    - salvaguardar o solo, a gua e o clima por meio da regulamentao de seus

    usos e regenerao dos recursos, controle do escoamento superficial, da

    permeabilidade dos solos, dos aqferos e da poluio utilizando a vegetao

    como forma de controle;

    - definir recomendaes sobre a qualidade da natureza e das paisagens, e

    metas de qualidade ambiental como subsdio Avaliao de Impactos

    Ambientais.

    Os resultados obtidos com esta pesquisa fazem parte de um estudo mais amplo

    de determinao da qualidade ambiental e da delimitao de reas com restries ao

    processo de adensamento por verticalizao que se desenvolve no municpio e que poder

    ser acentuado pelas propostas do atual Plano Diretor (TONETTI, 2011).

    REFERENCIAL TERICO

    Mota (1999, p. 41) comenta que toda a gua de que dispomos faz parte do ciclo

    hidrolgico, no qual este lquido circula atravs do ar, da superfcie do solo e do subsolo,compreendendo os processos de: precipitao, infiltrao, escoamento superficial (runoff),

    escoamento subterrneo, evaporao e evapotranspirao.

    O processo de urbanizao provoca inmeras alteraes na intensidade destes

    processos, como descrevem e comentam diversos autores (BUCCHERI-FILHO, 2006;

    HOUGH, 1998; LOMBARDO, 1985; MOTA, 1999; NUCCI, 2008; SPIRN, 1995; VALASKI,

    2008), dos quais se destacam os seguintes aspectos:

    - aumento da precipitao por causa do aumento do nmero de ncleos de

    condensao decorrentes da poluio e do maior desenvolvimento e

    intensificao de conveco nos locais de maior temperatura da ilha de calor,

    entre outros fatores;

    - diminuio da evapotranspirao, como consequncia da reduo da

    vegetao;

    - diminuio da infiltrao da gua, devido impermeabilizao e compactao

    do solo;

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    - aumento do volume de lquido escoado decorrente do aumento da superfcie

    pavimentada e edificada e da reduo da trama de razes da vegetao no

    nvel do solo;

    - consumo de gua superficial e subterrnea, para abastecimento pblico, usos

    industriais e outros;

    - mudanas no nvel do lenol fretico, podendo ocorrer reduo ou esgotamento

    do mesmo;

    - maior eroso do solo e, consequentemente, um aumento do processo de

    assoreamento de rios e lagos;

    - aumento da ocorrncia de alagamentos e inundaes como consequncia do

    aumento do runoff, do assoreamento e da degradao do sistema de

    escoamento, da maior precipitao e muitas vezes da concentrao temporal

    da precipitao;

    - poluio de guas superficiais e subterrneas provocando alteraes e/ou

    reduo da biota e o aumento de casos de doenas nos seres humanos.

    Outro fator importante que deve ser considerado a ocupao da plancie aluvial

    que funciona como rea de reserva dos rios que reduzem a magnitude das cheias jusante,

    estendendo e igualando os fluxos durante um longo perodo de tempo (HOUGH, 1998;

    SPIRN, 1995). Quando residncias e casas comerciais ocupam as plancies aluviais, no s

    ocorre o risco de destruio, mas tambm de comprometimento de sua capacidade de

    conter as guas das cheias (SPIRN, 1995, p. 148).

    Com a impermeabilizao do solo pode ocorrer outras consequncias

    desagradveis para toda a cidade, como por exemplo,

    [...] as avenidas construdas nos fundos de vale tambm ficam inundadas com

    uma chuva forte, [...] e essas inundaes acabam atingindo toda a cidade, trazendo

    congestionamentos, perda de moblia, estragos em automveis, ferimentos e mortes

    (NUCCI, 2008, p. 18).

    Por esses motivos, o solo urbano deveria ser menos impermeabilizado e os

    crregos e rios deveriam receber de volta suas vrzeas posto que, alm de conterem

    inundaes poderiam desempenhar inmeras funes ecolgicas, estticas e de lazer,

    como sugere Bolund e Hunhammar (1999).

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    A cidade de Denver nos Estados Unidos, citada por Spirn (1995, p. 172, 179),

    chegou concluso de que seria mais vivel comprar as terras da plancie de inundao do

    rio e realocar a populao para reas que no oferecessem esse risco, do que investir em

    obras de engenharia para conter o rio em seu leito. Isto, aps estudos que cobriam toda

    bacia hidrogrfica e das formas de conteno das enchentes do Rio Platte. Um trecho de 16

    km deste rio na cidade foi transformado em parque, que atende ao lazer da populao e

    evita enchentes. Ao longo de todo o rio foram criados 18 parques (o Caminho Verde do rio

    Platte) que cobrem 40 km rio acima e 32 km rio abaixo.

    Outras formas de reduzir os problemas relacionados com o ciclo hidrolgico, no

    ambiente urbano, so citadas por Spirn (1995) e por Hough (1998), por exemplo,

    estacionamentos e praas projetados para reter e absorver a gua pluvial, edifcios novos e

    reformados podem reter nos telhados ou em reservatrios no solo a gua das chuvastemporria ou permanentemente (para usos na jardinagem, por exemplo).

    Todos esses mecanismos serviriam para reduzir o escoamento superficial da

    gua e aumentar sua infiltrao no solo, visto que, o aumento do runoff a principal causa

    das inundaes em muitas cidades (HOUGH, 1998; MOTA, 1999; NUCCI, 2008; SPIRN,

    1995).

    Outra questo que deve ser considerada no planejamento do uso do solo urbano

    o clima regional e seu padro sazonal de precipitaes. Nucci (2008) comenta o exemplo

    da cidade de So Paulo que possui um regime de chuva concentrado em um perodo do

    ano, geralmente no mais quente, ainda, muitas vezes nesse perodo pode ocorrer em

    algumas horas precipitaes de grande intensidade que contribuem para a elevao do

    risco de inundao. Devido a questes como essa, inerentes natureza da regio que

    seria necessrio repensar a forma de ocupao e utilizao do solo das cidades (NUCCI,

    2008).

    Para Hough (1998, p. 80), o desenvolvimento urbano deveria se integrar ao

    funcionamento dos sistemas naturais.

    Assim, simulando o que acontece em ambientes naturais, a estratgia para

    prevenir as inundaes e minimizar a destruio que elas provocam seria a de estocar as

    guas pluviais at o pico das precipitaes e eliminar os obstculos das guas nas plancies

    aluviais (SPIRN, 1995, p. 162).

    Este comentrio corroborado por Hough (1998) ao afirmar que o

    armazenamento temporrio das guas pluviais til em situaes ou instalaes que

    podem acomodar diferentes funes no mesmo espao, e as plancies de inundao dos

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    rios e riachos funcionam com esse princpio, liberando o excesso de gua lentamente e

    suavizando os altos fluxos.

    As guas dos alagamentos e das inundaes urbanas carregam uma grande

    quantidade e variedade de poluentes que podem acarretar diversos efeitos negativos sobre

    a sade humana (MOTA, 1999). comum a presena de resduos slidos, de detritos de

    animais, metais pesados e outros materiais txicos, de leo, graxa e outras impurezas na

    superfcie do solo, contribuindo para uma pssima qualidade das guas do escoamento,

    atingindo o nvel da contaminao bacteriolgica de um esgoto diludo e, frequentemente,

    excedendo as concentraes consideradas seguras (HOUGH, 1998; MOTA, 1999; SPIRN,

    1995).

    Mota (1999) ressalta que os momentos iniciais da precipitao so os de maior

    preocupao quanto a esses poluentes e que a concentrao de impurezas, depende,

    dentre vrios fatores, principalmente do uso do solo (residencial, comercial, industrial ou

    outros); das atividades desenvolvidas na rea (como construes, trfego de veculos, entre

    outros); de fatores relacionados com a durao, quantidade e frequncia da precipitao

    pluvial; e, das caractersticas do ambiente fsico do local (rea pavimentada, tipo de

    pavimentao, estrutura e composio do solo, entre outros.).

    De acordo com Hough (1998, p. 48), um modo de restaurar o balano

    hidrolgico, considerar as oportunidades que surgem no desenho urbano de cada

    localidade, como a adoo das seguintes estratgias: lagos ou tanques para reteno

    temporria ou permanente da gua e reas de recarga da gua subterrnea.

    As atividades humanas e sua localizao, a forma urbana e seus materiais

    influenciam o nvel das inundaes, dos alagamentos e sua localizao, o grau de poluio

    e o local em que se concentra e a quantidade de gua consumida (SPIRN, 1995, p. 146).

    Consequentemente, todas estas alteraes no ciclo hidrolgico podem resultar emcondies muito prejudiciais para os habitantes de uma rea urbana. Portanto, estes

    aspectos devem ser considerados na ocupao do solo, visando minimizar seus efeitos

    negativos.

    Jedicke (1995) ensina que se deve incentivar a reparao de erros do passado

    por meio da restaurao e renaturalizao dos pequenos e grandes cursos d'gua. Crregos

    e rios devem receber de volta uma vrzea; as vrzeas devem ser transformadas em campos

    com vegetao e deve-se aumentar a permeabilidade do solo. Seria interessante comparar

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    os danos econmicos da inundao com os custos de um tratamento abrangente das suas

    causas.

    Apesar das recomendaes, o que se observa um contnuo e desenfreado

    ritmo de ocupao do solo urbano por edificaes (adensamento por verticalizao) e que

    os estudos que identificam as potencialidades (limites e aptides) das paisagens, como os

    que fornecem diagnsticos da qualidade ambiental urbana, no esto sendo levados em

    considerao, como constatou Nucci (2011).

    MTODO

    rea de estudo

    O recorte espacial do estudo engloba a parte central da rea urbana do

    Municpio de Paranagu, no litoral do Estado do Paran (Figura 1).

    Figura 1Localizao da rea de estudo em Paranagu (Paran, Brasil).

    Fonte: Tonetti (2011).

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    A rea total do municpio de 826,65 km, a rea urbana de 95,15 km e o

    local de estudo possui 11,64 km2. O marco zero do municpio encontra-se nas coordenadas

    25 18 00 S e 48 21 00 W. Limita-se ao norte com a Baa de Paranagu e o municpio de

    Guaraqueaba (PR), ao sul com os municpios de Guaratuba (PR) e Matinhos (PR), leste

    com o municpio de Pontal do Paran (PR) e a oeste com os municpios de Antonina (PR) e

    Morretes (PR).

    A rea de estudo faz parte de um litoral de imerso, onde vales e enseadas

    foram preenchidos principalmente por sedimentos marinhos do perodo Quaternrio. O

    relevo muito suave, com pequenas ondulaes e altitudes, que somam entorno de 5

    metros acima do nvel do mar. Os solos que ocorrem sob este relevo plano e alto grau de

    umidade so, principalmente, os espodossolos, onde ocorrem as restingas e terras baixas,

    que predominam na paisagem; os solos aluviais, prximos s margens dos rios; e os solos

    hidromrficos gleizados indiscriminados (gleissolos) no restante da plancie. Os cursos

    dgua que tm suas nascentes na Serra do Mar ou na prpria plancie desguam

    diretamente na baa. Na rea de estudo encontram-se, quando conservados, margeados por

    manguezais (PARAN, 2006, p. 52; ROCHA et al., 2002, p. 10 e 12). O clima considerado

    do tipo Af(t), chuvoso tropical sempre mido, com temperatura mdia de 21,1 C (ROCHA et

    al., 2002, p. 13) e a cobertura vegetal original era constituda pela Floresta Ombrfila Densadas Terras Baixas em associaes com a Floresta Ombrfila Densa Aluvial, com as

    formaes pioneiras com influncia marinha (restingas), com influncia fluviomarinhas

    (manguezais e campos salinos) e com influncia fluvial (taboais, caxetais, maricazais) de

    acordo com o sistema de classificao da vegetao brasileira, proposto pelo IBGE (1992).

    Atualmente so encontrados remanescentes das formaes florestais em diferentes

    estgios da sucesso vegetal e algumas reas com formaes pioneiras com influncia

    fluviomarinha.

    Procedimentos

    Para o mapeamento das reas passveis de alagamento, foram realizadas

    consultas a empresa guas de Paranagu e a Prefeitura Municipal de Paranagu, alm de

    comprovaes em campo. Tambm contriburam na delimitao desses locais, as cartas de

    distribuio dos crregos canalizados do projeto de pesquisa desenvolvido por Souza

    (2009), no Instituto Superior do Litoral do Paran (ISULPAR), sobre os Sistemas de

    Drenagem Urbana de Paranagu.

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    No trabalho de campo, realizado durante os meses de julho e agosto de 2008,

    cada rua foi percorrida para identificao e localizao das reas alagveis em uma carta

    base com identificao dos lotes.

    Por meio do software AutoCAD, os dados coletados foram lanados na carta

    base, georeferenciada, na escala 1:15.000, da rea urbana do municpio, para obteno do

    mapa da distribuio das reas passveis de alagamento.

    RESULTADOS E DISCUSSES

    No houve relatos ou visualizaes de transbordamento dos crregos presentes

    no local de estudo. Assim, foram identificadas 16 reas passveis de alagamento e 35 vias

    que so diretamente atingidas por elas. Os alagamentos, frequentemente tm maior

    superfcie em relao ao seu volume e por isso comprometem principalmente o trfego de

    veculos leves pela sua extenso, visto que os caminhes conseguem atravess-las

    normalmente. Por este motivo, tambm, tais eventos, geralmente, no comprometem os

    bens do interior das residncias e limitam-se ao leito carrovel das vias, como aqueles

    encontrados na Avenida Coronel Jose Lobo, no Terminal Rodovirio Municipal e no

    Terminal Rodovirio Intermunicipal. Nestes locais os alagamentos podem atingir grandes

    extenses comprometendo o trfego de veculos leves, o deslocamento dos pedestres e o

    transporte pblico de passageiros pelo impedimento de o pedestre acessar os terminaisrodovirios durante o perodo de alagamento (Figura 2).

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    Figura 2Distribuio das reas passveis de alagamento e dos crregos canalizadosno local de estudo

    Fonte: Tonetti (2011).

    Rio do Chumbo, Sabi, Canal das Mars e Canal do Anhaia so os cursos

    dgua que drenam as guas para a Baa de Paranagu, estando todos canalizados. O

    inicio da canalizao destes rios ocorreunas pores mais centrais da rea de estudo, que

    apresentam as cotas altimtricas mais elevadas, a aproximadamente 5m em relao ao

    nvel do mar.

    A canalizao dos rios, a impermeabilizao do solo, o possvel assoreamento

    do sistema de escoamento das guas pluviais, a capacidade de vazo e, em alguns casos,

    o nvel da mar esto relacionados com os principais pontos de alagamento na cidade,

    porque reduzem a capacidade de escoamento da gua das chuvas.

    No sudeste do local de estudo localiza-se a maior rea de alagamento

    encontrada (Figura 2), abrange a cmara de vereadores, a Praa 29 de Julho, o complexo

    esportivo municipal, o mercado municipal e seus respectivos acessos. Neste local, h srios

    problemas de drenagem das guas pluviais. Grande parte desta rea foi aterrada para aampliao do espao de uso urbano e comunitrio na dcada de 1990. No houve

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    reformulao do sistema, as tubulaes de drenagem so prolongamentos das que j

    existiam, o que resultou em um sistema que no atende a demanda local. Ainda, os seus

    pontos de desaguamento, no Rio Itiber (Figura 2), ficam abaixo do nvel mais alto da mar.

    Provavelmente, por este motivo quando coincide uma precipitao com o nvel do rio acima

    do ponto de descarga da gua da chuva ocorre o acmulo dessa gua at que o nvel da

    mar baixe e possa ocorrer o escoamento.

    No geral, os alagamentos comprometem quase todo o trnsito de veculos leves

    da cidade, pois impede o deslocamento e gera congestionamentos enquanto durar a

    precipitao e at duas ou trs horas aps a mesma.

    Outro fato que pode contribuir para a reduo do escoamento superficial da gua

    da chuva a ligao dos sistemas de esgoto e de drenagem pluvial. Alem disso,

    possivelmente, em perodos de intensa precipitao, nos locais em que h um sistema detratamento destes fluidos, no h como tratar todo o volume escoado. Considerando o

    volume de precipitao no litoral isto pode ocorrer com frequncia.

    Uma possibilidade para reduzir a intensidade e o nmero de pontos de

    alagamento seria a adoo de medidas que contivessem a gua da chuva temporria ou

    permanentemente nas residncias, nos estacionamentos ou nas praas entre tantos outros

    possveis locais. Dentre tantas outras formas, isto poderia ser feito atravs do uso de

    medidas de conteno desta gua em cisternas, lagoas temporrias ou permanentes e pelo

    aumento da rea de solo no impermeabilizado no lote. Sendo esta medida particularmente

    interessante para a rea urbana de Paranagu, porque praticamente toda ela, esta

    assentada sobre um solo arenoso proveniente de deposies de sedimentos marinhos.

    Neste sentido, por exemplo, para reduzir a possibilidade de alagamento na

    regio sudeste do local de estudo (Figura 2), o estacionamento construdo no cruzamento

    da Rua dos Expedicionrios com a Rua Joo Estevo, para atender a demanda do Hospital

    Regional do Litoral, bem como os espaos livres adjacentes, poderia ser projetado para

    reter temporariamente a gua da chuva, at que passe o pico da precipitao e do runoff.Dessa forma, a gua proveniente das cotas superiores que escorrem por estas ruas e

    outras, que contribuem para o alagamento das ruas nas cotas inferiores, como aquelas que

    circundam a Cmara de Vereadores, o Terminal Rodovirio Intermunicipal e parte do bairro

    Ponta do Caju, ficariam temporariamente retidas. Assim, reduziria a intensidade e/ou a

    possibilidade desse evento acontecer. Alm dessa medida o pavimento do estacionamento

    poderia ser mais poroso para permitir maior infiltrao da gua. O mesmo procedimento

    poderia ser gradativamente adotado nos diferentes equipamentos pblicos que existem na

    rea urbana do municpio.

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    Geografia (Londrina), v.22, n.2. p. 43-56, maio/ago. 2013

    Outra medida adotada para reduzir o runoff, poderia ser o desconto nos

    impostos municipais para os proprietrios dos lotes que contribussem para a manuteno

    dos processos e do equilbrio ecolgico, neste caso, do ciclo hidrolgico. Como sugesto

    poderia ser adotada uma tabela de converso do valor do imposto de acordo com a

    porcentagem do lote sem impermeabilizao do solo, se h ou no vegetao no solo, qual

    o statusde desenvolvimento da vegetao, se h estruturas para reteno da gua no lote

    (telhado verde, cisterna, entre outros). Assim, quanto maior a rea e o nmero de medidas

    que favorecessem a infiltrao de gua no solo maior seria o ndice de desconto.

    Nas novas edificaes e nas reformas deveria ser obrigatria a incluso de

    medidas para a reduo do runoff. Nos novos loteamentos ou nas obras pblicas de

    infraestrutura urbana os pavimentos e a galeria pluvial poderiam ser projetados para reduzir

    a energia da gua da chuva e maximizar a infiltrao no solo.

    Muitas alternativas so possveis para reduzir o escoamento superficial da gua

    das chuvas, comenta Hough (1998), cada uma depender das caractersticas do lugar, do

    regime de chuvas, sua topografia, sua cobertura vegetal, seus solos e o tipo de urbanizao.

    Porm, Spirn (1995, p. 183) salienta que, para ser eficiente, necessrio que haja um

    projeto abrangente, que integre toda a cidade ou at mesmo toda bacia hidrogrfica e que

    envolva as outras questes relacionadas com a gua, como a coleta e deposio do lixo, o

    abastecimento de gua e o tratamento dos esgotos.

    A preveno de alagamentos, inundaes e enchentes, a preservao da

    qualidade da gua e a continuidade do ciclo hidrolgico exigem um projeto que integre as

    possveis solues no nvel do lote, da localidade, da cidade e da regio como um todo.

    Iniciativas isoladas podem trazer benefcios localizados, porm no resolvem o problema.

    Cada cidade ou conjunto de cidades tm que encontrar as prprias solues, muitas vezes

    baseadas nos exemplos de outras, considerando, entre outras questes, que devero surgir

    propostas para encontrar solues integradoras para outros problemas como a densidade, a

    forma urbana e o uso do solo em seus diferentes nveis no meio urbano e rural.

    CONCLUSO

    No segmento urbano estudado do municpio de Paranagu, no litoral do Paran,

    foram encontrados 16 pontos passveis de alagamento e que atingem 35 vias de acesso

    rodovirio do local de estudo. Mais comum nos meses de janeiro, fevereiro e maro, quandose registram as maiores mdias pluviomtricas.

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    Geografia (Londrina), v.22, n.2. p. 43-56, maio/ago. 2013

    As principais causas dos alagamentos so: a canalizao, a impermeabilizao

    do solo, o assoreamento dos crregos urbanos em associao com a localizao da

    desembocadura abaixo do limite da preamar, que geram refluxo da gua da chuva escoada.

    Algumas das principais consequncias dos alagamentos no municpio de

    Paranagu so: congestionamento e acidentes pelo impedimento do trfego de veculos

    leves, de pedestres e ciclistas; inoperncia do terminal rodovirio municipal e intermunicipal.

    Criar tanques de reteno de gua temporrios ou permanentes nos

    equipamentos pblicos, aumento da cobertura vegetal, utilizar pavimentos que possibilitem a

    infiltrao da gua no solo, promover a reteno da gua no lote por meio de cisternas,

    telhado verde, entre outras medidas, podem reduzir a rea e a frequncia das inundaes

    na rea urbana do municpio de Paranagu.

    Com base nas caractersticas relacionadas com a dinmica hdrica na rea de

    estudo, pode-se concluir que esta no apresenta condies para um adensamento urbano,

    como propem o Plano Diretor do Municpio de Paranagu.

    REFERNCIAS

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    Recebido em 13/05/2012

    Aceito em 15/08/2014