Artigo Burnout

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Aletheia ISSN: 1413-0394 [email protected] Universidade Luterana do Brasil Brasil Benevides Pereira, Ana Maria T.; Justo, Tatiana; Batista Gomes, Fabíola; Martins Silva, Sarah Gisele; Volpato, Daiane Cristina Sintomas de estresse em educadores brasileiros Aletheia, núm. 17-18, enero-diciembre, 2003, pp. 63-72 Universidade Luterana do Brasil Canoas, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=115013455007 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Aletheia

ISSN: 1413-0394

[email protected]

Universidade Luterana do Brasil

Brasil

Benevides Pereira, Ana Maria T.; Justo, Tatiana; Batista Gomes, Fabíola; Martins Silva, Sarah Gisele;

Volpato, Daiane Cristina

Sintomas de estresse em educadores brasileiros

Aletheia, núm. 17-18, enero-diciembre, 2003, pp. 63-72

Universidade Luterana do Brasil

Canoas, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=115013455007

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Aletheia 17/18, jan./dez. 2003 63

Ana Maria T.Benevides PereiraTatiana Justo

Fabíola Batista GomesSarah Gisele Martins Silva

Daiane Cristina Volpato

Sintomas de estresseem educadores brasileiros

Stress Symptoms in Brazilian Teachers

______Ana Maria T.Benevides Pereira é Psicóloga, Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano(USP) e professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM); Tatiana Justo, Fabíola Batista Gomes,Sarah Gisele Martins Silva e Daiane Cristina Volpato são alunas do Curso de Psicologia da UniversidadeEstadual de Maringá.

RESUMOO estresse tem sido apontado como um mal do mundo atual e pode afetar tanto adultos como

crianças. As desordens associadas ao estresse são muito variadas, sendo que os que padecem estetranstorno costumam apresentar problemas tanto físicos, como psicológicos, influindo em seu com-portamento e ambiente social. A profissão também pode ser uma fonte de estresse, sendo que otrabalho na docência tem sido indicado por vários autores como um dos mais estressantes. Nestainvestigação se realizou um estudo sobre a sintomatologia relacionada com o estresse em professo-res que lecionam no Ensino Fundamental no Estado do Paraná no Brasil. Com este objetivoutilizou-se o ISE, Inventario de Sintomatologia de Estresse de Moreno-Jiménez e Benevides-Pereira, um questionário de auto-informe contendo 27 itens, distribuídos em 2 fatores: SP (Sinto-matologia Psicológica) e SF (Sintomatologia Física). A pontuação média, ao observar-se o númerode itens das escalas foi de 1.53 para SP (DP=0,76), e de 1.55 (DP=0,79) para SF, sendo de 1.54(DP=0,73), para o índice geral do ISE. Os sintomas mais mencionados foram os seguintes:Pouco tempo para si mesmo (M=2.68), Irritabilidade fácil (M=2.30), Sentimento de cansaçomental (M=2.22), Dores nas costas ou nuca (M=2.14) e Problemas de voz (M=2.03). Estes

____Endereço para correspondência: Ana Maria Benevides Pereira. Rua Bragança, 630, apto 601 - Jardim Uni-versitário.

Aletheia Canoas n.17/18 jan./dez. 2003 p.63-72

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resultados denotaram valores acima da média em 56,5% quanto à sintomatologia psicológica e61,8% na física, quando comparados com uma amostra brasileira.

Palavras-chave: estresse, professores, profissões.

ABSTRACTStress has been being pointed as the evil of the current world and can affect as much

adults as children. The disorders associated with stress are varied, and people who suffer fromit frequently present physical and psychological problems, influencing their behavior and socialenvironment. The career can also be a source of stress, and teaching has been indicated byseveral authors as one of the most stressing. In this investigation, it was conducted a surveyabout the symptoms related to stress in teachers in Fundamental teaching in the state of Paraná,Brazil. With this goal it used ISE, Inventory of Stress´s Symptomatology of Moreno andBenevides-Pereira, an questionnaire with 27 items, distributed in 2 factors: SP (PsychologicalSymptoms) and SF (Physical Symptoms). The score average, when observing the scales itemsnumber was 1.53 for SP (SD=0,76), 1.55 (SD=0,79) for SF, and 1.54 (SD=0,73), for theISE’s general index. The most mentioned symptoms were: Little time for himself (M=2.68),easy Irritability (M=2.30), mental weariness Feeling (M=2.22), Pains in the back or nape(M=2.14) and voice Problems (M=2.03). These results denoted values above of the averagein 56,5% regarding to psychological symptoms and 61,8% in the physics, when compared witha Brazilian sample.

Key words: stress, teachers, professions.

INTRODUÇÃO

O trabalho tem importância essencialna vida de um indivíduo. Investe-se gran-de parte da existência na preparação (estu-dos, estágios) e na dedicação ao trabalho.Subtraindo a fase preliminar de instruçãoe instrumentação, tem-se que, de formageral, despende-se ao menos 8 horas diári-as, isto é, mais de 1/3 do dia, durante 30,35 anos ou mais, sem considerar-se o tem-po utilizado com locomoção. A atividade,ou profissão, desempenhada também estáassociada à identidade individual (Jacques,1996). Por outro lado, nos últimos anos,têm-se observado e dado maior relevânciaao impacto do labor na saúde física e men-tal. Infelizmente, como salienta Dejours(1994), o trabalho, nem sempre possibilitacrescimento, reconhecimento e indepen-dência profissional, pois muitas vezes cau-sa problemas de insatisfação, desinteresse,irritação, exaustão.

As organizações têm revelado maioratenção quanto à significação e a repercus-são do trabalho sobre o trabalhador e os efei-tos desta relação na instituição. Estudos têm

demonstrado que o desequilíbrio na saúdedo profissional, traz conseqüências na qua-lidade dos serviços prestados e no nível deprodução. Os lucros também são afetadosna medida em que os custos se incremen-tam em absenteísmo, auxílio doença, repo-sição de funcionário, transferências, novascontratações e treinamento. Devido a estase outras conseqüências, tem crescido a men-talidade de se investigar e se investir na qua-lidade de vida do trabalhador.

De maneira geral, o fator decisivo quevem sendo apontado como o responsávelpela maior parte dos transtornos observa-dos é o estresse, que já foi chamado porJoão Azevedo (2000) de O Mal do Milênio.O termo estresse foi criado dentro do con-texto da física, graças aos estudos do biólo-go e físico R. Hook (apud Sandín, 1995).Neste campo, estresse se refere à deformi-dade de uma estrutura causada pela açãode uma força externa. Utilizando a mesmadenominação, desta vez para a psicofisio-logia, Hans Selye (1936), o define comosendo um conjunto de reações que se orga-nizam de modo a enfrentar uma situaçãoque exige do organismo um esforço para se

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adaptar. Tal concepção vem ao encontro dadefinição de homeostase, proposta por Wal-ter Canon (1932), sobre a tendência do or-ganismo em procurar manter estável seuequilíbrio.

Selye identifica três etapas no proces-so de estresse. A primeira, conhecida comoa fase de Alarme, onde o organismo reageimediatamente aos estímulos ao qual é ex-posto, sejam estes internos ou externos.Posteriormente advém a fase de Resistên-cia, quando ocorre a tentativa de adapta-ção do organismo frente à situação estres-sante. No entanto, caso não tenha êxito, oindivíduo passa à terceira fase, conhecidacomo: etapa de Esgotamento ou Exaustão.Segundo Sadín (1995) nesta fase, o estres-sor atua de maneira muito severa, condu-zindo o organismo a uma doença, ou a umcolapso.

Outra concepção bastante aceita é a deLazarus e Folkman (1984), que sustentamque o estresse sobrevêm quando os recur-sos disponíveis pela pessoa estão aquém dasdemandas que recebe. A avaliação é de quenão há condições de enfrentamento, quenão há capacidade para tal.

Não necessariamente o estresse é umprocesso nocivo ao organismo. Selye acre-ditava que quando a intensidade do estres-sor era positiva e/ou breve, e as respostasde estresse suaves e controláveis, poderiamser estimulantes, excitantes ao indivíduo,possibilitando crescimento, prazer, desen-volvimento emocional e intelectual. A estescasos ele chamou de Eustresse.

A noção em geral disseminada sobre oestresse corresponde ao que Selye denomi-nou de Distresse, isto é, quando o estressortem um caráter negativo, é mais prolonga-do ou denota maior gravidade Poderíamosdizer que o distresse sobrevêm quando o es-tresse ultrapassa um determinado limite,que pode ser distinto de organismo paraorganismo.

O estresse pode levar a alterações fisi-ológicas e/ou psicológicas no organismo,quando este se apresenta mais predispostoou vulnerável. Por isso, segundo França &Rodrigues (1997), sob a ótica biopsicosso-

cial, o estresse se dá pela íntima ligação doambiente, da pessoa e das circunstâncias.

Assim sendo, o estresse pode ser pro-duzido por um fator que atue com grandeforça na desestruturação geral do organis-mo: por exemplo, o trabalho. Nesta pers-pectiva, pode ser denominado de estresseocupacional, pois é desencadeado no mo-mento em que o profissional reconhece queas exigências ou demandas do ambiente detrabalho, vão além de sua capacidade derespostas adequadas. (Gonzáles-Romá et al,1998).

Segundo Peiró (1999), os agentes es-tressores laborais podem ser físicos ou am-bientais, assim como podem advir daforma como o trabalho está organizado.Nesta perspectiva, os estressores do ambi-ente, ligados ao trabalho, podem se dar pelaintensidade elevada (reduzida, ou insufici-ente) do ruído, iluminação, temperatura,intoxicação, clima e disposição do espaçofísico disponíveis para o labor. Quanto àestruturação podemos encontrar fatorescomo: trabalho por turnos, sobrecarga detrabalho, trabalho noturno, exposição a ris-cos. Deve-se também atentar que, confor-me afirmam Silva e Marchi (apud Silva,2000), os agentes estressores podem tam-bém estar associados a variáveis de nature-za diversas como: condições externas (eco-nomia política), exigências culturais (co-brança social e familiar), sendo que a maissignificativa fonte de tensão é a condiçãointerna em que se encontra o indivíduo.

Freqüentemente, apesar de estaremsentindo-se estressados e frustrados, os pro-fissionais são obrigados a continuar enfren-tando às exigências que fazem parte da ro-tina de seu trabalho, a) por necessidade desobrevivência b) considerando o constanteincremento dos índices de desemprego,pelo aumento da robotização das atividadesaté então desenvolvidas pelo homem. Des-ta forma a disfunção entre o indivíduo esuas relações laborais, pode conduzi-lo aestados de sofrimento que conseqüente-mente desencadeiam doenças ou síndromesde gravidade moderada ou até mesmo se-vera. A crescente incidência de casos de

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estresse ocupacional, síndrome de Burnoute até mesmo o que os japoneses denomina-ram de Karoshi1, vem tornando-se fator depreocupação entre os investigadores da áreada saúde.

Os educadores, na literatura mundial,têm sido apontados como uma das catego-rias profissionais mais propensas ao estres-se. Além de estarem sujeitos à massificaçãoda sociedade moderna, fazendo-os objetodaquilo que idealizam produzir, ainda têmque se preocupar com a carreira, seguran-ça e salário. (Buarque, 1974). O papel deprofessor sofreu intensas modificações. Atu-almente já não goza mais do prestígio quedetinha, recebe salários insuficientes (quan-do não aviltantes, principalmente em algu-mas regiões brasileiras) e a sociedade pas-sou a exigir mais do que o mero ensino dosconteúdos programáticos, isto é, se esperaque promova uma educação global quepressuponha a aquisição de habilidadessociais, desenvolvimento do raciocínio e dacriatividade, entre outras coisas. Com ospais mais ausentes pela necessidade de pro-ver a família, até mesmo o ensino de no-ções básicas, como de civilidade e bons cos-tumes, passou a integrar as atividades do-centes.

Carlotto (2002, p.188) discorrendosobre as condições adversas a que os pro-fessores estão expostos, complementa

Talvez a mais significativa modificação ocorri-da no papel de professor está relacionado ao queEsteve (1999) denomina de “avanço contínuodo saber”. Não se trata somente da necessidadede atualização contínua, mas sim na renúncia aconteúdos e de um saber que vinha sendo de seudomínio durante anos.

Tem-se ainda que considerar a sobre-carga de trabalho por salas de aula super-lotadas, a baixa remuneração que obriga amanutenção de mais de um contrato em-pregatício, infraestrutura deficiente (faltade materiais pedagógicos, biblioteca, etc)além da insegurança advinda da violência

que se apresenta dentro e ao redor dos murosescolares, levando a ansiedade e medo emalguns estabelecimentos educacionais.

Por estas características e outras comoa predominância do sexo feminino, institui-ções essencialmente burocráticas, falta decontrole e autonomia nas atividades desem-penhadas, fazem dos que trabalham direta-mente na docência, um grupo de risco parao desenvolvimento do estresse.

No que diz respeito aos profissionaisde ensino, Codo (1999, p.250) em umaamostra nacional de quase 39.000 trabalhado-res em educação, composta por pessoal deapoio administrativo, secretaria, portaria,alimentação, diretor, limpeza, manutençãoe vários outros, obteve 26.3% de valores ele-vados em exaustão emocional, 9.1% na di-mensão despersonalização e 30.6% apre-sentando reduzida realização profissionalentre os professores2 do ensino fundamen-tal e médio. Infelizmente os autores não in-dicam as médias e nem os pontos de corteutilizados, para que houvesse possibilida-de de comparação, por parte dos leitores,com outras amostras.

Cabe ressaltar que, várias são as razõesque têm despertado o interesse atual pelosefeitos e conseqüências do estresse no con-texto do trabalho, pois este, além de ter sidoconsiderado um fator relevante de risco emrelação as três principais causas de morta-lidade: câncer, doenças cardíacas e cerebro-vasculares (Augusto & Martinez, 1998), têmapresentado um alto custo social e econô-mico para o indivíduo como também à Ins-tituição, refletindo diretamente na produ-tividade através de faltas, desperdício dematerial e ainda, muitas vezes prejudican-do a imagem da instituição. (Garcia Izqui-erdo, 1993).

Araújo (2001, p.18) faz referência aofato de que

As relações entre o stress ocupacional ea saúde mental do trabalhador apontam paraíndices de incapacidade temporária ao tra-balho, absenteísmo, aposentadoria precoce eriscos à saúde decorrentes dessa relação.

Estas preocupações, no entanto, tem

________1 Morte súbita acarretada pela sobrecarga de trabalho.

________2 Número total não relatado.

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surgido mais recentemente entre nós e care-cemos de investigações nesta área, principal-mente em se considerando nossa vasta ex-tensão territorial e diferenças culturais advin-das principalmente das diversas imigrações.

MÉTODO

ProcedimentosInicialmente o projeto foi submetido

a apreciação do Comitê de Ética da Uni-versidade Estadual de Maringá e à Se-cretaria de Educação do Município paraaprovação. Posteriormente, em reunião comos diretores das escolas, foi explanado osobjetivos do estudo e esclarecidas as dúvi-das dos presentes.

Foram visitadas cada uma das escolasque manifestaram interesse em participar(22 das 25 do município), sendo que a ma-neira de abordagem dos professores foi de-terminada por cada instituição, respeitan-do-se as diretrizes internas de cada umadelas. Em algumas, as pesquisadoras en-tregaram e colheram os questionários dire-tamente com os docentes, enquanto que emoutras, uma pessoa ficou encarregada dadistribuição e coleta dos envelopes. A par-ticipação dos professores foi voluntária. Osresultados individuais foram mantidos emsigilo, sendo que a Secretaria recebeu o per-fil geral do grupo como um todo e a cadaescola foi oferecida uma palestra sobre osefeitos do estresse, bem como formas deprevenção e intervenção.

InstrumentosFoi elaborado um protocolo contendo:

a) carta-convite explanando o interesse e afinalidade da investigação; b) Termo deconsentimento livre e esclarecido; c) Ques-tionário elaborado pelas autoras, solicitan-do dados como sexo, idade, escolaridade,profissão, instituição e variáveis pessoais deenfrentamento ao estresse; d) ISE – Inven-

tário de Sintomatologia de Estresse, deMoreno-Jiménez & Benevides-Pereira(2.000).

O ISE foi constituído inicialmente por30 itens. As respostas, foram concebidas parauma freqüência do tipo Likert, indo do 0 para“nunca” e do 4 para “assiduamente” Noprocesso de validação foi utilizada uma amos-tra composta por 1141 de brasileiros de di-versas profissões, sendo 41,9% do sexo mas-culino e 51,1% do feminino, com idade mé-dia de 36,78 (DP=10,34) variando de 18 a75 anos.

Após análise fatorial, o inventário foireduzido para 27 itens pois dois deles havi-am saturado em duas das escalas (itens 1 e7) e o terceiro não havia atingido um míni-mo de 0,30 (23). Desta forma a porcenta-gem de variância total foi de 40,487%, sen-do que os níveis de saturação variaram de,754 a ,390 para a primeira escala, SP – Sin-tomatologia Psicológica e de, 725 a, 456 paraSF – Sintomatologia Física.

Na análise de confiabilidade, o Alfa deCromback foi de, 7741, indicando adequa-da consistência interna.

RESULTADOS

a) Perfil do grupo estudado:Vinte e duas das 25 escolas municipais

da cidade de Maringá concordaram emparticipar da pesquisa. O grupo estudadoficou composto por 170 (22%) dos 779 pro-fessores que pertenciam à rede de ensino,sendo 164 (96.5%) do sexo feminino para4 (2.4%) do masculino, com idade médiade 35.9 (21 anos a 64 anos) e DP=8.09.

Na ocasião, a maioria do grupo (79%)mantinha, um relacionamento estável, e ti-nha entre 1 e 2 filhos (51.7%), sendo que,15,3% dos professores não tinham nenhumfilho e apenas um (0.6%) deles tinha 6 fi-lhos (Tabela 1).

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Quanto ao nível de escolaridade, ape-sar do grupo estar formado por professo-res do ensino fundamental, em que a con-dição acadêmica de magistério é conside-rada suficiente, todos os integrantes do gru-po tinham nível superior, sendo que 89(52.40%) haviam feito ao menos um cursode especialização e outro até mesmo mes-trado (6%).

b) Resultado do ISE (Benevides-Perei-ra & Moreno-Jiménez, 2000)

A avaliação do instrumento que verifi-ca a sintomatologia de estresse (ISE) deno-tou índice médio total de 41,58 (DP=19,71)sendo que para os sintomas psicológicos30,76 (DP=15,25), e os físicos (SF), a mé-dia foi de 10,82 (DP=5,59).

(M=2.68), Irritabilidade fácil (M=2.30), Sen-timento de cansaço mental (M=2.22), Doresnas costas ou nuca (M=2.14) e Problemas devoz (M=2.03).

O gráfico 1 apresenta as médias pon-deradas, isto é, a média considerando onúmero de itens que compõem cada umadas escalas, de forma a permitir uma com-paração entre as mesmas.

DocentesVariáveis

N %masculino 04 2,4

Sexofeminino 164 96,4

c/ companheiro 126 74,1Relações pessoaiss/ companheiro 34 20,0

até 30 anos 46 27,1de 30 a 40 anos 73 42,9Níveis de idade

+ de 40 anos 43 26,5sem filhos 26 15,3com 1 filho 40 23,5com 2 filhos 48 28,2

Filhos

com 3 ou + filhos 27 15,9até 5 anos 24 14,1

se 5 a 15 anos 98 57,6se 15 a 25 anos 27 21,8

Tempo de Magistério

mais de 25 anos 05 2,9até 20 hrs 50 29,4

de 21 a 40 hrs 97 57,1Horas de trabalho

semanais+ de 41 horas 13 7,6

graduação (sup.) 51 30,0especialização 89 63,1Titulação

mestrado 1 0,7

Tabela 1 – Distribuição dos dados sociodemográficos da amostra

Nota. Alguns dados não perfazem 100% da amostra pelo não preenchimento do item.

Escalas Média DP Min Máx.SP 30.76 15.25 0 71SF 10.82 5.59 0 27ISE 41,58 19,71 1 90

Tabela 2 – Distribuição das médias e desvios-padrõesdas escalas do ISE

Legenda: SP: sintomas psicológicos SF: sintomas físi-cos, e ISE: Inventário de sintomatologia de estresse.

Os sintomas mais mencionados foramos seguintes: Pouco tempo para si mesmo

1,537

1,546

1,54

1,532

1,534

1,536

1,538

1,54

1,542

1,544

1,546

SP

SF

ISE

Gráfico 1 – Médias ponderadas das escalas do ISE

Legenda: SP: sintomas psicológicos, SF: sintomas físi-cos e ISE: Inventário de sintomatologia de estresse.

Observa-se que a diferença das médi-as entre as escalas que compõem o ISE émuito pequena.

Ao compararmos estes resultados comas médias apresentadas pelo estudo de va-lidação, notou-se que 103 dos 170 colabo-radores da investigação (60,6%) apresenta-vam valores considerados acima da média.Em relação aos sintomas predominante-

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mente psicológicos (SP), 56,5% (N=45)denotavam pontuação elevada, enquanto

que 61,8% (N=55) refletiam altos índicesde SF (sintomatologia física).

Tabela 3 – Distribuição das escalas do ISE em função da média

ALTO MÉDIO REBAIXADON % N % N %

SP 96 56,5 45 26,5 29 17,1SF 105 61,8 55 32,4 10 5,9ISE 103 60,6 39 22,9 28 16,5

Legenda: SP: sintomas psicológicos, SF: sintomas físicos e ISE: Inventário de sintomatologia de estresse

0

10

20

30

40

50

60

70

SP SF ISE

Alto

Médio

Rebaixado

Gráfico 2 – Distribuição das escalas do ISE em função da média

Legenda: SP: sintomas psicológicos, SF: sintomas físicos e ISE: Inventário de sintomatologia de estresse.

Desta forma verificou-se níveis eleva-dos de sintomatologia de estresse tanto dotipo físico como psicológico no grupo in-vestigado, quando comparado ao grupopadrão.

ANÁLISE DAS VARIÁVEISSÓCIO-DEMOGRÁFICAS

Sexo: Em alguns estudos tem-se veri-ficado a prevalência de sintomas distintosentre homens e mulheres. De um modogeral, as mulheres tem apresentado níveismais elevados em Exaustão Emocional, aopasso que os homens em Despersonalização.Tais dados podem decorrer de característi-cas peculiares a cada gênero – as mulheresexpressam mais livremente suas emoções,conflitos e tensões, o que permitiria lidarmelhor com as emoções negativas, enquan-to que os homens assumem uma posturamenos emotiva e mais racional. Autoresapontam a possibilidade da Exaustão Emo-cional nas mulheres poder decorrer da du-pla jornada (profissional-lar) que a maioriadestas enfrentam (Schaufeli & Ezmann,

1998). Esta amostra, como já explanado, foiconstituída em sua grande maioria por in-tegrantes do sexo feminino e, em contra-posição à maioria dos estudos, não se en-controu diferença significativa quanto aofator sexo, talvez isto possa haver se dadoem função do número reduzido de homensparticipando da investigação. No ISE nãohouve diferença significativa entre as pro-fessoras (N=164, SP - M=30,95 e SF –M=10,86) e os professores (N=4, SP –M=27,0 e SF – M=11,25) (SP, t=0,509:p=0,61 e SP, t=-,135: p=0,89).

Relacionamento afetivo estável. Dos 170professores, 126 responderam que possuí-am um companheiro estável enquanto que34 não. Na comparação de médias atravésda prova t de Student não foi constatada di-ferença significativa entre as médias de ne-nhuma das escalas, indicando que esta va-riável não interferia na manifestação da sin-tomatologia de estresse (Relacionamento Es-tável, SP, M=32,04 e SF, M=11,33, semRel.Estável SP=28,38 e SF=9,88) (SP,t=.1,25: p=0,21 e SF, t=1,366: p=0,17).

Filhos: O fato de ter ou não filhos, ain-da é uma variável muito controvertida naliteratura (Benevides-Pereira, 2002). Na

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presente pesquisa não se constatou diferen-ças significativas (Com filhos, SP, M=31,73 eSF, M=10,85 e sem filhos, SP, M=30,69 e SF,M=11,65) (SP, t=0,314: p=0,75 e SF, t=-0,670, p=0,50).

Tempo de Magistério e Tempo de Serviçona atual instituição. Esta variável, como erade se esperar, correlacionou-se positiva esignificativamente com a variável idade(r=.610 e p=.000). No tocante ao ISE, Tem-po de Magistério não denotou correlação sig-nificativa em nenhuma das duas escalas,tampouco acusou diferenças entre médias,sendo que o mesmo ocorreu em relação aoTempo de Serviço na instituição atual.

Titulação. A titulação dos docentes nãorefletiu diferenças de médias significativasentre as três categorias presentes no grupo(graduados no ensino superior, com especiali-zação e com mestrado).

Horas de trabalho semanais. Esta variá-vel apresentou altas correlações com as es-calas do ISE, denotando a importância destefator no desencadeamento de sintomato-logia característica de estresse. Os resulta-dos de Pearson encontrados foram: SP(r=.247 e p=.002) e SF (r=.229 e p=.004).

Na comparação de médias pelo méto-do ANOVA, nota-se que os que trabalha-vam até 20 horas semanais apresentavammédias semelhantes às da população emgeral (SP, M=24,44 e SF, M=8,85). Houvediferença significativa entre as 3 categoriasestudadas (até 20 horas, de 20 a 40 horas ecom mais de 40 horas). A sitomatologiapsicológica é mais elevada entre os que sededicavam de 20 a 40 horas ao magistério(SP, M=34,93, F=8,429, p=0,000), enquan-to que a sintomatologia física foi maior en-tre os com mais de 40 horas por semana(SF, M=12,46, F=5,739, p=0,004).

Interferência da Profissão na Vida Pesso-al. Ao se investigar o sentimento que osparticipantes revelaram no tocante à Inter-ferência da Profissão na Vida Pessoal, obteve-se 120 respostas afirmativas para apenas 36negativas, sendo que 14 dos 170 integran-tes do grupo não responderam. Através daProva t de Student foram encontradas dife-renças de médias significativas para todas

as duas escalas do ISE (Sim, SP, M=34,73 eSF, M=11,82 e Não, SF, M=20,45 e SF,M=8,45), (SP, t=5,274, p=0,00 e SF,t=3,260, p=0,00).

Este dado é coerente com o sentimen-to pessoal e indicativo de que, profissionaisque sentem suas vidas influenciadas pelaatividade que exercem, apresentam maio-res níveis de sintomatologia de estresse, tan-to físicos como psicológicos, sejam eles dotipo individuais ou relacionais.

Pode-se aventar a hipótese de que es-tes resultados se devam ao caráter assisten-cial desta profissão, que implica numa rela-ção direta, e muitas vezes carregada de as-pectos emocionais, com os alunos.

Psicoterapia Pessoal. Dentre os partici-pantes do grupo investigado, 35 professo-res já haviam procurado, ou estavam se sub-metendo a psicoterapia pessoal, sendo que132 nunca foram a um psicoterapeuta e 3não responderam a esta questão. Através dacomparação de médias, utilizando-se o mé-todo de t de Student, verificou-se diferençasignificativa entre as médias das escalas desintomatologia de estresse, entre os gruposque procuraram ou não psicoterapia. Asmédias dos que procuravam um atendimen-to foram significativamente mais elevadas(Sim, SP, M=37,01 e SF, M=12,53 para NãoSP,M=29,14 e SF, M=10,40, sendo SP,t=2,758: p=0,00 e SF, t=2,011: p=0,04). Noentanto, dos que buscaram psicoterapia(N=36) apenas 6 afirmaram haver concluí-do o processo. Assim, como na variável an-terior, subdividindo-se o grupo entre os quehaviam terminado ou não o processo psico-terápico, estes também apresentavam dife-renças significativas em todas as escalas doISE. Os profissionais que terminaram a psi-coterapia revelavam, em relação aos que nãoconcluíram, uma manifestação sintomato-lógica menor. Os sintomas de estresse erammais expressivos nos profissionais que havi-am buscado psicoterapia, demonstrando anecessidade dessa busca, porém observou-se que eram menos acentuados naqueles quea concluíram (Concluído, SP, M=19,33 e SF,M=7,00 sendo que para os não concluídos, SP,M=40,42 e Sf, M=14,22 – SP, t=-3,382,p=0,00 e SF, t=-2,898, p=0,00).

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Tal fato vem a confirmar o que a lite-ratura aponta sobre a psicoterapia, ondeesta mostra-se um método eficaz no auxí-lio ao estresse.

Realmente, notamos que a psicoterapia vem sen-do adotada como um excelente auxiliar não sócomo suporte para enfrentar o burnout da pro-fissão, mas também como meio de crescimento eaprendizagem. (Benevides-Pereira, 2001,p.45).

Vários são os autores que apontam paraa necessidade de um suporte no enfrenta-mento da situação, numa tentativa de mi-nimizar os efeitos do estresse, principal-mente quando não há como interferir noambiente organizacional. Assim, mais umavez destaca-se o papel da psicoterapia noauxílio ao indivíduo.

Profissão menos Interessante. Observa-setambém que o interesse pela profissão veioa decair entre os que apresentavam maiorsintomatologia de estresse, revelando o de-sencanto pela carreira (Profissão menos inte-ressante, SP, M=36,66 e SF, M=12,71 paraSP, M=26,72 e SF, M=9,56 dos que mantémo interesse, sendo SP, t=4,327: p=0,00 et=3,731: p=0,00).

Vontade de mudar de profissão. Verifica-se que houve diferença significativa de mé-dias entre os participantes que responde-ram positivamente (N=81) e os que con-testaram negativamente (N=89) quanto aoseu desejo de mudar de profissão. Os queresponderam afirmativamente obtiverammédias superiores em relação aos que nãopensavam em dedicar-se a outra coisa quenão a docência, indicando a provável inter-ferência da sintomatologia experimentada(Mudança, SP, M=34,36 e SF, M=27,18, paraos que permaneciam SP, M=27,48 e SF,M=9,61, sendo SP, t=3,008: p=0,003 et=3,026: p=0,003)

O ISE evidenciou que mais da metade(60,6%) dos profissionais do grupo estuda-do apresentavam sintomas indicativos desintomatologia de estresse. Observou-seque os índices de sintomatologia física epsicológica atingiam porcentagens acima da

média, o que influenciou o resultado geraldo índice como um todo.

Sendo o burnout decorrência de umestresse ocupacional crônico, estes altosescores, obtidos através do ISE, indicamuma elevada probabilidade de que os pro-fissionais aqui estudados venham a ma-nifestar a síndrome de burnout.

Pode-se observar que alguns fatorescomumente indicativos como predisponen-tes ao estresse, não denotavam diferençassignificativas neste grupo, o que já haviasido detectado por outros autores (Benevi-des-Pereira, 2002; Schaufeli & Ezmann,1998).

O sentimento de que a profissão in-terferia negativamente na vida pessoal re-velou que tal sensação vinha acompanha-da e sedimentada na sintomatologia psico-lógica e física sentida. Observou-se que amanifestação do estresse interferia tambémna manutenção pelo interesse na profissãoe o desejo em mudar de ocupação. Destaforma, profissionais concursados e treina-dos pela instituição, muitas vezes deman-dando alto investimento financeiro e tem-poral, abandonam sua atividade por sentirque esta os desgasta e os predispõem aoadoecimento.

Verificou-se uma relação direta entre onúmero de horas dedicadas à docência e asintomatologia de estresse, advertindo nosentido da redução do número de horas/aula ao dia ou no sentido da diversificaçãodas atividades na escola.

A psicoterapia pessoal refletiu ser umprocesso válido na redução da sintomato-logia do estresse e portanto apropriadamen-te indicado, principalmente quando os es-tressores institucionais não são passíveis demodificação.

Autores têm apontado a necessidadeda adoção de medidas preventivas ou atémesmo interventivas nesta categoria pro-fissional. Cada vez mais notamos que asaúde mental no trabalho deve sendo pri-orizada, visando um resgate dos valoreshumanos e do significado do trabalho navida das pessoas. Desta forma, incremen-tando-se o bem estar do indivíduo, nota-

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se o reflexo desta medida do aumento daqualidade de vida deste, bem como obser-va-se a repercussão favorável na institui-ção e, conseqüentemente, nos serviços porela ofertados.

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