Artigo capacidade antiox_oleos_vegetais_2011

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Rev. Nutr., Campinas, 24(1):173-187, jan./fev., 2011 Revista de Nutrição COMUNICAÇÃO | COMMUNICATION 1 Artigo elaborado a partir da dissertação de V.N. CASTELO-BRANCO, intitulada “Capacidade antioxidante total de óleos vegetais refinados: contribuição ao estudo de seus determinantes”. Universidade Federal do Rio Janeiro; 2009. 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos, Laboratório de Bioquímica Nutricional e de Alimentos. Av. Athos da Silveira Ramos, 149, Centro de Tecnologia, Bloco A, Sala 528A, Cidade Universitária, 21941-909, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: A.G. TORRES. E-mail: <[email protected]>. Capacidade antioxidante total de óleos vegetais comestíveis: determinantes químicos e sua relação com a qualidade dos óleos 1 Total antioxidant capacity of edible vegetable oils: chemical determinants and associations with oil quality Vanessa Naciuk CASTELO-BRANCO 2 Alexandre Guedes TORRES 2 R E S U M O A capacidade antioxidante total de óleos vegetais comestíveis é determinada por sua composição físico-química e pode estar associada a atributos de qualidade dos óleos, especialmente a sua bioatividade e possivelmente a sua estabilidade oxidativa. Este artigo apresenta os fundamentos dos ensaios de capacidade antioxidante total e avalia criticamente os ensaios aplicáveis na análise de óleos e os pontos críticos nas aplicações dos ensaios para a análise dessas amostras. Discute-se o potencial papel dos componentes químicos dos óleos comestíveis como determinantes da capacidade antioxidante total, assim como a possível relação da capacidade antioxidante com a bioatividade e a estabilidade oxidativa dos óleos. Finalmente, discutem-se evidências de que, caso seja sistematicamente investigado em trabalhos experimentais futuros, o uso de ensaios de capacidade antioxidante total na análise de óleos vegetais pode contribuir para integrar o conhecimento da composição química com a bioatividade e possivelmente com a estabilidade de óleos vegetais específicos. Dessa forma, os ensaios de capacidade antioxidante apresentam potencial para aplicação no controle da qualidade integral de óleos comestíveis. Termos de indexação: Antioxidantes. Óleos vegetais. Peroxidação de lipídeos. Radicais livres. A B S T R A C T The total antioxidant capacity of edible vegetable oils is determined by their physical-chemical composition and might be associated with their quality attributes, especially with bioactivity and possibly with oxidative

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CAPACIDADE ANTIOXIDANTE TOTAL DE ÓLEOS VEGETAIS | 173

Rev. Nutr., Campinas, 24(1):173-187, jan./fev., 2011 Revista de Nutrição

COMUNICAÇÃO | COMMUNICATION

1 Artigo elaborado a partir da dissertação de V.N. CASTELO-BRANCO, intitulada “Capacidade antioxidante total de óleosvegetais refinados: contribuição ao estudo de seus determinantes”. Universidade Federal do Rio Janeiro; 2009.

2 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos, Laboratóriode Bioquímica Nutricional e de Alimentos. Av. Athos da Silveira Ramos, 149, Centro de Tecnologia, Bloco A, Sala 528A,Cidade Universitária, 21941-909, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: A.G. TORRES.E-mail: <[email protected]>.

Capacidade antioxidante total de óleosvegetais comestíveis: determinantesquímicos e sua relação com aqualidade dos óleos1

Total antioxidant capacity of edible vegetable

oils: chemical determinants and

associations with oil quality

Vanessa Naciuk CASTELO-BRANCO2

Alexandre Guedes TORRES2

R E S U M O

A capacidade antioxidante total de óleos vegetais comestíveis é determinada por sua composição físico-químicae pode estar associada a atributos de qualidade dos óleos, especialmente a sua bioatividade e possivelmente asua estabilidade oxidativa. Este artigo apresenta os fundamentos dos ensaios de capacidade antioxidante totale avalia criticamente os ensaios aplicáveis na análise de óleos e os pontos críticos nas aplicações dos ensaiospara a análise dessas amostras. Discute-se o potencial papel dos componentes químicos dos óleos comestíveiscomo determinantes da capacidade antioxidante total, assim como a possível relação da capacidade antioxidantecom a bioatividade e a estabilidade oxidativa dos óleos. Finalmente, discutem-se evidências de que, caso sejasistematicamente investigado em trabalhos experimentais futuros, o uso de ensaios de capacidade antioxidantetotal na análise de óleos vegetais pode contribuir para integrar o conhecimento da composição química com abioatividade e possivelmente com a estabilidade de óleos vegetais específicos. Dessa forma, os ensaios decapacidade antioxidante apresentam potencial para aplicação no controle da qualidade integral de óleoscomestíveis.

Termos de indexação: Antioxidantes. Óleos vegetais. Peroxidação de lipídeos. Radicais livres.

A B S T R A C T

The total antioxidant capacity of edible vegetable oils is determined by their physical-chemical compositionand might be associated with their quality attributes, especially with bioactivity and possibly with oxidative

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stability. The current review presents the fundamentals of total antioxidant capacity assays and critically evaluatesthe assays applicable to the analysis of oils. The role of the chemical components of edible oils as determinantsof total antioxidant capacity is discussed, as well as the potential associations between antioxidant capacityand bioactivity or oxidative stability of the selected oils. Finally, we discuss evidences that, if systematicallyaddressed in future experimental work, the application of total antioxidant capacity assays to vegetable oilsmight contribute to link the knowledge about their chemical composition with their bioactivity, and possiblywith the stability of specific vegetable oils. Thus, antioxidant capacity assays can potentially be used for thequality control of edible oils.

Indexing terms: Antioxidants. Plant oils. Lipid peroxidation. Free radicals.

I N T R O D U Ç Ã O

Os antioxidantes naturais de óleos vegetaisapresentam potencial efeito na prevenção dedoenças crônicas, pois são capazes de protegersistemas biológicos contra a ação de espéciesreativas de oxigênio e nitrogênio, responsáveis pordanos oxidativos aos lipídeos, proteínas e ácidosnucleicos1,2. Além de apresentarem bioatividadeno organismo humano, os antioxidantes naturaisprotegem os óleos vegetais contra a ação de radi-cais livres que iniciam e perpetuam a peroxidaçãolipídica, que consiste na principal forma de degra-dação dos óleos vegetais e em importante fontede prejuízos para a indústria de alimentos3. Dessaforma, os antioxidantes naturais presentes nosóleos vegetais têm sido foco de interesse científicoe tecnológico nas áreas de ciência de alimentos enutrição, a partir de duas abordagens principais:promoção de maior estabilidade oxidativa dosóleos e bioatividade no organismo humano. A ca-pacidade antioxidante total dos óleos vegetais,possivelmente, sintetiza de forma integrada aação dos antioxidantes, com potencial benefíciopara a saúde humana e para a estabilidade deóleos vegetais específicos.

Uma grande variedade de antioxidantesnaturais está presente nos óleos vegetais, taiscomo os tocóis (α-, β-, γ- e δ-tocoferol e toco-trienol), os carotenoides, os compostos fenólicose os esteróis (Figura 1). Além disso, diversosantioxidantes sintéticos podem ser adicionadosaos óleos com a finalidade de protegê-los daoxidação, tais como o Butil-Hidroxi-Anisol (BHA),Butil-Hidroxi-Tolueno (BHT) e Terc-Butil-Hidroqui-nona (TBHQ)3. Atualmente, sugere-se que a ativi-dade dos compostos antioxidantes dependa de

Figura 1. Estruturas químicas dos principais antioxidantes natu-

rais presentes nos óleos vegetais comestíveis: tocoferóis

e tocotrienóis; hidroxitirosol; ácido cafeico; β-caroteno

e β-sitosterol.

X

Y

HO

CH3

HO

X=CH3 Y=CH3 alfaX=CH3 Y=H betaX=H Y=CH3 gamaX=H Y=H delta

CH3

HO OH

HOHO

OH

COOOH

Ácido cafeico

HO

Tocoferol

xTocotrienol

Hidroxitirosol

Beta-sitoesterol

Y

Beta-caroteno

diversos fatores físico-químicos, como, por exem-plo, interações entre os compostos antioxidantese destes com outros componentes do meio, comoácidos graxos quimicamente ligados a fosfolipí-deos ou triacilgliceróis4. Portanto, o estudo de umcomposto, isoladamente, pode levar a resultadoslimitados. Por isso, existe um crescente interessepor métodos capazes de avaliar de forma inte-

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grada a ação de compostos antioxidantes pre-sentes nos óleos vegetais. Possivelmente, os en-saios de capacidade antioxidante irão atender aessa demanda5,6.

A determinação da capacidade antioxi-dante em óleos pode ser considerada um desafioanalítico, pois a maioria dos métodos foi desen-volvida para a análise de compostos hidrofílicosem amostras aquosas ou hidrofílicas. Os óleosvegetais são hidrofóbicos e não se misturam aomeio aquoso, peculiar aos ensaios de capacidadeantioxidante. Consequentemente, a turbidez daamostra prejudica a determinação e os resultadosgerados não são reprodutíveis7. Dessa forma, sãonecessárias adaptações nos ensaios de capacidadeantioxidante para amostras cujos componentesmajoritários sejam lipídeos. Entretanto, algunsensaios são de difícil adaptação para a análise deóleos vegetais, tornando os resultados de difícilinterpretação e pouco informativos. É crescenteo número de investigações a respeito da capa-cidade antioxidante de óleos vegetais, porémainda não há consenso a respeito da melhor ma-neira de adaptar os ensaios disponíveis, e aquantidade de informação publicada ainda éinsuficiente.

Esta revisão tem como objetivos sistema-tizar conhecimentos sobre os fundamentos e aaplicação de ensaios de capacidade antioxidantepara a análise de óleos e avaliar criticamente opotencial que os ensaios de capacidade antioxi-dante apresentam como indicadores da bioativi-dade dos óleos e, possivelmente, da estabilidadede óleos específicos. Dessa forma, espera-se esti-mular a geração de conhecimentos científicosmais abrangentes quanto aos determinantes e aavaliação da qualidade dos óleos vegetais co-mestíveis.

Métodos de análise da capacidadeantioxidante total de óleos vegetais

Os ensaios analíticos utilizados para a de-terminação da capacidade antioxidante são ba-seados em dois mecanismos de reação (Figura 2):

Transferência de Átomo de Hidrogênio (HAT -Hydrogen Atom Transfer) e Transferência de umElétron (SET - Single Electron Transfer). Para ambosos mecanismos de reação o objetivo é determinaro efeito protetor da amostra contra os radicaislivres, porém eles se diferenciam quanto ao radicaliniciador, à cinética da reação e às reações la-terais6.

Os métodos baseados no mecanismo deHAT investigam a capacidade dos antioxidantesem bloquear a ação dos Radicais Peroxila (ROO )através da doação de hidrogênio. Esses ensaiossão compostos por um gerador sintético de ra-dicais, responsável pela manutenção do fluxoconstante de ROO , pelos antioxidantes (da amos-tra ou do padrão) e por uma sonda molecular(substrato oxidável) que, quando oxidada pelaespécie reativa, apresenta sinal mensurável (absor-bância UV-Vis ou fluorescência). O antioxidanteinibe, por competição, a oxidação do substratopela espécie reativa de oxigênio. Consequente-mente ocorrerá uma mudança no sinal medido,e a capacidade antioxidante da amostra pode serquantificada. A presença dos ROO no sistemacomo iniciadores da oxidação e a reação decompetição, que é similar à peroxidação lipídicaocorrida naturalmente nos alimentos, tornam osensaios com mecanismo de HAT representativosde um sistema alimentar em condições reais. En-tretanto, ainda existem controvérsias a respeito

Figura 2. Esquemas dos principais mecanismos de reação dos

ensaios de capacidade antioxidante total, aplicados na

análise de óleos vegetais.

Nota: A: mecanismo de transferência de átomo de hidrogênio (HAT);

B: mecanismo de transferência de um elétron (SET).

Sonda molecular

Espécie reativa Espécie reativa reduzida

Antioxidante Antioxidante oxidado

Antioxidante oxidado

Espécie reativa Espécie reativa reduzida

Sonda oxidada

A

B

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dessa representatividade, pois nesses ensaios aconcentração do substrato oxidável (sonda mo-lecular) é frequentemente menor do que a doantioxidante. Essa condição é contrastante comas condições reais da peroxidação lipídica emalimentos, onde a concentração do antioxidanteé muito menor do que a do substrato oxidável5,6.

Os métodos baseados no mecanismo deSET envolvem apenas dois componentes: osantioxidantes e o agente oxidante, que tambémserá a sonda molecular, responsável pelo sinalmensurável da reação (absorbância UV-Vis). Asonda oxidante abstrai um elétron do antioxi-dante, causando uma mudança na sua própriaabsorbância, permitindo o acompanhamento dareação e a determinação da capacidade antioxi-dante da amostra. Dessa forma, os ensaios commecanismo de SET detectam a capacidade daamostra em reduzir o oxidante, que não precisaser estritamente um radical livre, ao contrário dosensaios com mecanismo de HAT. Compostos car-bonílicos e metais também participam comoagentes oxidantes nesse tipo de ensaio. Os ensaiosde SET apresentam mecanismos não competitivose não se utilizam de espécies reativas de oxigênioe, por isso, são considerados menos represen-tativos das condições reais em um alimento, quan-do comparados aos ensaios com mecanismo deHAT5,6.

Os mecanismos de SET e HAT, na maioriadas vezes, ocorrem simultaneamente nos alimen-tos, e seu equilíbrio é determinado principalmentepelas propriedades químicas dos antioxidantes epelas características físico-químicas do alimento.Portanto, para que a determinação da capacidadeantioxidante seja mais completa e representativa,recomenda-se o uso de mais de um ensaio, demodo a contemplar ambos os mecanismos dereação.

Muitos ensaios já foram desenvolvidospara determinar a capacidade antioxidante dosalimentos de composição complexa, como repor-tado em revisões recentes da literatura5,6,8. Entre-tanto, ainda não existem ensaios recomendadosoficialmente, embora Prior et al.6 tenham sugerido

três ensaios como candidatos potenciais parapadronização: ORAC (Oxygen Radical AbsorbanceCapacity), baseado no mecanismo de HAT; TEAC(Trolox Equivalent Antioxidant Capacity) e o ensaiode Folin-Ciocalteu, ambos baseados no meca-nismo de SET. A falta de padronização dos ensaiosfaz com que existam diferenças fundamentais nosprotocolos analíticos, como o uso de diferentessolventes e a adoção de diferentes pontos-finaisda reação e maneiras de expressar os resultados.Essas importantes variações nos protocolos limi-tam as possibilidades de comparações entre amos-tras de alimentos de diferentes estudos, uma vezque afetam os valores da capacidade antioxi-dante9,10.

As propriedades físico-químicas da fraçãohidrofílica e da fração lipofílica dos óleos vegetaissão extremamente diferentes. Quanto à sua com-posição química, a fração hidrofílica apresenta oscompostos fenólicos, enquanto a fração lipofílicaapresenta os tocóis, os esteróis, os carotenoides,as clorofilas e os acil-gliceróis. Devido aos dife-rentes métodos de extração da fração hidrofílica,que em geral se utilizam de metanol ou acetona,no presente trabalho a fração hidrofílica será cha-mada de fração polar, e a fração lipofílica, de fra-ção apolar. Sugere-se que, para a obtenção deresultados representativos da capacidade antioxi-dante de óleos, a fração apolar deve ser separadada polar, devendo ser determinada separada-mente a capacidade antioxidante de cada umadelas. Dessa forma, o somatório da capacidadeantioxidante das frações deve representar a capa-cidade antioxidante integral do óleo4.

No entanto, a atividade antioxidante doscomponentes dos óleos pode ser afetada pelosinergismo entre os compostos antioxidantes e

pela complexa afinidade dos compostos com asinterfaces ar-óleo, ar-água e/ou óleo-água nomeio11-13. A localização dos antioxidantes em inter-

faces causa um fenômeno conhecido como para-doxo polar, no qual os antioxidantes polares sãomais efetivos em meios apolares e vice-versa13.Consistentemente com essas complexas intera-ções moleculares, Espín et al.14 observaram maiores

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valores de capacidade antioxidante em óleosvegetais analisados sem separação de frações,quando comparados aos somatórios das frações

polar e apolar. Esses resultados sugerem meca-nismos de ação distintos para os compostos an-tioxidantes nas diferentes frações isoladas. Por-

tanto, é recomendável determinar a capacidadeantioxidante integral dos óleos através das duasabordagens, na amostra integral e pelo somatório

da capacidade antioxidante das frações polar eapolar. Essa recomendação tem sido atendida emestudos recentes15.

Recentemente, diferentes métodos têm

sido utilizados para a determinação da capacidadeantioxidante em óleos vegetais, como os ensaiosda TEAC16, do DPPH (radical 2,2- difenil-1-

picrilhidrazilo)14,15, do FRAP (Ferric ReducingAntioxidant Power)1,17 e da ORAC1,18. EmboraPrior et al.6 tenham sugerido que apenas os en-

saios de TEAC e ORAC são passíveis de adapta-ção para os compostos lipofílicos, houve adapta-ções de protocolos para outros ensaios14,19. No

Quadro 1, destacam-se algumas das principaiscaracterísticas e diferenças entre os ensaios maisutilizados para a determinação da capacidade

antioxidante de óleos vegetais.

O ensaio do DPPH é o mais amplamenteutilizado para a determinação da capacidadeantioxidante em diferentes óleos vegetais14,15,20.Esse ensaio envolve o mecanismo de SET e margi-nalmente o de HAT, e baseia-se na determinaçãoda capacidade dos antioxidantes (da amostra oudo padrão) em reduzir o radical DPPH . A capa-cidade redutora da amostra é determinada atravésda redução da absorbância (515-528nm) do radi-cal por 30 minutos ou até cessar a queda na absor-bância6. Geralmente, os resultados são apresen-tados como EC50, que expressa a concentraçãode amostra antioxidante ou padrão, necessáriapara reduzir em 50% a concentração inicial doDPPH . Originalmente, o ensaio utiliza metanolcomo solvente para o DPPH e para as amostras5.No entanto, como o metanol não dissolve óleoscomestíveis, são necessárias adaptações para oscompostos lipofílicos dos óleos vegetais, por meioda utilização de solventes apropriados para amos-tras lipídicas.

Espin et al.14 testaram o efeito da disso-lução do DPPH e da fração apolar dos óleos ve-getais com diferentes solventes orgânicos sobrea capacidade antioxidante. Os melhores resul-tados foram obtidos com o acetato de etila, sendoesse protocolo seguido em alguns estudos poste-

Quadro 1. Características selecionadas e principais diferenças entre os ensaios mais utilizados para a determinação in vitro da capacida-

de antioxidante total (CAT) de óleos vegetais.

Ensaioa

DPPH

TEAC

FRAP

ORAC

Mecanismo

da reaçãob

HAT e SET

HAT e SET

SET

HAT

Acompanhamento

da reação

Espectrofotometria 515-528nm

Espectrofotometria 734nm

Espectrofotometria 595nm

Fluorimetria excitação 485nm

emissão 525nm

Princípio do cálculo

da CATc

EC50

Abs Final – Abs Inicial

ou

AUC de Abs vs. t

Abs Final – Abs Inicial

AUC de Abs vs. t

CAT lipofílica

e hidrofílica

Não

Sim

Não

Sim

Referências de aplicação

em óleos vegetais

2, 14, 15, 20 e 21

16 e 23

1, 17 e 24

1, 10, 18 e 25

a DPPH: DPPH assay (ensaio do radical 2,2- difenil-1-picrilhidrazilo); TEAC: trolox equivalent antioxidant capacity (capacidade antioxidante em

equivalentes de trolox), também conhecido por ensaio ABTS, em função do radical estável ABTS + usado no ensaio; FRAP: ferric reducing antioxidant

power (poder antioxidante por redução do íon férrico); ORAC: oxygen radical absorbance capacity (capacidade de absorção de radicais de

oxigênio).b HAT: transferência de átomo de hidrogênio. (hydrogen atom transfer); SET: transferência de um elétron (single electron transfer).c EC50, quantidade de amostra necessária para reduzir à metade a absorbância inicial do radical DPPH; Abs, absorbância; AUC de Abs vs. t (min),

área abaixo da curva de absorbância contra o tempo do ensaio em minutos.

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riores15,20. Outros solventes têm sido utilizados,tais como tolueno2 e isooctano21, porém são me-nos frequentes na literatura. Nos estudos que utili-zaram o ensaio do DPPH , observa-se que, alémde diferentes solventes, foram empregadas dife-rentes maneiras de expressar os resultados, tor-nando-os não comparáveis diretamente2,14,15,20,21.Pelo ensaio do DPPH , em geral os óleos de soja ede milho apresentam os maiores valores de capa-cidade antioxidante integral e para a fração apolar,enquanto o azeite de oliva extra-virgem apresentaos maiores valores de capacidade antioxidantepara a fração polar.

Assim como o ensaio do radical DPPH, oensaio da TEAC baseia-se nos mecanismos de SETe HAT. O ensaio da TEAC estima a capacidade doantioxidante em eliminar o radical cromóforoABTS + (2,2’-azino-bis-(3-etil-benzotiazolina)-6-sulfônico), que tem sua absorbância reduzida àmedida que reage com os antioxidantes. Obser-vam-se picos de absorbância do radical ABTS +

nos comprimentos de onda de 414, 645, 734 e815nm. Entretanto, 734nm é o comprimento deonda de escolha, pois minimiza a influência daturbidez e de interferentes da amostra8. O trolox(6-hidroxi-2,5,7,8-tetrametilcromano-2-ácidocarboxílico, análogo hidrossolúvel da vita-mina E)é o antioxidante usado como padrão nesse ensaio,e a reatividade das amostras é expressa comoequivalentes molares desse padrão. O grau de eli-minação do ABTS + é determinado em função daconcentração dos antioxidantes (padrão ou amos-

tras) em tempos de reação fixos pré-determi-nados ou em ensaio cinético onde se mede acontribuição total da atividade antioxidante atra-

vés do cálculo da área abaixo da curva deAbsorbância vs. tempo22.

O ensaio da TEAC tem sido utilizado nadeterminação da capacidade antioxidante dediferentes óleos vegetais16,23. Segundo Pellegriniet al.16, o uso do solvente n-hexano permitiu me-lhor solubilização das amostras de óleo e, conse-quentemente, maior ação antioxidante de seuscomponentes. Nessa investigação, o hexano foicompatível apenas com o ensaio da TEAC, pois

não foi possível dissolver em hexano os reagentesusados nos ensaios de FRAP e TRAP (Total Radical--trapping Antioxidant Potential), que também fo-ram investigados. Dessa forma, pode-se sugerirque a TEAC possibilita uma determinação maiscompleta da capacidade antioxidante de óleos,pois é compatível com o uso de solvente suficien-temente apolar para dissolver amostras lipídicas.Resultados do ensaio da TEAC indicam que amos-

tras dos óleos de soja e milho apresentam valoresrelativamente elevados de capacidade antioxi-dante, enquanto o azeite de oliva refinado apre-

senta valores relativamente baixos. Obteve-se ran-queamento similar dos valores de capacidade an-tioxidante desses óleos, quando analisados pelo

ensaio do DPPH 16,23. Dessa forma, pode-se sugerirque o ensaio do DPPH pode ser aplicado pararanquear as amostras de óleo quanto à capaci-

dade antioxidante, embora não apresente resulta-dos quantitativos representativos da capacidadeantioxidante de óleos.

O ensaio do FRAP é totalmente baseado

no mecanismo de SET e estima a capacidade dosantioxidantes em reduzir o complexo de FerroFérrico Tripiridiltriazina (Fe+3-TPTZ) ao complexo

de Ferro Ferroso Tripiridiltriazina (Fe+2- TPTZ) empH 3,6. No ensaio do FRAP, o complexo Fe+2-TPTZ,formado na presença de antioxidantes, apresenta

coloração azul e a absorbância da solução é medi-da em 595nm, permitindo o monitoramento daatividade redutora da amostra. Recentemente, os

resultados desse ensaio têm sido apresentadoscomo equivalentes de trolox10. Devido aos poten-ciais redox comparáveis do Fe+3-TPTZ (0,70 V) e

do ABTS + (0,68 V), os compostos antioxidantesque reagem no ensaio do FRAP tendem a reagirde forma similar no ensaio da TEAC, gerando

resultados que se correlacionam positivamente19.

O ensaio do FRAP tem sido utilizado princi-palmente para determinação da capacidade an-tioxidante na fração polar de óleos vegetais ricosem compostos fenólicos, como azeite de oliva e

óleo de canola1,24, pois o reagente do ensaio doFRAP é incompatível com os solventes orgânicos

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utilizados para dissolver óleos ou sua fraçãoapolar6. Recentemente, Jimenez-Alverez et al.19

reportaram o uso de β-ciclodextrina aleatoriamen-te metilada para dissolver adequadamente a fra-

ção apolar de orégano e permitir a reação desseextrato com o reagente do FRAP. Entretanto, nãofoi possível localizar artigos publicados que repor-

tassem a aplicação dessa abordagem analíticapara a determinação da capacidade antioxidantede óleos vegetais.

O ensaio da ORAC baseia-se no meca-nismo de HAT, sendo o método mais indicado paraavaliar a capacidade protetora de amostras de

alimentos contra os ROO . A sonda molecular(fluoresceína) usada nesse ensaio tem sua fluores-cência reduzida como consequência da oxidação

promovida por radicais livres. A capacidade dosantioxidantes em retardarem a redução da fluores-cência da sonda molecular é monitorada fluoro-

metricamente (ex 485nm/ em 525nm) por 35 mi-nutos a 37°C. A quantificação dos resultados érealizada através do cálculo da área abaixo da

curva e expressa como equivalentes de trolox, queé usado como padrão5-7. Segundo Prior et al.6 re-sultados mais reprodutíveis tem sido obtidos com

a utilização de leitores de microplacas com injetorautomático e controle de temperatura, capazesde ler a fluorescência em ensaio cinético.

Os ensaios da ORAC, assim como o ensaio

do FRAP, têm sido utilizados para a determinaçãoda capacidade antioxidante da fração polar deóleos vegetais com concentração relativamente

elevada de compostos fenólicos1,7,25. Contudo,esse ensaio pode ser adaptado para estimar acapacidade antioxidante de ambas as frações dos

óleos vegetais, utilizando o mesmo gerador deradicais e sonda molecular. Huang et al.26 introdu-ziram e validaram o uso da β-ciclodextrina aleato-riamente metilada como meio para a dispersãodos antioxidantes lipofílicos na solução aquosa doensaio da ORAC. No entanto, apenas recente-mente, Miraliakbari et al.18 utilizaram a β-ciclo-dextrina aleatoriamente metilada no ensaio daORAC para determinar a capacidade antioxidante

de óleos de nozes e castanhas. A β-ciclodextrinametilada parece ser um bom candidato para tor-nar os óleos vegetais compatíveis com os ensaiosque utilizam solventes polares.

É importante notar que a polaridade dossolventes influencia ambos os mecanismos deatividade antioxidante dos ensaios, pois afetam adoação de átomos de hidrogênio e a transferênciade elétrons6,10. Pérez-Jiménez & Saura-Calixto10

avaliaram a influência da polaridade do solventesobre a capacidade antioxidante, determinadapelos ensaios de DPPH , FRAP, ORAC e TEAC, emsistemas-modelo de antioxidantes. Verificou-seclara influência do solvente nos quatro ensaios.Os ensaios da ORAC e da TEAC foram os maisafetados pela polaridade do solvente, porém dis-tintamente. O ensaio da ORAC apresentou maiorcapacidade antioxidante quando solventes maisapolares foram utilizados, enquanto o ensaio daTEAC apresentou maior capacidade antioxidantequando solventes mais polares foram utilizados.

A alta capacidade de formação de ligaçõesde hidrogênio dos solventes polares pode alterardrasticamente a doação de hidrogênio dos antioxi-dantes, reduzindo sua capacidade antioxidante10.Em óleos vegetais, nos quais os diferentes com-postos podem haver interações entre os com-ponentes e destes com o solvente. Desta forma,a influência do solvente sobre os mecanismos deHAT e/ou SET pode ser ainda maior. Entretanto, ainfluência da polaridade do solvente sobre acapacidade antioxidante de óleos ainda não foiinvestigada de forma sistemática.

Os ensaios de DPPH , FRAP, ORAC e TEACsão os mais utilizados para a determinação dacapacidade antioxidante de óleos vegetais.Recomenda-se combinar ao menos dois ou, sepossível, todos os ensaios para a obtenção deinformações mais completas quanto à capacidadeantioxidante dos óleos. Por outro lado, só se devefazer comparações diretas da capacidade antioxi-dante de óleos vegetais entre diferentes estudosquando se utilizam os mesmos ensaios e solventes;caso contrário, os resultados podem variar muitoentre estudos, tornando-os incomparáveis5,6,9,10.

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Composição físico-química de óleosvegetais e sua relação com acapacidade antioxidante total

Os óleos vegetais constituem-se predomi-nantemente por triacilgliceróis, frequentementericos em ácidos graxos poli-insaturados. Tambémestão presentes alguns lipídeos formados duranteo processamento, como mono- e diacilgliceróis eácidos graxos livres. Além disso, os óleos vegetaiscontêm pequenas quantidades de esteróis, toco-feróis, tocotrienóis, compostos fenólicos, pigmen-tos (carotenoides e clorofilas) e metais de transiçãocomo ferro e cobre3. Dentre esses compostos, ostocóis e compostos fenólicos têm sido objeto demuitos estudos, devido a sua atividade antioxi-dante.

Os óleos vegetais são a principal fonte detocóis da alimentação, sendo os tocoferóis a prin-cipal forma de tocol encontrada na maioria dosóleos. Os tocotrienóis são menos comuns, estandopresentes em maiores concentrações apenas emalguns óleos, tais como os de palma e arroz. Ostocóis constituem um grupo de moléculas queapresentam atividade de vitamina E. Existem nanatureza quatro formas (α, β, γ e δ) de tocoferóise tocotrienóis que são potentes antioxidanteslipofílicos. O α- e o γ-tocoferol são os mais en-contrados na maioria dos óleos vegetais27. Oα-tocoferol é o mais estudado dos tocóis, devidoa sua elevada atividade biológica como vitaminaE; entretanto, sugere-se que outros tocóis apre-sentem maior capacidade de proteger os óleosvegetais contra a peroxidação lipídica3. Existemevidências de que a capacidade antioxidante dosóleos vegetais pode ser influenciada pelo teor detocóis totais, bem como pela concentração dealguns tocoferóis individuais como γ- e δ-tocoferóis14-16,20. Por outro lado, em testes deoxidação acelerada (175°C/18h) observaram-secorrelações da capacidade antioxidante dos óleosvegetais com os tocotrienóis α- e γ-, ou ausênciade correlações com tocóis2,28. Essas controvérsiasquanto ao papel dos tocóis como determinantesda capacidade antioxidante em óleos vegetaisindicam a necessidade de mais estudos paraesclarecer esses pontos.

Os compostos fenólicos são metabólitossecundários das plantas, que exibem uma varieda-de de ações biológicas, especialmente devido asuas propriedades antioxidantes29. Assim comoocorre para os tocóis, a atividade antioxidante va-ria sensivelmente entre os diferentes compostosfenólicos. Os fenólicos mais comumente detecta-dos nos óleos vegetais fazem parte da classe dosácidos fenólicos, especialmente os ácidos cafeico,vanílico, p-cumárico, siríngico, p-hidroxibenzoicos,além de oleuropeína, 3-hidroxifenil-etanol e 3,4dihidroxifenil-etanol20,30. No entanto, em geralesses compostos são encontrados em baixas con-centrações nos óleos refinados devido à sua baixaestabilidade ao processo de refino1. Uma exceçãoentre os óleos vegetais comestíveis comerciais éo azeite de oliva extra-virgem, que é rico em fenó-licos, por não ser submetido ao processo de refinocom suas temperaturas caracteristicamente ele-vadas. O azeite de oliva extra-virgem apresentano mínimo 30 compostos fenólicos conhecidosque apresentam atividade antioxidante24,31.Existem evidências de que esses compostos apre-sentem uma maior contribuição para a estabili-dade e para a capacidade antioxidante do azeitede oliva extra-virgem do que os tocoferóis nelepresentes32.

A capacidade antioxidante do azeite deoliva extra-virgem apresenta correlação com oteor de fenólicos totais e individuais, especial-

mente com o 3,4 dihidroxifenil-etanol (hidroxiti-rosol)10,31,32. Após processo de refino, o azeite deoliva apresentou redução de 50% na capacidade

antioxidante, que apresentou associação com aredução dos compostos fenólicos totais, mas nãocom a redução de α-tocoferol23. Portanto, sugere-

-se que os compostos fenólicos sejam os principaisdeterminantes da capacidade antioxidante doazeite de oliva. É possível que outros óleos vegetaisprensados a frio apresentem teores igualmenteelevados de compostos fenólicos, os quais podemapresentar importante papel como determinantesda capacidade antioxidante.

Possivelmente outros componentes dosóleos vegetais com atividade antioxidante, taiscomo esteróis, carotenoides e clorofilas contri-

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buem para a capacidade antioxidante total33. Noentanto, assim como os compostos fenólicos, oscarotenoides, as clorofilas e os esteróis são parcialou completamente removidos ou isomerizadosdurante o processo de refino, apresentando-seem maiores concentrações nos óleos não refina-dos, como o azeite de oliva extra-virgem e o óleode palma3. Logo, é razoável supor que essescompostos podem contribuir para a capacidadeantioxidante de óleos não refinados, mas prova-velmente não influenciam a capacidade antioxi-dante dos óleos refinados, mais consumidos.Dabbou et al.33 observaram que os fatores queapresentaram correlação mais forte com a capa-cidade antioxidante, avaliada pelo ensaio daTEAC, em azeites de oliva foram os teores de caro-tenoides (r=0,86; p=0,01) e de clorofilas (r=0,76;p=0,01), seguidos pelo teor de fenólicos totais(r=0,64; p=0,05). Entretanto, embora se obser-vem correlações significativas entre as variáveis,são necessárias mais investigações para confirmaro papel desses pigmentos como determinantes

da capacidade antioxidante de óleos vegetais.Além disso, é possível que os carotenoides e asclorofilas apresentem ação pró-oxidante, espe-

cialmente quando a concentração de oxigênio nomeio é elevada, pois a energia luminosa absorvidapor esses pigmentos pode ser transferida para ooxigênio tripleto, transformando-o em oxigêniosingleto de maior energia, que é um agente oxi-dante mais reativo.

Capacidade antioxidante total eestabilidade dos óleos vegetais

A estabilidade oxidativa é um importantedeterminante da qualidade dos óleos vegetais. Aoxidação dos óleos é fortemente influenciada porsua composição quanto aos ácidos graxos e an-tioxidantes. A peroxidação lipídica envolve com-plexas reações radicalares autopropagantes, resul-tantes das interações químicas entre os ácidosgraxos insaturados e espécies reativas de oxigênio.As consequências da peroxidação lipídica, taiscomo as perdas de ácidos graxos essenciais (lino-

leico e α-linolênico) e antioxidantes naturais, amodificação do flavor original e a produção dediversos compostos, com potenciais efeitos adver-sos à saúde humana, têm implicância direta novalor nutricional e comercial, assim como na segu-rança dos óleos vegetais34.

A degradação oxidativa dos óleos podeiniciar-se espontaneamente e pode ser aceleradapor pró-oxidantes, como metais de transição, expo-sição à luz UV ou visível na presença de fo-tossensibilizador, elevadas temperaturas ou con-centrações de oxigênio. A oxidação espontânea

Figura 3. Sistema esquemático das principais reações da oxidação

de óleos vegetais, na via de auto-oxidação.

Nota: In : radical iniciador; LH: substrato lipídico (normalmente

insaturado); L : radical alquila; LOO : radical peroxila; LOOH:

hidroperóxido (produto primário da lipoperoxidação); LOOL: pro-

duto estável, não-radical (produto terciário da lipoperoxidação);

AH: antioxidante; A : radical do antioxidante.

Iniciação

In + LH InH + L

Propagação

L + O2 LOO

Terminação

LOO + LH LOOH + L

Inibição

LOO + LOO LOOL + O2

L + LOO LOOL

L + L LL

LOO + AH LOOL + A

Lo + AH LOH + A

LH + AL + AH

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dos lipídeos, chamada de auto-oxidação, é a prin-cipal via de degradação dos óleos fotoprotegidose em temperatura ambiente. A auto-oxidaçãodivide-se em três principais etapas: iniciação, pro-pagação e terminação, que podem ser inibidasou retardadas pela ação dos antioxidantes presen-tes nos óleos vegetais (Figura 3)3,35-37.

Os tocóis apresentam importante papel naproteção dos óleos vegetais contra oxidação, ten-do em vista que são seus principais antioxidantes

lipofílicos naturais27. Os tocóis são consideradosantioxidantes primários, pois reagem rapida-mente com os radicais livres e, assim, inibem porcompetição a oxidação dos ácidos graxos insa-turados. Desta forma, os tocóis retardam especial-mente a etapa de propagação36,37. A atividadeantioxidante dos quatro tocoferóis apresenta aseguinte ordem de eficácia: δ > γ = β > α; contudoessa ordem pode ser alterada por diversos fatores,tais como temperatura, disponibilidade de oxigê-nio, exposição à luz, entre outros3. Além disso,sabe-se que alguns tocoferóis podem agir comopró-oxidantes35.

Os compostos fenólicos são os principaisresponsáveis pela alta estabilidade oxidativa doazeite de oliva virgem e, assim como os tocoferóis,agem sobre a etapa de propagação. Além disso,os fenólicos podem agir como quelantes de metaisde transição, inibindo a decomposição dos hidro-peróxidos catalisada por metais e, possivelmente,a formação de espécies reativas de oxigênioatravés da reação de Fenton38. Aparício et al.39.verificaram que os fenólicos do azeite de olivavirgem contribuíram com 50% da estabilidadeoxidativa do óleo, durante teste de oxidação ace-lerada a 100°C e oxigenação forçada. Além disso,fenólicos específicos do azeite de oliva, como ohidroxitirosol, parecem inibir especificamente aformação de produtos primários da oxidação38.Igualmente, a estabilidade oxidativa do azeite deoliva parece ser influenciada pela interação entreos compostos fenólicos e o α-tocoferol, sugerindoque os compostos fenólicos são capazes de rege-nerar o α-tocoferol, que continuará agindo comoantioxidante40. Entretanto, essa hipótese aindanão foi confirmada diretamente.

Os pigmentos naturais carotenoides e clo-rofilas, além de conferirem a cor característica atipos específicos de óleos não refinados, parti-cularmente ao azeite de oliva extra-virgem e aoóleo de palma, influenciam na estabilidade oxi-dativa dos óleos. Os carotenoides, em especial oβ-caroteno, podem inibir ou retardar a iniciaçãoou a propagação da oxidação lipídica nos óleosatravés da inativação de oxigênio singleto e dosradicais peroxila (ROO ), respectivamente. Alémdisso, os carotenoides são efetivos em inibir a açãode fotossensibilizadores, como as clorofilas, quepodem apresentar ação pró-oxidante na foto--oxidação de óleos vegetais. Conforme citado porChoe & Min34, o β-caroteno foi capaz de reduzira oxidação de óleo de soja exposto à luz, mesmoem presença de clorofilas. Ressalta-se que, embo-ra as clorofilas apresentem ação pró-oxidante nosóleos vegetais expostos à luz, esses compostospodem agir como antioxidantes primários quandoos óleos se encontram protegidos da luz34.

Apesar do extenso conhecimento a res-peito do papel da peroxidação lipídica como prin-cipal via química de degradação oxidativa dosóleos, são escassos os estudos que abordaram aação integrada dos compostos antioxidantes pre-sentes nos óleos vegetais, através dos ensaios decapacidade antioxidante, e sua relação com a esta-bilidade oxidativa de óleos específicos.

A fim de estudar essas relações físico-quí-micas, Ninfali et al.25 e Arranz et al.41 investigarama associação entre a capacidade antioxidante e aestabilidade oxidativa, avaliada em ensaio de oxi-dação forçada no equipamento Rancimat®, emóleos de nozes e azeite de oliva, respectivamente.Em ambos os trabalhos observaram-se correlaçõespositivas: r2=0,83 e p=0,03, para o azeite de olivae ensaio do DPPH 41; r=0,42 e p<0,02, para os

óleos de nozes e ensaio da ORAC25. É precoceafirmar que os resultados de capacidade antioxi-dante sejam capazes de estimar a estabilidade

oxidativa dos óleos vegetais. Entretanto, as corre-lações observadas da capacidade antioxidantecom a estabilidade oxidativa avaliada no equi-pamento Rancimat, que é considerado um méto-

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do oficial para avaliação da estabilidade oxidativados óleos, indicam uso potencial da capacidadeantioxidante como indicador da qualidade integrale da estabilidade dos óleos vegetais.

São necessários mais estudos utilizandooutros óleos, outros ensaios de capacidade an-tioxidante e de oxidação acelerada, para que asassociações entre a capacidade antioxidante e aestabilidade oxidativa dos óleos seja determinada.Caso seja confirmada a representatividade dacapacidade antioxidante como indicador da esta-bilidade oxidativa de óleos vegetais, ensaios decapacidade antioxidante poderão ser aplicadoscomo métodos de controle de qualidade, espe-cialmente os ensaios de TEAC e ORAC, recomen-dados para padronização das análises. Essashipóteses merecem confirmação direta, atravésde estudos desenhados com essa finalidadeespecífica.

Capacidade antioxidante total ebioatividade dos óleos vegetais

Diversos radicais livres são constantementeformados pelo organismo humano através do me-tabolismo energético e de sistemas de defesaimune. Essas substâncias contribuem positiva-mente para o funcionamento normal do organis-mo humano. Entretanto, a concentração dessasespécies reativas pode superar a capacidade doorganismo de eliminá-las, devido à maior produ-ção intracelular e/ou à ineficiência dos meca-nismos de proteção antioxidante. O desequilíbrioem favor da formação dos radicais, denominadoestresse oxidativo, quando mantido por períodode tempo relativamente prolongado, pode pro-mover danos oxidativos que culminam com odesenvolvimento de doenças crônicas42.

A oxidação de lipídeos, proteínas e ácidosnucleicos, através da ação de espécies reativas, éassociada com o desenvolvimento de diversostipos de câncer, doenças cardiovasculares e neuro-degenerativas. As células, tecidos e fluídos cor-porais apresentam importantes sistemas endó-genos de defesa, capazes de eliminar diversas

espécies reativas, minimizando os danos oxida-tivos causados pelos radicais livres. Esses sistemasde defesa endógena constituem-se por, pelo me-nos, quatro classes de agentes antioxidantes: 1)as enzimas superóxido dismutases, catalases, glu-tationa peroxidase e redutase; 2) as macromolé-culas albumina, ceruloplasmina, transferrina, ferri-tina e outras; 3) as micromoléculas, ácido úrico,glutationa e outras; 4) os hormônios estrogênioe melatonina. Além dos mecanismos endógenosde proteção contra o dano oxidativo, antioxi-dantes de origem exógena, amplamente distri-buídos nos alimentos de origem vegetal, tambémapresentam papel determinante sobre o risco dedanos oxidativos e suas consequências dele-térias6,42.

Estudos epidemiológicos têm observadouma forte associação entre a redução do risco dedesenvolvimento de doenças cardiovasculares ealguns tipos de câncer com o consumo de óleosvegetais, especialmente o azeite de oliva extra--virgem. Os compostos responsáveis por essesefeitos ainda não são totalmente conhecidos, po-rém sugere-se que os antioxidantes naturais este-jam entre os principais responsáveis. Por outrolado, os mecanismos pelos quais os antioxidantesdos alimentos contribuem para o sistema antioxi-dante endógeno também não estão completa-mente elucidados43.

Os compostos fenólicos e a vitamina E su-primem a oxidação e protegem biomoléculascontra danos oxidativos42. O α-tocoferol é o maisestudado dos tocoferóis, devido a sua elevadaconcentração no plasma humano, células e teci-dos corporais. Entretanto, possivelmente outrostocóis além do α-tocoferol apresentam bioativi-dade27. Além disso, existem fortes evidências deque os fenólicos do azeite de oliva extra-virgem

apresentam maior efeito protetor contra a oxida-ção de lipídeos e DNA do que o α-tocoferol44. Ohidroxitirosol é um potente antioxidante presente

no azeite de oliva virgem e, recentemente, desco-briu-se que seus metabólitos também apresentamatividade antioxidante in vitro38. Boa parte dohidroxitirosol se perde durante o processo de

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refino dos óleos20, de modo que esse compostoestá ausente nos óleos refinados. Portanto, pode--se atribuir à ação desse fenólico ao menos partedo efeito antioxidante in vivo e dos benefícios doconsumo de azeite de oliva extra-virgem.

A capacidade antioxidante tem sido utili-zada como indicador da bioatividade dos óleos

vegetais no organismo humano. Através dos valo-res de capacidade antioxidante in vitro é possívelranquear os óleos vegetais quanto a seu potencial

efeito benéfico no organismo humano. Entretan-to, é razoável supor que a ação dos principaisantioxidantes dietéticos de importância biológica

in vivo dependam de fatores, como o nível de es-tresse oxidativo ao qual o organismo é exposto, acomposição e as quantidades de antioxidantes e

pró-oxidantes habitualmente ingeridos, assimcomo da biodisponibilidade e do metabolismodos compostos antioxidantes no organismo hu-

mano45.

Recentemente, Pellegrini et al.43 desenvol-veram e validaram um questionário de frequênciaalimentar para estimar a capacidade antioxidante

da dieta habitual, incluindo o consumo de óleosvegetais. A capacidade antioxidante da dieta habi-tual foi comparada com a capacidade antioxidante

plasmática dos mesmos indivíduos, porém nãohouve correlação entre essas duas variáveis. Prova-velmente, a capacidade antioxidante do plasma

é dependente de fatores que não foram conside-rados na investigação, tais como a biodisponi-bilidade dos antioxidantes dos alimentos, níveis

de ingestão de pró-oxidantes e de substratos oxi-dáveis, entre outros fatores exógenos, assim comodos mecanismos endógenos de proteção46. No

que diz respeito à biodisponibilidade dos antioxi-dantes dos alimentos, sugere-se que dependa defatores exógenos e endógenos, tais como a com-

plexidade da matriz alimentar, a estrutura e aquantidade de compostos antioxidantes ingeridosem uma mesma refeição, a taxa de esvaziamentogástrico, o trânsito intestinal, a presença de pro-teínas ligantes de antioxidantes no plasma e nostecidos, entre outros fatores46.

Saura-Calixto & Goñi47 também investi-garam a associação entre a capacidade antioxi-dante da dieta habitual e a capacidade antioxi-dante do plasma e observaram que alimentos queapresentam elevada capacidade antioxidante invitro, como o azeite de oliva extra-virgem, contri-buíram pouco para a capacidade antioxidante dadieta habitual (<2%) quando comparados aoutros alimentos com menor capacidade antioxi-dante in vitro, mas com maior consumo habitual.É possível que óleos vegetais que apresentam me-nor capacidade antioxidante do que o azeite deoliva extra-virgem e que são mais consumidos pelapopulação apresentem maior contribuição paraa capacidade antioxidante da dieta habitual. En-tretanto, essa hipótese ainda não foi investigadae merece confirmação.

Portanto, o estudo da capacidade antioxi-dante de óleos vegetais nos seres humanos in vivodeve considerar não só a capacidade antioxidantedos alimentos in vitro, mas também diversosoutros fatores, a fim de obterem-se respostas maisabrangentes e exatas. Alguns desses fatores in-cluem a absorção, o transporte, o metabolismo ea excreção dos componentes antioxidantes e seusmetabólitos45. Além disso, sempre que possíveldeve-se considerar a dieta habitual (quali- e quan-titativamente) quanto às fontes alimentares deanti- e pró-oxidantes. Deve-se também ressaltarque a maioria dos antioxidantes, como os toco-feróis e os compostos fenólicos, podem apresentaroutras funções biológicas como propriedades anti--inflamatórias, neuroprotetoras e quimiopreven-tivas que devem ser consideradas juntamente comsua capacidade antioxidante para uma apreciaçãomais completa a respeito da bioatividade dos óleos

vegetais28,38,45.

C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S

A investigação da capacidade antioxidantede óleos comestíveis pode contribuir para o enten-dimento de dois dos principais aspectos de rele-vância para a ciência de alimentos e a nutrição:1) sua estabilidade oxidativa e determinantes

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químicos; 2) sua bioatividade no organismo huma-no. A maior parte dos óleos vegetais apresentamaior contribuição dos antioxidantes lipofílicospara sua capacidade antioxidante; dessa forma,destaca-se a necessidade do desenvolvimento ouadaptação e uso de metodologias analíticas apro-priadas para compostos lipofílicos e/ou para afração apolar dos alimentos. Além disso, uma vezque não existe um único ensaio capaz de deter-minar, de forma completa ou compreensiva, acapacidade antioxidante dos alimentos, a deter-minação da capacidade antioxidante dos óleosdeve ser realizada através de pelo menos doisensaios, com mecanismos de reação diferen-ciados. A capacidade antioxidante representaparte da bioatividade dos componentes dos óleosvegetais e pode apresentar associação com a esta-bilidade oxidativa de óleos vegetais específicos.Dessa forma, os ensaios de capacidade antioxi-dante apresentam potencial de aplicação no con-trole de qualidade integral de óleos vegetais

comestíveis. Neste trabalho ressaltaram-se de for-ma integrada e resumida os principais pontos-chave para a investigação da capacidade antioxi-

dante em óleos vegetais, assim como destacaram--se alguns dos aspectos controvertidos que ne-cessitam de investigação, de modo a contribuir

para a expansão do conhecimento a respeito dacapacidade antioxidante de óleos comestíveis esua relação com a estabilidade e a bioatividade

desses alimentos.

A G R A D E C I M E N T O S

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-soal de Nível Superior (Capes), ao Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Riode Janeiro (FAPERJ), pelo financiamento da pesquisa

pela bolsa de Mestrado de V.N. CASTELO-BRANCO.

C O L A B O R A D O R E S

Ambos os autores participaram da concepção,redação e revisão do texto final do trabalho.

R E F E R Ê N C I A S

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Recebido em: 29/4/2009Versão final reapresentada em: 26/8/2010Aprovado em: 19/10/2010

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