Artigo Científico e Caderno Pedagógico POLÍTICAS DE ... · Artigo Científico e Caderno...
Transcript of Artigo Científico e Caderno Pedagógico POLÍTICAS DE ... · Artigo Científico e Caderno...
Artigo Científico e Caderno Pedagógico
POLÍTICAS DE DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO ESCOLAR
Sandra Maria Albino
RESUMO
O presente artigo analisa as diversas formas de gestão escolar
implementadas nos diferentes momentos históricos no Estado do
Paraná, a interferência das Agências Internacionais nas políticas
públicas de Educação e a importância da participação das Instâncias
Colegiadas no processo de democratização das instituições escolares.
Analisa também, o significado da gestão democrática como expressão
do anseio de crescimento dos indivíduos como cidadãos e de
crescimento da sociedade enquanto sociedade democrática. É a ponte
entre o indivíduo e o colegiado, entre a tomada de decisão e a
participação, cujas bases estão fundamentadas no debate.
Palavras-chave: Gestão Escolar, Democratização, Instâncias
Colegiadas.
ABSTRACT
The present article analyzes the differents forms of scholar
administration established in Historicals differents moments in the
“Estado do Paraná”, the interference of Internationals Agencies in
public politics of education and the importance of participation in the
Colligated Instances in process of democratization of scholars
institutions. Analyzes also, the signification of democratic
administration as a wish of growth of the persons as a citizens and the
growth of the society while democratic society. Is the alliance between
person and group, between decision and participation, where are based
in conversation.
Key words: Scholar Administration, Democratization, Colligated
Instances.
1
Introdução
A discussão sobre o tema a gestão escolar democrática tem
início na década de 1980. De lá para cá se tem questionado a direção
da Escola por um só indivíduo e, ainda, o lado educador do diretor
escolar. Atualmente, a idéia que está posta é a de uma escola com
representantes dos vários segmentos envolvidos no processo educativo
participando da equipe gestora. Portanto, questiona-se: a gestão
democrática implementada contribui para ampliar ou limitar o trabalho
pedagógico nas escolas públicas?
A Constituição Federal de 1988 estabelece significativas
mudanças para as políticas de gestão e de regulação da educação no
Brasil que interferem diretamente na organização da escola e nos
papéis dos diversos atores sociais que constroem o seu cotidiano. No
artigo 206 da referida Lei é mencionada a gestão democrática: “O
ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: ...VI – gestão
democrática do ensino público, na forma da Lei.”
Portanto, dar prioridade a uma reflexão de consideráveis
proporções a respeito da educação e sobre a influência direta que ela
exerce no desenvolvimento social e econômico de um país é tema
emergencial a ser desenvolvido com a participação ativa de todos os
envolvidos com a escola. Por onde começar?
Há uma grande distância entre o ideário da lei e a realidade.
Superá-la perpassa pela necessidade de se assumir compromisso de
forma responsável e articulada, avaliando as conquistas e projetando as
metas. Sem este esforço não há garantias de iniciativas capazes de
realizar a viabilização das conquistas sociais da Constituição de 1988.
Além disso, outras Leis dão suporte para efetivação de uma gestão de
fato democrática:
LDB/96:
Art. 3o.: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
2
VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da
legislação dos sistemas de ensino.
Art. 14: Os sistemas de ensino definirão as normas de Gestão
Democrática (...):
I – participação dos profissionais da educação na elaboração da
proposta pedagógica;
II – participação das comunidades escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes.
Art. 15: Os sistemas de ensino assegurarão às escolas progressivos
graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira.
Por isso, compreender as diversas formas de gestão escolar,
nos diferentes momentos históricos, desencadear discussões e
fortalecer as deliberações coletivas, sobretudo na escola é desafio que
se impõe constantemente para toda a sua comunidade.
A reflexão que fazemos a seguir é baseada em artigos
extraídos das Conferências do Seminário “Estado e Políticas Sociais no
Brasil e textos do relatório parcial do projeto de pesquisa: Programas
nas áreas de Educação e Saúde no Estado do Paraná”. (Nogueira,
2001). Na primeira parte, analisamos as diversas formas de gestão
escolar democrática implementadas nos diferentes momentos
históricos, e na segunda parte da reflexão buscamos compreender a
participação das Instâncias Colegiadas no processo de democratização
das instituições escolares.
Aspectos históricos da Gestão Escolar Democrática no Estado
do Paraná.
Desde os anos 1980 estamos assistindo nos países da
América Latina, em especial no Brasil, a instalação do Estado de Direito
Democrático, com configuração democrática liberal, baseada em
pressupostos da Constituição Federal de 1988.
3
Essas sociedades vêm passando por sérias transformações,
que têm gerado uma política econômica sem preocupação com a
política social. Edificam-se Estados de Direito Democrático em
sociedades pouco democráticas, com forte presença autoritária, tanto
na prática política como na cultura.
Quando falamos em política (social, econômica, de saúde,
educacional, previdenciária, etc.), estamos falando de estratégias
governamentais que pretendem intervir nas relações de produção ou
nos serviços sociais.
No Brasil, temos nos deparado com políticas fugazes, rápidas
devido à rotatividade e recomposição permanente da classe dirigente,
o que tem favorecido a implementação de políticas econômicas
discutíveis sem nenhuma formulação de política social. Aparecem, às
vezes, alguns programas e diretrizes de cunho social que, na verdade,
não se concretizam. Servem apenas para serem exibidos à sociedade,
sem intervenção nela. Assim, o Estado de Direito existe no nível
jurídico-político, fundamentado em um Estado que se diz democrático-
liberal, respaldado por uma Constituição, porém, sem mobilizar a
sociedade em função dos serviços sociais; e é sabido que nenhuma
democracia se sustenta, sem o mínimo de democratização da
sociedade.
A partir dos anos 1990, assistimos à intervenção das Agências
Internacionais nas políticas públicas brasileiras, notadamente na
Educação. O Banco Mundial, por exemplo, tem grande expressividade
no âmbito das políticas educacionais, agindo como estrategista do
modelo neoliberal de desenvolvimento e também como articulador da
interação econômica entre as nações, inclusive para negociação da
dívida externa.
Além disso, tais políticas são marcadas pela padronização,
tentando garantir a suposta universalidade da educação e permitindo,
assim, o controle centralizado.
A proposta de gestão democrática como uma das formas de
superação do caráter centralizador, hierárquico e autoritário que a
4
escola assumiu ao longo de sua história, está longe se ser conquistado.
O modelo de gestão escolar presente baseia-se no controle central na
formulação das políticas somado à descentralização administrativa na
implementação dessas políticas.
As medidas oficiais, para a área educacional, se destinam à
corresponsabilização da comunidade, principalmente das famílias, na
complementação orçamentária com recursos da própria comunidade e
de parcerias. Tais medidas sobrecarregam, e muito, o trabalho do
professor. A escola pública assume funções variadas e o professor se
vê obrigado a responder exigências que estão além de sua formação.
Como diz Barreto (1996)
“Propostas diferentes que vinham sendo amadurecidas politicamente em várias fontes, em várias origens nacionais e internacionais, foram acopladas e sofreram uma redefinição. Muitas de nossas teses, de inspiração democrática progressista, pelas quais lutamos há anos estão presentes, mas colocadas de outra maneira, dentro de um contexto diferente” (p. 256).
Desta forma, percebemos a necessidade de cuidadosa crítica
quanto ao discurso proferido, discursos apologéticos indicam uma
“nova ordem educacional” sem se preocupar em desvendar as
contradições da sociedade de classes, ou em refletir e auxiliar em sua
superação. Surgem as palavras mágicas, para transformação social:
autonomia, descentralização, diversidade, flexibilidade, criatividade e
participação – como se estas fossem inéditas. São postas como forma
de garantir a convivência social progressista.
Ao analisarmos a gestão democrática, devemos considerá-la
como elemento da organização de um sistema descentralizado, no qual
a instituição tenha autonomia de decisão financeira, pedagógica e
administrativa, e conte, efetivamente, com a participação de seus
membros para tomar decisões coletivas. A descentralização, a
autonomia e a participação são categorias fundamentais para se
concretizar uma gestão democrática, desde que se faça uma análise
crítica desses conceitos para que não fiquem subjugados a propósitos
neoliberais de diminuição do papel do Estado como mantenedor das
5
políticas sociais. Aliás, é preciso lembrar que autonomia é condição
sine qua non para o estabelecimento da participação e da
descentralização.
A história tem comprovado que a participação, utilizada como
forma de representação do poder central, legitima a manutenção do
status quo. Assim, a descentralização, utilizada de forma ambígua,
como desconcentração, pode favorecer a participação de alguns em
detrimento de outros, de acordo com os interesses de quem detém o
poder, pode ser utilizada tanto por aqueles que pretendem construir
uma sociedade mais justa, quanto por aqueles que utilizam o poder
para manter sua hegemonia.
Casassus (1995, p. 40) define que a descentralização “é uma
perspectiva e uma política que reflete os interesses do poder local”,
enquanto desconcentração “é uma perspectiva e uma política que
reflete os interesses do poder central, com seu desejo de levar as
decisões para mais perto do lugar em que ocorre o ato educacional”.
A diferença entre esses conceitos está no grau de participação
e autonomia presentes na implementação das políticas
descentralizadoras. Conforme Lobo (1990)
“a descentralização envolve necessariamente alterações nos núcleos de poder, que levam a uma maior distribuição do poder decisório até então centralizado em poucas mãos. Esta é a razão por que fica mais cômodo e tranqüilo para o governo assentado em bases centralistas privilegiar a desconcentração e rotulá-la de descentralização” (p.6).
Entre os argumentos utilizados para justificar a política de
descentralização está o de contar com a participação da comunidade,
pois, propiciando esta participação nas questões administrativas,
financeiras e pedagógicas, se concretizaria a democratização da escola
pública. Descentralizar as políticas educacionais significa chamar a
população para participar dos problemas educacionais e se
responsabilizar por eles, inclusive financeiramente.
O grande problema é que, por meio destas políticas, nos
vemos afirmando que o ambiente escolar está mais democrático, que a
6
democratização do ensino está ocorrendo, por meio da melhoria da sua
qualidade e da sua oferta para toda população. A realidade é bem
diferente. Prova disso é a falta de participação nos órgãos institucionais
como Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF) e Conselhos
Escolares (CE). A literatura sobre estes órgãos tem apontado que a
atuação dos mesmos, quando existe, ocorre de modo hierarquizado,
adequado à postura do Diretor, sem participação efetiva da
comunidade.
A autonomia da escola deveria envolver a comunidade,
representada por tais órgãos, em aspectos pedagógicos, financeiros e
administrativos, ou seja, na construção de seu Projeto Político-
Pedagógico, pois, “a autonomia da Escola é algo que se põe com
relação à liberdade de formular e executar um projeto educativo”
(Azanha, 1987). Isto implica em compreender que, autonomia significa
gerir, gerenciar e buscar recursos para manutenção da escola, sem,
contudo, desobrigar o Estado de seu papel de mantenedor das escolas
públicas.
As reformas educacionais no Estado do Paraná mostram
importantes alterações nos modelos de gestão do sistema e da escola.
No período de 1991 – 1994, a concepção de autonomia da escola
começa a ser modificada, com a defesa da construção da escola cidadã
a partir da autogestão. Porém, Gonçalves (1994) mostra que a idéia de
autonomia começa a se alterar, passando a significar transferência de
responsabilidades do Estado para a escola e à comunidade. As
pesquisas mostram também que as negociações entre Secretaria de
Estado da Educação e Banco Mundial, propiciam a reformulação do
modelo de autonomia com ênfase em aspectos administrativos, nos
moldes do setor privado.
Gonçalves (1994) e Azevedo (1995) apontam para o
fortalecimento do neoliberalismo na Educação Paranaense desde o
início da década de 1990. A concepção de descentralização vai sendo
cada vez mais moldada pelo Projeto de Qualidade da Educação Básica
(PQE) financiado pelo Banco Mundial. Nessa fase, o Governo começa a
7
assumir, de forma técnica e administrativa, a municipalização do
ensino.
Percebe-se, assim, que a gestão escolar no Paraná passa por
modificações a partir de diferentes princípios e concepções presentes
em cada contexto histórico, imprimindo modificações significativas no
sistema de ensino e nas escolas. Essas mudanças passam por um
processo de reelaboração e reinterpretação que envolvem múltiplas
contradições. Em função disso, é fundamental ressaltar a importância
da pesquisa, analisar os limites e possibilidades das propostas, antes
de colocá-las em prática, nas realidades concretas de cada escola.
Podemos assim analisar que a gestão democrática assume
determinadas posturas nos diferentes momentos históricos. Na década
de 1980, as categorias descentralização, participação e autonomia são
idéias centrais na implementação de políticas educacionais. A
perspectiva de democratização é compreendida como participação
efetiva da comunidade na escola, decidindo coletivamente sobre os
rumos e objetivos que esta deva tomar, através de mecanismos como
a Eleição de Diretores e do Conselho Escolar, além da construção do
Projeto Político-Pedagógico. Entretanto, este espaço fica limitado, à
medida que o Estado centraliza o financiamento da Educação,
exercendo controle sobre a autonomia da escola.
Da década de 1980 para a de 1990 há uma ruptura, pois
nesta última, a situação se agrava, com o abandono do Estado na
manutenção das políticas educacionais. Assim, as categorias de
participação e autonomia assumem novos significados. Participação
passa a significar compartilhar a manutenção da escola, surgindo
assim a Gestão Compartilhada em substituição à Gestão
Democrática. Porém, o controle das atividades administrativas
continua sob o poder do Diretor, e este sob o controle do Estado.
A APMF assume papel fundamental na gestão compartilhada,
em detrimento do Conselho Escolar. Isto impulsiona um processo de
desconcentração que atinge seu ápice com a municipalização do
ensino, quando o Estado torna-se mínimo para a manutenção e torna-
8
se máximo para o controle das ações, como, por exemplo, as diretrizes
curriculares.
No momento atual, percebemos um novo modelo de gestão
escolar que trouxe mudanças significativas na organização do trabalho
da escola, com intuito de torná-la, de fato, democrática, no sentido de
possibilitar o ingresso e a permanência de maior parcela das camadas
populares, dando-lhes condições de se apropriarem dos conteúdos de
ensino que lhes permitam proceder à crítica dos mecanismos sociais de
dominação.
A escola democrática tem como objetivo principal a
transmissão sistemática dos conteúdos de ensino, conhecimentos
produzidos e acumulados no movimento histórico pela humanidade, de
modo a assegurar que os alunos deles se apropriem e sejam capazes
de reelaborar novos conhecimentos.
Para isso, é preciso analisar a escola que temos e não cair no
reducionismo de acreditar que todos os problemas serão resolvidos
pela democratização da gestão. A gestão democrática em si não
possibilita a socialização do saber, mas torna-se ponto de partida para
reestruturação dos mecanismos internos da escola que favoreça esta
socialização.
A mudança nas formas de gestão é, sim, uma luta
pedagógica, mas deve estar ao lado da luta econômica, social e
política.
A participação das Instâncias Colegiadas.
A gestão escolar democrática institui-se como um método de
trabalho por excelência. Acontece no cotidiano escolar onde as
relações de poder se dão a todo o momento, através da construção de
novas relações sociais que constituem espaços públicos não tutelados
pelo Estado. Ampliam-se os mecanismos de reflexão e decisão com a
9
ampliação da democracia participativa superando a democracia
representativa. Esta é uma das formas que a escola encontrou para
melhor se organizar: disposição ao diálogo, construção do consenso,
garantia de acesso às informações e principalmente a participação.
Gestão democrática na escola exige paciência, se expressa no
aprendizado de práticas democráticas, efetivando-se como exercício
permanente de formação de sujeitos participativos na organização, na
gestão da Escola, no currículo e está articulado a um projeto de Escola,
de educação e de sociedade, permeados por uma dimensão
epistemológica, política, ética e estética.
É um processo político calcado na participação maciça dos
sujeitos interessados, com garantia da implementação da vontade da
maioria dos sujeitos participantes e com o compromisso de pleno
acesso às informações a todas e todos. É preciso compreender a
educação como direito de todos, entendendo que a escola estatal deve
ser compreendida como serviço público, deve estar a serviço do
interesse da coletividade.
Nessa perspectiva, as Instâncias Colegiadas se constituem
como espaços institucionais democráticos onde pais, professores,
funcionários e gestores possam construir posições por meio do debate
racional, exigindo a formulação de um Projeto Político Pedagógico
libertador. A democratização da Escola se expressa no aprendizado de
práticas democráticas, efetivando-se como exercício permanente de
formação de sujeitos participativos. Essas instâncias se tornam canais
institucionais que garantem a participação da comunidade, entre elas:
o Conselho Escolar que é a instituição que cotidianamente coordena
a gestão escolar sendo responsável pelo estudo e planejamento,
debate e deliberação, acompanhamento, controle e avaliação das
principais ações do dia-a-dia da escola tanto no campo pedagógico,
como administrativo e financeiro onde um grupo de representantes de
pais, professores, alunos, funcionários, direção, equipe pedagógica e
comunidade organizada, reúnem-se para sugerir medidas e soluções
ou para tomar decisões. Associação de Pais, Mestres e
10
Funcionários é um órgão de representação dos Pais, Mestres e
Funcionários que buscam a integração dos segmentos escolares, para
discutirem as políticas educacionais e o Projeto Político-Pedagógico da
escola Pública, contribuindo para a melhoria da qualidade do ensino. O
Grêmio estudantil, órgão máximo de representação dos estudantes a
serviço da ampliação da democracia na escola, através das suas
funções de representação e organização dos alunos, contribui para a
efetivação de uma educação emancipatória e transformadora. E, por
fim, o Conselho de Classe, órgão colegiado, presente na organização
da escola, em que os professores das diversas disciplinas, juntamente
com a direção, equipe pedagógica e alunos representantes de turma,
reúnem-se para refletir, avaliar e propor ações no acompanhamento do
processo pedagógico da escola.
Outro mecanismo que, juntamente com as instâncias
colegiadas, pode facilitar e contribuir para consolidação da gestão
democrática é a rotatividade no quadro dos dirigentes, pois as
eleições são fundamentais para o processo de renovação e rotatividade
dos quadros dos dirigentes escolares, procurando evitar que
educadores se “perpetuem” no cargo de diretores.
Considerações Finais
Sem pretensão de concluir, procuramos analisar o modelo de
gestão presente no atual Governo, no Estado do Paraná, que mostra
características marcantes de transparência, impessoalidade,
autonomia, participação, trabalho coletivo e representatividade. A
gestão democrática expressa um anseio de crescimento dos indivíduos
como cidadãos e de crescimento da sociedade enquanto sociedade
democrática. É a ponte entre o indivíduo e o colegiado, entre a tomada
de decisão e a participação, cujas bases estão fundamentadas no
debate.
11
Nascem daí os desafios deste Governo: priorizar o espaço
escolar como lugar de ensino/aprendizagem, incentivar a construção
coletiva do Projeto Político-Pedagógico das escolas com a participação
de todos os envolvidos no processo educativo e valorizar os
professores com iniciativas como o Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE - uma nova política de educação continuada.
Pretendemos ainda, analisar alguns elementos constitutivos
desta política a partir da década de 1990, comparando-os com as
novas diretrizes implementadas a partir do segundo mandato do
Governo Requião, e, como estas políticas têm interferido no trabalho
docente, se a nova regulação continua se assentando em conceitos de
produtividade, eficácia, excelência e eficiência, se a ênfase persiste em
teorias administrativas em detrimento às orientações do âmbito
pedagógico.
12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, M. A. A qualidade da educação na qualidade total. São
Paulo, 1996.
Dissertação de Mestrado em Educação. Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo.
ANTUNES, A. Aceita um conselho? Como organizar o Colegiado
Escolar. 2. ed., São Paulo: Cortez, 2002.
AZANHA, J. M. P. Educação: alguns escritos. São Paulo: Nacional,
1987.
BRASIL. Constituição Federal – 1988. Brasília: Câmara dos
Deputados, 1994.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº
9394/96). Brasília: MEC, 1997.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1997.
HIDALGO, Â. M. Tendências contemporâneas da privatização do
ensino público: o caso do Estado do Paraná. São Paulo, 1998.
( Dissertação de Mestrado – PUC – SP).
COSTA, M. A educação nas constituições do Brasil: dados e
direções. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
DIMENSÕES Teórico-metodológicas da educação profissional.
In: PARANÁ, SEED.DEP.
Educação Profissional no Paraná: Fundamentos políticos e
pedagógicos. Curitiba, 2005. In: ZIBAS, D.M.L. A reforma do
Ensino Médio nos anos de 1990: o parto da montanha e as
novas perspectivas. São Paulo: Fundação Carlos Chagas: Revista
Brasileira de Educação, n.28, jan./fev.mar./abr. 2005.
DALAROSA, A.A. Ciência, Pesquisa e Metodologia na Universidade.
In: LOMBARDI, J.C. Pesquisa em Educação: História, Filosofia e
temas Transversais.Campinas: Autores
Associados:HISTEDBR;Caçador:UNc, 1999.
F.M.G.(Org.).Estado e políticas sociais no Brasil. Cascavel:
Edunioeste, 2001, v.1 e 2.
13
FREITAS, L.C. de. A avaliação e as reformas dos anos 1990:
novas formas de exclusão, velhas formas de subordinação. Educação
e Sociedade, v 25, n86, Campinas, abril 2004.
FRIGOTO, G. O enfoque da dialética materialista histórica na
pesquisa educacional. In: FAZENDA, I.C.(Org.) Metodologia da
Pesquisa Educacional. São Paulo: Cortez, 1989.
GENTILI, P. Adeus à escola pública: a desordem neoliberal, a
violência do mercado e o destino da educação das maiorias. In:
GENTILI, P. Pedagogia da exclusão: crítica ao neoliberalismo
em Educação. São Paulo: Vozes, 2005.
GOHN, M. da G. Educação não-formal, participação da
sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas.
LIBÂNEO, J.C. O projeto de educação nacional: a desatenção aos
critérios de qualidade das aprendizagens escolares.
NAGEL, L.H. O Estado brasileiro e as políticas educacionais a
partir dos anos 80.
NAGEL, L.H. Educação e desenvolvimento na “pós-
modernidade”: algumas reflexões.
NOVO Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1995.
ORQUIZAS, E. A redefinição no espaço público na organização
da escola pública. Brasília: Revista ANPED, n 26.
OS ARAUTOS da reforma e a consolidação do consenso: anos
de 1990. In: SHIROMA, E. et all. Política Educacional. Rio de
Janeiro: DP&A, 2002, p.53-86.
PARANÁ, SEED. DEP. Educação Profissional no Paraná:
Fundamentos políticos e pedagógicos. Curitiba, 2005.
SAVIANI, D. Escola e Democracia. São Paulo: Cortez, 1984.
SILVA, M.A. Do projeto político do Banco Mundial ao projeto
político-pedagógico da escola pública brasileira. Campinas:
Cadernos CEDES, v. 23, n.61, 2003.
14
VEIGA, I.P.A. Inovações e projeto político-pedagógico; uma
relação regulatória ou emancipatória? Campinas: Cadernos
CEDES, v. 23, n. 61, 2003.
15
CADERNO PEDAGÓGICO – PDE
Considerando a legislação vigente e a realidade das escolas
públicas do Estado do Paraná, propõe-se a leitura e a possível
utilização deste Caderno Pedagógico para melhor entendimento da
Gestão Escolar, a fim de manter canais abertos, ágeis e eficazes para
facilitar a comunicação entre os diferentes segmentos da escola,
entre a escola e a comunidade, entre a escola e as outras instâncias
da estrutura administrativa para priorizar as atividades pedagógicas.
Ainda, avaliar periodicamente as ações dos envolvidos numa busca
constante de aperfeiçoamento e aprimoramento do trabalho
pedagógico.
Destina-se este “Caderno” ao uso de qualquer leitor(a)
interessado(a), de todas as pessoas que fazem parte desse
estabelecimento de ensino e, em especial, aos membros componentes
das instâncias colegiadas no intuito de que seu manuseio, leitura e
proveito sejam úteis e eficazes em prol do bem-estar de toda a
coletividade – particularmente – a escolar.
Introdução
A Constituição Federal de 1988 estabelece significativas
mudanças para as políticas de gestão e de regulação da educação no
Brasil que interferem diretamente na organização da escola e nos
papéis dos diversos atores sociais que constroem o seu cotidiano. No
artigo 206 da referida Lei é mencionada a gestão democrática: “O
ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: ...VI –
gestão democrática do ensino público, na forma da Lei.”
Portanto, dar prioridade a uma reflexão de consideráveis
proporções a respeito da educação e sobre a influência direta que ela
exerce no desenvolvimento social e econômico de um país é tema
emergencial a ser desenvolvido com a participação ativa de todos os
envolvidos com a escola. Por onde começar?
16
Há uma grande distância entre o ideário da lei e a realidade.
Superá-la
perpassa pela necessidade de se assumir compromisso de forma
responsável e
articulada, avaliando as conquistas e projetando as metas. Sem este
esforço não
há garantias de iniciativas capazes de realizar a viabilização das
conquistas sociais da Constituição de 1988. Além disso, outras Leis
dão suporte para efetivação de uma gestão de fato democrática:
LDB/96:Art. 3o.: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino.Art. 14: Os sistemas de ensino definirão as normas de Gestão Democrática (...):I – participação dos profissionais da educação na elaboração da proposta pedagógica;II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.Art. 15: Os sistemas de ensino assegurarão às escolas progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira.
Deliberação 16/99, CEE/PR: Art. 4.° - A comunidade escolar é o conjunto constituído pelos
corpos docente e discente, pais de alunos, funcionários e especialistas, todos protagonistas da ação educativa em cada estabelecimento de ensino.
§ Único: A organização institucional de cada um desses segmentos terá seu espaço de atuação reconhecido pelo regimento escolar.
Art. 5.° - A Direção Escolar tem como principal atribuição coordenar a elaboração e a execução da proposta pedagógica, eixo de toda e qualquer ação a ser desenvolvida pelo estabelecimento.
Art. 6.º - A gestão escolar da escola pública, como decorrência do princípio constitucional da democracia e colegialidade, terá como órgão máximo de direção um colegiado.
§ 1.º - O órgão colegiado de direção será deliberativo, consultivo e fiscal, tendo como principal atribuição estabelecer a proposta pedagógica da escola, eixo de toda e qualquer ação a ser desenvolvida no estabelecimento de ensino.
17
§ 2.º O órgão colegiado de direção será constituído de acordo com o princípio da representatividade, devendo abranger toda a comunidade escolar, cujos representantes nele terão, necessariamente, voz e voto.
§ 3.º Poderão participar do órgão colegiado de direção representantes dos movimentos sociais organizados, comprometidos com a escola pública, assegurando-se que sua representação não ultrapasse 1/5 (um quinto) do colegiado.
Por isso, compreender esse processo, desencadear discussões e
fortalecer as deliberações coletivas, sobretudo na escola é desafio que
se impõe constantemente para toda a sua comunidade. Assim, é
fundamental garantir, no processo de democratização, dentre outros
mecanismos, a consolidação do Conselho Escolar, Associação de Pais,
Mestres e Funcionários - APMF, Grêmio Estudantil e Conselho de
Classe, a fim de que indicações de operacionalização, no âmbito
pedagógico, para que a educação escolar efetivamente aconteça
sejam propostas. Dentre elas, elegeram-se, neste trabalho,
compreender que a educação é um direito de todos, fazer que a
escola estatal seja compreendida como serviço público, incentivar a
socialização do “poder” e das informações para que a participação de
todos no debate seja racional e, principalmente, garantir a construção
coletiva do Projeto Político Pedagógico da Escola.
Gestão Democrática é o processo político através do qual as
pessoas na escola discutem, deliberam e planejam, solucionam
problemas e os encaminham, acompanham, controlam e avaliam o
conjunto das ações voltadas ao desenvolvimento da própria escola.
Este processo, sustentado no diálogo e na alteridade, tem como base
a participação efetiva de todos os segmentos da comunidade escolar,
o respeito a normas coletivamente construídas para os processos de
tomada de decisões e a garantia de amplo acesso às informações aos
sujeitos da escola.
Porém, há certos problemas que interferem nas relações da
Escola com a comunidade. Muitas pessoas que trabalham na escola se
vêem como proprietárias e pensam que a participação comunitária
pode ameaçar sua autoridade pedagógica, alguns dirigentes não
18
gostam de socializar o poder e a escola, ao longo dos anos, acumulou
experiências negativas, com formas inadequadas de participação
comunitária, o que tem contribuído para que os familiares não
queiram se envolver nas questões “internas” da escola, a menos que
tenha relação imediata com seu filho.
Objetivos
Espera-se que:
• as instâncias colegiadas se constituam a serviço,
principalmente, do desenvolvimento do trabalho pedagógico
em que os atores da escola, legítimos representantes de seus
segmentos, discutam mecanismos e iniciativas para dar
prosseguimento às atividades positivas, a propor reflexões e
atitudes para superar dificuldades constatadas e, em
especial, a não se prender a cumprir mera exigência
regimental, estatutária, protocolar;
• estabelecer um espaço de análise de temáticas e
metodologias de trabalho, para a comunidade escolar, que
articulem as reflexões mais amplas sobre as diferentes
formas de gestão democrática nos diferentes momentos
históricos no Estado do Paraná, as interferências das
agências multilaterais e propor ações participativas que nos
aproxime do ideal, principalmente na construção do Projeto
Político-Pedagógico da Escola.
Reflexões para a temática proposta
Qual a função social da escola?
O que é Gestão Democrática?
Por que é importante refletir sobre Gestão Democrática?
Que papéis podem assumir as Instâncias Colegiadas?
Quais as áreas de intervenção das Instâncias Colegiadas?
A quem as instâncias colegiadas devem servir?
19
Por que é importante analisar a interferência das agências
internacionais nas políticas públicas de educação?
O que é e como construir um Projeto Político Pedagógico de
forma coletivo?
Temas e sub-temas:
• Histórico da Gestão Democrática no Paraná/Brasil.
- Conselho Escolar;
- Conselho de Classe;
- Associação de Pais, Mestres e Funcionários;
- Grêmio Estudantil.
• As Agências Internacionais.
- Banco Mundial – BIRD – FMI – BID
- UNESCO – UNICEF - CEPAL
• Projeto Político-Pedagógico.
- Princípios norteadores do PPP;
- Princípios Orientadores;
- A construção do PPP;
- Elementos constitutivos do PPP.
Sugestões de textos e excertos para subsidiar as reflexões:
ANTUNES, A. Aceita um Conselho?Como organizar o Colegiado
Escolar. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2002.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº
9394/96). Brasília: MEC, 1997.
CASASSUS, J. Tarefas da Educação. Ed. Autores Associados, 1995.
DUARTE, Newton. As pedagogias do “aprender a aprender” e as
ilusões da assim chamada sociedade do conhecimento.
http://www.pde.pr.gov.br.
20
HIDALGO, Â. M. Tendências contemporâneas da privatização do
ensino público: o caso do Estado do Paraná. São Paulo, 1998.
(Dissertação de Mestrado – PUC – SP).
GENTILI, P. Adeus à escola pública: a desordem neoliberal, a
violência do mercado e o destino da educação das maiorias. In:
GENTILI, P. Pedagogia da exclusão: crítica ao neoliberalismo
em Educação. São Paulo: Vozes, 2005.
GOHN, M. da G. Educação não-formal, participação da
sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas.
LIBÂNEO, J.C. O projeto de educação nacional: a desatenção aos
critérios de qualidade das aprendizagens escolares.
NAGEL, L.H. O Estado brasileiro e as políticas educacionais a
partir dos anos 80.
OLIVEIRA, C. Prefácio. IN:LIMA, A.B.de.Estado,políticas
educacionais e gestão compartilhada.São Paulo: Xamã, 2004.
ORQUIZAS, E. A redefinição no espaço público na organização
da escola pública. Brasília: Revista ANPED, n 26.
OS ARAUTOS da reforma e a consolidação do consenso: anos de
1990. In: SHIROMA, E. et all. Política Educacional. Rio de Janeiro:
DP&A, 2002, p.53-86.
SILVA, M.A. Do projeto político do Banco Mundial ao projeto
político-pedagógico da escola pública brasileira. Campinas:
Cadernos CEDES, v.23, n.61,2003.
VEIGA, I.P.A. Inovações e projeto político-pedagógico; uma
relação regulatória ou emancipatória? Campinas: Cadernos
CEDES, v.23, n.61,2003.
21
Encaminhamentos para a ação
• Sensibilização com as necessidades pedagógicas existentes na
escola.
• Participação das soluções dos problemas pedagógicos havidos
na escola.
• Apropriação do direito à voz e voto nas Instâncias Colegiadas,
sabendo a diferença entre opinar e decidir para a prática de
ações visando à melhoria das atividades pedagógicas.
• Conscientização de que democracia implica co-responsabilidade
com os compromissos assumidos, participação nas tomadas de
decisão.
• Análise dos verdadeiros significados para: participação,
autonomia, democracia, cidadania.
• Conscientização de que as Instâncias Colegiadas devem ser o
canal legítimo de participação da comunidade.
• Participação das Instâncias Colegiadas na definição dos
objetivos de aprendizagem, seja no Planejamento, na
implementação, bem como na avaliação das ações da escola.
• Conscientização sobre a importância das Instâncias Colegiadas
nas decisões administrativas, financeiras e político-pedagógicas,
de acordo com as necessidades e potencialidades da escola.
Avaliação
Será contínua para possibilitar a readequação da presente
proposta sempre que necessário.
Sandra Maria Albino
Professora PDE
22