Artigo danca cognicao
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DANÇA, COGNIÇÃO E AFETIVIDADE NA FORMAÇÃO DO FUTURO
PROFISSIONAL DE FISIOTERAPIA
Flávia Pinheiro Della Giustina1/FACIPLAC-DF
e-mail: [email protected]
Carla Chiste Tomazoli2/FACIPLAC-DF
e-mail: [email protected]
Resumo: O objetivo desse estudo foi investigar, sob a visão do graduando em Fisioterapia, seu
processo de formação, a partir do Curso de Extensão em Dança e Movimento e seus recursos
mobilizadores, bem como suas contribuições ao despertar a afetividade e cognição dos alunos no
Ensino Superior. Participaram da amostra 6 alunas do 2°, 4° e 5° períodos, e 7 crianças com
patologias neurológicas, que tiveram papel fundamental para incitar a reflexão, tanto dos
atendimentos convencionais realizados na clínica, quanto dos encontros de dança. Os
instrumentos utilizados foram os registros escritos em Incidentes Críticos e relatos dos encontros
do grupo de Dança e Movimento, realizados na clínica-escola de Neuropediatria das Faculdades
Integradas da União Educacional do Planalto Central, situada no Gama/DF. Os dados desse
estudo piloto foram coletados, transcritos e encaixados em análise de conteúdo, tendo uma
abordagem qualitativa, descritiva dos fenômenos. Os resultados mostraram que, tanto nos
atendimentos convencionais quanto nos encontros de dança, as dimensões cognitivas e afetivas
estiveram presentes, contudo a estratégia utilizada na dança permitiu às alunas da Fisioterapia
maior expressão da afetividade e reflexão da prática, contribuindo para futuras pesquisas com
elucidações acerca da formação numa visão humanística a que se propõe a graduação.
Palavras-chave: dança; cognição e afetividade; formação humanística.
1 Mestre em Psicologia do Desenvolvimento Humano em Processos Educativos e Especialista em
Psicopedagogia Clínica pela Universidade Católica de Brasília (UCB-DF), formada em Dançaterapia pelo Método
María Fux, professora do curso de Extensão em Dança e Movimento do curso de Fisioterapia das Faculdades
Integradas da União Educacional do Planalto Central (FACIPLAC-DF), e dos cursos de Farmácia e Enfermagem;
atua como psicopedagoga clínica em consultório próprio.
2 Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB), Especialista em Fisioterapia Clínica
pela UNIPLAC (União Educacional do Planalto Central), professora do curso de Fisioterapia da FACIPLAC em
Estágio Supervisionado I – Pediatria/Neuropediatria. 1
1 – Introdução
A proposta do presente estudo sugere uma reflexão acerca da formação do profissional de
Fisioterapia ao considerar o aspecto humanístico da graduação como necessário para o
desenvolvimento pessoal e profissional. Sabe-se que não é somente a cognição a ser priorizada
num curso de graduação, mas também os aspectos afetivos decorrentes do próprio processo de
aprendizagem humana.
O que se observa é uma tendência educacional prevista nos Parâmetros Curriculares
Nacionais dos cursos de graduação em não se focalizar os treinamentos do desenvolvimento
motor e práticas numa visão teórica ou tecnicista a ser utilizada pelo futuro profissional. Mas, na
prática do Ensino Superior, isso ainda ocorre de forma muito frequente.
Essa necessidade do profissional de Fisioterapia em ligar os aspectos motores à
afetividade e à cognição advém da observação na própria clínica, no período de estágio dos
graduandos, quando se percebe que não somente os conteúdos apreendidos nas disciplinas do
curso superam a demanda ao trabalhar com o paciente de forma satisfatória, pois é necessário
algo a mais. Principalmente, quando se depara com algumas dificuldades nos atendimentos de
Fisioterapia, pois muitos pacientes necessitam de tratamento por longos períodos, o que torna as
ações repetitivas e exaustivas. Para crianças que não têm a consciência dos seus ganhos, a
continuidade do processo terapêutico nessa situação passa a ser desagradável e pouco proveitosa.
Por isso, colocar-se no lugar do outro é imprescindível.
Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso (PCN/CES, 2002), os alunos
futuros profissionais deverão atuar sempre “sensibilizados e comprometidos com o ser humano,
respeitando-o e valorizando-o.” Assim, ao utilizar as estratégias da dança no Curso de Extensão
e relacioná-las com os atendimentos convencionais a pacientes portadores de deficiências
neurológicas, buscou-se a combinação de música, movimento, cognição, sentimentos e emoções,
para estabelecer conexões e a reflexão da atuação profissional nos atendimentos.
O aspecto lúdico abordado pela dança espontânea, como elemento mobilizador para o
processo de aquisição de movimentos voluntários, respeita a individualidade da criança e seu
desenvolvimento, e seus recursos são diferenciados dos equipamentos utilizados na Fisioterapia
tradicional.
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2 – Referencial Teórico
O estudo apoiou-se na teoria de desenvolvimento de Henri Wallon, na fase adulta, e no
desenvolvimento da afetividade de Vygotsky, como inseparável da cognição e da dimensão
social, tal qual as demais funções psicológicas superiores.
Na visão de Vygotsky há uma interconexão funcional dos pensamentos e sentimentos, ou
seja, da cognição e dos afetos, que para ele um não ocorre sem o outro. Isso acontece devido aos
processos volitivos, ou seja, movidos pela vontade, que é inicialmente social. Para ele, essa
realização faz parte da condição do ser humano e não acontece sem a presença das relações
sociais que a potencializam. Ou seja, no contexto de formação do aluno, as conexões entre
cognição e afetividade serão observadas na realidade social, no próprio contexto das interações
de aprendizagem.
Contribuindo para essa compreensão da dimensão social dos pensamentos e emoções, o
desenvolvimento da afetividade para Wallon tem papéis diferenciados em cada estágio da vida
do indivíduo, porém o enfoque diante o delineamento da pesquisa é a idade adulta, quando as
transformações ocorridas na vida estão focadas nas “suas necessidades, possibilidades e
limitações, seus sentimentos e valores, (...) escolhas em decorrência de seus valores. Há um
equilíbrio entre estar centrado em si e estar centrado no outro.” (MANOHEY & ALMEIDA,
2009)
Loberto (2009), apoiado nos estudos de Wallon acredita que a afetividade desempenha
papel crucial no desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo em formação. Baseando-se
nessa tendência da formação do aluno na graduação, percebe-se que humanizar, quando se trata
de saúde, refere-se à possibilidade de uma transformação cultural da gestão e das práticas
desenvolvidas nas instituições, assumindo-se uma postura ética de respeito ao outro, de
acolhimento do desconhecido, de respeito ao usuário, o mesmo passando a ser entendido como
um cidadão e não apenas como um consumidor de serviços de saúde. (SILVA & SILVEIRA,
2011). Freire (1996) também já criticava o ensino puramente técnico-científico, pois para ele
"transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de
mais fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador".
Conforme Buss & Niehues (2009), somente a formação técnica não basta, pois na
educação, o homem precisa entender seus semelhantes. Assim, o estudo torna-se de grande
relevância, pois reconhece o Ensino Superior como lugar para desenvolver pesquisas sobre seus
próprios atores, e no caso, especificamente sobre a percepção dos próprios alunos de
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Fisioterapia, dando-lhes voz para reflexões contínuas acerca do processo de formação e do
desenvolvimento humano em processos educativos.
Diante do objetivo proposto, houve a necessidade de redefinição do conceito de
humanizar para esse estudo, ao considerar que a afetividade do futuro profissional visa
reconhecer e aceitar o outro em sua totalidade, desde já na formação inicial, na graduação. Essa
visão leva em consideração o conceito de aprendizagem pautado no respeito ao bem-estar do
sujeito e em suas possibilidades de adaptação para alcance dos objetivos propostos,
principalmente quando se trata de atendimentos às crianças.
O estudo de Mizukami (2009) baseia-se na abordagem humanista de ensino-
aprendizagem, ou seja, também no processo de formação do aluno, sob a visão das interações
que são estabelecidas ao aprender. Tal estudo apresenta como características o aluno como um
ser único em processo de descoberta, sendo seu objetivo a auto-realização ou uso pleno de suas
potencialidades, quando se busca estabelecer qualidade nos relacionamentos interpessoais, e um
conhecimento dinâmico para uma aprendizagem que abranja conceitos e experiências resultantes
de um processo de aprendizagem pessoal.
Com base nos estudos já realizados através da música e da dança, é importante ressaltar
Fux (1998), que sustenta a impossibilidade de compreender a música sem mover o corpo, pois
pelos sons o corpo é estimulado a produzir imagens, as quais se comunicam entre si na busca da
totalidade ao expressar-se. Para essa mesma autora, a música quando absorvida, produz o
movimento, ou seja, transforma-se em corpo-movimento e movimento pelo corpo. Assim,
também ocorrem com as cores, as palavras, os objetos que utiliza em seu método de
dançaterapia, os quais são observados e interpretados, segundo a experiência subjetiva de cada
um, e podem ser mobilizadores de novas possibilidades de movimentos corporais.
Esse método de dançaterapia criado por essa autora surgiu com a necessidade dela
própria, bailarina e coreógrafa, buscar novas formas de se movimentar após uma queda e ruptura
da patela. Com a interrupção e impossibilidade de dançar como antes, descobriu como ativar as
partes sadias do corpo para mover-se de maneira prazerosa e integrando outras partes do corpo
em cada movimento.
Nesse contexto de dança para a integração, totalidade do indivíduo e aprendizagem, que o
presente estudo baseou-se para utilizá-la como recurso para aprender e reaprender de forma
humanística. Condrade et. al (2010) revela a importância de incluir conhecimentos e práticas de
trabalho com foco na corporeidade e alteridade, na perspectiva da humanização em saúde, para
que se aprenda a lidar com emoções e subjetividades. E a dança nesse contexto, também em
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Santos & Coutinho (2008), é considerada um veículo/instrumento que pode ser utilizado para
recreação e/ou reabilitação.
3 – Metodologia e Procedimentos
Para alcance dos objetivos, adotou-se o procedimento metodológico da pesquisa
experimental, de forma exploratória e descritiva dos fenômenos, com abordagem qualitativa. Os
resultados coletados dos registros escritos, dos momentos de observação na clínica-escola, e de
vivência na dança foram analisados qualitativamente pelas pesquisadoras, encaixados em
categorias de análise de conteúdo.
A amostra do estudo foi composta por 6 alunas de vários períodos do curso, que
participaram da inscrição e seleção para o Projeto de Extensão e hoje ainda se encontram no
estágio de treinamento e/ou observação de 7 crianças, escolhidas quanto à disponibilidade em
participar das sessões grupais de dança, em 8 encontros, nos meses de agosto a outubro, no
horário previamente estabelecido, com duração de 45 minutos aproximadamente, além de ter
idade compreendida entre 4 a 10 anos, e apresentarem cognitivo preservado em suas patologias.
A proposta sugerida foi conduzida pela professora-pesquisadora, com formação em
Dançaterapia (Método Maria Fux), e acompanhada pela outra professora-pesquisadora
fisioterapeuta, a fim de observar o grupo assinalando as necessidades que percebia para um
melhor desenvolvimento das crianças sob aspecto motor, e das alunas, sob aspecto da formação
profissional. Todas as alunas-fisioterapeutas participaram das sessões, ora realizando
movimentos com a criança, ora realizando as propostas de movimento conjuntamente como
integrante participativo do grupo.
As alunas responderam 3 (três) avaliações /investigações na forma de redação, Incidente
Crítico (IC), para levantar o componente afetivo ao trabalhar com crianças especiais. Esse
instrumento para coleta de dados foi baseado no estudo de Loberto (2009), e é um instrumento
muito utilizado em pesquisas qualitativas em Educação sobre formação de professores, pois
consiste em uma técnica de análise do cotidiano. Ao analisar o incidente, ou seja, um caso, o
indivíduo que faz a análise está falando de si mesmo, de suas crenças, concepções sobre o
assunto tratado, ao se referir às outras pessoas. (LOBERTO, 2009)
Esse modelo de instrumento foi adaptado em casos que focavam as patologias
neurológicas de dados de anamneses da clínica-escola/FACIPLAC. As alunas-fisioterapeutas
analisaram os casos de forma espontânea, sempre no contexto de ensino-aprendizagem, na sala
de atendimento do Estágio Supervisionado ou na sala de atendimento da Fisioterapia adaptada
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para os encontros de dança, escrevendo o que achavam pertinente ao tratamento com cada
criança sugerida nos Incidentes Críticos (IC-01, IC-02, IC-03):
Incidente Crítico (IC-01)
Márcia tem 11 anos é portadora de paralisia cerebral traqueleomalácia periventricular, e
realiza atendimentos de fisioterapia desde os três meses de idade. Sempre demonstrou interesse e
participação nas propostas terapêuticas, porém, a partir desse ano, revelou resistência na
continuidade do seu tratamento, e relatou aos pais que não quer mais frequentar as sessões. O
prejuízo da interrupção no tratamento é grande, pois perderia as funções motoras já adquiridas,
sendo que ainda não anda. Ela é uma criança feliz, respeitada pelos pais, que também estão
preocupados com essa decisão da filha. Ela tem dito a eles com freqüência: “Faço sempre as
mesmas coisas, mamãe!”, “Estou enjoada, não quero ir!”, “É chato, papai!”. A mãe se pergunta
se não haveria outras formas de conduzir o tratamento da filha e gostaria que ela continuasse
feliz na luta para alcançar seus desejos de ver um dia a filha andar.
Incidente Crítico (IC-02)
A criança tem 2 anos, é portadora de Epidermólise Bolhosa, uma doença cuja alteração
de pele é generalizada. A qualquer toque, gera-se uma ferida com sangue, de foco interno e
externo, com riscos de infecção. Sua alimentação é naso-parental, porque nada pode encostar-se
a sua pele, nem mesmo alimentos. Só pode ingerir um tipo de leite, e também, com cuidados
durante este momento, pois o leite não pode cair em contato com sua pele. Cada lata deste leite
custa R$300,00 (trezentos reais), e ela consome ao longo de um mês 21 latas. Sua família é
humilde, e seus pais somente agora conseguiram que o SUS arcasse com essa despesa em seu
tratamento. As feridas são tratadas com remédios de uso tópico que podem sair com água, para
que não haja necessidade de cobrir com gaze, ou mesmo de passar algodão, que vinha
ocasionando feridas ainda piores. O tratamento sugere, além de fonoaudiologia, atendimentos em
fisioterapia, visto que ainda não anda, sua motricidade encontra-se aquém para sua idade. Porém,
o profissional para atendê-la deve usar luvas, capote, máscara e touca. O local de contato dela
com o chão ou colchões necessita ser forrado com lençol para evitar contaminação, pois tem
muitas feridas pelo corpo. Já emite alguns sons, fala “mamãe”, “papai”, “dá”; ri e chora quando
frustrada. É uma criança que gosta de brincar, e faz um bom contato visual.
Incidente Crítico (IC-03)
A criança tem 8 anos e apresenta Amiotrofia Espinhal, uma lesão no corno posterior da
medula. Seu quadro motor é precário para sua idade, pois revela falta de controle do equilíbrio.
Quando colocada para sentar, e acontece qualquer inclinação do eixo de equilíbrio, perde o
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controle e desarma. Para pegar um objeto na linha média, precisa apoiar o cotovelo sobre o
joelho realizando uma alavanca. Essa criança é insegura, tem medo de cair, e seus movimentos
ainda se tornam mais limitados perante esse aspecto emocional.
4– Análise e Discussão dos Dados
Para análise desses Incidentes Críticos, foram observadas as dimensões cognitivas e
afetivas das 6 alunas participantes (AL-01, AL-02, AL-03,, AL-04, AL-05, AL-06). (Tabela de
transcrição das redações). As alunas expressaram sentimentos, porém apenas 2 do grupo (AL-05
e AL-06) não explicitaram afetos, nem nos atendimentos da clínica convencional, nem nos
encontros da dança. Entretanto, vale ressaltar que embora não explicitam afetividade, estão
participando, realizando os atendimentos e observações na clínica, bem como dos comandos
solicitados nos encontros da dança.
Para AL-01, a hidroterapia e a equoterapia são conhecidas e reconhecidas pelos
profissionais da Fisioterapia como atendimentos eficazes no tratamento com crianças com
patologias neurológicas, porém a dançaterapia não tem uma aplicação como as outras formas de
atendimento que não utilizam mesmos recursos e/ou estratégias tradicionais nos serviços da
Fisioterapia. Há um desconhecimento por parte da aluna sobre atuações abordando a dança como
recurso para os atendimentos com essas crianças. Ela percebe a necessidade de estimular as
crianças nos atendimentos da Fisioterapia tradicional, e sabe da importância da participação de
forma prazerosa do paciente, pois reconhece que isso contribui para o desenvolvimento dos
atendimentos.
O olhar do futuro profissional nos encontros com a dança não romperam com a proposta
de formação, pois está presente quando observa as crianças e vivencia os movimentos
executados por todos. Essa observação traz conceitos próprios da Fisioterapia, e reconhecê-los
no corpo em movimento faz refletir a aplicabilidade dos recursos da dança.
Essa utilização dos recursos da dança possibilitou a percepção do outro além dos
movimentos corporais. As observações, como compartilhar os movimentos, a simplicidade dos
materiais utilizados que despertam a movimentação e o prazer, os momentos agradáveis, o
aprender a conviver e respeito, estiveram presentes.
Para AL-02, a dimensão afetiva também é priorizada no atendimento convencional, pois
para ela a interação é construída com cuidado. Mostra respeito pelo ritmo do paciente e dessa
própria interação. A partir do movimento da criança, percebe que o tratamento convencional tem
resultados significativos porque há colaboração dela. Prazer, curiosidade, respeito permeiam a
relação fisioterapeuta-paciente. E ao olhar para si, fisioterapeuta, percebe que também pode
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trabalhar sua possibilidade de amplitude, mobilidade, graduação de força, assim como as
crianças.
Tabela 1 - Transcrição das redações
Incidente Crítico Fisioterapia Tradicional Relato dos encontros da dança Curso de Extensão
Alunas Dimensão da Cognição Dimensão da Afetividade Dimensão da Cognição Dimensão da Afetividade AL- 01 (IC/01)...levá-la ao conhecimento
da hidroterapia, equoterapia e até mesmo da dançaterapia e observar com qual ela mais se identifica e aproveitar isso... (IC/02)...dar a essa criança estímulos proporcionará um desenvolvimento melhor, ... possibilitará um desenvolvimento neuropsicomotor mais próximo do normal.
(IC/01)... pois nada adianta no tratamento se o próprio paciente não acreditar ou estiver gostando.
... estimula a flexibilidade, além de ser um elemento de apoio,... exige força muscular, mas não tão intensa a ponto de levar à fadiga. ...utilizamos a cadeira como ponto de apoio. Foi interessante o desenvolvimento da cada criança... ...a participação foi muito boa em relação ao último encontro, ela quase não se movia. O uso do tambor trabalha o lado da coordenação e por ter... que usar os membros de forma simétrica. Utilizar o papel celofane ... é uma forma de agregar...motor e cognitivo da criança, tendo suas propriedades físicas como aliado facilita e induz... a fazer movimentos. ....a criança faz alongamentos e trabalha a musculatura de forma excêntrica, concêntrica....
A experiência de hoje com a dança foi muito boa.... ...compartilhamos os movimentos com o próximo. ...percebi que tinha criança acanhada, no entanto curiosa em participar. Acredito que a cada encontro mais interessante será o resultado. Gostei da música... acredito que para as crianças também foi bom. ....e a reação das crianças foi a melhor possível. Quanto mais diferente for o objeto utilizado, mais atrativo se torna o encontro para as crianças. A ideia do papel celofane abriu meus olhos...algo simples... e no entanto trazer bom resultado. A interação que nós alunos e professores tivemos deve continuar, foi um momento agradável... entre as crianças, isso é importante..., aprender a conviver... Aqui é um local que não deve haver preconceito...porque a forma de funcionalidade dele é atípica, mas cabe a nós... incentivarmos o contato e respeito mútuo.
Transcrições das redações
Incidente Crítico Fisioterapia Tradicional Relato dos encontros da dança Curso de Extensão
Alunas Dimensão da Cognição Dimensão da Afetividade Dimensão da Cognição Dimensão da Afetividade AL- 02 (IC/01)...com crianças é
importante ...o despertar da curiosidade... recursos...atrativos e prazerosos...permite uma colaboração maior do paciente e ao mesmo tempo resultados significativos...
(IC/02) O cuidado, delicadeza para desenvolver uma interação, é fundamental. (IC/03) O movimento pode ser construído pela criança.
...permite um trabalho...de tudo...força muscular, respiração, equilíbrio, coordenação motora, mobilidade articular... flexibilidade, alongamento. Foi proporcionado a todos... a possibilidade de amplitude, mobilidade, graduação da força... que o corpo muitas vezes realiza sem perceber.
...recursos...devem ser criativos e atrativos, porque senão o corpo simplesmente ignora o que é proposto....comandos estimulam a descoberta do corpo tanto do próprio como do outro. ...a expressão da liberdade pode ser sentida...
AL- 03 (IC/03)... um cercado com ajuste, permitindo que sua circunferência aumentasse... com altura no abdômen da criança...
(IC/01)O que é possível ser feito é descobrir a causa desse desânimo. ao meu ver, essa criança precisa enfrentar o medo. (IC/02)...é atenta a tudo, principalmente aos sons... se embala... (IC/03) Ela perderia o medo, porque o objeto de sua confiança não está longe.
Pude perceber articulações antes quase imóveis... O elástico me trouxe segurança, equilíbrio e coordenação. Houve movimento, equilíbrio, iniciativa própria.
Eu estava ansiosa... senti-me envolvida pela música, calma... mas que não me deixou dormir. Mas eu fiquei o tempo toda preocupada com a criança. Eu esqueci que ela independe de mim, que ela tem vontade própria. Talvez por querer o melhor para o paciente. Não é só o paciente que está aprendendo, mas os fisioterapeutas também. Eu estou aprendendo a confiar mais nos outros. Permitindo que a criança mostre o que ela é capaz. Trazer o tambor pra dança foi muito bom! Espontâneo. Era aquilo que eu queria. Mesmo sem saber qual movimento ou fala que eu faria, quando chegasse minha vez.
Transcrições das redações
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Incidente Crítico Fisioterapia Tradicional Relato dos encontros da dança Curso de Extensão
AL- 04 (IC/01)... O fisioterapeuta...tem que elaborar novas formas de continuar trabalhando, para que as funções já adquiridas ao longo desse período possa evoluir. (IC/02) É preciso trabalhar sua motricidade e usar do seu contato visual como um "aliado" no tratamento.(IC/02) É preciso trabalhar o seu controle de equilíbrio para poder desenvolver melhor outras funções.
Trabalhamos as articulações com o nosso limite, não promovendo uma coisa forçada ou impossível de se realizar.Para as crianças... será um benefício estimular aquilo que talvez na fisioterapia não se perceba....trabalhou a concentração porque tem que esperar a batida do tambor.
...é uma nova experiência para o conhecimento do nosso próprio corpo.A música te deixa leve e te possibilita a fazer os movimentos sem sequer ser planejado...Esse encontro que utilizamos o próprio tambor foi muito divertido e envolvente. As crianças se soltaram, sorriram, se sentiram mais seguras pelo fato de estarem sentadas no chão. A força de vontade das crianças é notável em querer realizar os movimentos iguais ou até mesmo parecidos....permitiu conhecer mais o nosso corpo e também o corpo do outro......espero que o grupo evolua cada vez mais.
AL- 05 (IC/01) Deve-se incentivar os pais a buscarem uma nova forma de tratamento para a filha, mas não abandonar a fisioterapia tradicional, ressaltando sempre a ela a importância de continuar o tratamento.(IC/02) Como o cognitivo ...é preservado...é mais fácil buscar alternativas como a dançaterapia para auxílio na terapêutica da criança...
... o elástico trabalha a flexibilidade e a força do corpo....o trabalho vai sendo realizado de forma tranquila e rítmica......foi trabalhado a força muscular, o equilíbrio para realizar os movimentos de uma forma mais dinãmica e livre. ...a primeira experiência com as crianças foi muito proveitosa, todas cooperaram , dentro de seus limites......mas aos poucos e com paciência conseguiremos fazer que ele participe melhor da atividade.
Transcrições das redações
Incidente Crítico Fisioterapia Tradicional Relato dos encontros da dança Curso de Extensão
Alunas Dimensão da Cognição Dimensão da Afetividade Dimensão da Cognição Dimensão da Afetividade AL- 06 (IC/01) O fisioterapeuta deve
conscientizar a criança, e principalmente os pais da importância do tratamento e ... que não deixem a criança desistir, mesmo que ela queira.O fisioterapeuta deve traçar um tratamento mais dinâmico para despertar o interesse dela novamente. (IC/02) ...o tratamento deve ser mais específico ...
...movimentos fizeram com que as crianças trabalhassem a concentração, coordenação, amplitude de movimentos e equilíbrio.Percebemos que a maioria se divertiu e fez os movimentos , na medida do possível...
Transcrições das redações
Aluna AL-03 percebe que o passo inicial para mudança da criança é descobrir os motivos
que a levam a responder aos estímulos da maneira que apresenta. Isso a faz refletir as técnicas
empregadas. Na fisioterapia convencional revela dúvida, esperança em suas ações. Na dança,
mostra afetividade quando explicita ansiedade pelos momentos a serem realizados por ela
mesma, preocupação com o outro, respeito pela criança, por si mesma. Os movimentos sugeridos
revelaram a ela a descoberta de suas próprias articulações antes quase imóveis.
A criatividade é reconhecida como algo que pode ser desenvolvida pelo fisioterapeuta,
tanto no atendimento convencional quanto na dança, porque o corpo realiza os movimentos
quando há prazer, bem-estar e liberdade.
A necessidade do fisioterapeuta em buscar formas para garantir a evolução do paciente é
revelada por AL-04 como um recurso que depende da formação do profissional nos
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atendimentos convencionais. O paciente recebe as estimulações do profissional, e sua
participação nos atendimentos é a de executor. Já nos encontros da dança, também se observa
aspectos motores, como a articulação, mas nesse momento ela mesma percebeu que o
movimento não é forçado. E então reflete que tais movimentos, aqueles executados de forma
espontânea, podem passar despercebidos na fisioterapia tradicional. Os sentimentos nos
momentos de dança foram de alegria, descontração, segurança, prazer, entretanto no atendimento
convencional, a afetividade não é revelada.
Tais sentimentos explicitados a partir dos recursos da dança, por AL-04, ressaltam a
importância de conhecer o próprio corpo e do outro, ter a liberdade de movimentar. Essas
observações mostram a afetividade representada não somente na relação com o outro, mas
também um respeito às próprias condições enquanto participante do grupo, diferentemente dos
atendimentos convencionais relatados por ela. O aluno-fisioterapeuta na dança coloca-se numa
posição de igualdade com as crianças, percebendo que possui dificuldades e limitações também.
As dificuldades encontradas nos atendimentos pelo futuro fisioterapeuta podem ser
vivenciadas, mas nem sempre serão conduzidas pelo profissional respeitando as demandas do
próprio paciente, como observado nos relatos de AL-05. Há um desejo e expectativas de melhora
no tratamento por parte da aluna, uma expectativa e ansiedade, porém revela não saber como
conduzi-las, principalmente quando lhe exige compreensão/aceitação das emoções e sentimentos
do outro perante os atendimentos já realizados.
O cognitivo preservado da criança possibilita buscar novas alternativas nos atendimentos
da fisioterapia tradicional, que podem auxiliar a condução terapêutica, porém essa mesma aluna
ainda não sabe como utilizá-las na prática. Embora participe dos encontros da dança, não revela
seus sentimentos e emoções, limita-se a reconhecer que os recursos trabalham flexibilidade,
ritmo, força muscular, porém não explicita afetividade, fica na observação das crianças enquanto
executoras de movimentos. Vale ressaltar que sua participação nas produções escritas, respostas
aos Incidentes Críticos e relatos, foi reduzida, pois não realizou todas as tarefas solicitadas.
Percebe-se que ainda não há maior compromisso e envolvimento pelo trabalho realizado no
Curso de Extensão em Dança e Movimento, talvez por ainda não reconhecer como importantes
outras estratégias que não sejam da Fisioterapia tradicional.
O tratamento da criança é visto como importante, porém a aluna AL-06 não percebe que
depende também da relação que é estabelecida. Aqui, os pais e a criança puderam sentir,
expressar suas dificuldades, entretanto o fisioterapeuta pode ser mais criativo e afetivo nessas
situações. Essa aluna percebe que o atendimento pode ser mais específico como o caso
apresentado, porém ainda não consegue identificar quais seriam essas demandas.10
5 – Considerações Finais
Todas as 4 alunas revelaram compreensão da proposta e participação de forma singular,
visto que cada uma mostrou a sua maneira de movimentar, seu ritmo interno e exploração
diferenciada dos recursos mobilizadores utilizados, como elástico, cadeira, tambor, papel
celofane. Com base nos relatos das alunas após as vivências, ficou evidenciada a percepção delas
quanto à diferença de tempo de exploração dos materiais, originalidade na manipulação deles,
pois nenhum movimento era igual.
Pode-se perceber que os momentos diferenciados em situação de aprendizagem na
formação puderam revelar as dimensões cognitivas e afetivas que foram acionadas nas interações
com as crianças. E as situações de aprendizagem vividas no Curso de Extensão despertaram no
futuro profissional um olhar diferente, focado não somente no movimento mecânico, mas
naqueles espontâneos que despertam prazer e bem-estar em quem realiza, além de compreender
que há expectativas geradas nos atendimentos, seja pela criança, seja pelo fisioterapeuta.
A formação humanística dos alunos, integradora, pode influenciar os envolvidos na
participação de atividades práticas que inserem aluno-docente-crianças em um contexto de
“aprendizagem que abranja conceitos e experiências resultantes de um processo de aprendizagem
pessoal”. (MIZUKAMI, 2009)
A dança e seus recursos mobilizadores de movimentos possibilitou vivenciar essa
aprendizagem pessoal e refletir a profissional, integrando afetos, movimentos e cognição. Assim,
essa pesquisa mostra que é possível essa integração no processo ensino-aprendizagem sem fazer
dicotomias ao desconsiderar o papel dessa junção no Ensino Superior, seja em qual curso for.
REFERÊNCIAS
SILVA, Isabela Dantas da; SILVEIRA, Maria de Fátima de Araújo. A humanização e a
formação profissional em fisioterapia. Rev. Ciência e Saúde Coletiva, v.16, Supl. 1, Rio de
Janeiro, 2011. Disponível em: http://www.randradefisio.com.br/a-humanizacao-e-a-formacao-
do-profissional-em-fisioterapia. Acesso em: 12/08/2011.
BUSS, Ricardo Niehues; REINERT, José Nilson. O humanismo na formação do administrador:
caso UFSC. Avaliação (Campinas), v. 14, n°1, Sorocaba/SP, Mar. 2009. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-40772009000100011. Acesso
em: 09/10/11.
11
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: As abordagens do processo. São Paulo: EPU,
2009.
CONDRADE, et. al., Humanização da Saúde na formação de profissionais da fisioterapia. Rev.
Equilíbrio Corporal e Saúde, 2010; 2(2): 25-35.
LOBERTO, Tânia Sanches. O papel da afetividade no processo ensino-aprendizagem segundo
professores de Educação Física. In: ALMEIDA, Laurinda Ramalho; MAHONEY, Abigail
Alvarenga (Org.). Afetividade e aprendizagem: contribuições de Henri Wallon. São Paulo:
Loyola, 2009.
WALLON, H. Psicologia e educação na infância. Lisboa: Estampa, 1975.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
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