Artigo - Diagnosticos e açoes de enfermagem para UTI

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 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENFERMAGEM Patrícia de Oliveira Salgado IDENTIFICAÇÃO E MAPEAMENTO DOS DIAGNÓSTICOS E AÇÕES DE ENFERMAGEM DE PACIENTES INTERNADOS EM UMA UTI-ADULTO Belo Horizonte 2010

Transcript of Artigo - Diagnosticos e açoes de enfermagem para UTI

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENFERMAGEM

Patrcia de Oliveira Salgado

IDENTIFICAO E MAPEAMENTO DOS DIAGNSTICOS E AES DE ENFERMAGEM DE PACIENTES INTERNADOS EM UMA UTI-ADULTO

Belo Horizonte 2010

Patrcia de Oliveira Salgado

IDENTIFICAO E MAPEAMENTO DOS DIAGNSTICOS E AES DE ENFERMAGEM DE PACIENTES INTERNADOS EM UMA UTI-ADULTO

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem, nvel Mestrado, da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Enfermagem. Linha de Pesquisa: Cuidar em Sade e na Enfermagem Orientadora: Prof. Dr. Machado Chianca Tnia Couto

Belo Horizonte 2010

Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Enfermagem Programa de Ps-Graduao

Dissertao Intitulada: Identificao e mapeamento dos diagnsticos e aes de enfermagem de pacientes internados em uma UTI-Adulto, de autoria da mestranda Patrcia de Oliveira Salgado, aprovada pela banca examinadora, constituda pelas seguintes professoras:

____________________________________________ Prof Dr Tnia Couto Machado Chianca

__________________________________________ Prof Dr Alba Lcia Bottura Leite de Barros

__________________________________________ Prof Dr Flvia Falci Ercole

Belo Horizonte, 10 de Setembro de 2010

Av. Professor Alfredo Balena, 190 Belo Horizonte, MG 30130-100 Brasil Tel: (31) 3409-9836 Fax: (31) 3409-9836

DEDICATRIA

Ao meu pai, por ter feito dos meus sonhos os seus. Saudades!

A minha me, pelo exemplo de ser humano, pela sabedoria, pacincia e generosidade, por ser o meu porto seguro em todos os momentos da minha vida.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me conduzir e me amparar em todos os momentos. A minha me e meus irmos, pelo amor, compreenso e por estarem sempre ao meu lado. Ao Jaderson, pelo amor, carinho, incentivo, suporte tecnolgico e por compreender os momentos de ausncia. professora Dra Tnia Couto Machado Chianca, que me propiciou momentos nicos de orientao. As suas argumentaes e explicaes trouxeram grandes contribuies para o meu crescimento acadmico. Sou grata tambm, pela ateno com que sempre me acolheu e pela amizade que construmos durante esses anos de convvio. professora Dra Eliana Aparecida Villa, pela ateno, afeto, respeito e incentivo sempre presente em todos os momentos de convivncia. Ao Medimig, por abrir espao para a realizao deste trabalho, em especial ao Cleydson e Douglas. minha equipe de trabalho da Gerncia de Ensino e Pesquisa e Elizabeth pelo apoio Aos amigos do Ncleo de Estudos e Pesquisas sobre Sistematizar o Cuidado em Enfermagem-UFMG. Luiza e Meire, muito obrigada pela ateno e dedicao disponibilizadas a este trabalho. Aos professores e colegas do Mestrado que contriburam de alguma forma, para a realizao deste trabalho. Muito obrigada a todos!

SALGADO, P. O. Identificao e mapeamento dos diagnsticos e aes de enfermagem de pacientes internados em uma UTI-Adulto. 2010. 129 f. Dissertao (Mestrado em Enfermagem) Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.

RESUMO

Embora o cuidado de enfermagem seja considerado essencial para o tratamento da maioria dos pacientes, tal fato ainda no muito visvel ou reconhecido. Na prtica assistencial percebe-se a necessidade de se instrumentalizar os enfermeiros de Unidades de Tratamento Intensivo para implementar o processo de enfermagem de uma forma mais efetiva e com aes sistematizadas. Este estudo teve por objetivo geral analisar os registros diagnsticos e as aes de enfermagem prescritas por enfermeiros nos pronturios de pacientes internados em uma UTI de adultos de Belo Horizonte (MG). Trata-se de um estudo descritivo, com amostra de 44 pronturios dos pacientes internados na no perodo de 1 de setembro de 2008 a 1 de setembro de 2009. Foram identificados 1087 diagnsticos e 2260 aes de enfermagem. Aps excluso de repeties encontrou-se 28 diferentes ttulos de diagnsticos e 124 diferentes aes de enfermagem. Entre os diagnsticos, 7 foram formulados para mais de 50% dos pacientes. Os 28 diferentes ttulos de diagnsticos de enfermagem identificados encontram-se em 8 (dos 13) domnios da classificao da NANDA. Em relao ao mapeamento dos diagnsticos de enfermagem teoria das NHB, somente 3 diagnsticos referiam-se s necessidades psicossociais e nenhum esteve relacionado necessidade psicoespiritual. Quanto s 124 aes de enfermagem identificadas, 19 apresentaram freqncia maior que 50%. Dessas, apenas 5 foram prescritas para todos os pacientes. Metade das aes de enfermagem identificadas, 52%, foi prescrita para, no mximo, 9% dos pacientes. Todas as aes de enfermagem identificadas foram mapeadas s necessidades humanas bsicas psicobiolgicas. As aes de enfermagem identificadas tambm foram mapeadas s intervenes propostas pela NIC, sendo que todas puderam ser ligadas a esta classificao. Entretanto, as aes foram relacionadas a apenas 42 intervenes NIC, entre as 514 disponveis. Cento e setenta e duas intervenes NIC foram utilizadas no mapeamento das 124 aes de enfermagem da amostra. As 124 diferentes aes de enfermagem identificadas esto contempladas em somente 3 dos 7 domnios da NIC, sendo que 25 (55%) foram associadas ao domnio Fisiolgico Complexo. Quanto s classes de intervenes da NIC as aes identificadas compreenderam somente 33% dessas. Sugere-se que estudos semelhantes em UTI de outras localidades e diferentes contextos/especialidades sejam conduzidos para que seja possvel identificar os diagnsticos e as aes de enfermagem elaboradas e sua evoluo; acompanhar a evoluo dos diagnsticos e das prescries de enfermagem em relao identificao e atendimento a outras necessidades humanas para alm das necessidades psicobiolgicas. Palavras-chave: Enfermagem, Processos de Enfermagem, Classificao, Unidades de Terapia Intensiva.

SALGADO, P. O. Identification and mapping of the diagnoses and nursing actions of in hospitalizes patients adult ICU. 2010. 129 f. Thesis. Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.

ABSTRACT

Although nursing care is considered essential for the treatment of most patients, this fact is a little blurry or not recognized. In care practice we see the need to orchestrate the nurses to implement the Nursing Process in a more effective way with systematic actions. This reality has a greater impact, especially when we refer to Intensive Care Units (ICU). The objective of the study was to analyse the diagnoses records and nursing actions prescribed by nurses in the medical records of patients of an adult ICU of Belo Horizonte, Brazil. This is a descriptive study with a sample of 44 medical records of patients hospitalized in the period of September 1st, 2008 to September 1st, 2009. It was possible to identify 1087 diagnoses and 2,260 nursing actions. After deleting the repetitions, we found 28 different titles of diagnoses and 124 different nursing actions. Among the diagnoses, seven were made for more than 50% of patients. The 28 different titles of nursing diagnoses are identified in 8 (of the 13) areas of classification of NANDA. Regarding the nursing diagnoses mapping to the theory of basic human needs (NHB), only two diagnoses were related to the psychosocial needs and none was related to psychospiritual need. Within the 124 nursing actions identified, 19 had frequency higher than 50%. Of these, only 5 were prescribed for all patients. Most nursing actions identified, 52%, was prescribed for no more than 9% of the patients. All nursing actions identified were mapped to psychobiological basic human needs. Nursing actions identified were also mapped to the interventions proposed by NIC, all of which could be associated with this classification. However, the actions were related to only 42 NIC interventions, among the 514 available. One hundred and seventy-two NIC interventions were used in the mapping of 124 nursing actions of the sample. The 124 different nursing actions identified are included in only 3 of the 7 domains of NIC, in which 25 (55%) were associated with Complex Physiological domain. As for NIC classes interventions, the actions identified comprised only 33% of them. It is suggested that similar studies in the ICU from other places and different contexts/specialties are conducted to possibly identify diagnoses and nursing actions developed and its evolution; follow the evolution of nursing diagnoses and prescriptions regarding identification and attend other human needs beyond the physiological ones. Keywords: Nursing, Nursing Process, Classification, Intensive Care Units.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AORN - Association of periOperative Registred Nurses CDV - Validao Clnica de Diagnsticos CIPE - Classificao Internacional para a Prtica de Enfermagem CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico COFEN Conselho Federal de Enfermagem DDV - Validao Diferencial de Diagnsticos DE - Diagnstico de Enfermagem DVC - Validao de Contedo Diagnstico ICV - Validade de Contedo da Interveno NANDA - Associao Norte-Americana de Diagnsticos de Enfermagem NHB Necessidades Humanas Bsicas NIC - Classificao de Intervenes de Enfermagem NOC - Classificao dos Resultados de Enfermagem PE - Processo de Enfermagem PIC Presso Intra-craniana PNDS - Conjunto de Dados de Enfermagem Perioperatria SAE Sistematizao da Assistncia de Enfermagem SAEP - Sistematizao da Assistncia de Enfermagem Perioperatria TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UTI Unidade de Terapia Intensiva

LISTA DE ILUSTRAES

GRFICO 1 GRFICO 2 GRFICO 3 GRFICO 4 GRFICO 5 -

Distribuio percentual dos pacientes por faixa etria. Belo Horizonte/MG, 2008-2009......................................................51 Distribuio percentual das aes de enfermagem prescritas por porcentagem de pacientes. Belo Horizonte/MG. 2010.................58 Distribuio percentual dos domnios da NIC identificados na amostra. Belo Horizonte/MG. 2010.............................................. 73 Histograma do nmero de diagnsticos de enfermagem por paciente. Belo Horizonte/MG. 2009............................................ 97 Nmero mdio de diagnsticos de enfermagem da amostra como resultado da reamostragem por permutao Belo Horizonte/MG. 2009............................................................................................. 100 Resultado da reamostragem por permutao, mostrando o nmero mdio de diagnsticos de enfermagem na amostra com x+1 pacientes em funo do nmero mdio de diagnsticos na amostra com x pacientes. Belo Horizonte/MG. 2009................................. 101 Transformao da reamostragem por permutao, mostrando a razo entre a diferena entre o nmero mdio de diagnsticos de enfermagem na amostra com x+1 pacientes e o nmero mdio de diagnsticos na amostra com x pacientes com a diferena entre o nmero mdio de diagnsticos de enfermagem na amostra com x pacientes e o nmero mdio de diagnsticos na amostra com x-1 pacientes. Belo Horizonte/MG. 2009............................................102 Projeo do nmero mdio de diagnsticos de enfermagem em funo do nmero de pacientes na amostra, considerando a razo da figura 5 como constante (0.96) a partir do 44 paciente. Belo Horizonte/MG. 2009..................................................................... 103 Nmero mdio de aes de enfermagem da amostra como resultado da reamostragem por permutao. Belo Horizonte/MG. 2009.....105

GRFICO 6 -

GRFICO 7 -

GRFICO 8 -

GRFICO 9 -

GRFICO 10 - Estimativa do nmero de aes de enfermagem. Belo Horizonte/MG. 2009.......................................................................................... 106

QUADRO 1 Classificaes das Necessidades Humanas Bsicas segundo Horta................................................................................................. 23 QUADRO 2 Critrios de determinao de grau de experto para os enfermeiros....................................................................................... 47

QUADRO 3 Classificao dos diagnsticos de enfermagem quanto aos domnios e classes da NANDA. Belo Horizonte/MG. 2010.................................53 QUADRO 4 Mapeamento das aes de enfermagem s intervenes NIC. Belo Horizonte/MG. 2010..................................................................... 67 QUADRO 5 Intervenes NIC mapeadas s aes de enfermagem e sua localizao quanto ao domnio Fisiolgico Complexo e classes dessa classificao. Belo Horizonte/MG. 2010........................................... 74

LISTA DE TABELAS

1 - Diagnsticos de enfermagem identificados nos pronturios dos pacientes internados na UTI. Belo Horizonte/MG. 2010................................................. 52 2 - Aes de enfermagem prescritas para os pacientes internados na UTI. Belo Horizonte/MG. 2010........................................................................................ 54 3 - Diagnsticos de Enfermagem mapeados s Necessidades Psicobiolgicas. Belo Horizonte/MG. 2010........................................................................................ 59 4 - Mapeamento dos Diagnsticos de Enfermagem s Necessidades Psicossociais. Belo Horizonte/MG. 2010................................................................................ 60 5 - Aes de Enfermagem mapeadas NHB Segurana Fsica e Meio Ambiente. Belo Horizonte/MG. 2010................................................................................ 62 6 - Aes de Enfermagem mapeadas NHB Integridade Fsica. Belo Horizonte/MG. 2010................................................................................................................ 63 7 - Aes de Enfermagem mapeadas NHB Regulao Vascular. Belo Horizonte/MG. 2010........................................................................................ 64 8 - Aes de Enfermagem mapeadas NHB Cuidado Corporal. Belo Horizonte/MG. 2010................................................................................................................ 65 9 - Aes de Enfermagem mapeadas NHB Eliminao. Belo Horizonte/MG. 2010................................................................................................................ 65 10 - Aes de Enfermagem mapeadas NHB oxigenao, regulao trmica, alimentao e regulao neurolgica. Belo Horizonte/MG. 2010................... 66 11 - Pontuao dos expertos que participaram do processo de validao dos diagnsticos e intervenes de enfermagem. Belo Horizonte/MG. 2010....... 76

SUMRIO

1 INTRODUO ................................................................................................... 14 2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 20 2.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 20 2.2 Objetivos Especficos ...................................................................................20 3 REVISO DE LITERATURA ............................................................................. 21 3.1 Wanda Horta e a Teoria das Necessidades Humanas Bsicas ................ 21 3.2 A Teoria das Necessidades Humanas Bsicas segundo Benedet & Bub (2001)........................................................................................................25 3.3 Sistema de Classificao em Enfermagem ................................................ 31 3.3.1 Sistema de Classificao das Intervenes de Enfermagem NIC............ 33 3.4 Validao dos diagnsticos e intervenes de enfermagem ................... 36 4 METODOLOGIA ................................................................................................ 40 4.1 Tipo de Estudo .............................................................................................. 40 4.2 Local do Estudo ............................................................................................ 40 4.3 Populao e Amostra ................................................................................... 41 4.4 Coleta dos dados .......................................................................................... 42 4.4.1 Primeira Etapa: extrao do contedo dos diagnsticos e prescries de enfermagem nos pronturios e eliminao das repeties ..............................42 4.4.2 Segunda Etapa: normalizao do contedo ...........................................42 4.4.3 Terceira Etapa: mapeamento cruzado Teoria das Necessidades Humanas Bsicas e s Intervenes propostas pela NIC ..............................................43 4.4.4 Quarta Etapa: Validao dos diagnsticos e aes de enfermagem mapeadas ............................................................................................................................... 46 4.5 Tratamento e Anlise dos Dados ................................................................ 48 4.6 Aspectos ticos ............................................................................................ 49 5 RESULTADOS .................................................................................................. 50 5.1 Caracterizao dos pacientes ..................................................................... 50 5.2 Identificao dos diagnsticos de enfermagem registrados nos

pronturios........................................................................................................... 51 5.3 Identificao das aes de enfermagem prescritas .................................. 54 5.4 Mapeamento cruzado ................................................................................... 58

5.4.1 Mapeamento dos diagnsticos de enfermagem s necessidades humanas bsicas .................................................................................................................. 59 5.4.2 Mapeamento das aes de enfermagem s necessidades humanas bsicas................................................................................................................... 61 5.4.3 Mapeamento das aes de enfermagem s Intervenes propostas pela NIC......................................................................................................................... 67 5.5 Validao dos diagnsticos e das aes de enfermagem mapeadas....75 6 DISCUSSO ......................................................................................................78 7 CONCLUSES ..................................................................................................87 REFERNCIAS ... 90 Apndice A Clculo do tamanho da amostra a partir dos diagnsticos de enfermagem formulados .................................................................................... 97 Apndice B Clculo do tamanho da amostra a partir das aes de enfermagem prescritas ...................................................................................... 104 Apndice C TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DOS SUJEITOS DA PESQUISA .................................................................................. 96 Apndice D - Orientaes para a realizao da validao dos diagnsticos e aes de enfermagem s NHB e suas definies de acordo com o referencial de Benedet & Bub (2001)...........................................................................109 Apndice E - Diagnsticos de enfermagem mapeados Teoria das NHB..115 Apndice F - Aes de enfermagem mapeadas Teoria das NHB.............116 Apndice G - Aes de enfermagem mapeadas s Intervenes da NIC....122

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1 INTRODUO

A Enfermagem uma profisso complexa e multifacetada. H uma ampla variedade de elementos que constituem seus conhecimentos especficos, seus conceitos, seus significados e a utilizao desses conceitos na prtica. Um desses elementos o cuidado, considerado essencial para o tratamento das pessoas enfermas (NBREGA & GUTIRREZ, 2000). O cuidado de enfermagem um trabalho profissional especfico com aes dinmicas e inter-relacionadas para sua realizao; implica na adoo de um determinado modo de fazer, fundamentado em um modo de pensar o Processo de Enfermagem (GARCIA & NBREGA, 2004). Florence Nigthingale, precursora da Enfermagem Moderna, j

documentava em seus escritos que a Enfermagem desconhecia os seus elementos especficos, sendo essa preocupao foco de vrios questionamentos na profisso (NBREGA & GUTIRREZ, 2000). Por volta de 1930, esboa-se a necessidade de distinguir os objetivos e funes da enfermagem das funes da medicina e de se avaliar a efetividade da assistncia de enfermagem, comeando a ser implementadas pesquisas com o objetivo de traar as habilidades e competncias a serem implementados na assistncia prestada. Tannure & Gonalves (2008) relatam que vrios fatores como guerras mundiais, revolues femininas, desenvolvimento das cincias e da educao, influenciaram as enfermeiras nos questionamentos e reflexes sobre o status quo da prtica de enfermagem. Com a necessidade de formular conhecimentos prprios inicia-se, a partir da dcada de 1950, um avano na construo e na organizao dos modelos conceituais de enfermagem, os quais foram desenvolvidos por diferentes caminhos, no entanto, com conceitos comuns que so essenciais prtica profissional, ou seja, a Enfermagem, o ser humano, o ambiente e a sade. Esses modelos serviram como referencial para a elaborao das teorias de enfermagem, que objetivavam estabelecer uma relao entre diferentes conceitos, para ento explicar e, em seguida, direcionar a assistncia de enfermagem prestada ao ser humano (NBREGA & SILVA, 2008/2009). Segundo Leopardi (1999) a teoria de enfermagem o conhecimento prprio da disciplina, no ter uma teoria de enfermagem como base do trabalho, do

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ponto de vista epistemolgico, significa admitir teorias estranhas, como a teoria mdico-curativista. As teorias so to importantes para a assistncia profissional quanto para a tcnica, a comunicao ou a interao, uma vez que sero elas que guiaro o contexto assistencial. Os modelos de assistncia de enfermagem se destacaram no Brasil com a atuao da enfermeira e pesquisadora Dr Wanda de Aguiar Horta com a difuso das teorias de enfermagem e com a operacionalizao do Processo de Enfermagem (PE). Vrios modelos tericos tm sido propostos como base para nortear a prtica de enfermagem, como a teoria ambientalista, teoria das necessidades humanas bsicas, entre outras. Todas elas tm em comum a preocupao em destacar o cuidado ao ser humano de forma holstica (BARROS & GUTIRREZ, 2004). A teoria e o PE esto estreitamente relacionados, porque a teoria que direciona a seleo do mtodo. A utilidade do mtodo ser restrita se no for visto luz de uma perspectiva terica (BARROS & GUTIRREZ, 2004). O PE pode ser entendido como um instrumento que possibilita aos enfermeiros identificar, compreender, descrever, explicar e/ou predizer como a clientela responde aos problemas de sade ou aos processos vitais, e determinar que aspectos dessas respostas exigem uma interveno profissional (GARCIA & NBREGA, 2004). O processo de enfermagem tem sido compreendido como sendo composto por etapas que interagem entre si: investigao, diagnstico de enfermagem, planejamento, implementao e avaliao de enfermagem. A aplicao do PE contribui para dar visibilidade prtica, uma vez que favorece os registros das atividades realizados durante todas essas etapas. Entende-se que, com a documentao do cuidado a partir de registros, podem ser obtidos indicadores de sade que permitam avaliar os cuidados, estabelecer melhorias no atendimento oferecido aos pacientes e familiares e causar influncia em polticas pblicas de sade (JESUS, 2002). O PE deve ser intencional, sistemtico, dinmico, interativo, flexvel e baseado em modelos tericos ou teorias (IYER, TAPTICH & BERNOCHI-LOSEY, 1993). um instrumento que auxilia o enfermeiro a prestar uma assistncia de qualidade, aplicvel em uma ampla variedade de ambientes (assistncia bsica,

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domiciliar, hospitalar, servios ambulatoriais, entre outros) e situaes clnicas que demandam o cuidado de enfermagem. De acordo com Garcia & Nbrega (2009) na literatura o PE costuma ser descrito como o ponto focal, o cerne ou a essncia da prtica da Enfermagem. Entretanto, a compreenso acerca do seu significado e de sua adoo deliberada na prtica profissional ainda no faz parte de todo o cenrio que envolve a Enfermagem, embora se observe ter havido uma sensvel mudana nesse sentido a partir das trs ltimas dcadas do sculo XX (GARCIA & NBREGA, 2009). Implementar o PE requer habilidades e capacidades cognitivas, psicomotoras e afetivas, que ajudam a determinar o fenmeno observado e o seu significado, os julgamentos feitos e os critrios utilizados para sua realizao, e as aes principais e alternativas que o fenmeno demanda, para que se alcance um determinado resultado (GARCIA & NBREGA, 2009). Esses aspectos dizem respeito aos elementos da prtica profissional considerados, por natureza, inseparavelmente ligados ao PE: o que os profissionais da enfermagem fazem (intervenes de enfermagem) em relao ao que identificam em seus clientes relativos s necessidades humanas especficas (diagnstico de enfermagem) para alcanar resultados pelos quais legalmente responsvel (resultados de enfermagem) (ICN, 2007). Para Dochterman & Bulechek (2008), a padronizao da linguagem dos problemas e tratamentos de enfermagem tem sido desenvolvida para esclarecer e comunicar algumas regras essenciais na implementao dos cuidados. Apesar deste esforo, ainda existem muitos problemas e tratamentos de enfermagem ainda no padronizados. Nestas situaes so requeridos do enfermeiro habilidades tcnicas e conhecimentos adquiridos com a experincia para examinar as tendncias de sua prtica, implementar os procedimentos e avaliar a qualidade de cuidados prestados aos pacientes. Entretanto, estes precisam ser descritos, pesquisados e divulgados. No contexto de construo de uma linguagem padronizada para a prtica de enfermagem estudos tm demonstrado as vantagens das linguagens padronizadas de enfermagem na prtica clnica (ANDRADE, 2007; TANNURE, 2008; BEDRAN, 2008). Outros tm mostrado o seu uso na pesquisa em enfermagem (estudos de identificao, mapeamento e validao) (CHIANCA, 2003; NAPOLEO, 2005; LUCENA & BARROS, 2005).

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O Ncleo de Estudos e Pesquisas sobre Sistematizar o Cuidar em Enfermagem da Escola de Enfermagem da UFMG, registrado no CNPq, tambm vem desenvolvendo vrios estudos na tentativa de contribuir com a padronizao da linguagem da enfermagem. Entre eles est sendo desenvolvido um software para a sistematizao da assistncia de enfermagem em unidades de terapia intensiva. Entretanto, bases de dados de sade brasileiras ainda no incluem dados de enfermagem. Com as solicitaes crescentes por diminuio dos custos e melhoria na qualidade de atendimento nos servios de sade do Brasil, necessrio que os enfermeiros documentem sua prtica e possam estabelecer o valor do seu trabalho na sade. Assim, importante identificar diagnsticos, intervenes e resultados na documentao de enfermagem de pacientes em instituies de sade brasileiras (CHIANCA, 2008). Na prtica assistencial percebe-se a necessidade de instrumentalizar os enfermeiros para implementar o PE de forma mais efetiva e com aes sistematizadas. Essa realidade tem grande impacto quando nos remetemos s Unidades de Tratamento Intensivo (UTI). O nmero reduzido de vagas e a elevada procura por esses servios, alm do nmero de procedimentos realizados, nos levam a repensar sobre a necessidade de organizao das aes executadas e do seu acompanhamento. Alm disso, torna-se necessrio nestas unidades um redirecionamento dos cuidados a fim de que sejam voltados ao ser humano e no apenas doena ou ao trauma aos quais esto submetidos os pacientes (NASCIMENTO & TRENTINI, 2004). Neste contexto encontra-se o enfermeiro que precisa se instrumentalizar para o encontro com o paciente, prestar uma assistncia sistematizada, pautada em princpios cientficos e que seja capaz de cuidar do sujeito como um ser nico. Sendo enfermeira intensivista e integrante de um grupo de pesquisa sobre a sistematizao da assistncia de enfermagem tive a oportunidade de conhecer uma UTI-Adulto de Belo Horizonte, MG, em que as etapas do PE vem sendo implementadas desde 2006, utilizando como arcabouo terico a teoria das Necessidade Humanas Bsicas (NHB). Entretanto, diferentemente dos diagnsticos de enfermagem que so elaborados para os pacientes internados neste servio utilizando como referencial a NANDA, os cuidados de enfermagem prescritos so propostos com base na experincia e no conhecimento dos enfermeiros da instituio, apoiados em literatura especfica, como livros texto de enfermagem,

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fisiologia, farmacologia e patologia, no sendo utilizada nenhuma estrutura de classificao de intervenes de enfermagem como referncia. Alm disso, as aes de enfermagem prescritas no so diretamente relacionadas aos diagnsticos de enfermagem formulados. Tal fato gerou inquietao acerca da necessidade de se conhecer os diagnsticos formulados e as aes de enfermagem prescritas para os pacientes desta UTI e, a partir desses termos, usando a tcnica de mapeamento cruzado, descrever as NHB e as intervenes de enfermagem estabelecidas pela Classificao das Intervenes de Enfermagem (NIC) que se relacionam com os mesmos. Avaliar a utilidade das linguagens padronizadas de enfermagem (de diagnsticos, intervenes e resultados) importante para descrever a prtica de enfermagem em terapia intensiva e pode contribuir para a incluso nos sistemas de informao e bases de dados que sero usados para avaliar a qualidade dos cuidados de enfermagem. Justifica-se este estudo por considerar-se que a utilizao de um conjunto de diagnsticos e aes de enfermagem pode representar importante instrumento para a implementao da Sistematizao da Assistncia de Enfermagem (SAE) nas unidades onde a enfermagem presta assistncia, em especial em UTI. Pode contribuir para gerar a melhoria na qualidade da assistncia, uma vez que retrata as reais necessidades dos clientes em terapia intensiva. O estudo torna-se altamente significativo pela importncia do desenvolvimento de bases de dados de enfermagem que favoream a quantificao da qualidade de sade (eficcia) no Brasil. Trata-se de uma questo deontolgica para a enfermagem, uma vez que a Resoluo do COFEN n272/2002, atualmente revogada e substituda pela Resoluo do COFEN 358/2009, enfatiza a necessidade de aplicao da sistematizao da assistncia na prtica cotidiana da enfermagem em seus diferentes cenrios de trabalho. Alm disso, este trabalho ser integrado a um software que ir auxiliar na SAE na rea de UTI, que est em construo. Diante do exposto, surgem ento, os seguintes questionamentos: Os diagnsticos de enfermagem formulados para os pacientes internados nesta UTI correlacionam-se com as NHB? As aes de enfermagem prescritas pelos enfermeiros da UTI so relacionadas aos diagnsticos de enfermagem formulados? As aes de enfermagem prescritas podem ser comparadas s NHB?

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As aes de enfermagem prescritas possuem semelhana com as intervenes propostas pela NIC?

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar os registros diagnsticos e as aes de enfermagem prescritas por enfermeiros nos pronturios de pacientes internados em uma UTI de adultos de Belo Horizonte (MG).

2.2 Objetivos Especficos

Identificar os diagnsticos de enfermagem estabelecidos por enfermeiros nos pronturios de pacientes de uma UTI de adultos de BH. Identificar as aes de enfermagem estabelecidas por enfermeiros nos pronturios de pacientes de uma UTI de adultos de BH. Mapear os diagnsticos de enfermagem identificados Teoria das NHB. Mapear as aes de enfermagem identificadas Teoria das NHB e s intervenes de enfermagem propostas pela NIC. Validar os diagnsticos e as aes de enfermagem mapeadas junto a enfermeiros intensivistas e pesquisadores da rea da Sistematizao da Assistncia de Enfermagem.

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3 REVISO DE LITERATURA

3.1 Wanda Horta e a Teoria das Necessidades Humanas Bsicas

A teoria de enfermagem escolhida para fundamentar este estudo foi a Teoria das Necessidades Humanas Bsicas (NHB) de Wanda de Aguiar Horta. Essa seleo se deve em virtude de ser esta uma teoria que permite a avaliao do paciente como um todo indivisvel, refora a importncia do cuidado ao ser humano, compreendendo este ser como a pessoa alvo do cuidado em que se deve avaliar e prestar uma assistncia voltada para as necessidades psicobiolgicas, psicossociais e psicoespirituais. Alm disso, essas particularidades da teoria vm de encontro com o que vem sendo preconizada pelas polticas pblicas de sade quanto necessidade de se prestar uma assistncia humanizada em terapia intensiva. Wanda de Aguiar Horta considerada a primeira enfermeira brasileira a introduzir o tema Teorias de Enfermagem no campo profissional (LEOPARDI, 1999). Horta (1979) define o ser humano como um ser com capacidade de reflexo e imaginao, com unicidade, autenticidade e individualidade, integrante do universo dinmico e agente de mudanas em seu ambiente. Segundo a autora o ser humano (indivduo, famlia ou comunidade), agente de mudanas, tambm pode estar em equilbrio ou desequilbrio. A autora tambm define Sade como estar em equilbrio dinmico no tempo e no espao, a Doena resultante dos desequilbrios que causam necessidades no atendidas. A enfermagem implementa estados de equilbrio, reverte ou previne estados de desequilbrio pela assistncia ao ser humano no atendimento de suas necessidades bsicas, procurando sempre reconduzi-lo situao de equilbrio dinmico no tempo e no espao (HORTA, 1979). Partindo desses conceitos Wanda Horta procurou desenvolver uma teoria capaz de explicar a natureza da enfermagem, definir seu campo de ao especfico e sua metodologia de trabalho baseada na teoria da motivao humana de Abraham Maslow e na determinao dos nveis da vida psquica utilizada por Joo Mohana. Maslow (1970) baseia sua teoria sobre a motivao humana nas necessidades humanas bsicas hierarquizadas em cinco nveis de prioridades

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sendo: necessidades fisiolgicas, de segurana, de amor, de estima e de autorealizao. O indivduo s passa a procurar satisfazer as do nvel seguinte aps um mnimo de satisfao das necessidades anteriores. Segundo a teoria nunca h satisfao completa ou permanente de uma necessidade, pois, caso contrrio, no haveria mais motivao individual. Horta adotou a classificao de Joo Mohana (1964) que categoriza as necessidades em trs nveis: nvel psicobiolgico, psicossocial e psicoespiritual, sendo os dois primeiros nveis comuns a todos os seres vivos nos diversos aspectos de sua complexidade orgnica. Entretanto, o terceiro nvel caracterstica nica do homem (HORTA, 1979). A teoria se apia e engloba as leis do equilbrio que determina que todo o universo se mantm por processos de equilbrio dinmico entre os seus seres; a lei da adaptao que define que todos os seres do universo interagem com o meio externo, dando e recebendo energia, buscando sempre formas de ajustamento para se manterem em equilbrio e a lei do holismo que estabelece que o universo um todo, o ser humano um todo, a clula um todo e que este todo mais que simplesmente a soma das partes (HORTA, 1979). A partir do estudo das necessidades humanas bsicas, Horta (1979) estabelece dois principais eixos que compem sua teoria: 1) A enfermagem um servio prestado ao ser humano; 2) A enfermagem parte integrante da equipe de sade. Portanto, deve considerar algumas proposies: o ser humano como parte integrante do universo est sujeito a estados de equilbrio e desequilbrio no tempo e no espao. Alm disso, por ser considerado um agente de mudana, tambm a causa de equilbrio e desequilbrio em seu prprio dinamismo. Sendo assim, Horta (1979, p.39) define NHB como estados de tenses, conscientes ou inconscientes, resultantes dos desequilbrios hemodinmicos dos fenmenos vitais. Em estados de equilbrio, as necessidades no se manifestam, porm, dependendo do desequilbrio instalado surgem com maior ou menor intensidade. Deste modo, as NHB so condies ou situaes que o indivduo, famlia ou comunidade apresentam, sendo decorrentes do desequilbrio de suas necessidades bsicas e que exigem uma resoluo, podendo ser aparentes, conscientes, verbalizadas ou no (HORTA, 1979).

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As necessidades so universais, portanto comuns a todos os seres humanos; o que varia de um indivduo para outro a sua manifestao e a maneira de satisfaz-la ou atend-la (HORTA, 1979). A partir desses conceitos Horta (1979) construiu a teoria das NHB considerando 18 necessidades humanas como Necessidades Psicobiolgicas, 17 como Necessidades Psicossociais e 2 como Necessidades Psicoespirituais (QUADRO 1). QUADRO 1 Classificaes das Necessidades Humanas Bsicas segundo Horta Necessidades Psicobiolgicas Oxigenao Hidratao Eliminao Sono e Repouso Exerccio e Atividade fsica Sexualidade Abrigo Mecnica corporal Motilidade Integridade cutneo-mucosa Integridade fsica Regulao: trmica, hormonal, neurolgica, hidrossalina, eletroltica, imunolgica, crescimento celular, vascular Locomoo Percepo: olfativa, visual, auditiva, ttil, gustativa, dolorosa Ambiente TeraputicaFonte: HORTA, 1979, p. 40.

Necessidades Psicossociais Segurana Amor Liberdade Comunicao Criatividade Aprendizagem (educao sade) Gregria Recreao Lazer Espao Orientao no tempo e espao Aceitao Auto-realizao Auto-estima Participao Auto-imagem Ateno

Necessidades Psicoespirituais

Religiosa ou teolgica tica ou de filosofia de Vida

De acordo com Horta (1979), as necessidades so interrelacionadas e fazem parte de um todo indivisvel, o ser humano. Assim, quando qualquer uma das necessidades se manifesta, observa-se algum grau de alterao nas demais, seja por desequilbrio causado por falta ou excesso de qualquer uma delas. Para a teorista, aps a satisfao de certas necessidades, novas surgiro, fazendo com que enfermeiro e paciente passem a adquirir uma nova abordagem em termos de prioridade para a assistncia a ser prestada.

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Dessa forma, assistir em enfermagem fazer pelo ser humano aquilo que ele no pode fazer por si mesmo, ajudar quando parcialmente impossibilitado de se autocuidar, orientar ou ensinar, supervisionar e encaminhar a outros profissionais (HORTA, 1979).

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3.2 A Teoria das Necessidades Humanas Bsicas segundo Benedet & Bub (2001)

Com o objetivo de ajustar-se aos conceitos e princpios estabelecidos por Horta (1979) para a prtica assistencial e proporcionar um referencial que servisse para o estabelecimento de uma hierarquia para as intervenes de enfermagem Benedet & Bub (2001) reformularam a ordem e os ttulos de algumas necessidades humanas propostas por Wanda Horta, estabelecendo prioridades que conciliassem as necessidades orgnicas de sobrevivncia com as dos grupos de necessidades humanas bsicas psicossociais e psicoespitrituais. Segundo as autoras para que o PE seja utilizado na prtica de forma eficiente, ele precisa estar orientado por uma teoria e para que isto ocorra, esta teoria precisa apresentar definies para ser bem compreendida e assimilada por quem a utiliza. A seguir ser apresentada a lista das Necessidades Humanas Bsicas com suas respectivas definies de acordo com Benedet & Bub (2001).

Necessidades Psicobiolgicas

1. Regulao Neurolgica a necessidade do indivduo de preservar e/ou restabelecer o funcionamento do sistema nervoso com o objetivo de coordenar as funes e atividades do corpo e alguns aspectos do comportamento (ATKINSONS & MURRAY, 1989 apud BENEDET & BUB, 2001).

2. Percepo dos rgos dos Sentidos a necessidade do organismo perceber o meio atravs de estmulos nervosos com o objetivo de interagir com os outros e perceber o ambiente (BENEDET & BUB, 2001).

3. Oxigenao a necessidade do organismo de obter o oxignio atravs da ventilao, da difuso do oxignio e dixido de carbono entre os alvolos e o sangue, do transporte do oxignio para os tecidos perifricos e da remoo do dixido de carbono; e da

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regulao da respirao com o objetivo de produzir energia (ATP) e manter a vida (BEYERS & DUDAS, 1989; GUYTON & HALL, 2000 apud BENEDET & BUB, 2001).

4. Regulao Vascular a necessidade do organismo de transportar e distribuir nutrientes vitais atravs do sangue para os tecidos e remover substncias desnecessrias, com o objetivo de manter a homeostase dos lquidos corporais e a sobrevivncia do organismo (GUYTON & HALL, 2000 apud BENEDET & BUB, 2001).

5. Regulao Trmica a necessidade do organismo em manter a temperatura central (temperatura interna) entre 36 e 37,3 C, com o objetivo de obter um equilbrio da temperatura corporal (produo e perda de energia trmica) (BENEDET & BUB, 2001).

6. Hidratao a necessidade de manter em nvel timo os lquidos corporais, compostos essencialmente pela gua, com o objetivo de favorecer o metabolismo corporal (BENEDET & BUB, 2001).

7. Alimentao a necessidade do individuo obter os alimentos necessrios com o objetivo de nutrir o corpo e manter a vida (BENEDET & BUB, 2001).

8. Eliminao a necessidade do organismo de eliminar substncias indesejveis ou presentes e quantidades excessivas com o objetivo de manter a homeostase corporal (BENEDET & BUB, 2001).

9. Integridade Fsica a necessidade do organismo manter as caractersticas de elasticidade, sensibilidade, vascularizao, umidade e colorao do tecido epitelial, subcutneo e mucoso com o objetivo de proteger o corpo (BEYERS & DUDAS, 1989 apud BENEDET & BUB, 2001).

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10. Sono e Repouso a necessidade do organismo em manter, durante um certo perodo dirio, a suspenso natural, peridica e relativa da conscincia; corpo e mente em estado de imobilidade parcial ou completa e as funes corporais parcialmente diminudas com o objetivo de obter restaurao (BENEDET & BUB, 2001).

11. Atividade Fsica a necessidade de mover-se intencionalmente sob determinadas circunstncias atravs do uso da capacidade de controle e relaxamento dos grupos musculares com o objetivo de evitar leses tissulares (vasculares, musculares, osteoarticulares), exercitar-se, trabalhar, satisfazer outras necessidades, realizar desejos, sentir-se bem, etc. (BENEDET & BUB, 2001).

12. Cuidado Corporal a necessidade do indivduo para, deliberada, responsvel e eficazmente, realizar atividades com o objetivo de preservar seu asseio corporal (BENEDET & BUB, 2001).

13. Segurana fsica e meio ambiente a necessidade de manter um meio ambiente livre de agentes agressores vida com o objetivo de preservar a integridade psicobiolgica (BENEDET & BUB, 2001).

14. Sexualidade a necessidade de integrar aspectos somticos, emocionais, intelectuais e sociais do ser, com o objetivo de obter prazer e consumar o relacionamento sexual com um parceiro ou parceira e procriar (BENEDET & BUB, 2001).

15. Regulao: Crescimento Vascular a necessidade do organismo em manter a manipulao celular e o crescimento tecidual dentro dos padres da normalidade com o objetivo de crescer e desenvolver-se (BENEDET & BUB, 2001).

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16. Teraputica a necessidade do indivduo de buscar ajuda profissional para auxiliar no cuidado sade com o objetivo de promover, manter e recuperar a sade (BENEDET & BUB, 2001).

Necessidades Psicossociais

1. Comunicao a necessidade de enviar e receber mensagens utilizando linguagem verbal (palavra falada e escrita) e no-verbal (smbolos, sinais, gestos, expresses faciais) com o objetivo de interagir com os outros (BENEDET & BUB, 2001).

2. Gregria a necessidade de viver em grupo com o objetivo de interagir com os outros e realizar trocas sociais (BENEDET & BUB, 2001).

3. Recreao e Lazer a necessidade de utilizar a criatividade para produzir e reproduzir idias e coisas com o objetivo de entreter-se, distrair-se e divertir-se (BENEDET & BUB, 2001).

4. Segurana Emocional a necessidade de confiar nos sentimentos e emoes dos outros em relao a si com o objetivo de sentir-se seguro emocionalmente (BENEDET & BUB, 2001).

5. Amor, Aceitao a necessidade de ter sentimentos e emoes em relaes s pessoas em geral com o objetivo de ser aceito e integrado aos grupos, de ter amigos e famlia (BENEDET & BUB, 2001).

6. Auto-Estima, Autoconfiana, Auto-Respeito a necessidade de sentir-se adequado para enfrentar os desafios da vida, de ter confiana em suas prprias idias, de ter respeito por si prprio, de se valorizar, de se reconhecer merecedor de amor e felicidade, de no ter medo de expor suas idias, desejos e necessidades com o objetivo de obter controle sobre a prpria vida,

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de sentir bem-estar psicolgico e de perceber-se como o centro vital da prpria existncia (BRADEN, 1998 apud BENEDET & BUB, 2001).

7. Liberdade e Participao a necessidade que cada um tem de agir conforme a sua prpria determinao dentro de uma sociedade organizada, respeitando os limites impostos por normas definidas (sociais, culturais, legais). Em resumo, o direito que cada um tem de concordar ou discordar, informar e ser informado, delimitar e ser delimitado com o objetivo de ser livre e preservar sua autonomia (BENEDET & BUB, 2001).

8. Educao para a Sade/Aprendizagem a necessidade de adquiri conhecimento e/ou habilidade para responder a uma situao nova ou j conhecida com o objetivo de adquirir comportamentos saudveis e manter a sade (BENEDET & BUB, 2001).

9. Auto-Realizao a necessidade de realizar o mximo com suas capacidades fsicas, mentais, emocionais e sociais com o objetivo de ser o tipo de pessoa que deseja ser (KALISH, 1983 apud BENEDET & BUB, 2001).

10. Espao a necessidade de delimitar-se no ambiente fsico, ou seja, expandir-se ou retrairse com o objetivo de preservar a individualidade e a privacidade (BENEDET & BUB, 2001).

11. Criatividade a necessidade de ter idias e produzir novas coisas com o objetivo de realizar-se (vir a ser) (BENEDET & BUB, 2001).

Necessidades Psicoespirituais

1. Espiritualidade a necessidade inerente aos seres humanos e est vinculada queles fatores necessrios para o estabelecimento de um relacionamento dinmico entre as

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pessoas e um ser ou entidade superior com o objetivo de sentir bem-estar espiritual. Como, por exemplo: ter crenas relativas ao significado da vida. Cabe ressaltar que espiritualidade no o mesmo que religio (BENEDET & BUB, 2001).

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3.3 Sistema de Classificao em Enfermagem

Nos ltimos 50 anos houve um aumento da preocupao de profissionais de enfermagem com a prtica assistencial e essa evoluo tem sido facilitada pelo crescimento da produo terica, das pesquisas em enfermagem e, tambm, pelas mudanas no paradigma de sade, que antes se baseava no modelo curativo e atualmente est voltado para a promoo da sade, preveno de doenas e a reabilitao das pessoas (CHIANCA, 2008). Pesquisas em enfermagem tm demonstrado uma preocupao por parte dos enfermeiros em uniformizar a linguagem com a construo de uma classificao nica de enfermagem, que inclua termos utilizados para designar os fenmenos de interesse da enfermagem, as aes executadas e os resultados mensurados. Em enfermagem, classificar significa desenvolver uma linguagem que possa descrever os julgamentos clnicos pelos quais os enfermeiros so responsveis (CHIANCA, 2008). As classificaes existem desde os primrdios da civilizao humana e podemos relembrar algumas delas como as escalas musicais, os smbolos dos elementos qumicos, categorias biolgicas. Estas conferem ordem a nosso ambiente, auxiliando-nos na comunicao com os outros (DOCHTERMAN & BULECHEK, 2008). Segundo Chianca (2008) em 1859, Florence Nightingale escreveu que a enfermagem desconhecia os elementos de sua prtica, e cerca de 150 anos depois ainda continua um grande desafio dar visibilidade enfermagem. No

permanecemos estticos no tempo, houve progressos, mas ainda no temos dados de qualidade acerca de quem so os enfermeiros, o que identificam, o que fazem pelos e com os pacientes a quem prestam cuidados, que efeitos suas intervenes tm sobre os resultados apresentados pelos pacientes e quanto custam essas intervenes. Para se planejar cuidados de sade efetivos preciso fornecer informaes acerca da contribuio da enfermagem para os resultados de sade apresentados pela populao. As classificaes favorecem a organizao e a execuo das etapas do processo de enfermagem, utilizando linguagens uniformizadas, alm do

agrupamento e da comparao dos dados para que se possa inclu-los em sistemas

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de dados de informao em sade, favorecendo assim a tomada de decises (CHIANCA, 2008). Com o reconhecimento dos enfermeiros acerca da necessidade de se instrumentalizar para prestar uma assistncia de qualidade e pautada no conhecimento cientfico temos, hoje, vrios sistemas de classificao dos elementos da prtica de enfermagem reconhecidos, muitos deles utilizados no Brasil. Entre eles pode-se citar o proposto pela Associao Norte-Americana de Diagnsticos de Enfermagem (NANDA-I, 2009), a Classificao de Intervenes de Enfermagem (NIC) (DOCHTERMAN & BULECHEK, 2008), a Classificao dos Resultados de Enfermagem (NOC) (JOHNSON; MAAS & MOORHEAD, 2004), a Classificao Internacional para a Prtica de Enfermagem (CIPE) (ICN, 2007) e outros. Entre os diversos sistemas de classificao citados e disponveis para utilizao a NIC, desenvolvida um grupo de pesquisadoras do College of Nursing The University of Iowa, uma classificao abrangente e padronizada das intervenes realizadas pelos enfermeiros. til para a documentao clnica, comunicao de cuidados entre unidades de tratamento, integrao de dados em sistemas informatizados, medida da produtividade, avaliao de competncias, subsidiar pagamentos por servios e para o planejamento curricular

(DOCHTERMAN & BULECHEK, 2008). De acordo com Nbrega & Silva (2008/2009) uma nomenclatura de intervenes traz benefcios a todos os nveis da prtica de Enfermagem (assistncia, ensino e pesquisa) e facilita a comunicao, ao proporcionar uma terminologia comum para a troca de informaes em todas as reas da profisso. Um sistema de classificao das intervenes de enfermagem essencial em virtude de: delinear o corpo de conhecimento nico para a Enfermagem; determinar o conjunto de servios de enfermagem; desenvolver um sistema de informao; refinar o sistema de classificao do paciente; ser um elo entre os diagnsticos de enfermagem e os resultados esperados; alocar recursos para os planos de enfermagem; articular outros profissionais na funo especfica da Enfermagem (TITLER, PETTIT & BULECHECK, 1991).

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3.3.1 Sistema de Classificao das Intervenes de Enfermagem NIC

A NIC uma classificao abrangente e padronizada das intervenes realizadas pelos enfermeiros. A sua utilizao possibilita que sejam realizadas comparaes entre intervenes de enfermagem de vrios tipos, o que favorece a realizao de pesquisas e a elaborao de protocolos fundamentados na prtica baseada em evidncias (TANNURE & GONALVES, 2008). Em 1987, um grupo de pesquisadoras lideradas por Dochterman e Bulechek iniciou, na Universidade de Iowa, o trabalho de construo da NIC. O projeto foi impulsionado aps o desenvolvimento da classificao diagnstica da NANDA, pois, quando um enfermeiro realiza um diagnstico de enfermagem, necessita fazer algo sobre isso (DOCHTERMAN & BULECHEK, 2008). A NIC foi pioneira no processo de construo de uma linguagem padronizada que comunicasse e informasse as aes de enfermagem. Assim como a NANDA, a NIC tambm foi codificada em uma estrutura taxonmica de vrios nveis. Essa codificao foi proposta para facilitar o seu uso nos sistemas de informao computadorizados, alm de facilitar sua manipulao pelos enfermeiros, de forma que pudesse ser articulada com outros sistemas de classificaes (DOCHTERMAN & BULECHEK, 2008). Em 1992, foi lanada a primeira edio da NIC, revista e atualizada para publicao da segunda em 1996 e que trouxe um captulo de ligao das intervenes da NIC com os diagnsticos de enfermgem da NANDA e a terceira edio foi publicada em 2000. A quarta edio foi publicada em 2004 nos Estados Unidos e em 2008 no Brasil. Nos Estados Unidos foi publicada em 2007 a quinta edio da NIC, porm ainda no traduzida no Brasil (DOCHTERMAN & BULECHEK, 2008). O termo Classificao das Intervenes de Enfermagem compreende "o ordenamento ou a estruturao das atividades de enfermagem em grupos ou conjuntos, com base em suas relaes, e a designao dos ttulos de intervenes para cada um desses grupos de atividades enquanto a Taxonomia das Intervenes de Enfermagem significa "a organizao sistemtica das

intervenes, com base em semelhanas dentro do que pode ser considerado uma

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estrutura conceitual. apresentada em trs nveis: domnios, classes e intervenes" (DOCHTERMAN & BULECHEK, 2008, p. xxiv). A NIC define interveno de enfermagem como qualquer tratamento, que tenha por base o julgamento clnico e o conhecimento, que a enfermeira execute para melhorar os resultados do paciente. As intervenes de enfermagem incluem cuidado direto e indireto; os tratamentos podem ser iniciados pela enfermeira, mdico, ou outro agente provedor. A Interveno de cuidado direto incluem ambas as aes de enfermagem fisiolgicas e psicolgicas. A Interveno de cuidado indireto inclui tratamento realizado longe do paciente, mas favorecendo-o ou ao grupo de pacientes. Incluem aes dirigidas ao gerenciamento do ambiente de cuidado do paciente e colaborao multidisciplinar. O tratamento iniciado pela enfermeira consiste em uma interveno em resposta ao diagnstico de enfermagem; uma ao autnoma baseada no raciocnio cientfico (DOCHTERMAN & BULECHEK, 2008). As intervenes da NIC tm um ttulo, uma definio e para cada uma delas so descritas atividades que os enfermeiros realizam para solucionar os problemas apresentados pelos pacientes (CHIANCA; BULECHECK & MCCLOSKEY, 2003). Os ttulos e as definies so as partes padronizadas das intervenes, que no devem ser mudados quando usados. Isso possibilita a comunicao entre os diversos locais e a comparao dos resultados. O cuidado, no entanto, pode ser individualizado por meio das atividades. As atividades no so padronizadas porque tal tarefa seria quase impossvel, uma vez que na 4 edio da NIC h mais de 12 mil atividades (DOCHTERMAN & BULECHEK, 2008). A estrutura taxonmica da classificao est organizada em trs nveis. No nvel 1, o mais abstrato, esto os domnios (numerados de 1 a 7), que auxiliam a enfermeira a realizar a primeira escolha; no nvel 2, as classes (identificadas por letras do alfabeto de A a Z, a, b, c, d), que proporcionam uma maior focalizao do problema; no nvel 3, as intervenes de enfermagem, cada uma com um cdigo numrico nico, para facilitar a informatizao (DOCHTERMAN & BULECHEK, 2008). Domnio 1. Fisiolgico: Bsico- compe cuidados que do suporte ao funcionamento fsico e composto pelas classes A Controle da atividade do exerccio, B Controle da eliminao, C Controle da imobilidade, D Suporte

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nutricional, E Promoo do conforto fsico, F Facilitao do autocuidado. Este domnio composto por 102 intervenes de enfermagem. Domnio 2. Fisiolgico: Complexo- contm cuidados que so suporte regulao homeosttica e nele esto alocadas as classess G Controle eletroltico e cido-bsico, H Controle de medicamentos, I Controle neurolgico, J Cuidados perioperatrios, K Controle respiratrio, L Controle da pele/feridas, M Termorregulao, N Controle da perfuso tissular. Este domnio composto por 172 intervenes de enfermagem. Domnio 3. Comportamental- possui cuidados que do suporte ao funcionamento psicossocial e facilitam mudanas no estilo de vida presentes nas classes O Terapia comportamental, P Terapia cognitiva, Q Melhora da comunicao, R Assistncia no enfrentamento, S Educao do paciente, T Promoo do conforto psicolgico. Esto alocadas 118 intervenes neste domnio. Domnio 4. Segurana- compreende os cuidados que fornecem suporte proteo contra danos e esto presentes 55 intervenes. Possui as classes U Controle de crises e V- Controle de riscos. Domnio 5. Famlia- compreende os cuidados que fornecem suporte famlia e encontram-se as classes W Cuidados no nascimento de filhos, Z Cuidado na educao de filhos e X Cuidado ao longo da vida. Contm 77 intervenes de enfermagem. Domnio 6. Sistema de Sade- esto os cuidados que fornecem suporte ao uso do sistema de atendimento sade. Compreende as classes Y Mediao com o sistema de sade, a Controle do sistema de sade e b Controle de informaes. Esto presentes 48 intervenes. Domnio 7. Comunidade- compreende os cuidados que fornecem suporte sade da comunidade, assim esto alocadas as classes c Promoo da sade da comunidade e d Controle de riscos na comunidade e contm 17 intervenes.

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3.4 Validao dos diagnsticos e intervenes de enfermagem

Validade de um diagnstico, interveno ou resultado de enfermagem refere-se ao grau em que eles representam o problema do paciente, ao estabelecimento de cuidados necessrios previstos a partir do julgamento clnico e do conhecimento do enfermeiro e da mensurao do estado do paciente, da famlia ou da comunidade (CHIANCA, 2008). Os diagnsticos, as intervenes e os resultados de enfermagem contm conceitos que precisam ser mais estudados, analisados e validados, motivo pelo qual o processo de validao imprescindvel no sentido de aperfeio-los e legitim-los (GARCIA & NBREGA, 2004). Validar significa tornar vlido, legitimar, isto , significa tornar algo autntico (HOUASSIS; VILLAR, 2001, p. 2825). Por isso, quando esse termo aplicado para a avaliao de um instrumento de pesquisa, refere-se ao grau em que ele apropriado para medir o verdadeiro valor daquilo que se prope medir, possibilitando inferir o quanto os resultados que foram obtidos atravs da utilizao desse instrumento representam verdade, ou o quanto se afastam dela (GARCIA, 1998). Segundo Fehring (1987) um objeto s vlido quando este se baseia em princpios de evidncias, resistindo a contestaes. Os processos para a validao dos diagnsticos e das intervenes de enfermagem so necessrios para legitimlos, tornando-os cada vez mais precisos e representativos do que a enfermagem faz. De acordo com Garcia (1998) alguns modelos podem ser usados para gerar, analisar e/ou validar os diagnsticos de enfermagem. Ao comparar o sistema de classificao de intervenes de enfermagem NIC com o sistema de classificao de diagnsticos de enfermagem NANDA, o primeiro mais recente que o segundo. Portanto, existem mais trabalhos de validao de diagnsticos do que intervenes de enfermagem. Contudo, consideramos que os modelos de validao dos diagnsticos de enfermagem tambm podem ser aplicados para gerao, anlise e/ou validao de resultados e intervenes de enfermagem (CHIANCA, 2008). Entre os modelos de validao, Garcia (1998) destaca os propostos por Gordon & Sweeney (1979), Fehring (1986, 1987) e por Hoskins (1989) como sendo

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os mais utilizados para identificao, validao e reviso dos diagnsticos de enfermagem. Os modelos de validao de diagnsticos desenvolvidos por Gordon & Sweeney (1979) foram os primeiros e so considerados clssicos, embora necessitem de detalhes metodolgicos. Com base em Gordon & Sweeney (1979), Garcia (1998) e Creason (2004) consideramos que existem trs modelos bsicos: Retrospectivo - utiliza as experincias de enfermeiros com os problemas de sade de seus pacientes para a identificao dos diagnsticos de enfermagem. Neste modelo, variveis como a formao e a experincia dos enfermeiros e as reas clnicas e geogrficas devem ser levadas em considerao; Clnico concentra-se nos dados coletados diretamente com o paciente. A partir da observao direta de comportamentos, de dados obtidos em entrevistas dos enfermeiros com os clientes ou nos pronturios, busca-se comprovar categorias diagnsticas e caractersticas definidoras

anteriormente identificadas; Validao por enfermeiros enfermeiros familiarizados com o processo de enfermagem e com determinado diagnstico a ser testado so previamente treinados para testar diagnsticos de enfermagem j identificados e estabelecer seu ndice de fidedignidade. A anlise envolve tabulao de freqncias das caractersticas definidoras para o

diagnstico em estudo. A competncia clnica do enfermeiro importante.

Fehring (1986), estimulado pela escassez de estudos de validao de diagnsticos, props dois modelos distintos para estudos de validao dos diagnsticos de enfermagem: Validao de Contedo Diagnstico (DCV) e a Validao Clnica de Diagnsticos (CDV). Posteriormente, baseado em sua experincia de aplicao dos modelos DCV e CDV, nas recomendaes e problemas relatados por outros pesquisadores e no estgio de desenvolvimento alcanado com o movimento de desenvolvimento dos diagnsticos de enfermagem, Fehring (1987) props um novo modelo, o de Validao Diferencial de Diagnsticos (DDV). O modelo de validao de contedo diagnstico investiga a opinio de enfermeiros peritos acerca de um determinado diagnstico e o quanto as suas

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caractersticas definidoras so indicativas do diagnstico. Neste modelo essencial o levantamento bibliogrfico para servir de base tanto para o estabelecimento do diagnstico, quanto das caractersticas definidoras (FEHRING, 1987). Envolve trs etapas: na primeira etapa os especialistas atribuem um valor a cada caracterstica definidora do diagnstico testado, em uma escala tipo Likert de 1 a 5. Na segunda etapa, a qual opcional devido ao tempo demandado, o pesquisador busca o consenso entre especialistas, utilizando a tcnica Delphi. Na ltima etapa so atribudos e calculados pesos para cada caracterstica, e obtido um escore final de validade pela soma dos escores de cada caracterstica e mdia total (CREASON, 2004). No modelo de validao clnica de diagnstico preocupa-se com a obteno de evidncias para um determinado diagnstico a partir do ambiente clnico real. Essas evidncias podem ser investigadas de duas maneiras: por meio de entrevistas ou questionrios dirigidos ao paciente (diagnsticos que exigem respostas cognitivas ou afetivas), ou por meio da observao direta e do exame fsico (diagnsticos relacionados com o desempenho fisiolgico do paciente) (FEHRING, 1987; GARCIA, 1998). O modelo de validao diferencial de diagnsticos utilizado para validar as diferenas entre dois diagnsticos semelhantes ou para diferenciar nveis de ocorrncia em um determinado diagnstico com um grupo de enfermeiros peritos ou com um grupo de pacientes portadores do diagnstico em questo (FEHRING, 1987; GARCIA, 1998). Por sua vez, Hoskins (1989), na oitava conferncia da NANDA realizada em 1988, props trs modelos metodolgicos para validao de diagnsticos de enfermagem. Os modelos semelhantes aos propostos por Fehring (1986; 1987) so denominados validao conceitual, validao por especialistas e validao clnica. Na validao conceitual realizada uma anlise conceitual para identificar particularidades e caractersticas do conceito de interesse. Hoskins (1989) considera ser possvel desenvolver um modelo conceitual para explicar a presena de certas caractersticas definidoras em um determinado diagnstico. Na validao por especialistas aps analisar o conceito, gerada uma lista de caractersticas definidoras e o pesquisador busca a concordncia de especialistas quanto aos itens que compem o diagnstico (HOSKINS, 1989; GARCIA, 1998).

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Na

validao

clnica

verificada

a

concordncia

acerca

das

caractersticas definidoras, elaboradas a partir de uma anlise de conceito e validada por especialistas. feita uma observao direta do paciente por, no mnimo, dois enfermeiros peritos em diagnsticos de enfermagem para verificar a presena ou ausncia das referidas caractersticas definidoras (HOSKINS, 1989; GARCIA, 1998). Outra forma de validao de diagnsticos de enfermagem a triangulao metodolgica proposta por Creason (2004). Para se validar um diagnstico utilizando-se este mtodo procede-se a uma reviso da literatura para elucidar o conceito do diagnstico, em seguida envia-se para enfermeiros especialistas fazerem julgamento acerca dos fatores relacionados e das

caractersticas definidoras, bem como de suas definies operacionais para se verificar a concordncia acerca da terminologia e das definies (CREASON, 2004). Alguns dos mtodos de validao de diagnsticos apresentados foram utilizados para validar intervenes de enfermagem pelas pesquisadoras da NIC (DOCHTERMAN & BULECHEK, 2008). A metodologia proposta por Fehring (1986; 1987) para validao de contedo de diagnsticos de enfermagem foi adaptada para uso com as intervenes, gerando escores de Validade de Contedo da Interveno (ICV). Alm da validao do contedo das intervenes, as pesquisadoras utilizaram, tambm, a tcnica Delphi e o grupo focal na tarefa de aprimorar os ttulos e as atividades para a realizao da validao da configurao e do contedo. Tal fato ocorreu, uma vez que aps a anlise de contedo, cada ttulo de interveno apresentava de uma a vrias centenas de atividades associadas (DOCHTERMAN & BULECHEK, 2008). No Brasil, apesar de grandes dificuldades, estudos tm sido realizados com o objetivo de validar diagnsticos ou intervenes de enfermagem (GUIMARES, 1996; MELO, 2004; ANDRADE, 2007; GALDEANO, 2007; PILEGGI, 2007). Entretanto, segundo Garcia (1998) pesquisadores envolvidos com validao de diagnsticos de enfermagem relatam dificuldades para a realizao de estudos. Entre eles a definio de um plano metodolgico que envolva um grupo de especialistas clnicos, pois h uma dificuldade para se identificar enfermeiros especialistas nos diagnsticos de enfermagem, assim como diagnosticadores hbeis e consistentes.

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4 METODOLOGIA

4.1 Tipo de Estudo

Trata-se de um estudo descritivo, que segundo Gil (2002) aquele proposto para descrever caractersticas de uma determinada populao ou fenmeno. Polit e Hungler (1995) afirmam que a pesquisa descritiva, considerada como no experimental, tem o propsito de observar, descrever e explorar aspectos de uma determinada situao. A opo metodolgica para a realizao deste estudo se justifica considerando que este trabalho visa analisar os registros diagnsticos e as aes de enfermagem prescritas por enfermeiros nos pronturios de pacientes internados em uma UTI de adultos de Belo Horizonte (MG).

4.2 Local do Estudo

Para a realizao deste estudo foram coletados os registros de diagnsticos e de prescries de enfermagem estabelecidos por enfermeiros nos registros dos pronturios de pacientes de uma UTI de adultos localizado em Belo Horizonte, MG. A UTI encontra-se situada no quarto andar de um hospital e maternidade de Belo Horizonte e foi fundada em 2002 por uma empresa privada com fins lucrativos, denominada MEDIMIG LTDA. Trata-se de uma UTI para pacientes adultos, dotada de 10 leitos destinados a atendimentos particulares e por convnio. Na UTI h 7 enfermeiros, todos com um contrato de trabalho de 120 horas mensais. A carga horria do enfermeiro coordenador de 6 horas dirias. H dois enfermeiros diaristas que tambm cumprem 6 horas dirias, trabalhando um no turno da manh e outro no turno da tarde. Quatro enfermeiros trabalham no perodo noturno, cumprindo uma escala mensal com plantes fixos por dia da semana.

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No servio h 28 tcnicos de enfermagem, escalonados, cumprindo jornada de trabalho 12 por 36 horas, divididos em quatro plantes com sete funcionrios que prestam assistncia aos pacientes em cada turno de trabalho. H tambm dois tcnicos de enfermagem que cumprem a escala de 12 por 36 horas, no perodo diurno, e que trabalham com os recursos materiais da unidade. Atendendo Resoluo do COFEN n272/2002 vigente na poca, atualmente revogada e substituda pela Resoluo do COFEN 358/2009, e procurando oferecer uma assistncia de melhor qualidade aos seus pacientes, a SAE comeou a ser implantada nesta UTI, em agosto de 2006, mas foi a partir de agosto de 2008 que todas as fases do PE passaram a ser desenvolvidas e registradas nos pronturios dos pacientes. A primeira e quinta fase do PE so registradas em impressos no formato check list. A segunda, terceira e quarta fases so registradas por meio eletrnico em planilhas criadas pelos prprios enfermeiros.

4.3 Populao e Amostra

Para a realizao deste estudo considerou-se como populao todos os pronturios dos pacientes internados na UTI no perodo de 1 de setembro de 2008 a 30 setembro de 2009, totalizando 494 pronturios. A opo por este perodo de coleta se deu porque todas as fases do PE j estavam implementadas na unidade neste perodo. Para o clculo da amostra foram considerados os registros dos diagnsticos e das prescries de enfermagem desde o momento da admisso at a alta dos pacientes, uma vez que, diante da gravidade da doena a qual esses se encontram submetidos, poderia ocorrer alterao significativa ao longo de toda a internao na unidade. A partir da idia central deste trabalho, que era estimar a

representatividade dos diagnsticos e das aes de enfermagem amostradas em relao aos 494 pacientes, avaliou-se o nmero total de diagnsticos e aes (diferentes entre si). Para tal, foi utilizado o mtodo de reamostragem por

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permutao (GOOD, 1994) e o algoritmo foi construdo no software livre R (disponvel no site www.r-project.org). Inicialmente foi realizado um sorteio para composio de uma amostra aleatria. Em seguida, partiu-se de uma amostra aleatria inicial, composta pelos registros dos diagnsticos e das aes de enfermagem de 60 pronturios. Desse total, 16 pronturios no apresentavam os diagnsticos e/ou as prescries de enfermagem realizadas, sendo excludos. Assim, a amostra foi constituda por 44 pronturios que, apesar de representar apenas 9% da populao, possibilitou estimar o percentual dos diagnsticos e das aes de enfermagem prescritas representadas pela amostra (Apndices A e B).

4.4 Coleta dos dados

4.4.1 Primeira Etapa: extrao do contedo dos diagnsticos e prescries de enfermagem nos pronturios e eliminao das repeties

Foram considerados os diagnsticos e as aes de enfermagem prescritas desde o momento da admisso at a alta dos pacientes, uma vez que, diante da gravidade da doena a qual esses se encontram submetidos, poderia ocorrer alterao significativa ao longo de toda a internao na unidade. Os dados foram coletados diretamente no pronturio do paciente e foram transcritos individualmente para uma planilha do programa Excell for Windows, para identificao das informaes necessrias investigao. Aps a coleta dos diagnsticos e as aes de enfermagem dos 44 pronturios que constituram a amostra, os mesmos foram submetidos a um processo de eliminao das repeties.

4.4.2 Segunda Etapa: normalizao do contedo

Aps a eliminao das repeties, os diagnsticos e as aes de

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enfermagem foram submetidos a um processo de normalizao do contedo, que se trata de correes de ortografia, anlise de sinonmia, adequao de tempos verbais, uniformizao de gnero (feminino, masculino) e nmero (singular, plural) e excluso das expresses pseudoterminolgicas, que so definidas como elementos que ocorrem de forma casual no discurso, mas que no designam conceitos particulares, sendo considerados lixo terminolgico (PAVEL & NOLET, 2001). Na anlise dos diagnsticos e aes de enfermagem foram identificados vrios erros de ortografia que necessitavam de correo. Sendo assim, durante o trabalho de normalizao do contedo deve-se ficar atento digitao dos termos incluindo at mesmo a padronizao do tamanho de fontes e espaamento entre termos compostos a fim de que sejam digitados mantendo um padro comum e uma ortografia correta (TANNURE, 2008). Alm da correo ortogrfica foram eliminadas, tambm, as sinonmias. Segundo Pavel & Nolet (2001) durante na realizao de uma pesquisa terminolgica, os termos identificados devem ser atualizados, a fim de se distinguirem os sinnimos que designam o uso real de um conceito e serem excludas as sinonmias. A excluso dos sinnimos identificados entre os diagnsticos e as aes de enfermagem coletadas foi realizada pela pesquisadora juntamente com pesquisadores do Ncleo de Estudos e Pesquisas sobre Sistematizar o Cuidar em Enfermagem da Escola de Enfermagem da UFMG.

4.4.3 Terceira Etapa: mapeamento cruzado Teoria das Necessidades Humanas Bsicas e s Intervenes propostas pela NIC

Nesta etapa foi realizado o mapeamento dos diagnsticos e das aes de enfermagem identificadas Teoria das Necessidades Humanas Bsicas e as aes

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de enfermagem tambm foram comparadas s Intervenes de enfermagem propostas pela NIC em sua 4 edio na verso traduzida para o portugus. Vale ressaltar que o mapeamento dos diagnsticos e das aes de enfermagem s NHB foi realizado de acordo com o referencial terico proposto por Benedet & Bub (2001). A opo pela utilizao da reviso realizada pelas autoras no presente estudo ocorreu devido necessidade de se obter definies para todas as necessidades humanas, o que no apresentado por Horta (1979). O processo de mapeamento cruzado realizado para a identificao de termos usados e que podem ser compreendidos a partir de uma linguagem padronizada. Atravs do mapeamento cruzado possvel realizar estudos que demonstrem que os dados de enfermagem existentes, em diferentes locais, podem ser comparados s diferentes classificaes de enfermagem e assim, adaptados para a linguagem padronizada (LUCENA & BARROS, 2005). O mapeamento cruzado um procedimento metodolgico que liga palavras de sentido semelhante ou igual, por meio de um processo de tomada de deciso, usando estratgias indutivas ou dedutivas (COENEN, RYAN & SUTTON, 1997). Pode ser utilizado na anlise de dados, contidos no processo de enfermagem, nos diferentes campos do cuidado, atravs da comparao entre as informaes existentes nos pronturios dos pacientes e as classificaes de referncia para a prtica de enfermagem (MOORHEAD & DELANEY, 1997). De acordo com Lucena & Barros (2005) diversos servios de sade desenvolveram sistemas prprios de coleta de dados, elaborao de diagnsticos e prescries de enfermagem que podem ser teis naquele servio, representando a linguagem prpria dos profissionais de enfermagem da instituio. Contudo, esses dados, provavelmente, podem no ser utilizados noutro servio porque no representam uma linguagem padronizada. Esta inconsistncia leva incapacidade de comparar dados de instituies diferentes ou mesmo dentro de uma mesma instituio, entre uma unidade e outra. Dessa forma, a documentao gerada, muitas vezes no capaz de colaborar para o progresso do conhecimento da enfermagem e quando o faz, geralmente ocorre de maneira incipiente, pois seu impacto , na maioria das vezes, apenas local. Com a padronizao da linguagem em enfermagem ser possvel alimentar grandes bancos de dados e, desta maneira, realizar projetos de pesquisa mais ambiciosos, capazes de gerar maior

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conhecimento e colaborar para o desenvolvimento da prtica de enfermagem (LUCENA & BARROS, 2005). Nesta etapa do estudo em que o intuito foi comparar o objeto (diagnsticos e aes de enfermagem) teoria das Necessidades Humanas Bsicas e s intervenes de enfermagem propostas pela NIC, foi utilizado como referncia o modelo de mapeamento usado por Moorhead & Delaney (1997). Este referencial tambm j foi utilizado em estudos brasileiros que no s auxiliaram no aprofundamento do conhecimento e uso da metodologia, mas tambm permitiram uma anlise da realidade da enfermagem brasileira no que diz respeito s classificaes de enfermagem (CHIANCA, 2003; LUCENA, 2006). O processo de mapeamento cruzado pressupe o estabelecimento de regras que, segundo Moorhead & Delaney (1997), podem ser determinadas medida que ele for sendo delineado. Essas regras devem ser baseadas em caractersticas tanto da estrutura dos dados coletados quanto da classificao usada. Coenen, Ryan & Sutton (1997) realizaram um trabalho em que descreveram o processo de mapeamento utilizado para classificar intervenes identificadas em um sistema de informao de um hospital onde a NIC usada para denominar as intervenes de enfermagem. Foram estabelecidas trs regras bsicas para realizar o mapeamento das intervenes: partiram do ttulo da interveno NIC para a atividade NIC; trabalharam direcionados pelos diagnsticos de enfermagem que eram utilizados na prtica; ligavam significado versus palavras, procurando usar intervenes NIC mais especficas e apropriadas. Neste estudo, o mapeamento cruzado realizado foi baseado no referencial terico proposto por Moorhead & Delaney (1997). Entretanto, como neste trabalho foram mapeados diagnsticos e aes de enfermagem s NHB e as aes tambm foram mapeadas s intervenes propostas pela NIC, as regras de 1 a 8 foram adaptadas do referencial utilizado. Assinala-se que as regras 9 e 10 foram criadas para colaborar no mapeamento de diagnsticos e aes de enfermagem a partir do contedo dos mesmos e o referencial terico utilizado, fato no contemplado no conjunto de regras propostas por Moorhead & Delaney (1997). As 10 regras estabelecidas para o mapeamento cruzado usadas neste estudo e que se mostraram adequadas para o nosso contexto cultural, assistencial e

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que retratava como os enfermeiros documentam em nossa realidade o cuidado que planejam/executam foram as seguintes: 1. Buscar garantir o sentido das palavras contidas em cada interveno; 2. Procurar usar a palavra-chave inclusa na interveno; 3. Usar os verbos como palavras-chave na interveno; 4. Procurar garantir a consistncia entre a definio da interveno e a ao de enfermagem a ser ligada; 5. Ligar a interveno procurando usar primeiro o ttulo, depois buscando na lista de atividades aquelas mais apropriadas; 6. Procurar usar a NHB e a interveno mais especfica possvel; 7. Usar o verbo avaliar para denominar aes que envolvam monitoramento; 8. Usar o verbo registrar para atividades que envolvam documentao; 9. Procurar garantir a consistncia entre a definio da NHB e do diagnstico de enfermagem a ser ligado; 10. Procurar garantir a consistncia entre a definio da NHB e a ao de enfermagem a ser ligada.

4.4.4 Quarta Etapa: Validao dos diagnsticos e aes de enfermagem mapeadas

O processo de validao dos diagnsticos e das aes de enfermagem mapeadas foi realizado em 2 etapas. Na primeira etapa o mapeamento cruzado realizado pela pesquisadora foi submetido ao processo de anlise e confirmao por pesquisadores do Ncleo de Estudos e Pesquisas sobre Sistematizar o Cuidar em Enfermagem da Escola de Enfermagem da UFMG e, na segunda etapa, os diagnsticos e as aes de enfermagem confirmados na primeira etapa foram submetidos a um processo de validao por enfermeiros intensivistas e pesquisadores da rea da SAE que concordaram em participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apndice C). Foi solicitado o nome completo do enfermeiro, o tempo de formado, local (is) de trabalho (no momento), tempo de atuao em terapia intensiva de adultos. Os dados foram analisados conforme critrios estabelecidos por Fehring (1987) para a determinao do enfermeiro experto na rea de diagnsticos de enfermagem.

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Considera-se que esses mesmos critrios podem ser usados para a determinao de enfermeiros expertos na rea de intervenes e resultados de enfermagem. Estabeleu-se nota mnima de 5 pontos, de acordo com os critrios de Fehring (1987), para o enfermeiro ser considerado um experto neste estudo (QUADRO 2). QUADRO 2 Critrios de determinao de grau de experto para os enfermeiros Critrios Titulao de Mestre em Enfermagem Titulao de Mestre em Enfermagem e sua dissertao deve apresentar contedo relacionado com cuidados em terapia intensiva de adultos, diagnsticos de Enfermagem, intervenes ou resultados de Enfermagem. Publicao de pesquisa versando sobre terapia intensiva, diagnsticos intervenes ou resultados de Enfermagem e com contedo relevante para a rea. Publicao de artigo sobre terapia intensiva de adultos, diagnsticos intervenes ou resultados de Enfermagem de Enfermagem em peridico de referncia. Tese de doutorado versando sobre terapia intensiva de adultos, diagnsticos, intervenes ou resultados de Enfermagem. Prtica clnica de pelo menos um ano de durao na rea de terapia intensiva, com a utilizao de diagnsticos de Enfermagem, intervenes ou resultados de Enfermagem na prtica clnica. Certificado de prtica clnica relevante na rea de terapia intensiva (grau de especialista em Enfermagem em terapia intensiva), com diagnsticos de Enfermagem, intervenes ou resultados ou utilizao do processo de Enfermagem.*Foram realizadas algumas adaptaes nos critrios para o estudo que esto em itlico. Fonte: Fehring, 1987.

Pontos 4 1

2

2 2 1

2

Como estratgia para avaliao da validade dos diagnsticos e das aes de enfermagem mapeadas utilizou-se a tcnica Delphi. A tcnica Delphi consiste em um mtodo para obter o consenso de um grupo de expertos sobre um determinado tema (GOODMAN, 1987). realizada de forma coletiva por expertos, tambm chamados de peritos ou juzes, por meio de validaes articuladas em fases ou ciclos (CASTRO & REZENDE, 2009). A tcnica Delphi representa uma ferramenta til para a formao de um julgamento de grupo. Possibilita a interao entre participantes de uma forma indireta, permitindo que pessoas que se encontram em diferentes locais do pas partilhem de um projeto em comum e revelem as suas idias uns aos outros, sem perder o anonimato (COUTO, 2006; CUNHA & PENICHE, 2007).

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A tcnica indicada quando h inexistncia de dados, necessidade de abordagem multidisciplinar ou mesmo quando h falta de consenso em determinado assunto (SCARPARO, 2007). No existe um nmero ideal de participantes estabelecido para a composio do grupo. Para a definio dos peritos de suma importncia seu grau de especializao; a avaliao do tema, os fatores de custo e a natureza do problema (SPINOLA, 1997). Segundo Keeney, Hasson & McKenna (2006) tambm no h diretriz que estabelea o adequado nvel de consenso a ser obtido, porm, recomenda-se a obteno de nvel mnimo de concordncia de 70%, na etapa final da Tcnica Delphi (GRANT & KINNEY, 1992; PERROCA & GAIDZINSKI, 1998; MANCUSSI, 1998). Com base nessa recomendao, adotou-se o ndice de 70% como nvel mnimo de consenso a ser obtido pelos juzes na validao dos diagnsticos e das aes de enfermagem que foram mapeadas neste estudo. Para a validao dos dados foram desenvolvidos 4 instrumentos: o primeiro com as orientaes necessrias para a realizao da validao e com as definies das necessidades humanas bsicas de acordo com o referencial de Benedet & Bub (2001) (Apndice D), o segundo com os diagnsticos de enfermagem coletados mapeados Teoria das NHB (Apndice E), o terceiro com as aes de enfermagem mapeadas Teoria das NHB (Apndice F) e o quarto com as aes de enfermagem mapeadas s Intervenes da NIC (Apndice G). Esses instrumentos foram enviados aos enfermeiros via e-mail, aps o aceite em participar do estudo e assinatura do TCLE.

4.5 Tratamento e Anlise dos Dados

A anlise descritiva dos dados demogrficos dos enfermeiros (idade, sexo, tempo de formado) e dos diagnsticos e aes de enfermagem foi realizada utilizando freqncias absolutas e percentuais. Os diagnsticos e as aes de enfermagem descritos nos pronturios foram identificados e mapeados teoria das NHB e as aes de enfermagem tambm foram mapeadas s intervenes da NIC.

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Para avaliao do grau de concordncia entre os enfermeiros que avaliaram o mapeamento cruzado dos diagnsticos e das aes de enfermagem foi utilizado o coeficiente de Kappa, definido como uma medida de associao para descrever e testar o grau de concordncia (confiabilidade e preciso) de uma avaliao (KOTZ & JOHNSON, 1983).

4.6 Aspectos ticos

Em

ateno

s

determinaes

das

Diretrizes

e

Normas

Regulamentadoras envolvendo Seres Humanos estabelecidas pela Resoluo 196/96 do Conselho Nacional de Sade (BRASIL, 1996), esta pesquisa foi submetida anlise e aprovao da diretoria da instituio local do estudo e do Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (Parecer COEP - ETIC 315/09).

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5 RESULTADOS

Os resultados deste estudo incluem a caracterizao dos pacientes cujos pronturios foram analisados; os diagnsticos e aes de enfermagem identificadas, o mapeamento cruzado realizado e o processo de validao dos diagnsticos e aes de enfermagem mapeadas. Primeiramente apresenta-se a caracterizao dos pacientes que

compuseram a amostra deste estudo. A seguir so descritos os diagnsticos e as aes de enfermagem mais freqentes identificados nos pronturios que compuseram a amostra. Posteriormente apresenta-se o resultado do mapeamento cruzado dos diagnsticos e das aes de enfermagem teoria das NHB e das aes de enfermagem, tambm, s Intervenes NIC e, finalmente, apresentado a validao dos diagnsticos e aes de enfermagem mapeados realizada pelos enfermeiros expertos.

5.1 Caracterizao dos pacientes

Entre os 44 pacientes que fizeram parte da amostra 68% (30) era do sexo feminino. A faixa etria variou entre 28 e 93 anos, mdia de idade de 64 anos, mediana de 66,5 e desvio padro de 17,5 anos. A distribuio percentual da amostra por faixa etria pode ser visualizado no GRAF. 1.

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GRFICO 1 Distribuio percentual dos pacientes por faixa etria, Belo Horizonte/MG, 2008-2009.

Observa-se que h uma concentrao no atendimento de pacientes idosos, sendo 68,3% dos pacientes com idade maior ou igual a 60 anos.

5.2 Identificao dos diagnsticos de enfermagem registrados nos pronturios

Para

os

44

pacientes foram

formulados

1087

diagnsticos

de

enfermagem, com uma mdia de 8,5 diagnsticos formulados por paciente. Os diagnsticos foram submetidos ao processo de normalizao do contedo obtendose 28 diferentes ttulos diagnsticos. A TAB. 1 mostra os diagnsticos de enfermagem identificados com as respectivas freqncias absolutas e percentuais.

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TABELA 1 Diagnsticos de enfermagem identificados nos pronturios dos pacientes internados na UTI. Belo Horizonte/MG. 2010. Diagnsticos de enfermagem N % Dficit no autocuidado para banho/higiene 44 100 Risco de infeco 44 100 Risco de constipao 44 100 Risco de integridade da pele prejudicada 43 98 Dficit no autocuidado para higiene ntima 41 93 Risco de glicemia instvel 35 80 Mobilidade no leito prejudicada 27 61 Risco de sndrome do estresse por mudana 21 48 Integridade da pele prejudicada 12 27 Integridade tissular prejudicada 11 25 Desobstruo ineficaz de vias areas 7 16 Risco de aspirao 7 16 Ansiedade 5 11 Proteo ineficaz 5 11 Volume excessivo de lquidos 4 9 Dbito cardaco diminudo 3 7 Confuso aguda 2 5 Dor aguda 2 5 Nutrio desequilibrada: menos do que as 2 5 necessidades corporais Padro respiratrio ineficaz 2 5 Risco de disfuno neurovascular perifrica 2 5 Risco de solido 2 5 Troca de gases prejudicada 2 5 Dor crnica 1 2 Mobilidade fsica prejudicada 1 2 Perfuso tissular renal ineficaz 1 2 Perfuso tissular perifrica ineficaz 1 2 Risco de quedas 1 2 A TAB. 1 apresenta os 28 diferentes diagnsticos de enfermagem identificados na UTI. Os ttulos diagnsticos foram lanados conforme a publicao brasileira de 2007-2008 da classificao da NANDA, pois esta foi a edio utilizada pelos enfermeiros para formular os diagnsticos dos pacientes internados no local do estudo no perodo de coleta dos dados. Verifica-se, que dos 28 diagnsticos identificados 7 apresentaram freqncia maior que 50%. Os de maior prevalncia foram: risco de infeco, dficit no autocuidado para banho/higiene e risco de constipao, todos presentes em 100% dos pronturios. Outros diagnsticos tambm tiveram freqncia elevada, a

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saber: risco de integridade da pele prejudicada (98%), dficit no autocuidado para higiene ntima (93%), risco de glicemia instvel (80%) e mobilidade no leito prejudicada (61%). Percebe-se, tambm, que 09 (32%) dos diagnsticos de enfermagem realizados foram diagnsticos de risco. Os 28 diferentes ttulos diagnsticos identificados encontram-se em oito diferentes domnios da classificao da NANDA (2010) (QUADRO 3).

QUADRO 3 Classificao dos diagnsticos de enfermagem quanto aos domnios e classes da NANDA. Belo Horizonte/MG. 2010. Domnio Classe DiagnsticoDomnio 2 Nutrio Domnio 3 Eliminao e Troca Domnio 4 Atividade/ Repouso Ingesto Metabolismo Hidratao Funo gastrintestinal Funo respiratria Atividade e exerccio Respostas cardiovasculares/ Pulmonares Autocuidado Domnio 5 Percepo/ Cognio Domnio 6 Autopercepo Domnio 9 Enfrentamento/ Tolerncia ao estresse Cognio Autoconceito Reaes pstrauma Reaes de enfrentamento Infeco Nutrio desequilibrada: menos do que as necessidades corporais Risco de glicemia instvel Volume excessivo de lquidos Risco de constipao Troca de gases prejudicada Mobilidade fsica prejudicada Mobilidade no leito prejudicada Dbito cardaco diminudo

Perfuso tissular renal ineficazPerfuso tissular perifrica ineficaz Dficit no autocuidado para banho e/ou higiene Dficit no autocuidado para higiene ntima Confuso aguda Risco de solido Risco de sndrome de estresse por mudana Ansiedade Risco de infeco Risco de aspirao Desobstruo ineficaz de vias areas Integridade da pele prejudicada Risco de integridade da pele prejudicada Integridade tissular prejudicada Risco de disfuno neurovascular perifrica Proteo ineficaz Risco de quedas Dor aguda Dor crnica

Domnio 11 Segurana/ Proteo

Leso fsica

Domnio 12 Conforto

Conforto fsico

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5.3 Identificao das aes de enfermagem prescritas

Para os 44 pacientes foram prescritas 2260 aes de enfermagem, com uma mdia de 51 aes prescritas por paciente durante toda a internao na unidade. Aps o processo de normalizao do contedo obteve-se 124 diferentes aes de enfermagem. A TAB. 2 mostra as aes de enfermagem prescritas com as respectivas freqncias absolutas e percentuais. TABELA