Artigo dislexia
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A intervenção psicopedagógica é eficiente em criança com dislexia do desenvolvimento?
Raquel Tonioli Arantes do Nascimento*
Tatiany Barreto de Santana**
Anna Carolina Cassiano Barbosa ***
* Pedagoga e Psicopedagoga pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Doutoranda em Neurociência e Comportamento pela
Universidade de São Paulo.
** Psicóloga e psicopedagoga pela Universidades Presbiteriana Mackenzie.
*** Psicóloga pela Universidade Católica de Pernambuco, Mestre e doutoranda em Distúrbios de Desenvolvimento pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
RESUMO
A dislexia do desenvolvimento é um transtorno de leitura e escrita e dentre os transtornos é o que mais
afeta o processo de aprendizagem. Uma vez diagnosticada, é fundamental a utilização de métodos e
programas de tratamentos adequados que visem o desenvolvimento de habilidades necessárias para que a
alfabetização seja bem sucedida. Considera-se o processamento fonológico como um pré-requisito para
a aquisição e o domínio da leitura e escrita. Neste sentido, o presente estudo se propõe a demonstrar o
efeito do treino de habilidades fonológicas por meio da utilização do Programa “Alfabetização Fônica
Computadorizada” com uma criança que apresenta perfil compatível com o quadro de dislexia do
desenvolvimento.
Palavras-chaves: dislexia; transtorno de aprendizagem; leitura; intervenção; psicopedagogia.
Psychoeducational intervention through phonics Literacy in a child with developmental
dyslexia
ABSTRACT
Developmental dyslexia is a disorder of reading and writing and is among the disorders that most affects
the learning process. Once diagnosed, it is essential to use methods and appropriate treatment programs
designed to develop skills necessary for literacy to be successful. It is considered phonological processing
as a prerequisite for the acquisition and mastery of reading and writing. In this sense, this study aims to
demonstrate the effect of training phonological skills through the use of the "Computer Literacy
phonics" with a child who presents profile compatible with the framework of developmental dyslexia.
Key-words: Dyslexia, learning disorder, reading, intervention, psychopedagogy.
INTRODUÇÃO
A Dislexia do Desenvolvimento é um dos transtornos que mais afetam a aprendizagem e,
segundo a Associação Internacional de Dislexia1, é um transtorno específico, sendo caracterizado pela
dificuldade na correta e/ou fluente leitura de palavras, na escrita e nas habilidades de decodificação,
interferindo na ampliação do vocabulário e conhecimentos gerais, quando se comparam sujeitos com
todas as habilidades preservadas e outros com transtornos de leitura e escrita com a mesma idade,
escolaridade e nível de inteligência. Ajuriaguerra2 observa que crianças disléxicas, quando submetidas a
testes neuropsicológicos, como o WISC, por exemplo, apresentam potencial intelectual dentro da média
ou até superior, além de não possuírem nenhum tipo de déficit sensorial ou deficiência neurológica,
corroborando com os critérios diagnósticos apresentados pelo DSM IV3 – Manual Diagnóstico e
Estatísticos das Perturbações Mentais. Ainda segundo este Manual, a Dislexia caracteriza-se pelo
comprometimento acentuado no reconhecimento das palavras e da compreensão da leitura; sua leitura é
caracterizada por omissões e trocas de grafemas. Nico et al4 identificaram uma dificuldade atípica para
aprender a ler, escrever, soletrar e calcular; a leitura é lenta e trabalhosa impedindo que o portador extraia
a correta compreensão. É importante destacar que estes aspectos que caracterizam a dislexia vão além de
uma questão ambiental e geram atrasos no desempenho escolar, ou seja, falta de recursos pedagógicos,
por falta de interesse, perturbação emocional, inadequação metodológica ou mudança no padrão de
exigência da escola5.
Pesquisas também apontam para o comprometimento das áreas cerebrais envolvidas na leitura e
estratégias de memória, resultando numa limitação de vocabulário significativa.
Linguagem
A aquisição da linguagem, seja oral ou escrita, é parte integrante do cotidiano de todo ser
humano; é transmitida de geração em geração através da educação e vários estudos tem demonstrado
uma estreita relação entre a fonologia, a fluência na leitura e a automatização da escrita. 7, 8, 9, 10
A escrita é um método de comunicação humana criado pelo homem desde a antiguidade. É uma
invenção humana muito elaborada, cujo processo levou aproximadamente três mil anos até chegar às
vinte e seis letras do alfabeto conhecidas hoje em nossa língua. 11 França et al12 em um estudo
longitudinal com 236 crianças da educação infantil encontrou uma importante relação entre o
desenvolvimento fonológico completo como preditor para o processo de aquisição e fluência na escrita.
Alguns aspectos podem ser observados desde a educação infantil6:
• Desempenho inferior nas atividades que envolvem habilidades fonológicas (rimas, por exemplo);
• Déficits em nomeação rápida;
• Memória Verbal de curto prazo comprometida;
• Dificuldade em aprender sequências comuns (dias da semana, meses do ano, por exemplo)
• Dificuldades em língua estrangeira
Já a leitura é uma das mais importantes habilidades desenvolvidas pelo ser humano. É a partir da
leitura que o ser humano passa a conhecer o mundo no qual está inserido, bem como todas as áreas de
conhecimento. Muito além de um processo de decodificação, ela possibilita a compreensão, a
interpretação e a retenção da informação obtida. A leitura pode acontecer por meio de duas vias lexical e
fonológica, segundo o modelo Dual proposto de Jorm e Share.13 A via lexical ou direta estabelece uma
relação direta a forma visual da palavra, a pronúncia e o significado na memória lexical (alusão a uma
fotografia da palavra); já a via fonológica ou indireta é um processo de recodificação fonológica e
envolve a aplicação de um conjunto de regras de conversão grafema-fonema, sendo necessária para o
reconhecimento e compreensão de palavras desconhecidas.
Atendimento psicopedagógico: Diagnóstico e Intervenção
O psicopedagogo é o profissional que investiga15, se aprofunda e desenvolve ferramentas que
darão suporte para remediar as dificuldades de aprendizagem, buscando obter o máximo de informações
possíveis a respeito do indivíduo com quem trabalhará. Trata-se de um processo de avaliação
psicopedagógica porque não se reduz a atividades e tarefas pontuais, mas um continuum de atuações
destinadas a pesquisar e a compreender melhor a forma de ensinar e aprender deste indivíduo16. A ação
diagnóstica15 é planejada de acordo com a demanda ou queixa; passo a passo o profissional vai coletando
informações relevantes sobre o contexto familiar, escolar e social no qual está inserido o indivíduo em
avaliação. Nesta coleta obtêm-se também os aspectos positivos – potencialidades e capacidades –
permitindo que o profissional os utilize como apoio na intervenção psicopedagógica16.
O preparo dos profissionais que atendem o indivíduo com este transtorno deve ser bem
especializado, para que possa entender exatamente como orientar o portador, sua família e a(s)
instituição (ções) de ensino e apoio que o atendem. Sanchez14 propõe a formação de uma rede de
relações – família, escola especialistas, cuja função é avaliar os avanços, as dificuldades e as estratégias
Palavra escrita Codificação visual Léxico interno
Resposta falada
Recodificação fonológica
(a) (a)
(b)
(c)
(c)
que serão utilizadas pelas pessoas que o cercam, a fim de integralmente proporcionarem melhorias
efetivas no desempenho acadêmico, social e familiar.
Desta forma, seguem algumas sugestões de como se trabalhar com o indivíduo disléxico:
• Deve-se incentivá-lo destacando suas conquistas;
• Adequar o material pedagógico, de forma que atenda suas necessidades e valorize seus aspectos
fortes;
• Permitir o uso de gravadores, uma vez que o disléxico não consegue ouvir e escrever ao mesmo
tempo, proporcionando maior segurança e tranqüilidade no momento de realizar a lição de casa;
• Utilizar-se de apoio visual como um suporte para leitura e atividades;
• Ensinar a sintetizar por meio de palavras ou desenhos o conteúdo que lhe foi exposto;
• As avaliações devem ser feitas oralmente, sempre que possível (esta estratégia serve para todos os
níveis de ensino);
• Prever mais tempo, tanto para a execução de tarefas, atividades e avaliações, pois o disléxico precisa
da mais tempo para acessar a informação armazenada, uma vez que a capacidade para o aprendizado
está intacta – este recurso não é opcional, faz parte de seus direitos;
• Procurar um local tranqüilo para que ele consiga fazer as avaliações, pois qualquer barulho poderá
distraí-lo, interferindo em sua performance.
• É importante que as crianças sejam expostas com mais intensidade à leitura para armazenar as formas
ortográficas das palavras.
Intervenção psicopedagógica nas habilidades de leitura e escrita
O uso de programas interventivos estruturados e de eficácia comprovada para a minimização de
dificuldades de linguagem escrita é uma alternativa que vem sendo adotada em diversos países.
É imprescindível que os modelos de interventivos considerem ações direcionadas para os
problemas de decodificação e compreensão considerando o treino de habilidades tanto visuais e
auditivas básicas quanto o de processos verbais superiores de abstração e compreensão (Etchepareborda,
2003, citado por Barbosa, Araújo, Campanhã e Macedo) 17.
Neste sentido, a partir das pesquisas apontadas sobre os déficits presentes na dislexia do
desenvolvimento e da construção dos modelos explicativos para o transtorno, diversos métodos e
programas de tratamento têm sido desenvolvidos visando o desenvolvimento de habilidades necessárias
para a alfabetização bem sucedida 18.
No Brasil, alguns estudos têm sido conduzidos por pesquisadores do Laboratório de
Neurociência Cognitiva da Universidade Presbiteriana Mackenzie, utilizando-se do Programa
“Alfabetização Fônica Computadorizada”19 que tem por objetivo estimular habilidade de leitura e consciência
fonológica17.
Considerando a relevância de tais programas interventivos, este presente estudo se propõe a
apresentar os resultados obtidos a partir do treino de habilidades fonológicas por meio da utilização do
Programa “Alfabetização Fônica Computadorizada”19 com uma criança que apresenta perfil compatível com
o quadro de dislexia do desenvolvimento
MÉTODO
Participou do estudo, uma criança de 09 anos, do sexo masculino, estudante da 4ª série de uma
escola particular da cidade de São Paulo, que apresenta um perfil compatível com o quadro de Dislexia
do Desenvolvimento, confirmado após ter sido submetido por avaliação neuropsicológica no
Laboratório de Neurociências do Comportamento da Universidade Presbiteriana Mackenzie em
novembro de 2009, através de onde foi encaminhado para avaliação e intervenção psicopedagógica,
processo que teve duração de março a novembro de 2010, no mesmo laboratório citado.
Tal criança será identificada neste estudo por JM.
Instrumentos
A intervenção foi em uma sessão semanal de 50 minutos. Utilizou-se o programa “Alfabetização
Fônica Computadorizada”19 que possibilita a realização de atividades de treino de leitura e consciência
fonológica de forma lúdica, sistemática e objetiva. Os exercícios são divididos em duas partes: Consciência
Fonológica e Alfabeto. Em Consciência Fonológica, as atividades focam a percepção de partes que compõem
uma palavra, tais como sílabas, fonemas, rima e aliteração. Na parte de Alfabeto, as atividades são voltadas
para o treino de treino de correspondências entre as letras e os seus sons. Também foram utilizados
outros jogos, livros e atividades que focaram no treino ortográfico e na produção escrita.
Como pré-teste e pós-teste, para avaliação dos resultados obtidos com a intervenção realizada,
foi utilizada a “BALE Computadorizada” 20 que é composta por 5 provas de leitura e escrita (Macedo,
2002): Teste de Competência de Leitura Silenciosa (Tecolesi),Teste de Nomeação de figura por Escolha
de Palavra (Tenofep), Teste de Nomeação de Palavra por Escrita (Tenofe), Teste de Compreensão de
Sentenças Escritas (TCSE) e Teste de Compreensão de Sentenças Faladas (TCSF). Os testes avaliam o
grau de desenvolvimento e preservação dos diferentes mecanismos, rotas e estratégias envolvidas na
leitura e escrita.
Procedimentos
O processo de avaliação e intervenção psicopedagógica ocorreu entre os meses de março a
novembro de 2010, tendo sido realizada uma sessão por semana, com pausa para as férias no mês de
julho.
A criança passou por duas avaliações. A primeira foi realizada durante o mês de março de 2010
com a aplicação da “Bale Computadorizada”.
Posteriormente, como intervenção psicopedagógica para o treino da consciência fônica, foi
utilizado o software “Alfabetização Fônica Computadorizada”. Após a criança completar todas as atividades
do programa, outras atividades como jogos, leitura de livros e produção de textos foram realizadas
visando o treino ortográfico. Ao final do processo interventivo, as atividades do programa de método
fônico foram repetidas a fim de assegurar a retenção das habilidades treinadas.
A segunda avaliação foi realizada no mês de novembro de 2010 com a aplicação da “Bale
Computadorizada”.
Por fim, os dados obtidos a partir da 1ª e 2ª avaliação (pré e pós-teste) foram comparados a fim
de verificar se a intervenção realizada com a criança foi eficaz.
RESULTADOS
Na primeira avaliação realizada em novembro de 2009, observou que as maiores dificuldades de
JM se concentravam em palavras com trocas fonológicas, que podem comprometer a compreensão da
leitura que realiza bem como a posterior escrita de palavras e frases. JM se encontrava abaixo do
esperado, quando comparado às crianças de mesma idade, no Teste de Nomeação de Figuras por Escrita
(Tenofe). Neste, ele foi capaz de escrever corretamente 16 palavras, do total de 36. João Marcelo
cometeu erros por trocas fonológicas, como em /corusa/ no lugar de /coruja/, /sovero/ no lugar de
/chuveiro/, /sadre/ no lugar de /xadrez/. Omitiu letras de algumas palavras, como /melacia/ no lugar de
/melancia/. Outra categoria significativa foram os erros ortográficos, como em /palhaso/ no lugar de
/palhaço/, /vasora/ no lugar de /vassoura/.
Após a intervenção foi realizada uma avaliação das habilidades de leitura e escrita através da
Bateria de Avaliação de Leitura e Escrita (BALE computadorizada), utilizando as seguintes provas: Tenof
, Tenop, Tecolesi, Tcse e Tcsf. Observou-se um melhor desempenho no desenvolvimento destas
habilidades, realizando as provas em menor tempo e obtendo os seguintes resultados demonstrados nos
gráficos abaixo:
Gráfico comparativo com relação ao tempo utilizado para execução das atividades da Bale –
pré e pós período interventivo (em ms).
Gráfico comparativo da pontuação obtida em relação aos acertos nas atividades da Bale – pré e pós período interventivo.
No teste de nomeação de figuras por escrita (Tenofe) é possível verificar uma significativa
melhora, uma vez que o JM escreveu corretamente 32 itens de 36 possíveis. Tendo cometido poucos
erros de ortografia e omissão de letras como, por exemplo, /abir/ no lugar de /abrir/, /xadres/ no lugar
de /xadrez/, /rinoseronte/ no lugar de /rinoceronte/ e /palhaso/ no lugar de /palhaço/.
No teste de competência de leitura silenciosa (Tecolesi) JM conseguiu identificar adequadamente
palavras regulares e irregulares, no entanto cometeu erros em palavras com trocas fonológicas,
acarretando em uma diminuição do número de acertos; por exemplo, considera certas as palavras
/juveiro/ no lugar de /chuveiro/, /ponéca/ no lugar de /boneca/; e apresentou erros ortográficos,
considerando como certas as palavras como /jêniu/ no lugar de /gênio/, /paçaru/ no lugar de /pássaro/ e,
cometeu erros na leitura de palavras com trocas visuais, considerando como correta a palavra
/TEIEVISÃO/ para a figura de uma televisão e /CADEPMO/ para a figura de um /caderno/. Estes
resultados são esperados, pois a intervenção foi preparada para desenvolver a habilidade fonológica, cuja
função é predizente para a leitura e escrita de palavras fluentemente. Outro aspecto que encontramos na
0,00
5000,00
10000,00
15000,00
20000,00
25000,00
Tenofe TCLP Tenofep TSCF TSCE
Bale - tempo
Pré-teste
Pós-teste
010203040506070
Tenofe TCLP Tenofepe TSCF TSCE
Bale - pontuação
Pré-testePós-teste
execução desta atividade, cuja relevância é extrema, foi a desatenção, pois JM repetidas vezes foi alertado
a se concentrar na atividade.
A redução do tempo na realização do teste TSCE indica um avanço no processo de
automatização da leitura e consequentemente maior facilidade de acessar o conteúdo do que é lido.
Percebemos que JM evoluiu significativamente durante o período em que esteve em atendimento
psicopedagógico; demonstrou interesse nas atividades propostas, participando com ânimo e vontade.
Também é importante ressaltar que a família se dispôs a ajudá-lo em todas as orientações feitas. É
possível verificar que mesmo a intervenção tendo se mostrado eficiente, o tipo de erro cometido por JM
antes da intervenção é persistente, o que é característico do quadro de Dislexia do Desenvolvimento.
DISCUSSÃO
Em nosso estudo de caso, pode ser constatado que programas interventivos com foco nas
dificuldades de leitura e de processamento fonológico podem contribuir para melhora na leitura das
crianças diagnosticadas com dislexia.
Tal afirmação corrobora com os resultados de um estudo realizado por Oliveira e Macedo18 com
20 crianças com diagnóstico de Dislexia do desenvolvimento com idade média de 11,7 anos. Após a
avaliação destas, as mesmas forma divididas em 2 grupos: 10 crianças foram submetidas ao mesmo
software utilizado neste estudo de caso, “Alfabetização Fônica” e formaram o Grupo Experimental
(GE) já as outras 10 crianças não foram submetidas a nenhuma intervenção e formaram o Grupo
Controle (GC). A princípio, em ambos os grupos foi realizada uma avaliação das habilidades de leitura e
escrita de cada criança por meio da Prova de Consciência Fônica e da Bateria da Bale Computadorizada
em 2 sessões. Posteriormente, foram realizadas, individualmente, 12 sessões em média com cada criança
do GE. Por fim, foram novamente aplicadas as provas de Consciência Fonológica e a Bateria de Bale
computadorizada, tanto no como no GC. Os resultados apontaram que as crianças que participaram do
programa de intervenção são capazes de ler e compreender sentenças com maior precisão que as
crianças que não participaram da intervenção.
Algo importante de ser destacado é a existência de um quadro heterogêneo de manifestações da
Dislexia do Desenvolvimento e o aproveitamento que cada um dos sujeitos pode obter com o programa
de intervenção, fato observado por Oliveira e Macedo18 e apontam citando Galaburda (2007) que dentro
deste mesmo quadro, é possível observar variações entre as manifestações das dificuldades de leitura que
incluem as essencialmente visuais, essencialmente fonológicas, de memória de seqüenciamento, ou ainda
combinações destes déficits.
Desta forma, o software Alfabetização Fônica beneficia com maior ênfase os sujeitos que
apresentam especificamente dificuldades fonológicas.
Assim, é interessante que em um programa de intervenção todas as habilidades necessárias para o
sucesso da leitura sejam contempladas, tais como as metafonológicas, o desenvolvimento de vocabulário,
a velocidade de leitura e as habilidades de compreensão.
No presente estudo de caso, diferentes atividades foram realizadas a fim de possibilitar o treino
das habilidades fonológicas, a automatização e compreensão da leitura e o conhecimento das regras
ortográficas. Porém, maior ênfase foi dada ao fortalecimento das habilidades fonológicas, tendo sido
observado na criança grande avanço nos dois primeiros aspectos.
CONCLUSÃO
Dentre as habilidades consideradas preditoras para o processo de aquisição da leitura e escrita, o
processamento fonológico é de suma importância12, 21, 22. Neste sentido, estudos21, 22 apontam que os
distúrbios de processamento fonológico são a principal causa dos problemas de leitura e escrita, tal
como ocorre no quadro de Dislexia do Desenvolvimento.
Frente a tais dificuldades, atualmente tem sido criado programas de intervenção estruturados
com foco nas dificuldades de leitura e de processamento fonológico que
podem contribuir para melhora na leitura das crianças diagnosticadas com dislexia.
Neste presente estudo, a criança participante, de perfil compatível com o quadro de dislexia,
realizou treino fonológico por meio do “Programa Alfabetização Fônica Computadorizada”, como
maneira de estimular as habilidades metafonológicas e correspondências grafema-fonema.
Posteriormente, com a avaliação dos resultados obtidos a partir da intervenção, observou-se um melhor
desempenho no desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, realizando as provas em menor
tempo o que indica um avanço no processo de automatização da leitura e consequentemente maior
facilidade de acessar o conteúdo do que é lido.
Desta maneira, a utilização do programa trouxe efeitos positivos nas habilidades de leitura e
escrita de crianças com dislexia do desenvolvimento.
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