Artigo equina 25 set out-2009

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Page 1: Artigo equina 25 set out-2009

Roberto Arruda deSouza Lima

Engenheiro agrônomo,Doutor em

Economia Aplicada,Prof. da ESALQ/USP,

Pesquisador do [email protected]

O mercado de carne de cavalo é pouco discuti-do, principalmente na literatura acadêmica. A Re-vista Brasileira de Medicina Eqüina tem sido umadas exceções, já tendo apresentado artigos sobre otema nos últimos anos. Em parte, esta escassez detrabalhos deve-se à pouca abertura de informaçõesjunto aos frigoríficos e à cultura brasileira avessa aeste mercado. Apesar de polêmico, por tratar douso de animal de companhia para alimentação, essemercado é um importante componente do comple-xo do agronegócio do cavalo, gerando renda, divi-sas e empregos. E nos últimos anos o Brasil temperdido espaço no cenário mundial, apesar perma-necer como um dos principais exportadores. Esteartigo apresenta uma atualização do comportamen-to das exportações brasileiras, que em 1973 cor-respondiam a um quarto do mercado mundial e em2007 representaram apenas 6% das exportaçõesmundiais, que totalizaram pouco mais de meio bi-lhão de dólares.

Inicialmente, convém destacar que a explora-ção da carne de cavalo é um aproveitamento com-plementar do cavalo. No Brasil, por exemplo, nãohá criação de cavalo exclusivamente para o abate.Os frigoríficos trabalham com animais de descar-te, já utilizados em outras atividades, como na lidado gado bovino.

A carne de cavalo possui aparência similar àcarne bovina, com uma cor um pouco mais aver-melhada (decorrente de seu teor de ferro, 3 mg por100 g de carne), possui um sabor mais adocicado(devido ao teor de glicogênio) e menor teor de gor-dura (menos de 5% de lipídios, sendo cerca de 60%de ácidos graxos insaturados). Adicionalmente, é

O Brasil está na contramão do mercadomundial de carne de cavalo

Figura 1: Participação percentual dos maiores países importa-dores no montante total, em US$, comercializado de carne decavalo no mundo, em 2007

uma rica fonte de vitaminas (100 g de carne forne-cem integralmente a necessidade diária de vitaminaB12 de um homem).

As importações de carne de cavalo estão con-centradas em poucos países. França, Bélgica e Itá-lia responderam, em 2007, por 65% do volumeimportado no mercado mundial (Figura 1).

Muitos países importam carne de cavalo paraprocessá-la e, com maior valor agregado, exporta-rem. Se forem consideradas apenas as importaçõeslíquidas (isto é, o valor das importações deduzidodo valor das exportações), nota-se que o mercadoé ainda mais concentrado. Cinco países (Itália,França, Rússia, Suíça e Japão) responderam, em2007, por 93% do volume de importações líquidasno mercado mundial (Figura 2).

Brasil e Argentina destacam-se entre os princi-pais exportadores mundiais (Figuras 3 e 4). OUruguai também responde por parcela importantedas exportações mundiais, embora em nível abaixode Brasil e Argentina, ressaltando a importância dospaíses do Mercosul no mercado mundial de carnede cavalo.

As exportações brasileiras partem principalmentedo Rio Grande do Sul e Paraná (40% e 39% dovolume exportado pelo Brasil em 2009, acumuladoaté agosto). Minas Gerais e Bahia, com cerca de10%cada, ocupam a terceira e quarta posição, respecti-vamente. Desde 1999, o Brasil comercializou car-ne de cavalo com 25 diferentes países, sendo que aBélgica tem se destacado como principal destinoda carne brasileira. Neste ano de 2009, até agosto,o Brasil exportou carne de cavalo para Bélgica(57,76%); Itália (12,56%); Holanda (11,56%); Ja-

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Figura 2: Participação dos maiores importadores líquidos decarne de cavalo em nível mundial, no ano de 2007

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pão (10,25%); França (5,36%); Vietnã (0,76%);Finlândia (0,72%); Espanha (0,42%); Hong Kong(0,38%) e África do Sul (0,24%). Bélgica, França,Itália, Japão e Holanda têm concentrando mais de95% das exportações brasileiras nos últimos anos.

Observa-se na Figura 5 que até a primeira me-tade da atual década, tanto o volume exportado decarne de cavalo, expresso em dólares, quanto àquantidade física (em toneladas), apresentaram fortecrescimento, o que fez com que o número anual deabates de eqüídeos quase que quadruplicasse entre2002 e 2005, passando de 56.330 para 211.067animais no período. No entanto, os últimos anostêm apresentado fortes quedas, principalmente naquantidade física (em 2008 foram abatidos 54%animais a menos do que a quantidade registrada em2005). O abate mensal no principal estado (Paraná)vem decrescendo desde início de 2004 (Figura 6).

É interessante notar que este decréscimo nasexportações brasileiras ocorreu na contramão domercado, que se expandiu nos últimos anos (Figu-ra 7). No triênio 2005 a 2007, as exportações bra-sileiras decresceram 6,4%, enquanto as exporta-ções mundiais (isto é, a soma das exportações detodos países) cresceram 16,1%.

Pelo exposto nas Figuras deste artigo, emboraainda evidenciado o papel de destaque exercido peloBrasil nas exportações mundiais, a importância re-lativa das exportações brasileiras tem se reduzido, adespeito do incremento verificado no comércio noresto do mundo. Também desperta preocupação daconcentração das exportações brasileiras, destacan-do-se a Bélgica. Cabe ressaltar que cerca de 50 pa-íses importam carne de cavalo a cada ano. Obser-va-se que as exportações estão direcionadas parapaíses que realizam a re-exportação da carne decavalo. Os principais mercados importadores de-veriam ser melhores explorados. Há espaço paraelevação do volume exportado e para que o Brasilretorne a caminhar a favor do mercado, não maisna contramão.

Figura 3: Participação dos maiores exportadores no montante to-tal, em US$, comercializado de carne de cavalo, no ano de 2007

Figura 4: Participação dos maiores exportadores líquidos de car-ne de cavalo em nível mundial, no ano de 2007

Figura 5: Brasil - Exportações anuais de carne de cavalo, volume financeiro efísico, período de 1989 a 2009.

Figura 6: Brasil - Origem das exportações anuais de carne de cavalo, períodode janeiro 2002 a agosto 2009

Figura 7: Exportações anuais, do Brasil e do mundo, de carne de cavalo,período de janeiro 1961 a 2007

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