Artigo equina 27 jan fev-2010

2
Roberto Arruda de Souza Lima Engenheiro agrônomo, Doutor em Economia Aplicada, Prof. da ESALQ/USP, Pesquisador do CEPEA [email protected] Renato Morelli Patrício Acadêmico de Engenharia Agronômica da ESALQ/USP O crescimento do Brasil no comércio internacional de cavalos vivos O Brasil tem apresentado importante evolução na sua participação no comércio internacional de cavalos vivos. Este artigo, a partir de dados da FAO e do MDIC, apresenta alguns dados que justificam esta afirmativa, sinalizando perspectivas favoráveis ao nosso país. O comércio mundial de cavalos vivos tem apre- sentado crescimento desde a década de 1900, com exceções pontuais. Entre 1998 e 2007, as exporta- ções desses animais cresceram, em média, 8,75% ao ano. Em 2007 (última data disponível de dados mundiais) foram exportados 2,4 bilhões de dólares de cavalos vivos. Destacam-se entre os países ex- portadores os Estados Unidos, Reino Unido e Irlan- da, que em conjunto tem representado mais da metade do volume exportado em todo mundo (Fi- gura 1). Esta região representa, também, cerca de 60% do total das importações mundiais de equinos. Os países do Mercosul têm se aproveitado des- se movimento mundial, em especial a Argentina, que elevou significativamente o volume exportado no atual século. Argentina e Brasil acompanharam de forma bastante próxima o crescimento mundial, enquanto o Uruguai apresentou melhores resulta- dos somente a partir de 2005, mas de forma forte, inclusive atingindo volumes bem próximos às ex- portações brasileiras de cavalos (Figura 2). A evolução do Brasil no comércio internacional Figura 2: Exportações de cavalos vivos, Argentina, Brasil e Uruguai, em milhões de dólares destaca-se pelo fato de que não apenas as exporta- ções se elevaram, mas também as importações. No final da década de 1980 as importações brasileiras de cavalos vivos estiveram, de forma atípica (fruto da crise que o setor enfrentou nos Estados Unidos durante o Governo Reagan, elevando fortemente a oferta de animais no mercado mundial), muito ele- vadas. Mas mesmo após esse boom de importa- ções, o saldo comercial (exportações líquidas, ou seja, exportações menos importações) permaneceu negativo. Somente na virada do século é que houve incremento das exportações, registrando saldo po- sitivo em 1999. Como as importações também cres- ceram no atual século, é interessante observar a forte elevação do fluxo de comércio (soma das ex- portações com as importações) brasileiro, que atin- giu quase 10 bilhões de dólares em 2008 (Tabela 1). O Brasil, em 2009, classificou-se como o 28º maior exportador mundial (a Argentina ficou em 13º lugar), sendo que o principal importador de ca- valos brasileiros foi o Estados Unidos (Figura 3). Dentre os 10 principais importadores de cavalos no mundo, metade (Irlanda, Japão, Austrália, Itália e China) não realizaram aquisições no Brasil em 2009, indicando que o mercado ainda não está ade- quadamente explorado. O Brasil ocupa a 35ª posição entre os maiores importadores mundiais de cavalo (a Argentina está na 30ª colocação), sendo cerca de dois terços dos animais que entraram no Brasil vieram dos Estados Unidos e da Argentina (Figura 4). Os seis maiores exportadores mundiais venderam animais para o Brasil em 2009, mas outros quatro paises entre os dez principais exportadores não realizaram vendas para o Brasil no ano passado. Um indicador utilizado em análises sobre o co- mércio internacional é o denominado Posição no Mercado Mundial, cuja evolução permite verificar se determinado país está ganhando, perdendo ou mantendo sua posição no comércio mundial de de- terminado produto. Esse indicador é calculado da seguinte forma: Sik = [(Xik – Mik) / Wk) × 100 Em que Sik é a Posição no Mercado Mundial de Cavalos; Xik são as exportações de cavalos (em US$) pelo país i; Mik são as importações de cava- los (em US$) pelo país i; e, Wk é o total das ex- portações de cavalos (em US$) em todo o mundo. A partir de dados da FAO, calculou-se a Posi- ção no Mercado Mundial de Argentina, Brasil, Uru- guai e Estados Unidos. Os resultados estão apre- sentados na Tabela 2. Observa-se que os países 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 1980 1983 1986 1989 1992 1995 1998 2001 2004 2007 Bilhões de dólares Figura 1: Exportações de cavalos vivos, total mundial e principais países, em bilhões de dólares FONTE: FAO FONTE: FAO

Transcript of Artigo equina 27 jan fev-2010

Page 1: Artigo equina 27 jan fev-2010

Roberto Arruda deSouza Lima

Engenheiro agrônomo,Doutor em

Economia Aplicada,Prof. da ESALQ/USP,

Pesquisador do [email protected]

Renato MorelliPatrício

Acadêmico deEngenharia

Agronômica daESALQ/USP

O crescimento do Brasil nocomércio internacional de cavalos vivos

O Brasil tem apresentado importante evoluçãona sua participação no comércio internacional decavalos vivos. Este artigo, a partir de dados da FAOe do MDIC, apresenta alguns dados que justificamesta afirmativa, sinalizando perspectivas favoráveisao nosso país.

O comércio mundial de cavalos vivos tem apre-sentado crescimento desde a década de 1900, comexceções pontuais. Entre 1998 e 2007, as exporta-ções desses animais cresceram, em média, 8,75%ao ano. Em 2007 (última data disponível de dadosmundiais) foram exportados 2,4 bilhões de dólaresde cavalos vivos. Destacam-se entre os países ex-portadores os Estados Unidos, Reino Unido e Irlan-da, que em conjunto tem representado mais dametade do volume exportado em todo mundo (Fi-gura 1). Esta região representa, também, cerca de60% do total das importações mundiais de equinos.

Os países do Mercosul têm se aproveitado des-se movimento mundial, em especial a Argentina, queelevou significativamente o volume exportado noatual século. Argentina e Brasil acompanharam deforma bastante próxima o crescimento mundial,enquanto o Uruguai apresentou melhores resulta-dos somente a partir de 2005, mas de forma forte,inclusive atingindo volumes bem próximos às ex-portações brasileiras de cavalos (Figura 2).

A evolução do Brasil no comércio internacional

Figura 2: Exportações de cavalosvivos, Argentina, Brasil e Uruguai,em milhões de dólares

destaca-se pelo fato de que não apenas as exporta-ções se elevaram, mas também as importações. Nofinal da década de 1980 as importações brasileirasde cavalos vivos estiveram, de forma atípica (frutoda crise que o setor enfrentou nos Estados Unidosdurante o Governo Reagan, elevando fortemente aoferta de animais no mercado mundial), muito ele-vadas. Mas mesmo após esse boom de importa-ções, o saldo comercial (exportações líquidas, ouseja, exportações menos importações) permaneceunegativo. Somente na virada do século é que houveincremento das exportações, registrando saldo po-sitivo em 1999. Como as importações também cres-ceram no atual século, é interessante observar aforte elevação do fluxo de comércio (soma das ex-portações com as importações) brasileiro, que atin-giu quase 10 bilhões de dólares em 2008 (Tabela 1).

O Brasil, em 2009, classificou-se como o 28ºmaior exportador mundial (a Argentina ficou em13º lugar), sendo que o principal importador de ca-valos brasileiros foi o Estados Unidos (Figura 3).Dentre os 10 principais importadores de cavalosno mundo, metade (Irlanda, Japão, Austrália, Itáliae China) não realizaram aquisições no Brasil em2009, indicando que o mercado ainda não está ade-quadamente explorado.

O Brasil ocupa a 35ª posição entre os maioresimportadores mundiais de cavalo (a Argentina estána 30ª colocação), sendo cerca de dois terços dosanimais que entraram no Brasil vieram dos EstadosUnidos e da Argentina (Figura 4). Os seis maioresexportadores mundiais venderam animais para oBrasil em 2009, mas outros quatro paises entre osdez principais exportadores não realizaram vendaspara o Brasil no ano passado.

Um indicador utilizado em análises sobre o co-mércio internacional é o denominado Posição noMercado Mundial, cuja evolução permite verificarse determinado país está ganhando, perdendo oumantendo sua posição no comércio mundial de de-terminado produto. Esse indicador é calculado daseguinte forma:

Sik = [(Xik – Mik) / Wk) × 100

Em que Sik é a Posição no Mercado Mundial deCavalos; Xik são as exportações de cavalos (emUS$) pelo país i; Mik são as importações de cava-los (em US$) pelo país i; e, Wk é o total das ex-portações de cavalos (em US$) em todo o mundo.

A partir de dados da FAO, calculou-se a Posi-ção no Mercado Mundial de Argentina, Brasil, Uru-guai e Estados Unidos. Os resultados estão apre-sentados na Tabela 2. Observa-se que os países

0,00,5

1,01,52,0

2,53,0

1980

1983

1986

1989

1992

1995

1998

2001

2004

2007

Bilh

ões

de d

ólar

es

Figura 1: Exportações decavalos vivos, total mundial eprincipais países, em bilhõesde dólares

FON

TE: F

AOFO

NTE

: FAO

Page 2: Artigo equina 27 jan fev-2010

do Mercosul estão bem distantes da posição obtidapelos Estados Unidos. Além disto, e principalmen-te, destaca-se o forte crescimento do indicador parao Brasil, passando de 1,29 negativo para positivos0,46, aproximando-se da posição de mercado doUruguai. No entanto, o crescimento apresentado pelaArgentina a partir de 2003 supera em muito o ritmoapresentado pelo Brasil, indicando que o desempe-nho brasileiro poderia ter sido mais significativo.

Deve-se destacar que este panorama do comér-cio internacional foi realizado com base em dadosoficiais. Infelizmente há notícia de que nem todasas operações encontram-se adequadamente regis-tradas (em geral, redução tributária), a exemplo doque ocorre nos demais setores da economia. Destaforma, provavelmente os valores apresentados en-contram-se subavaliados. No entanto, a tendênciada evolução deve estar consistente com a realidade.O Brasil deixou sua posição de quase exclusivo im-portador no século passado. A partir deste século,as exportações passaram a ganhar força, sendo,como visto, que as importações também continua-ram crescendo. Assim, embora muito aquém de ou-tros segmentos do agronegócio, o cavalo tem semostrado interessante não apenas no mercado in-terno, abrindo novas oportunidades de negócios paraos criadores brasileiros. Sugere-se que seja elabo-rada uma agenda para discutir as melhores formasde explorarmos o mercado mundial, agregando pa-íses importantes que ainda não são parceiros co-merciais e, principalmente, buscando superar as di-ficuldades impostas por elevados custos de transa-ção, destacadamente os tributários.

Figura 3: Brasil - Destino das exportaçõesde equideos em 2009

Figura 4: Brasil - Origem das importaçõesde equideos em 2009

Tabela 1 - Brasil: Comércio internacional de equideos, em milhares de dólares

Ano Exportações Importações Exportações Líquidas Fluxo de Comércio

1989 180.955 8.861.993 -8.681.038 9.042.948

1990 232.595 11.404.794 -11.172.199 11.637.389

1991 162.351 4.934.503 -4.772.152 5.096.854

1992 298.387 1.503.454 -1.205.067 1.801.841

1993 372.485 1.352.498 -980.013 1.724.983

1994 587.887 1.446.344 -858.457 2.034.231

1995 279.597 2.016.809 -1.737.212 2.296.406

1996 257.942 1.395.935 -1.137.993 1.653.877

1997 702.852 1.406.928 -704.076 2.109.780

1998 717.890 864.418 -146.528 1.582.308

1999 2.279.969 615.014 1.664.955 2.894.983

2000 1.548.079 629.573 918.506 2.177.652

2001 1.069.762 748.456 321.306 1.818.218

2002 954.813 540.759 414.054 1.495.572

2003 1.460.707 454.300 1.006.407 1.915.007

2004 2.068.728 675.971 1.392.757 2.744.699

2005 2.052.764 867.588 1.185.176 2.920.352

2006 4.916.213 1.680.375 3.235.838 6.596.588

2007 3.585.968 2.457.278 1.128.690 6.043.246

2008 5.635.290 4.145.981 1.489.309 9.781.271

7.339.0882009 4.348.075 2.991.013 1.357.062

Tabela 2 - Posição no Mercado Mundial, países selecionados, de 1985 a 2007

Ano Argentina Brasil Uruguai Estados Unidos

1985 0,3966 -0,3028 0,1024 0,5737

1986 0,2735 -0,4628 0,1411 1,8097

1987 0,2697 -0,5305 0,0578 14,7269

1988 0,4720 -0,3351 0,0541 17,9829

1989 0,5624 -0,9910 0,0919 17,4625

1990 0,4233 -1,2891 0,0580 19,1503

1991 0,4237 -0,6471 0,1743 24,4806

1992 0,2830 -0,2220 0,0970 17,7295

1993 0,5591 -0,2469 0,0914 18,0224

1994 0,5837 -0,2010 0,1106 13,0331

1995 0,8570 -0,3137 0,0423 18,5204

1996 0,5960 -0,1139 0,0375 11,6741

1997 1,0471 -0,1381 0,0359 10,8598

1998 1,0672 -0,0130 0,0377 8,7776

1999 0,6403 0,1244 0,0383 -3,4712

2000 0,5457 0,0250 0,0230 1,1072

2001 0,7898 0,0186 0,0358 7,0680

2002 0,4715 0,0303 0,0033 3,8373

2003 0,3155 0,0555 0,0002 14,923

2004 0,3723 0,0449 -0,0070 5,1795

2005 0,4324 0,0602 0,0735 9,5746

2006 0,5235 0,1037 0,0616 9,3575

2007 0,8540 0,0465 0,0644 3,2115 FON

TE: F

AOFO

NTE

: MID

C

FON

TE: M

IDC

FON

TE: M

IDC