Artigo equina 29 mai jun-2010

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Roberto Arruda de Souza Lima Engenheiro agrônomo, Doutor em Economia Aplicada, Prof. da ESALQ/USP, Pesquisador do CEPEA [email protected] Recursos para Defesa e Sanidade Animal FONTE: SIAFI (2010) O debate por mais recursos para defesa e sanidade animal não é novidade para esta Revista Brasileira de Medicina Equina, pois já na edição n.3, de janeiro/fe- vereiro 2006, era publicado o primeiro artigo alertando sobre a necessidade de iniciarmos pressões democrá- ticas para maior orçamento referente à prevenção, con- trole e erradicação das doenças da equideocultura. No ao seguinte, nova alerta foi realizado, igualmente sem maiores resultados práticos. Em novo ano eleitoral, é conveniente realizar mais um esforço, para que o as- sunto receba a atenção que merece por parte das auto- ridades. Até 2006, a equideocultura possui uma rubrica es- pecífica no Orçamento da União para as despesas re- ferentes à prevenção, controle e erradicação das doen- ças do segmento, que além de apresentar valores mo- destos, apenas parte era efetivamente executado (Fi- Figura 1 - Brasil: evolução anual da despesa dotada e empenhada referente à prevenção, controle e erradicação das doenças da equideocultura, em milhares de reais, de 2005 a 2007 gura 1). A partir de 2007, deixou de existir esta rubrica, passando a ter uma única conta para todas espécies animais. Com relação à equideocultura nacional, dois pro- gramas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas- tecimento (MAPA) destacam-se: o Programa Nacional de Controle da Raiva dos Herbívoros e Outras Encefa- lopatias e o Programa Nacional de Sanidade dos Equí- deos - PNSE. Neste momento, é interessante acompa- nharmos as evoluções das ocorrências das diversas doenças que afetam a equideocultura, como forma de auxílio na avaliação da eficácia desses programas do MAPA. Entre 1987 e 2008, foram registrados 61.751 casos de raiva em bovídeos e equídeos, sendo que 90,3% dos casos ocorreram em bovídeos. No entanto, em termos relativos ao tamanho do efetivo (número de cabeças), verifica-se que a ocorrência em equino seja mais representativa, com cerca do dobro do número de caso por mil animais, conforme tabela 1. O principal instrumento do Governo Federal para sanidade da tropa brasileira é o Programa Nacional de Sanidade de Equídeos, o PNSE. Este tem como objeti- vos: • Elaborar e propor atualização da legislação relativa às normas e procedimentos técnicos; • Propor e acompanhar estudos epidemiológicos; • Realizar vigilância epidemiológica e sanitária das prin- cipais doenças dos equídeos, tais como o Mormo e a Anemia Infecciosa Equina, visando a profilaxia, o con- trole e a erradicação destas doenças em todos os Esta- dos da Federação; • Divulgar as ações do PNSE e das doenças cujo con- trole e erradicação estão normatizados pelo MAPA. Na realidade, o foco de atuação do PNSE é a Ane- mia Infecciosa Equina e o Mormo. As demais doenças, existentes ou potencias (como a Febre do Nilo, discu- tida na edição anterior desta Revista), recebem pouca ou nenhuma atenção. A falta de recursos orçamentári- os explica em grande parte esta perigosa omissão. Mesmo as referidas duas doenças nas quais o PNSE tem atuado, as informações são deficientes. O acom- panhamento oficial de casos de surtos de doenças está em grande parte relacionado às doenças listadas pela OIE (organização Mundial de Sanidade Animal). Relacionadas na Tabela 2. Nota-se que a principal ocor- rência, no Brasil, são os surtos de AIE (anemia infecci- osa), embora chame a atenção o crescimento dos ca- sos envolvendo mormo e piroplasmose. A ocorrência de doenças em equídeos abrange todo o território nacional, conforme mostrado na figu- ra 2. Os pontos na figura indicam a ocorrência ou não de surto (um ou mais) na unidade de federação no período de janeiro 2008 a junho 2009. As tabelas 3, 4, 5 e 6 aprestam o número de surtos de AIE, Mormo, In- fluenza Equina e Piroplasmose Equina nos últimos anos, por unidade da federação. Tipo de animal 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Bovídeo 34 13 12 10 8 8 11 9 8 Equídeo 46 28 28 26 16 22 22 17 17 Tabela 1 - Brasil: Casos de raiva por 1.000.000 cabeças, em rebanhos de bovídeos e tropa de equídeos Fonte: WAHID (2010) Doença 2005 2006 2007 2008 2009* Total Anemia infecciosa equina (Lentivirus) 3.609 4.058 4.566 4.500 2.146 18.879 Arterite viral equina (Arterivirus) 0 0 0 0 0 0 Durina (Trypanosoma equiperdum) 0 0 0 0 0 0 Encefalomielite equina (Leste) (Alphavirus) 0 5 0 0 2 7 Encefalomielite equina (Oeste) (Alphavirus) 0 7 1 0 0 8 Encefalomielite equina venezuelana (Alphavirus) 0 0 0 0 0 0 Influenza equina (Influenzavirus A) 81 144 83 45 32 385 Metrite contagiosa equina (Taylorella equigenitalis) 0 0 0 0 0 0 Mormo (Burkholderia mallei) 34 24 31 50 16 155 Peste equina africana (Orbivirus) 0 0 0 0 0 0 Piroplasmose equina 334 320 336 482 303 1.775 (Theileria equi e Babesia caballi) Rinopneumonite equina (Varicellovirus - HVE-1) 0 0 0 3 0 3 Surra (Trypanosoma evansi) 0 0 0 0 0 0 Total 4.058 4.558 5.017 5.080 2.499 21.212 * Acumulado até junho de 2009 Tabela 2 - Brasil: relatos de surtos de doenças da lista da OIE

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Roberto Arruda deSouza Lima

Engenheiro agrônomo,Doutor em

Economia Aplicada,Prof. da ESALQ/USP,

Pesquisador do [email protected]

Recursos para Defesa e Sanidade Animal

FON

TE: S

IAFI

(201

0)

O debate por mais recursos para defesa e sanidadeanimal não é novidade para esta Revista Brasileira deMedicina Equina, pois já na edição n.3, de janeiro/fe-vereiro 2006, era publicado o primeiro artigo alertandosobre a necessidade de iniciarmos pressões democrá-ticas para maior orçamento referente à prevenção, con-trole e erradicação das doenças da equideocultura. Noao seguinte, nova alerta foi realizado, igualmente semmaiores resultados práticos. Em novo ano eleitoral, éconveniente realizar mais um esforço, para que o as-sunto receba a atenção que merece por parte das auto-ridades.

Até 2006, a equideocultura possui uma rubrica es-pecífica no Orçamento da União para as despesas re-ferentes à prevenção, controle e erradicação das doen-ças do segmento, que além de apresentar valores mo-destos, apenas parte era efetivamente executado (Fi-

Figura 1 - Brasil: evolução anual da despesa dotada eempenhada referente à prevenção, controle e erradicação das doenças

da equideocultura, em milhares de reais, de 2005 a 2007

gura 1). A partir de 2007, deixou de existir esta rubrica,passando a ter uma única conta para todas espéciesanimais.

Com relação à equideocultura nacional, dois pro-gramas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento (MAPA) destacam-se: o Programa Nacionalde Controle da Raiva dos Herbívoros e Outras Encefa-lopatias e o Programa Nacional de Sanidade dos Equí-deos - PNSE. Neste momento, é interessante acompa-nharmos as evoluções das ocorrências das diversasdoenças que afetam a equideocultura, como forma deauxílio na avaliação da eficácia desses programas doMAPA.

Entre 1987 e 2008, foram registrados 61.751 casosde raiva em bovídeos e equídeos, sendo que 90,3%dos casos ocorreram em bovídeos. No entanto, emtermos relativos ao tamanho do efetivo (número decabeças), verifica-se que a ocorrência em equino sejamais representativa, com cerca do dobro do númerode caso por mil animais, conforme tabela 1.

O principal instrumento do Governo Federal parasanidade da tropa brasileira é o Programa Nacional deSanidade de Equídeos, o PNSE. Este tem como objeti-vos:• Elaborar e propor atualização da legislação relativaàs normas e procedimentos técnicos;• Propor e acompanhar estudos epidemiológicos;• Realizar vigilância epidemiológica e sanitária das prin-cipais doenças dos equídeos, tais como o Mormo e aAnemia Infecciosa Equina, visando a profilaxia, o con-trole e a erradicação destas doenças em todos os Esta-dos da Federação;• Divulgar as ações do PNSE e das doenças cujo con-trole e erradicação estão normatizados pelo MAPA.

Na realidade, o foco de atuação do PNSE é a Ane-mia Infecciosa Equina e o Mormo. As demais doenças,existentes ou potencias (como a Febre do Nilo, discu-tida na edição anterior desta Revista), recebem poucaou nenhuma atenção. A falta de recursos orçamentári-os explica em grande parte esta perigosa omissão.Mesmo as referidas duas doenças nas quais o PNSEtem atuado, as informações são deficientes. O acom-panhamento oficial de casos de surtos de doençasestá em grande parte relacionado às doenças listadaspela OIE (organização Mundial de Sanidade Animal).Relacionadas na Tabela 2. Nota-se que a principal ocor-rência, no Brasil, são os surtos de AIE (anemia infecci-osa), embora chame a atenção o crescimento dos ca-sos envolvendo mormo e piroplasmose.

A ocorrência de doenças em equídeos abrangetodo o território nacional, conforme mostrado na figu-ra 2. Os pontos na figura indicam a ocorrência ou nãode surto (um ou mais) na unidade de federação noperíodo de janeiro 2008 a junho 2009. As tabelas 3, 4, 5e 6 aprestam o número de surtos de AIE, Mormo, In-fluenza Equina e Piroplasmose Equina nos últimosanos, por unidade da federação.

Tipo de animal 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Bovídeo 34 13 12 10 8 8 11 9 8

Equídeo 46 28 28 26 16 22 22 17 17

Tabela 1 - Brasil: Casos de raiva por 1.000.000 cabeças, em rebanhosde bovídeos e tropa de equídeos

Font

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AH

ID (2

010)

Doença 2005 2006 2007 2008 2009* Total

Anemia infecciosa equina (Lentivirus) 3.609 4.058 4.566 4.500 2.146 18.879

Arterite viral equina (Arterivirus) 0 0 0 0 0 0

Durina (Trypanosoma equiperdum) 0 0 0 0 0 0

Encefalomielite equina (Leste) (Alphavirus) 0 5 0 0 2 7

Encefalomielite equina (Oeste) (Alphavirus) 0 7 1 0 0 8

Encefalomielite equina venezuelana (Alphavirus) 0 0 0 0 0 0

Influenza equina (Influenzavirus A) 81 144 83 45 32 385

Metrite contagiosa equina (Taylorella equigenitalis) 0 0 0 0 0 0

Mormo (Burkholderia mallei) 34 24 31 50 16 155

Peste equina africana (Orbivirus) 0 0 0 0 0 0

Piroplasmose equina334 320 336 482 303 1.775(Theileria equi e Babesia caballi)

Rinopneumonite equina (Varicellovirus - HVE-1) 0 0 0 3 0 3

Surra (Trypanosoma evansi) 0 0 0 0 0 0

Total 4.058 4.558 5.017 5.080 2.499 21.212

* Acumulado até junho de 2009

Tabela 2 - Brasil: relatos de surtos de doenças da lista da OIE

Figura 2 - Brasil: Distribuição da ocorrência de doençaselecionadas, por Unidade da Federação, no período de

janeiro de 2008 a junho 2009

Os valores destinados para prevenção, con-trole e erradicação das doenças da equideo-cultura brasileira, que conta com mais de oitomilhões de cabeças, são simbólicos peranteàs necessidades e riscos envolvidos, inclusi-ve de restrição ao mercado internacional.

Todos agentes envolvidos com o cava-lo no Brasil devem pressionar por maiores

volumes de recursos para sanidade animal,em especial os veterinários, por conhece-rem os impactos das doenças e o que repre-senta a prevenção e controle de doenças.

Temos esperanças que o Brasil consigase fortalecer nesse campo antes que algode mais grave ocorra, evitando custos devidas e perdas econômicas para o Brasil.

Permanecem ainda válidas as conside-rações realizadas em 2006. Um segmento(Complexo do Agronegócio do Cavalo noBrasil) que movimenta financeiramente va-lores superiores a sete bilhões de reais porano, necessita de uma dotação orçamentáriaespecífica para sanidade animal, muito su-perior aos antigos R$ 1.000.000 que recebia.

Unidade da Federação 2005 2006 2007 2008 2009

Acre 99 69 95 107 59

Alagoas 51 75 81 144 107

Amapá 0 0 16 3 7

Distrito Federal 18 12 40 34 10

Sergipe 3 3 18 16 8

Amazonas 25 19 14 13 12

Bahia 478 557 467 446 194

Ceará 217 228 316 347 194

Espírito Santo 20 10 19 14 1

Goiás 157 146 175 136 91

Maranhão 568 560 565 451 176

Mato Grosso 631 661 664 747 346

Mato Grosso do Sul 83 346 295 340 147

Minas Gerais 124 136 176 179 88

Paraíba 22 17 43 54 15

Paraná 18 26 17 16 12

Pernambuco 62 107 144 141 41

Piauí 159 204 365 468 175

Pará 95 143 254 141 124

Rio de Janeiro 76 75 129 110 65

Rio Grande do Norte 6 11 10 17 2

Rio Grande do Sul 3 2 5 0 1

Rondônia 331 241 251 244 112

Roraima 37 104 89 94 41

Santa Catarina 12 9 4 9 6

São Paulo 96 76 84 56 32

Tocantins 218 221 230 173 80

Total 3609 4058 4566 3833 2146

Tabela 3 - Brasil: Número de surtos de Anemia Infecciosa Equinano período de 2005 a 2006 (primeiro semestre)

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Tabela 4 - Brasil: Número de surtos de Mormo no períodode 2005 a 2006 (primeiro semestre)

Unidade da Federação 2005 2006 2007 2008 2009

Alagoas 6 5 2 3 0

Amazonas 2 0 0 0 0

Bahia 0 0 0 0 0

Ceará 3 4 1 0 2

Maranhão 0 0 1 0 0

Paraíba 3 7 13 15 5

Pernambuco 9 8 7 11 7

Piauí 1 0 0 0 0

Pará 1 0 1 3 0

Rio Grande do Norte 9 0 6 16 2

São Paulo 0 0 0 2 0

Total 34 24 31 50 16

Tabela 6 - Brasil: Número de surtos de Piroplasmose Equinano período de 2005 a 2006 (primeiro semestre)

Unidade da Federação 2005 2006 2007 2008 2009

Bahia 0 5 3 5 0

Ceara 45 1 14 16 12

Espírito Santo 11 19 0 2 0

Maranhão 0 0 1 3 0

Minas Gerais 96 98 45 78 47

Paraíba 0 0 3 0 3

Paraná 2 1 1 3 1

Pernambuco 1 0 0 0 0

Rio de Janeiro 7 19 26 65 6

Santa Catarina 0 2 0 0 0

São Paulo 172 175 243 310 234

Total 334 320 336 482 303

Tabela 5 - Brasil: Número de surtos de Influenza Equinano período de 2005 a 2006 (primeiro semestre)

Unidade da Federação 2005 2006 2007 2008 2009

Distrito Federal 0 2 0 0 0

Sergipe 0 5 1 0 0

Bahia 0 1 0 0 7

Ceará 0 0 0 1 0

Espírito Santo 2 0 0 0 0

Minas Gerais 45 104 69 21 5

Paraíba 27 20 9 4 10

Paraná 0 0 0 2 0

Pernambuco 0 2 2 0 0

Rio de Janeiro 0 1 1 3 0

Santa Catarina 0 7 0 0 0

São Paulo 7 2 1 14 10

Total 81 144 83 45 32

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