Artigo equina 31 set out-2010

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Page 1: Artigo equina 31 set out-2010

Roberto Arruda deSouza Lima

Engenheiro agrônomo,Doutor em

Economia Aplicada,Prof. da ESALQ/USP,

Pesquisador do [email protected]

Evolução recente do mercadode medicamentos veterinários e o

segmento EquinosDe acordo com o artigo segundo do Decreto nº

6.296, de 11 de dezembro de 2007, que deu nova reda-ção ao artigo 25 do Anexo ao Decreto no 5.053/04, oconceito de produto de uso veterinário é bastante am-plo, compreendendo “toda substância química, bioló-gica, biotecnológica ou preparação manufaturada des-tinada a prevenir, diagnosticar, curar ou tratar doençasdos animais, independentemente da forma de adminis-tração, incluindo os anti-sépticos, os desinfetantes deuso ambiental, em equipamentos e em instalações deanimais, os pesticidas e todos os produtos que, utili-zados nos animais ou no seu habitat, protejam, higie-nizem, embelezem, restaurem ou modifiquem suas fun-ções orgânicas e fisiológicas”. No presente artigo, li-mitaremos nossa análise apenas aos medicamentos,excluindo produtos como, por exemplo, os destinadosapenas ao embelezamento dos animais, mercado este,por sinal, também bastante expressivo.

O mercado brasileiro de medicamentos veterinári-os é composto por cerca de uma centena de empresas,a maior parte (mais de dois terços) brasileiras, mas sãoas multinacionais que detém as primeiras posições, comraras exceções, entre os principais faturamentos anu-ais do setor (maior market share). Conforme Buso(1999), as empresas brasileiras, em geral, atendem ni-chos de mercados, com baixo grau de competitividade.O SINDAM (Sindicato Nacional da Indústria de Pro-dutos para Saúde Animal) congrega 87 empresas dis-tribuídas por oito estados (4 no RS; 4 em SC; 10 no PR;53 em SP; 8 em MG; 5 no RJ; 2 e GO; e, 1 na BA). Comfaturamento anual próxima a R$ 3 bilhões, o universoatendido pela indústria veterinária apresenta númerosexpressivos (Tabela 1).

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O mercado mundial de saúde animal movimentou,em 2008, US$ 19,19 bilhões. O destaque, por segmen-to, foi o de animais de companhia, no qual está inseri-do o cavalo, que faturou US$ 7,9 bilhões naquele ano(41,3% de participação no mercado). O segmento debovinos respondeu por 26,8% do mercado (US$ 5,1bilhões), suínos por 16,3%, aves por 10,8% e ovinospor 4,8%.

O mercado brasileiro, que apresenta estatísticasdos animais de companhia divididos entre pets e equi-nos, tem crescido, em média, 1,75% aa. em termos reais(isto, considerando valores descontados dos efeitosinflacionários). É interessante destacar que a crise en-frentada pela economia mundial nos anos recentes nãoforam suficientes para retirar o bom desempenho domercado no período, apesar da estagnação ocorridaentre 2007 e 2008 (Figura 1).

Nota-se (Figura 2), ao longo dos anos, que o mer-cado de ruminantes sempre tem representado mais dametade do faturamento, embora tenha o segmento desuínos tenha apresentado elevadas taxas de cresci-mento. Já o segmento de aves tem apresentando im-portante queda ano após ano, excerto em 2008 (quan-do cresceu 14% em termos reais).

Apesar da baixa representatividade do segmentode equinos, inferior a 3% do mercado, é interessanteobservar que, após a queda ocorrida em 2006, a suaparticipação no grupo de animais de companhia vol-tou a subir no último ano (Figura 3). Estima-se que noBrasil há mais de 100 mil pontos de venda de produtosdirecionados a animais de companhia (dos quais apro-ximadamente 40% são pet shops), sendo que o gastomédio anual de cada consumidor é de pouco menosde R$ 400,00 enttre medicamentos e produtos paraembelezamento.

A Figura 4 mostra a distribuição do mercado porclasses terapêuticas. Observa-se que cerca de um ter-ço do mercado é composto por produtos antiparasitá-rios.

Com relação ao segmento de equinos, é conveni-ente relembrar alguns pontos já discutidos nesta Re-vista Brasileira de Medicina Equina, mas que perma-necem atuais. Na realidade, o cavalo é responsávelpor uma fatia maior das vendas do que a apresentadaanteriormente com base nos dados oficiais. Isto por-que muitos produtos destinados aos bovinos são tam-bém aplicados em equinos. Ou seja, há um superdi-mensionamento do mercado de bovinos e um subdi-mensionamento do mercado de equinos. Adicional-mente, estima-se que de 3% a 5% do mercado de medi-camentos veterinários para equinos é composto porprodutos trazidos – irregularmente – do exterior.

Tabela 1 - Brasil: universo atendidopela indústria veterinária

Item Quantidade

Médicos Veterinários 30 Mil

Pecuarista de Corte e Leite 4 Milhões

Avicultores 14 Mil

Suinocultores 4 Mil

Equinocultores (Haras) 1 Mil

Revendedores 11 Mil

Cooperativas 3 Mil

Integrações 30

Propriedades Rurais 4 Milhões

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Relativamente, poucos produtos far-macêuticos são específicos para equinos,inibindo ações mais agressivas da indús-tria fabricante neste segmento (preferemconcentrar esforços na pecuária bovina).O segmento de equinos representa, emmédia, 4% do faturamento das empresas(este percentual tende a ser mais eleva-do quando analisamos apenas as empre-sas nacionais). É importante destacar quemuitos criadores, proprietários e tratado-res utilizam no plantel medicamentos ori-ginalmente produzidos para outras espé-cies, destacando-se os produtos direci-onados para bovinos e, também, medica-mentos humanos. Isto implica em subdi-mensionamento do consumo de medica-mento por equinos (e, como consequên-cia, no superdimensionado de outrosmercados, como o de bovinos).

As empresas fabricantes de medica-mentos veterinários, com poucas exce-ções, estão estabelecidas no Brasil hámais de 10 anos e adotam políticas deinvestimentos bastante conservadoras.Elas acreditam que o mercado está so-frendo modificações e os grandes cria-dores estão diminuindo seus plantéis. Pa-ralelamente, está ocorrendo a entrada depequenos proprietários que buscam o ca-valo de lazer. Estudo realizado pelaESALQ para CNA estimou que a indús-tria de medicamentos veterinário no Bra-sil empregue 10 mil pessoas, das quais300 estariam alocadas ao segmento deequinos.

O mesmo estudo já destacava a ne-cessidade de maior transparência do po-tencial do mercado, com divulgação dedados quantitativos da dimensão doagronegócio cavalo no Brasil. Para tan-to, é necessário que ocorra o correto di-mensionamento da contribuição de pro-dutos utilizados em equinos, mas origi-nariamente destinados a bovinos e hu-manos. Este é o desafio lançado à quatroanos no estudo, sem grandes avançosnos últimos quatro anos. Ainda há tem-po e importância em buscara estas res-postas, basta o esforço da indústria e dosprofissionais ligados a produção e ven-da de medicamentos veterinários paraque o segmento de equinos atinja o mes-mo nível de transparência e informaçõesde mercado que segmentos como rumi-nantes e aves já detém. Entidades de pes-quisa (ESALQ, Sinapse, entre outras)estão capacitadas e a disposição paraavançarem nesta direção. A equinocul-tura nacional seria a grande vencedoranesse processo.

Figura 1 - Brasil: faturamento da indústria veterinária, de 2004 a 2009,em valores reais de 2009 deflacionado pelo IGP-DI

Figura 2 - Brasil: faturamento da indústria veterinária, por espécie animal,de 2004 a 2009, em valores reais de 2009 deflacionado pelo IGP-DI

Figura 3 - Brasil: evolução do segmento de animais de companhia nofaturamento da indústria veterinária, de 2004 a 2009, em valores reais de

2009 deflacionado pelo IGP-DI

Figura 4 - Brasil: evolução do mercado de medicamentos veterinários porclasse terapêutica, em valores reais de 2009 deflacionado pelo IGP-DI

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