Artigo-fisioterapia Em Paciente Com Traumatismo Raquimedular

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1 UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA ÁREA DAS CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE FISIOTERAPIA FISIOTERAPIA EM PACIENTE COM TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR: RELATO DE CASO Andrighetti, D (A) Joaçaba, setembro de 2009

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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA ÁREA DAS CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE FISIOTERAPIA

FISIOTERAPIA EM PACIENTE COM TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR:

RELATO DE CASO

Andrighetti, D(A)

Joaçaba, setembro de 2009

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RESUMO

Introdução: A lesão medular traumática ocorre quando um evento traumático,

como o associado a acidentes automobilísticos, mergulho, agressão com arma de fogo

ou queda resulta em lesão das estruturas medulares interrompendo a passagem de

estímulos nervosos através da medula. A lesão pode ser completa (quando não existe

movimento voluntário abaixo do nível da lesão) ou incompleta (quando há algum

movimento voluntário ou sensação abaixo do nível da lesão). Frente a essas alterações

clínicas é necessária uma abordagem de caráter precoce e multidisciplinar de

reabilitação. As técnicas fisioterapêuticas vêm proporcionando aos pacientes vítimas de

traumatismo raquimedular uma maior qualidade de vida, através do aprimoramento do

tratamento das seqüelas. Objetivos: aplicar a avaliação neurofuncional, compreender o

quadro clínico apresentado pelo paciente e desenvolver um plano de tratamento

embasado na literatura, visando melhor qualidade de vida e independência do paciente.

Metodologia: a apreciação da ficha de avaliação de traumatismo raquimedular e o

tratamento foram realizados na Clínica Escola de Pesquisa e Atendimento de

Fisioterapia – CEPAF da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Campus de Joaçaba,

com o paciente E.L.R.S, sexo masculino, de 42 anos, da cidade de Luzerna - SC, com

diagnóstico clínico de Traumatismo Raquimedular a nível de T5-T6. Resultados e

Discussões: A reabilitação de pacientes lesados medulares consta de uma diversificação

de condutas de tratamentos. Estes devem ser estudados e conforme a avaliação do

paciente, elaborar um programa de tratamento individualizado, de acordo com as

necessidades do mesmo, buscando sempre, ao máximo, a independência funcional,

dentro dos limites impostos pela lesão.

Palavras Chave: Traumatismo Raquimedular. Lesão Medular. Fisioterapia.

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INTRODUÇÃO

"Aquele que tem um desvio do pescoço, não move seus braços

e pernas e cuja urina goteja, tem uma enfermidade

que não deve ser tratada."

Papiro de Edwin Smith (2686-2631 aC)

A visão negativa com relação ao tratamento e prognóstico do Traumatismo

Raquimedular (TRM) já se fazia presente nos trabalhos de Hipócrates (1460-1375 aC)

embora ele esboçasse técnicas para tração axial da coluna vertebral. Paulo de Aegina

(625-690 dC), outro médico grego, foi o realizador da primeira cirurgia de laminectomia

- que só veio a ser repetida em 1828. Durante os séculos seguintes, os pacientes com

TRM continuaram a ser tratados de forma primitiva, havendo descrições de métodos

rudimentares - cruéis, até - para redução de fraturas e luxações da coluna vertebral.

(BALBANI, FILHO, JORGE, 1995)

Sabe-se hoje que a lesão medular tem potencial de recuperação, e diversos

estudos efetuados em diferentes países forneceram alguns dados sobre a melhoria do

estado neurológico. (ANDRADE, M.J., GONÇALVES, S., 2007)

O traumatismo raquimedular (TRM) é uma condição catastrófica que

dependendo da sua gravidade pode causar alterações dramáticas na vida da vítima. O

TRM geralmente ocorre em pessoas ativas independentes, que em um determinado

momento tem controle sobre suas vidas e no momento seguinte estão paralisadas, com

perda de sensibilidade e funções corporais. (UMPHRED, 2004)

É uma lesão traumática definida como um conjunto de situações que

comprometem a função da medula espinal em graus variados de extensão.

(CAVENAGHI et al., 2005) Apresenta-se como uma grave síndrome incapacitante, que

pode causar alterações na motricidade, sensitiva e autônoma, tendo como principal

etiologia a lesão traumática, devido à agressão mecânica, na medula espinal. (FREITAS

et al, 2006)

A lesão de medula espinal ocorre em cerca de 15 a 20% das fraturas da coluna

vertebral e a incidência desse tipo de lesão apresenta variações nos diferentes países.

Estima-se que, na Alemanha, ocorram anualmente dezessete (17) casos novos por

milhão de habitantes, nos EUA, essa cifra varia de trinta e dois (32) a cinqüenta e dois

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(52) casos novos anuais por milhão de habitantes e, no Brasil, cerca de quarenta (40)

casos novos anuais por milhão de habitantes. (DEFINO, 1999)

A lesão ocorre, preferencialmente, no sexo masculino, na proporção de 4:1, na

faixa etária entre 15 a 40 anos. (DEFINO, 1999) (FREITAS et al, 2006) Acidentes

automobilísticos, queda de altura, acidente por mergulho em água rasa e ferimentos por

arma de fogo têm sido as principais causas de traumatismo raquimedular (TRM).

(DEFINO, 1999)

Anatomicamente, as lesões estão diretamente relacionadas ao mecanismo de

trauma e a maior parte (cerca de 2/3) das lesões medulares está localizada na coluna

cervical. As lesões na região torácica acontecem em 10% das fraturas desse segmento e

4% na coluna toracolombar. (FREITAS et al, 2006) ( DEFINO, 1999) A literatura

mundial relata que as lesões traumáticas de coluna torácica e lombar acometem

preferencialmente adultos jovens do sexo masculino. Esses traumatismos são

acompanhados por 10 a 30% de dano neurológico. (CUNHA, F.M. da, GUIMARÃES,

E.P., MENEZES, C.M., 2000)

Os sintomas ocorrem de acordo com o nível da lesão, a extensão e o tempo do

acometimento, sendo esta classificada em completa (ausência de função abaixo do nível

da lesão) e incompleta (alguma função preservada abaixo do nível de lesão).

(CAVENAGHI et al, 2005) Quanto ao nível da lesão, os pacientes podem ser

classificados em tetraplégico, quando a lesão é acima de T1 e paraplégico, quando a

lesão é abaixo deste nível. (BORGES, 2005)

Paraplegia refere-se à deficiência ou perda de função motora e/ou sensorial nos

segmentos torácico, lombar ou sacral da medula espinal. A função dos membros

superiores é preservada, mas o tronco, os membros inferiores e os órgãos pélvicos

podem ficar comprometidos. (STOKES, 2000) T1 é o primeiro nível de lesão

classificado como Paraplegia, na qual os membros superiores não são afetados.

(UMPHRED, 2004)

Nos tipos de lesão traumática incluem:

CHOQUE MEDULAR – É a perda de todas as funções neurológicas abaixo do

nível da lesão medular, o que representa interrupção fisiológica, e não anatômica, da

medula espinhal. Caracteriza-se por paraplegia flácida e ausência de atividade reflexa. A

duração não costuma ser superior a 48 horas, mas podem persistir várias semanas. O

retorno de atividades reflexas indicam o fim do choque medular. A ausência do retorno

da motricidade ou sensibilidade abaixo do nível da lesão, após o choque medular, é

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indicativo de lesão irreparável.

LESÃO MEDULAR COMPLETA- As funções motoras e sensitivas estão

ausentes abaixo do nível da lesão.

LESÃO MEDULAR INCOMPLETA – Há alguma função motora ou sensitiva

abaixo do nível da lesão. (GESSER, M., LIMA, A.K., ROSA, M., 2002)

É imprescindível para a reabilitação desses pacientes, o acompanhamento de

uma equipe multidisciplinar e com intervenção fisioterapêutica precoce, assim que o

paciente chega ao hospital, seja no pronto-socorro, na enfermaria ou na Unidade de

Terapia Intensiva (UTI). (CAVENAGHI et al, 2005)

A fisioterapia precoce, ainda no período hospitalar, por meio de diferentes

técnicas cinesioterapêuticas, é eficaz em todas as fases da doença, previne

deformidades, proporciona maior independência funcional e melhora a qualidade de

vida. Cinesioterapia passiva é imprescindível para a manutenção da amplitude articular

e da flexibilidade, enquanto os exercícios de resistência e força muscular garantem

mudanças do sistema cardiovascular, previnem as complicações circulatórias e

melhoram as capacidades funcionais. (CAVENAGHI et al, 2005)

Na fase de reabilitação intensiva, o programa de reabilitação do lesado medular

visa adequá-lo à utilização de todo o seu potencial funcional até o nível máximo de

independência possível. A fisioterapia engloba, nesta fase, diversas atividades que

devem ser adequadas às necessidades e potencialidades de cada paciente. (GESSER,

M., LIMA, A.K., ROSA, M., 2002) O fisioterapeuta tem um importante papel na

prevenção de deformidades, no aumento e na manutenção de amplitude de movimento.

(UMPHRED, 2004)

Os objetivos com a reabilitação devem estabelecer uma intervenção imediata e

profilaxia para evitar complicações, atingir independência funcional adequada ao nível

de lesão e atingir e manter uma reintegração social. (STOKES, 2000)

As lesões medulares, devido à sua gravidade e irreversibilidade, exigem, para

melhoria da qualidade de vida dos indivíduos que sofreram esse trauma, um programa

de reabilitação longo e que, na maioria das vezes, não leva à cura, mas auxilia na

adaptação a uma nova vida. As seqüelas e as dificuldades que essas pessoas enfrentam

para retornar à sua vida familiar e social interferem na sua qualidade de vida e é um

desafio aos profissionais de um programa de reabilitação. (BAMPI, 2008)

Aspectos curativos da lesão raquimedular ainda é um desafio para os

profissionais da saúde. Técnicas inovadoras, como experimentos animais de transplante

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de células tronco do sistema nervoso central, auxiliam as pesquisas de novas opções de

tratamento que objetivam a recuperação da função após o trauma, no entanto, suas

aplicabilidades dependem de recursos tecnológicos de difíceis acessos. (CAVENAGHI

et al, 2005)

A elaboração das grandes manchetes que descrevem as futuras terapias

destinadas a salvar vidas sempre tem início nos laboratórios de pesquisas biomédicas.

Nos dias atuais, uma surpreendente soma de recursos materiais e humanos é destinada

ao estudo das células-tronco e do seu potencial na regeneração de tecidos ou de órgãos

irremediavelmente lesados por doenças ou congenitamente malformados. Tudo indica

que o transplante de células-tronco auxiliará a reabilitação em lesados medulares.

Contudo, ainda há muitos estágios a serem superados antes que os tratamentos para

seres humanos possam ser desenvolvidos e aplicados. Por exemplo, uma degeneração

no DNA pode levar a formação de vários tipos de câncer.(ELIAS, D.O.; SOUZA, M. H.

L., 2005)

O ponto principal na recuperação do paciente com traumatismo raquimedular

não está na aplicabilidade e acesso a tecnologias sofisticadas. A meta é realizar-se a

prevenção das possíveis complicações, que pode ser feita através de medidas simples.

Quando se têm pacientes orientados adequadamente desde o momento pós-trauma, que

acabam evoluindo sem obter conseqüências evitáveis, a funcionalidade, e em

decorrência a qualidade de vida, torna-se maior, dentro é claro dos limites impostos pela

lesão. (GESSER, M., LIMA, A.K., ROSA, M., 2002)

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MATERIAL E MÉTODO

O artigo em questão enquadra-se no tipo descritivo, sob a forma de estudo de

caso, através do qual se pretende descrever o acompanhamento do tratamento de um

paciente portador de sequela de Traumatismo Raquimedular, através da avaliação e

evolução do paciente, a partir da abordagem fisioterapêutica utilizada.

A amostra foi composta de um sujeito portador de seqüela de traumatismo

raquimedular em nível de T5 - T6, E. L. R. S., do gênero masculino, com idade de 42

anos, publicitário aposentado e músico, paciente da Clínica Escola de Pesquisa e

Atendimento de Fisioterapia – CEPAF, da Universidade do Oeste de Santa Catarina

(UNOESC) – Campus de Joaçaba, SC, devido a encaminhamento médico no mês de

abril de 2009.

Os dados foram coletados nas sessões de tratamento fisioterapêutico e na

avaliação realizada por uma acadêmica. Os instrumentos utilizados para a coleta de

dados foram à ficha de avaliação para traumatismo raquimedular e a ficha de evolução

diária. Já os materiais utilizados nas sessões foram: bola suíça, theraband, spaldart,

barras paralelas e talas.

A avaliação neurofuncional foi realizada de acordo com a ficha de avaliação para

traumatismo raquimedular utilizada na CEPAF, composta de dados de identificação,

anamnese, inspeção e palpação, avaliação de sensibilidade, movimentos preservados,

equilíbrioe coordenação e avaliação da atividade funcional, seguida pelos objetivos e

planos de tratamento fisioterápico. Na ficha de evolução diária estão descritas as

atividades realizadas em cada sessão.

Na anamnese, foram coletados dados pessoais do paciente (nome, idade, sexo,

procedência, profissão), diagnóstico clínico, queixa principal (QP), patologias

associadas, história da doença atual (HDA), história da doença pregressa (HDP),

histórico familiar (HF), história sobre o uso de medicamentos (HM) e exames

complementares.

No exame físico foram investigadas a presença de edemas, contraturas e

deformidades, cicatrizes, força muscular, coordenação dinâmica, tônus muscular através

da escala de Ashworth e realizada a avaliação postural do paciente.

Na avaliação da qualidade dos movimentos foram avaliados quais são os

movimentos que estão preservados. Observou-se, na avaliação da atividade funcional, o

rolar, as mudanças de posição (sentado, de gato, ajoelhado) e questionou-se a realização

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das Atividade de Vida Diária (AVD´S), quais apresenta dificuldades. O equilíbrio

estático (sentado) e equilíbrio dinâmico, o uso de órteses (cadeira de rodas, bengala,

tutor), controle vesical e intestinal (se realiza sondagem), o tipo de bexiga neurogênica

(espástica ou flácida) e a função respiratória também foram verificados.

Após a avaliação, elaborou-se plano de tratamento fisioterapêutico, baseado na

literatura, que teve como objetivo: Alívio da dor em coluna cervical; manutenção da

amplitude de movimento (ADM); contribuir para a conservação de uma boa circulação;

evitar contraturas e deformidades; adquirir controle de tronco sem apoio para facilitar o

uso da guitarra e violão; melhorar a postura quando sentado; fortalecimento muscular de

membros superiores (MMSS); descarga de peso e melhora de tronco superior

(equilíbrio). Sendo realizadas quatro sessões semanais de 50 minutos cada sessão,

durante quatro semanas.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

A avaliação foi realizada no dia 28 de julho de 2009, na CEPAF, com duração de

50 minutos. Durante a realização da anamnese o paciente relatou como queixa principal

sua dificuldade em transferir-se para cadeira de banho e vaso sanitário (devido baixa

altura). A expectativa do paciente em relação ao tratamento realizado é facilitação nas

transferências e alívio da tensão muscular em cervical, a qual lhe causa muita dor,

principalmente após shows, quando passa muito tempo tocando guitarra ou violão e

onde utiliza da musculatura cervical alta e baixa para manter o equilíbrio na cadeira.

Ao investigar a HDP, o paciente relatou ter sofrido um acidente de carro aos 26

anos, quando ainda morava em Pato Branco, Paraná (PR). Em uma tarde de sexta-feira,

seu chefe lhe comunicou que tinha que substituir um cinegrafista em um trabalho na

cidade vizinha. O motorista da produtora o pegou em seu apartamento e seguiram

viagem. Perto da cidade de Marilópolis, PR, o motorista perdeu controle do veículo por

causa de uma forte chuva que caia. O carro capotou e o paciente ficou preso nas

ferragens até o socorro chegar. Permaneceu inconsciente por muito tempo e teve

múltiplas fraturas por todo o corpo, inclusive duas vértebras da coluna torácica (T5 –

T6) que o deixaram paraplégico. Ficou internado na Policlínica de Pato Branco, onde

foi feita uma cirurgia, pelo Dr. Paulo Roberto Mussi, para descompressão da medula e

colocação de hastes de sustentação na coluna. Em torno de seis meses após o acidente,

conseguiu uma vaga no hospital da Rede Sarah Kubitschek em Brasília, Distrito Federal

(DF). Ficou como semi-interno durante três meses para poder reabilitar e aprender

técnicas do como “tocar a vida em frente” com a cadeira de rodas. Ao voltar do Sarah,

já bem reabilitado, enfrentou outra cirurgia para retirada das hastes que estavam

atrapalhando em seus movimentos. Quanto a HDA o paciente iniciou a fisioterapia na

CEPAF - UNOESC em abril de 2009, é cadeirante, paraplégico e realiza suas AVD´S de

forma independente e com facilidade.

Segundo informações colhidas (SIC), não faz uso de medicamentos e não tem

histórico familiar desta fatalidade. O lesado medular em nível de T5-T6 apresenta como quadro clínico paraplegia,

realiza movimentos de cabeça, MMSS e tronco superior, é independente nas AVD’s,

consegue tocar a cadeira de rodas em qualquer lugar plano, pode deambular com tutor

longo bilateral, cinto pélvico, colete e muletas. (JONES, 2006)

Na avaliação física, o paciente apresentou cicatriz de úlcera em região sacral,

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cicatriz cirúrgica nas costas e de estilhaços de vidro no pescoço. Sua postura é cifótica,

ombros protusos, apresentando uma assimetria destes, seu tônus espástico em membros

inferiores (MMII), pé esquerdo permanece em dorsiflexão devido a encurtamento de

tibial anterior e pé direito em plantiflexão devido a encurtamento de sóleo e

gastrocnêmio. Na inspeção, expôs que sente uma dor em queimação abaixo da lesão,

mais especificamente na articulação do quadril e no joelho. A palpação apresenta dor em

coluna cervical, não apresenta contraturas nem deformidades. Nos testes de força

muscular apresenta grau cinco (5) em MMSS em todas as articulações e o tônus é

normal. Em MMII a força muscular é ausente pela espasticidade.

Tem movimentos preservados de MMSS e cervical, sendo que ao fazer abdução

de ombro, seu tronco desloca-se para frente devido à ausência de musculatura

estabilizadora. Abaixo do nível de T6 perdeu os movimentos.

Apresenta espasticidade moderada em MMII e bexiga reflexa (espástica). Na

avaliação neurológica de equilíbrio e atividades funcionais, apresentou equilíbrio

dinâmico ausente e no equilíbrio estático necessita de apoio para manter a estabilidade

de tronco. Apresenta boa coordenação ao locomover-se em cadeira de rodas.

Nos testes de sensibilidade, em MMII ocorre anestesia de sensibilidade térmica,

tátil e dolorosa. Em MMSS é normal. Na região do ângulo inferior das escápulas, sente

um estímulo, mas não consegue distinguir qual é.

Com relação as suas AVD’s, o paciente rola por completo, passa para sentado,

para gato e fica de joelhos, sendo auxiliado pelos MMSS. Paciente não deambula, mas

consegue manter-se em posição ortostática fazendo uso de talas e barras paralelas como

apoio.

Devido à dor relata abaixo da lesão, sendo que numa lesão completa ocorre

ausência de função, solicitou-se que o paciente realiza-se uma radiografia, na tentativa

de justificar o quadro álgico.

Exames complementares:

Radiografia (30/06/2009):

• Joelho Esquerdo: parafuso intercondiliano e no 1/3 superior da tíbia esquerda

com tunelização óssea para fixação do ligamento cruzado (ligamentoplastia).

Espaços articulares preservados.

• Articulação Coxo-Femoral Esquerda e Direita: discreta esclerose reacional

subcondral do rebordo superior acetabular esquerda. Calcificações de partes

moles látero-superior da articulação coxo-femoral esquerda.

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Ressonância magnética: não se encontrou o laudo médico, porém a imagem

revela fratura e lesão medular completa em nível de T5-T6.

Segundo Hoppenfeld & Murthy, 2001, fraturas explosivas são causadas

principalmente pela aplicação de carga axial. Essas fraturas caracterizam-se pelo

envolvimento das colunas anterior e média, com graus variáveis de retropulsão óssea

para o interior do canal, ocasionando deficiência neurológica.

O paciente faz quatro sessões semanais na clínica escola da UNOESC, sendo

eles, duas vezes por semana (dois horários), onde no primeiro horário é realizada

liberação manual de pontos de tensão, alongamentos para musculatura de coluna

anterior e posterior e cervical, músculos peitorais, fortalecimento muscular de MMSS,

músculos rombóides e de estabilizadores de coluna cervical, treino de equilíbrio e no

segundo horário o paciente é colocado nas barras paralelas onde permanece em posição

ortostática.

Em pacientes com lesão medular, os objetivos do programa de reabilitação são

embasados na organização seqüencial dos segmentos medulares e na capacidade

residual dos músculos preservados. (BATTISTELLA et al, 2005) Após toda avaliação,

desenvolveu-se os objetivos de tratamento que são: Manter Amplitude de Movimento

(ADM); - Alívio da dor causada pela tensão muscular em cervical; - Contribuir para a

manutenção de uma boa circulação; -Evitar contraturas e deformidades; -Adquirir

controle de tronco sem apoio para facilitar o uso da guitarra e violão; -Melhorar postura

quando sentado; -Fortalecimento muscular de MMSS; -Descarga de peso e melhora do

tronco (equilíbrio).

Logo, a conduta do tratamento envolveu: - Liberação miofascial em coluna cervical;

- Alongamento de MMII, Coluna e MMSS; - Mobilização passiva de MMII (PTVP). -

Treino de equilíbrio de tronco; - Alongamento de peitoral e musculatura cervical; -

Paciente é colocado em posição ortostática nas barras paralelas; - Fortalecimento

muscular de MMSS com theraband.

Segundo Borges, 2005, o fortalecimento da musculatura preservada é

imprescindível no processo de reabilitação, para que o lesado medular atinja a maior

independência possível. Em paciente que sofreram lesão raquimedular completa, os

músculos do MMSS precisam substituir os MMII durante as transferências e a

propulsão da cadeira de rodas. (UMPHRED, 2004) Baseado na literatura, o tratamento

adotado é imprescindível para a independência funcional do paciente.

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Realiza-se liberação miofascial no intuito de promover um relaxamento

muscular e aliviar a dor. Pode-se considerar o relaxamento muscular como uma

preparação do músculo para responder adequadamente as solicitações posteriores

durante atividades motoras. (GESSER, M., LIMA, A.K., ROSA, M., 2002)

Mobilizações passivas, junto com o posicionamento adequado e o uso de órteses,

podem prevenir perda de mobilidade em articulações distais. (UMPHRED, 2004) Os

movimentos passivos são essenciais para todas as articulações do membro sobre o qual

o paciente não tem controle voluntário (GESSER, M., LIMA, A.K., ROSA, M., 2002).

Com a realização dessas mobilizações em MMII, espera obter-se, além da manutenção

da mobilidade, uma melhora na circulação sanguínea e linfática, auxiliando

principalmente no retorno venoso.

Entre as intervenções utilizadas para prevenir e /ou minimizar as complicações do

paciente com lesão medular está o ortostatismo. Os estudos disponíveis sobre

ortostatismo referem-se a seus efeitos na prevenção à perda de massa óssea; equilíbrio

do sistema hemodinâmico e aumento da resposta hemodinâmica na posição em pé;

prevenção de contratura nas articulações; aumento da função urinária e intestinal,

diminuição da formação de cálculos e promoção de alívio de pressões que ocorrem na

posição sentada, reduzindo a incidência de úlceras de pressão. (CASTRO et al, 2008) O

paciente em questão é colocado na posição ortostática com a colocação de talas em

MMII e de apoio nas barras paralelas. Permanece nesta posição, durante a sessão, em

média trinta minutos.

O controle de tronco é considerado um pré-requisito funcional para aquisição dos

movimentos de membros superiores realizados na posição sentada, principalmente,

através da atividade antecipatória realizada pelos músculos eretores da espinha ou

abdominais. (CASTRO et al, 2008) Os exercícios de fortalecimento de musculatura de

tronco superior e o treino de equilíbrio realizado com o paciente desenvolve e mantém

esse controle de tronco.

Juntamente com o fortalecimento muscular, desenvolve-se a resistência muscular,

através das repetições efetivadas nos exercícios. O treinamento da resistência tem como

objetivo o desempenho muscular e a capacidade aeróbica para aumentar a eficiência na

mobilidade e a saúde em geral. (UMPHRED, 2004)

De acordo com tratamento fisioterapêutico realizado foram obtidos resultados

satisfatórios quanto à força muscular e coordenação, mais especificadamente de MMSS.

O paciente relatou facilitação para tocar instrumentos, devido aos alongamentos

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executados para os MMSS e o fortalecimento do tronco que o mantém mais equilibrado

quando está sentado. Por ser um paciente muito bem orientado, expôs que realiza

alongamentos, exercícios ativos e fica na posição ortostática em casa também.

A literatura sugere ainda, como auxilio no tratamento do lesado medular, um

programa de exercícios respiratórios, pois os pacientes que sofreram lesão em nível

torácico apresentam escores respiratórios inferiores aos das pessoas que não tem esse

comprometimento. (UMPHRED, 2004)

A aprendizagem de habilidades funcionais, no caso em questão, não foi necessária

porque o paciente apresenta-se hábil na realização de diversas e diferenciadas

atividades. Umphred, 2004, traz como atividades para habilidades funcionais o treino de

mobilidade no leito, como rolar, mover-se para cima e para baixo, atividades de

equilíbrio, sentar-se e automobilização para ADM. Outros exemplos de atividades são

as transferências e treinamento em cadeira de rodas.

Para a reintegração na sociedade, as atividades tais como ir ao cinema, ao

restaurante, área de lazer, a introdução ao esporte e atividades semelhantes são

coordenadas pela equipe multidisciplinar. (UMPHRED, 2004) O paciente estudado tem

um bom convívio social, passou a usar a música, que era passatempo, como meio de

trabalho.

A lesão medular impõe limitações funcionais aos seus portadores no momento em

que se apresentam ao centro de reabilitação. (BATTISTELLA et al, 2005) Esta continua

sendo um verdadeiro desafio para a equipe de saúde envolvida em seu tratamento,

referente tanto aos aspectos de natureza curativa quanto reabilitativa de suas sequelas. A

meta é realizar-se a prevenção das possíveis complicações, que pode ser feita através de

medidas simples. Quando se têm pacientes orientados adequadamente desde o momento

pós-trauma, que acabam evoluindo sem obter conseqüências evitáveis, a funcionalidade,

e em decorrência a qualidade de vida, torna-se maior, dentro é claro dos limites

impostos pela lesão. (GESSER, M., LIMA, A.K., ROSA, M., 2002)

Conclui-se que a fisioterapia engloba atividades que devem ser adequadas ás

necessidades e potencialidades de cada paciente. Á partir de uma boa avaliação, o

fisioterapeuta estabelece metas viáveis e individualizadas a curto e longo prazo.

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