(Artigo) FREITAS, M & BARBOSA, Mª. F._2013_A Alternância Do Diminutivo -Inho -Zinho No PB e...

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577 Alfa, São Paulo, 57 (2): 577-605, 2013 A ALTERNÂNCIA DO DIMINUTIVO –INHO/-ZINHO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: UM ENFOQUE VARIACIONISTA Myrian Azevedo de FREITAS * Maria Fernanda M. BARBOSA ** • RESUMO: Neste trabalho, investiga-se a alternância do diminutivo -inho/-zinho, delimitando os fatores que determinam a escolha do falante por um ou outro formativo no Português Brasileiro. Mais especificamente, a partir dos pressupostos da Sociolinguística Variacionista, pretende-se analisar a formação produtiva do diminutivo a fim de constatarmos se temos um único sufixo diminutivo ou se se trata de dois processos distintos que dão origem, respectivamente, às formações X-inho e X-zinho. Neste estudo, utilizou-se a técnica de análise de variância multifatorial (ANOVA Multi Way) para medidas repetidas com intervalo de confiança de 95%, a fim de avaliar se o efeito dos fatores sociais (gênero, dialeto regional e faixa etária) é determinante na seleção do(s) sufixo(s) em análise e se há ou não convergência entre as formas diminutivas –inho e/ou -zinho, medidas ao nível de atitudes dos respondentes por um teste de aceitabilidade. Os resultados revelam que há evidência para admitirmos a existência de duas formas distintas no Português Brasileiro, -inho e –zinho, e indicam que há uma interação entre os fatores dialeto regional, gênero e faixa etária na seleção dos referidos sufixos diminutivos. • PALAVRAS-CHAVE: Sufixos diminutivos no Português Brasileiro. Formação de palavras. Alternância. Variação linguística. Introdução Sendo um dos processos de construção de palavras extremamente produtivos no Português Brasileiro (doravante PB), as formações diminutivas X-inho e X-zinho já foram fonte de muitas observações por sua peculiaridade na língua portuguesa, seja pelos estudos de cunho linguístico, seja pela tradição gramatical. De fato, no processo de formação de diminutivos por sufixação, a(s) forma(s) –inho/ -zinho podem anexar-se a quase todas as classes de palavras do léxico, exceto os artigos. Villalva (2000), ao tratar das formas avaliativas e Z-avaliativas, como prefere denominar as formações X-inho e X-zinho, afirma que esses sufixos apresentam * UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade de Letras. Rio de Janeiro – RJ – Brasil. 21941-917 – [email protected] ** UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade de Letras. Rio de Janeiro – RJ – Brasil. 21941-917 – [email protected]

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Excelente trabalho sobre modelos baseados no uso na interface entre fonologia-morfologia.

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    A ALTERNNCIA DO DIMINUTIVO INHO/-ZINHO NO PORTUGUS BRASILEIRO: UM ENFOQUE VARIACIONISTA

    Myrian Azevedo de FREITAS*

    Maria Fernanda M. BARBOSA**

    RESUMO: Neste trabalho, investiga-se a alternncia do diminutivo -inho/-zinho, delimitando os fatores que determinam a escolha do falante por um ou outro formativo no Portugus Brasileiro. Mais especificamente, a partir dos pressupostos da Sociolingustica Variacionista, pretende-se analisar a formao produtiva do diminutivo a fim de constatarmos se temos um nico sufixo diminutivo ou se se trata de dois processos distintos que do origem, respectivamente, s formaes X-inho e X-zinho. Neste estudo, utilizou-se a tcnica de anlise de varincia multifatorial (ANOVA Multi Way) para medidas repetidas com intervalo de confiana de 95%, a fim de avaliar se o efeito dos fatores sociais (gnero, dialeto regional e faixa etria) determinante na seleo do(s) sufixo(s) em anlise e se h ou no convergncia entre as formas diminutivas inho e/ou -zinho, medidas ao nvel de atitudes dos respondentes por um teste de aceitabilidade. Os resultados revelam que h evidncia para admitirmos a existncia de duas formas distintas no Portugus Brasileiro, -inho e zinho, e indicam que h uma interao entre os fatores dialeto regional, gnero e faixa etria na seleo dos referidos sufixos diminutivos.

    PALAVRAS-CHAVE: Sufixos diminutivos no Portugus Brasileiro. Formao de palavras. Alternncia. Variao lingustica.

    Introduo

    Sendo um dos processos de construo de palavras extremamente produtivos no Portugus Brasileiro (doravante PB), as formaes diminutivas X-inho e X-zinho j foram fonte de muitas observaes por sua peculiaridade na lngua portuguesa, seja pelos estudos de cunho lingustico, seja pela tradio gramatical. De fato, no processo de formao de diminutivos por sufixao, a(s) forma(s) inho/ -zinho podem anexar-se a quase todas as classes de palavras do lxico, exceto os artigos.

    Villalva (2000), ao tratar das formas avaliativas e Z-avaliativas, como prefere denominar as formaes X-inho e X-zinho, afirma que esses sufixos apresentam

    * UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade de Letras. Rio de Janeiro RJ Brasil. 21941-917 [email protected]

    ** UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade de Letras. Rio de Janeiro RJ Brasil. 21941-917 [email protected]

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    caractersticas especficas. Diferentemente da maioria dos morfemas derivativos e flexivos, tais formas no alteram a categoria sinttica e nem as propriedades morfossintticas ou morfossemnticas da base. Em outras palavras, o acrscimo de tais primitivos morfolgicos no muda a classe da base, nem atribui gnero ( [[bonito]Adjinho]Adj], [[cama]s inha]s] ), ao contrrio do que ocorre com a maioria dos sufixos, como o e mento, por exemplo ( [[nacionaliza]vo]s ], [[estaciona]

    v mento]s ]). A essas caractersticas, somam-se as peculiaridades de que sufixos avaliativos adjungem-se a radicais (sapatinho) enquanto que os Z-avaliativos anexam-se a palavras (lenoizinhos).

    Com efeito, ao examinarmos minuciosamente as formas inho / zinho, conveniente levantarmos as seguintes questes:

    a) Trata-se apenas de um nico sufixo diminutivo ou devemos admitir a existncia de dois sufixos distintos?

    b) A seleo de um ou outro elemento mrfico condicionada somente por motivaes estruturais ou possvel admitir que os fatores sociais exercem influncia na escolha do falante? Em que medida se verifica ou no essa interao?

    Note-se que no tarefa fcil explicitar as regras que definem a preferncia do falante por um ou outro elemento mrfico, dada a amplitude de uso e a vasta recorrncia na lngua. Assim, pretende-se analisar a formao produtiva do diminutivo no PB com vistas a elucidar as questes supracitadas.

    O texto apresenta-se estruturado da seguinte maneira: na segunda seo, tem-se as principais descries sobre a alternncia do diminutivo inho/-zinho na literatura. Na terceira seo, apresenta-se um panorama da Sociolingustica Variacionista. Na quarta seo, especificada a metodologia empregada na elaborao do instrumento de medio utilizado para captao de dados. A quinta seo descreve os resultados obtidos no teste de aceitabilidade e sua significncia estatstica. Na sexta seo, identifica-se e avalia-se a modelagem estatstica aplicada massa de dados a partir da aceitabilidade das formas diminutivas inho e/ou zinho. Em seguida, apresentam-se as hipteses que norteiam este estudo. Posteriormente, mostram-se os resultados acerca do fenmeno em estudo. Por fim, tm-se as consideraes finais.

    O diminutivo inho/-zinho na literatura

    Nos captulos XXXIX XLII, Ferno de Oliveira (1536) considera que os diminutivos fazem parte do que denomina de dies tiradas (palavras derivadas) em oposio dies primeiras (palavras primitivas), referindo-se que [...] regra geral que [...] os diminutivos acabem em inho ou inha como mocinho, mocinha (OLIVEIRA, 1536, p.61).

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    Na Gramtica da Lngua Portuguesa, Barros (1540) afirma que o diminutivo apresenta uma noo de pequenez, e no faz nenhuma meno direta s formas inho e zinho, somente as exemplifica:

    Nome diminutivo aquele que tem alguma diminuio do nome principal de onde se derivou como: de homem, homenzinho; de mulher, mulherzinha; de moo, mocinho; de criana, criancinha. E outros muitos que se formam e acabam em diferentes terminaes, mais por vontade do povo que por regra de boa Gramtica. (BARROS, 1540, p.304).

    Tambm Barbosa (1822) menciona inho e zinho como diminutivos do portugus. No entanto, o autor acrescenta que h a insero do segmento /z/ a fim de se evitar o hiato nos vocbulos terminados em ditongo:

    Os Diminutivos so os que mudando a terminao de seus primitivos, lhes diminuem mais, ou menos a significao. Os que diminuem menos, acabam ordinariamente, os masculinos em ete, ote, oto, (...) e os femininos, em eta, ota, agem, ilha, (...). Os que diminuem mais, acabam ou em inho, inha, quando os primitivos terminam em vogal ou consoante, como Filhinho, Filhinha, Mulherinha, Rapazinho; ou em zinho, zinha, quando os primitivos terminam em ditongo, como Homemzinho, Leozinho, Paizinho, Mezinha. O z eufnico faz-se necessrio na derivao destes diminutivos, para evitar o hiato, nascido do concurso de trs vogais. Porm, quando o mesmo se emprega sem esta necessidade nos que no acabam em ditongo; parece fazer sua diferena nos mesmos diminutivos, como se v nestes dois Mulherinha, Mulherzinha. (BARBOSA, 1822, p.120-121, grifo do autor).

    Observe-se que Barbosa (1822) parece referir-se existncia de uma s forma, -inho. No entanto, o autor revela que a variao entre os diminutivos ocorre em palavras terminadas em consoante como, por exemplo, mulherinha/mulherzinha. Mais adiante, o autor justifica a alternncia entre os diminutivos, afirmando que seja como for, o que certo , que a nossa Lngua muito rica neste gnero de derivao (BARBOSA, 1822, p.120). Em seguida, menciona ainda, em sua Grammatica Philosphica da Lngua Portugueza, que a significao de um primitivo [que] tome um argumento enorme, e dele v descendo gradualmente at ao extremo contrrio de pequenez, como se pode ver nos derivados (...) Mulhero, Mulherona, Mulherinha, Mulherzinha (BARBOSA, 1822, p.121), revelando que h uma gradao de tamanho entre as formas e atribui a zinho(a) um grau dimensional sutilmente menor que inho(a).

    Por outro lado, Freire (1842), em Reflexes sobre a Lngua Portugueza, tambm ressalta a noo dimensional dos diminutivos e apresenta informaes sobre duas formas vigentes na lngua portuguesa, inho e zinho. O autor afirma

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    que o emprego de zinho s ocorre para evitar o hiato ou quando o vocbulo termina em consoante, considerando a existncia de dois sufixos diminutivos distintos:

    Os diminutivos so os que mudando a terminao de seus primitivos lhes diminuem mais ou menos a significao: acabam em inho, ou inha, como de peixe, peixinho; de casa, casinha; em zinhoquando os primitivos rematam em ditongo, para se evitar o hiato pelo concurso de trsvogais; v. gr., de leo, leozinho, de pai, paizinho; igual terminao tm os nomes que acabam em consoante, posto que algumas excees se notam em que h dois diminutivos da mesma palavra por diversa terminao: exemplo, de casa tambm hcasinhota, de peixe tambm hpeixezinho. H osfindos em ete, como pobrete, de que temos igualmente pobrezinho: em eta, ote, e ota, exemplo, ilheta, ilhote, ilhota, que todos significam o mesmo, podendo almdeles ajuntar-se ilhana mesma acepo: de arca se tem feito arquinho, arqueta, arquilha, e arquetemasculino. Vemos que os h em itha, como de cama, camilha, de que mais vulgar caminha: raros so os emulo, exemplo perdigoto. (FREIRE, 1842, p.164, grifo do autor).

    Note-se que Freire (1842), apesar de identificar os contextos morfolgicos de ocorrncia de -inho e -zinho, tambm admite que a alternncia entre os diminutivos ocorre para uma mesma palavra sem motivao aparente, como nos pares peixinho/peixezinho e pobrinho/pobrezinho, por exemplo. Observe-se que, ao contrrio de Barbosa (1822), seu antecessor, o autor considera que no h a insero do segmento consonantal /z/ para se evitar o hiato, mas sim que estamos diante de dois sufixos diminutivos na lngua, -inho e -zinho.

    Numa perspectiva da lingustica histrica, Skorge (1957) assinala que os diminutivos inho e ito so os sufixos mais empregados e mais expressivos do portugus. Para explicar a presena do segmento consonantal /-z/, a autora, que considera tratar-se de um infixo, afirmar que mais correto recorrer ao c- do latim nos substantivos navicella, avicella e *domnicellus que podiam ser tambm a provenincia do infixo c- do espanhol e do italiano (SKORGE, 1957, p.69). Mais adiante, Skorge (1957) acentua ainda que as regras para determinar a ocorrncia de inho ou zinho so escassas e no apresentam respostas satisfatrias. No entanto, em relao alternncia entre os diminutivos inho e zinho, a autora afirma que o emprego de um ou outro formativo parece estar ligado ao ritmo da frase e destaca que entre o povo emprega-se muito -inho. Os portugueses cultos tendem a empregar diminutivos em zinho (SKORGE, 1957, p.52). Por ltimo, ao delimitar a distribuio de inho e zinho, Skorge (1957) afirma que somente os substantivos monosslabos admitem a forma zinho. Nas demais classes de palavras, ocorrem flutuaes que admitem ora inho ora zinho, alternando-se de acordo com a vontade do falante.

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    Ao analisar a formao do diminutivo no PB, Cmara Jr. (1975) afirma que zinho variante alomrfica de inho e argumenta que o uso de zinho obrigatrio diante de palavras que terminam em vogal tnica, sendo considerado como um caso de derivao por justaposio.

    Leite (1974) prope uma abordagem gerativa para o acento em portugus, atribuindo o trao [+acento] s vogais. A autora afirma que, no lxico, o radical no porta marca de acento e formula diferentes condies para aplicao de regras intrinsecamente ordenadas. Leite (1974, p.112) considera que zinho anexado a formas terminadas em vogal enquanto inho acrescido a formas acabadas em consoante.

    Na proposta de Lee (1995), numa abordagem pela Fonologia Lexical Prosdica (INKELAS, 1989, 1993), o lxico do PB apresenta dois estratos ordenados: nvel I (a), que comporta a derivao, alguns processos de composio com acrscimo de sufixos derivacionais ( [rdio-tax]ista], [puxa-saqu]ismo]) e a flexo irregular; e nvel II (b), que abarca a formao produtiva (sufixos inho e zinho, advrbio mente e grau ssimo) e a flexo regular.

    Lee (1995) informa que, em geral, o morfema inho anexado a formas no-verbais (nomes e adjetivos/advrbios) contendo vogal temtica, como em casa/casinha, bonita/bonitinha, perto/pertinho. No entanto, o morfema zinho :

    a) adjungido a um no-verbo com vogal temtica inexistente (atemtico) como, por exemplo, caf/cafezinho, flor/florzinha;

    b) anexado a palavras proparoxtonas e vocbulos terminados em slaba pesada, como em lmpada/lampadazinha, judeu/judeuzinho, mar/marzinho.

    Contudo, o autor reconhece que ocorre variao entre os sufixos na fala cotidiana como, por exemplo, em lampadazinha ~ lampadinha, facilzinho ~ facinho, xicarazinha ~ xicrinha, etc.

    Ao analisar o discurso dos pescadores artesanais, Tavares Jr. (1999) menciona que podem ser atribudos aos sufixos inho e zinho mais trs valores semnticos alm do diminutivo: afetividade (tem uma escolinha ali na ilha), pejoratividade (s tem um manguezinho muito pouco) e intensificao (pe no sol para ele ficar bem sequinho). O autor informa ainda que, em uma mesma palavra, pode coexistir mais de uma ocorrncia dos sufixos como, por exemplo, nas sentenas esse um passarinhozinho que canta a, uma tbua purinhazinha, aquele limo fininhozinho que junta na pedra, etc.

    No Portugus Europeu, Villalva (2000) assume que inho e zinho so sufixos diminutivos distintos, denominando-os respectivamente de formas avaliativas e Z-avaliativas, dado que as formas de base a que se anexam apresentam diferentes propriedades.

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    Segundo Villava (2000), o principal contraste entre os diminutivos inho e zinho est associado a categoria morfolgica da base: esta anlise permite distinguir os sufixos avaliativos dos Z-avaliativos dado que os primeiros se associam a radicais e formam novos radicais, enquanto os segundos se associam a palavras e formam palavras (VILLALVA, 2000, p.316). Deste modo, a sufixao avaliativa seleciona radicais, enquanto os Z-avaliativos anexam-se a palavras.

    O segundo contraste reside no fato de que as formas avaliativas apresentam um nico acento lexical (sapatnho, casnha) enquanto as Z-avaliativas tm dois acentos lexicais, um referente base (acento tnico), e outro ao prprio sufixo (acento subtnico) como em cafznho, chapuznho, pznhoetc.

    O terceiro contraste refere-se ao fato de a flexo de gnero e nmero da base e do sufixo Z-avaliativos ser independentemente estabelecida. Deste modo, as flexes de gnero e nmero apresentam-se duplicadas nas formas em -zinho, aparecendo antes e depois do sufixo (livrozinho, quadrozinho, anelzinho > aneizinhos, marzinho>marezinhos), ao passo que as construes Xinho apresentam uma nica marca de gnero e de plural (lojinha, cervejinha, beijo > beijinhos, lata > latinhas).

    O quarto contraste que distingue a aplicao entre as formas est relacionado ao nmero de slabas da base: Com efeito, a um maior nmero de slabas corresponde uma preferncia pela sufixao Z-avaliativa, enquanto que os disslabos recorrem sufixao avaliativa (VILLALVA, 2000, p.332). O terceiro contraste relevante refere-se ao fato de que:

    [...] contrariamente s formas avaliativas que preservam o ndice temtico da base, as formas Z-avaliativas determinam a classe temtica onde se integram, por concordncia com o valor de gnero da forma de base e de acordo com a sua realizao no-marcada, ou seja, tema em o para as formas masculinas e tema em a para as formas femininas. (VILLALVA, 2000, p.321).

    A fim de explicar se inho e zinho so ou no variantes foneticamente condicionadas, a autora argumenta que o uso das formas z-avaliativas obrigatrio diante de:

    a) vocbulos que terminam com vogal (oral ou nasal), como em pontapezinho / *pontapeinho, alibizinho / *alibiinho, atunzinho / *atuninho, rzinha / *rinha, etc.;

    b) palavras em que a forma de base termina em vogal (oral ou nasal) tona como, por exemplo, taxizinho / *taxinho, albunzinho / *albuninho, videozinho / *videoinho, etc.;

    c) palavras com ditongo (oral ou nasal) tnico, como nos exemplos cacauzinho / *cacauinho, veuzinho / *veuinho, canozinha / *canoinha, etc.;

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    d) palavras com ditongo tono, como em ordenzinha / *ordeninha, benozinha / *benoinha, troleizinho / *troleiinho, etc.;

    e) palavras acabadas em consoante, como em hifenzinho / *hifeninho, sloganzinho / *sloganinho, smokingzinho / *smokinguinho, etc.

    Do ponto de vista formal, Villalva (2000) conclui que a distribuio dos sufixos avaliativos e Z-avaliativos condicionada pela categoria morfolgica da base. No entanto, a escolha entre uns e outros condicionada por mltiplos fatores como a recuperabilidade da forma de base, o seu nmero de slabas, variao dialectal, ndices de ocorrncia e lexicalizao (VILLALVA, 2000, p.337).

    Em Formao e Classes de Palavras no Portugus do Brasil, Baslio (2004) afirma que inho e zinho parecem ser elementos complementares, uma vez que zinho utilizado em ambientes fonolgicos em que inho no usado.

    A autora enfatiza ainda que o sufixo inho se incorpora integralmente fonologia da palavra base, enquanto zinho apresenta peculiaridades semelhantes aos advrbios terminados em mente, ressaltando que a adio de zinho mantm a linha geral da acentuao tnica da palavra base, como vemos: plida palidazinha, p pazinha, tatu tatuzinho, tnel tunelzinho (BASLIO, 2004, p.72), mas transforma-se em acentuao subtnica. Alm disso, Baslio considera que a caracterstica mais desconcertante das formaes em zinho o fato de que a adio de zinho no impede a flexo de gnero e nmero na palavra base (indiozinho/indiazinha, balozinho/balezinhos) (BASLIO, 2004, p.72). Por fim, a autora conclui que, na formao do diminutivo, temos dois elementos formadores, -inho e zinho, cuja ocorrncia parcialmente complementar, mas cujo estatuto morfolgico radicalmente diferente (BASLIO, 2004, p.72).

    Em Flexo & derivao em portugus, Gonalves (2005) menciona que possvel adicionar (z)inho a praticamente todos os nomes da lngua (...), anexando-se a pronomes, advrbios, numerais e interjeies (GONALVES, 2005, p.40). O autor ressalta ainda que afixos que, em princpio, disputariam a mesma posio na cadeia sintagmtica podem aparecer juntos na mesma palavra (GONALVES, 2005, p.82). De fato, por vezes, um mesmo vocbulo aparece associado a dois afixos de aumentativo ou dois sufixos de diminutivo, constituindo-se em um processo recursivo: a recursividade tambm pode ser usada com fins expressivos. So perfeitamente possveis formas como livrozo, com dois afixos aumentativos e vidinhazinha com dois de diminutivo (GONALVES, 2005, p.83-84).

    Em O diminutivo e suas demandas, Bisol (2010) considera que h apenas um morfema e no dois, mencionando que existe apenas um morfema, que inho, o qual se reveste de uma consoante epenttica para satisfazer exigncias estruturais, manifestando-se como zinho (BISOL, 2010, p.59).

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    No que tange a variao, Bisol (2010, p.72) admite que esta circunda-se aos nominais temticos em que se impe a prevalncia da forma original inho, considerando que em nominais temticos, h casos em que a epntese motivada (BISOL, 2010, p.72). Assim, o primeiro caso listado por Bisol (2010) refere-se flexo de gnero que se apresenta tanto na forma de base como no morfema diminutivo, ou seja, haver redundncia de informao, o que, em nome da simplicidade tende a ser evitado. No h erros, mas redundncia de informao (BISOL, 2010, p.72), citando exemplos como borboletinha ~ borboletazinha, patinho ~ patozinho, garotinha ~ garotazinha. No entanto, a autora ressalta que h excees:

    Todavia, h casos de disparidade entre VT [vogal temtica] e gnero da forma de base e do diminutivo. Nesses a consoante /z/ introduzida para preservar a vogal da base, manifestando-se, dessa forma, ambas as vogais, a da base internamente e a de DIM [diminutivo] que porta o gnero na posio que lhe destinada. Isso acontece com nominais de gnero masculino com VT /a/ [o aroma o aromazinho], com nominais do gnero feminino com VT /o/ [a contralto a contraltozinha] e com nominais pertencentes categoria comum de dois [o/a pianista o pianistazinho, a pianistazinha]. (BISOL, 2010, p.72).

    A autora considera que os casos de disparidade pertencem aos nominais que apresentam vogal temtica em /e/, sendo destitudos de qualquer relao com gnero, que abrem as portas para a variao analgica: verdinho ~verdezinho, paredinha ~ paredezinha, correntinha ~ correntezinha (BISOL, 2010, p.73). Assim, a autora conclui que a variao em nominais temticos est comprometida com o gnero gramatical (BISOL, 2010, p.73).

    O segundo caso ilustrado por Bisol (2010) refere-se ao princpio do contorno obrigatrio (doravante OCP), que probe segmentos idnticos adjacentes. Deste modo, a autora postula que OCP ativado e o segmento consonantal /z/ inserido a fim de contornar a adjacncia de segmentos que apresentam as mesmas propriedades fnicas como, por exemplo, em vinho vinhozinho / *vinhinho, pinho pinhozinho / *pinhinho, linho linhozinho / *linhinho, etc. No entanto, a autora admite que a variao em nominais terminados em hiato constitui um dilema na anlise do diminutivo, visto que a parte final da base prosdica no oferece, como nos demais nominais temticos, uma consoante para onset (BISOL, 2010, p.73). Assim, de um lado, via apagamento de VT [vogal temtica], ka.no.a>ka.no..n )a, o hiato da base desfeito e o de DIM [diminutivo] permanece (BISOL, 2010, p.73). Por outro lado, via epntese, ka.no.a>ka.no.a.zi.n)a, o hiato da base preservado para resolver o de DIM (BISOL, 2010, p.73). Contudo, a autora constata que h excees regra e afirma que:

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    as ocorrncias mais frequentes indicam que DIM tende a preservar o hiato do input e resolver o que lhe diz respeito, optando pela epntese, mas a variao no fica de toda excluda, como em atoa >atoazinha ~ atoinha, canoa > canoazinha ~ canoinha, garoa > garoazinha ~ garoinha. (BISOL, 2010, p.73).

    Por ltimo, o terceiro caso mencionado por Bisol est relacionado ao fato de que, nos diminutivos, a base que contm minimamente duas slabas exibe p binrio de cabea esquerda (BISOL, 2010, p.74). Deste modo, o acento secundrio, quando herdado do principal, desloca-se para a slaba imediatamente anterior a fim de evitar uma coliso acentual com retrao de acento. No entanto, a autora constata que a exceo est no grupo das proparoxtonas, que foge ao padro geral [p binrio de cabea esquerda], mostrando um dtilo, o qual tende a ser preservado por DIM (BISOL, 2010, p.74). Assim, a exceo encontra-se em dados como, por exemplo, (lm.pa.da) (lm.pa.da.)(z.nha) ~ (lm.pa.)(d.nha), (c.te.dra) (c.te.dra.)(z.nha) ~ (c.te.)(dr.nha), etc.

    Note-se que Bisol (2010) admite a variao existente em nominais temticos, mas considera que h casos que apontam para o controle de certos fatores, como redundncia de gnero, hiato duplicado, acento marcado e OCP que motivam ou restringem a presena de consoante epenttica (BISOL, 2010, p.75).

    Finalmente, Bisol (2010, p.82) chega seguinte generalizao: O Diminutivo, cuja forma cannica inho, exige onset e preserva os elementos da base (input) e do output que so relevantes para a sua estruturao como palavra fonolgica.

    Em suma, no que se refere s formas -inho e/ou zinho, torna-se evidente a ausncia de consenso entre os tericos. Note-se que, de um lado, temos semelhanas semntica e fontica entre os formativos, fazendo com que muitos autores considerem a existncia de uma nica forma diminutiva, -inho. No entanto, haveria a insero de um segmento consonantal epenttico, consoante de ligao ou ainda um infixo que ocorre em determinados contextos, manifestando-se como zinho. Para se considerar a possibilidade de z- como infixo, seria necessrio caracteriz-lo como um autntico morfema, dotado de significao. Por outro lado, diante da flexo nominal, observa-se que a distribuio e o comportamento de tais formativos levam outros autores a interpret-los como entidades morfolgicas distintas.

    A sociolingustica variacionista

    A perspectiva terica da Sociolingustica Variacionista ou Laboviana relaciona aspectos variveis sistemticos da linguagem humana a fatores sociais em uma dada comunidade. Neste sentido, lngua e sociedade esto estreitamente

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    interligadas. Para Labov (1972), o objeto da pesquisa sociolingustica a lngua verncula, sendo descrita como a lngua falada na vida cotidiana pelos membros de uma comunidade.

    Na dcada de 60, ao pesquisar o ingls falado na ilha de MarthasVineyard, a respeito da variao fonolgica da vogal ncleo dos ditongos /ay/ (ex. right) e /aw/ (ex. house), Labov (1972) notou fortes influncias sociais decorrente da invaso de veranistas ingleses. Assim, o autor concluiu que os falantes que apresentavam uma atitude mais positiva em relao ilha, os moradores locais, centralizavam mais os ditongos, variante no-padro e estigmatizada, adotando uma pronncia tpica da ilha: um schwa [u] e [y], enquanto os veranistas adotavam uma pronncia mais geral, considerada inovadora e de prestgio. Logo, Labov (1972) evidenciou o fato de a lngua ser considerada um fator de identidade social. Com isso, o autor comprovou a possibilidade de a variao lingustica ser objeto de sistematizao, destacando o papel primordial dos fatores sociais na explicao da variao lingustica.

    Diante da heterogeneidade dos fenmenos lingusticos, Labov (1972) estabeleceu um modelo de descrio e anlise lingustica que considera a influncia dos fatores sociais atuantes na lngua, sendo conhecido como teoria da variao lingustica.

    A lngua ento passa a ser estudada como um sistema heterogneo em constante processo de mudana, relacionando-se diretamente ao meio social em que est inserida. Em outras palavras, no existe uma lngua homognea, a linguagem humana muda com o tempo. Deste modo, Labov (1972) considera que, quando analisamos o contexto social em que a lngua utilizada, muitos elementos da estrutura lingustica implicam na variao sistemtica que reflete tanto a mudana no tempo quanto nos processos sociais:

    [...] os procedimentos da lingustica descritiva fundamentam-se na concepo de que a lngua um conjunto estruturado de normas sociais. No passado, foi til considerar que tais normas eram invariveis e compartilhadas por todos os membros da comunidade lingustica. Entretanto, as anlises mais detalhadas do contexto social em que a lngua utilizada vieram demonstrar que muitos elementos da estrutura lingustica esto implicados na variao sistemtica que reflete tanto a mudana no tempo quanto os processos sociais extralingusticos. (LABOV, 1972, p.241).

    No estudo da variao, as alternncias de uso sofrem influncias de fatores estruturais e sociais. Neste sentido, o uso de formas lingusticas motivado pelas diferenas entre os falantes e pela prpria heterogeneidade da lngua. Portanto, sua alternncia pode ser estatisticamente previsvel, ou seja, torna-se passvel de ser descrita e analisada cientificamente.

  • 587Alfa, So Paulo, 57 (2): 577-605, 2013

    Partindo da concepo da relao entre lngua e sociedade e de que a lngua falada varivel e heterognea, os objetivos principais da Sociolingustica Laboviana so:

    a) analisar e legitimar as variantes utilizadas numa comunidade de fala (LABOV, 1975);

    b) entender a relao entre variao e mudana lingustica (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968).

    Contudo, cabe ainda anlise sociolingustica explicitar a insero ou encaixamento de uma varivel no sistema de relaes sociais e lingusticas de uma comunidade. Para isso, dispe-se de mtodos estatsticos aplicados a um conjunto de dados a fim de se extrair regularidades altamente ordenadas que governam a variao na comunidade. Neste sentido, Guy e Zilles consideram que antes do advento da metodologia de quantificao, a variao lingustica era considerada secundria, aleatria ou mesmo impossvel de ser cientificamente apreendida (GUY; ZILLES, 2007, p.73). No entanto, o uso de mtodos estatsticos tem permitido demonstrar o quo central a variao pode ser para o entendimento de questes como identidade, solidariedade ao grupo local, comunidade de fala, prestgio e estigma, entre tantas outras (GUY; ZILLES, 2007, p.73).

    Materiais e mtodos

    A fim de compreendermos a percepo de falantes do PB diante da alternncia do diminutivo inho/ -zinho, foi realizado um teste de aceitabilidade. Este teste de julgamento foi formulado com o objetivo de se identificar provveis reaes atitudinais de falantes do portugus brasileiro diante da variao presente na escolha de uso dos formativos inho e/ou -zinho.

    Como parte preliminar do planejamento experimental do teste de aceitabilidade, procedeu-se definio de escalas, em que se optou pela utilizao de uma escala com pontuao. Adotou-se a escala de Likert (1932), de cinco pontos, modelo criado em 1932 para avaliar atitudes e hoje amplamente empregado para avaliaes diversas, sendo atribudos os valores: (1) para perfeitamente possvel; (2) para possvel, mas no utilizaria; (3) para indiferente; (4) para improvvel, raramente utilizaria; e (5) para no aplicvel, nunca utilizaria. A atribuio dos pontos escala Likert (1932), em cada nvel de resposta, procurou estabelecer uma ordenao das alternativas com intervalos equivalentes a fim de viabilizar a anlise estatstica.Deste modo,

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    admitimos que o questionrio aplicado constitui-se em uma escala intervalar, visto que a distncia entre as posies a mesma e que tais posies, utilizadas para avaliar opinies e atitudes, medem propores que partem do mais favorvel ao mais desfavorvel. Dito de outro modo, alm de os dados estarem dispostos numa ordem linear, do menor para o maior, o espaamento igual dos nveis de resposta foi claramente indicado em uma escala visual apresentada no questionrio aplicado.

    Nosso instrumento de pesquisa foi composto por uma escala Likert (1932) com 10 sentenas referentes variao detectada entre as formas diminutivas inho, e/ou zinho.

    Em relao ao tamanho da amostra, visando evitar a discusso acerca do limite entre o que podemos considerar como uma amostra pequena ou grande, ou seja, buscando o limite do menor tamanho da amostra com melhor aderncia curva da distribuio normal, adotamos uma amostra composta por 40 informantes, sendo 17 homens e 23 mulheres, com faixa etria entre 18 e 26 anos, dialeto regional (carioca; fluminense; outro) e ensino superior incompleto.

    Na anlise das respostas, foi proposta uma escala de concordncia em que o respondente indica seu grau de acordo ou desacordo para cada item. Neste caso, adotamos os seguintes valores para cada resposta:

    Nesta escala, admitimos que o valor exatamente (3) seria considerado indiferente ou sem opinio, sendo o ponto neutro, equivalente aos casos em que os respondentes abstiveram-se de emitir uma opinio.

    A partir da aplicao do teste de aceitabilidade, os dados obtidos foram analisados pelo programa EXCEL 14, que compe o pacote Office 2010 da Microsoft Corporation, com suporte ao pacote estatstico R, sendo caracterizado por REXCEL.

    Resultados e anlise do instrumento de medio

    A partir das respostas fornecidas pelos entrevistados, apresentaremos, nas prximas sees, os resultados obtidos no teste de aceitabilidade e teceremos uma anlise acerca do instrumento de medio aplicado neste estudo.

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    Faixa etria

    Neste estudo, consideramos a faixa etria como uma varivel qualitativa ordinal,dividida em intervalos mutuamente exclusivos e ordenados. Neste caso, a varivel foi descategorizada e agrupada em intervalos fechados com 3 classes. Assim, os respondentes foram divididos, de acordo com sua idade, em trs intervalos: {[18-20], [21-23], [24-26]}. Considerando a idade dos entrevistados, os dados revelam que 68% possuem de 18 a 20 anos, 15% encontram-se na faixa etria entre 21 e 23 anos e 17% esto entre 24 e 26 anos, conforme vemos na tabela 01.

    Tabela 01 Distribuio por faixa etria dos entrevistados

    Fonte: Elaborao prpria.

    Gnero

    Neste trabalho, o gnero do respondente assume os atributos de uma varivel qualitativa nominal. Deste modo, os entrevistados foram categorizados em funo do gnero em:{Masculino, Feminino}.

    Considerando o gnero dos entrevistados, temos 17 indivduos do gnero masculino e 23 do gnero feminino, perfazendo um total de 40 respondentes.

    Tabela 02 Distribuio por gnero dos entrevistados

    Fonte: Elaborao prpria.

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    Dialeto regional

    Para o teste de julgamento, definimos a varivel dialeto regional em qualitativa nominal e foram considerados os seguintes valores:{Carioca, Fluminense, Outro}.

    De acordo com o dialeto regional, os dados mostram que 83% dos entrevistados so cariocas, 13% so fluminenses e 5% situam-se em outras regies do estado do Rio de Janeiro, como se observa na tabela 03.

    Tabela 03 Distribuio por dialeto regional dos entrevistados

    Fonte: Elaborao prpria.

    Atitude dos respondentes

    Considerando o julgamento efetuado pelos respondentes, avaliamos o grau de concordncia ou discordncia para cada questo a fim de medirmos a atitude do sujeito frente a cada item avaliado, conforme o exposto na tabela 04.

    Com base nos resultados, pode-se notar que a maior tendncia concordncia possui os escores mais altos concentrados nas respostas em que se atribuiu o grau 1 (posio altamente favorvel) para os diminutivos inho e zinho respectivamente. Por outro lado, a forma inhozinho apresenta escores mais elevados para as respostas de grau 5 (posio claramente desfavorvel), revelando uma tendncia discordncia quanto utilizao desse formativo. Neste caso, os dados mostram que os respondentes posicionaram-se positivamente em relao ao uso das formasinho e zinho, admitindo as duas possibilidade de uso no mesmo contexto, embora se observe uma pequena variao percentual entre os dois formativos em funo de cada item avaliado. No entanto, os respondentes adotaram um atitude mais conservadora diante da utilizao da forma inhozinho, revelando um alto ndice de rejeio nos contextos em que se alternam as possibilidades de aplicao de inho e -zinho.

  • 591Alfa, So Paulo, 57 (2): 577-605, 2013

    Tabela 04 Distribuio da atitude do respondente aos itens vinculados no uso dos sufixos diminutivos

    Fonte: Elaborao prpria.

    Em relao s variveis em estudo, relacionou-se a frequncia das respostas dos informantes, que fizeram tal atribuio, a percentuais por linhas, refletindo a proximidade/afastamento de uso das formas diminutivas em questo, como podemos observar na tabela 05.

    Tabela 05 Distribuio da alternncia inho / -zinho conforme a frequncia atribuda pelos informantes

    Fonte: Elaborao prpria.

    Na tabela 05, os dados mostram que 52,8% dos informantes afirmam utilizar amplamente o morfema inho. No entanto, 20% reconhecem ser possvel a utilizao da variante inho, embora no seja essa variante que utilizam com maior frequncia. Embora apresente um uso improvvel na lngua, 7% consideram utilizar ocasionalmente o diminutivo inho e somente 9,5% declaram no fazer uso do morfema em questo. Contudo, para o formativo zinho, observa-se que 49,8%

  • 592 Alfa, So Paulo, 57 (2): 577-605, 2013

    dos respondentes consideram utiliz-lo plenamente, enquanto 18,3% admitem o uso da variante zinho, mas reconhecem no ser a variante a que recorrem num primeiro momento. Ainda que considerem improvvel a possibilidade de uso na lngua, 14,8% dos informantes afirmam utilizar esporadicamente o morfema zinho e apenas 8,0% admitem no utilizar esse diminutivo. Finalmente, nota-se que somente 1% dos respondentes considera fazer uso da variante inhozinho. Entretanto, 3,8% admitem a possibilidade de uso da forma inhozinho, embora no seja a variante qual recorrem num primeiro momento. Contudo, 15,5% dos entrevistados consideram improvvel o uso do diminutivo inhozinho, mas admitem que de vez em quando o utilizam, enquanto 75,3% dos informantes declaram nunca utilizar esse formativo. Nesse teste, os respondentes que declaram no ter uma opinio formada ou que se abstiveram de emitir qualquer opinio correspondem a: 10,8% para o morfema inho; 9,3% para o diminutivo zinho; e 4,5% para a variante inhozinho.

    Posteriormente, calculou-se o ranking mdio (doravante RM) da pontuao obtida em cada um dos cinco nveis. Neste caso, atribumos os valores de 1 a 5 para cada resposta, a partir da qual foi calculada a mdia ponderada para cada item, baseando-se na frequncia das respostas. Deste modo, os valores atribudos foram: 1 para o nvel5; 2 para o nvel 4; 3 para o nvel 3; e 4 para o nvel 2; e 5 para o nvel 1. Assim, tem-se a frmula:

    (1)

    Onde:RM = ranking mdio.MG = mdia de pontos obtidos em cada grupo.Vi = valor ou peso atribudo a cada resposta.

    Em relao avaliao do grau de concordncia ou discordncia de uso de cada uma das formas diminutivas, considerou-se o valor padro 3 como o ponto neutro da escala de valores. Logo, a soma dos valores mdios (RM Geral) acima de3 considerada como concordante, enquanto os menores que 3 so tidos como discordantes. Deste modo, realizou-se verificao quanto concordncia ou discordncia das questes avaliadas atravs da obteno do RM da pontuao atribuda s respostas, conforme se pode observar na tabela 06.

  • 593Alfa, So Paulo, 57 (2): 577-605, 2013

    Tabela 06 Ranking mdio (RM)

    Fonte: Elaborao prpria.

    Na tabela acima, observa-se que, dos 40 respondentes, em mdia 4,00 declararam utilizar o formativo inho, enquanto 3,87 dos entrevistados admitiram utilizar o diminutivo -zinho nos 10 itens do questionrio aplicado. No entanto, o diminutivo inhozinho foi utilizado em mdia por 1,40 dos respondentes. Note-se ainda que, das variveis em anlise, o RM geral encontra-se aproximadamente em torno de quatro, ou seja, evidencia que h um predomnio de nvel satisfatrio, indicando que as respostas tenderam para uma atitude positiva ou concordante quanto possibilidade e uso dos referidos formativos, ficando somente a varivel inhozinho em um nvel insatisfatrio, pois atingiu uma mdia inferior ao ponto de corte ou ponto neutro estabelecido, o que revela uma atitude discordante em relao possibilidade e uso do referido formativo.

    A fim de medirmos a variabilidade dos dados em torno do RM, utilizou-se o clculo do desvio padro da mdia por meio da seguinte frmula:

    (2)

    Onde:S = desvio padro.Xi = varivel usada para representar os valores individuais dos dados.MG = mdia geral de pontos obtidos no RM.

    Portanto, realizou-se verificao quanto concordncia ou discordncia das questes avaliadas atravs da obteno do RM da pontuao atribuda s respostas e analisou-se o grau de disperso em relao a essa mdia, obtendo o desvio padro do RM, conforme se pode observar na tabela 07.

  • 594 Alfa, So Paulo, 57 (2): 577-605, 2013

    Tabela 07 Desvio padro amostral (S)

    Fonte: Elaborao prpria.

    Na tabela 07, nota-se que os morfemas inho e zinho apresentam um desvio-padro que se aproxima de suas respectivas mdias, evidenciando que boa parte dos entrevistados consideraram de forma parecida o uso dos referidos diminutivos, revelando uma atitude positiva em relao aos diminutivos supracitados. Por outro lado, o formativo inhozinho apresenta uma disperso que ultrapassa sua respectiva mdia, indicando que a maioria dos respondentes revelaram-se contrrios aplicabilidade e uso da forma em questo, enquanto uma parcela mnima apresentou uma atitude concordante quanto possibilidade e uso desse diminutivo, o que influenciou a mdia para baixo.

    Validade, confiabilidade e capacidade discriminatria

    Hernndez, Fernndez e Baptista (2003) ressalta que, ao utilizarmos um instrumento de medio, necessrio avaliarmos sua confiabilidade e validez para que a investigao aporte resultados reais e seja digna de considerao.

    A qualidade do instrumento de medio estimada pelos critrios de validez ou validade e por sua confiabilidade ou fidedignidade. O critrio de validez est relacionado capacidade de um instrumento medir com preciso o que de fato se prope medir, ou seja, os dados da pesquisa devem ser precisos. Por outro lado, a confiabilidade refere-se capacidade de reproduzir com consistncia ou estabilidade os resultados obtidos quando o mesmo indivduo ou objeto avaliado, ou seja, qualquer pessoa que aplique um questionrio, em condies idnticas, ter sempre os mesmos resultados. Segundo Guy e Zilles (2007), a confiabilidade equivale basicamente possibilidade de reproduzir ou replicar um resultado. Os autores argumentam que, se repetirmos um estudo ou se outro pesquisador realizar um estudo equivalente com a utilizao de critrios idnticos, se os resultados no forem iguais, no haver confiabilidade, mas, se forem, podemos consider-los confiveis. Desse modo, Guy e Zilles (2007) consideram que isto uma questo de clareza dos procedimentos, do cuidado dos pesquisadores para evitar possveis fontes de vis (GUY; ZILLES, 2007, p.116) e mencionam ainda

  • 595Alfa, So Paulo, 57 (2): 577-605, 2013

    que alguns fenmenos do mundo so mais estveis e outros menos; os mais estveis do sempre os mesmos resultados e so mais confiveis (GUY; ZILLES, 2007, p.116).

    Para demonstrar a validez do instrumento de medio, realizou-se um teste piloto com 05 (cinco) pessoas que preencheram o questionrio para o teste final do instrumento. Nenhuma modificao foi necessria, pois no se registraram problemas relacionados clareza, ao entendimento, ao preenchimento e adequao ao layout do questionrio. Finda essa etapa, o questionrio foi aplicado na amostra completa.

    Para determinao da confiabilidade do questionrio, usamos o coeficiente alpha de Cronbach (1951), que consiste em uma anlise da covarincia e/ou correlaes entre os itens do questionrio a fim de medir a homogeneidade dos componentes da escala. Neste trabalho, nos dedicamos a uma anlise de consistncia interna do questionrio aplicado utilizando o pacote estatstico R project, Verso 2.12.2. Assim, os resultados obtidos foram:

    Quadro 1 Teste Alpha de Cronbach

    Fonte: Elaborao prpria.

    De acordo com Hair et al. (1998), rejeitam-se os fatores com alpha de coeficiente menores que 0,6, uma vez que valores abaixo deste indicam uma intensidade de associao muito baixa. Valores entre 0,6 e 0,7 indicam uma intensidade de associao moderada; entre 0,7 e 0,8, boa; entre 0,8 e 0,9, muito boa e 0,9, excelente. Assim, analisando-se a estrutura do instrumento utilizado para obteno dos dados atravs do modelo de Alpha de Cronbach (1951), percebe-se que o constructo e a escala utilizados apresentam uma confiabilidade interna muito boa e, portanto, so adequados para o propsito para o qual foram designados (QUADRO 01).

    Poder discriminatrio

    Entende-se por poder discriminatrio a capacidade que os resultados de um teste tem de quantificar as diferenas entre os respondentes.

    O poder discriminante de uma escala pode ser expresso pelo coeficiente d de Ferguson (1949), que varia de 0 (todas as pontuaes so iguais) a 1 (cada

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    indivduo tem uma pontuao diferente). Assim, quanto mais prximo de 1 o ndice de Ferguson estiver, maior tambm ser a capacidade discriminante do teste. Como regra geral, um teste considerado discriminatrio se apresentar d 0,90. Nesse teste, o valor estimado do delta de Ferguson (1949) para a amostra foi de d = 0,93, sendo considerado um valor que apresenta uma boa capacidade discriminatria.

    Modelagem estatstica

    A fim de identificarmos a modelagem estatstica mais adequada ao fenmeno em estudo, aferimos os pressupostos de Gaussianidade1 e de a homocedasticidade das varincias. Deste modo, entende-se que os pressupostos bsicos assumidos neste trabalho delineiam os contornos de uma pesquisa honesta e no viesada, o que valer dizer cientificamente aceita.

    Em relao ao diagnstico de normalidade, utilizou-se o teste Shapiro-Wilk (SHAPIRO; WILK, 1965). Esse teste, proposto em 1965, calcula uma estatstica W que testa se uma amostra aleatria (x1, x2, ..., xn) proveniente de uma distribuio normal. Assim, verificam-se as seguintes hipteses:

    H0: A amostra provm de uma distribuio normal N(m,s2)

    H1: A amostra no provm de uma distribuio normal N(m,s2)

    Neste caso, rejeitamos H0 se o p-valor2 menor que 5% (p-valor < 0,05) e

    no rejeitamos H0 caso contrrio. Logo, observou-se que, da aplicao do teste de normalidade de Shapiro-Wilk (SHAPIRO; WILK, 1965) resultou um p-valor = 0,8948, portanto, a um nvel de significncia de 5%, no podemos rejeitar a hiptese da normalidade. Assim, torna-se plausvel que a amostra provenha de uma populao normal.

    Muitas tcnicas estatsticas requerem a suposio de igualdade de varincias das variveis de interesse e, portanto, considerou-se crucial verificar essa premissa. Foi utilizado o teste de Levene centrado na mdia para averiguar o pressuposto de homogeneidade da varincia. Esse teste usado para verificar se k mdias tm a mesma varincia, ou seja, a variabilidade dos resultados, para cada situao experimental, deve ser aproximadamente igual. Assim,

    1 O termo gaussianidade faz referncia ao matemtico e astrnomo Gauss, que utilizou essa distribuio para modelar a variao no resultado de medies do posicionamento de planetas.

    2 O p-valor refere-se menor escolha que teramos feito para determinado nvel de significncia (a), de forma a rejeitarmos H0.

  • 597Alfa, So Paulo, 57 (2): 577-605, 2013

    as variveis a serem testadas devem pertencer a grupos populacionais com igual varincia. Deste modo, para avaliarmos a homogeneidade da varincia, admitiu-se um nvel de significncia menor que 0,05 (a< 0,05). Deste modo, foram estabelecidas as hipteses:

    H0: As varincias para os diferentes grupos so iguais (existe homocedasticidade)H1: As varincias para os diferentes grupos so diferentes (no existe homocedasticidade)

    Neste caso, rejeitamos H0 se o p-valor for menor que 5% e no rejeitamos H0 caso contrrio. Para as varveis avaliadas no teste de aceitabilidade, foram obtidos os seguintes valores:

    Quadro 2 Teste de homocedasticidade

    Levenes Test for Homogeneity of Variance (center = mean)

    Group Pr(>F)

    Dialeto Regional 0.0891

    FaixaEtria 0.9850

    Gnero 0.2832

    Diminutivo 0.4345

    Fonte: Elaborao prpria.

    Ao analisarmos o resultado do teste de Levene, constatamos que, como p > 0,05, ento no rejeitamos a hiptese nula, ou seja, no existem evidncias de uma diferena significativa entre as varincias dos grupos analisados.

    Cabe ressaltar que a independncia entre os grupos automtica, pois so grupos vindos de populaes mutuamente excludentes (homens ou mulheres; cariocas ou fluminense ou outro; 18 a 20 anos ou 21 a 23 anos ou 24 a 26 anos). Observe-se que os dados coletados seguem uma distribuio normal e foi verificada a igualdade de varincias das atitudes entre as variveis independentes (Teste de Levene). Assim,dentre os vrios testes paramtricos existentes, realizamos uma anlise de varincia multifatorial (ANOVA Multi Way) por considerarmos, no caso especfico deste estudo, ser o teste mais adequado a explicar a alternncia do diminutivo inho/ -zinho no PB.

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    Hipteses

    Entende-se que, nos casos de variao, diante de uma s forma de se

    esperar que haja convergncia entre os nveis, tanto para inho, considerado

    como morfema diminutivo, quanto para /z/ em -zinho, tido como uma con-

    soante epenttica que emerge para satisfazer exigncias estruturais. Assim,

    a hiptese conservadora formulada (H0) de que haja convergncia entre as

    mdias (m1 = m2 = . . . = mi ). No entanto, se houver diferenas significativas entre os nveis, temos evidncias para admitir a existncia de formas distintas na

    lngua portuguesa, visto que teramos formas que se afastam progressivamente

    entre si. Logo, a hiptese inovadora (H1) de que existe pelo menos uma das

    mdias diferentes (mimj para algum i j). Entretanto, a hiptese secundria a ser investigada verificar se h ou no interao entre os fatores sociais e a

    atitude do falante. Assim, a hiptese nula (H0) de que haja interao entre os

    fatores sociais (dialeto regional, gnero e faixa etria) e a seleo da(s) forma(s)

    diminutiva(s), dada a proposta sociolingustica adotada neste estudo. Por outro

    lado, a hiptese alternativa (H1) de que a(s) forma(s) diminutiva(s) ocorrem por

    motivaes estruturais, sem interferncia de fatores sociais.

    Discusso dos resultados

    Os dados foram submetidos anlise de varincia multifatorial (ANOVA

    Multi Way), com nvel de significncia de 0,05, para avaliar se o efeito do gnero,

    do dialeto regional e da faixa etria determinante na seleo da(s) forma(s)

    em anlise e se h ou no convergncia entre as formas. A seguir, na tabela

    08, apresentamos os resultados obtidos na aplicao do modelo II3 de ANOVA

    multifatorial.

    3 Este modelo considera que todos os fatores tm efeitos aleatrios.

  • 599Alfa, So Paulo, 57 (2): 577-605, 2013

    Tabela 08 Resultados da ANOVA multifatorial para a pontuao na escala de atitudes em relao ao uso da(s) forma(s) diminutiva(s) inho

    e/ou zinho, em funo do dialeto regional, do sexo e da faixa etria

    Fonte: Elaborao prpria.

    Tomados individualmente os efeitos principais, observa-se que o p valor para o fator diminutivo, aproximadamente zero, muito menor que o p valor para a faixa etria (0,64653), o gnero (0,98557) e o dialeto regional (0,98833). Logo, para a = 0,05, rejeitamos a hiptese conservadora (H0), ou seja, o fator diminutivo tem efeito significativo sobre a variabilidade da varivel de resposta atitude, apresentando potenciais diferenas entre os nveis, enquanto que no h evidncia estatstica para afirmar que, individualmente, os fatores faixa etria, gnero e dialeto exeram efeito distinto sobre a percepo do falante, visto que, para estes fatores, p > 0,05. Em outras palavras, os fatores analisados apontam para a existncia de diferenas significativas entre os formativos (-inho, -zinho e -inhozinho), o que nos leva a admitir a existncia de mais de uma forma diminutiva na lngua.

    Quando observamos os cruzamentos entre os fatores analisados, vemos que todas as combinaes entre os fatores (A*B, A*C, A*D, A*B*C, A*B*D, A*C*D) indicam que h possveis interaes, conforme o exposto nos grficos de interao4 (GRFICO 01).

    4 Neste estudo, adotou-se o mtodo grfico de interao para ANOVA sugerido por Levine, Berenson e Stephan (2000). A interao entre os fatores corresponde diferena de comportamento de um fator nos diferentes nveis do outro fator (eixo) com respeito caracterstica de interesse.

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    Grfico 01 Interao entre a atitude do falante e os fatores dialeto, faixa etria e gnero na seleo das formas diminutivas

    Fonte: Elaborao prpria.

    Como se pode observar no grfico 01, a interao entre os formativos inho, zinhoe -inhozinho verificada para todos os fatores analisados, visto que as retas so congruentes ou esto inclinadas, ou seja, no so sensivelmente paralelas. Logo, para p > 0,05, no rejeitamos a hiptese nula (H0), ou seja, conclumos que h evidncias de um efeito de interao entre os fatores dialeto regional, gnero e faixa etria na seleo das formas diminutivas inho e zinho, o que nos leva a afirmar que as propriedades estruturais (nmero de slabas, acentuao,segmento final da forma primitiva e flexo nominal) por si s no so determinantes na seleo das formas diminutivas.Em outras palavras, os fatores sociais (dialeto regional, gnero e faixa etria) revelam-se expressivos,condicionando a escolha do falante por um ou outro formativo.

    Note-se que a probabilidade de ocorrer uma das variantes cresce na medida em que se conjugam os vrios fatores sociais. Vejamos como as interaes entre

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    as mdias para os grupos analisados em cada fator so determinantes na escolha dos sufixos diminutivos inho e zinho (QUADRO 03).

    Quadro 03 Interao entre as mdias para os fatores sociais em relao escolha dos formativos inho e zinho

    Fonte: Elaborao prpria.

    Em mdia, no quadro 03, vemos que o sufixo inho revela maior incidncia de uso entre as mulheres do dialeto fluminense que compreendem a faixa etria de 18 a 20 anos. No entanto, entre os homens, essa incidncia ocorre no dialeto carioca para os falantes que se encontram na faixa de 24 a 26 anos. Por outro lado, o diminutivo zinho apresenta maior aplicao entre as mulheres cariocas de 21 a 23 anos. Entretanto, os homens cariocas e fluminenses tambm empregam majoritariamente essa variante. Contudo, so os cariocas de 21 a 23 anos e os fluminenses com idades entre 24 e 26 anos que a utilizam com maior incidncia. Por ltimo, a variante inhozinho ocorre majoritariamente entre as mulheres cariocas de 21 a 23 anos, competindo com o sufixo zinho para as mesmas condies de uso, ou seja, entre as cariocas com idades que variam de 21 a 23 anos. No entanto, os homens no cariocas e no fluminenses, aqueles pertencentes a outros dialetos regionais, revelam maior incidncia de uso na faixa etria de 24 a 26 anos.

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    Teste Post-hoc

    importante salientar que o teste ANOVA apresenta informaes se h uma diferena global entre os grupos, mas no nos permite identificar quais mdias diferem entre si. Para isso, temos que utilizar uma anlise de comparaes mltiplas de mdias (par a par) a fim de examinarmos quais dos pares apresentam diferenas significativas entre si. Neste caso, investigamos quais dos grupos diferem dos demais para o fator diminutivo, visto que a hiptese conservadora (H0) de igualdade das mdias foi rejeitada. Assim, utilizamos o teste post-hoc (a posteriori) de Bonferroni para confirmar onde as diferenas ocorreram entre os nveis. Mais especificamente, visamos avaliar a diferena entre a atitude do falante e a escolha da forma diminutiva. O nvel de significncia adotado foi de 0,05

    O teste post-hoc de Bonferroni apresentou um ndice de significncia de aproximadamente zero (< 2e-16) para os pares inhozinho-inho e zinho-inhozinho, revelando que estes pares so significativamente diferentes (p < 0,05). Deste modo, pode-se evidenciar ainda que o produto inhozinho resultado da recursividade das formas inhoe zinho, que se estabelece direita do vocbulo, sendo o sufixo zinho sempre posterior a inho (vidinhazinha, passarinhozinho, bondinhozinho).

    Consideraes finais

    Este estudo teve como objetivo principal avaliar, por meio de juzos de aceitabilidade, a alternncia do diminutivo inho/-zinho no PB. Deste modo, foram apresentadas duas hipteses a fim de responder questo central desta investigao: trata-se de uma nica forma ou temos dois diminutivos distintos?

    Partindo das diferentes interpretaes conferidas ao fenmeno em estudo, esperar-se-ia que, diante de uma s forma diminutiva, houvesse convergncia entre os nveis nos casos de variao. Logo, na hiptese conservadora (H0) formulada, o formativo inho seria considerado como o nico morfema diminutivo e emergiria o segmento consonantal /z/ a fim de satisfazer as condies de boa formao estrutural (a evitao do hiato, a preservao da estrutura silbica da base e a preservao do acento marcado). Por outro lado, na hiptese inovadora (H1), o afastamento progressivo entre os nveis levar-nos-ia a admitir a existncia de duas formas distintas na lngua portuguesa, -inho e zinho. Considerou-se ainda uma hiptese secundria sobre a motivao da distribuio do diminutivo inho/-zinho no PB. Assim, na hiptese nula (H0), supomos que h interao entre os fatores sociais (dialeto regional, gnero e faixa etria) e a seleo do(s) sufixo(s) diminutivo(s) -inho/-zinho enquanto que, na hiptese alternativa (H1), admitimos que a(s) forma(s) diminutiva(s) em questo ocorreria(m) apenas por motivaes estruturais, sem interferncia de fatores sociais.

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    Tomando como ponto de partida as hipteses levantadas, os dados ento foram submetidos anlise de varincia multifatorial (ANOVA Multi Way), com nvel de significncia de 0,05. Deste modo, os resultados obtidos levam-nos a considerar a existncia de duas formas distintas na lngua portuguesa, visto que, para p > 0,05, a hiptese conservadora (H0) foi rejeitada. Nesse sentido, tal resultado corrobora, de modo semelhante, comoj foi referido na literatura por diferentes autores (LEITE, 1974; LEE, 1995; VILLALVA, 2000; BASLIO, 2004), a existncia de duas formas diminutivas distintas na lngua portuguesa, -inho(a) e zinho(a). No entanto, embora esses autores refiram-se a algum grau de variao, suas anlises restringem-se a aspectos estruturais, morfolgicos e fonolgicos, na distribuio e no comportamento desses formativos.

    A fim de explicar a relao dos fatores sociais e a distribuio dos formativos inho e zinho, a segunda hiptese formulada neste estudo revelou que, para p > 0,05, no h evidncia para rejeitarmos a hiptese nula (H0), ou seja, conclumos que h efeito de interao entre os fatores dialeto regional, gnero e faixa etria na seleo das formas diminutivas inho e zinho. Assim, se inho e zinho so sufixos distintos e ocorre interao entre os fatores sociais na distribuio das duas formas diminutivas, a questo a ser respondida : como os fatores sociais condicionam a escolha do falante por uma ou outra forma?

    Em resposta questo formulada, constatou-se que o formativo inho apresentou maior incidncia de uso entre as mulheres do dialeto fluminense que compreendem a faixa etria de 18 a 20 anos. Contudo, entre os homens, essa incidncia foi verificada no dialeto carioca para os falantes que se encontram na faixa de 24 a 26 anos. Por outro lado, o diminutivo zinho revelou maior aplicao entre as mulheres cariocas de 21 a 23 anos. No entanto, so os cariocas de 21 a 23 anos e os fluminenses com idades entre 24 e 26 anos que a utilizam com maior incidncia. Por ltimo, a variante inhozinho ocorreu majoritariamente entre as mulheres cariocas de 21 a 23 anos, competindo com zinho para as mesmas condies de uso, ou seja, entre as cariocas com idades que variam de 21 a 23 anos. Contudo,os homens no cariocas e no fluminenses, aqueles pertencentes a outros dialetos regionais, revelaram maior incidncia de uso na faixa etria de 24 a 26 anos.

    Neste caso, os resultados revelam tendncias de uso que explicam a escolha do falante dentre dois sufixos diferentes que podem expressar o diminutivo. Em outras palavras, a alternncia de escolha do sufixo diminutivo a ser usado conforme a situao de uso.

    FREITAS, M. A. de; BARBOSA, M. F. M. The alternation of the diminutive forms -inho/-zinho in Brazilian Portuguese: a variational approach. Alfa, So Paulo, v.57, n.2, p.577-605, 2013.

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    ABSTRACT: In this work, we will investigatethe alternation of the diminutive forms -inho/-zinho, delineating the factor that determines the choice of the speaker towards one or another formative in Brazilian Portuguese. More specifically, based on the assumptionsofthe VariationistSociolinguistics, we will analyze the productive aspect of diminutive formation in order to verify if we have one or more than one diminutive suffix, giving rise to two distinct processes, which are, respectively, X-inho e X-zinho formations. In this paper, we used multi-factor analysis of variance (ANOVA Multi Way) for repeated measures with 95% confidence limits, in order to evaluate if the choice of either suffix is determined by the effect of social factors (sex, age and regional dialect) and if there is convergence between the diminutive forms inho and/or zinho, measured by judgment test. The results reveal that there is evidence to admit the existence of two distinct diminutive forms in Brazilian Portuguese, -inho and zinho. Besides, the results indicate that there is an interaction among regional dialect, sex and age in the both choice of diminutive suffixes.

    KEYWORDS: Diminutive suffixes in Brazilian Portuguese. Word formation. Alternation. Linguistic variation.

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    Recebido em fevereiro de 2012

    Aprovado em novembro de 2012