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UNIVERSIDADE PARANAENSE – UNIPAR JULIANA MARCELLO PSICOLOGIA HOSPITALAR E OSTOMIA

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UNIVERSIDADE PARANAENSE – UNIPAR

JULIANA MARCELLO

PSICOLOGIA HOSPITALAR E OSTOMIA

CASCAVEL

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2015

JULIANA MARCELLO

PSICOLOGIA HOSPITALAR E OSTOMIA

Trabalho apresentado à disciplina de Estágio Supervisionado e Processos Clínicos do curso de Psicologia da UNIPAR – Universidade Paranaense, campus – Cascavel - PR.Professor (a): Fernanda Fagnani Soares.

CASCAVEL

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2015

INTRODUÇÃO

O trabalho tem como finalidade mostrar uma breve trajetória da psicologia hospitalar no

contexto histórico brasileiro, bem como a importância da psicologia em relação com a ostomia.

A psicologia surge dentro dos hospitais com intuito de sanar a pouca oferta de emprego no

país, abrindo um leque de possibilidades de atuação do psicólogo.

O que nos leva a pensar que não há como acontecer o tratamento terapêutico dentro da visão

psicanalítica nos hospitais? Assim, temos comprovado através de estudos e práticas que há uma

ampla aplicação da psicologia dentro de hospitais, como veremos no decorrer do trabalho.

Por fim, o trabalho apresenta a relação da psicologia com o hospital, e a necessidade do

psicólogo junto aos pacientes que estão frente à doença, bem como a ostomia.

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FUNDAMENTACAO TEÓRICA

O hospital vem primeiramente para exercer a caridade como prática do cristianismo com

locais isolados, onde pobres, mulheres desamparadas, velhos e doentes crônicos eram cuidados

por monges e religiosos. Assim, pacientes mais ricos se tratavam em casa, sem relação com

alguma instituição, somente paciente-médico. (CAMPOS, 1995)

Segundo Mosimann (2011) apud Lisboa (2002) o hospital, ao longo da sua história, tentou

ajustar-se às modificações, principalmente no que se refere às questões da diversidade de

funções, da complexidade e o desenvolvimento profissional dos atuantes da instituição.

(CASTRO, 2004)

“As políticas de saúde no Brasil são centradas no hospital desde a década de 40, em um

modelo que prioriza as ações de saúde via atenção secundária (modelo clínico/assistencialista), e

deixa em segundo plano as ações ligadas à saúde coletiva (modelo sanitarista)”. (CASTRO, p. 3,

2004)

De acordo com Campos (1995), enquanto os exploradores portugueses foram adentrando

no interior do Brasil, formando vilarejos, fundaram um hospital local para o atendimento dos

exploradores e colonizadores.

De acordo com Fossi (2004), na década de 1980, a situação econômica instável fez com

que o país obtivesse um mercado de trabalho saciado de profissionais liberais com pouca oferta

de emprego, fazendo com que os psicólogos adentrassem aos hospitais, dando início a um novo

modelo de trabalho. Sendo assim, estes psicólogos iniciaram atividades correlacionadas ao

funcionamento do hospital, criando novos serviços, buscando necessidades e firmando objetivos,

mostrando que a demanda hospitalar não era somente clínica, mas que este profissional deveria

dedicar-se para a instituição como um todo, desenvolvendo trabalhos referentes à seleção de

pessoal, treinamento de funcionários, avaliação etc.

Para Campos (1995) o hospital deve ser visto como parte da dinâmica atual do mundo,

juntamente com a comunidade, com a sociedade, o que ajuda a interferir na imagem e política de

atuação. Desta forma, o hospital é um prestador de serviço no campo assistencial, que previne

doenças e proporciona meios para pesquisas e ensino para promoção da saúde.

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Após o século XX, a psicologia inicia sua atuação referente às questões da saúde

biológica, sendo incluído na prática médica, possibilitando o trabalho relacionado aos aspectos do

funcionamento do organismo humano. (GORAYEB, 2003)

Para Campos (1995) doença física é acompanhada de manifestações psíquicas, o que por

consequência sofre alterações na interação social. Para ele a doença provoca, precipita ou agrava

desequilíbrios psicológicos, quer no paciente, quer na família.

A psicologia hospitalar tem construído sua história, passo a passo, considerando que há menos de duas décadas, a atuação do psicólogo em instituições hospitalares não estava regulamentada como uma ampla e necessária práxis psicológica. Os profissionais aventuraram-se por este caminho, mas muitos já o trilhavam, delineando os rumos desta área como a conhecemos hoje. (FOSSI, p. 1 2004)

Mosimann (2011) apud Simonetti (2004) afirma que a Psicologia hospitalar é área que

abrange aspectos psicológicos em torno do adoecimento, quando o sujeito carregado de

subjetividade se depara com o real, de natureza patológica, chamado de doença. Ainda, trata-se

de uma filosofia para além da cura, pois mesmo eliminando-se a dor física, os sintomas da

doença, ainda permanece, em alguns casos, a angústia, os traumas, as desilusões, os medos, as

fantasias deste paciente. Além de enfatizar a parte psíquica ela também enfatiza a parte física,

dando importância para ambas. Analisando sempre qual a reação psíquica diante da realidade

orgânica, qual a posição do sujeito diante desse real da doença, e assim fará seu material de

trabalho.

Castro (2004) apud Rodríguez-Marín (2003) elucida que a Psicologia Hospitalar é uma

complexidade em contribuições científicas, educativas e profissionais, que fornecem um melhor

amparo aos pacientes. O psicólogo aplica este conhecimento fornecido pela psicologia hospitalar,

tendo em vista à melhoria integral do paciente hospitalizado, sem se limitar ao tempo específico

da hospitalização. Seu trabalho é para a recuperação do estado de saúde do doente ou o controle

dos sintomas que prejudicam seu bem-estar.

“Embora o foco da psicologia hospitalar seja o aspecto psicológico em torno do

adoecimento, é sensato aceitar que aspectos psicológicos não existem soltos.” (MOSIMANN, p.

4, 2011)

Para Castro (p. 2, 2004):

De acordo com a definição do órgão que rege o exercício profissional do psicólogo no Brasil, o CFP (2003a), o psicólogo especialista em Psicologia Hospitalar tem sua função centrada nos âmbitos secundário e terciário de atenção à saúde, atuando em instituições de saúde e realizando atividades como: atendimento psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e unidade de terapia intensiva; pronto atendimento; enfermarias em geral; psicomotricidade no

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contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e interconsultoria.

De acordo com Mosimann (2011) a Psicologia Hospitalar abre um leque de possibilidades

para a psicologia, pois aparecem novos modelos de atendimento, assim questionando a realidade

institucional e a realidade interna do paciente, dando chance a estes sujeitos ali internados,

entendendo a dor de forma mais humana, onde os profissionais da saúde possam aprender a

escutar a angústia, o medo, a dor, enfim os sentimentos em torno deste adoecimento. Dá voz à

subjetividade do paciente, reintegrando seu lugar, acionando o processo de elaboração simbólica

do adoecimento, é a ponte que auxilia o paciente a atravessar seu estado de adoecimento.

“A pessoa quando busca um atendimento hospitalar, leva não só seu corpo para ser

tratado, mas vai por inteiro e, por extensão, atinge sua família, que participa de seu adoecer, suas

internações e seu restabelecimento.” (CAMPOS, p. 13, 1995)

Mosimann (p. 4, 2011) apud (Angerami-Camon, 2009, p. 139):

A Psicologia Hospitalar é o renovar do coração que vibra em ânsia antes e após cada cirurgia; é o renovar da família que sofre junto do paciente, sua dor, medo e angústia; é o esclarecimento dos sentimentos do profissional de saúde que se envolve com a dor do paciente e que, igualmente, sofre em níveis organísmicos a dor desse envolvimento. Pela ótica da Psicologia Hospitalar, o órgão enfermo é inserido no ser totalitário. De tal modo, se existe um movimento na filosofia, na psicologia, na psiquiatria e nas ciências humanas em geral para que seja abandonada a visão dualista mente-corpo, é sumamente na Psicologia Hospitalar que será encontrado o enfeixamento de compreensão do homem como um todo.

De acordo com Campos (1995) no âmbito hospitalar, o paciente pode não saber o que esta

acontecendo com ele, nem mesmo como seu corpo pode reagir e nem sequer como ajudar em sua

melhora. Muitas vezes, ele não quer apenas ser só examinado, mas ouvido, entendido em sua

linguagem oculta, e no atendimento psicológico isso pode acontecer, fazendo com que ele

perceba seu potencial. As queixas destes pacientes traduzem algo mais profundo, por vezes,

escondem o verdadeiro sentido de suas angústias, seu discurso é cheio de disfarces e defesas,

escondendo o seu mundo interior, mostrando-se através da psicoterapia desordens funcionais e

complexas.

O psicólogo deve entender o doente como um todo, cercado de interações sociais, fazendo

com que a investigação se torne algo consequentemente ao diálogo entre doente e o mundo.

Neste sentido, a observação e a expressão espontânea do doente guiam o psicólogo em sua

jornada, escutando as questões que determinam o seu mal estar, respondendo a um pedido de

socorro. Desta forma, é o paciente que irá dimensionar sua dor e angústia, e o psicólogo

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responderá com a intervenção adequada. Assim, deverá dialogar tanto com o paciente, familiares

e a comunidade hospitalar. (CAMPOS, 1995)

O ouvir e o sentir, assim como entender em profundidade o paciente é a tarefa primordial de todo profissional da saúde, sendo necessário que o paciente aja, intervenha, se manifeste e contribua efetivamente no processo de sua reintegração física, psicológica e social. O paciente precisa querer a sua saúde e aceitar a terapia, é um agente de sua saúde. (CAMPOS, p. 61, 1995) Muitas vezes aparece a negação, mecanismo de defesa contra a dor, tentativa de evitar o encontro com uma verdade capaz de trazer muito sofrimento. Pode a negação propiciar distúrbios do sono, agitação, fala compulsiva. É necessário estar atento ao desejo, as necessidades do paciente, estimulando-o a falar, se é disso que precisa, ou deixando-o calar, caso necessite. (CAMPOS, p. 69, 1995)

Para Angerami (2004) a prática do psicólogo dentro dos hospitais difere da prática no

consultório, pelo fato do limite institucional. O paciente no consultório tem o direito de aceitar ou

não o tratamento psicológico, o paciente no hospital perde este direito, pois seus desejos são

reprimidos, sua intimidade violada, e por vezes sua subjetividade é ignorada passando a ser visto

por um numero e não por seu nome. A partir das discussões nas orientações de estágio, observa-

se que, por vezes, os pacientes dizem não querer no momento o tratamento psicológico, dizendo

que não é necessário, ou que esta bem, ou até mesmo que não importante.

No recurso que preservamos do sujeito ao sujeito, a psicanálise pode acompanhar o paciente até o limite extático do “Tu és isto” em que se revela, para ele, a cifra de seu destino mortal, mas não esta só em nosso poder de praticantes levá-lo a esse momento em que começa a verdadeira viagem. (ZAHAR, p. 103, 1998)

Para Campos (1995) o psicólogo tem seu lugar no hospital geral, sua presença atuante é

importante, possível e necessária. Sua postura deve se vincular aos direitos humanos, respeitando

o paciente e seus familiares, visando à participação do próprio paciente no processo psicológico.

A partir das intervenções feitas pelos colegas, vê-se a necessidade e importância do psicólogo na

atuação junto a famílias, principalmente na ala pediátrica, por vezes, é preciso conversar com a

mãe ou algum responsável para estar a par da situação da criança. Ainda para Campos (1995) é

conveniente que o psicólogo cuide de seu preparo pessoal, buscando autoconhecimento e

atendimento psicoterápico. Enquanto profissional da saúde, tem papel clínico, social,

organizacional e educacional, com áreas de atuação que abrangem a psicologia preventiva e de

tratamento. Muitas das suas atividades podem ser estendidas a qualquer instituição nas áreas da

saúde, em setor ambulatorial ou de enfermaria, em atendimento de urgência ou mesmo em

hospitais especializados, feita as adaptações devidas. Como no estágio dos colegas, atuando

dentro do HU, prestam serviço psicológico na UCI pediátrica e neonatal, pediatria, ortopedia e

neuro, visando abranger as diversas áreas ofertadas dentro do hospital. Conforme os

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atendimentos, percebemos que eles tem eficácia, os estagiários conseguem, em alguns casos,

alcançar o objetivo da psicanálise, seja trazendo para a realidade, mostrando a finitude de seus

pacientes, apontando ambivalências nos discursos, enfim, são várias as formas de atuação do

psicólogo dentro da instituição hospitalar, segundo a visão da psicanálise.

Para Cascais (2006), dentro do hospital encontramos diferentes tipos de doenças, dentre

elas pacientes com câncer, com problemas no trato digestivo e entre outros. Neste caso, veremos

a seguir especificamente como é a pessoa que passou pelo procedimento da ostomia e faz uso da

bolsa coletora. A paciente I., do sexo feminino, com 64 anos de idade, passou a pouco tempo por

um câncer no reto e intestino, fazendo-se necessário a extração do órgão e o uso da bolsa

coletora, ao ser atendida ela conta as dificuldades encontradas em sua nova vida, suas novas

adaptações frente a nova condição, a vida com a ostomia, mostrando-se insatisfeita com o novo

corpo e a vida social limitada. Sendo assim, a ostomia é um procedimento cirúrgico, onde ocorre

a retirada de uma parte do tubo digestivo, fazendo abertura de um orifício externo, que se chama

estoma, desviando as fezes para a bolsa.

Para Barbutti (2008) a ostomia ou estoma atribui-se a uma abertura cirúrgica no abdômen,

onde aparece parte do intestino, através de uma abertura, desviando gases e fezes para a bolsa

externa, podendo ser temporário ou definitivo, sendo que a consistência e a utilização da bolsa

coletora varia de acordo com a intervenção cirúrgica realizada. Para o autor existe a colostomia

(intestino grosso) e a ileostomia (intestino fino), que faz a ligação do intestino delgado com o

exterior. Sendo assim, quanto mais acima for à exteriorização do intestino, mais complicada é a

digestão e a absorção de água e nutrientes, necessitando de dieta específica, prevenindo gases,

odores, constipação e diarréia. A paciente I. possui a ostomia descendente, onde suas fezes são

excretadas sob forma pastosa sem controle da saída e sem que ela perceba, a mesma conta que se

sente mal ao sair de casa, pois sente que a bolsa, por mais que trocada todos os dias, exala cheiro

não muito agradável, o que a deixa insatisfeita com a situação.

São várias as razões pelas quais uma pessoa pode necessitar sofrer uma cirurgia que objetive construir um novo caminho para que as fezes possam ser expelidas pelo organismo: patologias crônicas, doença de Chagas, doença de Chron, câncer, acidentes, entre outras. Importante notar que o segmento do cólon a ser exteriorizado dependerá do local do intestino que foi comprometido. (BARBUTTI, p. 1, 2008)

No que se refere ao estado psíquico destes pacientes, Cascais (2006) afirma que os

sentimentos advindos deste estado são resultantes de grandes transformações e perdas decorrentes

da existência do estoma, sofrendo alterações fisiológicas, psicológicas, emocionais e sociais,

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sendo que este sujeito perde algum órgão, priva-se do controle fecal, perde a autoestima, altera a

imagem corporal, o status social, isola-se da sociedade, sente-se inútil, passa pela depressão,

sente inaceitação, sente alteração na dinâmica familiar, perde a libido em alguns casos, sente-se

preocupado com a eliminação de odores e fezes, diminuição ou até deterioração da qualidade de

vida e entre outras tantas questões. A paciente I. conta que logo após a intervenção cirúrgica e o

uso da bolsa, além de passar por situações não agradáveis, referentes ao cheiro e a vida social

limitada, passou a ficar mais irritada com seus familiares, sendo que é algo que a incomoda, pois

antes era muito querida e “passava a mão na cabeça de seus netos e filhos”, e que hoje ela já não

consegue levar “tudo numa boa”, assim logo após suas discussões ela se sente “mal” com a

situação.

Para Barbutti (2008) o paciente que se submete a esta intervenção cirúrgica, a ostomia,

enfrenta várias modificações no seu dia-a-dia, relacionado ao sofrimento, a dor, a deteriorização,

incertezas quanto ao futuro, mitos relacionados a ele, medo da rejeição, entre outros.

De acordo com Cascais (2006) o psicólogo hospitalar deve observar as transformações

ocorridas na vida desta pessoa e como ela vivencia essa experiência, para que possa prestar o

apoio necessário, assim com o tempo e juntamente com as intervenções psicológicas a pessoa

ostomizada desenvolve estratégias de enfrentamento, lidando com os problemas e alterações

ocorridas devido à ostomia.

O acompanhamento psicológico destes pacientes ostomizados é fundamental, pois este terá que lidar com as transformações resultantes da ostomia, causadora de grande impacto, desde a perda de um órgão altamente valorizado até a conseqüente privação do controle fecal e de eliminação de gases. O paciente submetido a esse tipo de procedimento, tão  agressivo, que altera tanto  sua fisiologia gastrintestinal, quanto sua auto-estima, imagem corporal, sexualidade, além de milhares de outras modificações em sua vida, tem constituído um desafio para que os cuidadores da equipe multidisciplinar que  o atendem. (BARBUTTI, p. 2, 2008)

Para Barbutti (2008) o psicólogo neste caso intervirá na comunicação da tríade, paciente,

médico e família, atuará na compreensão e esclarecimento das questões psicológicas, auxiliará

nos aspectos do enfrentamento desta situação. No entanto, mesmo que consiga encobrir sua

condição sob as roupas, o paciente com ostomia pode sentir-se diferente dos outros, a alteração

da imagem corporal faz com que surjam diversas questões, e é aqui também que o psicólogo

atuará, buscando juntamente com o paciente, meios de enfrentamento destas situações, que

podem trazer danos psicológicos.

O uso da bolsa coletora pode representar a mutilação sofrida, e relacionar-se diretamente com a perda da capacidade produtiva do paciente, assim como significa uma denunciadora de sua falta de controle sobre as eliminações fisiológicas, sobre seu corpo,

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beleza física e saúde. Estar ostomizado implica não só no uso desta bolsa, mas numa nova imagem corporal que precisa ser reconstruída. Este é um processo ao mesmo tempo subjetivo, coletivo/social, e de profundas reflexões sobre a convivência com uma ostomia. (BARBUTTI, p. 4, 2008)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho, procurou-se esclarecer a entrada da Psicologia hospitalar no Brasil,

a importância do Psicólogo no âmbito hospitalar, a instituição como um lugar para doentes e

doenças, a relação com a ostomia e a psicologia, qual o papel do psicólogo na atuação destes

pacientes adoentados.

Nota-se que a Psicologia surge dentro dos hospitais por necessidade, ao ver a importância

deste profissional atuando juntamente com a equipe médica, torna-se cada dia mais necessário a

sua inserção para intervenção junto aos pacientes acamados e verifica-se também os resultados

positivos quando o psicólogo atua junto com a comunidade hospitalar.

Este lugar de escuta, com a atenção flutuante, deixando que a associação livre do paciente

deixe-se seguir, faz com que o tratamento psicanalítico siga ser percurso, o de adentrar as

camadas inconscientes do paciente, e que através dos significantes, o psicólogo atuará de forma

que o próprio paciente consiga enfrentar suas dificuldades.

O paciente na situação em que esta, esta mais sensível e suscetível aos abalos da sua

história, e é ali, neste momento tão delicado que o profissional da psicologia fará suas

intervenções, mas especificamente neste caso, intervenções da psicanálise.

Os pacientes adoecidos nessas instituições de saúde, mostram-nos diversas patologias,

porém o trabalho buscou apresentar aspectos referentes a pessoas com ostomia, que se utilizam

da bolsa coletora. Desta forma, por uma doença, o paciente ostomizado passa por intervenção

cirúrgica e inicia o uso da bolsa coletora, seja por tempo indeterminado ou permanente, e começa

uma nova vida, passando por uma grande transformação, seja psicológica, social e física.

Assim, torna-se necessária a atuação psicológica neste momento tão delicado, e vemos

através de pesquisas e estudos o quão importante são essas intervenções, principalmente o a da

escuta e acolhimento, não tão menos importante intervenções que o tragam para a realidade,

trabalhando com questões referentes a doença, mas também se necessário e caso o paciente traga

questões referentes a sua vida fora do hospital, fora da doença, ou seja, situações da vida diária,

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com seus familiares, com seus amigos, enfim, o papel do psicólogo é de atuar juntamente com a

paciente.

Por fim, segue uma breve confissão da atuação de uma psicóloga no contexto hospitalar, é

a descrição do caso de um menino com câncer que teve a oportunidade da escuta clínica na beira

do leito, afirmando a partir da história a eficácia da escuta clínica no hospital. Ribeiro (2013, p.

2):

Rodrigo, uma criança de 12 anos, magérrima, que é portadora de um sarcoma e estava em tratamento quimioterápico, internada em um hospital de Belo Horizonte, porque apresentara picos de febre após suas sessões de quimioterapia. No momento em que a estagiária entra no quarto, Rodrigo estava sentado junto de sua mãe, assistindo televisão. Chamou a atenção sua cabeça raspada e uma cicatriz enorme em seu braço direito. Rodrigo diz, sem demora o motivo de sua internação, que tem um sarcoma e faz tratamento de quimioterapia. De forma muito positiva, fala, insistindo sempre, que está tudo bem. E ao ser perguntado sobre como estava sendo a internação, mais uma vez Rodrigo insiste em dizer “ta tudo ótimo, estou bem!” Percebemos aqui um traço claro de resistência em Rodrigo para falar sobre sua doença e toda a angústia que ela implica. Segundo Maurano (2006, p. 19), o analista analisa a transferência, lugar onde aparecem as resistências, que, quando são acolhidas, podem ser trabalhadas. O paciente resiste em se abrir e não dizer sobre si. Não acreditando que estava tudo bem com Rodrigo, a estagiária decide insistir um pouco mais. Sua mãe, que até então acompanhava a conversa, levanta-se dizendo que iria dar uma volta, e que Rodrigo poderia se sentir mais à vontade para falar em sua ausência. Rodrigo segue seu relato contando sobre como sua mãe percebeu o “caroço” em seu braço, em novembro de 2007, mas só em março deste ano descobriu que estava com câncer. Apesar de seus pais já saberem desse diagnóstico, Rodrigo diz que não ligava a palavra sarcoma a câncer, e que isso começou a fazer sentido para ele quando percebeu seus cabelos caindo. Ao ser perguntado pela estagiária como foi a sensação dos cabelos caindo, Rodrigo diz que sempre quis raspar os cabelos e que para ele o pior são os enjôos causados pela quimioterapia. Rodrigo diz à estagiária como foi difícil escutar dos médicos que teria de amputar o braço e, de forma autoritária, se opôs dizendo que jamais faria isso. A idéia de amputar um dos membros do corpo é recebida por Rodrigo com horror. A angústia de castração é agora experienciada no medo de se perder uma parte do corpo. O conceito de castração (…) designa uma experiência psíquica completa, inconscientemente vivida pela criança por volta dos cinco anos de idade, e decisiva para a assunção de sua futura identidade sexual. O aspecto essencial dessa experiência consiste no fato de que, pela primeira vez, a criança reconhece, a preço da angústia, a diferença anatômica dos sexos. (NÁSIO, 1997, p.13). A criança, que até então vivia a sensação de onipotência, depara-se com a castração e percebe que o corpo tem limites. Essa experiência não é única, será revivida e renovada ao longo de nossas vidas. Rodrigo fala sobre como seus pais receberam a notícia de sua doença e, de forma emocionada, conta que ver a tristeza nos olhos de seu pai foi o mais difícil, “eu sou o xodó do meu pai!”, diz ele. O braço de Rodrigo, que até então permanecia imóvel, se ergueu para enxugar as lágrimas silenciosas. Segue o silêncio. Há uma ferida narcísica, na qual o ideal de um filho saudável se desfez, com a constatação do corpo doente.Nesse momento, a dor e a angústia de Rodrigo, perante o seu adoecimento, puderam ser ditas a partir de uma transferência estabelecida entre a estagiária e Rodrigo. Há um acolhimento desse sujeito, que, para suportar sua angústia, decide encarar o adoecimento de outra forma, não se deixando esmorecer. Contudo algo subjetivo dessa dor precisava ser simbolizado e falado. Rodrigo, em uma única sessão, pôde falar. Falar de suas dores, de sua doença, significar, re – significar. Percebemos que não em função de um tempo cronológico, mas, apesar dele, o tempo do sujeito pôde emergir. De acordo com Quinet

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(1951), é no atendimento breve que acontecem as entrevistas preliminares, no qual se torna possível fazer uma retificação subjetiva, como uma interpretação do analista. Quinet (1951, p.32) esclarece que “na retificação subjetiva há, portanto, a introdução da dimensão ética – da ética da psicanálise, que é a ética do desejo – como resposta à patologia do ato que a neurose tenta solucionar escamoteando-a.” Segundo o autor, o analista, por meio da fala do sujeito, aponta a importância da responsabilização das suas escolhas e de como ele está submetido ao desejo do Outro. Nossos pacientes não vivenciam um processo analítico clássico, mas sabemos dos efeitos que a escuta analítica pode produzir, principalmente em momentos de urgência em que o sujeito elabora parte de sua história, ressignificando-a (GRANHA, 1996, p.105). Na tentativa de fazer emergir um sujeito, o analista intervém, oferecendo sua escuta para que esse possa transformar a urgência psíquica em demanda, e assim poder elaborar suas questões subjetivas”.

ki

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REFERÊNCIAS

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