Artigo nágela

24
PEQUENOS MUNICÍPIOS NO SUDESTE GOIANO: um estudo sobre os seus aspectos sócio-econômico Nágela Aparecida de Melo 1 Beatriz Ribeiro Soares 2 Resumo O presente trabalho faz parte de um projeto em desenvolvimento que estuda a questão das pequenas cidades vista pelo recorte espacial da microrregião geográfica de Catalão (GO), tendo como objetivo compreender a formação espacial, as funções, o significado e as relações destas na rede urbana regional. Nesse sentido, este artigo trata de um dos pontos discutidos na pesquisa indicada. Tem o objetivo de analisar os aspectos sócio-espaciais e as mudanças processadas nos municípios de Anhanguera, Corumbaíba, Cumari, Davinópolis, Goiandira, Ipameri, Ouvidor, Nova Aurora e Três Ranchos. Este trabalho está em fase de desenvolvimento, portanto, não serão apresentados os resultados finais e sim reflexões iniciais sobre a área em estudo para abrir um debate com outros pesquisadores. Palavras-chave: pequenas cidades; formação espacial; urbanização; desenvolvimento econômico. Introdução Este trabalho tem como objetivo analisar os aspectos sócio-espaciais e as mudanças processadas a partir da década de 1970 nos municípios de pequeno porte da microrregião geográfica de Catalão. Este assunto faz parte

Transcript of Artigo nágela

Page 1: Artigo nágela

PEQUENOS MUNICÍPIOS NO SUDESTE GOIANO: um estudo sobre os

seus aspectos sócio-econômico

Nágela Aparecida de Melo1

Beatriz Ribeiro Soares2

Resumo

O presente trabalho faz parte de um projeto em desenvolvimento que estuda aquestão das pequenas cidades vista pelo recorte espacial da microrregiãogeográfica de Catalão (GO), tendo como objetivo compreender a formaçãoespacial, as funções, o significado e as relações destas na rede urbanaregional. Nesse sentido, este artigo trata de um dos pontos discutidos napesquisa indicada. Tem o objetivo de analisar os aspectos sócio-espaciais e asmudanças processadas nos municípios de Anhanguera, Corumbaíba, Cumari,Davinópolis, Goiandira, Ipameri, Ouvidor, Nova Aurora e Três Ranchos. Estetrabalho está em fase de desenvolvimento, portanto, não serão apresentadosos resultados finais e sim reflexões iniciais sobre a área em estudo para abrirum debate com outros pesquisadores.

Palavras-chave: pequenas cidades; formação espacial; urbanização;desenvolvimento econômico.

Introdução

Este trabalho tem como objetivo analisar os aspectos sócio-espaciais e as

mudanças processadas a partir da década de 1970 nos municípios de

pequeno porte da microrregião geográfica de Catalão. Este assunto faz parte

Page 2: Artigo nágela

de uma das temáticas discutidas em um projeto de pesquisa em

desenvolvimento que trata sobre a questão das pequenas cidades vista pelo

recorte espacial da microrregião geográfica de Catalão (GO), e tem como

objetivo compreender a formação espacial, as funções, o significado e as

relações destas na rede urbana regional.

O trabalho está sendo desenvolvido com base em revisão bibliográfica sobre

formação sócio-econômica da área em estudo, conceitos geográficos como

lugar, espaço, território, rede urbana, urbanização, formação espacial entre

outros. Estão sendo realizados também levantamento e análise de dados

estatísticos sobre os aspectos sociais e econômicos da área em estudo, bem

como documentação direta para levantamento de dados primários por meio de

entrevistas e questionários.

A área de estudo é formada pelos municípios da microrregião geográfica de

Catalão (GO), com população urbana de até 20 mil habitantes, segundo o

censo demográfico do IBGE de 2000 (Tabela 01; Mapa 01).

2

Page 3: Artigo nágela

Tabela 01 - Municípios da microrregião de Catalão (GO) com

população urbana de até 20 mil habitantes, população total e urbana,

2000.

MunicípioPopulação, 2000

Total UrbanaAnhanguera (GO) 895 840Campo Alegre de Goiás (GO) 4.528 2.871Corumbaíba (GO) 6.655 4.855Cumari (GO) 3.105 2.301Davinópolis (GO) 2.109 1.294Goiandira (GO) 4.967 4.199Ipameri (GO) 22.628 18.840Nova Aurora (GO) 1.927 1.663Ouvidor (GO) 4.271 3.384Três Ranchos (GO) 2.831 2.276Fonte: IBGE, 2004. Org. MELO, 2004.

3

Page 4: Artigo nágela

4

Page 5: Artigo nágela

A microrregião de Catalão faz parte de mesorregião Sul Goiano3, localiza-se na

porção sudeste do estado e é formada por onze municípios, tendo Catalão

como sede e única cidade que excede o total de 20 mil habitantes,

considerada por Deus (2003) com um “pólo regional”.

A área de investigação está delimitada com base no recorte territorial municipal

(Mapa 01), pois para a compreensão dos aspectos históricos, sociais,

econômicos e espaciais dos núcleos em estudo, faz-se necessário considerar

as relações intra e inter-urbanas e as processadas entre o campo e a cidade,

bem como as ações políticas dos atores sociais locais. Por outro lado,

trabalhar com a escala municipal facilita o levantamento, comparação e análise

de dados censitários.

O limite populacional de até 20 mil habitantes urbanos se justifica, inicialmente,

por se tratar de um estudo que tem como eixo central a preocupação de

analisar cidades de pequeno porte, no entanto, não significa uma conceituação

ou definição de parâmetros classificatórios para as localidades em estudo.

Outro fator a ressaltar é que, apesar do foco de análise não estar direcionado

para o município de Catalão, este provavelmente será considerado na

pesquisa à medida que analisarmos o processo de formação dos municípios

em estudo e ao identificarmos a estrutura da rede urbana em que as cidades

se inserem.

5

Page 6: Artigo nágela

1 - Formação dos municípios de pequeno porte da microrregião

geográfica de Catalão.

Os municípios que compõem a área de estudo foram constituídos a partir de

fragmentações territoriais (diretas ou indiretas) do município de Catalão (GO),

sendo a primeira ainda no século XIX, com emancipação de Ipameri e as

demais, no século XX. Os municípios de Cumari, Anhanguera e Campo Alegre

se formaram a partir de emancipações indiretas de Catalão, sendo originários

de territórios já emancipados (Tabela 02; Figura 01).

Tabela 02 - Municípios da microrregião de Catalão (GO) segundo o

ano de fundação.

MunicípioData de

FundaçãoMunicípio de Origem

Catalão (GO) 1834 Santa Cruz de GoiásIpameri (GO) 1870 CatalãoCorumbaíba (GO) 1912 CatalãoGoiandira (GO) 1931 CatalãoCumari (GO) 1947 GoiandiraAnhanguera (GO) 1953 CumariCampo Alegre de Goiás(GO)

1953

IpameriNova Aurora (GO) 1953 GoiandiraOuvidor (GO) 1953 CatalãoTrês Ranchos (GO) 1953 CatalãoDavinópolis (GO) 1963 CatalãoFonte: IBGE, 2000.Org. MELO, 2004.

6

Page 7: Artigo nágela

Figura 01 - Dinâmica territorial da área da microrregiãogeográfica de Catalão no período de 1834 a 2005.

1834 – 1857 1858 – 1862

1863 – 1869 1870 - 1911

1912 - 1930 1963 - 2005

7

- 4 9

- 4 9

- 4 8

- 4 8

- 4 7

- 4 7

- 1 8 - 1 8

- 1 7 - 1 7 N

1 0 0 1 0 K i l o m e t e r s

-49

-49

-48

-48

-47

-47

-18 -18

-17 -17

N

8 0 8 Kilometers

- 4 9

- 4 9

- 4 8

- 4 8

- 4 7

- 4 7

- 1 8 - 1 8

- 1 7 - 1 7

7 0 7 1 4 K i l o m e t e r s

N

-49

-49

-48

-48

-47

-47

-18 -18

-17 -17

N

10 0 10 Kilometers

Page 8: Artigo nágela

1949 – 1952 1953 - 1962

1963 - 2005

A porção sudeste do estado de Goiás, onde estão localizados os municípios

da área de estudo, teve seu processo de ocupação e povoamento iniciado por

8

-49

-49

-48

-48

-47

-47

-18 -18

-17 -17

10 0 10 20 Kilometers

N

-49

-49

-48

-48

-47

-47

-18 -18

-17 -17

10 0 10 20 Kilometers

N

-49

-49

-48

-48

-47

-47

-18 -18

-17 -17

N

7 0 7 14 Kilometers

-49

-49

-48

-48

-47

-47

-18 -18

-17 -17

7 0 7 14 Kilometers

N

-49

-49

-48

-48

-47

-47

-18 -18

-17 -17

7 0 7 14 Kilometers

N

Page 9: Artigo nágela

volta do século XVIII, com passagens de bandeiras4 e mais especificamente

no século XIX com a expansão de mineiros e paulistas5 para além das

regiões de mineração, formando núcleos de povoamento com a implantação

de pontos de pouso para tropas, boiadas e homens (boiadeiros, viajantes em

geral, mascates), garimpos, fazendas tradicionais e fundação de patrimônios.

Porém, o impulso urbanizador nessa área tem como marco as primeiras

décadas do século XX, a partir da implantação da Rede Ferroviária de Goiás,

que interligou o território goiano a região sudeste do país. Nesse contexto, o

Brasil estava ainda vivenciando os esforços iniciais para a mecanização do

espaço brasileiro que se iniciou no litoral, possibilitada pela dinâmica

econômica da produção cafeeira e atingiu o sertão (interior de São Paulo,

Minas Gerais e Goiás), promovendo e intensificando relações mercantis no

interior do país.

Conforme explicou Borges (1990, p. 55),

no começo do século [XX], uma das condições indispensáveis parao capital expandir sua frente pioneira rumo ao Centro-Oeste seria aimplantação de uma infra-estrutura de transporte que possibilitassea ligação dessa região ao Centro-Sul. [...] o próprio capital seencarregou de construir, [...] a primeira via de transporte modernopara o Centro-Oeste: a Estrada de Ferro de Goiás.

A porção sudeste do estado de Goiás foi incorporada a “economia nacional”

com a extensão dos trilhos da ferrovia Mogiana, formando a Estrada de Ferro

de Goiás que atingiu os territórios de Catalão e Ipameri em 1913, chegando

até Anápolis em 1935 e Goiânia em 1952.

Até a chegada dos trilhos da linha férrea, a área que forma a microrregião de

Catalão era constituída apenas pelos municípios de Catalão (1833) e Ipameri

(1870).

9

Page 10: Artigo nágela

A ferrovia teve um importante papel na dinamização econômica, social e

cultural do sudeste de Goiás e do próprio estado. Conforme evidenciou

Borges (1990, p. 87), a ferrovia goiana foi “resultado do processo de

modernização a nível nacional e ao mesmo tempo um dos agentes

modernizadores e integradores da economia do estado à divisão regional do

trabalho, redefinida segundo os interesses da expansão capitalista”.

A ferrovia impulsionou o processo de povoamento e urbanização na porção

sudeste de Goiás. Cidades e municípios como Anhanguera, Cumari, Ouvidor,

Goiandira, Urutai, Pires do Rio, Vianópolis, Bonfinópolis e Senador Canedo,

se formaram com os impulsos sócio-econômicos proporcionados pelos trilhos

de ferro. De outro lado, cidades como Catalão, Ipameri, Orizona, Silvânia,

Leopoldo de Bulhões e Anápolis, tornaram-se mais dinâmicas. Povoados já

existentes como, Corumbaíba, pela proximidade a estação uma estação

férrea, também adquiriram condições para o desenvolvimento da produção

agrícola e pecuária para comercialização no mercado regional.

Essas mudanças ocorreram, sobretudo, pela economia gerada a partir da

instalação da ferrovia, pois, as relações comerciais passaram a ocorrer de

forma mais facilitada pela presença do meio de transporte (trem-de-ferro) e

pelas possibilidades de mercado consumidor na região Sudeste do país.

Houve na área em questão o desenvolvimento da agricultura comercial e de

unidades de beneficiamento de produtos agropecuários.

De acordo com Borges (2000, p. 41),

O trem-de-ferro – simbolizado na maria-fumaça – com seu silvoestridente e cauda em aço, emplumada em fumaça, serpenteandopelos sertões, despertava Goiás de séculos de isolamento etransformava a paisagem regional através de um processo dialéticomarcado pela destruição/reconstrução do espaço.

10

Page 11: Artigo nágela

Entretanto, a estrada de ferro no Brasil, apesar da sua importância

econômica, não fez parte dos “projetos modernizantes” do século XX. A

política econômica brasileira orientada pela perspectiva do desenvolvimento

urbano-industrial, delineada desde os anos de 1930, apoiou-se no

rodoviarismo como o elemento integrador do vasto território nacional e como

meio principal de transporte de mercadorias e pessoas.

Após 1940, com o aprofundamento da crise do transporte ferroviário, os

núcleos goianos formados e ou dinamizados pelos impulsos sócio-econômicos

viabilizados pela ferrovia, passaram por processos de estagnação, decréscimo

econômico e redução do contingente demográfico.

Assim, conforme afirmou Borges (2000, p. 99),

o sudeste goiano, favorecido pela posição geográfica e pelapenetração de vias de transportes, foi a primeira região a integrar-seà produção comercial de produtos agrícolas como o arroz, logoentrou num processo de crise econômica até a decadência. Após1940, registrou-se uma acentuada queda na produção agrária daregião. Cidades como Catalão, Ipameri e Pires do Rio, quecresceram com a chegada dos trilhos e com o desenvolvimentoagropecuário, estagnaram-se com a queda na produção delavouras.

No contexto da política nacional estava também estabelecida, desde 1930, a

preocupação com a incorporação à economia nacional dos espaços do

território brasileiro localizados na porção oeste do país. Nesse sentido, a

ferrovia não constituiu no único empreendimento dinamizador da economia

goiana, no século XX.

Ocorreram, especificamente, a partir da segunda metade do século XX,

intensas modificações em toda a região Centro-Oeste brasileira que afetaram

a organização sócio-espacial da área em estudo. Os principais marcos de

11

Page 12: Artigo nágela

intervenções podem ser identificados com a construção de Brasília (DF) e a

implantação de rodovias integrando a nova capital federal às demais regiões

brasileiras; os programas de desenvolvimento regional da Superintendência

do Desenvolvimento Econômico do Centro-Oeste (SUDECO) e a

modernização agrícola, bem como os investimentos públicos e privados para

a implantação de agroindustriais, indústrias, e produção mineral, entre outros.

Em síntese as ações estatais e privadas na região dos cerrados brasileiros

promoveram reorganizações no espaço regional goiano.

2 – Os municípios de pequeno porte da microrregião geográfica de

Catalão na segunda metade do século XX.

A “região da estrada de ferro”, sobretudo a área do entorno de Catalão, no

contexto da segunda metade do século XX, vivenciou percursos marcados

inicialmente pela perda de expressividade econômica e populacional. Os

municípios de Catalão e Ipameri que nos anos de 1920 eram importantes

produtores agrícolas, núcleos de concentração populacional e de intensas

relações mercantis, estagnaram nas décadas de 1940 e 1950. Em alguns

outros municípios o processo de crise se prolonga até a contemporaneidade.

Muitos permanecem integrados à produção pecuarista que aos poucos vem

se modernizando, mas sem grandes investimentos.

O município de Catalão, por exemplo, integrou-se em um processo de

diversificação econômica, sobretudo, pós 1970, passando a produzir

horticulturas, grãos, minérios e mais recentemente, a partir dos anos de 1990,

tem se destacado no cenário da economia estadual com a produção de

confecções têxteis, indústria mineradora, montagem de automóveis e com a

12

Page 13: Artigo nágela

indústria de máquinas agrícolas, no setor de serviços vem se diferenciando

pela oferta de cursos de nível superior e formação técnica de mão-de-obra.

Conforme dados da SEPLAN (2005), Catalão ocupou no ano de 2000 o

terceiro lugar no ranking do PIB industrial do estado de Goiás e está

classificado nos demais setores econômicos entre os 15 maiores PIB.

Por outro lado, municípios de menor porte como Goiandira e Cumari,

emancipados ainda até a primeira metade do século XX, trilharam pelos

caminhos das crises mais prolongadas, apresentando decréscimo do

contingente populacional nos anos de 1970,1980 e 1990 (Tabela 03).

Tabela 03 - Microrregião de Catalão: população total, 1970 a 2000,anos selecionados.

População total Freqüência (%)Municípios 1970 1980 1991 2000 1970/80 1980/91 1991/00

Anhanguera 1.081 716 869 895 -33,76 21,37 3,00Campo Alegre 4.457 4.380 4.536 4.528 -1,72 3,56 -0,18Catalão 27.338 39.168 54.525 64.347 43,27 39,21 18,00Corumbaíba 7.488 5.906 5.529 6.655 -21,13 -6,38 20,36Cumari 4.977 3.775 2.883 3.105 -24,15 -23,63 -7,70Davinópolis 3.205 2.449 2.118 2.109 -23,60 -13,51 -0,42Goiandira 6.033 5.718 5.368 4.967 -5,22 -6,12 -7,47Ipameri 20.518 20.338 20.794 22.628 -0,88 -2,24 8,82Nova Aurora 2.166 1.927 1.845 1.927 -11,03 -4,25 4,44Ouvidor 3.928 3.441 3.703 4.271 -12,39 7,61 15,34Três Ranchos 3.248 2.259 2.260 2.831 -30,45 0,04 25,26Fonte: IBGE, 1970, 1980 apud DEUS, 2002, p. 55. PNUD; IPEA; FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil, 2003.Org.: MELO, 2005.

Os municípios criados na segunda metade do século XX, ou seja,

Anhanguera, Campo Alegre de Goiás, Davinópolis, Nova Aurora, Ouvidor e

Três Ranchos, alguns desses que também tiveram origem nos povoados

13

Page 14: Artigo nágela

constituídos pela implantação de estações ferroviárias, não seguiram

percursos diversos dos demais municípios, apesar das especificidades de

cada um.

No conjunto pode-se destacar as especificidades do município de Anhanguera

que apresentou perdas intensas no contingente populacional nos anos de

1970 e baixo crescimento populacional nas décadas subseqüentes. Ao

considerar a relação entre a população residente em 1970 e 2000, percebe-se

que houve uma redução de 17,20%6 do número total de habitantes nesse

município, ao longo dos 30 anos (Tabela 03).

Na década de 1970 o município de Anhanguera teve parte do seu território

inundado pela construção do reservatório de Itumbiara, cerca de 16,36% da

sua área total (ANEL, 2004). Esse empreendimento não promoveu o

desenvolvimento de outras atividades econômicas no município.

Na composição da estrutura produtiva do município de Anhanguera do ano de

2000 a agropecuária representou cerca de 16% do PIB municipal e o setor de

serviços 76%. (SEPLAN, 2005), no entanto, os valores representam uma

economia municipal frágil, pois, apresentou em 2000 o menor índice de

participação na composição do produto interno bruto entre os municípios da

microrregião (Tabela 04).

Tabela 04 - Municípios da microrregião geográfica de Catalão:participação no PIB estadual, valor do PIB municipal e PIB per capita

em 2000.

Microrregião/Município Participaçã

o (%) PIB

(R$ mil)PIB per

capita (R$)Microrregião de Catalão 4,25 920.747,00 7.786,00Catalão 2,78 601.423,00 9.347,00Ipameri 0,52 112.410,00 4.968,00Corumbaíba 0,29 63.495,00 9.541,00Ouvidor 0,23 48.884,00 11.446,00

14

Page 15: Artigo nágela

Campo Alegre de Goiás 0,21 44.954,00 9.928,00Goiandira 0,07 15.956,00 3.212,00Cumari 0,05 11.073,00 3.566,00Três Ranchos 0,03 7.153,00 2.527,00Davinópolis 0,03 6.663,00 3.159,00Nova Aurora 0,03 6.393,00 3.317,00Anhanguera 0,01 2.343,00 2.618,00Estado de Goiás 100 21.665.000,00 4.330,00

Fonte: SEPLAN-GO, 2005. Contas regionais municipais-2003. Org.: MELO, 2005.

Da mesma forma a cidade não tem apresentado vitalidade urbana, tendo a

sua população que recorrer constantemente a outros centros para o

atendimento de várias de suas necessidades, muitas consideradas como

básicas.

O município de Campo Alegre de Goiás na sua trajetória histórica específica,

mas inserido no mesmo contexto regional, também vem apresentando

crescimento populacional negativo (1991/2000), porém, esse aspecto não

deriva diretamente de decréscimo da economia local. O município integrou-se

ao processo de modernização agrícola nos anos de 1980 e passou a produzir

monoculturas mecanizadas de soja e milho. O mesmo participou na

composição do PIB (Produto Interno Bruto) da microrregião de Catalão, do

ano de 2000, na posição de quinto maior e apresentou também o segundo

maior PIB per capta (Tabela 04). A agropecuária é a principal atividade,

participa com cerca 68,23% do valor total do PIB municipal (SEPLAN, 2005).

Destaca-se nesse aspecto a produção agrícola mecanizada

15

Page 16: Artigo nágela

A cidade de Campo Alegre está estruturada com equipamentos urbanos

básicos inclusive com um setor de comércio e serviços para o atendimento

imediato das necessidades menos especializadas do consumo produtivo

agrícola, conta, portanto, com empresas de comércio de sementes,

implementos agrícolas, peças, combustíveis e de assistência técnica, além de

serviços de armazenagem e comercialização de grãos, agência bancária,

cooperativa rural, sindicato rural, e serviços públicos da Agencia Rural do

Estado de Goiás, conforme pode ser observado no quadro 01. Entre as

empresas ligadas ao setor agropecuário destacam-se empresas de

armazenagem e comercialização de grãos como a Cargill S. A. e Caramuru

Armazéns Gerais.

Ipameri também tem apresentado um processo de diversificação econômica,

apesar de que em menor intensidade que Catalão, mas que já apresenta

reflexos disso na dinâmica populacional e urbana do município. Após perdas

demográficas consecutivas em no período de 1970 a 1990 apresentou saldo

positivo no intervalo entre 1991 e 2000 (Tabela 03). A cidade tem apresentado

algumas melhorias, sobretudo, pela instalação de unidade de ensino superior.

No entanto, a base da estrutura produtiva está na agropecuária, este setor

participou em 2000 com cerca de 47,07% do valor do PIB municipal (SEPLAN,

2005). Destaca-se também a produção agrícola mecanizada, pois, Ipameri

ficou classificado em julho de 2003 entre os maiores produtores agrícolas do

estado de Goiás, contribuindo com 48,40% da produção estadual de milho

irrigado (SEPLAN, 2005).

Ouvidor, município originário da estrada de ferro, conforme foi especificado no

jornal “O Catalano” (19 [..]).

16

Page 17: Artigo nágela

Como aconteceu com várias outras cidades em Goiás que tiveram oseu berço na estrada de ferro, a povoação de Ouvidor teve inicioano de 1922, quando se inaugurou em terras do município deCatalão uma estação da Estrada de Ferro da Rêde Mineira deViação, que liga Monte Carmelo, em Minas Gerais, a Goiandiraneste estado. O povoado teve bastante desenvolvimento, o que fezpassar, em 19 de dezembro de 1948, pela Lei n.24, à categoria dedistrito de Catalão. Mas tarde, em 18 de outubro de 1953, pela Leiestadual n. 824, tornou-se município, sendo solenemente instaladoem primeiro de janeiro de 1954.

Este se diferenciou dos demais que constituem a nossa a área de estudo pela

presença de minérios (fosfato e nióbio) e pela instalação de indústrias

mineradoras em seu território. A exploração mineral no complexo mineralógico

Catalão-Ouvidor teve início nos anos de 1970, proporcionando ao município

de Ouvidor elevação na arrecadação tributária. Isso, porém, não significou

dinamização de outras atividades econômicas na cidade. O que a destaca no

cenário regional e estadual é o padrão de qualidade de vida e a facilitação

para a população, por parte da administração pública municipal, ao acesso de

bens e serviços não disponíveis na cidade, com por exemplo, o ensino

superior.

O município de Três Ranchos, conforme explicou Felipe (2004, p.1), teve sua

gênese “relacionada com os pontos de pousos instituídos por tropeiros, no

século XIX, oriundos da província de São Paulo, com destino aos municípios

de Entre Rios (Ipameri), Santa Cruz de Goiás e Vila Boa (cidade de Goiás)”.

No século XX, de acordo com Felipe (2004, p. 1), “a estrada de ferro,

inaugurada em 1942, que ligava Patrocínio (MG) a Goiânia (GO), juntamente

com o garimpo de diamantes praticado no rio Paranaíba e a atividade

agropecuária, contribuíram para o crescimento e consolidação do povoado no

decorrer da década de 1940”.

17

Page 18: Artigo nágela

Três Ranchos passou por modificações sócio-espaciais na segunda metade

do século XX orientadas pela construção do reservatório da Hidrelétrica de

Emborcação e desativação da estrada de ferro, no final da década de 19707.

As principais mudanças em relação à construção do reservatório ocorreram

inicialmente com perda de áreas pela inundação. Conforme afirmações de

Felipe (2004, p. 3), “o município possuía uma área entorno de 282 km2 (IBGE,

2004), sendo que 87,28 km2 foram inundados pelas águas do reservatório

(ANEEL, 2004), o que representa 30,95% de sua área total”. Houve também o

desenvolvimento da atividade turística na cidade e a ocupação das margens

do lago por empreendimentos de lazer e casas de veraneio, bem como

valorização fundiária nas proximidades do reservatório. Contudo, não foram

registradas consideráveis modificações para a população local em termos de

desenvolvimento econômico e social.

Considerações Finais

Procuramos ao longo desse artigo identificar as características gerais dos

municípios em estudo e alguns traços particulares das unidades territoriais.

Cabe ressaltar que, as cidades da referida área, são núcleos de pequeno

porte, com total de residentes urbanos inferior a 5 mil habitantes, com

exceção de Ipameri, cujo contingente populacional aproxima de 20 mil

habitantes. Algumas dessas cidades chegam apresentar dependências de

outros centros urbanos para suprimento de necessidades primárias da sua

população, porém, as evidências indicam o predomínio do modo de vida

urbano.

18

Page 19: Artigo nágela

Em síntese, os municípios e as cidades que formam a área de estudo estão,

por um lado, orientadas pelas condições mais gerais da política econômica

estadual e nacional, e por outro, apresentam aspectos particulares do seu

processo de formação sócio-espacial, bem como de suas potencialidades

materiais e das ações políticas locais. Somente ao longo do trabalho de

pesquisa conseguiremos desvendar melhor as características e

particularidades desses espaços geográficos, bem como dos processos sócio-

espaciais desenvolvidos nessas localidades ao longo do período de 1970-

2000.

Notas

1 Aluna no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia,nível de doutorado (Bolsista Capes). E-mail: [email protected]

2 Professora no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal deUberlândia. E-mail: [email protected].

3 A mesorregião geográfica “Sul Goiano” é formada pelas seguintes microrregiões geográficas:Microrregião de Catalão, Meia Ponte, Quirinópolis, Sudoeste Goiano e Vale do Rio dos Bois.

4 A bandeira era uma expedição organizada militarmente, e também uma espécie de sociedadecomercial. Cada um dos participantes entrava com uma parcela de capital, que consistiaordinariamente em certo número de escravos (PALACIN; MORAES, 1994, p. 08).

5 Conforme Lourenço (2002), os migrantes originários da região mineradora da capitania deMinas Gerais, expulsos em função do esgotamento das jazidas minerais, seguiram a partir dadécada de 1760 em direção a todas a regiões circunvizinhas. Esses migrantes eramchamados pelas populações locais de geralistas.

6 Esse resultado refere-se à relação entre os totais de residentes nos dois censosdemográficos.

19

Page 20: Artigo nágela

7 Nos anos de 1970, o trecho da ferrovia entre Patrocínio (MG) e Catalão (GO), que passavapor Três Ranchos (GO) foi desativado por causa da construção da UHE Emborcação.(FELIPE, 2004, p. 34).

Referências bibliográficas

ANEL. Agência Nacional das Águas,2004. Disponível na internet.www.anel.gov.br . dez., 2004.

PNUD; IPEA; FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Atlas do desenvolvimentohumano no Brasil, 2003. Disponível na internet. www.cidades.gov.br .dez., 2003.

BORGES, B. G. O despertar dos dormentes: estudo sobre a Estradade Ferro de Goiás e o seu papel nas transformações das estruturasregionais, 1909-1922. Goiânia: GEGRAF, 1990. (Coleção DocumentosGoianos, 19).

_____. Goiás nos quadros da economia nacional: 1930-1960.Goiânia: Editora da UFG, 2000.

CAMARANO, A. A.; BELTRÃO, K. I. Distribuição espacial dapopulação brasileira: mudanças na segunda metade deste século.IPEA, Rio de Janeiro, 2000. Texto para discussão n. 766. Disponível nainternet. www.ipea.gov.br . fev., 2005.

CORRÊA, R. L. O estudo da rede urbana: uma proposição metodológica.Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro: IBGE, n. 50 (2), p.107-127. abr./jun., 1988.

________. Rede urbana e formação espacial: uma reflexãoconsiderando o Brasil. Revista Território. Rio de Janeiro, ano v, n. 8,p.121-129. jan./jun., 2000.

20

Page 21: Artigo nágela

________. Reflexões sobre a dinâmica recente da rede urbanabrasileira. In. Encontro da ANPUR. 9., 2001, Rio de Janeiro. ANAIS.2001, 28 maio/1 jun., p.424-431.

________. Rede urbana: reflexões, hipóteses e questionamentos sobreum tema negligenciado. Cidades. Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 65-78,2004.

DEUS, J. B. de. O sudeste goiano e a desconcentração industrial.Brasília: Ministério da Integração Nacional, Universidade Federal deGoiás, 2002.

FARIA, V. Desenvolvimento, urbanização e mudanças na estrutura doemprego: a experiência brasileira dos últimos trinta anos. In.: SORJ, B.;ALMEIDA, M. H. T. de (Org.). Sociedade e política no Brasil pós-64.São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 118-163.

FELIPE, C. E. O Lago Azul e as cores do turismo em Três Ranchos(GO) no período de 1980 a 2004. 154 f. Dissertação (Mestrado).Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-graduação emGeografia, Uberlândia, 2004.

GEIGER, P. P. Evolução da rêde urbana brasileira. Rio de Janeiro:Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, INEP, Ministério daEducação e Cultura, 1963. (Coleção O Brasil urbano, n.1).

IBGE. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros- 1958. vol. XXXVI. Rio deJaneiro: IBGE, 2000. CD-ROM 1.

IBGE, 2004. Disponível na internet. www.ibge.gov.br . dez. 2004.

IANNI, O. Estado e planejamento econômico no Brasil. 6. ed.atualizada e revisada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.

21

Page 22: Artigo nágela

LIMA, V. B. Os Caminhos da Urbanização/Mineração em Goiás: oestudo de Catalão (1970-2000). 2003. 119 f. Dissertação (Mestrado).Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Geografia, Uberlândia(MG), 2003.

MARTINE, G. A redistribuição espacial da população brasileiradurante a década de 80. IPEA, Rio de Janeiro, 1994. Texto paradiscussão n. 329. Disponível na internet. www.ipea.gov.br . fev., 2005.

MARTINS, J. de S. As temporalidades da história na dialética deLefebvre. In.:____ (Org.). Henri Lefebvre e o retorno à dialética. SãoPaulo: Hucitec, 1996. p.13-23.

MELO, N. A. de. Interação campo-cidade: a (re)organização sócio-espacial de Jataí no período de 1970 a 2000. 179 f. Dissertação(mestrado). Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-graduação em Geografia, Uberlândia (MG), 2003.

MOTTA, D. M. da; MUELLE, C. C.; TORRES, M. de O. A dimensãourbana do desenvolvimento econômico-espacial brasileiro. IPEA,Rio de Janeiro, 1997. Texto para discussão n. 530. Disponível nainternet. www.ipea.gov.br . fev., 2005.

O CATALANO. Catalão (GO). 19[...].

O GUIA. Catálogo telefônico. 2. ed. Quirinópolis (GO): D & D editora.ano 2, 2003-2004.

PALACIN, L.; MORAES, M. A. S. História de Goiás. 6. edição. Goiânia:Ed. da UCG, 1994.

22

Page 23: Artigo nágela

PINTO, G. Do sonho à realidade: Córrego Fundo – MG: fragmentaçãoterritorial e criação de municípios de pequeno porte. 251 f. Dissertação(mestrado). Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-Graduação em Geografia. Uberlândia (MG), 2003.

SANTOS, M. Sociedade e espaço: a formação social como teoria ecomo método. Boletim Paulista de Geografia. São Paulo, n. 54, p. 81-100. jun., 1977.

_____. Espaço e sociedade: ensaios. Petrópolis: Vozes, 1979.

_____. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.

_____. Metamorfoses do espaço habitado. 5. ed. São Paulo: Hucitec,1997.

SEPLAN. Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás, 2005.Disponível na internet. www.seplan.go.gov.br . fev., 2005.

_____. Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás, 2005. Contasregionais/municipais – 2003. Disponível na internet.www.seplan.go.gov.br . fev., 2005.

SIG-GOIÁS, Superintendência de Geologia e Mineração. 2005. Basecartográfica: carta planialtimétrica. Folhas: SE-22-X-D; SE-22-Z-B; SE-23-V-A;SE-23-V-C; SE-23-Y-A. Escala 1:250.000. Datum: C. A. Disponível na internet.www.sieg.go.gov.br . jun., 2005.

SINGER, P. Econômica política da urbanização. 12. edição. SãoPaulo: Brasiliense, 1990.

23

Page 24: Artigo nágela

WANDERLEY, M. N. Urbanização e ruralidade: relações entre apequena cidade e o mundo rural e estudo preliminar sobre os pequenosmunicípios em Pernambuco.Disponível na internet.www.ipese.com.br/manabawa.itf . dez., 2004.

24