Artigo O ÍNDIO HIPER-REAL - Alcida

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    O NDIO HIPER-REAL(*)Alcida Rita Ramos

    Como lutar contra a injustia sem criar injustia? (Carlos Fuentes)

    O estopim que deflagrou este artigo foi um episdio que me foi contado em 1990.Trata-se de um encontro malsucedido entre trs ndios e o representante de umaorganizao no-governamental em Braslia. Descrevo 0 ocorrido mais abaixo, poisquero antes definir meu propsito neste trabalho e esclarecer de sada que no se tratade uma denncia, ou crtica negativa, mas sim de uma tentativa de compreender osrumos que vem tomando a prtica do ativismo indigenista na cena brasileira,especialmente na ltima dcada. Entenda-se "tentativa" tanto em sua forma substantiva

    quanto adjetiva, pois, embora fruto de uma observao prolongada e, em grande medidaparticipante, ainda uma primeira aproximao ao problema, sujeita a modificaes queinevitavelmente viro como resultado de reflexes tericas mais profundas e deexperincias empricas mais diversificadas (1). Tomo por alvo a atividade indigenistasecular e no-oficial, isto , detenho-me especificamente no ativismo leigo que emergiuda chamada sociedade civil; por isso, excluo tanto o indigenismo oficial praticado pelosfuncionrios da Funai como a importante atuao do Cimi (Conselho IndigenistaMissionrio), que, no incio dos anos 70, organizou as primeiras assemblias indgenasregionais. Quero, pois, traar a trajetria de associaes laicas, de seus humildescomeos maturidade formal, e o que aconteceu com a figura do "ndio" quando asentidades de apoio a sua luta se metamorfosearam em aparatos burocrticos.

    Da fase herica ao fim da communitasA fase contempornea desse ativismo indigenista "civil" comeou, a rigor, em 1978. Ogatilho que a detonou foi a ameaa do governo de "emancipar" os ndios, isto , dedeclar-los no-ndios perante a lei e, desse modo, eximir-se do encargo de proteg-los,

    juntamente com suas tradies, seus usos e costumes e, o mais importante, suas terras.O decreto de emancipao, esboado pelo presidente Geisel, por intermdio de RangelReis, seu ministro do Interior, teve o efeito catalisador de reunir na mesma plataformauma srie de profissionais. Entre coro e solo, antroplogos, advogados, jornalistas,

    religiosos e artistas se revezaram num inflamado palco poltico com lderes indgenasque, como por encanto, afloraram na cena pblica, tomando de assalto os meios decomunicao. Foi o momento herico do indigenismo atual. Embalados pelo sucesso deseus protestos, que conseguiram engavetar o projeto de emancipao, os ndios criarama Unio das Naes Indgenas e os brancos se organizaram em uma proliferao deentidades de apoio ao ndio. Praticamente cada capital do Brasil tinha a sua Anai ou CPIcuja vida, a exemplo dos andrides de Blade Runner, estava como que programada paraser breve: Com raras excees (por exemplo: a Comisso Pr-ndio de So Paulo e doAcre, o Centro de Trabalho Indigenista de So Paulo, a Associao Nacional de Apoioao ndio de Porto Alegre e da Bahia), nenhuma das entidades surgidas naquela pocasobreviveu ao fim desse momento herico.

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    Aquele efeito inicial de communitas, bem ao gosto de Victor Turner (1969), quandolongussimas reunies noite adentro ocupavam locais improvisados ou mesmo osespaos domsticos de seus entusiasmados militantes, tambm foi previsivelmentecurto, como si ocorrer com as communitas, esse apangio da "antiestrutura" que prima

    por ser efmero. O sentimento de esprit de corps que envolvia os ativistas era como queum parntese ideolgico que, ao mesmo tempo que os unia num s corpo, separava-osdo resto. Com a constncia e consistncia de uma nuvem, sua efemeridade denunciou-serpida e claramente, a princpio nos primeiros sinais de desentendimentos internos edepois na busca de uma estruturao que lhes desse maior concretude sociolgica. J em1982 eram perceptveis os sinais de divergncia entre brancos e ndios dentro domovimento que, a essa altura, j se tornara pan-indgena, alcanando todas as regies ea grande maioria dos povos indgenas do pas. Naquele ano, durante o primeiro encontronacional de lderes indgenas em Braslia, a maior parte dos antroplogos e outrosativistas do movimento que l compareceram rebelou-se contra os ndios quando estesdecidiram convidar o ento presidente da Funai, coronel Leal, para dar-lhes uma

    palestra. Nesse momento, a oposio aos militares vinha num crescendo, e a iniciativados ndios de chamar um homem que tambm pertencia ao Conselho de Segurana

    Nacional para prestigiar seu encontro soou entre os brancos ativistas como umverdadeiro "tapa na cara". Depois de haver ajudado os ndios a financiar e organizar oencontro, esses amigos dos ndios sentiam-se no direito de dizer a estes o que era certoou errado, quem eram os mocinhos e os bandidos. Vrios sentiram-se trados peloslderes indgenas, que com aquele convite demonstravam desconsiderao por seus

    princpios polticos. A mensagem embutida nessa reao poderia ser lida - e o foi, poralguns observadores - como: ns, brancos, ajudamos vocs, ndios, para em troca vocs,ndios, fazerem o que ns, brancos, achamos correto. Na verdade, essa atitude ecoavauma prtica da poca: utilizar a questo indgena para ventilar crticas ao regime militarsem incorrer em maiores represses. O tema "ndio" era uma das poucas tbuas desalvao que flutuavam no mar da censura e das represlias liberdade de expresso.

    At a Nova Repblica, entretanto, o movimento indigenista (no confundir comindgena) foi mantendo uma aparncia de unidade; iam sendo suprimidas asdivergncias internas ditadas por interesses que nem sempre convergiam (por exemplo,entre membros da Igreja, advogados, antroplogos e jornalistas). Unindo-os estava oeterno inimigo comum, os militares. Durante a campanha de Tancredo Neves para a

    Presidncia da Repblica, parecia que a utopia de ter ativistas do indigenismoparticipando da construo de uma poltica indigenista oficial iria, afinal, realizar-se.Esperava-se sair da oposio para, at que enfim, fazer parte da situao. Mas, com amorte de Tancredo e a tomada do poder pela equipe herdada por Sarney, em poucosmeses de Nova Repblica os indigenistas amargaram a experincia de ver trada essautopia (Fundao Nacional Pr-Memria, 1988). A partir da, ainda no primeirosemestre de 1985, ficou claro que a era militar do indigenismo estava muito longe deacabar. Ao contrrio, a militarizao da Amaznia e da questo indgena foi ficandocada vez mais forte. O inimigo comum continuava so e salvo.

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    Porm, j haviam sido dados os primeiros arranhes na unio e harmonia entre asentidades, a partir do momento em que lhes foi acenada a possibilidade de fazerem partedo poder. Nem mesmo a conscincia de que continuariam como sempre a fazeroposio aos eternos militares e a outras foras conservadoras foi suficiente para apararas arestas da competio e do desentendimento, entre algumas entidades. A frente nica

    mostrava rasges difceis de remendar, como se pde perceber durante o prolongadolobby que persistiu por todas as etapas da Assemblia Constituinte, apesar dos esforospara manter as aparncias.

    Mas no so as dissidncias que mais me interessam aqui. O que me chama a ateno o trajeto que vai do anseio artesanal ao formalismo profissional. o destino burocrticodas entidades de apoio ao ndio; traado individualmente por cada uma, esse destino serepete com uma recorrncia montona e at previsvel, desvelando uma curiosatransformao em suas relaes mtuas: da unidade uniformidade. uma rplica

    coletiva da clssica rota para a inescapvel burocratizao do carisma.

    A caminho do escritrio

    O perodo de desiluso com a Nova Repblica foi tambm a poca de consolidao dasorganizaes indigenistas, sob a forma de aparatos burocrticos. Instalou-se o

    profissionalismo das relaes de trabalho e criaram-se compromissos com agnciasfinanciadoras que, por sua vez, produziram estruturas prprias para gerir os recursos dadecorrentes.

    Chegamos, assim, dcada de 90 com um panorama indigenista que pouco lembra osdias de agitao e arrebatamento cvico de 78. Para ilustrar esse novo ethos ativista medetenho no episdio a que me referi no incio do artigo. Trata-se da expulso dos ndiosTukano de uma de suas reas reconhecidas pelo governo e do apelo de seusrepresentantes a uma entidade de apoio ao ndio. O anonimato das pessoas e entidades

    proposital, pois o que importa no apontar indivduos componentes do sistema, masrefletir sobre o prprio sistema, tentar entender como se forja uma tica "intertnica",

    por meio de um esforo de anlise de como se d a institucionalizao daquilo que, por

    sua natureza, se quer anti-establishment.Incidente em Braslia

    A 9 de maio de 1990, 28 soldados do Exrcito expulsaram 123 homens, mulheres ecrianas Tukano que garimpavam num dos retalhos de terra de 10 mil hectares -originalmente chamado de "Colnia Indgena" e depois rebatizado de "rea Indgena"Pari Cachoeira III - que lhes havia sido destinado pelos dirigentes do Projeto Calha

    Norte, em janeiro de 1988 (Buchillet,1990, pp. 128-135). Com o pretexto de que essesndios estavam envolvidos no contrabando de ouro e, por extenso, no trfico de

    cocana e nas atividades de guerrilha colombiana, os militares, a toque de armas,intimidaram os ndios, forando-os a abandonar suas casas e enfrentar uma longa

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    caminhada at outras aldeias de seus parentes, por trilhas alagadas pelas chuvas, nopasso lento de crianas e mulheres carregadas de pertences. Alegaram os militares queos ndios estavam fora da "rea indgena", embora os marcos plantados no choindicassem uma demarcao j estabelecida. Sublinhando a expulso, os homens doExrcito queimaram as casas e destruram seus equipamentos de garimpagem.

    Essa histria foi-me contada por trs ndios Tukano que, trs semanas depois doincidente, conseguiram chegar a Braslia para demandar as providncias que nenhumaautoridade havia tomado at ento para apurar esses fatos e corrigir a injustia (2).Contaram-me tambm a recepo que tiveram por parte do representante de uma dasentidades de defesa dos direitos indgenas, a primeira instncia que procuraram no seu

    pedido de socorro. essa reao que tomo como objeto de interesse para esta reflexosobre a trajetria do ativismo indigenista nos ltimos anos. Mas, antes, preciso trazeralguns fatos anteriores que ajudam essa reao a fazer sentido e revelam os parmetros

    de uma tica branca num contexto de poltica intertnica.

    Esses mesmos lderes Tukano que vieram denunciar aes arbitrrias dos militaresforam alvo de pesadas crticas e at de expurgo, por parte de outros ndios e de brancosindigenistas, por haverem feito um acordo com os dirigentes do Projeto Calha Norte ecom a mineradora Paranapanema, que vinha substituir a atuao catica de centenas degarimpeiros que extraam ouro na regio do Alto Rio Negro, territrio de vrios gruposindgenas, inclusive Tukano. Depois de anos de luta inglria e inconclusiva junto Funai e a outras agncias do governo para que suas terras fossem devidamentedemarcadas, esses lderes optaram por aceitar o retalhamento do territrio indgena

    proposto pelos militares, em troca de benfeitorias por eles prometidas e de royalties damineradora cujas atividades estavam apoiadas pelo Calha Norte. Tal acordo valeu aesses lderes o mais longo e generalizado ostracismo da "comunidade" indigenista, alis,um risco calculado que assumiram sem a inocncia dos desprevenidos. Dois anosdepois, eles se sentiam trados pela companhia mineradora, que abandonou a rea porfalta de maior interesse econmico nos recursos da regio, devolvendo aos ndios aameaa iminente de reinvaso pelos garimpeiros. Sentiam-se trados tambm pelosmilitares que, alegando ter seus recursos engolidos pela inflao, deixaram de construiros prometidos hospitais, escolas e projetos econmicos, para erigir apenas quartis na

    rea. O pior de tudo foi se sentirem trados por perceberem quo intil, face expulsode seus companheiros da rea Pari Cachoeira III, fora sua "imolao tica" junto aomovimento indgena-indigenista. Afinal, foi em nome do bem-estar dos Tukano e datranqilidade na terra demarcada que se denegriram, aparentemente para nada, pelo que

    percebi em seus desabafos.Segundo me relataram, seu encontro com o representante da entidade brasiliense deapoio ao ndio teve o carter de um interrogatrio policial: quantos ndios estariamenvolvidos na guerrilha, no narcotrfico, no contrabando de ouro; se as trilhastradicionais de acesso Colmbia (onde vivem muitos de seus parentes) foramalargadas para facilitar o trfico. Foi questionada a legitimidade das reivindicaes que

    traziam quanto ao status da rea, da qual os 123 Tukano haviam sido expulsos. Foiafirmado que os trs estavam "cutucando a fera com vara curta", portanto, seu caso seria

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    praticamente indefensvel. Foram-lhes " jogados na cara" os acordos que haviam feitocom os militares. Os ndios precisariam esperar que os membros da entidade sereunissem, para decidirem se iriam ou no assumir a defesa de um caso to complicado.

    Desapontados e desorientados, os trs recorreram a diversos contatos em Braslia, desdeo ento diretor da Polcia Federal, Romeu Tuma - que haviam conhecido durante asnegociaes com o Calha Norte, ajudando-o a queimar seu tradicional ipadu (coca) eentregando-lhe todas suas armas -, a jornalistas e antroplogos (incluindo os que elesmesmos haviam alijado durante a fase urea de sua cooperao com os militares) eacabaram sendo atendidos pela Procuradoria-Geral da Repblica que, desde aConstituio de 1988, o rgo oficial e legtimo no atendimento das reivindicaesindgenas.

    Abro aqui um parntese para um breve comentrio sobre o artigo 232 da Constituio,que declara: "Os ndios, suas comunidades e organizaes, so partes legtimas paraingressarem juzo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o MinistrioPblico em todos os atos do processo". Esse artigo que, ironicamente, as entidades deapoio ao ndio ajudaram a criar com sua presso junto aos Constituintes, tem o efeito deesvaziar um importantssimo espao que antes era ocupado por elas, que se estendiamcomo pontes entre os ndios e as instncias polticas e jurdicas do pas. Embora asaes das entidades no se esgotem na dimenso jurdico-legal, esta , sem dvida, umadas instncias mais importantes no que toca aos direitos indgenas.

    Devo esclarecer que meu conhecimento do confronto dos Tukano com aquela entidadeem Braslia vem apenas dos trs ndios, alm de uns poucos comentrios de terceiros.

    No fiz maiores indagaes sobre o ocorrido e no tenho a verso do representanteindigenista em questo. com base no depoimento dos Tukano e em minha prpriavivncia no campo do ativismo indigenista que teo estas consideraes. No pretendofazer uma exegese do caso, nem passar julgamento sobre qualquer dos atoresenvolvidos. Apenas tomo o ocorrido como um desses privilegiados "fatos sociais",

    prenhes de significado, capazes de desnudar dimenses sociolgicas, polticas e

    simblicas at ento mal percebidas ou mesmo desconhecidas pelo antroplogo.

    O caso - ou a srie de episdios -Tukano vem comprovar magistralmente duas teses: ade um clssico e a de um enfant terrible ps-moderno. O clssico Weber; o enfantterrible, Baudrillard. Exemplifica a passagem do artesanato poltico burocratizao edesta ao simulacro ou, se quiserem, um pulo do medieval ao ps-moderno no relmpagode uns poucos anos. Ao longo do caminho que comea na communitas anrquica echega prtica impessoal do profissionalismo, o trabalho ativista de defesa dos direitosindgenas - o advocacy work dos anglosaxes - passou por profundas mudanas em sua

    organizao, em suas prioridades e em seu ethos. A passagem do tempo parcial deantroplogos, artistas, advogados, jornalistas etc., militantes da causa indgena nos

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    interstcios de seu tempo profissional, ao tempo integral dos profissionais do ativismoindigenista, corresponde a uma metamorfose em termos de tempo, espao, recursosmateriais, disponibilidade e tica.

    Ensina Weber que, na histria da burocratizao iniciada na Idade Mdia, fundamentala criao do bureau, do Kontor, ou seja, do "escritrio". Com ele foram criadasespecializaes, atitudes e situaes novas, alm de uma tica prpria. Se, para Weber, a

    burocracia representava um dos tipos ideais de racionalidade, o auge da eficincia nogerenciamento pblico e privado, ela chegou a nossos dias com a reputao bastanteabalada. Hoje, burocracia tem uma conotao que o oposto exato da definioweberiana: "uma burocracia" um entrave, um emaranhado confuso que faz emperrar ofluxo da cidadania; "alimentar a mquina burocrtica" significa desperdiar recursossem grandes resultados alm de perpetuar o sistema do "escritrio". Diz Weber: "Que oescritrio uma vocao est expresso [entre outras coisas por] no se estabelecer

    uma relao com uma pessoa (...), mas, ao contrrio, pela devoo a propsitosimpessoais e funcionais" (1978, pp. 957, 958-9. Grifos no original).

    Para Weber, "existe apenas uma escolha, que entre a burocracia e o diletantismo". Noesqueamos tambm que, segundo ele, "do ponto de vista puramente tcnico, [a

    burocracia ] formalmente o meio mais racional conhecido de se exercer autoridadesobre seres humanos" (Idem, ibidem, p. 223).

    As entidades de apoio ao ndio no escapariam a esse processo "moderno" que, afinal, medieval. Mas, no seu caso, a senda da burocratizao, talvez inevitvel para oOcidente, mostra-se muito pouco apropriada, j que seu objeto, sua razo de ser, refratria lgica do "escritrio". O que fazer com a alteridade dos ndios, to poucoafeita domesticao da lgica do bureau? Como control-la e torn-la compatvel comos "propsitos impessoais e funcionais" da organizao burocrtica? Como contornar odescompasso entre a nsia organizacional das entidades e a necessidade de atuar nainterface entre polticas indgenas e polticas brancas? A "vocao" weberiana doescritrio no poderia ser menos apropriada para lidar com a questo intertnica. Ento,

    para cumprir o destino ocidental da burocratizao e, ao mesmo tempo, lidar comquestes indgenas, a sada parece ter sido inventar um ndio "burocratizvel". Os ndios"de carne e osso" comeam a ser filtrados, sua alteridade indomada, criadora dedesordem em potencial ou de fato para as entidades, sofre um processo de domesticaoe surge ento um modelo de ndio, que seria uma espcie de "ndio-modelo".

    Com a burocratizao pode ter havido um aumento de eficincia - nem semprealcanado, malgrado Weber -, mas ao custo de um distanciamento com relao aomundo social e viso de mundo dos ndios, que pe em xeque o papel e o futuro

    dessas entidades. Definida por seu engajamento com ndios reais, a mquina indigenista

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    privada, para se sustentar, precisa alimentar-se do ndio de carne e osso, matria-primade suas atividades e razo de sua existncia.

    Mas esse ndio fica cada vez mais longnquo e menos inteligvel para a intelignciaburocrtica, cada vez menos compatvel com a razo contbil e administrativa do"escritrio" indigenista. como se as ONGs se vissem presas num torque, entre duasforas paralelas, mas opostas: as necessidades reais de ndios reais, eivadas pelairracionalidade de relaes contorcidas e controvertidas na arena intertnica, e a"mstica do escritrio", gerada pela necessidade de se automanter em termos deorganizao de recursos materiais e humanos. Cria-se, assim, uma "razo" prpria, umaautonomia ontolgica em relao quilo que lhe deu origem e sentido. Com as ONGsapanhadas entre a tica dos direitos humanos e a impessoalidade da prtica burocrtica,o mais grave que se cria tambm um campo social e simblico extremamentenebuloso, no qual a moralidade individual misturada e confundida com o princpio

    norteador de sua ao que , acima de tudo, a defesa dos direitos dos ndios, enquantopovos subjugados. como se, ao praticarem aes condenveis, os ndios reaisdesonrassem as entidades, mesmo que, motivando essas aes, estivessem os interessesde sua gente.

    Dos tempos em que o locus da ao indigenista alternativa eram nossas salas e cozinhasat a atual situao de escritrios computadorizados, a causa indgena dos brancos vemcumprindo um destino weberiano que est agora em via de implodir no que Baudrillardtem chamado de "simulacro". a simulao do "ndio de verdade", o modelo criado porantecipao que toma totalmente o lugar da experincia vivida com os ndios. omodelo que acomoda o ndio s necessidades da organizao. O caso Tukano ilustraessa tendncia que j se percebe h tempos nos meios ativistas do indigenismo: aconstruo do ndio-modelo, o ndio perfeito, aquele que por suas virtudes e vicissitudes

    pode mobilizar o esforo defensor dos profissionais das ONGs, aquele ndio que maisreal que o real, o ndio hiper-real (Baudrillard, 1981, p. 161).

    Do ndio genrico ao ndio domesticado

    Assim o ndio do circuito de muitas entidades de apoio ao ndio. Desde a profeciafrustrada de Darcy Ribeiro, corri seu "ndio genrico", prisioneiro da guerra do contatoe etnicamente oco, passando pelos anos dourados de labuta na forja que fundiu aconscincia pan-indigenista, at chegar burocratizao da prtica indigenista privada,o ndio no Brasil vem sendo alvo de uma tica sui generis por parte de seus aliados

    brancos. No passado, as figuras indianistas de Jos de Alencar e Gonalves Diasaliceraram muitos dos sonhos nacionalistas brasileiros e depois se prestaram vervesardnica dos modernistas dos anos 20; e na verso ps-moderna dos "amigos dosndios" tambm no falta uma boa dose de romantismo, quando se demanda dos ndios,se no um exotismo redentor, no mnimo uma inquebrantvel integridade de princpios:morrer, se preciso for, mas defendendo suas terras, resistindo ao assdio dos poderosos,

    repelindo a corrupo, denunciando os descalabros. Quanto mais estico e resistente a

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    tentaes for o ndio, mais merecedor ele ser da solidariedade dos brancos. Cooptao,assim como poder, no programa de ndio.

    Princpios virtuosos, pureza ideolgica, disposio de morrer heroicamente e outrasproezas morais no so mais do que fantasias de branco. Mas no parece ocorrer amuitos militantes indigenistas que, ao exigi-las dos ndios, eles esto, de fato, criando omodelo perfeito daquele que no sucumbe a presses. O contraste entre o ndio-mrtir eo ndio-vendido , no fundo, o reflexo do contraste entre o branco-honrado e o branco-corrupto.

    O ndio genrico de Darcy Ribeiro foi a projeo intelectual de um vaticniocatastrfico, de uma morte cultural anunciada. Por falta de ressonncia social e

    histrica, essa imagem no progrediu. Pulverizou-se no vazio de sua prpriaprestidigitao; no passou de um holograma retrico procura de entidades que lhedessem concretude operacional. J o ndio hiper-real de muitas entidades, esse obscuroobjeto de defesa, a hiptese de trabalho do ativista profissional: projeo de umailuso, o modelo de ndio/ndio-modelo passou a ser seu holograma tico porexcelncia. O representante daquela entidade brasiliense esperava receber umholograma de ndio, um ectoplasma etreo e ideal, e entram-lhe pela porta trs ndiosreais, importunos e problemticos. Chega-se, ento, ao absurdo de situaes em quemembros de entidades pr-ndio despacham ndios de carne e osso, por perturbarem seutrabalho de defesa do ndio! H que fazer uma reunio de cpula para decidir se o casomerece sua ateno. Ento, defende-se o que contra qu? Do simulacro contra oconcreto, poderamos dizer.

    Instaura-se uma burocracia ps-moderna, em mais uma das manifestaes do que C.Wright Mills chamou de managerial demiurge ao se referir burocratizao de camposcomo a academia (Mills, 1956). So os meios assumindo o papel de fins, numa repriseda sndrome Ponte-do-rio-Kwai: afinal, para que serve a obra a duras penas executada,seno para ser usufruda, mesmo arriscando esquecer qual era mesmo seu objetivooriginal? o beco sem sada, caminho tico obstrudo no qual "a hipersimilitude

    equivaleria a um assassinato do original e, portanto, a um puro nonsense" (Baudrillard,1981, p. 162). Criam-se estruturas quase-cartoriais destinadas a gerir os recursos muitasvezes vultosos que permitem produzir e manter esse simulacro que o ndio hiper-real:dependente, sofredor, vtima do sistema, inocente das mazelas burguesas, ntegro emsuas aes e intenes e de preferncia extico. Os ndios assim criados so comoclones de fantasia, feitos imagem do que os brancos gostariam de ser, eles mesmos.Pairando acima e alm do real, o modelo de ndio passa a existir corno que numa quartadimenso, instituindo uma entidade ontolgica de terceiro grau. o ndio-modelo que

    justifica recursos materiais e humanos para sua defesa, pois, de outro modo, como seriapossvel convencer agncias de financiamento para que contribuam para a defesa dendios que, recalcitrantes, ousam agenciar suas prprias alianas com quem lhes

    aprouver? (algo que, como sabemos ad nauseam, nada tem de condenvel e at rendepontos nas mais altas esferas do mundo poltico dos brancos). Se essa a realidade

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    catica da alteridade que constitui ameaa para as entidades, o recurso para suasobrevivncia institucional a criao de uma hiper-realidade que no perturbe a rotinae os desgnios do "escritrio".

    No quero afirmar que toda e qualquer ONG padea desse mal, mas tambm nodescarto a possibilidade de que esse destino seja estruturalmente inevitvel, de queentidades de apoio ao ndio, ao seguirem o caminho medieval ps-moderno darotinizao e do distanciamento com seus sujeitos reais - os ndios de carne e osso -,noestejam automaticamente expostas ao vrus da simulao; e que, sem uma tomada deconscincia e reorientao de meios e fins, elas caiam vtimas da metstase simblicaque insidiosamente se espalha pelo organismo burocrtico, a exemplo do corpoinformtico ou orgnico (Baudrillard,1990). Nesse caso, no seria tanto uma falhaindividual de cada entidade em particular, mas do tipo de sistema a que as ONGs estoligadas, sistema esse que j traz embutida sua prpria involuo, no sentido que Geertz

    (1963) deu ao termo. Chegamos ao requinte de ter ONGs criadas especialmente paragerir as finanas de outras ONGs, como num sonho (ou pesadelo?) de fico cientfica.Encarar algum dia um ndio de verdade no est na agenda dessas ONGs contbeis desegundo grau.Inimigo ntimo ou amigo remoto?

    Em s conscincia, no poderamos censurar os trs ndios Tukano se, depois dointerrogatrio a que foram expostos em Braslia e intuindo a contaminao virtica dasONGs, fizessem suas as famosas palavras do bandido Giuliano: "Que Deus nos protejados nossos amigos". Mas no o fizeram. Recorreram a outros brancos, desvinculados deONGs e a quem nem sempre chamaram de amigos. Proximidade e distncia mostramaqui ser categorias ainda mais relativas do que imaginvamos. Se, para os povoscolonizados como, por exemplo, os indianos, o branco colonizador o que Ashis Nandy(1983) chama de "inimigo ntimo", aquele que legou uma nova conscincia deidentidade aos "nativos", passando a fazer parte de seu novo ethos, embora seja muitasvezes odiado, para os povos "nacionalizados" como os indgenas do Brasil, o brancosolidrio como um "amigo remoto", aquele que assume o papel de defensor, mas que,no fundo, no tem grande ou alguma intimidade existencial ou intelectual com osndios. Estes passam a ser, antes de tudo, instrumentos de trabalho do militante

    indigenista.

    A relao dos ndios com os brancos que se dedicam defesa dos direitos indgenas, eque nesse campo merecem o qualificativo de esclarecidos, pode ser amistosa, mas nosupera os problemas criados pela barreira intertnica. at possvel uma colaboraoentre ndios e indigenistas, mas nunca seria uma colaborao "mecnica" no sentidodurkheimiano, pois nunca se realizaria entre iguais que compartilham uma mesmidade.Tambm improvvel seria uma colaborao "orgnica", pois precisaria primeiro passar

    por alguns testes de resistncia e ousadia, como, por exemplo, enfrentar o "ndio real".

    Uma vez que a interdependncia funcional que caracteriza a organicidade pressupe ainterao de elementos diferentes, mas da mesma ordem, seria necessrio abdicar do

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    ndio hiper-real e associar-se ao ndio real, ou ento abdicar de si mesmo comoindigenista real e criar o indigenista hiper-real. Nesta ltima hiptese, teramos aconsagrao do simulacro, ou seja, o simulacro do simulacro: o que s fizesse nessaesfera no teria absolutamente mais nada a ver com o que acontece no mundo doseventos reais. Seria o puro nonsense de Baudrillard. No isso que ocorre, pelo menos,

    at agora.

    Existem pontos de encontro entre membros de entidades e ndios que permitem aosprimeiros prestar servios aos segundos: preparar e encaminhar documentos, promoverlobbies com parlamentares, captar recursos para projetos comunitrios, denunciarinjustias ou deslanchar campanhas de informao no exterior. A recproca verdadeira, mas de maneira menos bvia. As entidades de apoio ao ndio s existem

    porque os ndios so esbulhados e no tm (ou no tinham, at h pouco tempo) acessoa canais competentes dentro do aparelho de Estado para ventilar suas reivindicaes.

    Logo, as entidades dependem dos ndios para sobreviver. Mas - e a que vem oparadoxo que inibe uma cooperao orgnica - a mquina burocrtica das entidades alimentada com recursos de agncias que mantm padres ticos prprios de umamoralidade ocidental; por sua vez, esses padres instilam-se nas entidades, reclamandoque se faa a assepsia da alteridade indgena como contrapartida da colaborao: no com o ndio real que se colabora, mas com o ndio-modelo. As entidades dependem dosndios, mas dos ndios criados por elas.

    Este um tipo particular de colaborao que no parece ser privilgio do campoindigenista (3) .Talvez seja mesmo uma conseqncia inevitvel do fenmeno "defesados direitos humanos", quando o "humano genrico" substitui o indivduo complexo,composto de dimenses tanto aprovveis como reprovveis pelos mores ocidentais e,

    portanto, incontrolvel pela ordem burocrtica. Talvez seja o nico caminho vivel paracriar uma conscincia reivindicatria coletiva e um sujeito poltico visvel na arenanacional e internacional. Ou se cria o "humano genrico" como objeto de interesse

    poltico, ou se arrisca a perder esse objeto na pulverizao de alteridades multivariadas eincompreensveis razo scio-poltica do Estado-Nao e de entidades supranacionais.

    Nesse sentido, h que reconhecer o esforo e a eficcia das aes de muitas ONGs e,dentre estas, as indigenistas em especial, pelo carter sui generis da questo indgena no

    cenrio nacional. Minha anlise crtica no pretende desnudar de mrito a atuao dosativistas indigenistas, mas apenas chamar a ateno para o outro lado do ativismoprofissional. O preo da profissionalizao um afastamento daquilo para que ela veio:o ndio de carne e osso.

    Suspeita

    No acho que por acaso que muito poucos antroplogos se dedicam atualmente militncia profissional como atividade exclusiva. A formao que recebemos daantropologia inclui em sua bagagem um princpio bsico que pode bem ser o antdoto

    do vrus do simulacro: o princpio da suspeita, da desconfiana em relao a verdadesfixas. O questionamento que fazemos como rotina de trabalho nos vacina, ao menos em

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    parte, contra esse vrus. Por outro lado, nossa profisso - refiro-me aqui especificamenteaos etnlogos - nos leva constantemente ao convvio com o "ndio real", o ndioconcreto, com suas grandezas e misrias, complexidades e ambigidades, mas nuncavazio, nunca modelo de nada, ectoplasma de nossa imaginao. A cumplicidade quecomumente se cria entre os ndios e seus antroplogos, muitas vezes pouco entendida

    pelos profissionais da defesa dos ndios, advm dessa experincia em comum de sedesvendarem ontologicamente uns aos outros. sobre o "real" gerado por essaexperincia que construmos nossa tica e no sobre uma imagem idealizada pelodistanciamento assptico e formal. Se os etnlogos so com tanta freqncia chamadosa fornecer matria-prima etnogrfica para a produo do ativismo profissional porquese percebe em ns um fenmeno de primeiro grau, mais acessvel que os prpriosndios, com os quais os profissionais do indigenismo, por fora do contgio dosimulacro, no tm intimidade. Ao traduzirmos a nossa vivncia entre os ndios para alinguagem do consumo simblico da alteridade, tornamos possvel que imagensrecapeadas desses ndios sejam vicariamente vividas pela indstria do ativismoindigenista. Por nossa proximidade com ndios reais, tornamo-nos seus surrogates.

    como se o objeto da ao das entidades representasse, por assim dizer, uma vaga, umespao a ser preenchido. Preferencialmente, o dono da vaga o ndio modelo,domesticado, depurado da virulncia da alteridade catica; na sua falta, viria seu erzatz,o etnlogo branco; e, por ltimo, se de todo inevitvel, o ndio real, intratvel pelalgica ordenada da razo burocrtica, fonte de riscos e de desordem na organizao.

    Estas reflexes no apelam, obviamente, a sentimentos de simpatia e aprovao; nem essa a inteno. Elas projetam, isto sim, uma preocupao quanto ao destino doindigenismo profissional dentro e fora do Brasil. Apesar do crescimento do movimentoindgena neste pas e da voz cada vez mais audvel dos prprios ndios, estes ainda

    precisam de nosso apoio e de nossa assessoria. Para que possamos desempenhar essepapel de maneira esclarecida, precisamos estar atentos para o que constitui uma ticaindigenista, para as distores que o vrus da simulao pode impingir a essa tica, e

    para a relao entre meios e fins, numa prtica em que a profissionalizao corre ograve risco de pr a perder a sensibilidade, a espontaneidade e o sentido de justiahistrica. Obviamente, no se deve confundir o engajamento poltico com a

    burocratizao desse engajamento. Seria o mesmo que confundir a prtica mdica com aburocratizao da medicina. Os resultados dessa confuso so vividos todos os dias nosdramas das filas da Previdncia Social.

    Antroplogos e indigenistas andaram juntos na fase herica do indigenismocontemporneo. Parecia uma parceria ideal e uma diviso de trabalho sensata e eficaz:os etnlogos produzindo informaes e anlises advindas de pesquisas empricas e os

    profissionais do indigenismo colocando os resultados etnolgicos pertinentes na roda dapoltica do contato. Mas episdios como o dos Tukano nos fazem repensar essaassociao com o indigenismo profissional. Fazem-nos tomar conscincia de que nossatica no coincide com a de organizaes que, como um rio de lava que comeou fluidoe acabou se solidificando, se encastelam na fortaleza burocrtica que criaram em torno

    de si e tendem a se expandir maneira das corporaes, fundido-se, reproduzindo-se,ramificando-se. Nossa lealdade, em ltima instncia, com os prprios ndios, os ndios

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    do dia-a-dia das virtudes e dos vcios, e tambm com os princpios da antropologia, emparticular, com o respeito alteridade concreta. O hbito da reflexo constante, parte denosso habitus (Bourdieu 1974, p. 191), dificulta, e deveria at impedir, que noscristalizemos em verdades ltimas e estabelecidas. Nosso compromisso consiste emtornar explcito o que no o era antes. O que quero aqui no provocar uma reao

    defensiva e magoada, mas uma tomada de p do que tem sido, como tem andado e paraonde vai o caminho do indigenismo profissional. , em suma, um exerccioantropolgico da suspeita.

    NOTAS

    * Sou grata a Luis Eduardo Soares pelo convite para participar do Seminrio sobre ticae Antropologia, organizado por ele e realizado no Iuperj, em junho de 1988, ocasio emque apresentei a primeira verso deste trabalho. Agradeo igualmente a Rita Segato,

    Jeremy Beckett e Dominique Buchillet por suas leituras cuidadosas do texto. Estasreflexes devem muito perspiccia e sensibilidade de Bruce Albert, que, em nossaintensa troca de idias e experincias, muito contribuiu para me ajudar a desenrolar essenovelo.

    1. Na verdade, este trabalho faz parte de um projeto muito mais amplo sobre aconstruo do indigenismo no Brasil, ao qual venho me dedicando ultimamente(Ramos, 1990a, 1990b, 1991a, 1991b, 1992a, 1992b, 1994, sal.). Com pequenasmodificaes, corresponde verso em ingls publicada em Critique of Anthropology,1994, vol. 14, n2/153-172.

    2. Consta do dossi da Procuradoria-Geral da Repblica sobre o caso, anexo aoOfcio/Secodid/N 147/90 de 1 de junho de 1990, assinado pelo subprocurador-geralda Repblica, Claudio Lemos Fontelles, endereado ao ministro do Exrcito, CarlosTinoco Ribeiro Gomes.

    3. Teresa Caldeira apontou-me que algo semelhante ocorre com o movimento feministanas metrpoles brasileirasBIBLIOGRAFIABAUDRILLARD, Jean. (1981), Simulacres et simulation. Paris, Galile.

    ______.(1990), La transparente du mal. Essai sur les phnomnes extremes. Paris,Galile.BOURDIEU, Pierre. (1974),A economia das trocas simblicas. So Paulo, Perspectiva.

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