Artigo o Processo Histórico Da Pedagogia Histórico‐Crítica

download Artigo o Processo Histórico Da Pedagogia Histórico‐Crítica

of 13

description

Artigo o Processo Histórico Da Pedagogia Histórico‐Crítica

Transcript of Artigo o Processo Histórico Da Pedagogia Histórico‐Crítica

  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

    4516

    OPROCESSOHISTRICODAPEDAGOGIAHISTRICOCRTICA:GNESE,DESENVOLVIMENTOEORGANIZAODIDTICOMETODOLGICA

    GlacianeCristinaXavierMashiba

    [email protected]

    [email protected]

    [email protected](UEM)

    Resumo

    Historicamente,noBrasil,aeducaopassouporinflunciasdediversasteoriaspedaggicas,dentreelasaPedagogiadaEssncia,eaPedagogiadaExistncia,assimdenominadasporBogdanSuchodolski(1978),quemaistardeforamdiscutidaseanalisadasporSaviani (2005).Essas teoriaspedaggicasnocrticas foram introduzidasnoBrasilnosculoXIX,viamaeducaocomo redentoradahumanidadeecapazdeacabarcomoproblemadamarginalidadesocial.Haviaanecessidadedeumapedagogiarevolucionria,crticaporsabersecondicionadaaosocial,surgeento,a Pedagogia HistricoCrtica, expresso do marxismo na educao. Nosso objeto de estudo nesse trabalho atrajetria histrica, que contempla desde a gnese implantao da Pedagogia HistricoCrtica, elaborada porDermeval Saviani e, posteriormente, sua organizao didticometodolgica. A inteno esclarecermos de quemaneira essa teoria pedaggica de perspectiva historicizadora foi proposta para alm das teorias de carterreprodutor,entovigentesnoBrasile,posteriormente,explicitarmosapropostadeUmadidticaparaaPedagogiaHistricoCrtica,contribuiosignificativaparaaprxisdocentedentrodospressupostosdessateoria.Nossoestudopautouse em Marx (1985); Suchodolski (1978); Vigotski (2003); Saviani (2005a; 2005b; 2007; 2008a e 2008b) eGasparin (1997); (2003). Acreditamos, enquantoprofessorasdo curso de Pedagogia, que essa umaproposta detrabalhoquenospossibilitaestabelecerumarelaodecompromissocomoprocessodeensinoaprendizagemdosalunos,apartirde seusconhecimentosprvios,muitasvezes sincrticosem relaoaoscontedospropostosnasdisciplinasdePrticadeEnsinoeDidtica.Dessaforma,osacadmicossomediadoscomo intuitodeascenderempara um nvel mais elaborado do conhecimento, pois, o saber objetivo elemento fundamental nessa teoriapedaggicaeoprocessodialtico,noentanto,tornasevivel,separtirdaprticasocialeaelaretornar,objetivandosuatransformao.Palavraschave:Histria.Educao.Didtica.

    Introduo

    Ao longodahistria,asociedadecapitalistavemimpondoaheteronomiaaos indivduos

    emdetrimentodaautonomia,e,portanto,umaformaodecunhocrticoeemancipatriono

    considerada.EssemodelodesociedadefoidiagnosticadoporMarx(1985),quebuscouentendero

  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

    4517

    mododeproduocapitalistae,paraisso,abordouadesqualificaodotrabalhoeaalienaodo

    trabalhador.ParaMarx(1985)omodocapitalistadeproduopartedaacumulaoprimitiva:

    A chamadaacumulaoprimitiva apenas oprocesso histricoquedissocia otrabalhadordosmeiosdeproduo. consideradaprimitivaporque constituiaprhistriadocapitaledomododeproduocapitalista.Aestruturaeconmicada sociedade capitalistanasceudaestruturaeconmicada sociedade feudal.Adecomposiodesta liberouelementospara formaodaquela (MARX,1985,p.830).

    Marx(1985)inferequeexistiamduasclassesdepessoas,aelitequetrabalhavaeeracapaz

    eeconmicaeumaclasseconstitudaporpessoasdesorganizadas.Oacmulode riquezaspela

    primeira classe que possua dinheiro, meios de produo e os meios de subsistncia que

    garantiam o aumento de sua riqueza, levou a classe trabalhadora a ter apenas sua fora de

    trabalhoparavender.

    O sistema capitalista pressupe a dissociao entre os trabalhadores e apropriedade dos meios pelos quais realizam o trabalho. Quando a produocapitalistasetornaindependente,noselimitaamanteressadissociao,masareproduz em escala cada vezmaior.O processo que cria o sistema capitalistaconsiste apenas no processo que retira ao trabalhador a propriedade de seusmeiosde trabalho,umprocessoque transformaem capitalosmeios sociaisdesubsistnciaeosdeproduoeconverteemassalariadososprodutoresdiretos(MARX,1985,p.830).

    Originase, ento, a passagem da explorao feudal para a explorao capitalista. O

    homem de servo passou a assalariado,de artesoque tinha independncia,para trabalhador

    industrial.Amanufatura,portanto,causousuaprpriadestruio,poisapresentavacadavezmais

    necessidadedeproduo,desembocandonamaquinofatura.

    Ohomem,nessecontexto,tornousepeadamquina,totalmentedesumanizado,prtico,

    incapazdeperceberoprocessodetrabalhocomoumtodoejnohavianecessidadedepensar

    sobre o trabalho a ser realizado, bastava cumprir sua funo como parte da mquina,

    repetitivamente.O trabalhadordeveria realizarseu trabalhosemcontestar,poiscasocontrrio,

    causariadanosaocoletivo.

    Na sociedade contempornea, tambm h exigncias para que o trabalhador tornese

    ajustadoaosditamesdocapital,paraisso,bastalheumaformaoflexvel,queoprepareparao

    mercadode trabalho,oqualexige certa capacidadede abstraoepolivalncia.O trabalhador

  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

    4518

    flexvel,conforme (KUENZER,1999)um[...] trabalhadormultitarefa,enemsemprecriativoe

    autnomo, mas simples tarefeiro em aes esvaziadas de conhecimento tcnico e de

    compromisso poltico com a transformao. Seu domnio pode limitarse a leitura, a escrita,

    clculosbsicos,raciocniorpidoeconhecimentosbsicossobreasnovastecnologiaspresentes

    nomercadodetrabalho,paraquepossaserviraocapital.

    Pensarmossobreaeducaonessecontexto,spossvel,apartirdeumembasamento

    tericometodolgico que ainda que condicionado ao social, traga em seu bojo, potencial de

    transformao,casocontrrio,continuaramosapensarasquestessociaiseeducacionaiscomo

    olhar naturalizado e tudo se tornaria determinado por uma fora superior, logo, educao,

    caberiaapenasaguardarsuaprpriaderrocada.

    EntendemosqueaPedagogiaHistricoCrtica,pautadanomaterialismohistricodialtico

    e com afinidades claras em relao Psicologia Histrico Cultural, ultrapassa as pedagogias

    denominadas por Suchodolski (1978) de Pedagogia da Essncia, e Pedagogia da Existncia,

    introduzidas no Brasil no sculo XIX, que acreditavam que a educao era redentora da

    humanidade.Umprimeiromotivoqueessateoriasabesecondicionadaaosocial,noentanto,a

    educaopodeedeve fazer suaparte visando transformaoda sociedade capitalista, alm

    disso, aPedagogiaHistricoCrtica, considera ahistria, logo,paraexistirumnovo referencial

    tericometodolgicono sepoderiapartirdomarco zero,maspartirdepontos relevantesda

    teoriasqueaantecederam.Destarte,essateoriapedaggicasuperouaPedagogiadaEssnciaeda

    Existnciapor incorporaooradecontedos,orademetodologiaseaoapresentaranfaseno

    processodetransmissoassimilaodosconhecimentosacumuladospelahumanidade,visandoa

    finalidadesdetransformaosocial,estaPedagogiademonstrouserevolucionria.Comopontua

    Saviani(2003):

    A pedagogia revolucionria situase alm das pedagogias da essncia e daexistncia. Superaas, incorporando suas crticas recprocas numa propostaradicalmente nova.O cerne dessa novidade radical consiste na superao dacrena na autonomia ou na dependncia absolutas da educao em face dascondiessociaisvigentes(SAVIANI,2003,p.66).

    Nosso objeto de estudo nesse texto, portanto, a trajetria histrica da Pedagogia

    HistricoCrtica, teoria pedaggica elaborada por Dermeval Saviani, professor emrito da

  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

    4519

    Universidade de Campinas (UNICAMP). Iniciamos pela gnese da Pedagogia HistricoCrtica e

    posteriormente apresentamos seu desenvolvimento e a proposta de uma didtica para esta

    pedagogia,elaboradaem2002peloprofessorDr.JooLuizGasparin,doDepartamentodeTeoria

    ePrticadaEducao,daUniversidadeEstadualdeMaring.

    AgnesedaPedagogiaHistricoCrtica

    A pedagogia histricocrtica teve sua gnese no finaldadcada de 1970 e o primeiro

    esforodesistematizaofoioartigoEscolaedemocracia:paraalmdateoriadacurvaturada

    vara,realizadonaprimeiraturmadeDoutoradoemEducaodaPUCSP,porDermevalSaviani,

    em discusso com os alunosda psgraduao. Iniciavase ummovimento social e cultural de

    mbitonacionale internacional, comobjetivodedesenvolveruma anlise crticadapedagogia

    dominante,quenoapresentavaumaperspectivahistoricizadora,masdecarterreprodutor.

    Saviani(2008a)inferequeessemovimentofoimarcadoporrebeliesdeacadmicosque

    pretendiamumarevoluodebasesocialpormeiodarevoluocultural,motivadaporideologias

    de esquerda, entre diversas verses, o pensamento marxista, porm, tais mobilizaes no

    obtiveram as transformaes desejadas. Para que houvesse a revoluo farseia necessrio a

    mudanadasbasesdasociedadeenoumamudanacultural,porm,apartirdesseensaiode

    revoluoquesurgiramasteoriascrticoreprodutivistas.

    As teorias crticoreprodutivistas de acordo com Saviani (2005), realizaram uma anlise

    crticaecontextualizadadoscondicionantessociais,polticos,econmicos,culturaisedescreviam

    a escola/educao como um fenmeno superestrutural e instrumento ideolgico de

    marginalizao,dominaoe reproduo. Essa teoria,por sua vez, acreditavaque aescolaera

    impossibilitadadetransformarasociedadeereproduzirascondiesdaestruturaexistente,alm

    disso, tais teorias no apresentaram uma proposta de interveno na prtica escolar por

    acreditaremnaimpossibilidadedeserealizarumaprticapedaggicacrtica.

    NoBrasil,de acordo com Saviani (2005),essas teorias foram assimiladase serviramde

    importantefundamentoparafortalecerascrticaspolticaeducacionaldoRegimeMilitar,quese

    utilizavam da escola como aparelho ideolgicoe instrumentode controle.Diantedo contexto

  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

    4520

    nacional, a partir do final da dcada de 1970, grupos de educadores articularam crticas

    educao oficial autoritria e tecnocrtica e se mobilizaram em busca de alternativas que

    superassemos limitesdas teorias crticoreprodutivistas,partindodos trabalhosdos franceses:

    VicentePetiteGeorgesSnyders.

    Para alcanar seuobjetivodeelaborarumapedagogiadebase socialista,paraalmdas

    pedagogiasdaEssnciaedaExistncia,Saviani(2005)reportasehistriadaPedagogiaeretira

    de Suchodolski (1966, 1971, 1976, 1977 e 1984),Manacorda (1964, 1969 e 1977) e Snyders

    (1974,1976e1986) (SAVIANI,2008,p.147),almdeoutrosautores,elementos importantes

    paraenriquecer sua reflexo. Surge,ento, a idia contrahegemnicadaPedagogiaHistrico

    Crtica,umapedagogiadeperspectivahistoricizadora,que tem comoelemento centralo saber

    objetivoecomoguiadeanliseoconceitomododeproduo.

    Apedagogiahistricocrticasurgiunoinciodosanos1980comoumarespostanecessidade amplamente sentida entre os educadoresbrasileirosde superaodos limites tanto das pedagogias nocrticas, representadas pelas concepestradicional, escolanovista e tecnicista, como das vises crticoreprodutivistas,expressasnateoriadaescolacomoaparelho ideolgicodoEstado,nateoriadareproduoenateoriadaescoladualista(SAVIANI,2008,p.XIV).

    AbasedaPedagogiaHistricoCrticaest aliceradanomaterialismohistricodialtico

    (Saviani, 2007), representado principalmente por Marx e Gramsci e suas bases psicolgicas

    possuem afinidades com a Psicologia HistricoCultural, a qual compreende a inserodo ser

    humanoemumacultura,com ferramentasprpriasque foramseaperfeioandonodecorrerda

    histria.EssaPsicologiatrabalhaoconceitodezonadedesenvolvimentoproximalouimediatodo

    educando, pormeio damediaode um adulto e/ou colega com o intuito dedesenvolver as

    funespsicolgicassuperiores,quesereferemaateno,memria,imaginao,pensamentoe

    linguagem (BASTOSEPEREIRA,2005,p.1)e tmporobjetivoaorganizaodavidamentaldo

    indivduoemseucontexto.

    [...] zona de desenvolvimeto proximal [...] a distncia entre o nvel dedesenvolvimento real, que se costuma determinar atravs da soluoindependente de problemas, e o nvel de desenvolvimento potencial,determinado atravsda soluo independente da soluodeproblemas sobaorientao de um adulto ou em colaborao com companheirosmais capazes(VIGOTSKI,2003,p.112).

  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

    4521

    NaperspectivadeVigotski(2003)azonadedesenvolvimentoproximalouimediato(ZDP)

    refereseao intervaloentreonveldedesenvolvimento real (oqueoalunocapazde realizar

    sozinho)eonveldedesenvolvimentopotencial (aspossibilidadesdeconhecimentomediantea

    mediaodeumadultooudecolegasmaiscapazes).

    A nomenclatura Pedagogia Histricocrtica, de acordo com Saviani (2008a), pode ser

    considerada sinnimo de Pedagogia Dialtica, porm, a partir de 1984, o autor opta pela

    denominaoPedagogiaHistricoCrtica.IssoocorredevidoaotermoPedagogiaDialticarevelar

    se genrico e passvel de diferentes interpretaes, como exemplo, o autor cita correntes

    prximas fenomenologia que utilizam a palavra dialtica como sinnimo dedialgico. Alm

    disso,aoouvirapalavradialtica,cadaindivduotemapropriadoumconceitodamesma,oque

    tornaaPedagogiaDialticapassveldeconotaesdiversas.

    Essa formulaoenvolveanecessidadedese compreenderaeducaonoseudesenvolvimento histricoobjetivo e, por conseqncia, a possiblidade de searticularumapropostapedaggicacujopontodereferncia,cujocompromisso,sejaa transformaodasociedadeeno suamanuteno,a suaperpetuao.Esseosentidobsicodaexpressopedagogiahistricocrtica(SAVIANI,2008a,p.93).

    A relao entre a Pedagogia HistricoCrtica e a Educao escolar atual, como pontua

    Saviani (2008a),podeservistadeduas formas:primeira,enquanto teoriapedaggica ntimada

    realidadeescolarporqueoriginadaemdecorrnciadasnecessidadesdoseducadores;segunda,a

    necessidadedecompreensodarealidadeescolaremsuasrazeshistricas.

    Sabesequeohomemdiferenciasedoanimalpelacapacidadedeplanejareanecessidade

    deproduzircontinuamentesuaexistncia,adaptandoanaturezassuasnecessidadespormeio

    dotrabalho,isto,transformandoanaturezaeasiprprio.Emlugardeadaptarsenatureza,

    temdeadaptlaasi.Eesseatodeagirsobreanaturezatransformandoaeajustandoaassuas

    necessidades,oquesechamatrabalho(SAVIANI,2005b,p.225).Aeducao,portanto,origina

    senesseprocesso.

    Aprincpio,ohomemtransformavaanaturezademaneiracoletivaeeducavase,portanto,

    pormeiodotrabalho.Posteriormente,aterratornaseomeiodeproduofundamentalecoma

    existnciadapropriedadeprivada,passa aexistir a classedosproprietrios,quenoprecisam

    trabalhareadosnoproprietrios,quetrabalhamparaamanutenodeambos.Destaforma,a

  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

    4522

    classedosproprietriostornaseociosaeaqueseoriginaaescolaparaocuparseutempolivre

    deformadignaenobre,sendoumamodalidadedeeducaosecundria,vistoquesomenteuma

    minoriatinhaacessoaela.

    Com o advento da modernidade, deslocase o eixo do processo produtivo para as

    atividadesmercantiseaclassedominantejnoociosa,masempreendedora,comnecessidade

    de reproduo em larga escala, visando o capital de forma insacivel. Neste contexto, a

    necessidadedeconhecimentointelectualgeneralizaseeaformaescolarpassaaserdominante.

    Porm, para a classe trabalhadora, nas palavras de Adam Smith em doses homeopticas,

    considerandoquepararespondersdemandasdasociedadecapitalista,oindivduodeveteruma

    formaomnimanecessriaaomercadodetrabalho.Destaforma,esvaziaseafunodaescola

    de socializao do saber elaborado e como pontua Saviani (2008a), instituise o carter

    assistencialista.

    Paraquenosepercaaespecificidadedaeducaoescolar,oautorressaltaaimportncia

    desepararmosnocurrculooscontedosprincipaisesecundrios(curriculareseextracurriculares)

    eumaboa formautilizarsedos clssicos,poisum clssico aqueleque resistiu ao tempo

    (Saviani,2008a).Aindasobreaimportnciadosclssicosnaeducao,Gasparin(1997),noschama

    aatenoparaanecessidadede reflexo,seriedadee fundamentao tericanaeducao,em

    temposemqueseexigedoprofessorurgncianasrespostas.

    Semprequenosreferimosaoquesejaumclssico,entendemostratarsedeumautor ou de uma obra que por suaoriginalidade, purezade estilo e, acimadetudo,pelofundoeformairrepreensveis,constituiummodelodignodeimitao.algoque foipostoprovadotempoe,porterresistido,tornousepermante,famoso,deprimeiraclasse(GASPARIN,1997,p.40).

    Inferimos com base em nossos estudos, que um clssico aquele que respondeu s

    necessidades em determinada rea do conhecimento em seu tempo e que devido sua

    magnitudeperpetuouse.Amaneiradeestudarmoshojeumautor clssico,portanto,deve ser

    comumolhardequemconheceaimportnciaqueseusestudostiveramparaasociedadedeseu

    tempoeoquantoenriquecem,emparte,nossasreflexessobreasociedadecontempornea.

  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

    4523

    OmtododaPedagogiaHistricoCrtica:

    Omtodoquepreconizoderivadeumaconcepoquearticulaeducao e sociedade e parte da considerao de que asociedade em que vivemos dividida em classes cominteressesopostos(SAVIANI,2005,p.75).

    AosistematizaromtododaPedagogiaHistricoCrtica,Saviani(2008a)odivideemcinco

    momentos, sendo eles: prtica social, problematizao, instrumentalizao, catarse e prtica

    socialfinal.

    APrtica socialopontodepartida,oprimeiromomento, comum tanto aoprofessor

    quantoaoseducandos,iniciandocomummovimentodialticoquevaidasncrese(visocatica,

    fragmentada do todo) sntese (conhecimento mais elaborado, cientfico) pela mediao da

    teoria.

    O segundomomento o da problematizao, isto , da discusso juntamente com os

    alunossobreosproblemasenfrentadosnasociedadesobredeterminadotema,objetodeestudo

    daunidadeplanejadapeloprofessor.

    Nainstrumentalizao,oconhecimentocientficodeveserelaboradoconjuntamenteentre

    professor e aluno, entretanto, vale ressaltar que o aluno parte de uma viso sincrtica, no

    idnticaadoprofessorquejpossuiumavisodesntese,e,portanto,mediaoconhecimento.

    Acatarse,porsuavez,revelasenasntesefinalelaboradapeloaluno,que,partindodesua

    realidade(conhecimentosincrtico),pormeiodamediaodoprofessor,temumsaltoqualitativo

    na aprendizagem, chegando a uma viso mais elaborada, de sntese. A catarse revelase na

    elaboraoeexpressofinaldasnteseemqueoalunofoicapazdechegar.

    Em sua nova prtica social, o aluno alterou qualitativamente seu conhecimento pela

    mediao,emmovimentodialtico contnuo [...] aprtica social referidanopontodepartida

    (primeiropasso)enopontodechegada(quintopasso)enoamesma(SAVIANI,2005,p.72),

    opontodechegadavoltaaseropontodepartidaconstantemente.

  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

    4524

    UmaDidticaparaaPedagogiaHistricoCrtica

    No ano de 2002 a Pedagogia HistricoCrtica foi traduzida em forma de Didtica pelo

    professorDoutorJooLuizGasparin,integrantedocorpodocentenoscursosdegraduaoeps

    graduaodaUniversidadeEstadualdeMaringUEM.Devidoasuaamplaaceitao,aobrafoi

    traduzidaparaoespanhol, tendocomo ttulo:UnaDidcticapara lapedagogiahistricocrtica:

    umenfoquevigotzquiano,suapublicaoaconteceuem2004peloInstitutodePedagogiaPopular

    deLima,Peru.

    Emseu livro,Gasparin (2003)explicitaumadidticaparaaPedagogiaHistricoCrtica,

    isto,umaformadetraduziressateoriapedaggicaparaadidtica,semcomissoexcluiroutras

    que possivelmente seriam elaboradas.O livro traz a possibilidadede aprofundamento terico

    dentrodospressupostosdomaterialismohistrico,daPsicologiaHistricoCulturaledaPedagogia

    HistricoCrtica, mas tambm aponta vrias possibilidades de trabalho em sala de aula,

    exemplificando maneiras de realizao do processo de ensinoaprendizagem dentro da

    organizaodidticometodolgicaproposta.

    O mtodo da didtica dividese em cinco passos: Prtica social inicial do contedo;

    problematizao,instrumentalizao,catarseeprticasocialfinal.

    Naprticasocialinicialdocontedo,oprofessoririnstigaroalunoaestabelecerrelaes

    entreoqueserministradoesuaprticacotidiana,isto,oqueoalunojconhecesobreotema.

    Partese dos conhecimentos prvios que os educandos possuem em relao ao contedo

    proposto,poisseconsideraqueoeducandonoumatbularasa,maschegaaocontextoescolar

    com experincias oriundas de suas relaes sociais, e estas devem ser consideradas pelo

    professor. Neste momento, o aluno ir demonstrar seu desenvolvimento a partir de suas

    convicesevivncias.Enfatizandoaimportnciadessaetapa,Gasparin(2003)reportaseaFreire

    & Campos (1991); Cortella (2001); Vasconcelos (1993) e Vigotski (2001), autores que em seus

    estudospontuamqueaescolarizaonopartedovazio,masde todoumhistricovivenciado

    peloeducandoemsuaprticasocial.

    Partirdessaprticasocial inicialemqueseencontraoeducando,portanto,nosignifica

    permanecernela,maspormeiodamediaooprofessorirdesenvolversuaaulacomoobjetivo

  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

    4525

    de que este passe deuma viso sincrtica emquenormalmente se encontra em relao aos

    contedos, a uma viso de sntese do processo como um todo, que se supe o professor j

    vivenciounoprocessodesuaformaoeduranteoplanejamentodasaulas.Valesalientarque,a

    visodoprocessocomoumtodoqueoprofessorpossui,aindaprecria.Sobreaprticasocial,

    Gasparin(2003)afirmaque:

    Aprticasocialconsideradanaperspectivadopensamentodialticomuitomaisampladoqueaprticasocialdeum contedoespecfico,pois se refereaumatotalidadequeabarcaomodocomooshomensseorganizamparaproduzirsuasvidas,expressonasinstituiessociaisdotrabalho,dafamlia,daescola,daigreja,dos sindicatos, dos meios de comunicao social, dos partidos polticos, etc.(GASPARIN,2003,p.19).

    Entendemosqueaprticasocialdoeducandonaqualoprofessorsepautaparainiciarsua

    aula dentro dos pressupostos didticometodolgicos da didtica para a Pedagogia Histrico

    CrticadeGasparin (2003), refereseaosculossociaisdesseeducando,ouseja,suaanlise

    referentevisodetodoumgruposocial,relacionadaaocontedoproposto.

    Aps interagircoma turmabaseadoemseusconhecimentosadquiridospreviamente,na

    prticasocial,oprofessorirproblematizarocontedo,levantandooqueosalunosgostariamde

    saber alm do que j conhecem sobre o assunto e confrontandoos com sua prtica social,

    momentoemqueoprofessorselecionaasprincipaisinterrogaesoriginadasnaprticasocial.A

    problematizaotemcomoobjetivoselecionarasprincipaisinterrogaeslevantadasnaprtica

    social a respeito de determinado contedo (GASPARIN 2003, p.37). Nesse momento,

    importantequeoprofessoresclarea a importnciado contedonaprtica socialmais ampla,

    desta forma, ir propor questes ligadas prtica social inicial dos educandos, que podero

    apresentarse superficiais, dependendo do professor uma postura que instigue seus alunos ao

    interessepeloconhecimentosistematicamenteelaborado.Seusquestionamentosdevempautar

    seem aspectos [...] conceituais, sociais,econmicos,polticos, cientficos, culturais,histricos,

    filosficos, religiosos,morais,ticos,estticos, literrios, legais, afetivos, tcnicos,operacionais,

    doutrinrios(GASPARIN2003,p.42),deformaaconscientizaroseducandossobreadiferenaque

    essateoriapropeaoprocessodeconstruodoconhecimento.

    A instrumentalizaoo terceiropassoeconsisteemaesdidticopedaggicasparao

    direcionamento do processo de ensino e aprendizagem. O professor enquanto mediador do

  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

    4526

    conhecimentoapresentademaneirasistemticae intencionalonovocontedoeosalunos,por

    suavez,tambmdeformaintencional,buscamapropriarsedosfundamentostericos.

    [...] os educandos, com auxlio e orientao do professor, apropriamse doconhecimento socialmente produzido e sistematizado para enfrentar eresponderaosproblemaslevantados(GASPARIN,2003,p.51).

    Esseprocessoemquepartesedeumaconceposincrticadoeducando,portanto,ainda

    fragmentadaenebulosaemrelaoaoconhecimentopropostoebuscaseatingirumaconcepo

    desntese,maiselaborada,nosedde formalinear.Aopartirdosconhecimentosprviosdos

    educandos,o professor ir instrumentalizlos como conhecimento cientfico e contrapor tais

    conhecimentos,paraque,mediadospelaanlise,oseducandosapropriemsesucessivamentedo

    conhecimentoproposto,emummovimentodialtico.

    A catarse referese sntesemental elaboradapelo aluno aps incorporar o contedo

    proposto.Nestemomento,hum saltoqualitativona aprendizagemdo aluno,oqualpassada

    visosincrticainicialaumanovaviso,agoramaiselaborada,desntese.Compreendese,ento,

    atotalidadedocontedo.

    Acatarseasntesedocotidianoedocientfico,dotericoedoprticoaqueoeducandochegou,marcandosuanovaposioemrelaoaocontedoeformadesuaconstruosocialesuareconstruonaescola.aexpressotericadessaposturamentaldoalunoqueevidenciaaelaboraodatotalidadeconcretaemgraumaiselevadode compreenso. [...]onovoponto tericode chegada;amanifestaodonovoconceitoadquirido(GASPARIN,2003,p.124).

    Ao demonstrar o processo que vai do ponto de partida ao ponto de chegada do

    conhecimento,Gasparin (2003) fala sobre anaturalizaodas coisasparao sujeitonoprimeiro

    momento, isto,oalunopartedoprincpiodequeaorganizaosocialeascondiesdevida

    nessasociedadecapitalistasempreforamdamesmaformaqueapercebemoshojeequenadase

    podefazerparamudar.Noentanto,aopassarpelainstrumentalizao,aqueleconhecimentodo

    ponto de partida transformase e o aluno por aproximaes sucessivas, com a mediao do

    professoredoscolegas,apropriasedoconhecimentocientfico,agoraelepassaaentenderquea

    realidadeconhecidacarregaumahistria,intencionalidade,produosocialedialeticamente,o

    processosereinicia.

  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

    4527

    Finalmente,naprtica social finaldo contedo,queopontode chegadadoprocesso

    pedaggico, tantooaluno,quantooprofessor,sofreramumaalterao intelectualequalitativa

    referenteaocontedoestudado.Oaluno,porsuavez,deverapresentarumanovacompreenso

    da realidade,partindodos conceitosapreendidosparadesenvolvernovasatitudesnomeioem

    quevive.

    Consideraespossveis

    APedagogiaHistricoCrticaconsideraemsuasanlisessobrearelaoentreeducaoe

    sociedade,quehdeterminaodeuma sobre aoutra, jque odeterminado tambm reage

    sobreodeterminante.Aeducaofazpartedastransformaesnasociedade,e,essasmudanas

    configuramse no prprio compromisso de tal proposta. Nesse sentido, [...] preciso, pois,

    resgataraimportnciadaescolaereorganizarotrabalhoeducativo,levandoemcontaoproblema

    dosabersistematizado,apartirdoqualsedefineaespecificidadedaeducaoescolar(SAVIANI,

    2005b,p.98),pois, aeducao escolar, segundoessa teoria,possui a funode sistematizare

    socializarosaberacumuladohistoricamente,convertendooeminstrumentoculturalnecessrio

    transformaosocial.Aeducao,agindosobreossujeitos, transformaoseesses,porsuavez,

    enquantoagentessociaisativos,transformamasuaprticasocial.

    Atarefadessateoriapedaggicanaeducaoescolarconsiste,portanto,emidentificaras

    formasmaisdesenvolvidasdosaberobjetivoproduzidohistoricamente,bemcomoascondies

    de suaproduo,principaismanifestaese atuais tendnciasde transformao, conversodo

    saber objetivo em saber escolar; propiciar a assimilao deste saber, alm de apreender o

    processodesuaproduoetendnciasdetransformao(Saviani,2008a).

    A especificidade da escola a socializao do saber produzido e acumulado pela

    humanidadedeformasistematizada,logo,suamaiornfaseestnoscontedoscurriculareseno

    trabalho pedaggico pautado na sistematizao e organizao dos contedos que so

    transmitidos/mediadosdemaneiraintencional.

    Emtermosdeaplicaodidticometodolgicadessateoriapedaggica,constatamosque

    otrabalhojuntoaosacadmicosdentrodessaperspectiva,valorizasuaexperinciadevidaeos

  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

    4528

    conhecimentosprviosem relaoaocontedoaserestudado,sendoopontodepartida,sem,

    contudo, abrir mo da interveno do professor por meio da mediao. Esse processo de

    mediao ocorre de maneira sistematizada e intencional, propiciando a apreenso dos

    conhecimentos referentes s disciplinas de Prtica de Ensino e Didtica. A nfase maior, no

    entanto, recaisobreaprxisdosestagiriosemsuas intervenesnombitoescolar,que,aps

    apreenderemospressupostos tericometodolgicosda teoria,podero vivencilosnaprtica

    comosalunos.

    Referncias

    BASTOS, IvanildaMariaeSilva;PEREIRA,SoniaRegina.AContribuiodeVygotskyeWallon na compreensododesenvolvimentoinfantil.In:Rev.Cinc.Md.,Campinas,14(6):537541,nov./dez.,2005.GASPARIN,JooLuiz.UmadidticaparaaPedagogiaHistricoCrtica.Campinas,SP:AutoresAssociados,2003.______.ComnioAemergnciadamodernidadenaeducao.Petrpolis,RJ:Vozes,1997.KUENZER,AcciaZeneida. Excluso includentee inclusoexcludente:anova formadedualidadeestruturalqueobjetiva as novas relaes entre educao e trabalho. Disponvel em:http://www.pedagogia.seed.pr.gov.br/arquivos/File/semanas_pedagogicas/2009/exclusao_includente_kenzer.pdfAcessoem01deMarode2012.MARX,Karl.OcapitalCrticadaeconomiapoltica.Vol.II.SoPaulo:DIFEL,1985.SAVIANI,Dermeval.EscolaeDemocracia.Campinas,SP:AutoresAssociados,2005.______.HistriadasIdiasPedaggicasnoBrasil.Campinas,SP:AutoresAssociados,2007.______.PedagogiaHistricoCrtica:primeirasaproximaoes.Campinas,SP:AutoresAssociados,2008a.______.ApedagogianoBrasil.Campinas,SP:AutoresAssociados,2008b.______. Educao socialista, Pedagogia HistricoCrtica e os desafios da sociedade de classes. In: Marxismo eeducao.LOMBARDI,JosClaudinei;SAVIANI,Dermeval(orgs.).Campinas,SP:AutoresAssociados,2005b.SUCHODOLSKI, Bogdan. A pedagogia e as grandes correntes filosficas: pedagogia da essncia e pedagogia daexistncia.Lisboa:LivrosHorizonte,1978.VIGOTSKI,L. S.A formao socialdamente:odesenvolvimentodosprocessospsicolgicos superiores.SoPaulo:MartinsFontes,2003.