Artigo PDE 2011 - Operação de migração para o novo ... · buscar o equilíbrio entre a mulher,...
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Artigo PDE 2011
O GUACHE E A PORTA-BANDEIRA:
UMA LEITURA DE DRUMMOND E DE ADÉLIA PRADO
Autora: Vilma Wons1
Orientadora: Dra. Rita Felix Fortes2
RESUMO
Objetiva-se no presente estudo analisar comparativamente os poemas “Poema de Sete Faces”, “Cidadezinha Qualquer”, “O Beijo”, “Sina” e “Procura da Poesia”, de Carlos Drummond de Andrade, e “Com Licença Poética”, “Bucólica Nostálgica”, “Figurativa”, “Endecha das Três Irmãs” e “Antes do Nome”, de Adélia Prado, comparando/ contrapondo-os à perspectiva masculina e à feminina em relação aos temas: o fazer poético; os conflitos existenciais; a relação entre o homem e a natureza e a educação patriarcal. É evidente que os alunos em geral, dentre os quais estão incluídos os do Ensino Médio, têm grande dificuldade em estabelecer relações entre o uso diário da língua falada, sua transformação em linguagem escrita, bem como as especificidades da escrita, dentre as quais se inclui a linguagem literária, seja em prosa, seja em poesia. A partir da consciência dessas dificuldades, o que pode ser feito para que o aluno tenha maior habilidade no manejo da linguagem escrita? A questão a se perguntar é como se pode, a partir do uso corriqueiro da linguagem, levar o aluno a compreender a linguagem literária para que esta deixe de ser, apenas, parte do conteúdo obrigatório e se transforme numa produção de sentido que possa ampliar a visão de mundo? A partir de que enfoque se pode adentrar na poesia sem que essa pareça algo estanque, sem qualquer referência com a realidade? Estas são algumas indagações recorrentes sobre as quais se aterá no presente estudo. Palavras-chave: Adélia Prado, Carlos Drummond de Andrade; lírica; perspectiva masculina e feminina
ABSTRACT
It is aimed in the present study analyses comparatively some poems of Carlos Drummond de Andrade and Adélia Prado, comparing or setting the masculine perspective against the feminine one regarding the subjects: to make it poetic; the existential conflicts; the relation between the man and the nature; the patriarchal
1 Profa.de Língua Portuguesa. Docente – Col. Estadual Barão do Rio Branco Ens. Fund. e Médio, Palotina –– PR. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – E-mail: [email protected].
2 Profa. Dra. Rita das Graças Felix FORTES – docente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). E-mail: [email protected].
education. The pupils in general, have difficulties in establishing relations between the use of the well-known language, his transformation in written language, as well as the specificity of this, when literary language is included in this roll, be in prose, be in poetry. From the conscience of these difficulties, what can be done so that the pupil has bigger skill in the handling of the written language? How is one possible, from the ordinary use of the language, lead the pupil to understand the literary language so that she changes into a production of sense that could enlarge the world vision? From what approach is it possible to enter in the poetry without which does that one seem anything watertight, without any reference with the reality? These are some recurrent investigations on which the present study will keep. Keywords: Adélia Prado, Carlos Drummond de Andrade; lyric; masculine and feminine perspective
1 Introdução
Carlos Drummond de Andrade e Adélia Prado são autores considerados
ícones da literatura brasileira, cada um, porém, com suas características próprias de
dizer e de sentir o mundo. Na obra drummondiana, dentre os vários temas
recorrentes, destacam-se aqueles que colocam o homem em conflito com o mundo
moderno. A lírica de Adélia Prado distingue-se da de Drummond, visto que ela tenta
buscar o equilíbrio entre a mulher, a mãe, a dona-de-casa, a catequista e a poeta.
Mesmo com essas características próprias, Drummond e Adélia Prado, cada
um a seu modo, são capazes, através da lírica, de levarem os leitores a refletirem
sobre questões fundamentais em relação aos conflitos e às alegrias do ser humano
em suas relações consigo mesmo, com o mundo, com a família, com a natureza.
Objetiva-se no presente texto – partindo-se da análise comparativa entre os
poemas “Poema de Sete Faces3” (p. 4), “Cidadezinha Qualquer” (p. 21), “O Beijo” (p.
509), “Sina” (p. 608) e “Procura da Poesia” (p. 95), de Carlos Drummond de
Andrade, e os poemas “Com Licença Poética4” (p. 9), “Bucólica Nostálgica” (p. 50),
“Figurativa” (p. 136), “Endecha das Três Irmãs” (p. 61) e “Antes do Nome” (p. 30), de
3 Todas as citações de “Poema de Sete Faces”, “Cidadezinha Qualquer”, “Sina”, “Procura da Poesia”, e “O Beijo” – que serão analisados no presente estudo – referem-se a: ANDRADE, Carlos Drummond de. Carlos Drummond de Andrade: prosa e poesia. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, e, após cada poema, será inserido, apenas, o número da página.
4 Todas as citações de “Com Licença Poética”, “Bucólica Nostálgica” “Endecha das Três Irmãs”, “Figurativa” e “Antes do Nome” – que serão analisados no presente estudo – referem-se a: PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986 e, após cada poema, será inserido apenas o número da página.
Adélia Prado – desenvolver no aluno a capacidade de compreender a literatura
como a arte que é produzida a partir “da manifestação universal do homem”
(CANDIDO, 1995, p. 242), por isso, capaz de torná-lo apto a compreender as
próprias crenças e costumes, heranças do meio social no qual ele se insere.
Conforme o estabelecido nos objetivos do projeto e ao que foi proposto no
Projeto de Intervenção Pedagógica, selecionou-se o gênero literário com vistas a
proporcionar aos alunos caminhos para eles melhorarem sua compreensão em
relação à leitura de qualquer texto literário – mas também de interpretar em geral – e
que eles poderão também consolidar determinados conceitos que os tornarão mais
abertos à compreensão da diversidade humana como um todo, além de perceberem
como, nos recursos utilizados pelos autores na lírica como um gênero literário
específico, o eu-lírico desvela seus sentimentos em relação ao mundo que o cerca.
Objetivando ampliar o conhecimento de mundo do aluno é que os poemas
supracitados foram selecionados, já que eles trazem como temas: (i) a perspectiva
existencial do homem, (ii) relação homem versus natureza, (iii) as relações
familiares, (iv) a condição da solteirona na sociedade burguesa do século XX e (v) a
metapoesia.
Essa forma de trabalhar com o aluno visou suprir o problema que se
apresentava de como encontrar um caminho que, partindo do uso da linguagem
literária, leva o aluno a compreender essa linguagem para que ela deixe de ser,
apenas, parte do conteúdo obrigatório escolar e se transforme numa produção de
sentido que possa ampliar a visão de mundo e, a partir desse enfoque, se possa
adentrar na poesia sem que pareça algo estanque, sem qualquer referência com a
realidade.
O presente texto resultou da necessidade de compreender como se dá a
produção de sentido no contexto lírico e como essa produção de sentido pode ser
repassada para os alunos na prática em sala de aula. Vale, portanto, ressaltar que
este artigo é a síntese de uma pesquisa mais ampla, vinculada ao Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE, ao longo de 2010 e2011. O Plano de Trabalho
inicial resultou na publicação de material didático, em formato de “Sequência
Didática”, que foi utilizado na implementação do estudo com os alunos e
disponibilizado para os professores da Rede Pública Estadual.
2 Referencial Teórico
A fundamentação teórica que sustentou a análise dos poemas pautou-se,
principalmente, em: Sobrados e Mucambos, de Gilberto Freyre; A História das
Mulheres no Brasil, de Mary del Priori; Mulher de Família Burguesa, de Maria Ângela
D´Incao; O Texto Poético: crítica e devaneio, de Rita Felix Fortes;
Masculino/Feminino: pensando a diferença, de Francoise Héritier; O Afã e a
Insolvência: a marca do dilaceramento na poética, de Cláudia Campos Soares; e O
Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir.
Mary del Priore, Maria Angela D’Incao e Françoise Héritier foram
selecionadas devido ao fato de elas analisarem a condição feminina na sociedade
patriarcal não só do Brasil, bem como de outros países e suas obras foram de suma
importância para a compreensão do poema drummondiano intitulado “Sina” e do
adeliano “Endecha das Três Irmãs". Gilberto Freyre nos forneceu subsídios para que
compreendêssemos o poema drummondiano intitulado “Sina” e do adeliano
“Endecha das Três Irmãs”. Já os poemas “O Beijo" e “Figurativa” foram analisados
pelo prisma das leituras de textos de Gilberto Freyre, que se atém às relações
familiares na sociedade patriarcal brasileira; paralelamente foram feitas leituras
sobre o masculino e o feminino de Françoise Héritier, que se atém ao estudo da
origem do pensamento sobre a inferioridade feminina em relação à masculina. Rita
das Graças Felix Fortes analisa comparativamente diversas obras da literatura
brasileira, atuando em temas como espaço, tempo, decadência, patriarcalismo e
infância. Cláudia Campos Soares se atém à análise de vários poemas da obra de
Adélia Prado.
Além dos autores supracitados citados, vários outros que aparecem nas
referências bibliográficas ajudaram a tornar o estudo desenvolvido neste projeto de
fácil compreensão.
3 Metodologia
As atividades para a implementação da Produção Didático-Pedagógica no
Colégio Estadual "Barão do Rio Branco" foram iniciadas com o estudo sobre a
estrutura dos poemas, para que o aluno se familiarizasse com as diversas formas de
apresentação desse tipo de literatura no que se refere às formas poéticas, ou seja,
os versos, as estrofes, métrica e, quando ocorrem, as rimas, pois, conforme Lyra
(1986, p. 37):
[...] o poema é um objeto empírico e [...] a poesia é uma substância imaterial, [...] o primeiro tem uma existência concreta e a segunda não. Ou seja: o poema, depois de criado, existe por si, em si mesmo, ao alcance de qualquer leitor, mas a poesia só existe em outro ser: primariamente, naqueles onde ela se encrava e se manifesta de modo originário, oferecendo-se à percepção objetiva de qualquer indivíduo; secundariamente, no espírito do indivíduo que a capta desses seres e tenta (ou não) objetivá-la num poema; terciariamente, no próprio poema resultante desse trabalho objetivador do indivíduo-poeta.
A seguir, foram selecionados, para apresentação aos alunos, alguns slides de
autoria da senadora Gleice Hoffmman, intitulados “Mulher, um ser passível de
mudanças”, disponível em <httpp//www.slideshare.net>, os quais proporcionaram
um debate relacionado ao tema “O papel da mulher na transformação da
sociedade”, tema esse que seria retomado quando da análise dos poemas “Sina”3 e
“Endecha das Três Irmãs". Discutiu-se, ainda, sobre a sociedade e o contexto social
do século XX, objetivando-se facilitar a compreensão e a análise dos poemas “O
Beijo” e “Figurativa”, para que o aluno compreendesse a literatura como uma arte
com determinadas características quanto à linguagem, mas, também como
resultante das ações humanas, pois, como define Candido (2006, p. 127-128),
[...] entendemos por literatura [...] fatos eminentemente associativos; obras e atitudes que exprimem certas relações dos homens entre si, e que, tomadas em conjunto, representam uma socialização dos seus impulsos íntimos. Toda obra é pessoal, única e insubstituível, na medida em que brota de uma confidência, um esforço de pensamento, um assomo de intuição, tornando-se uma expressão.
As atividades do “Módulo um”, relativas à Produção Didático-Pedagógica
anteriormente produzida, foram iniciadas com uma sondagem relacionada ao
conhecimento que os alunos teriam a respeito dos poetas Carlos Drummond de
Andrade e Adélia Prado. Constatou-se que o conhecimento sobre o poeta
Drummond resumiu-se em “ouvi falar” e, quanto à Adélia Prado, “não sei quem é”. A
partir desses resultados, foram elaborados slides sobre os poetas, imagens nas
quais se procurou, de forma sucinta, mostrar um pouco da vida e da obra de ambos
os poetas.
Notou-se interesse por parte dos alunos em querer saber se Carlos
Drummond de Andrade e Adélia Prado tiveram uma vida comum, – já que eram
poetas. Tendo por base essa indagação, solicitou-se àqueles que perguntaram que
fizessem uma pesquisa biográfica sobre esses poetas e o resultado dessa pesquisa
foi apresentado aos colegas na sala de aula. Estabeleceu-se um prazo de dois dias
para a pesquisa, a qual foi apresentada em sala de aula, mas, como o resultado foi
muito superficial, foi ela complementada com um estudo mais detalhado sobre os
dois autores e a relação de ambos com a sociedade. Tal apresentação pautou-se
nas pesquisas realizadas durante a elaboração do projeto de Intervenção
Pedagógica e apresentado à SEED.
Além dos 33 anos que separam o nascimento de Carlos Drummond de
Andrade (1902) do de Adélia Prado (1935), suas histórias familiares são muito
diferentes. Ele, filho e neto de fazendeiros em decadência – já que sua família
perdeu quase todas as suas posses devido às constantes crises que afetaram o
sistema político-econômico do Brasil entre o final do Império aristocrata e o da
República Velha –, foi educado e formado nos moldes da família patriarcal. Sua
infância, no início do século XX, ainda guarda resquícios da organização patriarcal,
logo, autoritária e centralizadora, como era característico da sociedade rural
brasileira decadente e em busca de nova identidade.
Drummond formou-se em Farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925, mas
nunca exerceu a profissão e, nesse mesmo ano, fundou, com outros escritores, A
Revista, periódicos que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação
do Modernismo em Minas Gerais. Carlos Drummond de Andrade ingressou no
serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de
gabinete de Gustavo Capanema, então ministro da Educação. A partir de 1945,
Drummond passou a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 ele colaborou como cronista no
jornal “Correio da Manhã” e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil: ambos do
Rio de Janeiro. Drummond, nascido em Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, em 31
de outubro de 1902, morre no dia 17 de agosto do ano de 1987, aos 85 anos de
idade.
Adélia Prado é filha de pai ferroviário e recebeu uma educação que estava em
sintonia com os padrões femininos proletários da época. Quando ela estava com
quinze anos faleceu sua mãe e esse acontecimento foi determinante na sua
trajetória poética, pois ela começou a escrever como uma forma de lidar com tão
grande perda. Conclui o curso ginasial no Ginásio “Nossa Senhora do Sagrado
Coração”, em Divinópolis, e, em 1951, inicia o curso de magistério na Escola Normal
“Mário Casassanta” e o conclui em 1953. A partir de então iniciou a carreira de
professora e em 1973 formou-se em Filosofia.
Soares (1992, p. 4), em O Afã e a Insolvência: a marca do dilaceramento na
poética de Adélia Prado, dissertação de mestrado, faz a seguinte referência: “Adélia
Prado é uma escritora bastante singular no cenário literário brasileiro. [...] apresenta-
se como uma pacata moradora de Divinópolis exercendo a função de dona-de-casa,
mãe-de-filhos”.
Adélia Prado nunca escondeu sua fé, professando sua religiosidade
embasada no catolicismo e o eu-lírico em sua obra:
[...] assume o papel reservado à mulher [...] sem que isso implique em submissão [...]. Adélia Prado aceita o seu papel com consciência crítica [...]. Rebelde ao que, no papel aceito, possa implicar em limitação de possibilidades de experiências vitais, rebelde também à visão de certos feminismos que o interditam integralmente. (SOARES, 1992, p. 4, 5).
Fazem parte do cotidiano poetizado por de Adélia Prado, além de seu quintal
e de sua bíblia, alguns cânones da literatura brasileira, dentre os quais Carlos
Drummond de Andrade. Como ela mesma diz:
Moça feita, li Drummond a primeira vez em prosa. Muitos anos mais tarde, Guimarães Rosa, Clarisse. Esta é a minha turma, pensei. Gostam do que eu gosto. Minha felicidade foi imensa. (Disponível em: <http://www.releituras.com/aprado_bio.asp>. Acesso em: 13 fev. 2011).
A poesia de Adélia Prado se volta constantemente para a transcendência
religiosa, mas esta se amalgama aos temas mais prosaicamente humanos, presente
nas ações cotidianas e é nessa mescla que a poeta encontra sua verdade poética,
que está inserida no espaço de sua casa, família e cidade onde nasceu. Assim, a
poesia adeliana, com versos e ritmos amplos, ancorados em um tom confessional
feminino, traz inovações para a lírica brasileira contemporânea, ― “[...] residindo aí,
paradoxalmente, um dos fatores de seu sucesso” (SECCHIN, 1996, p. 110).
Conforme Guimarães (2006, p. 19):
A lírica adeliana se alimenta do anseio em buscar uma expressividade, de como dizer a vida e a realidade em sua plenitude, incluindo as lembranças do vivido ou do sonhado pelo sujeito lírico. Desejo de ser plenamente, desejo que a linguagem em sua condição precária não consegue alcançar, mas insinua, refletindo o impasse entre a palavra e o mundo. Um eu poético que é múltiplo, mas que anseia ser uno. Busca a unidade pela sua temática memorialística, em que comparece a infância com as lembranças dos pais, dos espaços, dos objetos, dos parentes transpostos em belas imagens.
Sandra Vaz de Lima, que atua na área de Formação de Docentes, em artigo
on-line, escreve: ― “Adélia Prado examina a condição feminina, transformando o
padrão organizacional da tradição patriarcal, cujo sistema explora as mulheres”.
(Disponível em: <http://www.artigonal.com/educacao-artigos/adelia-prado-1863607.
html>. Acesso em: 15 mar. 2011). Além de sua necessidade de se expressar através
da poesia, Adélia Prado sempre reforça a ideia de que a mulher ainda precisa abrir
seu caminho, entretanto, este não se dará pela exclusão do homem, mas, ao
contrário, ao lado dele. Já Drummond, segundo Fortes (1994), iniciou sua carreira
literária sob a égide do movimento literário modernista, que teve como princípio
reagir à estética de se fazer “arte pela arte”, reação estética a qual trazia, em seu
bojo, o desejo de retratar um Brasil real, com seus personagens, sua língua, seus
costumes. Drummond queria fazer dos cotidianos conflitos humanos tema recorrente
de sua longa produção lírica. A poesia drummondiana também, segundo Fortes
(1994, p. 55-56), “[...] é profundamente marcada pelas transformações modernistas
que estavam ocorrendo”.
Após essa exposição, foram apresentados aos alunos os poemas: “Poema de
Sete Faces”, de Drummond, e “Com Licença Poética”, de Adélia Prado. O primeiro
foi apresentado na voz do cantor “Samuel Rosa” e o vídeo se encontra disponível
em <http://www.youtube.com/watch?v=imR24OrgvMo>, enquanto o poema de
Adélia Prado foi lido. Na sequência, passou-se à análise dos poemas, destacando-
se como o eu lírico masculino e feminino se reportam ao tema do existencialismo
nos dois poemas, conforme a análise a seguir.
4 Análise
4.1 O guache e a porta-bandeira: análise de “Poema de Sete Faces” e “Com
Licença Poética
Adélia Prado, no poema “Com Licença Poética”, que abre seu primeiro livro,
intitulado Bagagem (1976), pede licença – de forma reverente, com admiração e
respeito – a Carlos Drummond de Andrade para adentrar ao mundo da lírica. Nesse
poema ela dialoga explicitamente com o “Poema de Sete Faces”, que abre o
primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade, intitulado Alguma Poesia (1930).
Drummond, no “Poema de Sete Faces”, dialoga com uma vasta tradição lírica
de desencantos e de desajustes, que remete à lírica romântica, cujos maiores
referenciais são: – Lorde Byron, poeta inglês do último quartel do século XVIII e
primeiro do século XIX, – Charles Baudelaire, poeta francês do século XIX, –
Goethe, escritor alemão pré-romântico da segunda metade do século XVIII e
primeiras décadas do século XIX, – Álvares de Azevedo, poeta romântico brasileiro
do segundo quartel do século XIX, e – Cruz e Souza, poeta simbolista da segunda
metade do século XIX. Embora a forma seja modernista, a tradição do desajuste e
do desencanto tem uma larga tradição lírica.
Essa tradição drummondiana remete à história masculina, ou seja, ao
universo literário e intelectual tradicionalmente masculino, quando à mulher ainda
mulher cabia, principalmente, o universo da casa e da família e a condição de
“apêndice” do marido, conforme afirma Freyre (1977, p. 108):
[...] da mulher-esposa, quando vivo ou ativo o marido, não se queria ouvir a voz na sala, entre conversas de homem, a não ser pedindo vestido novo, cantando modinha, rezando pelos homens; quase nunca aconselhando ou sugerindo o que quer que fosse de menos doméstico, de menos gracioso, de menos gentil; quase nunca se metendo em assuntos de homem.
Assim, portanto, até o início do século XX, a história feminina e a participação
intelectual da mulher não tinham, ainda, uma larga tradição, como a masculina. É
essa história ainda por fazer que leva Adélia Prado, simultaneamente, a dialogar, a
reverenciar e a se contrapor à perspectiva drummondiana no poema “Com Licença
Poética”. O anjo da guarda do eu-lírico no poema drummondiano é torto e sombrio,
remetendo à tradição de desencanto supracitada: “Quando nasci um anjo torto /
desses que vivem na sombra”, conforme o “Poema de Sete Faces” (p. 4). Como o
eu-lírico adeliano ainda tem que abrir caminho, seu anjo, ao contrário, não tem
tradição de desajuste e de desencanto, mas tem disposição para incentivá-la a abrir
uma trilha no mundo das letras e a ter coragem de, como uma porta-bandeira, ir à
frente abrindo possibilidades para que outras mulheres também adentrassem tanto
no mundo da lírica quanto tenham coragem de abrirem, elas mesmas, seus
caminhos no mundo, sem ficarem mais presas a uma história previamente traçada.
Adélia Prado quer mostrar que, por ser mulher, ainda precisa abrir caminho e que
essa jornada será um pesado fardo, mas também fonte de uma grande alegria. É
isso que a incentiva a carregar bandeira e a abrir caminhos para uma nova história.
O termo bandeira, no poema de Adélia Prado, tem o significado que remete aos
bandeirantes: “Os bandeirantes foram, praticamente, os desbravadores do Brasil”
(Disponível em: <portalsaofrancisco.com.br/alfa/bandeirantes/bandeirantes-1.php>.
Acesso em: 26 maio 2011), mas é, também, um pano fixado em um mastro que
simboliza um país, um estado, uma agremiação, etc., e, em atividades festivas ou
bélicas, é carregada à frente dos desfiles ou das legiões. Adélia não quer, apenas, ir
à frente e conquistar caminhos, ela quer também tomar posse e ampliar os limites
das possibilidades femininas, como uma bandeirante a fundar uma nova tradição:
As bases sobre as quais essa poética procura se edificar são, conforme enuncia o poema, a ótica do feminino, contraponto num mundo literário salvaguardado pela predominância do masculino, e a proclamação da “vontade da alegria”, em oposição à ideia do poeta gauche (coxo) de Drummond. (SOARES, 1992, p. 55).
Se a tradição masculina no poema drummondiano é de desencanto, a
incipiente entrada do eu-lírico adeliano no mudo da poesia se dá através do
entusiasmo, da alegria e do otimismo. O Anjo de Adélia Prado não vive mais na
sombra, como o de Drummond, mas, ao contrário, vai à frente da legião, tocando
trombeta, anunciando que Adélia Prado abrirá caminhos.
Os caminhos abertos por Adélia Prado serão prosaicos, comuns, originados
no cotidiano, na preocupação com o casamento: “Não sou tão feia que não possa
casar/creio em parto sem dor” (p. 19). Ou seja, abraçar a causa feminina não
significa deixar de ser mulher, mas, sim, ser, simultaneamente, a mulher que
mantém a tradição, mas também aquela que renova ao “inventar” uma nova história
que, ao longo do tempo, se consolidará. Adélia Prado continua retratando, através
de sua lírica, que não deixa de ser uma “nova mulher”, que tem consciência de que
– conforme o décimo segundo verso – irá inaugurar uma nova linhagem e fundar
outros reinos, linhagem e reinos esses que a mulher dominará e nos quais terá um
papel de destaque numa sociedade ainda tão desigual. E a semente está sendo
plantada através de sua poesia, da qual resultará uma literatura feminina e
amadurecida. Esse desejo a remete ao seu mil avô, pois, segundo ela, a alegria e a
vontade da mulher de ser livre, de ter participação na sociedade, carregando
bandeira, sem com isso perder a essência de ser feminina, vem de muito tempo.
Se em Drummond há um desconforto institucionalizado e histórico, em Adélia
Prado há um desdobramento das várias possibilidades femininas. Segundo Soares
(1992, p. 56), “Drummond abarca os signos negativos – “coxo”, “maldição” – que se
associam a “homem”, enquanto o paradigma do perfil adeliano assume os signos
positivos – “esbelto”, 'trombeta”, “desdobrável” –, associados à mulher.
Ao finalizar o poema, o eu-lírico drummondiano ri da tradição masculina e do
seu anjo gauche, com o qual ele abriu seu poema dizendo: “Eu não devia te dizer/
mas essa lua/ esse conhaque/ botam a gente comovido como o diabo” (p. 4).
Diferentemente, a lírica de Adélia Prado se contrapõe à de Drummond ao afirmar
que ela é capaz de tomar para si várias funções sem perder a essência de ser
feminina, de ser mulher, que “ser coxo” é maldição para o homem, pois mulher é
desdobrável, e ela, por ser mulher, o é.
4.2 Entre o amor e o medo: análise dos poemas “O Beijo” e “Figurativa”
Para a análise dos poemas “O Beijo”, de Carlos Drummond de Andrade, e
“Figurativa”, de Adélia Prado, foi apresentada aos alunos uma pesquisa realizada
sobre a sociedade burguesa do século XIX no concernente aos costumes familiares,
pois, nesse poema, Drummond faz referência à figura paterna, a qual ainda
mantinha costumes daquela sociedade como alguém que mantém os laços afetivos
distantes da família e também resgata os costumes de uma época na qual os filhos,
ao levantarem da cama, logo cedo deveriam beijar a mão do pai, pedindo-lhe a
bênção. As características da família burguesa foram apresentadas para os alunos
através de slides, nos quais se mostraram as mudanças que ocorreram na
sociedade do século XX, especialmente nas décadas de 40 a 50. Tais modificações,
que proporcionaram uma abertura à sociedade em todos os sentidos e, certamente,
à família brasileira em geral, foi também muito afetada por elas. A apresentação dos
poemas foi realizada por dois alunos, que os declamaram, e, após a declamação,
houve vários questionamentos que envolveram a formação da família desde o início
do século XX até os dias atuais. Durante o debate acontecido em sala de aula, os
alunos trouxeram à tona os temas que haviam sido debatidos quando da análise dos
poemas “Poema de Sete Faces”, de Drummond, e “Com Licença Poética”, de Adélia
Prado, fazendo referência às entrevistas que eles haviam realizado.
O tema dos poemas “O Beijo” e “Figurativa” levou os alunos a questionaram
as causas que implicaram mudanças tão radicais na maioria das famílias, sendo que
alguns alunos expressaram seu pensamento dizendo que tudo que atinge seu ápice
cai e, em seguida, se renova de maneira diferente, com novos valores, novas formas
de pensar e que, no momento, a família está vivendo uma crise existencial, pois não
se sabe mais direito quem é o verdadeiro chefe, se é o pai, a mãe ou o filho, mas
que, com o passar do tempo, haverá uma redefinição e a crise levará à
reconfiguração de um novo modelo familiar, que permanecerá estável por um tempo,
até que o processo passe por outra fase de transição. Em seguida a essas
colocações, foi apresentada à classe a análise dos poemas, análise essa que foi
plenamente compreendida por eles, pois o contexto histórico apresentado
previamente, bem como o debate, favoreceram para que a análise fosse
devidamente compreendida.
A formação da família do século XX no Brasil foi fortemente marcada pela
estrutura da família patriarcal, família essa que imperou no Brasil desde a chegada
dos primeiros portugueses no século XVI até os meados do século XIX, quando,
influenciada pelo desenvolvimento econômico de alguns centros urbanos, um novo
modelo de família começou a se formar. A rigidez com que o patriarca se impunha
sobre as pessoas que estavam sob sua tutela criou hábitos e costumes que ficaram
fortemente impregnados no seio da família patriarcal e esses vestígios perduraram
até as primeiras décadas do século XX, quando a família patriarcal já estava em
franca decadência. É sob esse prisma que será analisado o poema “O Beijo”, de
Drummond, no qual o pai é visto como a autoridade máxima dentro da família e é
em relação a essa autoridade, rememorada pelo eu-lírico drummondiano e traduzida
através desse poema, a esse patriarca, que os filhos nutriam temor.
Em contraposição ao poema “O Beijo”, analisar-se-á o poema “Figurativa”, de
Adélia Prado, no qual o eu-lírico se atém a uma relação familiar diferente daquela
presente no eu-poético de “O Beijo”, devido à relação amorosa mais explícita e
menos punitiva existente na família expressa pelo eu-lírico de “Figurativa”, de forma
a demonstrar a aproximação entre pais e filhos e não o distanciamento, como no
poema “O Beijo”, de Carlos Drummond de Andrade.
O poema “O Beijo” se atém ao costume, que ainda estava fortemente
arraigado nas famílias brasileiras do início do século XX, de se tomar a bênção
paterna, ato exteriorizado através da ação de beijar a mão do pai e da mãe e de
pedir a bênção. Esse gesto demonstrava toda a submissão do filho em relação ao
pai e, em menor grau, à mãe, deixando claro o poder que eles – principalmente o pai
– exerciam sobre o filho. O jovem então, educado segundo as normas rígidas da
família patriarcal, conhece o primeiro mandamento inscrito nas tábuas da lei da
família mineira: “Mandamento: beijar / a mão divino-humana / que empunha a rédea
universal / e determina o futuro. / Se não beijar, o dia / não há de ser o dia
prometido, / a festa multimaginada, / mas a queda – tibum – no precipício / de
jacarés e crimes / que espreita goela escancarada...” (p. 509).
Esse era o destino, segundo a crença, dos filhos que ousassem não beijar a
mão dos pais – escorpiões, serpentes, jacarés – a empurrá-los no precipício: ou
seja, uma visão do inferno.
Pedir a bênção paterna era ritual a ser feito também antes de ir para a cama,
à noite. Esse beijo era uma demonstração de amor, de respeito e uma espécie, ao
qual se mesclava também o “terror/amor”, que, ao mesmo tempo, reiterava para o
filho a distância a ser mantida entre ele e o patriarca. Quando esse beijo não
acontecia, como no caso de Nô – um exemplo a não ser seguido – no poema “O
Beijo”, seu pai, sem nenhuma demonstração de pena, dá um tapa na boca de Nô,
como um beijo às avessas, isto é, a punição face à falta de respeito e reverência,
conforme os versos: “Olha o caso do Nô / cresce demais, vira estudante/ de altas
letras, no Rio e de outras normas./ Volta, não beija o pai/ na mão. A mão procura /a
boca, dá-lhe um tapa,/ maneira dura de beijar” (p. 509). Nô, ao sair para estudar em
um centro maior, tem um novo comportamento, que parece ao pai uma afronta à sua
autoridade, porque:
[...] o domínio do pai sobre o filho menor – e mesmo maior – fora, no Brasil patriarcal, aos seus limites ortodoxos: ao direito de matar. O patriarca tornara-se absoluto na administração da justiça de família, repetindo alguns pais, à sombra dos cajueiros de engenho, os gestos mais duros do patriarcalismo clássico: matar e mandar matar, não só os negros como os meninos e as moças brancas, seus filhos. (FREYRE, 2000, p. 99).
Enquanto o eu-lírico de Drummond retrata a mágoa de Nô, devido aos
costumes severos, oriundos de uma sociedade já decadente, o eu-lírico de Adélia
Prado, no poema “Figurativa”, descreve um relacionamento familiar mais moderno,
mais aberto, divertido. Essa forma natural de aproximação entre pais e filhos pode
ser percebida já nos três primeiros versos, quando o eu-lírico adeliano afirma: “O pai
cavando o chão mostrou pra nós /com o olho da enxada, o bicho bobo/ a cobra de
duas cabeças...”, seguindo ainda, no verso quatro, “Saía dele o cheiro de óleo e
graxa...” (p. 136).
A partir dos versos supracitados se evidencia a harmonia natural entre os
membros da família – com destaque para a ternura do pai – que, naquele final de
tarde, entre o anoitecer e o jantar, faz das ações mais corriqueiras, como o cavar a
terra – pelo pai – seja um momento de encantamento que se tornará perene na
memória da menina, como uma espécie de epifania – no sentido de revelação – de
que os laços afetivos entre pais e filhos não precisam ser demonstrados com
rasgados gestos de amor, ou de demonstração de subserviência, como no poema
“O Beijo”, mas que subjazem às ações mais corriqueiras, que se convertem em uma
memória perene: fonte de amor e de harmonia a ser rememorada com ternura ao
longo da vida.
Também a mãe, tocada por aquele momento de interação, tão corriqueiro
quanto o verdadeiro amor familiar, manda a filha à casa da avó buscar polvilho para
fritar uns biscoitos, através dos quais ela manifestará a ternura da qual, assim como
o pai, está tomada, e que permeia toda a família. Ou seja, aqueles momentos serão
tão singelos e, após um jantar com sua simplicidade – angu, mostarda e a comida
apimentada –, convertem-se em uma autêntica comunhão que se manifesta na
ternura do pai e da mãe e que fica gravada de forma indelével na memória do eu-
lírico, conforme demonstram os últimos versos do poema: “... a menina embaraçada/
com a opressão da alegria, o coração doendo, / como se fosse triste" (p. 136).
Em “Figurativa”, as relações foram vividas sob um novo prisma, ainda
respeitoso, porém há o ar da liberdade e da afetividade demonstrada sem medo.
Há que se destacar que o poema de Drummond remete à agonia da família
patriarcal, ainda muito presa aos valores do passado, mas já combalida pelos novos
valores urbanos que se abeiravam das casas patriarcais. Esses novos valores, à
revelia do patriarca, ao longo do final do século XIX e primeiras décadas do século
XX, mudarão em definitivo as relações entre pais, filhos e a sociedade em geral e,
nessa nova ordem, a figura do patriarca, com seu poder efetivo, declinará
definitivamente. No poema de Adélia Prado, independentemente da singeleza da
família, há uma relação muito respeitosa dos filhos e as manifestações de amor são
veladas, entretanto a ternura está de tal forma mesclada às ações mais cotidianas
que chega a ser dolorida para a menina a constatação de tamanha consciência do
amor.
Decorrida a apresentação da análise, solicitou-se aos alunos que
representassem, por meio de ilustrações (desenhos ou colagens), a interpretação
que eles conceberam. Em seguida, solicitou-se que eles produzissem paródias que
tivessem o mesmo tema de “O Beijo” e “Figurativa”, paródias que seriam lidas para
os colegas. As paródias e as ilustrações foram expostas num painel para que a elas
todos os educandos e professores do colégio pudessem ter acesso.
O encerramento das atividades relacionadas aos poemas supracitados
aconteceu com uma produção textual do gênero “Artigo de Opinião”, texto no qual os
alunos discorreram sobre “A educação familiar e o contexto social na formação do
caráter humano”.
4.3 Tédio e nostalgia: uma leitura de “Cidadezinha Qualquer” e de “Bucólica
Nostálgica"
A seguir, passou-se à análise dos poemas “Cidadezinha Qualquer”, de Carlos
Drummond de Andrade, e “Bucólica Nostálgica”, de Adélia Prado.
Para iniciar as atividades, distribuíram-se aos alunos cópias dos referidos
poemas e então foi solicitada uma leitura silenciosa. Ao término da leitura, os alunos
foram questionados sobre as impressões que tiveram ao ler os poemas. Causou
admiração nos alunos a explicação a respeito dos vegetais “taioba” e “ora-pro-
nóbis”, que aparecem no poema “Bucólica Nostálgica”, de Adélia Prado. A
admiração foi manifestada pelo fato de que aquelas plantas fazem parte da dieta da
população do interior de Minas Gerais.
Depois dessa informação inicial procedeu-se à análise dos poemas,
observando-se a relação estabelecida entre o eu-lírico drummondiano, ao observar
uma cidade provinciana, e o eu-lírico adeliano relacionado ao homem simples do
interior mineiro e sua relação com a natureza. O poema “Cidadezinha Qualquer” é
breve e coloquial e remete ao arcaico universo interiorano ao qual o eu-lírico
drummondiano se reporta. Na visão drummondiana, as pequenas cidades estariam
envoltas em um profundo sentimento de monotonia, tédio e vacuidade, visto que
nada acontece de diferente que possa tirá-las do marasmo: é como se o tempo
estivesse parado. Essa cidadezinha pode estar representando qualquer pequena
cidade do interior e, ao descrever essa sensação de tédio, o eu-lírico cria imagens
absolutamente cotidianas, comuns às pequenas cidades no início do século XX,
como: pomar, burro, casas entre bananeiras e mulheres entre laranjeiras, revelando
tédio e monotonia reiterados pelo advérbio devagar, porque a percepção lírica
drummondiana assim a vê. O verso “Eta vida besta, meu Deus”, que fecha o poema,
sintetiza essa sensação, fechando magistralmente o poema.
Já a lírica feminina de Adélia Prado no poema “Bucólica Nostálgica” se atém a
uma simples choupana no campo, cujo cenário é tão bucólico quanto o do poema de
Drummond, mas muito mais solitário e isolado. Entretanto, a perspectiva do eu-lírico
adeliano é de encantamento face à singeleza da vida.
O cenário é absolutamente pobre, emoldurado pelas bananeiras e pelas ervas
comuns às casas de roça. Entretanto, a casa parece dourada pelo sol do entardecer,
mas também pela nostálgica e imemorial saudade do eu-lírico, que a descreve como
a um quadro composto de palavras como saudade e nostalgia, conforme prenuncia
o título.
O poema, de forma sintética, capta como em um flash – dada a sua brevidade
–, o entardecer naquela cabana e as ações cotidianas dos moradores, que, após um
exaustivo dia de trabalho braçal, comem com a fome “honesta” de quem “ganhou o
pão com o suor do rosto”. Todas as ações, como o hábito de comer rápido – dada a
fome – em qualquer lugar, com o prato na mão, como era – e pode ser que ainda
seja – comum no interior, não desmerecem o homem do campo, mas, ao contrário,
envolvem-no em uma aura de encantamento nostálgico, que remete a uma saudade
imemorial do eu-lírico em relação à singeleza daquela vida da qual ele já se sente
distanciado.
A comida tipicamente brasileira ganha certo exotismo pela alusão às verduras
comuns em Minas Gerais, como a taioba5 e o ora-pro-nóbis6, que ajudam a compor
esse cenário de singelo encantamento.
5 Taioba, segundo o site: <http://www.infoescola.com/plantas/taioba/>, acessado em 9 de julho de 2011, é uma planta cujo nome científico é Xanthosomasagittifolium (L.). Trata-se de uma monocotiledônea herbácea, tropical, perene, rizomatosa, que pode atingir até dois metros de altura. Possui como características grandes folhas cordiformes encontradas em tons de verde e roxo escuro, com enormes limbos cerosos e carnosos e com nervuras marcantes.
Os últimos versos do poema transcendem, entretanto, essa descrição
meramente nostálgica e levam o leitor a refletir sobre quais são as reais
necessidades humanas, visto que o poema termina da seguinte forma: “Depois do
café na canequinha e pito./ O que um homem precisa pra falar, / entre a enxada e o
sono: Louvado seja Deus” (p. 50). Ou seja, a comida absolutamente singela sacia
como qualquer outra e é, ainda, acrescida do prazer do café e do cigarro, mas o
principal é que as necessidades básicas humanas podem ser satisfeitas, apenas,
pela comida, pelo trabalho e pelo descanso, se o espírito for sustentado pela fé.
Tudo o mais é supérfluo quando se pode encerrar um dia agradecendo ao criador da
forma mais singela possível: “Louvado seja Deus!”. Esta é uma forma lírica e sincera
prece do homem agradecendo ao Criador pela comida, pelo trabalho, pelo
descanso, enfim, pela vida.
Enquanto Drummond vê, apenas, melancolia em “Cidadezinha Qualquer”,
Adélia Prado vê encanto, saudades, singeleza e fé em “Bucólica Nostálgica”.
Após a apresentação da análise dos poemas foi solicitado que os alunos
fizessem uma correlação entre os poemas e a cidade na qual residem. Ao fazerem
essa correlação, eles apontaram para a coincidência de características da cidade
onde moram com o poema “Cidadezinha Qualquer”, de Carlos Drummond de
Andrade.
Com vistas a se ter outras perspectivas sobre o tema, sugeriu-se uma
enquete de forma aleatória entre os habitantes de Palotina, cujo assunto seria a
cidade onde residem. As perguntas estavam voltadas para a relação existente entre
o morador e a cidade de residência: Gosta?, Não gosta?, Por que gosta ou não
gosta?
A apresentação da enquete deu-se por meio de tópicos, sendo que alguns
alunos a apresentaram graficamente. Em seguida houve um debate sobre as
respostas dadas. A conclusão a que se chegou é que 90% da população gosta da
cidade onde mora. Entre os pais de família a resposta foi de que gostam, pois ela é
uma cidade pacata e, assim, não oferece grandes perigos, como drogas e violência,
6 Ora-pro-nóbis(Pereskiaaculeata), segundo Silveira Georgeton, em Jornal Estado de Minas,18 de
agosto de 2008, disponível no site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ora-pro-nobis>, tem nome proveniente do latim e significa "rogai por nós". Trata-se de uma cactácea, um cacto trepadeira com folhas. Tem espinhos e pode ser usada em cercas -vivas, desenvolvendo-se bem tanto na sombra como no sol.
para seus filhos. Já os agricultores entrevistados falaram da fertilidade do solo, das
boas produções obtidas graças a essa fertilidade. Os entrevistados apontaram,
ainda, a facilidade que existe para mandar seus filhos estudar na cidade devido ao
transporte escolar. Mesmo assim, porém, alunos, quando expressaram sua opinião,
deixaram claro que Palotina deveria oferecer formas diferenciadas de lazer, pois
nesse sentido a cidade deixa muito a desejar, bem como no lado cultural.
A conclusão dessa atividade para os alunos aconteceu com a produção de
um texto, no qual cada um pôde expressar a opinião pessoal sobre a cidade onde
reside, texto intitulado “A cidade onde moro”.
4.4 Análise dos poemas “Sina” e “Endecha das Três Irmãs”
A análise dos poemas “Sina”, de Drummond, e “Endecha das Três Irmãs”, de
Adélia Prado, teve uma boa recepção por parte dos alunos da classe devido ao fato
de, antes das aulas, ter havido um “Festival de Talentos” no colégio, durante o qual
esses dois poemas foram declamados. Como os alunos reconheceram tais poemas,
eles solicitaram que os colegas que os declamaram no festival também o fizessem
em classe. Os alunos atenderam aos pedidos e a declamação aconteceu
novamente. Após a referida apresentação, passou-se à discussão sobre a trágica
condição da “solteirona” na sociedade do início do século XX em função dos
resquícios da sociedade patriarcal, mas também se ateve à condição da mulher
solteira no atual contexto social.
Atualmente a condição e os papéis sociais femininos são objeto de discussões
e de estudos. Alguns desses papéis, como o de cuidar da casa, dos filhos e do marido
são imemoriais. Os outros são mais contemporâneos e, em certa medida, devem-se
ao empenho da mulher, isso associado às mudanças econômicas e sociais em
participar, de fato, do processo produtivo para além do espaço doméstico. Tais
mudanças ocorrerem de forma acentuada ao longo do século XX, mas nas primeiras
décadas do século passado elas ainda estavam em processo, pois:
[...] o destino que a sociedade propõe tradicionalmente à mulher é o casamento. Em sua maioria, ainda hoje, as mulheres são casadas ou foram, ou se preparam para sê-lo, ou sofrem por não ser. É em relação ao casamento que se define a celibatária, sinta-se ela frustrada, revoltada ou mesmo indiferente ante essa instituição. (BEAUVOIR, 1960, p.141-142).
Devido a essa imposição social, parece que ainda existe certa demonstração
de frustração se o casamento não acontecer, porque parece que a mulher só se
sentirá plenamente realizada através do casamento. Martha Medeiros, em seu blog,
faz o seguinte comentário:
Olhem bem para aquela garota sentada num bar, moderníssima. Ela quer casar. Mire nos olhos da balconista que acabou de atender você. Também quer. A aeromoça idem. Sua prima não vê a hora. Sim, elas são independentes, viajam, levam camisinha na bolsa, vão ao teatro e leem Camille Paglia. Mas querem casar. (MEDEIROS, Martha. Disponível em: <http://concurseirasumpouconervosas.blog spot.com/2011/04/ mulher-solteira.html>. Acesso em: 1º jun. 2011).
Ou seja, se ainda hoje o casamento tem tal importância – a despeito das
grandes mudanças sociais e econômicas femininas –, imagine-se, então, como era
trágica, até o final do século XIX e início do XX, a condição social da mulher que não
se casava. A esse período Carlos Drummond de Andrade se reporta em sua poesia
memorialista e que Gilberto Freyre descreve com propriedade em Sobrados e
Mucambos:
[...] nos sobrados, a maior vítima do patriarcalismo em declínio foi talvez a solteirona. Abusada não só pelos homens, como pelas mulheres casadas. Era ela quem nos dias comuns como nos de festa ficava em casa o tempo todo, meio governante, meio parente pobre, tomando conta dos meninos, botando sentido nas escravas, cosendo, cerzindo meia, enquanto as casadas e as moças casadouras iam ao teatro e à igreja. [...] Era ela também quem mais cuidava dos santos. Sua situação de dependência econômica absoluta fazia dela a criatura mais obediente da casa. Obedecendo até aos meninos e hesitando em dar ordens mais severas às mucamas. (FREYRE, 1977, p.126/127).
O tema da solteirona, no final do século XIX e início do XX, é recorrente na
poesia memorialista de Drummond. Conforme Fortes (1994, p. 65):
Carlos Drummond de Andrade tem vários poemas cujo tema é a melancólica condição da solteirona, que era tratada como pária, como indivíduo de segunda categoria. O patriarcalismo, violentamente repressor em relação à mulher, enclausurava-a nos sobrados e, se a moça não casasse, perdia a possibilidade de cumprir o papel de mãe, esposa e dona de casa, única maneira de se integrar à sociedade, já que os demais papéis sociais e econômicos eram atributos masculinos.
Adélia Prado, no poema “Endecha das Três Irmãs” (p. 61), também se ateve à
condição da solteirona. Embora o olhar adeliano sempre se volte para a mulher da
segunda metade do século XX, portanto, época bem posterior ao tempo
rememorado por Carlos Drummond de Andrade em Boitempo e em Menino Antigo,
percebe-se que o destino da solteirona preserva certa melancolia que remete à
mulher patriarcal e semipatriarcal e que, no interior do país, essa realidade ainda
mantém alguns desses traços. Uma vez contextualizada a condição feminina,
passou-se à análise dos dois poemas.
Tanto em “Sina” quanto em “Endecha das Três Irmãs”, a temática é a mesma:
a melancólica condição da mulher que envelheceu sem se casar. Entretanto, como
“Sina” (p. 608) faz parte da obra memorialista, o poema se volta para a condição
feminina no início do século XX, enquanto “Endecha das Três Irmãs” se situa em um
tempo impreciso da segunda metade do século XX, mas, em ambos, não se casar
reveste as solteironas de uma profunda melancolia. Os três primeiros versos de
“Sina”, quais sejam, “Nesta mínima cidade/ os moços são disputados/ para ofício de
marido” (p. 608), assim são analisados por Fortes (1994, p. 68):
[...] no primeiro verso, a mínima cidade, é o primeiro indício da falta de perspectiva do meio social para a mulher; encontrar um homem que lhe garanta uma família e a condição de casada é a única possibilidade para as mulheres. Essa condição coloca as moças completamente à mercê dos rapazes disponíveis na cidade, já que eles são muito disputados para ofício de marido por uma, duas, vinte noivas.
Ou seja, é fundamental que as moças em idade de casar consigam um
marido e, como muitos moços deixam a cidade, “maridos de-vai-com-o-vento”, cada
possível pretendente é um marido em potencial para várias moças, por isso “Não há
rapaz que não tenha/ uma duas vinte noivas" (p. 608). O eu-lírico drummondiano
retrata a inferioridade feminina em relação ao homem, pois a este dá-se a liberdade
da escolha, conforme o interesse que melhor lhe aprouver. Essa dependência,
prenunciada pelo título do poema “Sina” (p. 608), advém da fatal condição das
moças, que dependem de que um homem a escolha para esposa, do contrário, a
mulher estará fadada a uma espécie de “morte social”. Essa dependência faz com
que as moças, ao mesmo tempo em que bordam o enxoval, sonhem com um
marido, esperança de realização social e único caminho para a realização sexual e
afetiva. Quando o sonho bordado, fantasiado, do casamento não se concretiza,
condenando as preteridas à trágica condição de solteironas, as moças fenecem e
murcham, assim como seus sonhos não realizados.
O tempo vai passando e o noivo não aparece, foi-se com o vento,
condenando a pretendente à solidão, acrescida do estigma de “pária social”. A
respeito dos versos “[...] as moças, murchando o luar,/ já traçam, de mãos paradas,/
sobre roxas almofadas,/ hirtas grades de convento” (p. 608). Fortes (1994, p. 68)
conclui que:
[...] as esperanças tênues [...] vão se esmaecendo pela espera e pelos desenganos. [...] agora velhas, completamente sem perspectivas, parecem zumbis à espera do próprio funeral. As mãos estão paradas, as almofadas são roxas como paramentos ou mortalhas e as janelas são grades de conventos, advindas da certeza que elas estão, até a morte, emparedadas na sua condição social de solteironas.
Assim como em “Sina”, ficar solteira é uma fatalidade que implica um
melancólico destino também no poema “Endecha das Três Irmãs”, pois o eu-lírico
adeliano remete à mesma melancolia resultante da condição de solteirona, presente
no poema de Drummond, embora com algumas alterações.
Em “Endecha das Três Irmãs”, o título já prenuncia um tom fúnebre e
melancólico e é exatamente esse é o tom que permeia todo o poema. Essa tristeza
advém da condição de três mulheres já maduras, que já perderam o pai e a mãe e
cuja história, por não terem se casado, se torna tão trágica e melancólica quanto
aquela da mulher no poema “Sina”.
Nesse poema de Adélia Prado, três tristes tipos femininos são representados,
cada qual com suas manias, costumes e, principalmente, de acordo com a moral
social da época e o diálogo que se estabelece entre as três irmãs, “aprisionadas”
pela trágica condição social de serem solteiras e sozinhas no mundo – ainda preso a
um modelo arcaico de família, no qual toda moça deve estar sob a proteção dos pais
e, depois de casadas, do marido – e sufocadas pela atmosfera da chuva que se
anuncia. Em tal poema, a autora, com muita sensibilidade, cria um melancólico
lamento.
As mulheres levam consigo a sina de serem órfãs: “Nosso pai morreu, diz a
primeira,/ nossa mãe morreu, diz a segunda,/ somos três órfãs” (p. 61). Embora cada
uma delas fale de um sentimento e de um mal-estar diferente, o tema gira em torno
do casamento, pois:
[...] sobre a solteirona pairava o estigma do fracasso, por não ter cumprido com a sina de toda mulher, dando vazão ao curso “natural” da feminilidade, ou seja, casar, ter filhos e devotar-se a eles e ao marido. Se as mulheres casadas e as mocinhas em idade de casar, conforme Freyre (2000), sofriam demasiadamente por causa das limitações e privações impingidas pela especialização dos gêneros, pelos papéis que a elas era imposto, mais sofredora e explorada ainda era a solteirona. (BRUN, 2008, p. 77).
Oprimidas pela melancólica condição de “moças velhas e sozinhas no
mundo”, as três irmãs canalizam suas neuroses da seguinte forma: a mais nova para
as doenças “tenho um abafamento aqui,/ e pôs a mão no peito”; (p. 61), a do meio
para a culinária “sei fazer umas rosquinhas” (p. 61) e a mais velha para a certeza
de que seu tempo passou, ou seja, suas esperanças mínguam na mesma proporção
em que a idade avança “faço quarenta anos já” (p. 61).
A vacuidade da vida é reiterada pelo lamento, pelas neuroses, mas também
pela necessidade de preencher o tempo, emprestando sentido às mais banais ações
cotidianas, como recolher a roupa no quintal, indagar sobre o tempo e chamar a
atenção para as plantas. O que há de dissonante em relação ao poema “Sina”, de
Drummond, é a gravidez da irmã do meio que, apesar de não ser casada, está
grávida, portanto, não está fadada à virgindade. Entretanto, isso não minora seu
sentimento de solidão, muito semelhante ao das outras duas irmãs e à solteirona do
poema “Sina”. Os dois últimos versos desvelam a profunda empatia do eu-lírico pelo
trágico destino das três irmãs: “Quando a chuva caiu ninguém ouviu os três choros, /
dentro da casa fechada” (p. 61).
Após a análise propôs-se aos alunos que entrevistassem mulheres solteiras,
perguntando a elas sobre o que elas acham a respeito do casamento, se há
pretensão em casar-se ou não. A referida entrevista deveria ser realizada com
mulheres solteiras, independentemente de faixa etária, do nível de escolaridade e da
situação financeira.
A pesquisa foi realizada com 20 moças solteiras, na faixa dos 18 aos 25 anos.
No final das entrevistas, os alunos fizeram um relatório com as respostas, relatório
que foi apresentado e debatido em sala de aula. Na apresentação do relato
percebeu-se que nenhuma das entrevistadas descartou a possibilidade de ter o
casamento como um dos objetivos para suas vidas, contudo, como prioridade em
relação a ele, foi colocada a busca pela independência financeira. Concluiu-se, a
partir dessas respostas, que, embora com toda a modernidade, a mulher ainda quer
se casar: " Consequências da educação patriarcal”, comentou uma aluna.
4.5 O lirismo masculino e feminino na arte de poetar: análise dos poemas
“Procura da Poesia” e “Antes do Nome”
O estudo dos dois últimos poemas versou sobre o tema “Metapoético”,
presente nos poemas “Procura da Poesia” (p. 95), de Carlos Drummond de Andrade,
e “Antes do Nome” (p. 30), de Adélia Prado. O metapoema, segundo Chalub (1986),
é um poema que fala do ato criativo, da dificuldade de lidar com seu material – a
palavra –, dos conflitos nos quais o poeta se insere quando vê diante de si a folha
branca, da dificuldade em fazer da palavra – que é do uso de todos – algo singular e
exato que extrapole o uso corriqueiro da linguagem. Por isso, ser poeta é ser um
artífice da palavra e “a arte de poetar” exige do seu criador rigidez e disciplina.
Segundo Fortes (1994, p. 81), Carlos Drummond de Andrade: “[...] revela essa
grande preocupação formal em vários poemas, dentre os quais no ”Procura da
Poesia”, onde ele diz que poesia é, antes de tudo, um trabalho estético esmerado
em relação à linguagem”.
Após se discutir com os alunos sobre o esmerado processo criativo implícito à
linguagem poética, foram apresentados os poemas “Procura da Poesia” (p. 95), de
Carlos Drummond de Andrade, e “Antes do Nome” (p. 30), de Adélia Prado, os quais
foram lidos e em seguida analisados.
No poema “Procura da Poesia” (p. 95), Drummond se atém ao tema
metapoético sobre o processo de construção poética, assim como o faz Adélia
Prado em “Antes do Nome” (p. 30). Drummond enfatiza que, no processo de criação
literária, é fundamental que o poeta se detenha sobre as palavras, visto que elas
serão, sempre, a matéria-prima da poesia. Também Adélia Prado quer a essência
primordial das palavras, pois chegar a essa essência é, de certa forma, entender a
gênesis não só da criação da poesia e da literatura, mas também da criação do
mundo, visto que Deus, no início do livro Gênesis, fala e o mundo se faz. Ou seja,
nesse sentido simbólico e religioso, a palavra seria anterior a toda a matéria, ela
seria a essência e o princípio, assim como Deus é também chamado de o Verbo:
“Deus disse: 'Haja luz' e houve luz”... (GÊNESIS, cap. 1, vers. 2). Essa remissão ao
princípio criador da linguagem, cuja plenitude sempre nos escapa, é que dá nome ao
poema “Antes do Nome” (p. 30), isto é, a busca da essência das palavras e sua
relação primordial com o poder da criação para o poeta e para o criador: Deus.
Por isso, nos dois poemas acima mencionados, pode-se perceber que o
conceito poético de ambos os autores passa pela palavra, pois
[...] qualquer tema ou palavra pode ser poética, desde que, graças ao trabalho literário, resgatada do desgaste usual da linguagem. [...] implica em extrapolar o sentido usual das palavras numa tecedura que revele um novo significado, não automatizado, ao texto. Não há, em literatura, palavras, expressões, linguagem velha, proscrita, atual
ou sacralizada. (FORTES, 1994, p. 56).
Adélia Prado respalda-se na gênese da criação ao falar do “caos”, “dos sítios
escuros” (p. 30), presentes nos versos: “Não me importa a palavra esta corriqueira/
Quero o esplêndido caos onde emerge a sintaxe” (p. 30). Ela deixa clara a
preocupação com o fazer poético, processo no qual é necessário mergulhar no mais
profundo do nosso âmago, porque é dali, juntamente com o conhecimento da
sintaxe, e que, associada à forma, resultará naquilo no poema: forma de linguagem
capaz de, sintética e simbolicamente, ultrapassar a dimensão usual da linguagem. O
poeta, assim como Deus, usa apenas palavras para reconstruir o mundo. O homem
também poderá, através da palavra, tornar o mundo mais humano e a poesia tem o
poder de torná-lo mais sensível às coisas do mundo, e poesia se faz com a palavra.
Para tanto, é preciso, porém, que o homem deixe brotar dentro de si o desejo de
tornar belo aquilo que, muitas vezes, se apresenta desprovido de beleza, assim
como Deus, que, do “caos”, da “escuridão”, com suas palavras, transformou o
cosmos em um mundo maravilhoso, cheio de vida: “No princípio era o Verbo, e o
Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por meio dele” (JOÃO, cap.1, vers.1-3), ou “No
princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas
cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse então:
'Faça-se a luz! ' E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das
trevas” (GÊNESIS, cap. 1, vers. 2 a 5).
Adélia Prado deixa transparecer que, como Deus deu origem ao mundo com
suas belezas, também do lirismo humano pode brotar a poesia, que é a expressão
do mais profundo sentimento do homem em relação ao mundo com o qual convive.
O eu-poético drummondiano, enquanto isso, no poema “Procura da Poesia”, recusa-
se a aceitar uma poética que se valha da linguagem jornalística, pelo fato de ela se
referir a temas corriqueiros, ou a uma poética conteudística, situada na expressão
direta dos inúmeros aspectos da realidade. Para ele, poesia é pesquisa, luta, busca
do mistério das palavras, porque:
[...] as palavras se opõem aos homens como coisas a decifrar. A grande metáfora do livro que se abre, que se soletra e que se lê para conhecer a natureza, não é mais que o reverso visível de uma outra transferência, muito mais profunda, que constrange a linguagem a residir do lado do mundo, em meio às plantas, às ervas, às pedras e aos animais. (MERLEAU-PONTY, 1974, p. 51).
Drummond, já na primeira estrofe do poema ”Procura da Poesia” (p. 95),
recomenda que não se façam versos sobre fatos, como notícias de jornais, porque,
para Drummond, os jornais costumam falar sobre morte e coisas tristes, como
também não é para fazer poesia sobre coisas banais do dia a dia do homem,
aniversários, incidentes: “Não faças versos sobre acontecimentos/ Não há criação
nem morte perante a poesia/ Diante dela, a vida é um sol estático,/ não aquece nem
ilumina” (p. 95). As afinidades, os aniversários e os incidentes pessoais não contam:
“Não faças poesia com o corpo,/ esse excelente, completo e confortável corpo, tão
infenso à efusão lírica” (p. 95).
Drummond retrata a arte de fazer poesia na sétima e oitava estrofes,
desvelando que esse processo implica penetrar surdamente no mundo das palavras,
quando manda contemplá-las de mais perto, pois:
As línguas estão com o mundo numa relação mais de analogia que de significação; [...] Há uma função simbólica na linguagem; mas, desde o desastre de Babel, não devemos mais buscá-la – senão em raras exceções – nas próprias palavras, mas antes na existência mesma da linguagem, na sua relação total com a totalidade do mundo, no entrecruzamento de seu espaço com os lugares e as figuras do cosmos. (MERLEAU-PONTY, 1974, p. 53-54).
Vilson de Oliveira escreve, em Ecos da Poesia de Adélia Prado (Disponível
em: <http://www.filologia.org.br/ixcnlf/11/09.htm>. Acesso em: 21 maio 2011), que
tanto Adélia Prado quanto Drummond revelam a necessidade de conhecimento do
“reino das palavras” (p. 95). E ainda, segundo o autor, o desafio maior do poeta
consiste em dar sentido especial às palavras, demonstrando a maneira como ele vê
o mundo e como ele estabelece um contato e uma inter-relação com o mesmo
mundo.
Em ambos os poemas acima analisados, o que mais importa é a linguagem, é
nela que está o mundo poético a ser desvelado, mas para tal o poeta tem que ser
capaz de dar um novo viço à linguagem, pois é ao atribuir um novo sentido às
palavras que a beleza da literatura se desvela.
5 Conclusão
A literatura deve ocupar, no contexto escolar, um lugar de destaque como
função social, pois, enquanto arte, possui uma gama enorme de textos, que vão da
piada ao texto clássico – passando por vários outros tipos – que, lidos e discutidos
por gerações, além de permitirem diferentes leituras, oferecem conhecimento e
compreensão do espaço social. Candido (1965, p. 53) assim conceitua a literatura:
A literatura é uma transposição do real para o ilusório por meio de uma estilização formal que propõe um tipo arbitrário de ordem para as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculação à realidade natural ou social, e um elemento de manipulação técnica, indispensável à sua configuração e implicando uma atitude de gratuidade. Gratuidade tanto do criador, no momento de conceber e executar, quanto do receptor, no momento de sentir e apreciar.
No decorrer do desenvolvimento do projeto observamos que é possível,
apoiados na análise poética, falar de questões existenciais fundamentais como:
relações familiares; relações do homem com a natureza; a condição feminina na
sociedade e sobre a metapoesia, assuntos esses que são pertinentes em qualquer
período histórico e que, portanto, são capazes de alavancar discussão e despertar
interesse como ocorreu no estudo aqui apresentado. Esses temas, além de
provocarem muita discussão, alavancaram a busca pela pesquisa, pois se sentia a
necessidade de ampliar o conhecimento para que os poemas fossem
compreendidos na sua totalidade.
Os debates resultantes deste estudo foram de grande importância, pois
permitiram aos alunos perceberem que muitas questões que envolvem o homem
são responsáveis por suas atitudes e seu pensamento e se chegou a essas
reflexões – fundamentais à formação do aluno – graças à análise feita aos poemas
de Drummond e de Adélia, sempre levando em conta o contexto histórico da
produção.
Também foi importante a análise sobre a metapoesia, pois isso trouxe à tona
reflexões acerca do fazer poético e da atividade do poeta.
Com dois grandes poetas dando subsídios para o desenvolvimento do
projeto, cremos que o objetivo foi alcançado, pois, graças à aplicação do projeto que
resultou no presente texto, pode se verificar que a literatura pode dar uma nova
possibilidade de análise para a produção literária, especificamente à poética, sem
deixar de levar em conta também que a literatura, na escola onde trabalho, ganhou
um novo espaço, o de reflexão, trazendo respostas para o aluno leitor sobre
questões a que se propôs que fossem respondidas no desenvolvimento do projeto
sobre o seguinte questionamento: – Para que serve a leitura de um texto literário,
especialmente o texto poético? – Como, a partir do uso corriqueiro da linguagem
literária, pode-se levar o aluno a compreender essa linguagem, para que ela deixe
de ser, apenas, parte do conteúdo obrigatório escolar e se transforme numa
produção de sentido que possa ampliar a visão de mundo e a partir de que enfoque
se pode adentrar na poesia sem que pareça algo estanque, sem qualquer referência
com a realidade?
Um item que também há de se considerar foi a interação que ocorreu ao
longo do desenvolvimento do projeto entre alunos, pais e comunidade.
As entrevistas e enquetes realizadas pelos alunos possibilitaram-lhes uma
interação e troca de experiências com os moradores da cidade e da zona rural,
interação que provocou uma reflexão sobre si e dos membros que compõem a
comunidade na qual estão inseridos, dando-lhes a oportunidade para compreender
melhor a constituição desta. Também a comunidade, ao participar do projeto,
percebeu que há uma continuidade entre as gerações e que a formação escolar não
é, apenas, um processo estanque, determinado por cada época, mas, ao contrário,
há uma interação e uma continuidade subjacente, além das mudanças evidentes.
Foi produtivo perceber que as experiências acumuladas pela comunidade no
decorrer da existência, quando levadas à escola, podem transformar-se em
conhecimento elaborado em por que não dizer, em um belo texto literário, capaz de
provocar a reflexão e o conhecimento.
Também não pudemos nos recusar a perceber a admiração demonstrada,
principalmente pelos pais dos alunos, ao tomarem ciência de que as atividades
desenvolvidas foram desencadeadas pela análise de “simples poemas”.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Carlos Drummond de. Carlos Drummond de Andrade: prosa e poesia. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo 1. Fatos e mitos. Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1970. BRAYNER, Sônia (Org.). Carlos Drummond de Andrade – coletânea. Nota preliminar: Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; INL, 1977. (Fortuna Crítica, vol. I). BRUN, André Adriano. O trançado da morte nas tramas do tempo: uma leitura da condição feminina em Cartilha do Silêncio e em A Dança dos Cabelos. Cascavel: Unioeste, 2008, Tese de Mestrado. CANDIDO, Antônio. A literatura e a formação do homem. V. 4. Ciência e Cultura, São Paulo, Nº 9, set. 1972. CANDIDO, Antonio. Direitos humanos e literatura. In. FESTER, A. C. Ribeiro e outros. Direitos humanos e... . São Paulo: Brasiliense, 1989. __________. A literatura e a formação do homem. Ciência e Cultura. 24 (9), set. 1972. CHALHUB, Samira. A metalinguagem. São Paulo: Ática, 1986. DUFRENNE, Mikel. O poético. Porto Alegre, RS: Globo, 1969. ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. Tradução: Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. Reedição 1997. FORTES, Rita Félix; ZANCHET, Maria Beatriz; SOARES, Cláudia Campos. O texto poético: crítica e devaneio; análise de poemas. Cascavel, PR: ASSOESTE, 1994.128 p. FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. São Paulo: Record, 2000 GUIMARÃES, Maria Severina Batista. A miraculosa trama dos teares: uma leitura da obra de Adélia Prado. Goiânia: UFG, 2000. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Goiás. GUIMARÃES, Maria Severina Batista. O canto imantado: um estudo da obra poética de Adélia Prado, Dora Ferreira e Hilda Hilst. Goiânia. UFG, 2006. Tese (Doutorado) Universidade Federal de Goiás. Idem) HEIDEGGER, Martin. A caminho da linguagem. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. LYRA, Pedro. Conceito de poesia. São Paulo: Ática, 1986.
MERLEAU-PONTY, Maurice. A prosa do mundo. Tradução de Celina Luz. 1. ed. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1974. MINUCHIN, Salvador. Famílias: funcionamento & tratamento. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1990. PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986 SANT'ANNA, Affonso Romano de. Drummond – o gauche no tempo. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Record,1992. SECCHIN, Antônio Carlos, Poesia e desordem: escritos sobre poesia & alguma prosa. Topbooks, 1996. SILVA, Ezequiel Theodoro. A produção da leitura na escola: pesquisa x propostas. 2. ed. São Paulo: Ática, 2005. SILVA, Irene Viera da. Bagagem de Adélia Prado: uma poética do desdobramento. Assis, Dissertação de Mestrado, 1984. SOARES, Claudia Campos. O afã e a insolvência: a marca do dilaceramento na poética de Adélia Prado. Florianópolis, 1992, Florianópolis, 1992 (Inédito). Endereços da Internet ANDRADE, Carlos Drummond de. Disponível em: <http://www.culturabrasil.pro. br/cda.htm>. Acesso em: 8 jun. 2011. ANTUNES, Érica. Disponível em: <www.rubedo.psc.br>|Artigos|© Érica Antunes>. Acesso em: 25 maio 2011. ARAUJO, Ruy Magalhães de. A estilística através dos textos – Parte 3. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/revista/artigo/7(21)01.htm>. Acesso em: 31 maio 2011. BRUN, André Adriano. Uma estética do equilíbrio: o motivo feminino na lírica de Adélia Prado. Revista Trama – vol. 3, nº 5, p. 19, 25 e 32, 1º semestre de 2007. Disponível em: <e-revista.unioeste.br/index.php/trama/article/download/921/784 +&hl=pt-BR&pid=bl&srcid=ADGEESj>. Acesso em: 4 jun. 2011. CAMPELO, Araújo de. Solteironas eram nossas avós. Universidade Federal do Rio de Janeiro, dissertação de mestrado. Disponível em: <http://www.psicologia. ufrj.br/pos_eicos/pos_eicos/arqanexos/arqteses/marialuizacampelo.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2011. NOGUEIRA, Jr. Arnaldo. Projeto Releituras. Disponível em: <http://www. releituras.com/aprado_bio.asp>. Acesso em: 3 ago. 2011.
MACEDO, Lucas Santos; MELLO, Cláudio José Almeida de. O leitor na perspectiva da teoria literária: experiência com a metapoesia. Disponível em: <http://web03.unicentro.br/pet/pdf/09_lucas.pdf>. Acesso em: 4 jun. 2011. MEDEIROS, Martha. Disponível em: <http://concurseirasumpouconervosas. blogspot.com/2011/04/mulher-solteira.html>. Acesso em: 1º jun. 2011. OLIVEIRA, Vilson. Ecos na poesia de Adélia Prado. Unisa, SP. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/ixcnlf/11/09.htm>. Acesso em: 21 maio 2011. VIDEOS. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=G4fYFpHXF6g> ou em <http://www. youtube.com/watch?v=milO798fEg8>. Ambos com acesso em: 16 maio 2011.
Anexos
ANEXO 01 - A EDUCAÇÃO FAMILIAR E O CONTEXTO SOCIAL NA FORMAÇÃO DO HOMEM
COLÉGIO ESTADUAL "BARÃO DO RIO BRANCO" ENS. FUND. E MÉDIO
ALUNAS: Elaine Sipriano e Jessica Araldi Nº: 07 e 18
SÉRIE: 1º A
A educação familiar e o contexto social na formação do homem
A educação familiar hoje é um projeto de formação e construção de cidadãos
éticos. Os seres humanos não nascem fisicamente nem psicologicamente
preparados para sobreviverem. A família é a base mais importante em nosso
processo de formação, desde que nascemos, até quando morremos. A família é o
espelho dos filhos, se uma família apresentar um comportamento agressivo, como
brigas e palavras agressivas, a criança tende a aderir esse comportamento. Por isso
ela é responsável para nos ensinar as regras básicas de como viver em sociedade,
mostrando-nos o que é certo e o que é errado. O maior ensinamento familiar é o da
convivência social. O principal item desta convivência é a formação do padrão de
comportamento social tendo como base a ética. Fazer o que tem vontade até os
animais fazem. Mas são os humanos que aprendem que ações podem ser feitas, ou
não, por intermédio da família, principalmente por pais.
O contexto social em que a família vive determina o comportamento de seus
membros Por isso é importantíssimo que as famílias tenham condições de oferecer
para seus integrantes, uma boa escola, um bom sistema de saúde e segurança.
Pois a educação recebida e o contexto social vão determinar o comportamento do
homem na sociedade. As ações praticadas pelo homem são produtos dos valores
recebidos pelo meio em que ele vive, e isso define os valores da sociedade, por isso
se diz que a educação familiar e o contexto social são fundamentais na formação do
caráter humano.
COLÉGIO ESTADUAL "BARÃO DO RIO BRANCO" - ENS. FUND. E MÉDIO
ALUNAS: Gabriela Pandolfo Batista e Júlia Pedroso Dias
A educação familiar e o contexto social na formação do homem
No início de tudo, o homem apesar de ser racional, não utilizava muito dessa
racionalidade, era apenas mais um ser, como qualquer outro animal, a única coisa
que buscava era a sua própria sobrevivência, se protegiam morando em cavernas e
buscavam alimentos através da caça, eram nômades. Com o tempo foram
descobrindo novas maneiras de sobrevivência, como por exemplo, a possibilidade
de plantar e não precisarem se mudar de local quando acabasse o alimento que
havia ali.
Devido a força bruta que o homem possuía, eles se sentiam superiores,
inferiorizando as mulheres. Eles as viam como aquelas que geravam filhos e que
deveriam educá-los, cuidá-los, e ainda deveriam executar todos os serviços
domésticos.
Com o passar dos anos, as coisas foram se transformando, as mulheres
foram conquistando seu espaço e deixaram de ser apenas aquelas que educavam
os filhos e obedeciam ao marido.
A educação dos filhos se tornou uma tarefa para toda a família, pois
percebiam que isso é importante e que refletirá na formação de cada individuo. Por
exemplo: uma família que é muito rígida, os filhos costumam ter atitudes mais bem
vista pela sociedade, respeitam mais as pessoas, são educados, seguem a risca as
normas exigidas pela família e sociedade, e por isso muitas vezes são até mais
introspectivos, tímidos do que em uma família cujos valores não são tão levados a
sério e os filhos normalmente não vão ser tão adeptos das regras sociais, não serão
tão respeitosos, porém serão muitas vezes mais independentes livres de certos
preconceitos e até podem viver e se adaptar às situações que surgirem com mais
facilidade, ou seja os conflitos interiores não serão tantos..
Assim, podemos concluir que a família e a educação são dois dos principais
fatores na formação do homem, que ocorre durante anos e não tem um fim, está em
mudança continua.
ANEXO 02 – A CIDADE ONDE MORO
COLÉGIO ESTADUAL "BARÃO DO RIO BRANCO" - ENS. FUND. E MÉDIO
A cidade onde moro
Relacionando a cidade em que moramos com a análise dos poemas de
Adélia Prado, Bucólica Nostálgica, e de Drummond, Cidadezinha Qualquer,
percebemos que há grandes semelhanças.
No poema de Adélia Prado, a voz poética destaca a simplicidade de pessoas
que residem no interior mineiro, estado no qual nasceu, cresceu e passou sua
juventude e agora sua velhice. Já Drummond destaca a calmaria também de uma
cidade interiorana, porém que não sabemos precisar, pois muitas cidades do interior
de todo o Brasil possuem as mesmas características.
Ao lermos e discutirmos os poemas percebemos que a organização de uma
cidade é fundamental para o bem estar de seus moradores e ao trazermos o
contexto dos poemas para a nossa cidade percebemos que Palotina difere-se e
muito da cidade descrita por Drummond e que o homem da roça que aqui reside
também leva uma vida totalmente diferente daquele que o eu lírico de Adélia
descreve.
Palotina, embora seja uma cidade interiorana, tem vários aspectos na qual ela
identifica-se com os de uma grande cidade, como suas universidades, as
oportunidades de emprego, escolas etc. Por outro lado por ser uma cidade tranquila
é muito parecida com a cidade do poema Cidadezinha qualquer descrita por
Drummond.
Nós amamos esta cidade, pois aqui a criminalidade é controlada, existem
bons lugares para passear às tardes ou noites. Outro destaque é o solo fértil, ótimo
para a produtividade, principalmente a agrícola, que é a que celebra o município.
Dentre aquilo que pode se chamar de pontos negativos, talvez um deles seja
o fato de por ser uma cidade pequena, e distante dos grandes centros todo seu
potencial não está sendo explorado. Há ainda aqueles que a consideram pouco
hospitaleira com os que aqui chegam para fixar residência por um ou outro motivo.
Outro problema é que ainda há poucas opções de diversão para os jovens e
adolescentes, como por exemplo: teatros, cinemas, festas, barezinhos, etc.
Para um bom desenvolvimento da cidade é necessário a colaboração de
todos os moradores. A gente vive essa cidade que apesar de necessitar de muitas
mudanças é um lugar tranquilo para se viver com a família, gostoso e parecido com
a Cidadezinha qualquer de Drummond e Bucólica Nostálgica de Adélia Prado.
Autoras:
Gabriela Pandolfo Batista
Julia Pedroso
Elaine
Fernanda
Jéssica,
Série: 1° Turma: A
ANEXO 03 – AS SOLTEIRONAS
COLÉGIO ESTADUAL "BARÃO DO RIO BRANCO" – ENS. FUND. E MÉDIO
As Solteironas
Na sociedade patriarcal, as mulheres que não tinham pretendentes ou
maridos eram mal vistas pela sociedade. Se acaso ficassem solteiras, eram
obrigadas a fazer trabalhos domésticos em geral, sendo discriminadas pelos
parentes e todos em sua volta.
Hoje em dia o casamento para algumas mulheres é apenas uma mera
convenção social, ou seja, algo imposto pela sociedade, porém não significando que
deva ser obedecido.
No entanto, para uma grande maioria de mulheres o casamento ainda faz
parte de suas vidas, e algumas delas, só não se casaram porque, querem ter uma
vida estável e não pretendem depender do futuro marido ou companheiro.
Durante entrevista realizada pelo nosso grupo com diversas mulheres em
relação ao casamento, algumas das entrevistadas responderam que a melhor idade
para se casar é dos 25 (vinte e cinco) aos 30 (trinta) anos, assim já estarão com a
vida feita bem ao contrário do que acontecia na sociedade patriarcal, na qual as
mulheres se casavam muito cedo.
Apenas uma mulher – das cinco entrevistadas – disse que não quer se casar, acha a
ideia de permanecer solteira, ótima, quer permanecer independente, “não quero
estar presa ao marido”, disse ela.
Podemos concluir que atualmente as mulheres estão agindo mais por sua
vontade e não por aquilo que a sociedade diz que elas devam fazer. Hoje em dia a
mulher, conquistou mais autonomia para agir tendo muitos direitos conquistados e
que as colocam em pé de igualdade com o homem. Todavia sabe-se claramente
que ela precisa derrubar muitos preconceitos que lhe podam grande parte de sua
liberdade, e quando isso acontecer, aí sim ela poderá dizer que realmente é uma
mulher moderna, livre das amarras e dos costumes da sociedade patriarcal que
ainda as mantém aprisionadas a certas convenções sociais.
Alunas: 1º A
Ana Siolari
Isabelle
Mateus Gentil
Lucas Gris
ANEXO 04 – O CASAMENTO PARA AS MULHERS
COLEGIO ESTADUAL "BARÃO DO RIO BRANCO" - ENS. FUND. E MÉDIO
Alunas: Elaine Sipriano, Fernanda Cantú, Gabriela Pandolfo, Jéssica Araldi, Júlia
Pedroso.
Série: 1º A
O casamento para as mulheres
Na sociedade patriarcal a mulher era discriminada em todos os sentidos, e se
não casasse era pior ainda. A criação da mulher baseava-se no casamento, e desde
logo, mais ou menos, aos oito ou nove anos, as moças já eram induzidas a fazerem
bordados e pinturas para prepararem o enxoval, peças que levariam para sua casa
quando se casariam, porém se o casamento não acontecia, a moça ficava com fama
de “a solteirona”, ou então, se a família tivesse condições financeiras, ela iria para
um convento.
Analisando os poemas de Adélia Prado e Drummond, Endecha das três irmãs
e Sina, podemos entender claramente a história, de moças que bordam o enxoval de
esperança desde cedo, que nada mais era do que preparação para o casamento e
se isso não acontecesse o que lhes restava era ir para a “prisão” do convento ou
viver o resto da vida com o coração apertado.
Outra coisa que fica clara na análise dos dois poemas é que na época de
Adélia Prado, alguns anos mais tarde no qual Drummond escreveu Sina, as
“solteironas”, continuavam sendo discriminadas, embora já se estivesse vivendo
uma época de novas ideias, mais moderna com a mulher lutando pelo seu espaço.
Hoje em dia, apesar de existirem pessoas que acham que as mulheres devem
casar, há muitas mulheres que vivem sozinhas e tranquilas na sociedade, as
“mulheres modernas” independentes financeiramente, mas ainda assim, a maioria
delas gostariam de casar, ter alguém para dividir as coisas e os sentimentos. O
casamento continua na cabeça de muitas mulheres, isso é fato.
ANEXO 05 – ILUSTRAÇÕES DOS POEMAS O BEIJO, DE CARLOS DRUMMOND
DE ANDRADE, E FIGURATIVA, DE ADÉLIA PRADO
Autora: Karina 1º A
Autora: Gabriela Pandolfo Batista 1º A
ANEXO 06-FOTOS QUE ILUSTRAM O MOMENTO DE APRESENTAÇÃO DOS
POEMAS DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E ADÉLIA PRADO,
ANALISADOS NO PROJETO A lírica feminina de Adélia Prado em
contraposição à lírica masculina de Carlos Drummond de Andrade À
COMUNIDADE ESCOLAR.
ANEXO 07 ENDEREÇOS DO YOU TUBE ONDE ESTÃO AS ENTREVISTAS
REALIZADAS. http://www.youtube.com/watch?v=NmMaaeYbXf0
http://www.youtube.com/watch?v=lXsiJRHwpZM
http://www.youtube.com/watch?v=zHkx49cN-Gc