Artigo Publicado RevistaT&D

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A Área De Recursos Humanos (ARH) Como Parceira Estratégica De Negócios: Erros E Acertos “Ser importante não significa ser estratégico” Professor Dr. André Fischer (FEA/USP) É comum ouvir ou ler sobre a importância atribuída a gestão de recursos humanos. Em geral, as declarações costumam ser enfáticas quanto aos impactos desse tipo de gestão sobre a condução do negócio. Entretanto, como bem dito por André Fischer, nem sempre ser importante significa ser estratégico. Essa diferenciação é justamente o tema tratado neste artigo, ou seja, tornar a Área de Recursos Humanos - ARH estratégica vai muito além do seu reconhecimento como importante. Tendo como objetivo refletir sobre as diferenças entre o importante e o estratégico da atuação da ARH, apresento ao leitor lições apreendidas por meio de erros e acertos vivenciados nos papéis de Gestora e Consultora para implantação de Modelos de Gestão de Pessoas. O reconhecimento da importância da ARH já foi alcançado pelas empresas brasileiras, entretanto ainda há um percurso a ser percorrido para se chegar a ser estratégica. As professoras Lacombe e Tonelli em 2001 concluíram em um estudo que apesar de 53% das empresas pesquisadas apresentarem um modelo estratégico de RH, sua prática era algo muito mais para inglês ver. O esforço para a ARH se tornar importante tem sido grande, porém sua transição passagem estratégica é bem maior, implicando uma mudança profunda não apenas no escopo e tipo de atuação da ARH, mas em todos os componentes do Modelo de Gestão de Pessoas da organização. Na década de 90, devido às pressões oriundas do mercado competitivo globalizado, as empresas atuantes no contexto nacional empreenderam uma corrida para a sobrevivência e implementaram novos modelos de gestão e formas diferenciadas de atuação no mercado. Já nos anos 2000, o modelo proposto por Dave Ulrich para a ARH tomou uma proporção poucas vezes observada anteriormente em termos de adoção imediata por

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Business Partner Erros e Acertos

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  • A rea De Recursos Humanos (ARH) Como Parceira Estratgica De Negcios:

    Erros E Acertos

    Ser importante no significa ser estratgico

    Professor Dr. Andr Fischer (FEA/USP)

    comum ouvir ou ler sobre a importncia atribuda a gesto de recursos humanos.

    Em geral, as declaraes costumam ser enfticas quanto aos impactos desse tipo de

    gesto sobre a conduo do negcio. Entretanto, como bem dito por Andr Fischer,

    nem sempre ser importante significa ser estratgico. Essa diferenciao justamente

    o tema tratado neste artigo, ou seja, tornar a rea de Recursos Humanos - ARH

    estratgica vai muito alm do seu reconhecimento como importante.

    Tendo como objetivo refletir sobre as diferenas entre o importante e o estratgico da

    atuao da ARH, apresento ao leitor lies apreendidas por meio de erros e acertos

    vivenciados nos papis de Gestora e Consultora para implantao de Modelos de

    Gesto de Pessoas.

    O reconhecimento da importncia da ARH j foi alcanado pelas empresas

    brasileiras, entretanto ainda h um percurso a ser percorrido para se chegar a ser

    estratgica. As professoras Lacombe e Tonelli em 2001 concluram em um estudo que apesar de 53% das empresas pesquisadas apresentarem um modelo estratgico de RH, sua prtica era algo muito mais para ingls ver.

    O esforo para a ARH se tornar importante tem sido grande, porm sua transio passagem estratgica bem maior, implicando uma mudana profunda no apenas no

    escopo e tipo de atuao da ARH, mas em todos os componentes do Modelo de

    Gesto de Pessoas da organizao.

    Na dcada de 90, devido s presses oriundas do mercado competitivo globalizado, as

    empresas atuantes no contexto nacional empreenderam uma corrida para a

    sobrevivncia e implementaram novos modelos de gesto e formas diferenciadas de

    atuao no mercado.

    J nos anos 2000, o modelo proposto por Dave Ulrich para a ARH tomou uma

    proporo poucas vezes observada anteriormente em termos de adoo imediata por

  • parte das empresas, por oferecer a possibilidade da ARH sair do reconhecimento de

    ser uma rea importante para se tornar estratgica.

    Ulrich props a apropriao de quatro papeis pela ARH para proporcionar maior

    aproximao com realidade do negcio. De forma sucinta, a atuao da ARH passa a

    ter quatro enfoques a depender do tipo de atividade e entrega, conforme Figura 1:

    Figura 1

    PAPEL ATIVIDADE ENTREGA

    Gesto de Recursos Estratgicos

    Alinhamento do RH com a estratgia do negcio

    Execuo da estratgia

    Gesto da infraestrutura da empresa

    Reengenharia dos processos Infraestrutura eficiente

    Gesto da contribuio dos empregados

    Ouvir e responder aos empregados Aumento do comprometimento e capacidade dos empregados

    Gesto da transformao e mudana

    Gerenciamento da transformao e mudana

    Infraestrutura renovada

    Fonte: Adaptado de Ulrich (1998) e Hunter et al (2006)

    O primeiro papel diz respeito a construo da parceria estratgica da ARH com o

    negcio. Esse olhar sobre a atuao da ARH, j havia sido proposto por Dyer e

    Holder em 1988 e Ulrich o ampliou, e por fim o divulgou intensamente.

    De l para c, o modelo conceitual de Ulrich foi rapidamente absorvido pelas

    organizaes. Muitas delas adotaram em seu conjunto de cargos o de consultor

    interno ou business partner, como forma de operacionalizar o modelo.

    A efetividade do alinhamento da ARH com o negcio e, portanto, sua transio para

    estratgico se constri especialmente no trmite do business partner entre as unidades

    de negcio, compreendendo suas necessidades e objetivos. Este profissional deve

    dominar uma ampla gama de conhecimentos tcnicos de RH, para que possa ir alm

    da capacidade de influenciar o pensamento estratgico, e assim, alcanar a

    possibilidade de execuo da estratgia do negcio (HUNTER et al, 2006).

    A ARH importante quando influencia a estratgia do negcio, e passa a ser

    estratgica ao participar da sua execuo. Isso significa estabelecer a parceria entre a

    ARH e os executivos e gerentes de linha, conectando as unidades de negcio com os

  • centros de especializao de processos de RH, e/ou de servios compartilhados, e/ou

    com o corporativo.

    H muitas dificuldades para se estabelecer essa parceria, haja vista as tendncias e

    desafios futuros para a ARH identificadas por pesquisas reconhecidas

    internacionalmente. Ou seja, 43% das tendncias identificadas pela Sociedade

    Americana de Recursos Humanos (SHRM) esto diretamente ligadas ao papel de

    Gesto de Recursos Estratgicos proposto por Ulrich; bem como os 50 % observados

    pelo Instituto de Recursos Humanos Australiano (AHRI); e os 45% das tendncias

    identificadas pela Pesquisa Delphi Brasil (PROGEP).

    Tais constataes contribuem para a reflexo sobre o papel estratgico da ARH. As

    principais tendncias sinalizam o quanto ir se exigir desse, justificando a discusso

    das lies apreendidas durante diversas experincias de implantao do Business

    Partner.

    Lies Apreendidas Na Construo Da Parceria Estratgica Do Negcio

    1. A formalizao do business partner dentro da organizao pressupe clareza

    do seu papel, responsabilidade e resultados

    O cargo de business partner deve ser suprido por meio de decises que no envolvam

    aspiraes pessoais ou um mero reaproveitamento interno do quadro de pessoal da

    ARH. O que se observa frequentemente em implantaes do modelo de consultoria

    interna a simples realocao dos profissionais mediante sua distribuio em termos

    de senioridade. Esse tipo de situao bastante controversa pois, a posio de

    business partner no exige o mesmo conjunto de competncias tcnicas e

    comportamentais que a dos outros cargos. As consequncias desse tipo de ao

    podem ser um estabelecimento distorcido da parceria com o gestor de linha, e at a

    ausncia de resultados do novo modelo.

    2. Os requisitos chave do papel do business partner tm um impacto grande no

    estabelecimento e manuteno da parceria estratgica.

    Muitas organizaes ao dimensionarem inadequadamente o papel do business

    partner, por um lado, elevam ou distorcem a expectativa dos clientes internos com

  • relao atuao e resultados esperados. Por outro, se desdobram em uma seleo

    baseada em necessidades de trabalho incoerentes com o modelo de gesto de RH.

    Como consequncia h o despreparo dos business partners no desempenho de suas

    tarefas, ficando imobilizados ou desacreditados em seus papeis. Como o tornar-se

    estratgico por parte da ARH depende da atuao dos business partner, nesse caso, o

    modelo poder tender ao fracasso.

    3. A falta de compromisso de parte dos gestores de linha com o modelo de

    business partner prejudica a sua implantao, entretanto, no a inviabiliza

    Entre os gestores que se recusam a aceitar o modelo de atuao discutido neste artigo,

    tambm h outros que realmente no compreendem essa nova forma de gerir pessoas.

    O significado do papel do business partner, no deve ser compreendido apenas como

    uma mudana na ARH, mas como mais um meio de se alcanar a vantagem

    competitiva no negcio. Deseja-se que os gestores percebam vantagens explicadas e

    palpveis em ter os business partner atuando em suas unidades de negcios. Espera-

    se que a adoo de parte do corpo de gestores de linha influencie naturalmente os

    mais resistentes.

    4. Condies adequadas de trabalho e a possibilidade de desenvolvimento so

    fundamentais para o desempenho adequado do papel de business partner

    O agir do business partner depende do desempenho de outros profissionais, por ser o

    elo entre a unidade de negcio e os centros de especialidades, de servios

    compartilhados, e do corporativo da ARH. Tanto a construo de um ambiente

    eficiente e eficaz dos processos de RH, quanto a oferta de possibilidades de fontes de

    auto desenvolvimento para o business partner afetam fortemente em sua atuao. A

    ARH deve proporcionar o acesso fcil e rpido s informaes para a anlise

    contributiva ao gerente de linha, alm de disponibilizar ferramentas de gesto de

    conhecimento com enfoque em informaes especficas dos negcios atendidos.

    5. O senso de identidade ou de comunidade de RH contribui positivamente para

    o sucesso do Modelo de business partner

    Faz parte do modelo a proposio de uma estrutura diferenciada, inclusive de reporte

    e hierarquia, em que os profissionais estaro, muitas vezes, distantes fisicamente, e/ou

    reportando-se matricialmente. O business partner, na maior parte do seu tempo,

  • alocado na unidade de negcio que atende. Em alguns casos, o centro de

    especialidades est alocado em alguma outra unidade e o corporativo da ARH em

    outra, enfim, a depender da estratgia da organizao. Essa disperso geogrfica, alm

    de favorecer o surgimento de tenso e hostilidade entre os componentes da ARH,

    restringe a partilha de conhecimentos e de prticas, fazendo com que os business

    partner comunguem da identidade das unidades de negcio que fazem parte. Todos

    esses aspectos enfraquecem a implantao e manuteno do Modelo.

    6. A mensurao dos resultados alcanados pelo Modelo imperativa para o

    sucesso da Parceria Estratgica.

    Deve ser criado um sistema de medio de resultados, oriundo dos acordos entre a

    ARH e os gestores das unidades de negcio atendidas, mediante o desenho de atuao

    do business partner acordado antes da implantao. Trata-se de um acordo de nvel de

    servio, que deve considerar as entregas indiretas produzidas pelo business partner

    por meio de sua participao no processo do negcio. Poucas empresas adotam

    qualquer tipo de mensurao dos resultados oriundos da atuao do business partner.

    A consequncia negativa disto que o business partner torna-se muitas vezes um

    mero assistente do gestor de linha. Alm de favorecer a tomada de decises sem

    referncias consistentes. A ausncia de um ciclo de anlise e melhoria da atividade do

    business partner na organizao afeta a credibilidade do Modelo e pode gerar a sua

    dissoluo.

    As lies citadas foram selecionadas de um conjunto superior de dificuldades, por

    contriburem com a transio de importante para estratgico da ARH. Entretanto h

    pontos que devem ser considerados em suas anlises: o primeiro diz respeito

    emergncia de comportamentos organizacionais costumeiramente no previstos na

    concepo do Modelo. O segundo refere-se a pouca maturidade do Modelo em

    questo, ou seja, por ser um processo em construo, h transformao a cada

    aprendizado. O terceiro e ltimo ponto o estudo sobre o assunto. Este contm

    desafios como o acesso limitado a informaes sobre as implantaes do business

    partner por parte das organizaes, fazendo com que o maior nmero de debates e

    referncias sejam tericos, com contribuio restrita para a prtica empresarial.

    No h sinais evidentes de que a adoo do modelo esteja diminuindo da parte das

    empresas. Desta forma, os motivos para o estudo e reflexo sobre o seu uso devem ser

  • estimulados. Afinal, alm de envolver um grande nmero de pessoas na dinmica de

    trabalho criado por este modelo, tambm h de se considerar a abrangncia de seus

    impactos no comportamento organizacional.