Artigo sobre Fonte e Objeto: Teoria e Metodologia
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“Fonte e Objeto”: Diferentes abordagens teóricas e metodológicas na
produção historiográfica
Sabrina Rodrigues Marques1
Introdução
Este estudo tem como objetivo apresentar as diferentes abordagens teóricas e
metodológicas acerca da história. O trabalho parte de vários questionamentos, como, O
que é História? Qual a função social do Historiador? Como se dá a produção do
conhecimento histórico? Para quê e quem é o conhecimento?
Entretanto, precisamos compreender como se dá a construção da dialética entre
o sujeito e o objeto, ou seja, entre a História e o historiador, as relações que permeiam a
subjetividade e a objetividade na pesquisa. Além disso, Thompson já afirmava que o
historiador possui várias formas de escrever história:
Os modos de escrever a história são tão diversos, as técnicas empregadas pelos historiadores são tão variadas, os temas da investigação histórica são tão dispares e, acima de tudo, as conclusões são tão controversas e tão veementemente contestadas dentro da profissão que é difícil apresentar qualquer coerência disciplinar. 2
Desta forma, Marx já havia escrito que “O Homem ao produzirem os seus meios
de existência, produzem indiretamente sua própria vida material (...) Toda a história
humana é, naturalmente a existência de indivíduos humanos”.3 Os pensamentos fazem
os homens, a crítica faz a História, ou seja, a consciência é produto social. No entanto, o
trabalho buscou propiciar o debate entre os diferentes autores que procuraram entender
a relação entre História e o historiador, a relação sujeito e objeto na escrita e no ofício
do historiador.
Para a introduzir as discussões dos textos, procurou-se no primeiro momento,
destacar o debate sobre as correntes historiográficas marxistas e sua contribuição na
História, sendo assim, Marx e Engels desenvolveu a análise empírica do método
histórico-dialético em suas obras, esse método fica explícito, em seu livro a “Ideologia
Alemã”, um livro que esclarece como estes filósofos analisavam o contexto histórico,
1 Mestranda em História- UNIOESTE/Campus-Marechal Cândido Rondon- PR, E-mail: [email protected] THOMPSON.E.P. A Miséria da Teoria ou um planetário de erros. Editora Zahar Editores. 1981. Pg 48.3 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã. Editora Martins Fontes. 1998. Pg. 10 e 11.
político e ideológico da época e como travavam seus incessantes debates entres os
intelectuais alemães.
Neste livro, Marx escreveu que a Alemanha, tinha como contexto intelectual, as
críticas que os jovens hegelianos faziam ao idealismo alemão. Notadamente, o
materialismo histórico-dialético exposto por Marx, revela de como podemos partir para
uma análise empírica do objeto, da realidade concreta. Esta obra, entre outras a serem
estudadas, trouxe grandes contribuições para construção da pesquisa e a formação do
historiador.
Além disso, o E.P.Thompson, nos deixa um legado de questionamentos
referentes a pesquisa, exemplo, o livro “Miséria da Teoria ou um planetário de erros”
consistiu na defesa do materialismo histórico-dialético contra o estruturalismo
Althusseriano, contudo, a elaboração de questões e métodos concretos a serem feitos as
fontes e objetos de estudos compôs esta obra. Thompson em seu livro deixa claro que a
história,
Não é uma fábrica para a manufatura da Grande Teoria, como um Concorde do ar global; também não é uma linha de montagem para a produção em série de pequenas teorias. Tampouco é uma gigantesca estação experimental na qual as teorias de manufatura estrangeira possam ser "aplicadas", "testadas" e "confirmadas". Esta não é absolutamente sua função. Seu objetivo é reconstituir, "explicar", e "compreender" seu objeto: a história real. As teorias que os historiadores apresentam são dirigidas a esse objetivo, dentro dos termos da lógica histórica, e não há cirurgia que possa transplantar teorias estrangeiras, como órgãos inalterados, para outras lógicas estáticas, conceptuais ou vice-versa. Nosso objetivo é o conhecimento histórico; nossas hipóteses são apresentadas para explicar tal formação social particular no passado, tal sequência particular de causação.4
Além disso, o texto propõe-se não só discutir o materialismo histórico-dialético
como teoria, mas também despontar as contribuições históricas e metodológicas de
outras linhas teóricas, assim como, “Ginzburg e Chartier”, proporcionando outros
métodos de análises históricas, exemplo, as narrativas da História, suas linguagens,
símbolos e oralidade.
Outro ponto a ser discutido dentro do texto são os autores Raymond Willians,
Eric Hobsbawm e Alessandro Portelli, que questiona a produção do conhecimento
4 THOMPSON, E.P. op.cit. pg. 57.
histórico na construção de novas culturas, ideologias, disputas de memórias,
correlacionando sempre passado- presente de cada historiador.
Entre outras palavras, todos estes autores que serão abordados neste texto,
demonstraram suas preocupações no fazer História, no historiador, o método, as
possibilidades históricas, as tendências históricas, e o que está sendo produzido. O
estudo consiste na exposição de cada autor e suas interpretações acerca destas questões
que permeiam a pesquisa e a academia.
Materialismo Histórico: “Um Método Dialético da História? ”
O artigo inicia-se despontando as contribuições do método dialético-histórico de
Marx, e questiona como a História vem utilizando-se desta teoria? A História em sua
constituição como ciências humanas, sempre foi baseado na realidade concreta dos
homens, nas suas relações sociais de produção material e espiritual dentro do processo
evolutivo da humanidade.
Sendo assim, para Marx e Engels, o pressuposto, era que o homem é composto
pelas as relações sociais de produção, e são essas relações que determina a consciência
produzida historicamente, podendo diferenciar o homem dos outros animais de diversas
formas entre elas a consciência, a religião ou qualquer outra, mas, os homens se
diferenciam porque assim que começa a produzir o seu meio de existência, tanto na
produção material quanto na produção espiritual. Inferindo que “O que os indivíduos
são, portanto, depende das suas condições materiais de sua produção”5.
Por conseguinte, considerou-se importante a abordagem da obra “Ideologia
Alemã” para fundamentar a discussão sobre o método histórico-dialético, este livro foi
escrito entre 1845 e 1846, é uma obra dirigida aos jovens- hegelianos, com destaque a
Feuerbach, Strauss, Stiner e Bauer. Marx e Engels desaprovava, os jovens alemães pela
crítica feita ao pensamento hegeliano e denominavam eles “como carneiros que se
julgam lobos, que balem de modo filosófico as representações da burguesia alemã”.6
Para Marx e Engels enquanto a Europa estava com verdadeiras revoluções, na
Alemanha a única revolução seria no campo das ideias, ou seja, no campo das
5 MARX,Karl. op.cit. pg. 24.6 Idem, pg. 4.
abstrações. Para demonstrar, segue um trecho que Marx escreve sobre os jovens e
velhos hegelianos,
Os v e l h o s hegelianos tinham compreendido tudo desde que tinham reduzido tudo a uma categoria lógica hegeliana. Os jovens hegelianos criticaram tudo, substituindo cada coisa por representações religiosas ou proclamando-a como teológica. Jovens e velhos hegelianos estão de acordo em acreditar que a religião, os conceitos e o Universal reinavam no mundo existente.7
No entanto, para analisar o contexto histórico que ocorriam na Alemanha, Marx
e Engels utilizou-se do método dialético-histórico, ou seja, uma concepção filosófica,
que o meio social e físico modelam os animais e os seres humanos, sua sociedade e sua
cultura quanto são modelados por eles, que a matéria está em uma relação dialética com
o contexto produzido socialmente, se opondo ao idealismo, que acreditava que o
ambiente e a sociedade com base no mundo das ideias, seria como as criações divinas
seguindo as vontades das divindades.
Partindo da concepção hegeliana para mostrar aos jovens hegelianos, Marx e
Engels, despontava que não bastavam trocar pensamentos por categorias abstratas e
ogras. No entanto, além de partirem destas categorias abstratas e de meras
sobreposições de fraseologias, eles acabavam por conservar o idealismo alemão.
Chegando à conclusão, que os jovens hegelianos não se diferenciavam muito dos velhos
hegelianos:
Para os jovens hegelianos, as representações, ideias, conceitos, enfim, os produtos da consciência aos quais eles próprios deram autonomia, eram considerados como verdadeiros grilhões da humanidade, assim como os velhos hegelianos proclamavam ser eles os vínculos verdadeiros da sociedade humana. Torna-se assim evidente que os jovens hegelianos devem lutar unicamente contra essas ilusões da consciência. Como, em sua imaginação, as relações dos homens, todos os seus atos e gestos, suas cadeias e seus limites são produtos da sua consciência, coerentes consigo próprios, os jovens hegelianos propõem aos homens este postulado moral: trocar a sua consciência atual pela consciência humana, crítica ou egoísta e, assim fazendo, abolir seus limites. Exigir assim a transformação da consciência equivale a interpretar ele modo diferente o que existe, isto é, reconhecê-lo por meio de uma outra interpretação.8
7 Ibidem, pg.8.8 Ibidem, pg.9.
Porém, Marx e Engels, inverte o sistema hegeliano, sintetizando a dialética
hegeliana com o materialismo de Feuerbach, conservando a dialética do processo
histórico e o homem. Em suas críticas aos jovens e velhos hegelianos, aponta que
acolheram com entusiasmo as obras de Feuerbach e, por seu intermédio, fizeram
a transição ao materialismo,
Como não podia deixar de ser, naquele momento, aceitaram o materialismo sob a forma que lhes apresentava Feuerbach: a do humanismo naturista. Iniciaram-se um profundo processo de reelaboração da dialética hegeliana, que resultará numa revolução filosófica: a integração do princípio da dialética no corpo do materialismo e a reconstrução deste como materialismo dialético.9
Dentro da mesma lógica, Thompson em A Miséria da Teoria ou um planetário
de erros, defendia veemente o materialismo histórico-dialético do estruturalismo
Althusseriano, a concepção materialista da história, o autor evidenciava que os
intelectuais partiam de uma análise ogra althusseriana, constituindo–se como a
“lumpen-intelligentsia burguesa”.
Um dos debates que Thompson trouxe em seu livro, era “Tem a História uma
teoria? ” Esse foi um dos escopos iniciais que autor defendeu dentro do seu livro,
contra a produção althusseriana, que atacava o materialismo histórico-dialético na
época, como sendo uma teoria a-histórica, afirmando que “o processo histórico é
incognoscível como objeto real; o conhecimento histórico é produto da teoria; a teoria
inventa a história, seja como ideologia ou como Teoria ("ciência”) ”.10
Além disso, Thompson deixa claro no decorrer de sua obra, que a análise do
conhecimento Histórico, se dá por meio de diversas técnicas, implicando não só na
produção do conhecimento histórico, como na construção do historiador e sua função
social dentro da sociedade, escreve que a História é permeada por um processo
histórico, baseado nas relações sociais dos homens. Sendo que o historiador é criador de
seus métodos e que cada um possui seus modos de análises e de investigação histórica.
E que,
A "História" não oferece um laboratório de verificação experimental, oferece evidências de causas necessárias, mas nunca (em minha opinião) de causas suficientes, pois as "leis" (ou, como prefiro, a lógica ou as pressões) do processo social e económico estão sendo continuamente infringidas pelas contingências, de modos que
9 Ibidem, pg.13.10 THOMPSON, E.P. op.cit. pg. 31.
invalidariam qualquer regra nas ciências experimentais, e assim por diante.11
Sendo assim, o materialismo histórico-dialético não se diferencia ou se afasta
das evidências históricas, e que a prática histórica está empenhada em um debate entre
conceitos e hipóteses. Na medida em que uma tese (o conceito, ou hipótese) posta em
relação com suas antíteses (determinação objetiva não-teórica) e disso resulta uma
síntese (conhecimento histórico, temos o que pode chamar de dialética do conhecimento
histórico”.12 Por conseguinte, Thompson defende que,
O materialismo histórico não difere de outras ordenações interpretativas das evidências históricas (ou não difere necessariamente) por quaisquer premissas epistemológicas, mas por suas categorias, suas hipóteses características e procedimentos consequentes e no reconhecido parentesco conceptual entre estas e os conceitos desenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinas. Não considero a historiografia marxista como dependente de um corpo geral de marxismo-como-teoria, localizado em alguma outra parte (talvez na filosofia?). Pelo contrário, se há um terreno comum para todas as práticas marxistas, então ele deve estar onde o próprio Marx o situou, no materialismo histórico. Este o terreno do qual surge toda a teoria marxista, e ao qual ela deve, no fim, retornar.13
Sendo assim, a história é carregada de preposições e conceitos históricos, e que o
materialismo histórico é uma teoria que permite estas análises investigativas, que
historiador dentro da lógica histórica, “é um método lógico de investigação adequado a
materiais históricos destinado a testar hipóteses quanto a estrutura, causação, etc. E a
eliminar procedimentos auto confirmadores (instâncias, ilustrações”.14
A História e suas Narrativas- O Papel da História e suas fontes
A História não é constituída por uma verdade absoluta, a disciplina está
empenhada dentro dos diferentes pontos de vistas e se desenvolve na tensão entre o
conflito do objeto de estudo e o pesquisador, produzindo diferentes perspectivas
históricas. Sendo assim, “Carlos Ginzburg” é um historiador que trabalha com a micro
história italiana, dentro da história, o autor nos trouxe contribuições referentes as
narrativas da história, elaboradas como gênero literário e assegurada por uma
metodologia que o autor expõe em diversas obras dele no decorrer de sua vida.
11 Ibidem, pg. 48.12 Idem, pg.54.13 Idem, pg.54.14 Idem, pg. 49.
Desta forma, nos livros, “Olhos de Madeira e Os fios e os rastros”, Ginzburg,
afirma que a História significa uma “experiência vivida do passado, não um
conhecimento distante deste, e com o surgimento da historiografia, um gênero literário,
que tem, entre outras, a finalidades de registrar e conservar as notícias sobre os
acontecimentos digno da memória”.15
Desde o início a História possui fonte, objeto e segue procedimentos históricos,
produzindo várias metodologias, técnicas, construindo um modelo sobre o que fazer
História, exemplo:
“Tucídides que já se mostrava como o protótipo do historiador como cientista pesquisador em sua narração sobre a Guerra do Peloponeso demonstrando suas perspectivas com relação a guerra e seu envolvimento subjetivo numa narração aparentemente distanciada”. 16
No entanto, o autor não deixa de mencionar que a visão pós-moderna se apropria
dessas perspectivas para falar que a História possui duas verdades, tanta o “falso ou
verdadeiro” afirmando que ambos são verdadeiros. Mas que as relações entre as
narrações históricas e as narrações ficcionais, ora se aproxima, ora se distancia, é uma
diferença que se constitui. Ginzburg utiliza-se da literatura para mostrar as narrativas
históricas, a relação do historiador entre o distanciamento e perspectiva do objeto de
pesquisa.
O historiador italiano nos conduz a História e a escrita permeando pela distância
entre o princípio de realidade e falsidade baseando-se nas diferentes narrativas literárias.
Desta forma, Ginzburg, nos mostra como o historiador pode apreender os fios dos
relatos na relação com os rastros do passado, o autor demonstra que a História se
constitui no contar e narrar, carregando-se dos rastros do passado, para escrever
histórias.
Sendo assim, dentro da interpretação do autor, além das experiências vividas, o
homem tece os seus rastros, é por meio desses rastros que o historiador poderá produzir
História, que por meio desses fios que os historiadores procurariam a construir seu
objeto de pesquisa e expor seus resultados sob a forma de uma narrativa.
15 GINZBURG, Carlos. “Olhos de Madeira, Nove Reflexões sobre a distância”. Editora Companhia das Letras. 2001. Pg. 179.16 Idem, pg. 180.
Do mesmo modo, o historiador Roger Chartier, nos trouxe questionamentos
sobre a disciplina da História, suas questões são referentes as crises ou incertezas acerca
da história, no seu livro à “Beira da Falésia a História entre certezas e inquietudes”, o
autor expõe as tentativas intelectuais que colocam no centro de seu método as relações
que mantém os discursos e as práticas sociais Aos otimistas e conquistadores da “Nova
História” sucedeu com efeito em um tempo de dúvidas e de interrogações.
Entretanto, a crise de inteligibilidade histórica, foi mais sentida, sobreveio em
uma conjuntura de forte crescimento do número de historiadores profissionais e de suas
publicações. O tempo dos questionamentos foi o tempo da dispersão, todas as grandes
tradições historiográficas perderam sua unidade, todas se fragmentaram em propostas
diversas, contraditórias, que multiplicaram os objetos, os métodos e as histórias.
Diante do reflexo, os grandes modelos explicativos, obteve uma volta ao
arquivo, ao documento bruto que registra o surgimento das palavras singulares. A
História é habitada por uma reivindicação, proclamada da subjetividade do historiador,
da afirmação dos direitos, do Eu no discurso histórico e das tentações da “Ego-
História”. E que a História é compreendida,
Como uma ciência social lembra os indivíduos estão sempre ligados por dependências recíprocas, percebidas ou invisíveis, que modelam e estruturam sua personalidade e que definem, em suas modalidades sucessivas, as formas da afetividade e da racionalidade.17
O historiador é estabelecido pelas escolhas que faz e pelas relações que
estabelece com a História, atribuindo um sentido inédito às palavras que arrancada do
silêncio dos arquivos. O retorno ao arquivo levanta um debate, o das relações entre
categorias manipuladoras pelos atores e as noções empregadas no trabalho da análise.
Os historiadores tomam consciência de que as categorias que manejam tinham elas
próprias uma história, e que a História social era necessariamente a História das razões e
dos usos destas.
Todos estes historiadores nos contemplam dentro de uma perspectiva
historiográfica, são intelectuais que faz luz as nossas reflexões e questionamentos dentro
da História, pesquisa e a academia. Sendo assim, logo após toda a nossa exposição de
interpretações acerca das perspectivas teóricas e metodológicas aqui no texto, coloco
minha pesquisa para discussão e o método de investigação a ser utilizado.
17 CHARTIER, Roger. “Beira da Falésia. A História entre certezas e Inquietudes. A História entre narrativa e conhecimento”. Editora da Universidade. UFGRS. 2002. Pg.92.
Pesquisa: Uma experiência metodológica e teórica a ser desenvolvida?
Começo o texto indagando-me, sobre os questionamentos iniciados no artigo,
referente a produção historiográfica, para quê? E para quem é o conhecimento? A
pesquisa que desenvolverei no mestrado, será sobre a revista Veja, sua posição a favor e
a defesa do sistema capitalista entre os anos de 1989 a 2009.
Este trabalho, tem como um dos objetivos, questionar, sobre como os discursos
anticomunistas consegue estar tão presente nos dias de hoje, principalmente na imprensa
burguesa? Como a Queda do Muro de Berlim virou o símbolo do fracasso do
comunismo e, como foi a instauração do capitalismo como um sistema “vitorioso”,
impondo a sociedade que não havia mais alternativas a não ser este sistema econômico.
Sendo assim, a pesquisa constitui-se no primeiro momento, nas análises dos
discursos que Veja publicou em seus editoriais durante estes anos, a revista, assim como
os outros meios de comunicação impresso e virtual, faz parte da produção material do
homem.
Notadamente, a maioria dos meios de comunicação, tem um papel empresarial e
comercial, projetando e instituindo-se como um aparelho privado de hegemonia para o
Estado ou em contraposição aos interesses deles mesmos, fazendo parte de projetos
econômicos, políticos e ideológico legitimando algumas frações de classe.
Porém, toda a perspectiva teórica e metodológica discutida neste artigo, nos
mostra possibilidades e caminhos durante investigação histórica a serem seguidos
dentro da pesquisa. Desta forma, dentro da minha formação política e acadêmica, um
dos métodos e referencial teórico a serem utilizados para análises dos discursos de Veja
será o materialismo histórico-dialético, para que possamos compreender, as bases e
estruturas da sociedade, dentro da sua totalidade. Como afirma Raymond Willians,
A sociedade é um todo complexo de tais práticas, também é verdade que toda sociedade tem uma organização e uma estrutura específicas, e que os princípios dessa organização e uma estrutura podem ser vistos como diretamente relacionadas a certas intenções sociais, pelas quais definimos a sociedade, intenções que, em toda a nossa experiência, têm sido regidas por uma classe particular. 18
Como todo historiador, a preocupação desde o início, é de como será o seu
método investigativo e o referencial teórico utilizado como base de sua pesquisa, mas 18 Base e superestrutura na teoria cultural marxista. In. Cultura e materialismo. São Paulo: UNESP,2011. Pg.50.
além de todos estes procedimentos históricos, objeto-pesquisa, o historiador deve se
perguntar a quem será dirigido esta pesquisa, qual será sua função social? E qual é o seu
lugar social?
Uma das questões expostas, não só pelo Raymond Willians em seu livro
“Marxismo e Literatura”, Eric Hobsbawm em seu ensaio “O sentido do passado”,
como Alessandro Portelli “Ensaios de História Oral”, são inquietações sobre as
construções de novos projetos políticos, de novas culturas, linguagens, ideologias,
símbolos, a disputa pela memória política, e a legitimidade da hegemonia dominante.
A pesquisa a qual vou desenvolver, sobre a revista Veja que tem como objetivo
um projeto neoliberal, tem como propósito, os questionamentos de como o Estado e o
empresariado instrumentalizam-se por meio dos meios de comunicação de massa para
perpetuar e legitimar-se no poder.
O trabalho tem a finalidade de questionar os aparelhos privados e as estruturas
da classe dominante, com o objetivo de induzir as classes dominadas para utilizar-se
deste espaço como apropriação política e ideológica, conduzindo uma guerra de posição
dentro do Estado Burguês.
Sendo assim, Raymond Willians nos deixa uma contribuição para que possamos
entender a dialética entre as bases e as superestruturas da sociedade, o autor deixa em
evidencia que a “base” deve ter um destaque para a compreensão destas relações de
produções culturais e ideológicas,
Dentro da Teoria Marxista- Considera a proposição de uma base determinante e de uma superestrutura determinada. Para Willians a “base” é a existência social e real do homem. A base são as relações reais de produção que correspondem a uma fase do desenvolvimento das forças produtivas materiais. A base é um modo de produção em um determinado estágio de seu desenvolvimento. E que o autor defende que quando fala de “base” estamos falando de um processo e não de um estado. E não podemos atribuir a esse processo algumas propriedades fixas a serem posteriormente traduzidas aos processos variáveis da superestrutura.19
Sendo assim, estes historiadores, nos deixa um legado dentro da produção
historiográfica, suas inquietações e suas preocupações, que não só perpassam pela
investigação histórica, como a produção material e espiritual do homem, onde eles
escrevem e publicam à medida que cada historiador é regido pelo seu tempo e contexto
histórico, e que cada um carrega o peso do tempo em suas produções historiográficas.
19 Ibidem, pg. 46, 48.
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Alegre: EDUFRGS, 2002. p. 7-18; 81-100. (Introdução geral; A história entre narrativa
e conhecimento).
GINZBURG, C. Olhos de madeira: nove reflexões sobre a distância. São Paulo:
Companhia das Letras, 2001. p. 176-198; 284-293. (7. Distância e perspectivas – duas
Metáforas).
______________. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Companhia
das Letras, 2007. p. 311-335; 426-430. (Provas e possibilidades).
HOBSBAWM, E. Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 22-35. (O
sentido do passado).
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã
em seus representes Feuerbach, B. Bauer e Stiner, e do socialismo alemão em seus
diferentes profetas. Editora Martins Fontes. 1998. (A ideologia em geral e em especial a
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PORTELLI, A. As fronteiras da memória: o massacre das Fossas Ardeatinas. História,
mito, rituais e símbolos. História & Perspectiva, Uberlândia, nº 25/26, p. 9-26,
jul./dez. 2001/jan./jun. 2002.
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Peppoloni, trabalhador. In: ______. Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e Voz,
2010. p. 159-183.
THOMPSON, E. P. A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma crítica ao
pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. p. 9-62. (A prática do
materialismo histórico; Mapa do livro; “Mesa, você existe? ”; A epistemologia de
Althusser; Tem a história uma teoria? Os filósofos e a história; Intervalo: a lógica
histórica).
WILLIAMS, R. Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. p. 7-76.
(Conceitos básicos – cultura; língua; literatura; ideologia).
_____________. Base e superestrutura na teoria cultural marxista. In. ______. Cultura
e materialismo. São Paulo: UNESP, 2011. p. 43-68.