Artigo sobre Fonte e Objeto: Teoria e Metodologia

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“Fonte e Objeto”: Diferentes abordagens teóricas e metodológicas na produção historiográfica Sabrina Rodrigues Marques 1 Introdução Este estudo tem como objetivo apresentar as diferentes abordagens teóricas e metodológicas acerca da história. O trabalho parte de vários questionamentos, como, O que é História? Qual a função social do Historiador? Como se dá a produção do conhecimento histórico? Para quê e quem é o conhecimento? Entretanto, precisamos compreender como se dá a construção da dialética entre o sujeito e o objeto, ou seja, entre a História e o historiador, as relações que permeiam a subjetividade e a objetividade na pesquisa. Além disso, Thompson já afirmava que o historiador possui várias formas de escrever história: Os modos de escrever a história são tão diversos, as técnicas empregadas pelos historiadores são tão variadas, os temas da investigação histórica são tão dispares e, acima de tudo, as conclusões são tão controversas e tão veementemente contestadas dentro da profissão que é difícil apresentar qualquer coerência disciplinar. 2 Desta forma, Marx já havia escrito que “O Homem ao produzirem os seus meios de existência, produzem indiretamente sua própria 1 Mestranda em História- UNIOESTE/Campus-Marechal Cândido Rondon- PR, E-mail: [email protected]. 2 THOMPSON.E.P. A Miséria da Teoria ou um planetário de erros. Editora Zahar Editores. 1981. Pg 48.

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Artigo sobre Fonte e Objeto: Teoria e Metodologia. Este estudo tem como objetivo apresentar as diferentes abordagens teóricas e metodológicas acerca da história. O trabalho parte de vários questionamentos, como, O que é História? Qual a função social do Historiador? Como se dá a produção do conhecimento histórico? Para quê e quem é o conhecimento?

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“Fonte e Objeto”: Diferentes abordagens teóricas e metodológicas na

produção historiográfica

Sabrina Rodrigues Marques1

Introdução

Este estudo tem como objetivo apresentar as diferentes abordagens teóricas e

metodológicas acerca da história. O trabalho parte de vários questionamentos, como, O

que é História? Qual a função social do Historiador? Como se dá a produção do

conhecimento histórico? Para quê e quem é o conhecimento?

Entretanto, precisamos compreender como se dá a construção da dialética entre

o sujeito e o objeto, ou seja, entre a História e o historiador, as relações que permeiam a

subjetividade e a objetividade na pesquisa. Além disso, Thompson já afirmava que o

historiador possui várias formas de escrever história:

Os modos de escrever a história são tão diversos, as técnicas empregadas pelos historiadores são tão variadas, os temas da investigação histórica são tão dispares e, acima de tudo, as conclusões são tão controversas e tão veementemente contestadas dentro da profissão que é difícil apresentar qualquer coerência disciplinar. 2

Desta forma, Marx já havia escrito que “O Homem ao produzirem os seus meios

de existência, produzem indiretamente sua própria vida material (...) Toda a história

humana é, naturalmente a existência de indivíduos humanos”.3 Os pensamentos fazem

os homens, a crítica faz a História, ou seja, a consciência é produto social. No entanto, o

trabalho buscou propiciar o debate entre os diferentes autores que procuraram entender

a relação entre História e o historiador, a relação sujeito e objeto na escrita e no ofício

do historiador.

Para a introduzir as discussões dos textos, procurou-se no primeiro momento,

destacar o debate sobre as correntes historiográficas marxistas e sua contribuição na

História, sendo assim, Marx e Engels desenvolveu a análise empírica do método

histórico-dialético em suas obras, esse método fica explícito, em seu livro a “Ideologia

Alemã”, um livro que esclarece como estes filósofos analisavam o contexto histórico,

1 Mestranda em História- UNIOESTE/Campus-Marechal Cândido Rondon- PR, E-mail: [email protected] THOMPSON.E.P. A Miséria da Teoria ou um planetário de erros. Editora Zahar Editores. 1981. Pg 48.3 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã. Editora Martins Fontes. 1998. Pg. 10 e 11.

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político e ideológico da época e como travavam seus incessantes debates entres os

intelectuais alemães.

Neste livro, Marx escreveu que a Alemanha, tinha como contexto intelectual, as

críticas que os jovens hegelianos faziam ao idealismo alemão. Notadamente, o

materialismo histórico-dialético exposto por Marx, revela de como podemos partir para

uma análise empírica do objeto, da realidade concreta. Esta obra, entre outras a serem

estudadas, trouxe grandes contribuições para construção da pesquisa e a formação do

historiador.

Além disso, o E.P.Thompson, nos deixa um legado de questionamentos

referentes a pesquisa, exemplo, o livro “Miséria da Teoria ou um planetário de erros”

consistiu na defesa do materialismo histórico-dialético contra o estruturalismo

Althusseriano, contudo, a elaboração de questões e métodos concretos a serem feitos as

fontes e objetos de estudos compôs esta obra. Thompson em seu livro deixa claro que a

história,

Não é uma fábrica para a manufatura da Grande Teoria, como um Concorde do ar global; também não é uma linha de montagem para a produção em série de pequenas teorias. Tampouco é uma gigantesca estação experimental na qual as teorias de manufatura estrangeira possam ser "aplicadas", "testadas" e "confirmadas". Esta não é absolutamente sua função. Seu objetivo é reconstituir, "explicar", e "compreender" seu objeto: a história real. As teorias que os historiadores apresentam são dirigidas a esse objetivo, dentro dos termos da lógica histórica, e não há cirurgia que possa transplantar teorias estrangeiras, como órgãos inalterados, para outras lógicas estáticas, conceptuais ou vice-versa. Nosso objetivo é o conhecimento histórico; nossas hipóteses são apresentadas para explicar tal formação social particular no passado, tal sequência particular de causação.4

Além disso, o texto propõe-se não só discutir o materialismo histórico-dialético

como teoria, mas também despontar as contribuições históricas e metodológicas de

outras linhas teóricas, assim como, “Ginzburg e Chartier”, proporcionando outros

métodos de análises históricas, exemplo, as narrativas da História, suas linguagens,

símbolos e oralidade.

Outro ponto a ser discutido dentro do texto são os autores Raymond Willians,

Eric Hobsbawm e Alessandro Portelli, que questiona a produção do conhecimento

4 THOMPSON, E.P. op.cit. pg. 57.

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histórico na construção de novas culturas, ideologias, disputas de memórias,

correlacionando sempre passado- presente de cada historiador.

Entre outras palavras, todos estes autores que serão abordados neste texto,

demonstraram suas preocupações no fazer História, no historiador, o método, as

possibilidades históricas, as tendências históricas, e o que está sendo produzido. O

estudo consiste na exposição de cada autor e suas interpretações acerca destas questões

que permeiam a pesquisa e a academia.

Materialismo Histórico: “Um Método Dialético da História? ”

O artigo inicia-se despontando as contribuições do método dialético-histórico de

Marx, e questiona como a História vem utilizando-se desta teoria? A História em sua

constituição como ciências humanas, sempre foi baseado na realidade concreta dos

homens, nas suas relações sociais de produção material e espiritual dentro do processo

evolutivo da humanidade.

Sendo assim, para Marx e Engels, o pressuposto, era que o homem é composto

pelas as relações sociais de produção, e são essas relações que determina a consciência

produzida historicamente, podendo diferenciar o homem dos outros animais de diversas

formas entre elas a consciência, a religião ou qualquer outra, mas, os homens se

diferenciam porque assim que começa a produzir o seu meio de existência, tanto na

produção material quanto na produção espiritual. Inferindo que “O que os indivíduos

são, portanto, depende das suas condições materiais de sua produção”5.

Por conseguinte, considerou-se importante a abordagem da obra “Ideologia

Alemã” para fundamentar a discussão sobre o método histórico-dialético, este livro foi

escrito entre 1845 e 1846, é uma obra dirigida aos jovens- hegelianos, com destaque a

Feuerbach, Strauss, Stiner e Bauer. Marx e Engels desaprovava, os jovens alemães pela

crítica feita ao pensamento hegeliano e denominavam eles “como carneiros que se

julgam lobos, que balem de modo filosófico as representações da burguesia alemã”.6

Para Marx e Engels enquanto a Europa estava com verdadeiras revoluções, na

Alemanha a única revolução seria no campo das ideias, ou seja, no campo das

5 MARX,Karl. op.cit. pg. 24.6 Idem, pg. 4.

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abstrações. Para demonstrar, segue um trecho que Marx escreve sobre os jovens e

velhos hegelianos,

Os v e l h o s hegelianos tinham compreendido tudo desde que tinham reduzido tudo a uma categoria lógica hegeliana. Os jovens hegelianos criticaram tudo, substituindo cada coisa por representações religiosas ou proclamando-a como teológica. Jovens e velhos hegelianos estão de acordo em acreditar que a religião, os conceitos e o Universal reinavam no mundo existente.7

No entanto, para analisar o contexto histórico que ocorriam na Alemanha, Marx

e Engels utilizou-se do método dialético-histórico, ou seja, uma concepção filosófica,

que o meio social e físico modelam os animais e os seres humanos, sua sociedade e sua

cultura quanto são modelados por eles, que a matéria está em uma relação dialética com

o contexto produzido socialmente, se opondo ao idealismo, que acreditava que o

ambiente e a sociedade com base no mundo das ideias, seria como as criações divinas

seguindo as vontades das divindades.

Partindo da concepção hegeliana para mostrar aos jovens hegelianos, Marx e

Engels, despontava que não bastavam trocar pensamentos por categorias abstratas e

ogras. No entanto, além de partirem destas categorias abstratas e de meras

sobreposições de fraseologias, eles acabavam por conservar o idealismo alemão.

Chegando à conclusão, que os jovens hegelianos não se diferenciavam muito dos velhos

hegelianos:

Para os jovens hegelianos, as representações, ideias, conceitos, enfim, os produtos da consciência aos quais eles próprios deram autonomia, eram considerados como verdadeiros grilhões da humanidade, assim como os velhos hegelianos proclamavam ser eles os vínculos verdadeiros da sociedade humana. Torna-se assim evidente que os jovens hegelianos devem lutar unicamente contra essas ilusões da consciência. Como, em sua imaginação, as relações dos homens, todos os seus atos e gestos, suas cadeias e seus limites são produtos da sua consciência, coerentes consigo próprios, os jovens hegelianos propõem aos homens este postulado moral: trocar a sua consciência atual pela consciência humana, crítica ou egoísta e, assim fazendo, abolir seus limites. Exigir assim a transformação da consciência equivale a interpretar ele modo diferente o que existe, isto é, reconhecê-lo por meio de uma outra interpretação.8

7 Ibidem, pg.8.8 Ibidem, pg.9.

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Porém, Marx e Engels, inverte o sistema hegeliano, sintetizando a dialética

hegeliana com o materialismo de Feuerbach, conservando a dialética do processo

histórico e o homem. Em suas críticas aos jovens e velhos hegelianos, aponta que

acolheram com entusiasmo as obras de Feuerbach e, por seu intermédio, fizeram

a transição ao materialismo,

Como não podia deixar de ser, naquele momento, aceitaram o materialismo sob a forma que lhes apresentava Feuerbach: a do humanismo naturista. Iniciaram-se um profundo processo de reelaboração da dialética hegeliana, que resultará numa revolução filosófica: a integração do princípio da dialética no corpo do materialismo e a reconstrução deste como materialismo dialético.9

Dentro da mesma lógica, Thompson em A Miséria da Teoria ou um planetário

de erros, defendia veemente o materialismo histórico-dialético do estruturalismo

Althusseriano, a concepção materialista da história, o autor evidenciava que os

intelectuais partiam de uma análise ogra althusseriana, constituindo–se como a

“lumpen-intelligentsia burguesa”.

Um dos debates que Thompson trouxe em seu livro, era “Tem a História uma

teoria? ” Esse foi um dos escopos iniciais que autor defendeu dentro do seu livro,

contra a produção althusseriana, que atacava o materialismo histórico-dialético na

época, como sendo uma teoria a-histórica, afirmando que “o processo histórico é

incognoscível como objeto real; o conhecimento histórico é produto da teoria; a teoria

inventa a história, seja como ideologia ou como Teoria ("ciência”) ”.10

Além disso, Thompson deixa claro no decorrer de sua obra, que a análise do

conhecimento Histórico, se dá por meio de diversas técnicas, implicando não só na

produção do conhecimento histórico, como na construção do historiador e sua função

social dentro da sociedade, escreve que a História é permeada por um processo

histórico, baseado nas relações sociais dos homens. Sendo que o historiador é criador de

seus métodos e que cada um possui seus modos de análises e de investigação histórica.

E que,

A "História" não oferece um laboratório de verificação experimental, oferece evidências de causas necessárias, mas nunca (em minha opinião) de causas suficientes, pois as "leis" (ou, como prefiro, a lógica ou as pressões) do processo social e económico estão sendo continuamente infringidas pelas contingências, de modos que

9 Ibidem, pg.13.10 THOMPSON, E.P. op.cit. pg. 31.

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invalidariam qualquer regra nas ciências experimentais, e assim por diante.11

Sendo assim, o materialismo histórico-dialético não se diferencia ou se afasta

das evidências históricas, e que a prática histórica está empenhada em um debate entre

conceitos e hipóteses. Na medida em que uma tese (o conceito, ou hipótese) posta em

relação com suas antíteses (determinação objetiva não-teórica) e disso resulta uma

síntese (conhecimento histórico, temos o que pode chamar de dialética do conhecimento

histórico”.12 Por conseguinte, Thompson defende que,

O materialismo histórico não difere de outras ordenações interpretativas das evidências históricas (ou não difere necessariamente) por quaisquer premissas epistemológicas, mas por suas categorias, suas hipóteses características e procedimentos consequentes e no reconhecido parentesco conceptual entre estas e os conceitos desenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinas. Não considero a historiografia marxista como dependente de um corpo geral de marxismo-como-teoria, localizado em alguma outra parte (talvez na filosofia?). Pelo contrário, se há um terreno comum para todas as práticas marxistas, então ele deve estar onde o próprio Marx o situou, no materialismo histórico. Este o terreno do qual surge toda a teoria marxista, e ao qual ela deve, no fim, retornar.13

Sendo assim, a história é carregada de preposições e conceitos históricos, e que o

materialismo histórico é uma teoria que permite estas análises investigativas, que

historiador dentro da lógica histórica, “é um método lógico de investigação adequado a

materiais históricos destinado a testar hipóteses quanto a estrutura, causação, etc. E a

eliminar procedimentos auto confirmadores (instâncias, ilustrações”.14

A História e suas Narrativas- O Papel da História e suas fontes

A História não é constituída por uma verdade absoluta, a disciplina está

empenhada dentro dos diferentes pontos de vistas e se desenvolve na tensão entre o

conflito do objeto de estudo e o pesquisador, produzindo diferentes perspectivas

históricas. Sendo assim, “Carlos Ginzburg” é um historiador que trabalha com a micro

história italiana, dentro da história, o autor nos trouxe contribuições referentes as

narrativas da história, elaboradas como gênero literário e assegurada por uma

metodologia que o autor expõe em diversas obras dele no decorrer de sua vida.

11 Ibidem, pg. 48.12 Idem, pg.54.13 Idem, pg.54.14 Idem, pg. 49.

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Desta forma, nos livros, “Olhos de Madeira e Os fios e os rastros”, Ginzburg,

afirma que a História significa uma “experiência vivida do passado, não um

conhecimento distante deste, e com o surgimento da historiografia, um gênero literário,

que tem, entre outras, a finalidades de registrar e conservar as notícias sobre os

acontecimentos digno da memória”.15

Desde o início a História possui fonte, objeto e segue procedimentos históricos,

produzindo várias metodologias, técnicas, construindo um modelo sobre o que fazer

História, exemplo:

“Tucídides que já se mostrava como o protótipo do historiador como cientista pesquisador em sua narração sobre a Guerra do Peloponeso demonstrando suas perspectivas com relação a guerra e seu envolvimento subjetivo numa narração aparentemente distanciada”. 16

No entanto, o autor não deixa de mencionar que a visão pós-moderna se apropria

dessas perspectivas para falar que a História possui duas verdades, tanta o “falso ou

verdadeiro” afirmando que ambos são verdadeiros. Mas que as relações entre as

narrações históricas e as narrações ficcionais, ora se aproxima, ora se distancia, é uma

diferença que se constitui. Ginzburg utiliza-se da literatura para mostrar as narrativas

históricas, a relação do historiador entre o distanciamento e perspectiva do objeto de

pesquisa.

O historiador italiano nos conduz a História e a escrita permeando pela distância

entre o princípio de realidade e falsidade baseando-se nas diferentes narrativas literárias.

Desta forma, Ginzburg, nos mostra como o historiador pode apreender os fios dos

relatos na relação com os rastros do passado, o autor demonstra que a História se

constitui no contar e narrar, carregando-se dos rastros do passado, para escrever

histórias.

Sendo assim, dentro da interpretação do autor, além das experiências vividas, o

homem tece os seus rastros, é por meio desses rastros que o historiador poderá produzir

História, que por meio desses fios que os historiadores procurariam a construir seu

objeto de pesquisa e expor seus resultados sob a forma de uma narrativa.

15 GINZBURG, Carlos. “Olhos de Madeira, Nove Reflexões sobre a distância”. Editora Companhia das Letras. 2001. Pg. 179.16 Idem, pg. 180.

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Do mesmo modo, o historiador Roger Chartier, nos trouxe questionamentos

sobre a disciplina da História, suas questões são referentes as crises ou incertezas acerca

da história, no seu livro à “Beira da Falésia a História entre certezas e inquietudes”, o

autor expõe as tentativas intelectuais que colocam no centro de seu método as relações

que mantém os discursos e as práticas sociais Aos otimistas e conquistadores da “Nova

História” sucedeu com efeito em um tempo de dúvidas e de interrogações.

Entretanto, a crise de inteligibilidade histórica, foi mais sentida, sobreveio em

uma conjuntura de forte crescimento do número de historiadores profissionais e de suas

publicações. O tempo dos questionamentos foi o tempo da dispersão, todas as grandes

tradições historiográficas perderam sua unidade, todas se fragmentaram em propostas

diversas, contraditórias, que multiplicaram os objetos, os métodos e as histórias.

Diante do reflexo, os grandes modelos explicativos, obteve uma volta ao

arquivo, ao documento bruto que registra o surgimento das palavras singulares. A

História é habitada por uma reivindicação, proclamada da subjetividade do historiador,

da afirmação dos direitos, do Eu no discurso histórico e das tentações da “Ego-

História”. E que a História é compreendida,

Como uma ciência social lembra os indivíduos estão sempre ligados por dependências recíprocas, percebidas ou invisíveis, que modelam e estruturam sua personalidade e que definem, em suas modalidades sucessivas, as formas da afetividade e da racionalidade.17

O historiador é estabelecido pelas escolhas que faz e pelas relações que

estabelece com a História, atribuindo um sentido inédito às palavras que arrancada do

silêncio dos arquivos. O retorno ao arquivo levanta um debate, o das relações entre

categorias manipuladoras pelos atores e as noções empregadas no trabalho da análise.

Os historiadores tomam consciência de que as categorias que manejam tinham elas

próprias uma história, e que a História social era necessariamente a História das razões e

dos usos destas.

Todos estes historiadores nos contemplam dentro de uma perspectiva

historiográfica, são intelectuais que faz luz as nossas reflexões e questionamentos dentro

da História, pesquisa e a academia. Sendo assim, logo após toda a nossa exposição de

interpretações acerca das perspectivas teóricas e metodológicas aqui no texto, coloco

minha pesquisa para discussão e o método de investigação a ser utilizado.

17 CHARTIER, Roger. “Beira da Falésia. A História entre certezas e Inquietudes. A História entre narrativa e conhecimento”. Editora da Universidade. UFGRS. 2002. Pg.92.

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Pesquisa: Uma experiência metodológica e teórica a ser desenvolvida?

Começo o texto indagando-me, sobre os questionamentos iniciados no artigo,

referente a produção historiográfica, para quê? E para quem é o conhecimento? A

pesquisa que desenvolverei no mestrado, será sobre a revista Veja, sua posição a favor e

a defesa do sistema capitalista entre os anos de 1989 a 2009.

Este trabalho, tem como um dos objetivos, questionar, sobre como os discursos

anticomunistas consegue estar tão presente nos dias de hoje, principalmente na imprensa

burguesa? Como a Queda do Muro de Berlim virou o símbolo do fracasso do

comunismo e, como foi a instauração do capitalismo como um sistema “vitorioso”,

impondo a sociedade que não havia mais alternativas a não ser este sistema econômico.

Sendo assim, a pesquisa constitui-se no primeiro momento, nas análises dos

discursos que Veja publicou em seus editoriais durante estes anos, a revista, assim como

os outros meios de comunicação impresso e virtual, faz parte da produção material do

homem.

Notadamente, a maioria dos meios de comunicação, tem um papel empresarial e

comercial, projetando e instituindo-se como um aparelho privado de hegemonia para o

Estado ou em contraposição aos interesses deles mesmos, fazendo parte de projetos

econômicos, políticos e ideológico legitimando algumas frações de classe.

Porém, toda a perspectiva teórica e metodológica discutida neste artigo, nos

mostra possibilidades e caminhos durante investigação histórica a serem seguidos

dentro da pesquisa. Desta forma, dentro da minha formação política e acadêmica, um

dos métodos e referencial teórico a serem utilizados para análises dos discursos de Veja

será o materialismo histórico-dialético, para que possamos compreender, as bases e

estruturas da sociedade, dentro da sua totalidade. Como afirma Raymond Willians,

A sociedade é um todo complexo de tais práticas, também é verdade que toda sociedade tem uma organização e uma estrutura específicas, e que os princípios dessa organização e uma estrutura podem ser vistos como diretamente relacionadas a certas intenções sociais, pelas quais definimos a sociedade, intenções que, em toda a nossa experiência, têm sido regidas por uma classe particular. 18

Como todo historiador, a preocupação desde o início, é de como será o seu

método investigativo e o referencial teórico utilizado como base de sua pesquisa, mas 18 Base e superestrutura na teoria cultural marxista. In. Cultura e materialismo. São Paulo: UNESP,2011. Pg.50.

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além de todos estes procedimentos históricos, objeto-pesquisa, o historiador deve se

perguntar a quem será dirigido esta pesquisa, qual será sua função social? E qual é o seu

lugar social?

Uma das questões expostas, não só pelo Raymond Willians em seu livro

“Marxismo e Literatura”, Eric Hobsbawm em seu ensaio “O sentido do passado”,

como Alessandro Portelli “Ensaios de História Oral”, são inquietações sobre as

construções de novos projetos políticos, de novas culturas, linguagens, ideologias,

símbolos, a disputa pela memória política, e a legitimidade da hegemonia dominante.

A pesquisa a qual vou desenvolver, sobre a revista Veja que tem como objetivo

um projeto neoliberal, tem como propósito, os questionamentos de como o Estado e o

empresariado instrumentalizam-se por meio dos meios de comunicação de massa para

perpetuar e legitimar-se no poder.

O trabalho tem a finalidade de questionar os aparelhos privados e as estruturas

da classe dominante, com o objetivo de induzir as classes dominadas para utilizar-se

deste espaço como apropriação política e ideológica, conduzindo uma guerra de posição

dentro do Estado Burguês.

Sendo assim, Raymond Willians nos deixa uma contribuição para que possamos

entender a dialética entre as bases e as superestruturas da sociedade, o autor deixa em

evidencia que a “base” deve ter um destaque para a compreensão destas relações de

produções culturais e ideológicas,

Dentro da Teoria Marxista- Considera a proposição de uma base determinante e de uma superestrutura determinada. Para Willians a “base” é a existência social e real do homem. A base são as relações reais de produção que correspondem a uma fase do desenvolvimento das forças produtivas materiais. A base é um modo de produção em um determinado estágio de seu desenvolvimento. E que o autor defende que quando fala de “base” estamos falando de um processo e não de um estado. E não podemos atribuir a esse processo algumas propriedades fixas a serem posteriormente traduzidas aos processos variáveis da superestrutura.19

Sendo assim, estes historiadores, nos deixa um legado dentro da produção

historiográfica, suas inquietações e suas preocupações, que não só perpassam pela

investigação histórica, como a produção material e espiritual do homem, onde eles

escrevem e publicam à medida que cada historiador é regido pelo seu tempo e contexto

histórico, e que cada um carrega o peso do tempo em suas produções historiográficas.

19 Ibidem, pg. 46, 48.

Page 11: Artigo sobre Fonte e Objeto: Teoria e Metodologia

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