Artigo - Sociologia Do Desenvolvimento

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICA DISCIPLINA: Sociologia do Desenvolvimento PROFESSOR: Prof. Dr. Aécio Cândido Autor: Francisco Augusto Cruz de Araújo – Ciências Sociais (8º Período) [email protected] A pobreza e os limites do desenvolvimento Uma das questões mais pontuadas nos debates e nas construções de programas de governos e das políticas públicas dos países da América Latina é a erradicação da pobreza. A luta contra a pobreza se constituiu uma bandeira pela qual uma larga escala de esferas de organizações públicas e privadas - partidos políticos, ONGs, institutos, associações e cooperativas - lutam pela transformação do cenário atual. Os projetos de transformação da sociedade e início de um desenvolvimento solidificado giram basicamente em torno de duas idéias centrais: a transformação de uma sociedade “adotada” pelo Estado para uma sociedade apenas “observada” pelo Estado é o objetivo daqueles que vislumbram uma proposta de desenvolvimento nacional pautada no crescimento e na modernização das relações com o mercado. Já uma segunda vertente, defende a proposta de uma transformação social para o desenvolvimento nacional com base no fortalecimento do poder estatal, dos movimentos sociais e no controle da sociedade sobre os caminhos para o desenvolvimento. Em ambos os casos, a pobreza é uma questão- chave e decisória nas ações e planejamentos dos modelos de desenvolvimentos. Somente nas ultimas décadas a pobreza foi percebida como talvez a maior antítese do desenvolvimento, e para sua

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Artigo que reflete os limites do Desenvolvimento impostos pela questão da pobreza.SET - 2009

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTEFACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICA

DISCIPLINA: Sociologia do DesenvolvimentoPROFESSOR: Prof. Dr. Aécio CândidoAutor: Francisco Augusto Cruz de Araújo – Ciências Sociais (8º Período)[email protected]

A pobreza e os limites do desenvolvimento

Uma das questões mais pontuadas nos debates e nas construções de programas de

governos e das políticas públicas dos países da América Latina é a erradicação da pobreza. A

luta contra a pobreza se constituiu uma bandeira pela qual uma larga escala de esferas de

organizações públicas e privadas - partidos políticos, ONGs, institutos, associações e

cooperativas - lutam pela transformação do cenário atual.

Os projetos de transformação da sociedade e início de um desenvolvimento

solidificado giram basicamente em torno de duas idéias centrais: a transformação de uma

sociedade “adotada” pelo Estado para uma sociedade apenas “observada” pelo Estado é o

objetivo daqueles que vislumbram uma proposta de desenvolvimento nacional pautada no

crescimento e na modernização das relações com o mercado. Já uma segunda vertente,

defende a proposta de uma transformação social para o desenvolvimento nacional com base

no fortalecimento do poder estatal, dos movimentos sociais e no controle da sociedade sobre

os caminhos para o desenvolvimento. Em ambos os casos, a pobreza é uma questão-chave e

decisória nas ações e planejamentos dos modelos de desenvolvimentos.

Somente nas ultimas décadas a pobreza foi percebida como talvez a maior antítese do

desenvolvimento, e para sua contenção, não foram poucas as iniciativas criadas. A pobreza

além de ser um dos maiores contrapontos do desenvolvimento econômico e social, revelou-se

uma brutal e violenta negação dos direitos humanos, pois limita o alcance das liberdades dos

indivíduos, privando também suas comunidades do acesso aos bens necessários para viver

dignamente. A pobreza foi tratada com cuidado não apenas pelo campo político, como

também pela economia, pela geografia e pela sociologia.

Falar de pobreza implica não apenas considerar a fome e a desnutrição, mas também a

falta de segurança, de água potável, de higiene, de doenças simples e até complexas causadas

pela falta de acesso aos programas de saúde básica e medicamentos, moradias precárias, à

falta de emprego, à escravidão e também à falta de rendimentos econômicos que incluam as

pessoas nos mercados. Além destas dimensões materiais, existem as dimensões imateriais,

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como o analfabetismo, a exposição à violência, a alienação política e outras formas que

impedem a sociedade de perceber os potenciais econômicos ao seu redor.

Alguns países desenvolvidos tiveram algumas vantagens com relação aos países em

desenvolvimento da atualidade. A maior dificuldade dos países do terceiro mundo se refere à

enorme dependência econômica causada pela dívida externa, à balança comercial

desfavorável e à escassez de capital privado acumulado (poupanças) e de recursos humanos

capacitados às exigências do mundo moderno. Também se incluem neste grupo a produção

científica que ainda é muito pouco valorizada.

Como falar em desenvolvimento sem considerar tais questões? Qual a possibilidade de

desenvolvimento sem que as dimensões para desenvolver-se estejam favoráveis?

Tanto a vertente neoliberal que pensa o desenvolvimento como inerente ao poder

estatal, quanto ao pensamento “socialista” que espera no Estado a solução para as questões

do desenvolvimento, consensual a idéia da urgente erradicação da pobreza para que o

desenvolvimento social seja pleno, pois numa sociedade onde apenas um pequeno grupo de

indivíduos melhora suas condições de vida, mas não conseguem melhorar as condições do

restante da população, aí não aconteceu o desenvolvimento, apenas o crescimento

econômico.

Os grupos encontrados nos bolsões de pobreza têm se transformado ao longo dos

anos nos maiores alvos dos interesses de grupos políticos e organizações que utilizam a

pobreza e a miséria como estratégia de dominação e manutenção da ordem estabelecida. A

pobreza revelou-se uma questão delicada e de imprescindível importância à sociedade.

A partir destas idéias, os altos índices de pobreza encontrados nos países em

desenvolvimento que são de modo geral considerados questões puramente sociais, têm na

verdade, evidentes implicações econômicas e políticas. Além de servir de palco para a

teatralização da política, a pobreza tem raízes profundas e pode ter efeitos mais devastadores

do que habitualmente se imagina. Seu potencial em retardar e comprometer o crescimento

econômico, como também limitar a capacidade produtiva dos recursos humanos, inibe

diretamente a expansão do mercado. A pobreza é, portanto, para os países em

desenvolvimento, a questão central a ser enfrentada na formulação e execução das diversas

estratégias nacionais de desenvolvimento social. Não se pode pensar em desenvolvimento

sem antes de tudo, pensar na pobreza.

Mossoró-RN, 21 de Setembro de 2009

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