Artigo_avaliação de Alternativas Tecnológicas Para Redução Do Consumo de Água

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IV SEREA - Seminário Hispano-Brasileiro sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 8 a 10 de novembro de 2004 AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS PARA REDUÇÃO DO CONSUMO DE ÁGUA Tatiana Máximo Almeida Albuquerque 1 , Márcia Maria Rios Ribeiro 2 , Maria Josicleide Felipe Guedes 3 , Mirella Leôncio Motta 3 e Fernando Silva Albuquerque 4 Resumo - Este trabalho apresenta uma avaliação da aceitabilidade de alternativas tecnológicas de gerenciamento da demanda urbana de água em um bairro da cidade de Campina Grande, na Paraíba. Avaliou-se a opinião da sociedade, através de entrevistas domiciliares, sobre a aceitabilidade quanto à implementação de alternativas tecnológicas (aparelhos hidro-sanitários poupadores, captação de água de chuva e reúso de água) para a redução do consumo de água. Os resultados mostram que a alternativa de maior aceitabilidade geral e econômica foi a bacia sanitária VDR sendo a de maior aceitabilidade ambiental, o reúso de água. Abstract - This paper presents an acceptability evaluation of technological alternatives for urban water demand management in one of the neighborhoods of Campina Grande City, Paraiba, Brazil. This evaluation was carried out through the society opinion which was acquired by residential interviews. Three alternatives (thrift water health appliances, rainwater catchment system and wastewater reuse) were evaluated. The outcomes show low flush toilet device as the most global and economic acceptable alternative and wastewater reuse as the most environmental acceptable one. Palavras-chave: gestão de recursos hídricos, gerenciamento da demanda de água, semi-árido. 1 Doutoranda do curso de Pós Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, [email protected]. 2 Professora do Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Campina Grande, Caixa Postal 505, 58.100-970 Campina Grande - PB, [email protected]. 3 Alunas do curso de Graduação de Engenharia Civil, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande - PB, [email protected], [email protected]. 4 Doutorando do curso de Pós Graduação de Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, [email protected]. 1

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    AVALIAO DE ALTERNATIVAS TECNOLGICAS PARA REDUO

    DO CONSUMO DE GUA

    Tatiana Mximo Almeida Albuquerque1, Mrcia Maria Rios Ribeiro2, Maria Josicleide Felipe

    Guedes3, Mirella Lencio Motta3 e Fernando Silva Albuquerque4

    Resumo - Este trabalho apresenta uma avaliao da aceitabilidade de alternativas tecnolgicas de

    gerenciamento da demanda urbana de gua em um bairro da cidade de Campina Grande, na Paraba.

    Avaliou-se a opinio da sociedade, atravs de entrevistas domiciliares, sobre a aceitabilidade quanto

    implementao de alternativas tecnolgicas (aparelhos hidro-sanitrios poupadores, captao de

    gua de chuva e reso de gua) para a reduo do consumo de gua. Os resultados mostram que a

    alternativa de maior aceitabilidade geral e econmica foi a bacia sanitria VDR sendo a de maior

    aceitabilidade ambiental, o reso de gua.

    Abstract - This paper presents an acceptability evaluation of technological alternatives for urban

    water demand management in one of the neighborhoods of Campina Grande City, Paraiba, Brazil.

    This evaluation was carried out through the society opinion which was acquired by residential

    interviews. Three alternatives (thrift water health appliances, rainwater catchment system and

    wastewater reuse) were evaluated. The outcomes show low flush toilet device as the most global

    and economic acceptable alternative and wastewater reuse as the most environmental acceptable

    one.

    Palavras-chave: gesto de recursos hdricos, gerenciamento da demanda de gua, semi-rido.

    1 Doutoranda do curso de Ps Graduao em Engenharia de Recursos Hdricos e Saneamento Ambiental, Instituto de Pesquisas Hidrulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, [email protected]. 2 Professora do Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Campina Grande, Caixa Postal 505, 58.100-970 Campina Grande - PB, [email protected]. 3 Alunas do curso de Graduao de Engenharia Civil, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande - PB, [email protected], [email protected]. 4 Doutorando do curso de Ps Graduao de Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, [email protected].

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    INTRODUO

    O deficitrio manejo dos recursos hdricos, relacionado, entre outros, a altos nveis de

    poluio hdrica e de perdas no sistema de abastecimento, a um alto desperdcio de gua pelo

    usurio final, gera grandes presses nos sistemas de abastecimento de gua dos centros urbanos.

    Para efetivar o atendimento s demandas crescentes, medidas emergenciais incluindo a expanso da

    oferta de gua (construo de reservatrios, perfurao de poos, transposio de vazes) tm sido

    adotadas.

    A expanso da oferta, entretanto, no tem se mostrado eficaz no atendimento s premissas do

    desenvolvimento sustentvel por impor altos custos econmicos, sociais e ambientais. Em

    reformulao tradicional tica da expanso da oferta de gua surgiu, no mbito da gesto de

    recursos hdricos, o conceito da gesto da demanda que entendida como toda e qualquer medida

    voltada a reduzir o consumo de gua final dos usurios, sem prejuzo dos atributos de higiene e

    conforto dos sistemas originais. Essa reduo pode ser obtida atravs de mudanas de hbitos no

    uso da gua ou mediante a adoo de aparelhos ou equipamentos poupadores (PNCDA, 2000).

    Considerando o enfoque do gerenciamento da demanda e as crises vivenciadas pelo sistema

    de abastecimento de gua da cidade de Campina Grande, na Paraba, avaliam-se trs medidas

    tecnolgicas de gerenciamento da demanda (adoo de aparelhos hidro-sanitrios poupadores,

    captao de gua de chuva e reso de gua). Esta avaliao foi realizada com base nas entrevistas

    efetivadas em um dos bairros da cidade.

    CASO DE ESTUDO

    A cidade de Campina Grande possui uma populao de 355.331 habitantes (IBGE, 2001) e

    abastecida pelo Aude Epitcio Pessoa, conhecido por Aude Boqueiro, com volume mximo

    atual calculado em torno de 450.000.000 m3. Este aude abastece alm desta cidade, cerca de 15

    municpios.

    Devido aos severos perodos de estiagem, no perodo 1997-1999, o Aude Boqueiro

    apresentou os mais baixos nveis de armazenamento da sua histria (cerca de 15% de sua

    capacidade em novembro de 1999). Os piores ndices de qualidade das guas tambm foram

    observados neste perodo (Galvo et al., 2002). Segundo Rgo et al. (2001) a causa primordial da

    crise encontrada na completa ausncia de gerenciamento da bacia hidrogrfica e, mais

    especificamente, no manejo do Aude Boqueiro, feito sem qualquer apoio em informaes e/ou

    critrios tcnicos seguros e/ou atualizados.

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    Na tentativa de evitar um colapso no abastecimento de gua da cidade, a CAGEPA -

    Companhia de gua e Esgotos da Paraba, concessionria responsvel pelo sistema de

    abastecimento de gua do Estado, implantou severos racionamentos de gua chegando algumas

    zonas da cidade a serem abastecidas por apenas quatro dias na semana. Estes racionamentos

    penalizaram a populao de baixa renda que no tinha condies financeiras de viabilizar as

    reservas de gua. Alm do racionamento de gua como forma de contornar a crise, o Governo do

    Estado iniciou a construo de uma nova barragem (Acau), situada na mesma Bacia

    demonstrando com esta atitude a opo pela expanso da oferta. Ficou enfatizado na poca,

    portanto, a deficincia de aes voltadas ao uso racional de gua seja por parte do poder pblico, da

    sociedade civil ou dos prprios usurios da gua.

    A crise no sistema Epitcio Pessoa e no abastecimento de gua de Campina Grande motivou

    uma ampla discusso na sociedade sobre as causas e possveis solues para o problema (Rgo et

    al., 2001, Rgo et al., 2000). Diversos estudos tm sido realizados enfocando o gerenciamento da

    demanda como uma potencial ferramenta para minimizar os problemas de abastecimento de

    Campina Grande. Em um destes estudos (Braga e Ribeiro, 2004) objetivou-se identificar o nvel

    macro da aceitabilidade das alternativas de gerenciamento da demanda por parte dos tomadores de

    deciso (poder pblico, sociedade civil organizada e usurios de gua,) em torno de uma srie de

    alternativas de gerenciamento da demanda (alternativas estas categorizadas em tecnolgicas,

    econmicas, institucionais/regulatrias e educacionais). Posteriormente, foi avaliado, tambm, o

    nvel de conflito existente entre os tomadores de deciso na seleo daquelas alternativas (Vieira e

    Ribeiro, 2002). A avaliao da aceitabilidade das alternativas tecnolgicas em nvel micro (escala

    de um bairro da cidade) o foco deste artigo.

    O Bairro Selecionado

    Considerando o tamanho e homogeneidade da amostra (mesma faixa de padro aquisitivo e

    mesmo nvel cultural) foi selecionado o Bairro Universitrio, tambm conhecido como Conjunto

    dos Professores (Figura 1), apresentando uma rea total de 2,38 Km e uma populao residente de

    3.718 habitantes. A maioria dos moradores deste bairro so professores, funcionrios e alunos da

    Universidade Federal de Campina Grande (PMCG, 2003). A rea estudada corresponde ao setor 37

    (Figura 1) da rea de cadastro comercial da CAGEPA referente a leituras dos hidrmetros e faturas,

    contendo um total de 336 residncias.

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    sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de gua sil), 8 a 10 de novembro de 2004

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    UFCG

    Figura 1 - Bairros de Campina Grande com seta indicando o Bairro Universitrio (PMCG, 2003) e

    Setor 37 com destaque para a Universidade Federal de Campina Grande (CAGEPA, 2003)

    ALTERNATIVAS ESTUDADAS

    Aparelhos Poupadores

    A ao tecnolgica de introduo de componentes economizadores de gua implica na troca

    dos aparelhos hidro-sanitrios convencionais por tecnologias que funcionam com vazo reduzida,

    em que na sua grande maioria, a reduo de consumo alcanada independentemente da ao do

    usurio. Nesta pesquisa foram enfocados os seguintes aparelhos poupadores:

    Bacia sanitria VDR: corresponde ao conjunto bacia sanitria com caixa acoplada de volume reduzido de gua por descarga, cujos valores so em torno de 9 a 6 litros nos Estados Unidos e

    entre 9 e 3 litros na Europa (Gonalves et al., 1999). No Brasil, o Governo Federal incluiu no

    Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade PBQP-H, a exigncia de que a partir de

    2002 todas as bacias sanitrias produzidas no pas apresentem um volume nominal de 6

    litros/descarga (Coelho, 2001).

    Chuveiros: entre os chuveiros de vazo reduzida esto aqueles de acionamento hidromecnico, os tipo ducha, os hidromecnicos com controle de vazo para ajuste de temperatura e os de

    acionamento de pedal (Coelho, 2001).

    Torneiras de baixo consumo e dispositivos de reduo de vazo: neste grupo esto as torneiras acionadas por sensor infravermelho e as torneiras com tempo de fluxo determinado; entre os

    dispositivos tem-se os arejadores, os automatizadores, os prolongadores e os pulverizadores.

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    Captao de gua de Chuva

    A gua de chuva uma tima alternativa para combater os efeitos da estiagem, por ter um

    nvel tecnolgico apropriado de pequena escala, custos acessveis, capacidade de produzir

    resultados imediatos e o fato de ser baseado em tcnicas populares de armazenamento de guas.

    Experincias de sucesso no uso da captao de gua de chuva, tanto para o meio urbano como

    rural, so relatadas na literatura. H a experincia, por exemplo, da provncia de Gansu (norte da

    China) na qual o governo colocou em prtica o projeto da captao de gua de chuva denominado

    121: construo de (1) rea de captao de gua, (2) tanques de armazenamento de gua e (1) lote

    para plantao de culturas comercializveis. O projeto solucionou o problema de gua potvel para

    1,3 milho de pessoas (260.000 famlias) (Gnadlinger, 2001). Em 1999, na cidade de Berlim,

    Alemanha, fez-se a captao de gua de chuva em telhados e nas ruas de um bairro com 213

    moradores para uso, sobretudo, em descargas de bacias sanitrias e em regas de jardim (Schimidt,

    2001).

    Reso de gua

    O reso de gua corresponde ao aproveitamento de guas previamente utilizadas uma ou mais

    vezes, em alguma atividade humana, para suprir as necessidades de outros usos, inclusive o original

    (Lavrador Filho, 1985). De acordo com o objetivo especfico do reso e com a qualidade da gua

    utilizada so estabelecidos: os nveis de tratamento recomendados, os critrios de segurana a serem

    adotados, os custos de capital, operao e manuteno associados (Hespanhol, 2002). Segundo as

    caractersticas, condies e fatores locais, tais como decises polticas, esquemas institucionais,

    disponibilidade tcnica e fatores econmicos, sociais e culturais, so selecionadas as possibilidades

    e formas de reso.

    ENTREVISTAS E CRITRIOS DE AVALIAO

    As informaes em torno da aceitabilidade ou no das alternativas tecnolgicas de

    gerenciamento da demanda foram adquiridas atravs de um questionrio (Figura 2). Devido ao

    bairro selecionado ser constitudo de 336 residncias, foi realizado um plano de amostragem onde

    uma amostra representativa foi obtida, realizando-se posteriormente as entrevistas.

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    O plano de amostragem foi baseado na NBR 5426 (Janeiro de 1985) da Associao Brasileira

    de Normas Tcnicas (ABNT), nos planos de amostragem e procedimentos na inspeo por atributos

    e na NBR 5427 (Janeiro de 1985). Foram selecionadas aleatoriamente 32 residncias.

    Primeiramente foram aplicados questionrios pilotos para se avaliar as facilidades e

    dificuldades na entrevista a fim de se chegar verso final do questionrio (Figura 2).

    Questionrio

    1. O senhor (a) tem conhecimento dos problemas de abastecimento de gua na cidade de

    Campina Grande?

    2. O senhor (a) tem alguma sugesto para que estes problemas possam ser resolvidos (ou

    minimizados)?

    3. O senhor (a) acha que h muita perda de gua pelos vazamentos na rede de abastecimento?

    Em sua rua particularmente? E a companhia atende ao seu pedido rapidamente?

    4. O que o senhor (a) faz na sua casa quando h racionamento de gua no sistema de

    abastecimento dgua? (Como o seu edifcio enfrenta o problema?)

    5. O senhor (a) acha que h muita perda de gua por desperdcio nas residncias/apartamentos?

    Em que particularmente o senhor (a) gasta mais gua?

    6. O que o senhor (a) acha sobre a sua conta de gua? Ela cara? Ela barata?

    7. O senhor (a) acha que um aumento na tarifa de gua faria o usurio economiz-la?

    8. O senhor (a) acha justo que no seu edifcio a sua conta de gua esteja includa no valor do

    seu condomnio (isto , a conta total de gua dividida pelo nmero de apartamentos)?

    9. O senhor (a) tem conhecimento sobre estas medidas para enfrentar os problemas em sua

    residncia/apartamento?

    Bacia sanitria de descarga reduzida (VDR) Torneiras/chuveiros econmicos Uso de gua de chuva Reso de gua

    10. O senhor (a) adotaria algumas das medidas citadas em sua residncia independente dos

    custos de implementao e manuteno? E considerando os custos para implement-las?

    Quais das alternativas citadas o senhor (a) acha que proporciona uma maior reduo de

    consumo de gua?

    Figura 2 - Questionrio Padro

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    Critrios de avaliao

    A anlise das entrevistas consistiu na avaliao do conhecimento e aceitabilidade dos

    entrevistados em relao s alternativas estudadas. Trs critrios de avaliao foram analisados:

    i) o critrio aceitabilidade geral, referindo-se ao grau de aceitabilidade da implementao das

    alternativas tecnolgicas pela populao (independente dos relativos custos de implementao e

    manuteno).

    ii) o critrio aceitabilidade econmica, correspondendo ao grau de aceitabilidade das

    alternativas pela populao sob a perspectiva de custos.

    iii) o critrio aceitabilidade ambiental, referindo-se ao grau de aceitabilidade da

    implementao das alternativas pela populao sob a tica ambiental, ou seja, escolha da alternativa

    de acordo com o benefcio ambiental que esta possa vir a oferecer (reduo de consumo de gua).

    RESULTADOS DAS ENTREVISTAS

    Os resultados das entrevistas esto apresentados e discutidos nesta seo. A Tabela 1 os

    apresenta de forma condensada.

    Conhecimento sobre os problemas de abastecimento de gua

    Primeiramente foi questionado aos entrevistados se os mesmos tinham conhecimento dos

    problemas de abastecimento da cidade de Campina Grande. De acordo com as respostas obtidas

    (Tabela 1) pde-se observar que 100 % da populao entrevistada nas residncias est informada

    sobre o problema de abastecimento da cidade, principalmente por ter vivenciado o racionamento de

    gua no perodo 1998-2000.

    Sugestes para minimizar ou resolver os problemas de abastecimento

    Solicitou-se aos entrevistados algumas sugestes para a soluo ou minimizao destes

    problemas de abastecimento. Das sugestes para solues dos problemas, 15,6 % dos entrevistados

    nas residncias (Tabela 1) acreditam que a conscientizao e a educao ambiental um caminho

    para se resolver o problema de abastecimento. Segundo os entrevistados, a populao quando

    melhor informada e consciente do problema utiliza a gua de forma racional. Outros 15,6 % dos

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    entrevistados sugeriram uma medida mais radical que seria implantar novamente um racionamento

    de gua. Alguns entrevistados at enfatizaram, inclusive, em sugerir um racionamento severo

    devido ao nvel de conscincia limitado das pessoas.

    Tabela 1 - Resultados das entrevistas de acordo com o questionrio padro Residncias Questes

    Maior percentagem dos resultados Menor percentagem dos resultados 1 Conhecimento da populao em

    relao aos problemas de

    abastecimento de gua

    Sim (100,0 %) No (0,0 %)

    2 Sugestes para minimizar ou

    resolver os problemas de

    abastecimento

    Conscientizao, racionamento de gua e transposio de gua.

    (15,6 %)

    Reso de gua e eficcia na distribuio de gua

    (6,3 %)

    3 Eficincia da CAGEPA Ineficiente (54,2 %) No sabe (8,3 %) 4 Medidas adotadas em poca de

    racionamento Armazena gua na caixa (65,6 %) Conscientiza os moradores (6,3 %)

    5 Atividades onde h mais desperdcio segundo os entrevistados

    Economiza gua normalmente (46,9 %)

    Escovando os dentes e perdas por vazamento de gua (3,1 %)

    6 Opinio a respeito da tarifa de gua Tarifa cara (43,8 %) Tarifa barata (34,4 %)

    7 Justificativa do aumento na tarifa de gua no induzir o usurio a

    economizar

    O desperdcio j um hbito (15,6 %)

    Aumentaria as ligaes clandestinas (3,1 %)

    8 Justificativa de ser injusto a conta de gua nos edifcios estar inclusa no

    valor do condomnio

    Quem economiza paga pelos que desperdiam (40,7 %)

    Voc paga mesmo que no use (3,7 %)

    9 Conhecimento dos entrevistados em relao s alternativas tecnolgicas

    estudadas Captao de gua de chuva (100,0 %) Bacia sanitria VDR (46,9 %)

    10.1 Aceitabilidade geral Bacia sanitria VDR (81,3 %) Reso de gua (43,8 %) 10.2 Aceitabilidade econmica Bacia sanitria VDR (53,3 %) Reso de gua (6,7 %)

    10.3 Aceitabilidade ambiental Reso de gua (53,1 %) Torneiras/Chuveiros econmicos e captao de gua de chuva (40,6 %)

    Os vazamentos

    Cerca de 90,0 % dos entrevistados acha que h muitos vazamentos nas redes de distribuio.

    De acordo com 59,3 % dos entrevistados h muita incidncia de vazamentos nas ruas do bairro.

    54,0 % dos entrevistados considera que o servio da CAGEPA no eficiente. Considera-se que h

    muita perda de gua devido ao tempo que se leva para o conserto dos vazamentos.

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    Percentagem de pessoas que consideram o servio da CAGEPA eficiente no conserto de vazamentos das ruas do

    bairro Conjunto dos Professores

    37,5%8,3%

    54,2%EFICIENTEINEFICIENTENO SABE

    Figura 3 - Opinio dos entrevistados das residncias em relao eficincia da CAGEPA no

    conserto de vazamentos da rede do bairro Conjunto dos Professores

    Medida tecnolgica mais adotada durante o racionamento

    Na poca de racionamento, como era de se esperar devido ao padro social do bairro, cerca de

    65,6 % dos entrevistados nas residncias armazenava gua em caixas dgua.

    Desperdcio nas residncias

    Todos os entrevistados concordaram que h muita perda de gua por desperdcio nas

    residncias. 46,9 % dos entrevistados informou que no desperdiava gua. Foi bastante enfatizado

    que as empregadas domsticas (15,6 %) e os filhos (6,3 %) so os que mais gastam gua. Diante

    deste quadro foi questionado aos entrevistados se eles lavavam carro em casa, se utilizavam

    mangueira para regar o jardim, quanto tempo gastavam no banho. De acordo com as respostas

    obtidas concluiu-se que grande parte das pessoas desperdia gua, entretanto no admite tal fato.

    A tarifa de gua

    Foi posto em questo aos entrevistados o valor da tarifa de gua (R$ 12,88 para um consumo

    entre 0 a 10 m; R$ 1,65/m entre 11 a 20 m; R$ 2,19/m entre 21 a 30 m e R$ 2,98/m acima de

    30 m), se esta cara ou barata. Cerca de 43,8 % dos entrevistados achou a tarifa cara e 34,4 %

    considerou-a barata (Tabela 1). Muitas pessoas acharam a tarifa cara por considerar a conta de gua

    alta. Uma anlise da questo permite concluir que a conta de gua cara em funo do alto

    consumo e no do valor da tarifa.

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    Perguntou-se aos entrevistados se um aumento na tarifa de gua faria o usurio economiz-la.

    Das respostas obtidas nas residncias, 62,5 % foram negativas. Segundo os entrevistados, um

    aumento na tarifa no faria o usurio economizar por ser o desperdcio um hbito. Alguns dos

    entrevistados comentaram que, mesmo sem condies de pagar a conta de gua as pessoas

    continuariam gastando-a e, conseqentemente, ter-se-a grande inadimplncia. Os outros 37,5 %

    que afirmaram que o aumento na tarifa induziria a reduo de desperdcio, sugeriram que este

    aumento viesse acompanhado de um bnus para os que atingissem a meta estabelecida pela

    concessionria.

    A conta de gua dos edifcios

    Foi questionado aos entrevistados se justo que em um edifcio a conta de gua esteja

    includa no valor do condomnio. 84,4 % dos entrevistados no consideraram justo, pois segundo

    grande parte dos entrevistados (37,0 %), cada um deve pagar pelo que consome. Alguns

    entrevistados (40,7 %) acharam que este tipo de cobrana prejudica os que economizam por pagar

    pelos que desperdiam (Tabela 1) e outros (11,1 %) acreditam que pagar a gua na conta do

    condomnio gera mais desperdcio. Algumas pessoas (3,7 %) enfatizaram que possuem um

    apartamento na praia, que utilizam duas vezes por ano e pagam um condomnio caro mensalmente,

    que inclui a gua que no consomem.

    Conhecimento em relao s alternativas tecnolgicas estudadas

    A medida de captao de gua de chuva apresentou-se como a mais conhecida (100,0 % dos

    entrevistados). A bacia sanitria VDR conhecida por 46,9 % dos entrevistados. Salienta-se que

    esta medida foi tornada obrigatria para os fabricantes de loua sanitria do Brasil a partir de 2002.

    O reso de gua e a medio individualizada de gua em apartamentos so medidas bastante

    debatidas na imprensa e em especial na televiso, o que, tambm, justifica o grande conhecimento

    pela maioria dos entrevistados.

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    Aceitabilidade geral, econmica e ambiental

    Quanto aceitabilidade geral das alternativas pelos entrevistados, nas residncias 81,3 %

    consideraram que a bacia sanitria VDR seria a medida que eles adotariam, seguido das torneiras e

    chuveiros econmicos (59,4 %). Estes resultados podem ser justificados por se tratarem de medidas

    em que seu funcionamento no exige uma tecnologia mais avanada e por fazerem parte do dia-a-

    dia das pessoas.

    Sob a tica econmica, as alternativas da bacia sanitria VDR e das torneiras e chuveiros

    econmicos foram as mais bem aceitas pelos entrevistados nas residncias, por apresentarem menor

    custo de implantao e manuteno em relao s demais alternativas.

    De acordo com a tica ambiental, considerando apenas o critrio da reduo de consumo, os

    entrevistados (53,1 %), consideram o reso de gua como a medida que mais reduz o consumo.

    CONCLUSES

    Neste trabalho objetivou-se verificar, atravs de entrevistas, a aceitabilidade da populao de

    um bairro da cidade de Campina Grande quanto implementao de trs alternativas tecnolgicas:

    aparelhos hidro-sanitrios poupadores, captao de gua de chuva e reso de gua. Os resultados

    mostram que, em maior ou menor grau, a populao encontra-se sensvel problemtica do

    abastecimento de gua da cidade, concordando com a implementao das alternativas. Dentre tais

    alternativas, a bacia sanitria VDR a alternativa mais aceitvel sob o critrio geral.

    bastante significativo o resultado de 100 % dos entrevistados terem afirmado ter

    conhecimento dos problemas de abastecimento, o que pode ser atribudo ao fato de tratar-se de um

    bairro com bom nvel de instruo. Apesar disto, verifica-se que o bom nvel de conhecimento dos

    moradores do bairro no garantia para o no desperdcio de gua.

    Entre os resultados obtidos, dois chamam a ateno: 54,2 % dos entrevistados considera a

    companhia de abastecimento ineficiente no controle dos vazamentos na rede pblica e a tarifa de

    gua considerada cara por 43,8% dos entrevistados. Quanto a este aspecto, foi sugerido (por parte

    de alguns entrevistados) que um futuro aumento de gua deveria vir acompanhado de um bnus

    para aqueles que a economizassem.

    Por fim, h necessidade de serem investigados outros aspectos no estudados neste trabalho

    como: alternativas outras alm das tecnolgicas (como as educacionais, econmicas, institucionais);

    demais bairros da cidade de caractersticas heterogneas; a incluso dos edifcios e outros setores

    usurios da gua (como o setor comercial e pblico).

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  • IV SEREA - Seminrio Hispano-Brasileiro sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de gua Joo Pessoa (Brasil), 8 a 10 de novembro de 2004

    AGRADECIMENTOS

    T. M. A. Albuquerque e M. J. F. Guedes agradecem, respectivamente, CAPES e ao

    PIBIC/CNPq, pela concesso de bolsas de estudos durante a realizao deste estudo.

    Os autores agradecem CAGEPA, na pessoa do engenheiro Adalberto Arago de

    Albuquerque, pelas informaes e dados disponibilizados.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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