Artigo/ensaio, Internet e inclusão: otimismos exacerbados e lucidez pedagógica

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FACULDADE MARIO SCHENBERG Curso de Pós graduação em Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores com acesso ao Mestrado Europeu em Ciências da Educação. DISCIPLINA : Comunicação e Tecnologias em Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores Artigo/ensaio Internet e inclusão: otimismos exacerbados e lucidez pedagógica Alan Barbosa Correa Ciriaco O presente artigo/ensaio é fruto de nossas reflexões sobre a formação de formadores inserida nas linhas de pesquisa do mestrado do qual fazemos parte. Trata-se de um estudo sobre as tecnologias baseado na leitura e discussão do livro Educação e Comunicação, o ideal de inclusão pelas tecnologias de informação. Otimismos exacerbados e lucidez pedagógica pesquisa de pós-doutoramento da autora Galli Soares, publicado pela Editora Cortez, São Paulo, 2006. Dessa leitura nosso maior interesse refere-se as questões da formação continuada do professor para atender as demandas por inclusão digital, tema que autora aborda em seus estudos e que nos referenda para a pesquisa de nosso mestrado em curso. Os fatos mostram nitidamente o surgimento e constante crescimento das tecnologias em todas as áreas de nossa sociedade, sobretudo com o desenvolvimento da internet. Este crescimento segue de maneira confusa e intrigante, pois ainda não são claras as reais contribuições para uma transformação social efetiva, que considere todas as camadas sociais. Segundo Galli Soares (2006), essas contribuições podem ser apenas um otimismo exacerbado”, pois passam uma falsa impressão de igualdade social, no que se refere ao acesso à informação de maneira critica. Por outro lado a autora também apresenta alguns benefícios com a utilização dessas tecnologias, como: acesso a localidades distantes, compensação de deficiências físicas ou neurológicas, educação a distancia em massa e outras soluções especificas de áreas como a medicina, engenharia, elétrica, eletrônica e de software.

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FACULDADE MARIO SCHENBERG

Curso de Pós graduação em Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores com acesso ao Mestrado Europeu em Ciências da Educação. DISCIPLINA: Comunicação e Tecnologias em Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores

Artigo/ensaio

Internet e inclusão: otimismos exacerbados e lucidez pedagógica

Alan Barbosa Correa Ciriaco

O presente artigo/ensaio é fruto de nossas reflexões sobre a formação

de formadores inserida nas linhas de pesquisa do mestrado do qual fazemos

parte. Trata-se de um estudo sobre as tecnologias baseado na leitura e

discussão do livro Educação e Comunicação, o ideal de inclusão pelas

tecnologias de informação. Otimismos exacerbados e lucidez pedagógica

pesquisa de pós-doutoramento da autora Galli Soares, publicado pela Editora

Cortez, São Paulo, 2006.

Dessa leitura nosso maior interesse refere-se as questões da formação

continuada do professor para atender as demandas por inclusão digital, tema

que autora aborda em seus estudos e que nos referenda para a pesquisa de

nosso mestrado em curso.

Os fatos mostram nitidamente o surgimento e constante crescimento das

tecnologias em todas as áreas de nossa sociedade, sobretudo com o

desenvolvimento da internet. Este crescimento segue de maneira confusa e

intrigante, pois ainda não são claras as reais contribuições para uma

transformação social efetiva, que considere todas as camadas sociais.

Segundo Galli Soares (2006), essas contribuições podem ser apenas um

“otimismo exacerbado”, pois passam uma falsa impressão de igualdade social,

no que se refere ao acesso à informação de maneira critica. Por outro lado a

autora também apresenta alguns benefícios com a utilização dessas

tecnologias, como: acesso a localidades distantes, compensação de

deficiências físicas ou neurológicas, educação a distancia em massa e outras

soluções especificas de áreas como a medicina, engenharia, elétrica, eletrônica

e de software.

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Ao atingir o setor educacional tais tecnologias passam a exigir políticas

educacionais que as normatizem e orientem por meio políticas do Ministério de

Educação.

Com a eminente necessidade da busca da melhora da qualidade de

ensino, algumas investidas foram iniciadas pelo Ministério da Educação e

Cultura, no que se refere à modernização tecnológica das instituições

educacionais. A principio, essa modernização ocorreu na gestão educacional

com as avaliações institucionais, desenvolvimento dos planos de

desenvolvimento e na gestão estratégica e administrativa. Posteriormente

ocorreram as ampliações dos projetos de Ensino a Distancia desde o ensino

básico até o ensino superior. Essas inovações não se limitavam apenas ao uso

da internet, mas também a utilização de vídeos e textos impressos, isso

tentando minimizar os problemas relacionados à falta de recursos de regiões

especificas.

Vale ressaltar, que estes incentivos não são suficientes para efetivar a

melhora da qualidade de ensino, é necessário que cuidemos da formação do

professor que fará uso destes recursos:

“A confiabilidade do ferramental e do ambiente

tecnológico educacional disponível torna-se matéria

de responsabilidade do docente que orienta e

encaminha os estudantes, como fonte e utilização”

(SOARES, 2001).

Como prova algumas das principais universidades do país, estão adotando

práticas pedagógicas que possibilitam a leitura critica dos desafios didático-

pedagógicos e do caráter inovador estimulado no cotidiano acadêmico a fim de formar

profissionais aptos a contribuir para esse processo.

A formação do professor reflexivo

Muito vem se discutindo sobre qual perfil deve ter o professor na atualidade,

levando em consideração as mudanças da sociedade. Para isso, algumas teorias

foram produzidas e a mais citada é a formação do professor reflexivo, ou seja, um

profissional munido de competências a fim de estar apto a contribuir para uma

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educação que seja capaz de formar indivíduos autônomos. Dentre estas competências

não podemos descartar a necessidade de revisar a prática pedagógica utilizando

tecnologias de informação e comunicação, promovendo uma mudança de paradigma

didático carregado pelos professores e a crença na formação continuada necessária

para realizar a mudança de postura com as novas perspectivas projetadas pelos

recursos e ambientes educacionais (SOARES, 2006). Partindo deste pressuposto, o

professor não deve apenas ter o domínio de sua disciplina, mas também de um acervo

complexo de ambientes informacionais e comunicação hipermidiáticos, flexíveis e

voláteis.

Levando em consideração que os alunos também têm acesso a redes de

comunicação, no caso a internet, é importante que o professor seja um mediador do

processo de busca da informação indicando fontes confiáveis. O professor deve estar

apto no que se refere ao domínio das ferramentas e a organização e sistematização

de sua prática pedagógica. Mas será possível ensinar o que não aprendeu, ou seja, é

possível formar o professor reflexivo sem que o mesmo passe por um processo de

educação reflexiva? Para que essa formação seja eficaz, faz-se necessário levar

alguns aspectos em consideração: a real função da educação na sociedade; a função

do professor nesse processo; as conseqüências da má formação desse profissional e

quais atividades contribuem ou não para a melhora da qualidade de ensino que visa à

autonomia e visão critica de seus alunos.

Portanto, é preciso rever o sistema de formação do professor, para que ele

possa fazer bom uso das tecnologias, e consequentemente, contribuir para a formação

de cidadãos críticos, participativos e transformadores de suas realidades. É preciso

também que a formação continuada do professor contemple entre seus conteúdos o

conhecimento sobre os sistemas de comunicação e sua relação com a educação e as

práticas educativas.

Pensando no processo de melhora da qualidade de ensino, os sistemas de

comunicação podem ser uma ferramenta muito eficaz, pois para SOARES (2006) a

partir deles foi possível tornar a sociedade mais inteligente e veloz nos processos que

eliminam o dispêndio de tempo e a locomoção no ir e vir, entre outras tarefas que

sobrecarregam e atrasam o cotidiano. No que se refere à acessibilidade a informação,

não podemos deixar de dar importância a essa ferramenta, pois o primeiro passo que

deve ser dado para alcançar a inclusão na educação é fazer o conhecimento chegar a

todos.

Mas como citado anteriormente, o fato da informação chegar à sociedade não

garante a qualidade da mesma, pois a velocidade e o fácil acesso também podem

trazer prejuízos no que se refere à falta de criticidade para que a informação seja

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apropriada como conhecimento. Portanto, para que seja proporcionada a democracia

e a inclusão, com a utilização dos sistemas de comunicação – internet – faz-se

necessário uma visão direcionada o letramento digital.

No Brasil, a utilização de ferramentas tecnológicas não apresentou resultados

significativos referentes à formação de professores, e quase sempre estas falhas

estão relacionadas a objetivos mais amplos que incluem a criticidade e autonomia

necessária na Prática pedagógica emancipatória. Acredita-se que, a falta de

programas de formação continuada para o uso de sistemas de comunicação acaba

interferindo na atuação do profissional envolvido neste processo. Além disso, é

necessário que haja um redirecionamento dos temas transversais, a inserção aos

debates no HTPC a problematização desse novo paradigma educacional e o

envolvimento de toda a comunidade escolar. Nesse paradigma se insere os conceitos

de educação ensino e aprendizagem a distancia, elemento que problematiza a

realidade do ensino e a formação do professor, mas questionamos:

Os sistemas de comunicação contribuíram de maneira significativa para a

construção de importantes ferramentas capazes de promover o ensino a distancia. Por

muito tempo as principais ferramentas eram as apostilas e vídeo/aulas, e com a

interatividade proporcionada pela internet, foi possível ampliar os espaços de

discussão de conteúdos e reuniões de estudos. Diferentemente no âmbito da

graduação, as experiências realizadas na pós-graduação apresentam resultados que

confirmam os benefícios da educação a distancia. Para SOARES (2006), esses

recursos deixam ao aluno a flexibilidade da comunicação que se dá em tempo real,

através de vídeos conferências, fóruns, bancos de dados, bibliotecas virtuais para

consultas e aprofundamentos. Com isso o conhecimento pode ser acessado por

diferentes indivíduos com diferentes objetivos e pretensões, contando com a interação

professor/aluno definido Np projeto pedagógico do curso em questão. Pelo fato destes

processos serem amparados e normatizados pelo MEC, algumas universidades como

a UNICAMP – NIED (Núcleo de Informática Aplicada à Educação) – vêm se

empenhando em pesquisas de novos ambientes educacionais, livres do assedio do

comercio internacional representados por empresas multinacionais sediadas no Brasil,

contribuindo assim para a melhora da formação do professor, sobretudo no que diz

respeito a construção da aprendizagem como base para a autonomia social e política

do educando.

Para que se possa promover uma educação capaz de alcançar a formação do

cidadão autônomo, não podemos deixar de refletir sobre as questões relacionadas ao

letramento, letramento digital/currículo e internet.

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O letramento se dá a partir da capacidade que o individuo desenvolve em se

apropriar do conhecimento de maneira critica e reflexiva. Diferentemente do analfabeto

funcional, o letrado consegue utilizar o conhecimento adquirido nas diferentes funções

e áreas da sociedade, e não apenas reproduzir o que leu ou escreveu.

Seguindo o mesmo raciocínio, o letramento digital está relacionado à absorção

do conhecimento tendo como ferramenta a internet e os sistemas de comunicação.

Para que isso ocorra, é necessário que se tenha a criticidade, tanto os

professores/educadores quanto os alunos, no que se refere à seleção de critérios de

escolha das fontes de pesquisa e a utilização deste conhecimento, pois como citamos

anteriormente, o acesso a informação não garante a apropriação com qualidade.

Segundo SOARES (2006), deve-se ter uma leitura que apreenda a subjetividade ou as

tendências ocultas na informação e na forma de transmiti-la e expressa-la para

reconhecer criticamente os bens sociais e realizar sua integração e cidadania,

consequentemente soma os conceitos de alfabetização critica pautado na leitura do

mundo que precede a leitura da palavra e apreensão dos fenômenos que permeiam as

relações sociais.

Além da criticidade citada, a utilização de um Currículo que oriente este

processo é fundamental, pois:

...o currículo produz identidades individuais

e sociais particulares. O currículo não é um

elemento transcendente atemporal – ele tem uma

história, vinculada às formas especificas e

contingentes de organização da sociedade e da

educação. (SILVA e MOREIRA, 2002 apud

SOARES, 2006).

Já a internet, importante ferramenta midiática, se caracteriza como grande

disseminadora de informações disponíveis a quem desejar. É um sistema que possui,

como o sistema educacional, um currículo que se mostra, na vitrine virtual, e se oculta

na comunicação e no produto dela (SOARES, 2006). Muitos podem ser os objetivos

da utilização desse sistema, ora pode ser apenas utilizado para fins comerciais e

disseminação de valores e tendências, ora para uma problematização pedagógica. A

partir disso, cabe aos sistemas educacionais desmistificar seu uso e cultura dominante

e transformá-la em um objeto de análise, apreendendo seus mecanismos para

dominar sua linguagem, comunicação e aplicações.

Para concluir parte dessas reflexões que se estendem para as mais diversas

frentes de interpretações e análises considerandoq eu as tecnologias e a Internet

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adentra a vida das pessoas das isntituições e empreendimentos das mais diversas

formas.

Acredita-se que hoje em dia dificilmente grande parte da população

internacional não se vê sem a internet. Isso devido às grandes facilidade e benefícios

trazido pelos sistemas de comunicação, entre outras ferramentas tecnológicas, que

vão desde a facilitação em ambiente profissional até a contribuição para a ampliação

de redes sociais. È claro que todo progresso traz consigo bônus e ônus, pois quase

sempre, pela facilidade do acesso a informação é fundamental que se tenha o mínimo

de criticidade na apropriação das mesmas.

A partir desse fenômeno, cabe a nós educadores, refletir sobre a real função da

escola e qual contribuição podemos oferecer a sociedade no que se refere à formação

para utilização destas tecnologias. Como toda instituição educacional, ao discutirmos

sobre a educação para a autonomia, faz-se necessário sistematizarmos toda e

qualquer ação pedagógica, no que se refere à seleção de objetivos, conteúdos,

estratégias e avaliação, para que possamos dessa maneira, no melhor sentido da

palavra, ter controle sobre o processo de ensino e aprendizagem que se preocupa não

apenas com as competências técnicas dos mecanismos tecnológicos, mas também

com o letramento digital.

Esse estudo não tem a pretensão de se esgotar, mas de desencadear o debate

sobre as necessidades de mudanças na formação profissional, sobretudo na área da

educação e no caso de nosso objeto de pesquisa a educação física, que hoje se

mostra carente de uma formação capaz de promover a reflexão dos novos

profissionais, a ponto de darmos continuidade ao processo de formação integral do

individuo.

Referências Bibliográficas

SOARES, S. G. Educação e Comunicação: o ideal de inclusão pelas tecnologias

de informação. São Paulo: Cortez, 2006.