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30 Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49 Kátia Torres Ribeiro - Jaqueline Serafim do Nascimento - João Augusto Madeira - Leonardo Cotta Ribeiro INTRODUÇÃO A classificação do mundo natural é uma tare- fa essencial e básica para a construção do co- nhecimento, seja ele científico ou não. A defi- nição de categorias e a distribuição dos ele- mentos nas categorias criadas é uma atividade complexa e com forte componente de subjeti- vidade, o que a torna sujeita a debates e dis- cordâncias recorrentes (Durkhein & Mauss, 1981). Tal consideração não é nenhuma novi- dade, mas freqüentemente as categorias e suas delimitações são entendidas como verdades Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado Kátia Torres Ribeiro 1 ICMBio Jaqueline Serafim do Nascimento Conservação Internacional do Brasil João Augusto Madeira ICMBio Leonardo Cotta Ribeiro Instituto Guaicuy / SOS Rio das Velhas RESUMO. A Serra do Cipó (Cadeira do Espinhaço, MG) é famosa pela riqueza e endemismo dos campos rupestres, complexo vegetacional sobre solos quartzosos, incluídos oficialmente no Bioma Cerrado. Forte contraste climático é imposto pelo maciço montanhoso – fitofisionomias de Cerrado predominam nas partes baixas a oeste, e as vertentes orientais sustentam fragmentos de Mata Atlântica, antes contínua em todo o vale do rio Doce, com embaúbas-brancas (Cecropia hololeuca), pal- mitos-juçara (Euterpe edulis) e indaiás (Attalea oleifera). Mesmo sem espécies características do Cerrado, mapas oficiais consideram essas encostas como campos limpos ou sujos, erro devido, pos- sivelmente, ao difícil discernimento em imagens de satélite de fisionomias abertas sobre solos are- nosos, à degradação das matas ou à escala empregada na delimitação dos biomas. Com base em tes- temunhos científicos antigos e recentes, mapeamento em campo da distribuição das espécies arbó- reas citadas acima, indicadoras de Mata Atlântica, de fácil visualização, da contigüidade das matas e posicionamento de frentes estacionárias, redelimitamos o bioma Mata Atlântica na região em esca- la 1:100.000, com acréscimo de 49.856 ha (Parque Nacional da Serra do Cipó: 8.067 ha; APA Morro da Pedreira, que o circunda: 41.789 ha), ainda sob forte pressão de desmatamento, recomendando sua inclusão nas ações e planejamentos dirigidos à Mata Atlântica e subsidiando o zoneamento e gestão das duas UCs. Enxergar os campos rupestres, já considerados como fitocória autônoma, como inse- ridos entre dois biomas ricos e dinâmicos auxilia, ainda, na compreensão da sua evolução. Palavras-chave: Biogeografia, Campos Rupestres, Legislação Ambiental, Mata de Neblina, Sensoriamento remoto. 1 [email protected] Artigos Técnico-Científicos

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30Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49

Kátia Torres Ribeiro - Jaqueline Serafim do Nascimento - João Augusto Madeira - Leonardo Cotta Ribeiro

INTRODUÇÃO

A classificação do mundo natural é uma tare-fa essencial e básica para a construção do co-nhecimento, seja ele científico ou não. A defi-

nição de categorias e a distribuição dos ele-mentos nas categorias criadas é uma atividadecomplexa e com forte componente de subjeti-vidade, o que a torna sujeita a debates e dis-cordâncias recorrentes (Durkhein & Mauss,1981). Tal consideração não é nenhuma novi-dade, mas freqüentemente as categorias e suasdelimitações são entendidas como verdades

Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maiorcompreensão e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado

Kátia Torres Ribeiro1

• ICMBioJaqueline Serafim do Nascimento • Conservação Internacional do BrasilJoão Augusto Madeira • ICMBioLeonardo Cotta Ribeiro • Instituto Guaicuy / SOS Rio das Velhas

RESUMO. A Serra do Cipó (Cadeira do Espinhaço, MG) é famosa pela riqueza e endemismo doscampos rupestres, complexo vegetacional sobre solos quartzosos, incluídos oficialmente no BiomaCerrado. Forte contraste climático é imposto pelo maciço montanhoso – fitofisionomias de Cerradopredominam nas partes baixas a oeste, e as vertentes orientais sustentam fragmentos de MataAtlântica, antes contínua em todo o vale do rio Doce, com embaúbas-brancas (Cecropia hololeuca), pal-mitos-juçara (Euterpe edulis) e indaiás (Attalea oleifera). Mesmo sem espécies características doCerrado, mapas oficiais consideram essas encostas como campos limpos ou sujos, erro devido, pos-sivelmente, ao difícil discernimento em imagens de satélite de fisionomias abertas sobre solos are-nosos, à degradação das matas ou à escala empregada na delimitação dos biomas. Com base em tes-temunhos científicos antigos e recentes, mapeamento em campo da distribuição das espécies arbó-reas citadas acima, indicadoras de Mata Atlântica, de fácil visualização, da contigüidade das matase posicionamento de frentes estacionárias, redelimitamos o bioma Mata Atlântica na região em esca-la 1:100.000, com acréscimo de 49.856 ha (Parque Nacional da Serra do Cipó: 8.067 ha; APA Morro daPedreira, que o circunda: 41.789 ha), ainda sob forte pressão de desmatamento, recomendando suainclusão nas ações e planejamentos dirigidos à Mata Atlântica e subsidiando o zoneamento e gestãodas duas UCs. Enxergar os campos rupestres, já considerados como fitocória autônoma, como inse-ridos entre dois biomas ricos e dinâmicos auxilia, ainda, na compreensão da sua evolução.

Palavras-chave: Biogeografia, Campos Rupestres, Legislação Ambiental, Mata de Neblina,Sensoriamento remoto.

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e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado

em si, e não como tentativas humanas de or-ganizar sua compreensão do mundo natural,problema agravado quando estas classifica-ções precisam servir de base para leis. Mas oscomponentes do mundo natural não costu-mam respeitar fronteiras por nós criadas, demodo que as revisões com base em novas in-formações são sempre necessárias.

No caso da Mata Atlântica, bioma extrema-mente diverso e dos mais ameaçados domundo (Myers et al., 2000), tema deste traba-lho, afirma Câmara (2005) que se trata de “umtermo popular sem significado científico pre-ciso”. O nome faz alusão à sua proximidadecom o Oceano Atlântico, em toda a costa bra-sileira, mas não é suficiente para contemplartoda a variedade de situações encontradas.Para fins legais e conservacionistas, desde adécada de 1980 são muitos os esforços embusca de consensos quanto à delimitação daMata Atlântica, processo este dificultado porsua característica diversidade de composi-ções e fisionomias, por sua devastação, quedificulta ou impede a reconstituição da conti-nuidade florestal ou das fisionomias origi-nais, e pelas pressões políticas pela restriçãoda abrangência da denominação.

Em 1990, foi realizado um workshop com 40especialistas que concordaram que a expres-são ‘mata atlântica’ deveria designar as “flo-restas pluviais do litoral, as matas sulinas mis-tas com araucária e lauráceas, as florestas es-tacionais decíduas e semidecíduas interiora-nas; e os ecossistemas associados (...)”(Câmara, 2005). A definição ampla de MataAtlântica foi incorporada à legislação, e oConselho Nacional de Meio Ambiente (CO-NAMA) incluiu em 1993, através daResolução 010/93, todas as referidas forma-ções no Domínio da Mata Atlântica. Esta com-preensão, que se apoiava em dados consisten-tes de flora e fauna, foi posteriormente corro-borada de forma ainda mais sólida pelo traba-lho analítico de Oliveira-Filho & Fontes (2000)que, comparando no âmbito de espécies, gê-neros e famílias a composição florística de 125levantamentos fitossociológicos realizados naAmazônia, no domínio dos Cerrados e em to-

do o domínio acima referido da MataAtlântica, confirmaram a afinidade florísticade todas as matas atlânticas – montanas, inte-rioranas, litorâneas; do sul ao nordeste – dis-tanciadas das amostras de floresta amazônicae cerradão, fosse no conjunto de espécies, degêneros ou de famílias de plantas arbóreas.Não foram encontrados argumentos para dei-xar as matas estacionais fora dos limites dodomínio da Mata Atlântica, uma vez que elasconstituem um continuum na distribuição dasespécies em direção ao interior do continente(Oliveira-Filho & Fontes, 2000). Em MinasGerais, esta posição foi reiterada em 2005 noworkshop “Definição e delimitação dos domí-nios e subdomínios das paisagens naturais doestado de Minas Gerais” (Oliveira-Filho et al.,2006). Apesar de aceitarem, de forma pragmá-tica, os limites propostos no mapa de biomasdo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística), os autores defenderam claramen-te que as disjunções florestais nos domíniosdo Cerrado e da Caatinga deveriam ser consi-derados como partes integrantes da MataAtlântica devido à afinidade florística e estru-tural e à alta relevância destas formações dis-juntas para a conservação da biodiversidade(Oliveira-Filho et al., 2006).

Muitos pesquisadores concordam que por-ções expressivas da Mata Atlântica ficaramfora dos limites oficiais do bioma, como se de-preende de Hirota (2005), quando diz que “éimportante destacar os esforços da FundaçãoSOS Mata Atlântica e do INPE no sentido demapear os remanescentes florestais das áreasanteriormente não avaliadas, como as matassecas, especialmente os encraves e as florestasestacionais decíduas e semidecíduas, nos es-tados do Piauí, Bahia e Minas Gerais”.

Como enfatiza Sutherland (2000), o conheci-mento da abundância e distribuição dos dife-rentes tipos de hábitat e seu grau de conser-vação, em diferentes escalas, é uma das ferra-mentas essenciais de gestão e definição deprioridades. Tal tarefa exige definição precisade cada hábitat, o que não é tarefa tão banal,e requer o reconhecimento em campo namaior quantidade possível de áreas, de modo

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a se conhecer a gama de ambientes e sua cor-respondência em imagens.

As matas estacionais são muito diversifica-das, e agrupadas em um único conjunto emfunção da devastação – dos 635.552 Km2 esti-mados de cobertura original (ou 48,65% daárea total de Mata Atlântica), restam apenas3%, que recobrem desde as ricas terras roxasaté solos quartzosos extremamente pobres earenosos (Câmara, 2005), como é o caso davertente oriental do Espinhaço. Esta antigacadeia montanhosa se estende por 1.000 kmna direção N-S, desde a porção central deMinas Gerais até o estado da Bahia, naChapada Diamantina. Nela predominam so-los arenosos originados de rochas quartzosas.Ao longo destas montanhas, de composiçãogeológica heterogênea e complexa (Almeida-Abreu, 1995), a distinção de fisionomias vege-tacionais é uma tarefa árdua, tanto pela hete-rogeneidade em si, com amplas variações empequenos espaços, como pelo fato de a reflec-tância observada nas imagens de satélitecombinar os efeitos de um amplo conjunto detipos de solos e formações vegetacionais, cujararefação dos elementos lenhosos pode ser re-lacionada tanto a fatores antrópicos quanto ainfluências edáficas, e combinações destas. Asformações abertas de toda a região foram in-cluídas no Domínio do Cerrado, seja como‘campos’, ‘campos rupestres’ ou ‘cerrado típi-co’ no recente mapeamento apresentado porScolforo & Carvalho (2006), independente-mente da composição florística, imprecisãorelacionada ao fato deste mapeamento ter re-coberto todo o estado, de grandes dimensões,utilizando sensoriamento remoto.

Na Serra do Cipó, ao sul da Serra doEspinhaço, a delimitação oficial dos biomascomeçou a ser questionada e revista a partirdos primeiros estudos para elaboração dosplanos de manejo do Parque Nacional daSerra do Cipó e da Área de ProteçãoAmbiental Morro da Pedreira, as duas unida-des de conservação federais da região. As ver-tentes orientais, a barlavento, que englobamvales integrantes da bacia hidrográfica do RioDoce bem como alguns vales integrantes da

bacia do São Francisco, recebem a umidadeproveniente do oceano Atlântico, umidadeesta que permite o crescimento de florestas eflorestas anãs até mesmo sobre superfícies ro-chosas no estado de Minas Gerais (Oliveira-Filho et al., 2006). A América do Sul como umtodo se destaca pela riqueza de epífitas da ve-getação, e justamente na faixa nebular hágrande diversificação, mesmo em locais combaixa precipitação (Sugden & Robins, 1979),uma vez que a contribuição da nebulosidadepara o balanço geral de umidade da vegeta-ção é muito elevada (Cavelier & Goldstein,1989), principalmente para formas de vidacom maior capacidade de absorver a umida-de atmosférica (Smith, 1972; Lüttge, 1997).

A importância da umidade como explicadorade limites até certo ponto abruptos entreCerrado e Mata Atlântica se depreende do tre-cho a seguir, extraído de Rizzini (1997):“Cerrado e Mata Atlântica vegetam sob o mesmoclima geral dominado por uma estação seca. Por is-so, tão freqüentemente ocorrem juntos, em mosaico.No segundo, porém, o ambiente aéreo é muito maisúmido. (...) A floresta atlântica é indiscutivelmenteuma formação climática nas serras litorâneas; noPlanalto Central, as suas porções são formaçõesedáficas – porque, sendo o ambiente mais seco, ela aísubsiste nos pontos onde o solo é favorável: neste ca-so o solo compensa o clima”. Na Serra do Cipó en-contram-se os dois tipos de contraste – seja pe-la variação abrupta em umidade, seja pela dis-tribuição em mosaico dos tipos de solo, geran-do um mosaico vegetacional.

Toda a região é afetada por incêndios (Ribeiro,2007), mas os remanescentes florestais, alémdo fogo, estão sob forte pressão de desmata-mento para produção de carvão para indústriasiderúrgica e conversão da vegetação nativaem pastos de capim-braquiária e outras gramí-neas africanas, bem como plantios de eucalip-to, transformações observadas até mesmo emáreas onde antes predominava a exploração decandeia (Eremanthus erythropappa e E. incanus),espécie nativa comum nos solos pedregosos ealvo de planos de manejo florestal (Scolforo etal., 2006). Tais explorações são facilitadas porse considerar esta região como bioma

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e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado

Cerrado, mas os programas de fomento para oCerrado não são adequados, por outro lado, aesta região.

Neste estudo propõe-se uma revisão da fron-teira entre a Mata Atlântica e o Cerrado na re-gião da Serra do Cipó. Não existe neste casoum conflito entre conceitos e definições cor-rentes e aceitas, mas sim a possibilidade detrabalhar localmente com maior nível de pre-cisão, visando melhor conhecimento da vege-tação, subsídios à expansão da pesquisa e fer-ramentas mais adequadas para proteção deuma porção surpreendentemente pouco co-nhecida da famosa Serra do Cipó. Os seguin-tes indicadores e ferramentas foram utilizadoscomo base para a redelimitação: A. relatos an-tigos sobre a cobertura vegetal original e épo-cas de destruição; B. testemunhos de pesqui-sadores contemporâneos; C. localização de es-pécies indicadoras da Mata Atlântica que se-jam facilmente observáveis a distância; D. dis-tribuição da canela-de-ema gigante (Velloziagigantea), indicadora de região diretamenteafetada pela condensação da umidade; E. pre-sença de remanescentes de matas; F. formaçãode nebulosidade estacionária ao longo da ver-tente oriental do maciço montanhoso.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo

O nome Serra do Cipó vem sendo apropriadopor crescente número de localidades por ra-zões turísticas e de mercado, daí a necessida-de de se delimitar a área aqui enfocada.Considerou-se como Serra do Cipó toda a re-gião abrangida pelo Parque Nacional da Serrado Cipó, com 31.632 ha, e pela Área deProteção Ambiental Morro da Pedreira, com100.107 ha (coordenadas: 19o03’-36’S; 43o22’-42’W), que circunda inteiramente o ParqueNacional, funcionando como sua “zona-tam-pão”, como já previsto em seu decreto de cria-ção. Inclui as partes mais elevadas dos muni-cípios de Jaboticatubas, Santana do Riacho,Morro do Pilar, Itambé do Mato Dentro,

Itabira, Nova União e Taquaraçu de Minas(FIGURA 1). O Parque abarca partes dos qua-tro primeiros municípios e sua sede, emJaboticatubas, dista apenas 100 Km do centroda capital do estado, Belo Horizonte, cuja re-gião metropolitana tem cinco milhões de habi-tantes. A região montanhosa é bem delimitadaao sul por um breve hiato nas elevações, se-guido pelas montanhas da Serra do Caraça, eao norte o maciço montanhoso se estende con-tinuamente até a região de Diamantina (18oS).

A complexidade geológica da região(Almeida-Abreu, 1995) se reflete na heteroge-neidade de solos e tipos vegetacionais.Latossolos são comuns sobre as formaçõescársticas a oeste do maciço montanhoso(Formação Bambuí), entremeados com solosrasos e inférteis, que sustentam campos sujose outras formações abertas. As montanhas sãoedificadas principalmente por rochas doSupergrupo Espinhaço, com preponderânciade quartzitos, que geram solos arenosos e debaixíssima fertilidade, e com padrões de dre-nagem bastante variáveis conforme a existên-cia de diques rochosos e conforme a declivi-dade. Exceções nos planaltos são os solosmais férteis e desenvolvidos formados sobredispersas intrusões de rochas metabásicas(Almeida-Abreu, 1995). A leste do maciçomontanhoso, cambissolos e latossolos se de-senvolvem sobre rochas do embasamentocristalino. Não há estações meteorológicasoficiais na região, mas o clima é classificadode forma genérica como tropical de altitude(Cwb de acordo com Köppen), com verõesmuito chuvosos e invernos secos, com preci-pitação concentrada entre os meses de no-vembro e março, e média anual em torno de1.500 mm (Madeira & Fernandes, 1999). Noentanto, situações muito contrastantes são en-contradas ao longo da região, considerandoas diferenças entre vertentes a barlavento e asotavento do maciço e o efeito da variação al-titudinal de 800 a 1670 m a.s.l. Nebulosidadequase constante prevalece nas vertentesorientais (FIGURA 2), enquanto as vertentesocidentais enfrentam até sete meses de seca.Da Serra do Cipó, à altura do paralelo 19oS,em direção ao norte, o relevo montanhoso di-

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FIGURA 1: Localização da região da Serra do Cipó, com limites dos municípios e das duas unidades de conservação federais:

Parque Nacional da Serra do Cipó e APA Morro da Pedreira. Representa-se ainda o limite oficial atual entre os biomas Mata

Atlântica e Cerrado na região conforme o IBGE (zonas hachuradas) e limites vegetacionais conforme GEOMINAS (em cores).

No mapa menor, no canto superior esquerdo, apresentam-se as duas unidades de conservação em relação aos biomas Cerrado

(verde-claro), Mata Atlântica (verde-escuro) e Caatinga (laranja), no estado de Minas Gerais.

Rodovia MG 010

Limite de Municípios

Limite PARNA

Limite APA

Caatinga

Campo Rupestre

Cerrado

Floresta Atlântica

Vegetação-GEOMINASClassificação

Cerrado

Caatinga

Floresta Atlântica

Fonte: Limite Municípios e UC’s – IBAMA Proteção UTMSAD69: Fuso 23K

Limites Biomas: IBGE

Bimas IBGEClassificação

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e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado

vide a Mata Atlântica, para leste, dosCerrados, para oeste. Os municípios deItabira, Itambé do Mato Dentro, Morro doPilar e Conceição do Mato Dentro são parcial-mente incluídos nos limites oficiais da MataAtlântica (de acordo com critérios doMinistério do Meio Ambiente, baseados emdados do IBGE e Fundação SOS MataAtlântica), mas todo o território incluído naAPA Morro da Pedreira ficou fora desta deli-mitação, sendo justamente a região commaior porcentagem de vegetação preservadana vertente leste.

As análises e mapas foram feitos em ambien-te ArcGIS® 9.0 (ESRI). A base vetorial para al-timetria, hidrografia, sistema viário e divisãopolítica foi obtida a partir das cartas topográ-ficas do IBGE em escala 1:100.000, digitaliza-

das e corrigidas com informações de campo.

Relatos antigos e testemunhos contemporâneos

Procedeu-se a um levantamento de relatos denaturalistas que percorreram a região, sobre-tudo no século XIX, que contivessem infor-mações de interesse para uma tentativa de re-constituir um quadro da paisagem original daregião, sobretudo da vertente leste da Serrado Cipó. Da mesma forma, procurou-se le-vantar informações científicas atuais, seja naliteratura ou em contatos pessoais.

Mapeamento de espécies indicadoras

Utilizou-se um conjunto pequeno de espéciesindicadoras da Mata Atlântica, mas que, por

FIGURA 2: Prancha de fotografias – A. Fragmento florestal cercado por pastagens de capim-braquiária, em Cabeça de Boi, no

município de Itambé do Mato Dentro, porção leste da APA Morro da Pedreira; B,C. Epífitas sobre a canela-de-ema gigante

(Vellozia gigantea), ilustrando a alta umidade comumente verificada – musgos no alto dos ramos e um exemplar de Sophronites

brevipedunculata, característica de Mata Atlântica, indicada pela seta preta; D. Fragmento de mata a 1200 metros de altitude

no município de Morro do Pilar com Cecropia hololeuca (embaúba-branca), indicada pela seta branca e Attalea oleifera (in-

daiá) despontando no dossel. E. Árvore queimada, junto a indivíduo de candeia, testemunhando conversão da paisagem de

mata para candeial, sobre solos arenosos. F. Visão do Travessão, no fundo do Vale da Bocaina (Parque Nacional da Serra do

Cipó), que divide as drenagens do Rio das Velhas e Rio Doce. Podem-se ver as nuvens provenientes da vertente leste, que se

rarefazem na vertente oeste, de onde se tirou a fotografia (fotos de K.T. Ribeiro)

A B C

D E F

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serem conspícuas, permitiram uma varreduraextensa e suficientemente homogênea da re-gião de estudo. Foram elas o palmito-juçara(Euterpe edulis), a embaúba-branca (Cecropiahololeuca), e a palmeira indaiá (Attalea oleifera),esta última comum nas matas semidecíduas.A palmeira macaúba (Acrocomia aculeata), as-sociada a solos férteis (Motta et al., 2002), po-rém não claramente afetada pela variação emprecipitação dentro da área de estudo, e co-mum nas formações mesofíticas nos domí-nios da Mata Atlântica e do Cerrado, tambémfoi incluída no mapeamento como uma com-paração com as duas outras palmeiras, indi-cativas de mata atlântica, mas sem associaçãoexclusiva com solos férteis.

Todas as trilhas e estradas no interior doParque, bem como trilhas e estradas que co-nectam o Parque a vilas no sopé da monta-nha, foram percorridas e mapeadas entre ja-neiro de 2003 e julho de 2006, durante os es-tudos para os planos de manejo ou em açõescotidianas de gestão das unidades de conser-vação. A ocorrência das espécies indicadorasao longo de cada pequena drenagem cortadapelas trilhas foi registrada com uso de GPS,sendo os pontos marcados no leito da própriatrilha, no ponto de onde a planta foi avistada.A precisão é razoável, uma vez que o terrenoé bastante acidentado, e os pontos marcadosnão são muito distantes da localização mes-ma das plantas. A partir destes dados fez-seum mapeamento da região de ocorrência decada espécie, considerando as drenagens aci-ma referidas, inventariando todos os vales emtorno do parque nacional.

Proporção de remanescentes florestais

Para caracterizar a distribuição espacial dosremanescentes florestais na região da Serrado Cipó, e avaliar a importância e urgência deconservação dos remanescentes inseridos nasduas unidades de conservação em estudo,calculou-se a área absoluta e a proporção dosremanescentes dentro de uma área de501.333 há, correspondente à faixa de 20 kmem torno da APA Morro da Pedreira.

Esta área foi por sua vez subdividida em qua-tro porções, de acordo com delimitação deri-vada da proposta do GEOMINAS (SEA, 1980;ver FIGURA 1): Mata Atlântica (64.218,8 ha),faixa de Cerrado a leste dos campos rupestres(Cerrado Leste: 61.334,9 ha), CamposRupestres (217.638,7 ha) e faixa de Cerrado aoeste (Cerrado Oeste: 158.141,2 ha).

Não se trata de uma divisão de biomas, e simuma proposta de divisão de grandes conjun-tos vegetacionais. Utilizou-se a classificaçãoda vegetação de Scolforo & Carvalho (2006;Mapa de Vegetação do estado de MinasGerais), e calculou-se a proporção de cobertu-ra florestal em cada uma destas faixas. Para asanálises, considerando a baixa acurácia daclassificação, foi feito o agrupamento de to-das as feições florestais - matas secas, semide-cíduas e mesmo matas que podem vir a serconsideradas como ombrófilas, após estudospertinentes.

Distribuição geográfica de Vellozia gigantea

A canela-de-ema gigante (Vellozia gigantea) é amaior dentre as Velloziaceae (Menezes &Mello-Silva, 1999), família com grande núme-ro de espécies endêmicas dos campos rupes-tres e estreitamente associada a ambientes ro-chosos (Ayensu, 1973). V. gigantea tem hábitodracenóide e sustenta grande densidade deepífitas em seus muitos ramos, inclusive or-quídeas de gêneros característicos da MataAtlântica como Grobya (Barros & Lourenço,2004) e Sophronites, ausentes ou escassas navertente ocidental. Era conhecida até recente-mente por uma única população, ocupandoárea de cerca de 1 ha, em afloramentos rocho-sos próximos à rodovia MG-010, dentro doParque Nacional da Serra do Cipó (Menezes& Mello-Silva, 1999), em drenagem já inseridana bacia do Rio Doce. Mapeamento detalhadodesta espécie ao longo das vertentes orientaisda Serra do Cipó começou em 2004 (L.C.Ribeiro et al., em preparação), e os resultadoselevaram sua distribuição conhecida para cer-ca de 2.200 ha, em áreas descontínuas de difí-cil acesso. Consideramos esta espécie, endê-mica da Serra do Cipó, como indicadora de

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e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado

vegetação associada à neblina na região (FI-GURA 2), e sua ocorrência ajuda a localizar aárea diretamente afetada pela condensaçãoda umidade.

Frente de nebulosidade estacionária

Linhas delimitadoras da nebulosidade estacio-nária foram definidas para 10 imagensLandsat 7, sensor TM (Thematic Mapper), ob-tidas entre 2000-2003, disponíveis em formato.jpg na internet (http://www.engesat.com.br),escolhidas por apresentarem elevada cobertu-ra por nuvens. Extraiu-se uma linha represen-tando a posição média no limite de nebulosi-dade, para subsidiar a definição do limite en-tre biomas.

Para verificar o limite proposto com uso deoutra técnica, a cobertura por nuvens foi ex-traída de três imagens CBERS (China-BrazilEarth Resources Satellite), sensor CCD(Charge-Coupled Device), dos anos de 2003,2004 e 2005 (http://www.cbers.inpe.br). Elasforam modeladas com uso do algoritmoNDVI (normalized difference vegetation index),com a intenção de amplificar o contraste entreos elementos vegetacionais, as nuvens e ou-tros elementos físicos (técnica em Chuvieco,1996). Com uso do programa Multispec asnuvens foram extraídas da imagem por meiode classificação não supervisionada, e nestasimagens fez-se outra delimitação da linha denebulosidade estacionária, bastante coinci-dente com a anterior.

RESULTADOS

Relatos antigos sobre as formações florestais e sua destruição

Em artigo que trata da ocupação histórica daregião de Santana do Riacho, como parte dacontextualização das pesquisas arqueológicasrealizadas na região, Guimarães (1991), resga-tou informações sobre a ocupação do territó-rio a partir principalmente dos relatos de na-turalistas e viajantes do século XIX. Estes via-

jantes dirigiam-se em sua maioria ao Arraialdo Tejuco, atual Diamantina, seja pelo cami-nho a oeste, cruzando os cerrados, seja pelavertente leste da Serra, passando pelos atuaismunicípios de Itambé do Mato Dentro eMorro do Pilar, chegando então a Conceiçãodo Mato Dentro (FIGURA 1).

A cidade de Morro do Pilar, sede do municí-pio de mesmo nome, era então conhecida co-mo Gaspar Soares, ou Morro do Gaspar.Auguste de Saint-Hilaire, em seu trajeto deItambé à vila do Príncipe, diz que: “Toda a re-gião que se estende até Vila do Príncipe é ain-da montanhosa, e as florestas, que a cobriamoutrora, deram lugar, em muitos pontos, aimensas pastagens de capim-gordura. Não sevislumbra, por assim dizer, o menor sinal decultura”. Entre a localidade de Ponte Alta e oMorro do Gaspar Soares, diz ainda: “ (...) nãose avistam senão imensas campinas de ca-pim-gordura com alguns feixes de bosques.Por estas pastagens vêem-se, de um lado, al-guns indaiás, cujas folhas largas se agitam àmenor aragem. Esse lugar não apresenta omenor vestígio de lavagens, e, pelo que medisseram, foi outrora cultivado; a aparição,porém, do capim-gordura decidiu os proprie-tários a procurar alhures matos ainda pordestruir”.

Seguindo o mesmo caminho de Saint-Hilaire,Spix e Martius, que visitaram o Brasil entre1817 e 1820, informam que “há quarenta anospassados [toda a região de montanhas entreGaspar Soares e a referida Vila] era revestidade densa mata virgem sem interrupções, con-tinuando as matas do Rio Doce”, mas queàquela altura, grandes trechos já haviam sidoabatidos. Gardner, que viajou pelo Brasil de1836 a 1841, ao se dirigir a Gaspar Soares apartir de Conceição do Mato Dentro, diz teratravessado uma região “de densas florestasvirgens semelhantes às da Serra dos Órgãos e,como nesta, abundantes em fetos arborescen-tes, pequenas palmeiras e grandes bambus”.Ao passar pelo Arraial de Gaspar Soares,Gardner registra que “não havia sinal deplantações, embora ao que me informam, to-dos estes campos nus tivessem sido cultiva-

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Kátia Torres Ribeiro - Jaqueline Serafim do Nascimento - João Augusto Madeira - Leonardo Cotta Ribeiro

dos até que o capim gordura os invadiu.Derrubando florestas virgens, fizeram-se a al-guma distância novas plantações, que por suavez terão de ser abandonadas pela mesmacausa” (textos citados em Guimarães, 1991).

Fortes transformações da paisagem (FIGURA2) também podem ser depreendidas do de-poimento de Georg von Langsdorff ao passarpela Serra do Cipó em 1824: “No inverno, ouseja, julho e agosto, as matas se congelam; ár-vores, gramíneas e folhas mortas e secas estãoprontas para serem queimadas, como prepa-ração para futuras plantações. O fogo, no en-tanto, atinge proporções terríveis e acaba ar-rasando e destruindo matas, campos e terras.(...) Era até perigoso sair de casa. O fogo ardiaem toda a região, espalhando-se até mesmosobre o Rio Cipó, que tem 20 braças de largu-ra, e sobre outros menores. Não há canais,água, leis, nada que proteja a região contra asqueimadas” (Silva, 1997).

Testemunhos recentes

Do amplo conjunto de pesquisadores que tra-balharam na Serra do Cipó, alguns se dirigi-ram aos vales que drenam para a bacia do RioDoce, distanciando-se um pouco da estradaprincipal (MG-010), ou estudaram os capõesde mata em elevada altitude, dispersos namatriz graminóide, e reconheceram a afinida-de florística e faunística destes com a MataAtlântica. Giulietti et al. (1987), ao sintetiza-rem e apresentarem os levantamentos florísti-cos realizados durante décadas na região, ca-racterizaram explicitamente as vertentesorientais como afins à Mata Atlântica. Melo-Junior et al. (2001) realizaram um amplo le-vantamento ornitológico na Serra do Cipó, enas matas com grande predominância de can-deias, que consideraram como transição entrecampos rupestres e mata atlântica, encontra-ram 14 espécies de aves endêmicas da MataAtlântica, representando 5,1% das espéciesregistradas, e enfatizaram o elevado grau dedestruição das formações florestais na região.Oliveira et al. (2003) encontraram o sagüiCallithrix geoffroyi nos capões de mata alti-montanos e conjecturaram que a Serra do

Cipó poderia ser considerada como um divi-sor biogeográfico de espécies de Callithrix,com C. penicilata a oeste e C. geoffroyi a leste.Recentemente, no I Seminário Interdisciplinarde Pesquisadores da Serra do Cipó (maio de2007), organizado para estruturar a consulta àcomunidade científica acerca das propostasdos planos de manejo do Parque Nacional daSerra do Cipó e da APA Morro da Pedreira, ospesquisadores presentes, muitos com dadosinéditos, ratificaram unanimemente a pro-posta de considerar a vertente leste comoMata Atlântica, incluindo os vales de NovaUnião e Taquaraçu de Minas, que drenam pa-ra a bacia do rio das Velhas, mas são voltadospara sul/ sudeste (ICMBio, 2007).

Mapeamento de espécies indicadoras e dosremanescentes florestais

O palmito-juçara (Euterpe edulis), pode ser en-contrado, de forma esparsa, em toda a verten-te oriental da Serra do Cipó, principalmentejunto aos cursos d’água que drenam as ver-tentes de Conceição do Mato Dentro, Morrodo Pilar e Itambé do Mato Dentro. Nas encos-tas de Itabira torna-se mais raro. A embaúba-branca (Cecropia hololeuca) é encontrada em to-dos os vales voltados para leste, inclusiveaqueles cujos rios drenam para a bacia do Riodas Velhas, afluente do São Francisco. É o ca-so dos vales de Altamira (município de NovaUnião) e do Sete (município de Taquaraçu deMinas), totalmente recobertos por mata semi-decídua ou capoeiras destas, ou ainda por ex-tensos bananais que evidenciam a maior umi-dade nestes vales em comparação com a ban-da ocidental. A palmeira indaiá (Attaleaoleifera) é encontrada apenas na região doMunicípio de Morro do Pilar e parte setentrio-nal do município de Itambé do Mato Dentro,e é bastante conspícua em locais onde a cober-tura florestal foi claramente removida, terre-nos em grande parte ocupados por pastagensde braquiária (Urochloa spp.). Já a palmeiramacaúba (Acrocomia aculeata) tem ampla ocor-rência em todas as porções mais baixas daárea de estudo, sempre associada a solos maisférteis, como apontado por Motta et al. (2002),em avaliação das preferências da espécie no

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Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão

e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado

Estado. Na direção oeste, está sempre presen-te sobre solos associados às formações calcá-rias do Grupo Bambuí, que bordejam o maci-ço montanhoso; na direção leste, associa-seaos solos mais ricos oriundos de rochas doembasamento cristalino (FIGURA 3).

Em relação à distribuição dos remanescentesflorestais ao longo das faixas de vegetaçãoconforme a classificação do GEOMINAS(Mata Atlântica, Cerrado Leste, CampoRupestre e Cerrado Oeste), tem-se respectiva-mente as seguintes porcentagens de leste pa-ra oeste: 46%; 35%, 20% e 1%, e 19% da áreatotal analisada (FIGURA 4).

Evidencia-se a concentração dos remanescen-tes a leste e o contraste entre as faixas conside-radas como de cerrado a leste e a oeste da fai-xa classificada como de campo rupestre (35% e1% respectivamente). Esta comparação ficariaainda mais enfática se não houvesse equívocosno mapa de vegetação elaborado por Scolforo& Carvalho (2006), em função da abrangênciado estudo (todo o estado). Em vistorias emcampo do referido mapa e a partir de compa-rações com mapa de vegetação elaborado es-pecificamente para o plano de manejo das uni-dades de conservação a partir de classificaçãonão supervisionada de imagem ICONOS(agosto de 2005) e verificações em campo(ICMBio, 2008), pode-se constatar que no ma-pa para o estado, diversas áreas de floresta se-midecidual em regeneração foram classifica-das como cerrado típico, e as áreas invadidaspor samambaia (Pteridium aquilinum), caracte-rísticas de solos anteriormente sob mata, nãoforam classificadas, ou foram interpretadas co-mo áreas de campo, genéricas. Os capões demata sobre solos férteis no seio dos campos ru-pestres também foram interpretados como en-craves de vegetação de cerrado.

Mapeamento de Vellozia gigantea

A ocorrência de V. gigantea está associada aafloramentos rochosos quartzíticos entre 1200e 1400m de altitude, faixa em que há a con-densação da umidade proveniente de leste(FIGURA 3). Podem ser vistas como florestas

anãs, um correspondente da mata de neblinaassociado aos afloramentos rochosos e solosquartzosos, ou nas palavras de Oliveira-Filhoet al. (2006) para ambientes comparáveis emMinas Gerais, “representam uma transiçãodinâmica [dos campos rupestres ou de altitu-de] para as florestas Ombrófila Densa,Ombrófila Mista e Estacional Semidecidual”.Ocorre em todos os municípios a leste, comexceção daqueles com drenagem para o riodas Velhas.

Limite estacionário de nuvens

A análise das imagens com maior nebulosida-de mostrou uma constância na região de con-densação de umidade na porção leste daSerra do Espinhaço. O efeito orográfico resul-ta em uma linha de disposição de nebulosida-de a barlavento da Serra (FIGURA 3), desde omunicípio de Itabira, seguindo sempre o con-torno do maciço até o município deDiamantina. O acúmulo de nuvens se deve àinfluência da massa tropical atlântica, comexpressão variável ao longo do ano. A menorou maior atuação da massa tropical atlânticaleva a maior ou menor incidência de nebulo-sidade, no decorrer das estações do ano. Noentanto, a umidade permanece estacionáriacom condensação de nebulosidade, mesmonos períodos secos, com registro de chuvis-cos, evidenciando um caráter totalmente oro-gráfico do clima na região, em intenso con-traste com a região melhor estudada, que ficana sombra das chuvas, com menor precipita-ção que a capital Belo Horizonte.

Proposição de novos limites entre biomas

A proposta de novo limite entre os biomasconsidera conjuntamente a série de fatores eindicadores analisados. A linha de condensa-ção de umidade localizou-se ligeiramente aoeste da linha de cumeada que divide as duasgrandes bacias hidrográficas da região – SãoFrancisco a oeste e Doce a leste. O posiciona-mento de linha de nebulosidade, que corres-ponde a uma média entre várias imagens, po-de variar dependendo das imagens usadaspara compô-la. Já a linha de cumeada apre-

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FIGURA 3: Apresentação do novo limite entre os Biomas Mata Atlântica e Cerrado na região da Serra do Cipó, Minas Gerais,

baseado nos divisores de águas, e o conjunto de variáveis que apoiaram a delimitação. Representa-se a distribuição das es-

pécies indicadoras de Mata Atlântica na região de estudo conforme mapeamento: palmito: Euterpe edulis, embaúba: Cecropia

hololeuca, indaiá: Attalea oleifera, bem como a macaúba: Acrocomia aculeata, esta indicadora de fisionomias florestais sobre

solos mesotróficos, na região da Serra do Cipó. As manchas sólidas indicam as populações mapeadas de Vellozia gigantea e

pode-se ver sua associação com a nebulosidade. Os hachurados em diferentes padrões referem-se às áreas de ocorrência das

espécies indicadoras tendo como referência os vales visitados. A oeste só se registra a ocorrência da macaúba. A mancha em

tom de cinza indica o limite da nebulosidade estacionária proveniente de leste, que foi usada com auxílio, mas não como úni-

ca base para delimitação entre biomas, uma vez que o limite por bacias não é fluido como as nuvens, e mais facilmente reco-

nhecível em campo e em mapas.

40

Embaúba

Indaiá

Macaúba

Palmito

INDAIÁ

PALMITO

MACAÚBA

EMBAÚBA

VELLOZIAS

PARMA Cipó

Limite APA

Neb. Estacionária

MA - Limite proposto

Projeção UTMASD69 - Fuso 23K

INDICADORES

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FIGURA 4: Apresentação do novo limite entre Mata Atlântica e Cerrado na região da Serra do Cipó, Minas Gerais, e sua relação com

a distribuição de remanescentes florestais. A figura apresenta os limites do Parque Nacional da Serra do Cipó, da APA Morro da

Pedreira além de uma ampla zona no entorno das duas unidades de conservação para permitir sua contextualização. Vê-se a distri-

buição dos remanescentes de acordo com classificação de Scolforo & Carvalho (2006), e as manchas em cor-de-rosa mostram a área

de ocorrência da Vellozia gigantea. A linha em azul limita as duas grandes bacias hidrográficas – dos rios Doce e São Francisco. A área

marcada em cinza, na porção direita da figura, refere-se à área total a ser considerada como Mata Atlântica na cena visualizada, con-

forme presente proposta. Observação: na bacia do Rio São Francisco, a oeste, vêem-se áreas de vegetação de cerrado. O mesmo pa-

drão a leste, na bacia do Rio Doce, embora classificado como cerrado, corresponde na verdade a áreas com dominância de candeia,

possivelmente antigas áreas de mata atlântica. As grandes áreas brancas no centro do mapa correspondem à região de predomínio

dos campos rupestres, pontuados por capões de mata com freqüência classificados erroneamente como cerrado – há enclaves de cer-

rado, mas geralmente as áreas assim classificadas naquela porção do território são matas em estágios iniciais de regeneração.

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Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão

e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado

Limite PARNA

Limite APA

Vellozias

Divisor de Bacias

Cerrado Denso

Cerrado Ralo

Cerrado Típico

Floresta Semidecídua

VEGETAÇÃO-IEFClassificação

Source: Instituto Estadual de florestas _ IEF/2005

Protection UTMSAD69: Fuso 23K

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senta maior facilidade de identificação emcampo e não tem o problema da fluidez dasnuvens (ver TABELA 1). Já os demais fatores(ocorrência de espécies indicadoras) coincidi-ram perfeitamente com este limite por gran-des bacias hidrográficas. As exceções são osvales do Sete e de Altamira (municípios deTaquaraçu de Minas e Nova União, respecti-vamente), ambos na bacia do São Francisco,porém voltados para leste, também sob forteinfluência da massa de umidade verificada.

Assim, optou-se por delimitação definida pe-las cumeadas, sendo que nos vales do Sete ede Altamira foram usadas as cumeadas deseus respectivos vales, o que concorda tantocom a linha de condensação de umidadequanto com a fitofisionomia florestal ali veri-ficada (FIGURA 3). Apresenta-se a área debioma Mata Atlântica a ser acrescida às duasUnidades de Conservação conforme as duasformas de delimitação (TABELA 1).

Com a divisão dos biomas, tendo como baseas drenagens, o Parque Nacional da Serra doCipó conteria 8.067 hectares de MataAtlântica (25% da área da UC) e a APA Morroda Pedreira conteria 41.722 hectares (41,7%).Uma eventual delimitação com base na nebu-losidade estacionária resultaria em valoresmaiores, uma vez que a umidade avança so-bre os extensos planaltos, não se limitandoexatamente às vertentes orientais: seriam

12.055 ha no Parque Nacional da Serra doCipó e 46.574 ha na APA Morro da Pedreira.

O cálculo da área a ser inserida na MataAtlântica a partir de nova delimitação foi fei-to, a título de exercício, para a região da Serrado Cipó, até o município de Diamantina (pa-ralelo 18oS). Na porção analisada, a MataAtlântica passaria de 810,9 mil para914,1 mil ha, constituindo um acréscimo de12,7%, utilizando-se os divisores de águas co-mo limites entre os biomas, e passaria para949,5 mil ha, se fosse utilizada a frente esta-cionária de nebulosidade como referência pa-ra a delimitação dos biomas.

DISCUSSÃO

Fortes contrastes vegetacionais entre verten-tes montanhosas é fenômeno comum, como éo caso emblemático das Ilhas Canárias(Fernández-Palacios & de Nicolás, 1995), mastambém de tantas outras regiões como asmontanhas andinas (Smith, 1972; Lüttge,1997), as ilhas do Havaí (Nogushi, 1992), flo-restas subtropicais asiáticas (e.g. Chen et al.,1997), dentre outras. Em geral, as vertentes abarlavento, que recebem maior umidade,apresentam vegetação de maior porte, e commaior diversidade. Em outros casos, a inten-sidade do vento, como nas altas montanhas,

Tabela 1. Área a ser acrescida ao bioma Mata Atlântica na porção sul da Serra do Espinhaço de acordo com a nova delimita-

ção proposta, apresentando separadamente os cálculos para o Parque Nacional da Serra do Cipó, Área de Proteção Ambiental

Morro da Pedreira e Região desde a Serra do Cipó até a altura da cidade de Diamantina.

Região

A. Parque Nacional

da Serra do Cipó 0 8.067 ha (25,5%) 0 12.055 ha (38,5%)

(31.632 ha)

B. Área de Proteção

Ambiental Morro da Pedreira 968 41.722 ha (41,7%) 968 46.574 ha (46,5%)

(100.007 ha)

C. Serra do Cipó

até Diamantina 810.869 914.119 ha 810.869 949.448 ha

Proposta formalizada por este estudo:

limites de acordo com divisão entre bacias

(ha); (% da unidade de conservação)

Limites de acordo com a nebulosidade

como base par ao limite entre biomas

(ha); (% da unidade de conservação)

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Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão

e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado

que causam estresse mecânico e dessecação,ou o efeito da salinidade em ambientes a bei-ra-mar, levam à situação oposta - formaçõesmais complexas e estruturadas são encontra-das em locais mais protegidos (Crawford,1989; Nogushi, 1992; Lüttge, 1997). Ao longode uma mesma vertente podem ocorrer fortescontrastes vegetacionais/ climáticos entre afaixa diretamente afetada pela condensaçãode umidade (faixa nebular) e a faixa acimadesta, em geral caracterizada por forte desse-cação (e.g., Fernández-Palacios & de Nicolás,1995).

Na Serra do Espinhaço, e especificamente naSerra do Cipó, é bem claro que formações flo-restais, arbustivas e campestres são favoreci-das pela umidade proveniente do atlântico, aleste. O padrão torna-se um pouco mais com-plexo em função da influência edáfica, resul-tando por vezes no desenvolvimento de cam-pos a leste, mesmo onde há maior umidade, ede florestas estacionais a oeste, associadas alatossolos. Contribui para o mosaico a eleva-da degradação das formações florestais.

A Vellozia gigantea e sua comunidade de epífi-tas, com espécies características da MataAtlântica, parcialmente protegida do fogo porcrescer em afloramentos rochosos diferencial-mente alcançados pelos incêndios, e não afe-tada diretamente pela demanda por carvão elenha, persiste como testemunho da vegeta-ção potencial associada à faixa nebular, comespécies capazes de absorver a umidade at-mosférica, favorecidas pelas chuvas orográfi-cas. Nesta faixa podem ser encontradas varia-das fisionomias, conforme condições edáficase climáticas (Sugden & Robins, 1979).

Tais formações na faixa nebular e as matasmontanas na Serra do Cipó permanecem bas-tante desconhecidas pela comunidade cientí-fica, lacuna alarmante considerando o graude devastação das vertentes orientais em fun-ção da exploração mineral e carvão. É com-preensível que em país das dimensões doBrasil persistam lacunas imensas no conheci-mento, mas é inaceitável que décadas de ex-ploração mineral pela Cia Vale do Rio Doce,

no município de Itabira, resultem em tão pou-co conhecimento biológico na região direta-mente afetada.

Os caminhos a leste utilizados pelos antigosnaturalistas não são mais usados com fre-qüência pelos pesquisadores contemporâ-neos, o que também explica a concentraçãodas pesquisas a oeste. Nas últimas décadas, oacesso mais utilizado para a Serra do Cipó, apartir de Belo Horizonte, é o que segue pelarodovia MG-010, atravessa a região cársticade Lagoa Santa em meio à mais famosa vege-tação de cerrado, estudada por EugeneWarming (Warming, 1973), até a borda da ser-ra, quando então uma estrada sinuosa e es-treita segue até Diamantina, passando por ex-tensas áreas de campos rupestres, e pelas ci-dades de Conceição do Mato Dentro e Serro.Esta é a região mais conhecida e estudada daSerra do Cipó, que concentrou levantamentosbotânicos (ver Giulietti et al., 1987, 1997 ePirani et al., 2003), bem como diversos estu-dos de fauna (e.g., Câmara & Murta, 2003;Eterovick & Sazima, 2004, Rodrigues et al.,2005). A estrada margeia os limites ocidentaisdo Parque Nacional da Serra do Cipó e atra-vessa toda a porção ocidental da APA Morroda Pedreira (FIGURA 1). O levantamento egeorreferenciamento de dados de pesquisa daSerra do Cipó (Madeira et al., 2008) mostramque das coletas listadas por 513 publicações,com pontos que puderam ser georreferencia-dos, 75% foram realizadas nas proximidadesde estradas, principalmente a MG-010, quecruza o cerrado e os campos rupestres a oes-te, o que resulta em grande lacuna na verten-te oriental, e apenas 17% dos pontos no inte-rior do Parque Nacional.

As vertentes orientais da Serra do Cipó, es-tendendo-se em grande parte até Diamantina,sempre foram incluídas no Bioma Cerrado(SEA, 1980, SOS Mata Atlântica, 1990, SOSMata Atlântica/ISA/INPE, 1998, SOS MataAtlântica/INPE, 2002, IBGE 1988, 1993,Scolforo & Carvalho, 2006). De acordo com osmapas acima referidos, a cobertura por flores-ta atlântica deveria começar aproximadamen-te no ponto de inflexão entre o fim das ver-

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tentes montanhosas e as porções mais planasdeste território. Mas esta suposta linha nãotem qualquer correspondência com umaeventual mudança na geologia, na tipologiados solos, no clima ou qualquer outro parâ-metro objetivo. Não há tampouco desconti-nuidade vegetacional a leste ou a oeste destalinha delimitadora que a justifique.

Na região da Serra do Cipó, a fronteira entreo Cerrado e a Mata Atlântica pode ser, em al-guns trechos, bastante abrupta, e coincide emgeral com o divisor de águas entre as baciasdos rios Doce e das Velhas, como reconhecemde modo trivial os moradores dos diversosvales, por exemplo, ao mostrar saudades defrutos que existem em apenas uma das ver-tentes (K.T. Ribeiro, obs. pess.). Nas cumeei-ras das vertentes orientais, mesmo nas partesmais altas da serra, vêem-se esparsos indiví-duos remanescentes de palmito-juçara(Euterpe edulis) junto aos pequenos córregos,inteiramente ausentes do lado ocidental (ca-pões florestais a oeste inventariados porMeguro et al., 1996), atestando a mudançadrástica nas condições ambientais. Nas encos-tas orientais não são encontradas quaisquerdas espécies mais características do Cerrado,como pequi (Caryocar brasiliense) ou cagaiteira(Eugenia dysentherica), abundantes a oeste.

Já nos locais com planaltos mais extensos, asdescontinuidades verificadas já não se dão naforma de transição abrupta e visível entreCerrado e Mata Atlântica. Na ampla faixa deCampos Rupestres, constituídos por um con-junto de fisionomias que variam de camposgraminóides a feições arbustivas, com pon-tuações de capões de mata, fisionomias estasdeterminadas por fatores predominantemen-te edáficos e muito afetadas por incêndios hámais de 200 anos (Warming, 1973; Silva, 1997;Ribeiro, 2007), tem-se uma gradação florísticade leste para oeste ainda não documentadade forma sistemática – por exemplo, arbustosde Myrsine spp. a leste e de Sthryphnodendrumadstringens a oeste, pontuando os camposabertos (K.T.Ribeiro, obs. pess.).

A nova delimitação da Mata Atlântica aqui

proposta, que se pauta na linha de cumeadada serra, levaria a um acréscimo de 41.722 hana área considerada como Mata Atlântica naAPA Morro da Pedreira e 8.067 ha no interiordo Parque Nacional da Serra do Cipó.Aumenta-se a área do bioma Mata Atlânticados municípios de Itabira, Itambé do MatoDentro e Morro do Pilar e dois municípios an-tes não incluídos no Bioma – Nova União eTaquaraçu de Minas – passariam a ter exten-sa representatividade deste em seus territó-rios. O exercício feito para toda a vertente les-te da Serra do Espinhaço meridional, desde aSerra do Cipó até o paralelo 18oS, à altura deDiamantina, com base na nebulosidade e di-visores de bacias, aponta um incremento deca. 100.000 hectares ao bioma Mata Atlântica(TABELA 1) nesta região. Aferições em cam-po, detalhadas, com informações sobre espé-cies indicadoras e solos em toda esta extensãopodem levar a ajustes mais finos na área atéDiamantina. O presente estudo mostra que ouso do palmito-juçara e da palmeira indaiácomo indicadores de Mata Atlântica mostra-se uma opção efetiva de balizamento, porémmais conservadora do que o uso da embaúba-branca, que ocorre de forma também abun-dante nas áreas mais transicionais. Na pre-sente proposta consideramos as áreas vasta-mente ocupadas pela embaúba-branca comoparte do domínio da Mata Atlântica em fun-ção, inclusive, da total continuidade comáreas nele já oficialmente incluídas.

O Decreto No 750 de 1993, conhecido comoDecreto da Mata Atlântica, trouxe indiscutí-veis avanços em termos de conservação dobioma ao reduzir amplamente as possibilida-des de uso direto, remoção da floresta e dasformações sucessionais. Levantamentos sub-seqüentes dos remanescentes florestais, reali-zados a cada cinco anos, que utilizaram tec-nologia progressivamente melhor, permiti-ram detalhar o mapeamento e o reconheci-mento de remanescentes (SOS MataAtlântica/ INPE: 1991 – 1:250.000; 1995 –1:50.000), mas manteve-se sempre a delimita-ção originalmente proposta entre os biomas,delineada em escala de 1:1.000.000 (Hirota,2005). Nesta escala, uma linha já representa

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e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado

grande imprecisão, e ampliações de cartas de-veriam idealmente ser acompanhadas por es-tudos e amostragens em campo, ou pelo me-nos, interpretadas com parcimônia. Na açãocotidiana em campo, para a aplicação da lei,estas linhas, corretas ou não, acabam se con-sagrando.

Do ponto de vista conservacionista, a delimi-tação atual entre os biomas já representa umganho imenso em contraste a situação ante-rior (Pinto et al., 1996), uma vez que inclui asflorestas estacionais, as florestas mistas dearaucária e diversos ambientes ‘marginais’ daMata Atlântica (sensu Scarano, 2002), como oscostões rochosos, vegetação de restingas ecampos de altitude. Mas na Serra do Cipó es-ta imprecisão na delimitação resulta em omis-são e falta de instrumentos adequados para selidar com o intenso processo de desmatamen-to de matas montanas e matas de neblina ain-da não inventariadas, de diversidade sequerestimada (Madeira et al., 2008), vizinha aos ri-cos campos rupestres do Parque Nacional daSerra do Cipó.

As limitações existentes na interpretação deimagens de satélite sem a verificação detalha-da das verdades de campo e as dificuldadesimpostas pelas escalas de trabalho, e que sejustificam muitas pela falta de recursos e di-mensão do território, devem ser explicitadasao se publicarem mapas de vegetação, paraque o leitor tenha noção do grau de incertezaenvolvido no mapeamento. Neste ponto, sur-ge a questão de como foram classificadas e decomo tratar as áreas recobertas pela candeia(Eremanthus spp. ). As candeias são plantasheliófitas, pioneiras, que tendem a crescer emformações densas nas áreas desmatadas,principalmente em regiões de solos com pou-ca umidade e menor fertilidade (Perez et al.,2004). Nas imagens de satélite, a textura doscandeais se assemelha à encontrada para fi-sionomias de Cerrado, tendo sido classifica-das no mapeamento de Scolforo & Carvalho(2006) em grande parte como campos (FIGU-RA 4). Os candeais ocupam quase toda a en-costa oriental da Serra do Cipó, e são intensa-mente explorados para fornecimento de ma-

deira e para extração de óleo. Dada a intensi-dade da exploração e os incêndios freqüentes,é muito provável que esta seja uma formaçãonão-climácica, e que na ausência de distúr-bios uma formação florestal mais diversa asuceda.

O esquecimento de que esta região era reco-berta por mata atlântica pode ser entendidopelo que Jared Diamond (2005) chamou de‘amnésia de paisagem’, para denominar aacomodação com a degradação e com a mo-dificação contínua dos locais que habitamos.Como visto nos relatos dos naturalistas do sé-culo XIX, o capim-gordura ou meloso(Mellinis minutiflora), de origem africana, foium problema grave na região, porque ocupa-va as áreas de lavoura e os sitiantes não dis-punham de ferramentas para combatê-lo. Poroutro lado, ainda havia muita mata a derru-bar e terra a ocupar com gado - o que era con-dição para se pleitear sua posse - alimentan-do-se assim o desmatamento. Atualmente, noinício do século XXI, o capim-gordura já é vis-to como espécie nativa por toda a populaçãorural e novos processos de invasão biológicaextremamente agressivos estão ocorrendo. Oscampos nativos antropizados estão sendoocupados por capim-braquiária (Urochloaspp.) e outras forrageiras de origem africana.Esse processo é alimentado pelo imenso êxo-do rural que leva à substituição da agricultu-ra pela pecuária, de baixo rendimento, masmenos trabalhosa que a lavoura.

Campos rupestres ou campos de altitude?

Um fator que dificulta discussão sobre a in-clusão da vertente leste da Serra do Cipó nobioma Mata Atlântica é o entendimento, comrespaldo na legislação, de que os CamposRupestres estão inseridos no Cerrado e osCampos de Altitude na Mata Atlântica, estesassociados a topos de morro e temperaturasbaixas. Neste caso, teríamos na Serra do Cipóuma situação peculiar, que não pode ser en-tendida por estes conceitos – na bacia do RioDoce teríamos campos de altitude que, viran-do a linha divisória, se transformariam emcampos rupestres. Outro exemplo de que as

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categorias e suas definições são tantas vezesinsuficientes para abarcar as situações reais.A terminologia proposta por Semir (1991) au-xilia a tarefa de classificação - propõe que oscampos rupestres sejam chamados de ‘com-plexos vegetacionais sobre quartzito’, vegeta-ção sob forte influência edáfica, composta pe-las mais diversas fitofisionomias – camposgraminóides, vegetação arbustiva, capões demata; cuja fisionomia varia de acordo com aqualidade e profundidade do solo, a disposi-ção das rochas, padrões de drenagem, clima eintrusões de rochas distintas, que favorecemo desenvolvimento de encraves de cerrado oude mata. A influência do clima sobre esta ve-getação e sobre a distinção das fitofisiono-mias é secundária em relação aos efeitos edá-ficos, mas também pode ser mensurada e re-fletida na composição florística.

Por fim, têm-se já fortes evidências de que oscampos rupestres devem ser vistos como umavegetação bem individualizada tanto pela fi-sionomia como pelas características florísticasde elevada riqueza de espécies e, principal-mente de elevada especificidade e endemis-mo, mas que incorpora influências múltiplas,sendo transição entre Cerrado e MataAtlântica e afetada por forte variação altitudi-nal, que lhe confere por vezes característicasde vegetação tropical e também traços de ve-getação com características temperadas.Tamanha variação climática, aliada à diversi-dade topográfica e edáfica, pode explicar emparte a destacada riqueza dos campos rupes-tres, sem considerar os mecanismos evoluti-vos subjacentes à forte especiação simpátrica,ainda pouco compreendidos.

Mesmo nesta gradação é possível uma deli-mitação mais precisa entre Mata Atlântica eCerrado, como a aqui proposta. Tal aumentode precisão pode e deve resultar em açõesmais adequadas para cada um dos biomasque compõem a Serra do Cipó, sejam de fis-calização e adequação da legislação, sejam deestímulo de práticas sustentáveis consideran-do as especificidades biológicas e culturais.No plano de manejo das duas unidades deconservação, propõe-se a aplicação da legisla-

ção específica da mata atlântica em toda aborda leste.

Existe ainda uma especificidade na região – odecreto de criação da APA Morro da Pedreira,de 1990, estabelece que os campos rupestressejam considerados como Zona de VidaSilvestre, não sendo permitidas construções anão ser com caráter de proteção. Para o ma-nejo das unidades de conservação tornou-sefundamental também, portanto, a delimita-ção dos campos rupestres, e em consulta à co-munidade científica referendou-se o limitetendo como referência a cota de 900 m de al-titude a oeste e de 1200 m a leste (ICMBio,2007). Com base nestes limites, tem-se queapenas 12,5% da área de 130 mil hectares dasduas unidades de conservação corresponde-riam a fisionomias de Cerrado propriamente.Apesar de toda a preocupação, justificada,com a Mata Atlântica, percebe-se, mais umavez, que a proteção do Cerrado é negligencia-da, e mesmo sem se ter consciência, a MataAtlântica foi favorecida na delimitação dasunidades de conservação no mosaico vegeta-cional da Serra do Cipó.

Agradecimentos:

Este trabalho é parte dos estudos para elabo-ração dos planos de manejo do ParqueNacional da Serra do Cipó e da Área deProteção Ambiental Morro da Pedreira, con-duzidos pelo ICMBio/IBAMA em parceriacom Conservação Internacional do Brasil,Instituto Guaicuy / SOS Rio das Velhas(Projeto Manuelzão) e Fundação O Boticáriode Proteção à Natureza (projeto no 0624 -20042). As discussões com Carlos Schaefer,Mauro Ribeiro, Marcos Rodrigues e Paulo T.Sano em muito enriqueceram a compreensãodo sistema estudado, e as contribuições detrês revisores anônimos foram importantespara maior clareza do trabalho.

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