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EDELTON GLOEDEN AS 12 VALSAS BRASILEIRAS EM FORMA DE ESTUDOS PARA VIOLÃO DE FRANCISCO MIGNONE: UM CICLO REVISITADO Tese de Doutoramento apresentada ao Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Doutor em Artes. Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Gandra da Silva Martins São Paulo 2002

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EDELTON GLOEDEN

AS 12 VALSAS BRASILEIRAS EM

FORMA DE ESTUDOS PARA VIOLÃO DE

FRANCISCO MIGNONE:

UM CICLO REVISITADO

Tese de Doutoramento apresentada ao Departamento de Artes Plásticas

da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo,

como exigência parcial para a obtenção do título de Doutor em Artes .

Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Gandra da Silva Martins

São Paulo

2002

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Banca Examinadora: _____________________________________

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iii

para

Herton Gloeden e

Maria Francisca Paschoa Gloeden

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Agradecimentos:

Adelia Issa

Antonio Felipe Issa

Cláudio Hodnick

Flávia Prando

Irmãos Vitale

José Eduardo Martins

Leonardo Camargos

Marco Antônio da Silva Ramos

Mário da Silva

Mário Ficarelli

Maria Josephina Mignone

Maurício Roger Simão

Ricardo Marui

Sérgio Abreu

Vera de Andrade

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RESUMO

Uma nova edição das 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos (1970) para

violão de Francisco Mignone, como uma alternativa para viabilizar sua

execução. A importância deste ciclo na história do violão brasileiro e

internacional.

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ABSTRACT

A new edition of 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos (1970) for guitar

by Francisco Mignone, as an alternative to make its execution possible. The

importance of this cycle in the History of the Brazilian and International guitar

repertoire.

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SUMÁRIO

Abreviaturas........................................................................................ix

Introdução...........................................................................................1

1. O repertório brasileiro de concerto de 1944 a 1975........................5

2. A obra violonística de Francisco Mignone....................................37

3. As 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos para Violão

3.1 – Aspectos musicais ...............................................................53

3.2 – Principais fontes...................................................................81

3.3 – Critérios para a edição..........................................................87

3.4 – Partitura................................................................................90

3.5 – Notas .................................................................................144

Conclusão ........................................................................................161

Bibliografia ......................................................................................165

Anexo

1. Cópias

1.1 Cópia escaneada da 1a. página do manuscrito

1.2 Cópia escaneada da 1a. página da Valsa em do menor

1.3 Cópia do manuscrito

1.4 Cópia da 1a. edição

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viii

2. Cópias das primeiras páginas

2.1 Minuetto – Fantasia

2.2 Choro

2.3 Modinha

2.4 Repinicando

2.5 Brazilian song

2.6 Concerto

2.7 Valsa de Esquina

2.8 Variações

2.9 O impossível carinho

2.10 7a. Valsa de esquina

2.11 Dialogando

2.12 Choro

2.13 Batuque

3. Programa do recital a ser apresentado durante a defesa, com a audição

integral das 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos para violão de

Francisco Mignone.

4. Ficha técnica

5. CD com a primeira gravação das 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos

para violão de Francisco Mignone.

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ix

Abreviaturas

A contralto, alto

acomp. acompanhamento

B baixo

bd bandolim

Bt barítono

bat bateria

CD compact disc

cel celesta

clt clarinete

cor ing corne inglês

crd cordas

crv cravo

ctb contrabaixo

fem. feminino

fl flauta

hp harpa

inst instrumento

LP long playing

M mezzo-soprano

MS manuscrito

ob oboé

o.d. obra didática

órg órgão

orq orquestra

p. página

p/ para

perc percussão

pf piano

pic piccolo

qt crd quarteto de cordas

S soprano

sax saxofone

s.d. sem data

séc. século

tímp tímpanos

trbn trombone

tpt trompete

v voz

vibraf vibrafone

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x

vla viola

vlc violoncelo

vln violino

vlo violão

vol. volume

xilo xilofone

Editoras

AB Anna Blume

BE Bèrben

BR Brasiliance

CE Cembra

CH Chanterelle

CO Columbia

EA Edição do autor

EO Editora da OSESP

FE Fermata

GR Guitar Review

MA Mangione

ME Max Echig

MT Metropolis

NM Novas Metas

RA RioArte

RB Ricordi Brasileira

RI Ricordi

TO Tonos

VI Vitale

ZA Jorge Zahar Editor

ZI Zimmermann

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vii

SUMÁRIO

Abreviaturas........................................................................................ix

Introdução...........................................................................................1

1. O repertório brasileiro de concerto de 1944 a 1975........................5

2. A obra violonística de Francisco Mignone....................................37

3. As 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos para Violão

3.1 – Aspectos musicais ...............................................................53

3.2 – Principais fontes...................................................................81

3.3 – Critérios para a edição..........................................................87

3.4 – Partitura................................................................................90

3.5 – Notas .................................................................................144

Conclusão ........................................................................................161

Bibliografia ......................................................................................165

Programa do recital a ser apresentado durante a defesa, com a audição integral

das 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos para violão de Francisco

Mignone.

Ficha técnica

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viii

CD com a primeira gravação das 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos

para violão de Francisco Mignone.

Anexo

Cópias

1.1 Cópia escaneada da 1a. página do manuscrito

1.2 Cópia escaneada da 1a. página da Valsa em do menor

1.3 Cópia do manuscrito

1.4 Cópia da 1a. edição

Cópias das primeiras páginas

2.1 Minuetto – Fantasia

2.2 Choro

2.3 Modinha

2.4 Repinicando

2.5 Brazilian song

2.6 Concerto

2.7 Valsa de Esquina

2.8 Variações

2.9 O impossível carinho

2.10 7a. Valsa de esquina

2.11 Dialogando

2.12 Choro

2.13 Batuque

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Introdução

Nossa escolha por uma temática brasileira para o doutoramento deu-se em face

da necessidade de assumir um compromisso como professor e intérprete, frente à situação da

atual música de concerto no Brasil 1, vertente esta das mais marginalizadas da história artística

deste país.

A definição para a escolha final do nosso tema percorreu um longo caminho,

colocando-nos à frente da mais significativa produção violonística de nossos principais

compositores .

Os primeiros contatos com os compositores Cláudio Santoro (1919-1988) e

Mário Ficarelli (1935) 2, no trabalho de leitura, revisão e apresentação de suas obras originais

para violão entre os anos de 1985 e 1987, serviram de motivação e ponto de partida para

investigarmos a produção brasileira.

Nossa abordagem, até aquele momento, estava quase inteiramente voltada ao

repertório internacional. A inclusão de obras do repertório brasileiro era rara, exceto a obra de

Heitor Villa-Lobos (1887-1959), um dos pontos altos da história do instrumento, alvo de

numerosos ensaios, pesquisas, estudos acadêmicos e gravações pelos mais importantes ensaístas,

musicólogos e intérpretes.

De fato, o fenômeno Villa-Lobos exerce enorme fascínio não só entre violonistas.

Sua importância para a arte brasileira é incontestável e sua posição no cenário internacional

continua sendo de crescente afirmação, o que por vezes pode contribuir para colocar a produção de

1 Música de concerto é a denominação escolhida para definir nosso campo de ação, como intérprete e professor.

2 Não descartamos os contatos mantidos anteriormente com outros compositores. Partimos de Santoro e Ficarelli

em razão do interesse despertado no exame do repertório brasileiro naquele momento.

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nossos importantes compositores em segundo plano e, no caso da produção violonística, num

quase total esquecimento. Naturalmente, neste sentido, não podemos abordar o fenômeno Villa-

Lobos como o “vilão” da situação atual da música brasileira para violão, esta, uma matéria que

deve ser revista com cuidado, pois o violão brasileiro sem o criador dos Choros seria difícil de ser

imaginado. Portanto, não sendo este o tema principal desta tese, trataremos apenas como referência

às colocações históricas e estéticas.

Retomando nossa trajetória, voltamo-nos logo após o ingresso no doutorado,

em 1998, a pesquisar e apresentar uma série das obras de compositores como: Camargo

Guarnieri (1907-1993), Francisco Mignone (1897-1986), César Guerra Peixe (1914-1993),

Radamés Gnatalli (1906-1989), Lina Pires de Campos (1918), Eunica Katunda (1915-1985),

Cláudio Santoro (1919-1989), George Olivier Toni (1926), Gilberto Mendes (1927), Sérgio O.

Vasconcelos Corrêa (1934), Edmundo Villani-Côrtes (1930), Paulo Costa Lima (1954), Paulo

Porto Alegre (1953) e a música brasileira dos séculos XVIII e XIX, as quais procuramos

divulgar ao máximo em nossos recitais, tanto os originais, como transcrições voltadas à

música de câmara nas formações de voz e violão, flauta e violão, duos e quartetos de violões

3.

Durante todo este processo, o tema central desta tese mudou três vezes. O

primeiro trabalho proposto versava sobre as obras para violão de Francisco Mignone e de

Camargo Guarnieri. Pelo entusiasmo de experiências anteriores, quando apresentamos a

3 Nossa atuação, até o momento, teve a colaboração do flautista José Ananias, dos sopranos Adelia Issa e Martha

Herr, do mezzo-soprano Anna Maria Kieffer, do tenor Lenine Santos, de membros da Orquestra Sinfônica do

Estado de São Paulo, da maestrina Naomi Munakata, dos musicólogos Maurício Monteiro e Rubens Ricciardi e

do Quarteto Brasileiro de Violões composto por Paul Galbraith, Edelton Gloeden, Everton Gloeden e Tadeu do

Amaral. Parte desta produção foi registrada em gravações ao vivo, realizadas pela Radio Cultura FM 103,3 MHz

de São Paulo e nos CDs Viagem pelo Brasil (Acrom, São Paulo), Uma Festa Brasileira (Paulus, São Paulo),

Essência do Brasil (Delos, Los Angeles) e Lina Pires de Campos, Obra Camerística (Regia Musica, São Paulo).

Durante este trabalho foram realizadas primeiras audições de obras de Paulo Costa Lima, Olivier Toni, Paulo

Porto Alegre e as integrais de Lina Pires de Campos e Camargo Guarnieri.

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integral de Camargo Guarnieri e várias obras de Mignone 4, tentamos reunir dois campos

estéticos tão díspares em produções violonísticas irregulares, como veremos adiante. O

segundo tema foi idealizado a partir da produção violonística dos compositores ligados ao

movimento Música Viva. Aqui, nos deparamos com problemas que fugiam aos propósitos

estéticos do movimento, em razão da produção violonística, na sua quase totalidade, situar-se

cronologicamente em uma fase bem posterior ao movimento, acentuando as diferenças de

estilo. Outra razão, foi o contraste entre as dimensões reduzidas das produções de Cláudio

Santoro, Eunice Katunda e Edino Krieger com a obra de Guerra Peixe, de maior porte, repleta

de pequenos ciclos, que constituem capítulos à parte no repertório violonístico brasileiro.

Apesar de ter trabalhado com grande riqueza de fontes, tais temas não

possibilitavam vislumbrar uma unidade frente aos desafios do doutoramento que, como

formato ideal, procura temáticas mais específicas; porém, deram-nos a base para estabelecer o

conteúdo do capítulo O Repertório de 1944 a 1975.

A definição deu-se, por fim, após a audição das 12 Valsas de Esquina (1938-

1943) para piano, de Francisco Mignone, numa gravação realizada pelo compositor 5, quando

vislumbramos a possibilidade de uma nova abordagem, além da já realizada pelo Prof. Flávio

Terrigno Barbeitas das até então 12 Valsas (1970) para violão 6. Diferentemente deste

trabalho, nos fixamo-nos dentro dos contextos relacionados ao repertório violonístico e da

realização de uma edição que viabilize a execução deste importante ciclo.

Após o acesso aos manuscritos, através da editora Irmãos Vitale, em São Paulo,

em setembro de 2001, tomamos contato com um texto mais corrigido e melhor apresentado do que

4 A primeira audição da obra completa para violão de Camargo Guarnieri foi realizada no dia 11/05/1994 por

Edelton Gloeden no Auditório do SESC Ipiranga em São Paulo durante o Festival Camargo Guarnieri. Nas

comemorações do centenário de Francisco Mignone em 1996, foram apresentadas obras para violão solo em

diversas ocasiões, com particular destaque para a primeira audição da obra para voz e violão feita por Adelia

Issa e Edelton Gloeden no Festival de Inverno de Campos de Jordão em 1997.

5 LP Festa LDR 5001, Rio de Janeiro, s.d.

6 Circularidade Cultural e Nacionalismo nas Doze Valsas para Violão de Francisco Mignone.

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aquele editado em 1970. Além de confirmar o título 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos,

feito de próprio punho pelo compositor, estão colocados os dedilhados feitos a lápis por Antônio

Carlos Barbosa Lima (1944). Com isto, temos a fonte bibliográfica principal para viabilizar a

execução de um dos mais importantes ciclos da música de concerto para violão feita no Brasil.

Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro, 12/1995. Flavio Terrigno Barbeitas é hoje professor no Conservatório Mineiro de Música da UFMG.

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1. O Repertório Brasileiro de 1944 a 1975

Antes de partirmos para o estudo da obra violonística de Francisco Mignone e,

em particular, das suas 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos para violão solo (1970),

uma abordagem do repertório brasileiro torna-se imprescindível, para uma melhor

compreensão de conteúdos históricos e estéticos.

O violão, com sua pequena sonoridade e infinitos recursos, está presente tanto

nas manifestações das culturas espontâneas de vários povos, como nas mais elaboradas

criações de importantes compositores. O mais paradoxal dos instrumentos musicais é um dos

elementos mais fortes e vivos da cultura brasileira, porém esta constatação não parece tão

óbvia e natural, quando examinamos a produção de nossos mais importantes compositores,

exceto naturalmente, Heitor Villa-Lobos.

A história do violão no último século foi marcada pelo convívio entre

compositores e intérpretes. Junto à presença secular do compositor-intérprete, tradicional até o

início do século XX, consolidou-se a figura do compositor não violonista 1. Fatos como a

simples consulta a um método, que possibilitou a Manuel de Falla (1876-1945) a composição

de Homenaje, pour Le Tombeau de Claude Debussy (1920), a convivência de Julian Bream

(1933) junto a compositores como Benjamin Britten (1913-1976) e Hans Werner Henze

(1926), a notável Sequenza XI (1988) de Luciano Berio (1925), criada para Eliot Fisk (1954)

e, também de outra forma, como olhar indiferente de Andrés Segovia (1893-1987) às Quatre

1 Trabalho iniciado principalmente por Andrés Segovia (1893-1987) a partir dos anos 20. In. GLOEDEN,

Edelton. O Ressurgimento do Violão no Século XX: Miguel Llobet, Emilio Pujol e Andrés Segovia.. Dissertação

de mestrado apresentada ao Departamento de Música da ECA/USP, 1996, São Paulo. Naturalmente esta relação

entre compositores e intérpretes não é exclusiva da recente história do violão.

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Pièces Brèves (1933) de Frank Martin (1890-1974) retomadas por Julian Bream nos anos 60,

são exemplos que mostram que cada obra tem uma história entre compositores e intérpretes.

No Brasil, o violão sempre foi um instrumento da prática da música popular,

razão pela qual é atribuída aos violonistas uma reputação de pouco crédito. Do anedotário à

literatura, encontramos registros curiosos 2. Apenas dois dos mais contundentes exemplos

encontrados em nossa literatura: O primeiro, de Lima Barreto (1881 - 1922) é o romance

Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915), do qual selecionamos o seguinte trecho:

Não foi inútil a espionagem. Sentado no sofá, tendo ao lado o tal sujeito,

empunhando o “pinho” na posição de tocar, o major, atentamente, ouvia: “Olhe Major,

assim.” E as cordas vibravam vagarosamente a nota ferida: em seguida, o mestre aduzia: “É

‘ré’, aprendeu?”

Mas não foi preciso pôr na carta; a vizinhança logo concluiu que o major

aprendia a tocar violão. Mas que cousa? Um homem tão sério metido nessas malandragens!

Uma tarde de sol – sol de março, forte e implacável – aí pelas cercanias das

quatro horas, as janelas de uma erma rua de São Januário povoaram-se rápida e

repentinamente, de um e de outro lado. Até da casa do general vieram moças à janela! Que

era? Um batalhão? Um incêndio? Nada disto: O Major Quaresma, de cabeça baixa, com

pequenos passos de boi-de-carro, subia a rua , tendo debaixo do braço um violão impudico.

É verdade que a guitarra vinha decentemente embrulhada em papel, mas o

vestuário não lhe escondia inteiramente as formas. À vista de tão escandaloso fato, a

consideração e o respeito que o major Policarpo Quaresma merecia nos arredores de sua

casa, diminuíram um pouco. Estava perdido, maluco, diziam. Ele, porém, continuou

serenamente nos seus estudos, mesmo porque não percebeu esta diminuição...

- Policarpo, você precisa tomar juízo. Um homem de idade, com posição,

respeitável, como você é, andar metido com este seresteiro, um quase capadócio – não é

bonito!.

O major descansou o chapéu-de-sol - um antigo chapéu de sol com haste inteiramente de

madeira, e um cabo de volta, incrustado de pequenos losangos de madrepérola – e

respondeu:

- Mas você está muito enganada, mana. É preconceito supor-se que todo o

homem que toca violão é um desclassificado. A modinha é a mais genuína expressão da

poesia nacional e o violão é o instrumento que ela pede. Nós é que temos abandonado o

2 Ver: o verbete Violão in ANDRADE, Mário. Dicionário Musical Brasileiro, Belo Horizonte, Itatiaia, 1989, p.

561; LIMA BARRETO, Alfonso Henrique de. Triste fim de Policarpo Quaresma, p. 14, 3a. ed., Rio de Janeiro,

Record, 1999;

AMADO, Jorge. O país do carnaval, 49a. ed., p. 62, Rio de Janeiro, Record, 1999.

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gênero, mas ele já esteve em honra, em Lisboa, no século passado, com o Padre Caldas, que

teve um auditório de fidalgas. Beckford, um inglês notável, muito o elogia.

- Mas isso foi de outro tempo; agora...

O segundo, também citado por Mário de Andrade (1893-1945), é de Jorge

Amado (1912-2001) em seu O País do Carnaval (1931), onde encontramos o seguinte trecho:

- Eu não sou nem um nem outro. O Brasil não deve importar sistemas

políticos. Nós até hoje temos importado tudo. Até uma constituição. Demo-nos bem com ela?

Nós precisamos é nacionalizar tudo. Desde os sistemas de governo até as prostitutas...Nem

comunismo, nem fascismo...Nem polacas, nem francesas...- explicava doutoralmente Ricardo.

- Cuidado, Ricardo, esse rubi traz uma doença contagiosa: a retórica... Pois eu

sou comunista...- e Rigger engasgou-se com um pedaço de carne.

Jerônimo não acreditava:

- Comunista, você? Um aristocrata? “Comigo não, violão...”

Das apresentações em pequenos saraus, festas e serenatas do final do séc. XIX,

até o advento do rádio implantado no Brasil, em 1922, os violonistas locais atuavam

principalmente em grupos regionais. Entre os mais conhecidos, e possivelmente os mais

importantes que consolidaram esta tradição do violão em nossa música popular, citamos estes,

entre três gerações: Joaquim Francisco dos Santos, o ‘Quincas Laranjeiras’ (1873-1935), João

Teixeira Guimarães (1883-1947) o ‘João Pernambuco’, Américo Jacomino (1889-1928) o

‘Canhoto’, Aníbal Augusto Sardinha (1915-1955) o ‘Garoto’, Dilermando Reis (1916-1977) e

Laurindo de Almeida (1917-1995).

A presença do violão em recitais e nas grandes salas de concertos, até meados

do século XX, era esporádica no Brasil. Chama-nos a atenção a passagem de violonistas

estrangeiros, como Josephina Robledo (1897 - ?), Agustin Barrios (1885-1944), Andrés

Segovia e Julio Martinez Oyanguren (1905-1973), apenas para citar alguns dos mais

importantes.

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A espanhola Josephina Robledo, uma das últimas discípulas de Francisco

Tárrega (1852-1909), chegou ao Brasil por volta de 1916, em uma tournée. Permaneceu aqui

até 1923, residindo em São Paulo e Rio de Janeiro, quando transmitiu os ensinamentos de

Tárrega. Teve entre seus discípulos o paulista Osvaldo Soares, não muito prestigiado por

Domingo Prat (1886-1944), o principal cronista de violão da época 3. Robledo cultivou a

amizade de Catulo da Paixão Cearense (1866-1946), com quem se apresentava em saraus,

mostrando seus arranjos para violão, como este da canção Ontem, ao luar, que o poeta,

teatrólogo, cantor e compositor maranhense fez em parceria com o flautista e compositor

carioca Pedro de Alcântara (1866-1921).

O lendário violonista e compositor paraguaio Agustín Barrios (1885-1944)

percorreu nossos principais teatros, de Pelotas a Manaus, entre 1916 e 1931. Foi reverenciado

por Olavo Bilac (1865-1918), Coelho Neto (1864-1934) e Manuel Bandeira (1886-1968) e

entre suas obras, as conhecidas de caráter brasileiro, como a Maxixe (1920) e o Chôro da

Saudade (1931).

3 In GLOEDEN, Edelton. op. cit. p. 162.

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A. Barrios: compassos iniciais do Maxixe

A. Barrios: compassos iniciais do Chôro da saudade

As atuações do uruguaio Julio Martinez Oyanguren despertaram a atenção nas

crônicas de Lamberto Baldi, Lorenzo Fernandez (1897-1948) e Mário de Andrade (1893-

1945) 4. Andrés Segovia fascinou nossas platéias em 1937, 1942, 1950, 1953 e 1957 5.

4 In. ANDRADE, Mário. Música e Jornalismo. (org. Paulo Castagna) ps. XXVIII, 228 e 232.

5 Andrés Segovia viveu de 1936 até o final da 2a. Guerra Mundial em Montevidéu, Uruguai.

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O violão foi introduzido no ensino oficial de música no Brasil em 1947, quando o

violonista uruguaio Isaías Sávio (1900-1977) ingressou no Conservatório Dramático e

Musical de São Paulo. Podemos considerar que este foi o ponto de partida para o

aparecimento de uma nova geração de violonistas que, nas décadas seguintes, começou a

mudar o perfil do instrumento no país. Orientados principalmente por Isaías Sávio e Antonio

Rebello (1900-1965), do Rio de Janeiro, esta geração apareceu no momento da afirmação

internacional do violão nos anos 50 e 60, que aconteceu principalmente através dos grandes

cursos de Siena e Santiago de Compostela, dirigidos por Andrés Segovia, e também com Abel

Carlevaro (1918-2001), Narciso Yepes (1927-1997), Alírio Diaz (1923), Julian Bream (1933)

e John Williams (1941), que então iniciavam suas carreiras. Entre os principais violonistas

brasileiros que irão atuar de forma pioneira, junto a compositores brasileiros citamos: Geraldo

Ribeiro (1939), Turíbio Santos (1940), Maria Lívia São Marcos (1942) e Antônio Carlos

Barbosa Lima (1944).

Um pouco antes do aparecimento desta geração de violonistas brasileiros que

mencionamos acima, o repertório brasileiro de concerto, posterior a Villa-Lobos, escrito para

violão solo, violão e orquestra e também inserido em formações camerísticas, começa a surgir

a partir de 1944, através de Camargo Guarnieri (1907-1993), Eunice Katunda (1915-1990),

César Guerra Peixe (1914-1993), Ascendino Theodoro Nogueira (1913) e Radamés Gnattali

(1906-1988). Nesta produção dos anos 40, à exceção de Gnattali e do próprio Mignone, pelos

fortes vínculos com a música popular, as iniciativas dos autores acima citados apareceram

isoladamente, como veremos mais adiante.

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11

Nas tabelas que seguem abaixo procuramos, num primeiro levantamento, dar

uma mostra da produção brasileira de concerto até o final dos anos 80, com importantes obras

de referência do repertório internacional 6.

1. OBRAS PARA VIOLÃO SOLO

Ano Título Autor Edição Referências do Repertório

Internacional

1944 Ponteio Guarnieri, C. RB

1946 Suite Guerra Peixe, C. MS Castelnuovo-Tedesco, M., Rondó;

Hába, A., Vierteltongitarre, Op.63;

Smith-Brindle, R., Nocturne

1947 Rodrigo, J., Tiento antiguo

1948 Dança Brasileira Gnattali, R. CH Ardévol, J., Sonata

1949 Ponteio Th. Nogueira, A. MS

1951 Toccata em ritmo de

samba no.1

Gnattali, R. CH Harrison, L., Serenade;

Orbón, J., Preludio y Danza;

Tansman, A., Cavatina

1953 Modinha;

Repinicando;

Minueto Fantasia;

Chôro

Mignone, F. GR

1954 Valsa Chôro

no. 1

Guarnieri, M.C. RB Rodrigo, J., Tres piezas españolas;

Bajando de la Meseta;

Tansman, A., Trois pièces

1955 Valsa Chôro no. 2 Th. Nogueira, A. RB Apostel, H.E., Sechs Musiken

Prelúdio Krieger, Edino ZA

1956 Smith Brindle, R., El Polifemo de

Oro

1957 Canto Caipira no.5 Th. Nogueira, A. MS Gerhard, R., Fantasia;

Krenek, E., Suite Op. 164;

Milhaud, D., Segoviana;

Ohana, M., Tiento

Brasiliana no. 1

Brasiliana no. 2

Brasiliana no. 3

Th. Nogueira, A. RB

1958 Estudo no. 1 Guarnieri, M.C. RI Apivor, D., Variations;

Berkeley, L., Sonatina;

Miroglio, F., Choreïques;

Sauguet, H., Soliloque

Brasiliana no. 4 Th. Nogueira, A. RB

6 Na medida do possível, procuramos completar ao máximo o conteúdo das tabelas até o ano de 1975. A

extensão até o final da década de 80, justifica-se para possibilitar uma maior visibilidade desta produção, ligada

principalmente a importantes compositores que não eram violonistas.

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12

Brasiliana no. 5

Valsa Chôro

no. 4

Valsa Chôro

no. 5

1959 12 Improvisos

4 Serestas

Valsa Chôro

no. 1

Th. Nogueira, A. RB Brouwer, L., Tres Apuntes;

Ghedini, G.F., Studio da Concerto;

Petrassi, G., Suoni Noturni;

Rodrigo, J., Junto al Generalife

Valsa Chôro

no. 1

Vasconcellos

Corrêa, S.

RB

Ponteio Lacerda, O. MS

1960 Moda a Paulista Lacerda, O. RB Auric, G., Hommage a Alonso

Mudarra;

Goubaïdoulina, S., Sérénade;

Poulenc, F., Sarabande;

Rodrigo, J., Sonata Giocosa

Valsa Chôro

no. 3

Th. Nogueira, A. RB

1961 Valsa Lacerda, O. MS Arrigo, G., Serenata per chitarra;

Castelnuovo-Tedesco, M.

24 Caprichos de Goya;

Kurtag. G., Cinque Merrycate

1962 Rodrigo, J., Invocación y danza;

Tansman, A., Suite in modo polonico

1963 Suite Nazareth Katunda, E. MS Britten, B., Nocturnal Op. 70;

Company, A., Las seys cuerdas;

Dodgson, S., Partita I;

Hallfter, C., Codex I;

Mompou, F., Suite compostelana;

Ohana, M., Si le jour paraît

Prelúdio Escobar, A. NM

1964 RB Brouwer, L., Elogio de la Danza

1965 Drogoz, P., Suite percutante

Jolivet, A., 2 Études de concert

1966 Prelúdio no. 5 Guerra Peixe, C. FE

1967 10 Estudos Gnattali, R. CH Scelsi, G., KO-THA;

Einem, G.von., Drei Studien;

Guastavino, C., Sonata no.1

1968 Bennet, R.R., Impromptus;

Brouwer, L., Canticum

1969 Prelúdio no. 1 Guerra Peixe, C FE Dodgson. S., Fantasy-Divisions;

Guastavino, C., Sonata no. 2

Sonata Guerra Peixe, C. VI

1970 Prelúdio no. 2

Prelúdio no. 3

Prelúdio no. 4

Guerra Peixe, C. FE Apivor, D., Discanti;

Asencio, V., Suite Valenciana;

Col.lectici íntim;

Berkeley, L., Theme and Variations

12 Estudos Mignone, F. CO

12 Valsas Mignone, F. VI

Brazilian Song Mignone, F. GR

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13

Cortejo Souza Lima, J. de VI

Ponteio Pereira da Silva, A. RB

1971 Solilóquio Escalante, E. RB Asencio, V., Suite mística;

Brouwer, L., La Espiral Eterna;

Fricker, P.R., Paseo Op.61;

Hespos, H.J., KITARA;

Orrego-Salas, J., Esquinas;

Petrassi, G., Nunc;

Rawsthorne, A., Elegy;

Rodrigo, J., Elogio de la guitarra;

Walton, W., 5 Bagatelles

1972 7 Brazilian Etudes Fonseca, C.A.P. da CO Huber, K., Ein Hauch von Unzeit V

Maderna, B., Y Después;

Maxwell Davies, P., Lullaby for Ilian

Rainbow;

Rodrigo, J., Pájaros de primavera

Prelúdio Katunda, E. MS

1973 Prelúdio no. 1 Katunda, E. MS Brouwer, L., Parabola;

Guastavino, C., Sonata no. 3;

Henze, H.W., Memorias deEl

Cimarrón

Tocata ponteada Guerra Vicente, J. NM

1974 Livro das 6 Cordas Almeida Prado, J.A. ME Brouwer, L., Tarantos;

Takemitzu, T., Folios

Brasileiras

(ed.1974)

Bosmans, A. MT

Sonatina Vasconcellos

Corrêa, S.

RB

Ritmata Krieger, E. ME

Momentos I Nobre, M. ME

Divertimento Souza Lima, J. de VI

1975 Portrait Almeida Prado, J.A. TO Henze, H.W., Royal Winter Music I;

de la Vega, A., Sound Clouds;

Vivier, C. , Pour guitare

3 Prelúdios Campos, L. P. RB

Suite Mahle MS

Momentos II Nobre, M. ME

1976 Momentos III Nobre, M. ME Dodgson, S., Partita II;

Ginastera, A., Sonata

Variações sobre

Luar do Sertão

Valsa de Esquina

Mignone, F. FE

Sighs Antunes, J. ZI

1977 Homenagem a

Villa-Lobos

Nobre, M. TO Donatoni, F., Algo;

Murail, T., Tellur;

Rodrigo, J., 2 Prelúdios

Estudo no. 1 Coelho de Souza, R. NM

Estrias III Valle, R. do MS

1978 Introdução, Ponteio

e Tocatina

Campos, L. P. VI

Divagações Amaral Vieira, J.C. VI

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poéticas

Verdades Côrtes. M. VI

Estudo no. 1 Scliar, E. FN

Serenada Op. 113 Widmer, E. MS

1979 Etéreo Ficarelli, M. MS Henze, H.W., Royal Winter Music II;

Lúdicas 1 a 7 Guerra Peixe, C. VI

Tiradentes op. 119 Widmer, E. MS

1980 Sonatina Kaplan, J.A. CH

3 Valsas brasileiras

Batuque

Mignone, F. MS

Lúdicas 8 a 10 Guerra Peixe, C. VI

1981 Sonata no. 1 Almeida Prado, J.A. TO Amy, G., Quasi une toccata

Brouwer, L., El Decameron Negro;

Denissov, E., Sonate;

Manzoni, G., Echi;

Maxwell Davies, P., Hill Runes

Nodaira, I., Arabesque IV

Rodrigo, J., Un tiempo fue Italica

famosa

Toccata em ritmo de

samba no. 2

Gnattali, R. CH.

Breves Guerra Peixe, C. VI

1982 Momentos IV ,

Momentos V

Nobre, M. ME

MS

Dodgson, S., Partita III;

Ohana. M., Cadran lunaire

Peixinho, J., L’Oiseau lyre

Estudo no. 1 Santoro, C. SA

2 Prelúdios Santoro, C. ME

1983 Poesilúdio no. 1 Almeida Prado, J.A. TO Bennett, R.R., Sonata;

Carter, E., Changes;

Lombardi, L., Thamar y Amnòn

Faz de conta...

Música sem nome

Quiçá

Kiefer, B. MS

Lúdica I Tacuchian, R. ME

Brasiliana no. 13 Gnattali ME

Cadernos de Mariza Guerra Peixe, C. VI

Estudos no. 2

Estudo no. 3

Guarnieri, M.C. BE

Fantasia Sul

América

Santoro, C. SA

1984 Peixinhos da Guiné Guerra Peixe, C. MS D’Angelo, N., Due canzone lidie;

Maxwell Davies, P., Sonata;

Tippet, M., The Blue Guitar

Momentos VI e

Momentos VII

Nobre, M TO

Prólogo e Toccata

Nobre, M. ME

Lúdica II Tacuchian, R. ME

Appassionata Miranda, R. MS

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Mosaico Vieira Brandão, J. ZA

1985 Pequena Suite Gnattali, R. ME

Prelúdio no. 4 Campos, L.P. RB

1986 Valsa Choro

no. 2

Guarnieri, M.C. MS Brouwer, L., Paisaje Cubano con

Campanas;

Reynolds, R., The Behavior of

Mirrors

Solbiati, A., Tre Pezzi

6 Peças para Violão Vasconcellos

Corrêa, S.

EA.

1987 Romanceiro Krieger, E. ZA Dillon, J., Shrouded Mirrors

1988 A Francisco

Mignone

Bosmans, A. MS

Profiles Tacuchian, R. MS Berio, L., Sequenza XI;

Takemitzu, T. All in twilight

1989 5 Peças Widmer, E. MS Ferneyhough, R., Kurze Schatten II;

Koskelin, O., Tutte le corde

2. OBRAS PARA VIOLÃO E ORQUESTRA

Ano Título Autor Edição Referências do repertório

internacional

1950 Concerto carioca no.1 p/ pf,

vlo eletr., orq e bat de escola

de samba

Gnattali, R. BR Ohana, M., Trois Graphiques

1951 Concertino n.1 (Concerto de

Ipanema) p/ vlo. e orq.

Gnattali BR

Concertino no. 2 p/ vlo e

orq

Gnattali, R. BR

Concerto p/ vlo e pequena

orq

Villa-Lobos, H. ME

1954 Rodrigo,J., Fantasia para un

Gentilhombre

1958 Brouwer, L., 3 Danzas

Concertantes

1966 Rodrigo, J., Concierto Madrigal

p/ 2 vlões e orq.

1967 Concertino no. 3 (Concerto

de Copacabana) p/

vlo, crd, fl, tímp e bells

Gnattali, R. BR

Concerto no. 4 (Concerto à

brasileira) p/ vlo e crd

Gnattali, R. BR

1968 Concerto p/ 2 vlo, ob e crd Gnattali MS

1969 Concertino p/ vlo e orq Th. Nogueira, A. RB

1970 Bennnett, R.R., Concerto

1971 Diálogo p/ vlo e crd Mahle, E. MS

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16

1972 Brouwer, L., Concerto

no.1

1975 Concerto p/ vlo e orq Mignone, F. RA

1979 Lúdicas p/ vlo e qt crd ou

orq. de crd (4+4+2+2+1)

Guerra Peixe, C. MS

1983 Fantasia Sul América p/

vários instrumentos, v, e orq

Santoro, C. SA Brouwer, L., Retratos

Catalanes;

Takemitzu, T., The Edge of

Dream

Sertania – Sinfonia do

Sertão, Op. 138 p/ v, vlo e

orq

Widmer, E. MS

1986 Henze, H.W., An eine Äolsharfe

1989 Kurtag, G., Grabstein für

Stepan, op. 15 c p/ guitare et

groupes instrumentaux dispersés

dans l’space

3- MÚSICA DE CÂMARA

Ano Título e formação Autor Edição Referências do repertório

internacional

1944 Serestas p/ fl., vlo e qt

crd

Gnattali, R. BR Burkhard, W., Serenade p/ fl e vlo

1946 Negrinho do Pastoreio

Cantata p/ vv fem., a

capella ou com acomp.

ocasionais de fl, vlo e

perc

Katunda, E. AB Burkhart, F., Toccata p/ 2 vlo

1951 Pacto de paz p/ S, M, A,

Bt, B, coro misto, pic, fl,

vlo, 2 vla e perc

Katunda, E. MS Castelnuovo-Tedesco, M., Romancero

gitano Op. 152 p/ coro e vlo

1954 Suite de Dança popular

brasileira p/ vlo, pf e

perc

Gnattali, R. MS Boulez, P., Le marteau sans maître

p/ a, fl em sol, vla, vlo, vbraf, xilo,

perc;

Stravinsky, I., 4 Russian Songs p/ v,

fl, vlo, hp

1956 Jolivet, A., Sérénade p/2 vlo

1957 2a. Sonatina p/ vlo e pf

(ou crv)

Gnattali, R. BR Britten, B., Folksong arrangements

p/ vz e vlo

1958 Britten, B., Songs from the Chinese, Op.

58 p/ T e vlo;

Seiber, M., The Owl and the

Pussycat p/ v, vln, vlo

Henze, H.W., Kammermusik 1958

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1959 Sonata p/ fl e vlo Gnattali, R. CH Krenek, E., Hausmusik

Oratório de Sta. Maria

Egipcíaca p/ 3 vvs

faladas, A, ob (cor ingl),

clt, ctb

Widmer, E. MS

1960 Musik für Sopran, Tenor

(...) nach 2 Minneliedern

Widmer, E. MS Castelnuovo-Tedesco, M., Platero y

Yo p/ vlo, narr.

Gráfico de la Petenera

Op. 21p/ v e vlo.

Widmer, E. MS

1962 Castelnuovo-Tedesco, M., Les

guitares bien tempérés op.199 p/ 2

vlo;

Petrassi, G., Seconda Serenata-Trio

p/ bd, vlo, hp

1965 Castelnuovo-Tedesco, M. Sonatina

Op. 205 p/ fl e vlo;

Maderna, B., Aulodia per Lothar p/

ob d’amore e vlo ad libitum

1966 Sonatina p/ vlc e 2 vlo Gnattali, R. MS Castelnuovo-Tedesco, M., Eclogue

p/ fl, cor ing e vlo

Modinha p/ v, fl e vlo Nobre, M. TO

1967 2 Peças p/ canto e vlo Mahle, E. MS

1968 Dia da graça p/ v. e vlo Nobre, M. TO Gerhard, R., Concerto for 8; Libra

1969 Sonata p/ vlc e vlo Gnattali, R. CH

2 Canções p/ v e vlo

I- Cântico II

II- Resta, assim, é

remover;

Mãe-d’água, canto

vocalizado e vlo

Guerra Peixe, C. MS Takemitzu, T., Stanza I p/ vlo, hp,

pf, cel, vibraf, vlc

1970 Dueto Característico p/

vln e vlo

Guerra Peixe, C. MS Brouwer, L., Per suonare a tre p/ fl,

vla e vlo;

Bozza, E., Polydiaphonie p/ fl, vlo

Rotter, J., Trio-Divertimento p/ vl,

vlo, ctb;

Henze, H.W., El Cimarrón: recital p/ 4

musicians (Bt, fl, vlo, perc)

Galope p/ vln, vla,

vlo, 2 fl e bat

Guerra Peixe, C. MS

De Rabeca e Viola p/

vln e vlo

Guerra Peixe, C. MS

Es singt die leise

Mittenacht Op. 68 p/ 3

coros SATB/SA/TTBB),

fl, vlo, órg, 2 perc,

SATB solistas

Widmer, E. MS

1971 Introdução e chôro p/

vln e vlo

Gnattali, R. MS

1973 Lebendige Steine Op. 82 Widmer, E. Brouwer, L., Per suonare a due p/ 2

vlo

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18

p/ 2 coros, narr., tp, vlo,

órg, 2 perc

1974 Enigma p/ fl e vlo Blauth, B. RB Dodgson, S., Duo p/ vlc e vlo;

Henze, H.W., Carillon, Récitatif,

Masque p/ bd., vlo e hp

Duo I p/ fl e vlo Corrêa de

Oliveira, W.

MS

Prelúdio e Fuga p/ 2 vlo Mignone, F. MS

Desafio p/ fl e vlo Vasconcellos

Corrêa, S.

RB

Peça p/ fl e vlo Souza Lima, J. de RB

1976 Choro p/ v e vlo Mignone, F. MS

Dialogando p/ S. e vlo. Mignone, F. MS

O impossível carinho p/

v e vlo.

Mignone, F. MS

1977 Estudo no. 1 p/ narr. e

vlo

Coelho

de Souza, R.

NM Denissow. E., Sonate p/ fl e vlo;

Kutavicius, B., Clocks of the past I

p/ vlo e qt crd;

Lachenmann, H., Salute für

Caudwell p/ 2 vlos;

Suter, R., La Scesa p/ 3 clt. e vlo

1978 Homenagem a Villa-

lobos p/ vlo e 8 inst.

Richter, F. MS

1979 Lúdicas p/ vlo e qt crd

ou orq de crd

(4+4+2+2+1)

Guerra Peixe, C. MS Henze, H.W., Arien des Orpheus p/

vlo, hp, crv e crd;

Kurtag, G., A Kis csáva, op. 15 p/

pic, trbn e vlo.

Trio Op. 117 p/ vln, vlc

e vlo

Widmer, E. MS

1980 Yanomani p/ coro, T e

vlo

Nobre, M. TO

1981 Chôro p/ 2 vlo Mignone, F. MS Takemitzu, T., Toward the Sea p/ A

fl. e vlo

Suite p/ vlo e crv Richter, F. MS

Quadras ao gosto

popular p/ v e vlo ou

S/M/A e vlo,

Ou isto ou aquilo,

Leilão de jardim,

Figurinhas p/ v e vlo ou

S/M/A e vlo

Mahle, E. MS

1983 3 Danças Brasileiras p/

2 vlo.

Nobre, M. TO

1984 A briga dialética dos

estilos p/ fl, vla e vlo

Santoro, Cl. MS Denisov, E., In Deo Speravit cor

meam p/ vln, vlo e órg.

1985 Sonata p/ vln e vlo Mahle, E. MS

Improvisation à 3 p/ fl,

vla e vlo

Santoro, C. MS

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19

1986 Caderno de Mariza p/ fl

doce soprano e vlo

Guerra Peixe, C. MS Babbit, M., Soli e Duettini p/ 2 vlo.;

Manoury, P., Musique I pour

cordes pincées

1987 Natal p/ voz e vlão Mahle, E. MS

1988 Ulisses in Copacabana...

p/fl, clt, tpt, sax, pf, vlo,

vln, vla, ctb

Mendes, G. EO Fedele, I., Bias p/ ob e vlo

O exame da produção contida nas tabelas acima nos leva às seguintes

constatações:

1- Até 1980, a estética nacionalista é predominante, principalmente pela presença de

lideranças forjadas por Mário de Andrade, como Camargo Guarnieri e Francisco Mignone

(1897-1986), seguidos por Guerra Peixe (1914-1993), também um simpatizante do

pensamento do autor de Macunaíma e, de maneira independente; Radamés Gnattali, dono da

maior produção violonística brasileira, resultante do convívio com várias gerações de

violonistas, tanto da música popular quanto da música de concerto. Juntando a esta produção a

obra para violão de Ascendino Theodoro Nogueira (1913), temos a base principal do

repertório nacionalista brasileiro situado entre 1944 e 1975, razão pela qual faremos um breve

comentário sobre esta produção, com exceção de Francisco Mignone, que trataremos nos

próximos capítulos.

O encontro em São Paulo, entre Camargo Guarnieri (1906-1993) e o violonista,

professor e compositor Abel Carlevaro, na década de 40, marcou o início do repertório

nacionalista brasileiro, cuja primeira composição foi o Ponteio (Prelúdio) para violão solo,

escrito em 1944. Após ouvir as Variations sur Folia de España et Fugue (1929), do

compositor mexicano Manuel Ponce (1886-1948), executadas pelo músico uruguaio 7.

7 Abel Carlevaro nos relatou os detalhes dos encontros com Camargo Guarnieri e Villa-Lobos nos anos 40, em

uma entrevista concedida à Rádio USP, realizada em abril de 1999, no programa Violão em Tempo de Concerto.

O Ponteio, de Camargo Guarnieri, foi gravado por Carlevaro nos anos 50 e posteriormente registrado em CD

pelo selo Formosa Melodiya, Taiwan. Carlevaro fez a estréia mundial dos Prelúdios de Villa-Lobos na Rádio

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Guarnieri tomou a iniciativa de criar esta sua primeira obra violonística, em

meio à composição dos 50 Ponteios (1931 a 1959) para piano, um grande ciclo concebido na

essência do tocar e na sonoridade dos instrumentos de cordas dedilhadas, como o violão e a

viola sertaneja, que podemos captar nos Ponteios de no. 30 e 45, respectivamente.

Camargo Guarnieri: Trecho do Ponteio no 30

Camargo Guarnieri: compassos iniciais do Ponteio no 45

O Ponteio (1944) está entre suas melhores realizações violonísticas. O

compositor não abre mão de seu estilo, mesmo explorando um campo novo. Passagens

polifônicas de textura simples são interrompidas por duas seqüências de tremolos

praticamente atonais, fazendo desta obra a mais ousada escrita para violão até o aparecimento

dos trabalhos de Almeida Prado (1943), Edino Krieger (1928) e Marlos Nobre (1939) nos

anos 70.

Nacional do Rio de Janeiro em 1941, segundo o seu depoimento, e em recital em Montevidéu a 11/12/1942, de

acordo com o catálogo do Museu Villa-Lobos, Villa-Lobos, sua obra, pg. 149, 3a. ed., Rio de Janeiro, Museu

Villa-Lobos, 1989.

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Camargo Guarnieri: trechos do Ponteio

Guarnieri, como muitos compositores brasileiros que estamos mencionando,

não escrevia para violão com naturalidade. Isto pode ser constatado pelo número reduzido de

composições - apenas seis peças - escritas esparsamente, quase todas encomendadas, e de

grande dificuldade técnica. O violonista Everton Gloeden (1957) nos informou que Guarnieri

tinha como referência principal para abordar a escrita violonística a mão esquerda do piano.

Nos anos 50, escreveu a Valsa-Choro no. 1 (1954), bem característica do seu estilo polifônico

e o Estudo no. 1 (1958) de transcendental dificuldade para a mão esquerda, dedicado a Isaías

Sávio, que fez um belo trabalho de revisão. Ao retomar suas obras para violão nos anos 80,

seu estilo já é mais abstrato. Os Estudos no. 2 e 3 (1983), em parte, retomam as idéias do

primeiro, encerrando sua produção violonística com uma sombria Valsa-Choro no. 2 (1986).

É interessante notar que há um aumento progressivo da dificuldade técnica no decorrer das

três primeiras obras, que é refletido no mesmo modo na retomada dos três trabalhos da década

de 80. Infelizmente, estas obras para violão não atingiram a genialidade de suas mais singelas

criações pianísticas, um paradoxo entre os compositores nacionalistas brasileiros mais

representativos, que tinham como ideal estético o som da viola sertaneja e do violão.

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Entretanto, este fato não poderia servir de motivo para que esta importante obra esteja

relegada a um segundo plano.

Camargo Guarnieri: compasos iniciais do Estudo no. 1

Theodoro Nogueira foi aluno de Guarnieri. Explorou na sua obra violonística

um universo sonoro voltado praticamente ao folclore paulista, em particular, a chamada

‘música caipira’. Teve como colaborador constante o violonista baiano Geraldo Ribeiro, que

gravou boa parte desta obra. Talvez por adotar uma rigorosa escrita serrada entre duas e três

vozes, sua obra aparentemente apresenta uma dificuldade técnica não proporcional ao

rendimento sonoro. Sua produção violonística está hoje praticamente esquecida pelos

intérpretes, necessitando de novas abordagens, além do fato do compositor estar em atividade.

Theodoro Nogueira empreendeu um grande esforço para incluir a viola brasileira, como assim

a denominava, na categoria de instrumento de concerto. Na década de 60, escreveu 7

Prelúdios para viola solo, um Concertino para viola brasileira e orquestra de câmara, e uma

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inclusão na Missa a Nossa Senhora dos Navegantes 8. Theodoro Nogueira transcreveu obras

de Bach para violino solo para este instrumento, que também foram gravadas por Geraldo

Ribeiro 9.

Theodoro Nogueira: compassos iniciais da Brasiliana no 1

César Guerra Peixe é um dos mais importantes compositores que contribuíram para

a literatura violonística brasileira. Diferentemente de Guarnieri, sua obra para violão ocupa uma

posição importante na totalidade de sua produção. Podemos apontar alguns fatores relevantes sobre

esta sua face criativa como:

a- O contato com a música popular na juventude, quando adquiriu conhecimentos básicos do

instrumento. Aqui temos um caso muito próximo ao de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), no

que se refere ao manuseio e forma de tratamento instrumental, ou seja, um compositor que

dominava plenamente a escrita violonística. É preciso lembrar que Guerra Peixe possuía fortes

restrições ao compositor Villa-Lobos, de quem foi um crítico mordaz, exceção feita à sua obra

8 Estas obras também foram gravadas nos anos 60. Os 7 Prelúdios e o Concertino por Antônio Carlos Barbosa Lima e

orquestra dirigida por Armando Belardi, LP, HI-FI CMG-1019 Chantecler, São Paulo s.d. A Missa a Nossa Senhora

dos Navegantes também foi gravada pelo intérprete paulista, com o Coral e Conjunto Instrumental de São Paulo, sob

regência de Miguel Arqueróns, LP HI-FI, CMG 1027, Chantecler, São Paulo s.d.

9 LP intitulado Bach na Viola Brasileira, FB 317-B, Fermata, São Paulo, 1971, onde incluiu, na contra-capa, um

artigo publicado na Gazeta em 24/08/1963 intitulado Anotações para um estudo sobre a viola: Origem do

instrumento e sua difusão no Brasil, onde Guerra Peixe é mencionado. Viola brasileira é o nome dado por

Ascendino Theodoro Nogueira à viola caipira ou viola sertaneja.

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violonística que ressaltava como uma das mais importantes contribuições do criador das

Bachianas Brasileiras 1 0 ;

b- Sua atividade como folclorista através das pesquisas de campo iniciadas logo após a

chegada ao Recife, e depois no Estado de São Paulo, onde familiarizou-se com instrumentos

populares como a viola sertaneja. Passa então a utilizar nos títulos de suas obras, uma

terminologia relacionada às formas de execução destes instrumentos, como: Ponteado, De

Viola e Rabeca, Moda e Rasgueado entre outros. Junto com Ascendino Theodoro Nogueira e

Jorge Antunes (1942) é um dos poucos compositores que escreveram para este instrumento;

c- A atividade de compositor e professor, preocupado com a criação de obras didáticas voltadas à

música nacional. Guerra Peixe é o único, entre os mais destacados mestres brasileiros, a criar uma

obra didática de grande interesse, onde a introdução de elementos da linguagem musical e a

progressividade técnica são abordadas sem concessões. Talvez seja este um dos motivos pelos

quais estas obras sejam pouco acessíveis para um estudante em fase inicial de aprendizado 11. De

qualquer forma, examinando todo o conjunto de sua obra didática, o violão foi o instrumento

mais privilegiado. Podemos afirmar aqui também a influência de Béla Bartók (1881-1945),

do qual o compositor petropolitano transcreveu, em 1969, oito peças para dois violões

extraídas do Mikrokosmos, para as classes de violão da Pró-Arte Seminários de Música e

Seminário de Música do MIS do Rio de Janeiro;

d- A inclusão do violão em sua música de câmara. Aqui, uma especial ligação com o

Movimento Armorial, que apareceu em 1970, ao qual Guerra Peixe contribuiu

significativamente. A julgar pelo seu trabalho desenvolvido desde os anos 50, pode-se dizer

10 Ver depoimento contido no vídeo O Índio de Casaca, Manchete Vídeo, Rio de Janeiro, 1987.

11 A obra didática de Guerra Peixe tem sido adotada com sucesso nas nossas classes da Escola Municipal de

Música de São Paulo nos anos 90 e na graduação do Departamento de Música da ECA/USP nas disciplinas de

instrumento e prática instrumental.

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que sua linguagem musical já se colocava como precursora deste movimento. As obras de

câmara com violão, escritas especialmente para Movimento Armorial são as seguintes: Dueto

Característico, no estilo popular nordestino (1970) para violino e violão, Galope (1970) para

violino, viola, violão, 2 flautas e bateria e De Viola e Rabeca (Mourão), para violino e violão.

Examinando os oito itens da sua obra violonística, podemos fazer uma divisão

em quatro grupos. No primeiro, uma concentração de peças de repertório, a Suite, os

Prelúdios e a Sonata (itens 1 a 3). A Suite (1946), por mais paradoxal que possa parecer, é

talvez a primeira obra para violão solo de todo o repertório, onde é utilizada uma série

dodecafônica. Ao mesmo tempo, ela marcou o início do abandono de Guerra Peixe do uso

desta técnica 1 2 . Paradoxal também, é apontar o motivo que levou o autor do Museu da

Inconfidência a criar uma obra desta natureza para violão solo em 1946, e para que

intérprete, naquela época, estaria destinada. No período da composição desta Suite, o

compositor naturalmente começava a afastar-se do dodecafonismo. Sua obra anterior, a 1a.

Sinfonia (1946), já apresentava sinais de mudança como declarou o compositor:

Depois da Sinfonia n.1, o propósito nacionalizante parte da própria série; e o dodecafonismo

é cada vez mais distante. Grandes discussões com Mozart de Araújo, em torno do problema

do “caráter” nacional na música brasileira. Tão seguro está da enganadora possibilidade de

conciliar um certo tipo de dodecafonismo com elementos do populário, que compõe –

tentando prová-lo a Mozart de Araújo – a Suíte (antes “Três Peças”) para violão,

introduzindo na obra remotas sugestões de música popularesca. Agora o ritmo brasileiro se

faz imprescindível, embora diluidamente: Ponteado (antes “Ponteio”, Acalanto e Choro)1 3 .

12 A utilização das técnicas seriais no repertório para violão solo começa a partir dos anos 50. Sechs Musiken für

Gitarre Op. 25 (1955) de Hans Erich Apostel (1901-1972), El Polifemo de Oro (1956) de Reginald Smith

Brindle (1917) e a Suite (1957) de Ernst Krenek (1990-1991), são os exemplos para violão solo deste período.

Anteriormente o violão foi utilizado em obras camerísticas capitais que marcaram a história das técnicas seriais,

como a Serenade Op. 24 (1923) de Arnold Schoenberg (1874-1951), Drei Lieder Op. 18 (1925) e Zwei Lieder

Op. 19 (1926) de Anton Webern (1883-1945) e, nos anos 50, Le Marteau sans Maître (1953-1954) de Pierre

Boulez (1925).

13 In: GUERRA PEIXE, C. Guerra-Peixe, Principais Traços Evolutivos da Produção Musical, Item V, p. 2,

man., Rio de Janeiro, 1971. No Item VI, p. 5, onde consta: OMB e Gravação de Waltel Branco em discos

C.B.S. O violonista tem executado a obra em diversos concertos.

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Guerra Peixe utiliza a série abaixo para a construção desta suite e junto

apresenta o tema principal do primeiro movimento, Ponteado 1 4 .

A mudança definitiva de orientação estética para o nacionalismo, já no início

dos anos 50, deixou nas composições para violão seu estilo inconfundível, onde a exploração

da pequena forma é uma constante. Nos Prelúdios, a primeira obra para violão na plenitude da

sua fase nacionalista, faz uso da campanella 1 5 , que aparece em todo o ciclo explorado de

diversas formas, entre harpejos nos dois primeiros prelúdios, intercalado por seqüências

melódicas de terças no primeiro e terceiro e entre acordes nos dois últimos. O som da viola

sertaneja é evocado em todo o ciclo através desta técnica, tanto que o quinto da série leva o

José Mozart de Araújo (1904-1988), a quem a Suite para violão está dedicada, foi musicólogo, professor e

historiador. Ocupou importantes postos e foi pesquisador de documentos sobre a música antiga do Brasil. Em

1964, publicou sua principal obra A Modinha e o lundu no século XVIII, Ricordi, São Paulo.

14 Idem, ibdem. A indicação da série também aparece em: GUERRA PEIXE, C. Relação cronológica de

composições desde 1944, p. 6, MS, s.d. (escrita provavelmente em 1993), onde aponta a data Rio, 06 de maio e

a indicação O.B.M – 1967, e in: Razão e Paixão na Obra de um Mestre da Música Brasileira, item V –

Principais traços evolutivos da produção musical, MS, p.2, Rio de Janeiro, 1971.

15La Campanella, o nome do Estudo transcendental no. 3 de Franz Liszt (1811-1886), baseado no terceiro movimento

do Concerto p/ vln no. 2 de Nicolò Paganini (1782-1840). O uso desta técnica é raro entre os compositores não

violonistas. Guerra Peixe é um dos compositores que utiliza esta técnica em toda a sua obra. Está presente nas obras de

Villa-Lobos como o Estudos no. 11 (1929); nos Prelúdios 2 e 4 (1940) e no Concerto para violão e pequena

orquestra (1951). Radamés Gnattali utiliza-se da campanella nos Estudos 1, 4 e 5 (1967).

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subtítulo de Ponteado nordestino, por ter sido escrito anteriormente sem o uso da sexta corda,

para também ser executado em uma viola sertaneja.

Guerra Peixe: compassos iniciais dos Prelúdios n o . 1 e 5

A Sonata (1969) é a primeira abordagem da forma realizada para violão solo

no Brasil, segundo o compositor, totalmente de sugestões nordestinas1 6 , e apresenta-se como

uma exceção entre os demais ciclos de sua obra violonística, compostos por miniaturas.

Dividida em três movimentos com duração aproximada de quinze minutos, esta obra

16 In. GUERRA PEIXE, César. Relacionamento cultural e artístico de Guerra Peixe com Pernambuco, p. 4,

item 8, MS, Rio de Janeiro, 04/04/1974.

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apresenta, em seu primeiro movimento, Allegro, uma intrincada estrutura com notáveis

contrastes sonoros entre os temas. O segundo movimento, um tranqüilo Larghetto, é

construído na forma ternária simples A-B-A. Uma brevíssima introdução abre o terceiro

movimento, Vivacíssimo, construído na forma de um rondó. A forma cíclica torna-se evidente

pelo uso de motivos comuns e pelas transformações temáticas que circulam nos três

movimentos.

Guerra Peixe: compassos iniciais do 1o mov. da Sonata para violão

No segundo grupo, estão as 10 Lúdicas, um ciclo didático comparável aos

conhecidos 20 Estudios Sencillos do cubano Leo Brouwer (1939) e aos Microestudios de Abel

Carlevaro, que pode perfeitamente ser apresentado como obra de concerto, nas versões para

violão solo e na reconstituição feita pelo autor com acompanhamento de cordas, que

transformou sobremaneira seu conteúdo expressivo. Podemos considerar as Lúdicas como um

ciclo de transição, quando na seqüência de sua obra violonística, o autor da Retirada de

Laguna mergulha nas suas obras de caráter didático do terceiro grupo (itens 6 a 7). Temos

aqui as Breves, divididas em 6 pequenas suites, cada uma com três movimentos, e as 4 pequenas

peças do Caderno de Mariza. Aqui, como já apontamos, o compositor reconstruiu, sem

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concessões, um verdadeiro microcosmos do seu universo sonoro. Peixinhos da Guiné, obra que

pode também ser utilizada didaticamente, é apenas uma simples criação sobre um tema recolhido,

razão pela qual a colocamos isoladamente no quarto grupo (item 8).

Guerra Peixe: compassos iniciais da Lúdica no. 8

Como vimos anteriormente, Radamés Gnattali, pelo seu perfil de músico que

transitava com naturalidade entre as práticas da música popular e da música de concerto,

representou uma exceção frente às primeiras iniciativas isoladas de Guarnieri, Guerra Peixe e

Eunice Katunda, na década de 40. Suas primeiras composições para violão foram escritas em

um período do intenso no dia a dia dos trabalhos na Rádio Nacional, convivendo com

violonistas como Laurindo de Almeida, Dilermando Reis e José Menezes (1921) e

principalmente Anibal Augusto Sardinha, o ‘Garoto’, que fez a estréia de suas primeiras obras 17.

Pelo conjunto de sua produção, foi o compositor que mais escreveu para violão

na história da música brasileira e o que manteve um contato quase constante com a criação de

obras originais, além de numerosos arranjos e transcrições. Combinando os dados das tabelas

acima, verificamos que Gnattali trabalhou na composição para violão nos anos de 1944, 1948,

1950, 1951, 1954, 1957, 1959, 1966, 1967, 1969, 1971, 1981, 1983 e 1985, tendo portanto

17 Temos o registro deste período da Tocata em ritmo de samba no. 1 de Gnattali, executada por Anibal

Augusto Sardinha, em uma gravação particular contida no acervo do Prof. Ronoel Simões (1919). Outro registro

feito por ‘Garoto’, em acetato, em 22/08/1954, é o Concertino no. 2 de Gnatalli, com a Orquestra Sinfônica da

Radio Gazeta de São Paulo, dirigida por Armando Belardi, obra esta estreada no ano anterior pelo mesmo

intérprete no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a orquestra dirigida por Eleazar de Carvalho.

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uma produção que se estende por 41 anos, num total aproximado de 19 obras originais aqui

levantadas, escrevendo em média uma obra violonística a cada dois anos 18.

Tinha um gosto particular por escrever música para os amigos. Este fator,

aliado à sua maneira prática e rápida de compor, e a uma percepção aguçada para entender o

temperamento do executante para quem estava escrevendo, fez sua obra violonística crescer

consideravelmente, estando internacionalmente entre os compositores mais prolíficos.

Diferentemente de Guarnieri, Guerra Peixe e Theodoro Nogueira, as primeiras obras vieram

sob influência de Aníbal Augusto Sardinha e naturalmente da música popular daquele

período, envolta em influências jazzísticas 19 . O convívio com várias gerações de violonistas

brasileiros o coloca entre os mais hábeis no tratamento da escrita violonística, porém, sem

grandes mudanças de estilo.

Radamés Gnattali: compassos iniciais da Tocata em ritmo de samba no. 1

18 Neste trabalho, nos limitamos somente a considerar as obras originais de Gnattali. Um trabalho sobre suas

transcrições e arranjos envolvendo o violão pode ser de grande valia. É provável que a obra de Radamés

Gnattali permaneça por muito tempo sem uma revisão completa e sua produção violonística não foge a esta

realidade, pois está cercada de problemas de diversas ordens.

19 Como Francisco Mignone, Gnattali, para sobreviver, atuou como músico popular nas mais variadas

atividades. Porém, diferentemente de seu colega, trabalhou com música popular até o final de sua vida. Vale

mencionar aqui uma referência publicada num artigo em O Estado de São Paulo, São Paulo, 12 fev. 1939 e

editado em ANDRADE, Mário. Música, doce música, cap. intitulado “Música nacional”. Cit. em BARBOSA,

Valdinha & DEVOS. Anne Marie. Radamés Gnattali, O Eterno Experimentador. p. 47, Rio de Janeiro, MEC-

Funarte, 1985...Há de falar também de um compositor novo, mal conhecido dos paulistas, o gaúcho Radamés

Gnattali. Tem uma habilidade extraordinária em manejar o conjunto orquestral, que faz soar com riqueza e

estranho brilho. É certo que “jazzifica” um pouco demais para o meu gosto defensivamente nacional, mas

apesar de sua mocidade, já domina a orquestra como raros entre nós. É a nossa maior promessa no momento.

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Radamés Gnattali: compassos iniciais da Bossa nova, 1o. mov da Brasiliana no. 13

Em meados dos anos 80, quando Gnattali escrevia suas últimas obras, seu estilo

particular e inconfundível estava bem de acordo com as tendências que mais atraíam os violonistas

naquele momento, estabelecendo vínculos com uma música popular onde o jazz, a bossa nova e o

tango de Astor Piazzolla (1921-1992) predominavam. Este modismo continua sendo um dos

caminhos prediletos da grande maioria dos compositores e intérpretes do violão atual.

2- Retomando a produção das tabelas acima, temos a presença significativa de compositores

ligados a Camargo Guarnieri. De Ascendino Theodoro Nogueira, Lina Pires de Campos

(1918), Osvaldo Lacerda (1927), Sérgio de O. Vasconcellos Corrêa (1934) e Eduardo

Escalante (1937), seguidores mais fiéis da estética guarnieriana, até Eunice Katunda, Marlos

Nobre (1939), Almeida Prado (1943) e Aylton Escobar (1943), que percorreram outros

caminhos, em alguns casos e em certos momentos, retomando a prática de um nacionalismo

revisto e renovado.

3- Compositores como Francisco Mignone, Ascendino Theodoro Nogueira e César Guerra

Peixe, individualmente escreveram um número maior de obras para violão do que Villa-

Lobos. Radamés Gnattali não chega a ultrapassar o autor do Rudepoema em obras para violão

solo, mas suas produções camerísticas e para violão e orquestra somadas, fazem do

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compositor gaúcho, como vimos, o mais prolífico dos compositores brasileiros no que se

refere à criação de obras violonísticas. O conjunto desta sua produção é também maior,

comparado com todos os demais compositores aqui abordados. Mignone escreveu a maior

quantidade de obras para violão solo, Theodoro Nogueira a maior quantidade de ciclos e

Guerra Peixe uma obra didática única, como mostram as tabelas anteriores e a que segue:

Villa-Lobos Mignone Th. Nogueira Gnattali Guerra Peixe

Suite popular

brasileira

(05 mov.)

Modinha Ponteio Dança Brasileira Suite (3 mov.)

Choros no. 1 Repinicando 05 Valsas-Choro 02 Tocatas em

ritmo de samba

05 Prelúdios

12 Estudos Minueto fantasia 06 Brasilianas 10 Estudos Sonata (3 mov.)

05 Prelúdios Choro 12 Improvisos Brasiliana no. 3

(03 mov.)

10 Lúdicas –

(o.d.)

12 Estudos 04 Serestas Pequena suite

(03 mov.)

Breves

(6 suites) – (o.d.)

12 Valsas Canto Caipira

no. 5

Caderno de

Mariza – (o.d.)

Brazilian Song Peixinhos da

Guiné

Valsa de Esquina

Variações sobre

Luar do Sertão

Batuque

4- Entre 1944 e 1973, não há uma só obra escrita para violão fora da estética nacionalista,

razão pela qual propomos que o período entre 1944 e 1975, ano da conclusão do Concerto

para violão e orquestra do autor das Valsas de Esquina, seja uma referência histórica

importante. Portanto, em relação ao repertório internacional, sem precisarmos entrar nas obras

da avantgarde mais radicais deste período, a produção brasileira mostra um perfil claramente

conservador. O Livro das 6 cordas, de José Antônio de Almeida Prado, Momentos I, de

Marlos Nobre e a Ritmata, de Edino Krieger (1928), escritas todas em 1974 e dedicadas a

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Turíbio Santos, marcaram o início de uma nova fase do repertório violonístico brasileiro, pelo

conteúdo de elementos explorados pela vanguarda da época.

Almeida Prado: trecho inicial do Discurso, 1a parte do Livro para seis cordas

5- Com exceção de César Guerra Peixe e Radamés Gnattali, todos os demais compositores não

violonistas demonstraram pouca familiaridade em escrever para violão. Os acima citados não

foram sequer violonistas amadores, mas tiveram na juventude, através da música popular, um

contato direto com o instrumento, o que lhes possibilitou um maior domínio da escrita violonística.

Em relação aos demais, teríamos de desenvolver um estudo particular com cada autor, como

faremos adiante com Francisco Mignone e suas 12 Valsas Brasileiras na Forma de Estudos. No

decorrer da história do violão no séc. XX, como vimos acima, este problema foi contornado

através do trabalho conjunto entre intérpretes e compositores. No caso brasileiro, isto se deu em

pequena escala, resultando em uma grande quantidade de obras de considerável dificuldade técnica

e de pouco rendimento sonoro, e que não atraiu a atenção dos intérpretes, em sua maioria omissos.

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6- A predominância de pequenas formas, como o prelúdio (ponteio), o estudo, a peça de

caráter e as danças, como a valsa e a valsa-choro, apresentadas isoladamente ou em ciclos,

indica uma limitação à exploração de formas maiores e mais elaboradas. Naturalmente, isto

também ocorreu pelo pouco domínio da escrita violonística, com exceção das obras de câmara

e dos concertos, concentrados principalmente na produção de Gnattali, onde a manipulação de

formas de dimensões maiores foram mais facilmente abordadas. Uma sonata para violão solo

em três movimentos apareceu somente em 1969, como vimos, através da iniciativa de Guerra

Peixe.

7- A partir de 1963, uma quantidade significativa de compositores escreveu cada um apenas

uma obra para violão solo, fato também decorrente do pouco conhecimento da escrita

violonística. São os casos de Aylton Escobar (1943), Adelaide Pereira da Silva, Ernst Mahle

(1929), Jorge Antunes (1942), Raul do Valle, Amaral Vieira (1952), Esther Scliar (1926-

1978), Mário Ficarelli, José Alberto Kaplan (1935), Ronaldo Miranda (1948) e José Vieira

Brandão (1911).

8- O fenômeno da pequena e da grande produção espalhada por longos períodos, com exceção

feita à obra de Theodoro Nogueira, concentrada nos anos 50, e de Radamés Gnattali,

considerando a totalidade de sua produção, como mostram as tabelas anteriores e a seguinte:

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Autor Seqüência da ordem cronológica das obras para

violão solo

Camargo Guarnieri 1944, 1954, 1958, 1982, 1986

Guerra Peixe 1946, 1966, 1969, 1970, 1979, 1981, 1983, 1984

Radamés Gnattali 1948, 1951, 1967, 1981, 1983, 1985

Theodoro Nogueira 1949, 1955, 1957, 1958, 1959, 1960

Francisco Mignone 1953, 1970, 1976, 1980

Edino Krieger 1955, 1974, 1987

Vasconcellos Corrêa 1959, 1974, 1986

Osvaldo Lacerda 1959, 1960, 1961

Eunice Katunda 1963, 1972, 1973

Aylton Escobar 1963

Adelaide P. da Silva 1970

Eduardo Escalante 1971

Pinto da Fonseca 1972

Guerra Vicente 1973

Marlos Nobre 1974, 1975, 1976, 1977, 1982, 1984

Almeida Prado 1974, 1975, 1981, 1983

Ernst Mahle 1975

Pires de Campos 1975, 1978,

Jorge Antunes 1976

Raul do Valle 1977

Amaral Vieira 1978

Ester Scliar 1978

Ernst Widmer 1978, 1979, 1989

Mário Ficarelli 1979

J.A. Kaplan 1980

Cláudio Santoro 1982, 1983, 1985

Bruno Kiefer 1983

Ricardo Tacuchian 1983, 1984, 1988

Ronaldo Miranda 1984

Vieira Brandão 1984

9- A quase totalidade das obras para violão solo editadas no Brasil foi composta entre 1944 e

1975. Estão hoje praticamente esgotadas e fora de catálogo. Com a música de câmara e a

música para violão e orquestra, o predomínio é de obras não editadas, o que resulta em um

desconhecimento geral deste repertório, falta de distribuição e dificuldade de acesso.

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10- Há poucos intérpretes interessados neste repertório. Naturalmente, devemos considerar o

trabalho heróico daqueles que abordaram esta produção pela primeira vez. Portanto, os

registros fonográficos deixados por estes pioneiros são documentos de grande importância

para a história do violão brasileiro. Infelizmente, estas gravações também estão esgotadas e

fora de catálogo, com pouca possibilidade de serem reeditadas, tendo como conseqüência,

como temos visto, o acesso cada vez mais difícil.

11- Francisco Mignone, com uma seqüência de obras de porte como os 12 Estudos (1970), as

12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos (1970) e o Concerto (1975), encerra um período

da história do violão brasileiro ligado ao nacionalismo preconizado por Mário de Andrade,

mesmo com o seu, Batuque a produção didática de Guerra Peixe e a última obra de

Guarnieri, a Valsa-Choro no 2 (1986).

Concluímos este capítulo estabelecendo que na história do violão brasileiro

encontramos três grandes linhas ou vertentes. A primeira, sempre contínua, da tradição secular

da música popular em suas manifestações mais espontâneas, e mais recentemente não tão

expostas à grande mídia. A segunda, dentro da tradição da música de concerto, iniciada e

liderada pela figura de Villa-Lobos, que ainda hoje sobrevive dentro das grandes contradições

da criação musical contemporânea 2 0 . E a terceira, que tomou corpo nos anos 80, representada

pela figura de Radamés Gnattali, tem como proposta o convívio da música de concerto com

uma faixa da música popular de mercado.

20 Aqui incluídas todas as tendências.

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2. A obra violonística de Francisco Mignone

Francisco Mignone deu uma importante contribuição à literatura violonística

brasileira. No capítulo anterior, pudemos constatar que o compositor paulista foi, entre nós,

um dos que mais escreveu obras originais para violão. Em seu último catálogo, elaborado em

ordem cronológica por Maria Josephina Mignone (1923), esposa do compositor, também

constam uma quantidade significativa de transcrições 1.

Podemos ir ainda mais adiante, constatando que a obra violonística do autor das

Lendas sertanejas, figura entre as mais importantes da literatura violonística internacional 2.

De posse deste último catálogo, mais as indicações das tabelas do primeiro

capítulo e com novas informações, reelaboramos, para nosso estudo, o seguinte catálogo da

obra para violão de Francisco Mignone:

1 MIGNONE, Francisco. Vasco Mariz (organizador) Francisco Mignone, O homem e a obra, p. 191, Rio de Janeiro, Funarte & ED.UERJ, 1997. Na página 155, que inicia este catálogo, Maria Josephina Mignone escreveu: ...”É provável que alguma outra obra ainda venha a ser localizada após esta publicação”. 2 Ver: SUMMERFIELD, Maurice J. The Classical Guitar, its evolution, players and personalities since 1800, fourth edition, p. 310, Newcastle-upon-Tyne, 1996.

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1 - OBRAS ORIGINAIS PARA VIOLÃO SOLO

Ano Título Edição Observações 1953 Choro MS Dedicada a Monina

Távora 1953 Minuetto-Fantasia GR

1953 Modinha GR Dedicada a Monina Távora

1953 Repinicando MS

1970 Brazilian Song GR

1970 12 Estudos CO Dedicados a Carlos Barbosa- Lima

1970 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos VI Dedicadas a Isaías Sávio. 1a. Audição: Edelton Gloeden, Centro Universitário Maria Antônia / USP, São Paulo

1973 Lundu do Imperador MS Da ópera O Chalaça

1976 Valsa de Esquina FE 1976 Variações sobre o tema Luar do Sertão de Catullo da

Paixão Cearense FE

1980 Batuque MS Dedicado a Turíbio Santos

2 - OBRAS ORIGINAIS PARA DOIS VIOLÕES

Ano Título Edição Observações 1974 Prelúdio e Fuga MS 1974 Canção Sertaneja MS 1981 Choro MS Dedicado aos Irmãos Assad

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3 - OBRAS ORIGINAIS PARA VOZ E VIOLÃO

Ano Título Edição Texto Observações 1976 Choro MS vocalize 1976 Dialogando MS vocalize 1976 O impossível carinho MS Manuel Bandeira Obra baseada na

7a. Valsa de Esquina p/ pn.

4 - OBRA PARA VIOLÃO E ORQUESTRA

Ano Título Edição Observações 1975 Concerto para violão e orquestra RA Dedicado a Carlos Barbosa-Lima.

1a. Audição: 04/05/1977, solista: Carlos Barbosa-Lima, Orquestra Sinfônica de Lousisville, Kennedy Center, Washington

5 - TRANSCRIÇÕES PARA VIOLÃO SOLO DO AUTOR

Ano Título Edição Observações sd 8a Valsa de Esquina MS Original p/ pf, MG, 1940 1970 Valsa-Choro no.1 MS Original p/ pf, RB, 1946 1970 Valsa-Choro no.3 MS Original p/ pf RB, 1950 1970 Valsa-Choro no.5 MS Original p/ pf, RB, 1950 1980 Lenda Sertaneja ME Original p/ pf, Lenda Sertaneja no. 7, EM, 1932 1980 3 Valsas Brasileiras MS Originais para pf.

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6 - TRANSCRIÇÕES PARA DOIS VIOLÕES DO AUTOR

Ano Título Edição Observações s.d. Canção Sertaneja

no. 8 MS Título original Lenda Sertaneja no. 8 p/ pf, RB,

1938

1974 Canção da garoa MS Pequena Valsa de Esquina no. 2 p/ pf, MA, 1964 1974 4 Valsinhas MS Apenas duas localizadas. Pequenas Valsas de

Esquina no. 1 e no. 5 p/ pf, MA, 1964. 1974 Lenda Sertaneja no. 4 MS Original p/ pf, CE, 1930 sd Lundú GR Original p/ pf, TO, 1947 sd Mandinga doce MS Canção sertaneja assinada por Chico Bororó, com

texto de Décio Abramo, CC, sd sd Marvadinho MS Original p/ pf, CE, 1936 sd Num vorto a pé MS Cateretê assinado por Chico Bororó, com texto de

Salvador Soares, CC. sd Valsa-choro no. 10 MS Original p/ pf

7 - TRANSCRIÇÕES PARA VOZ E VIOLÃO DO AUTOR

Ano Título Edição Texto Observações 1976 Pardonnez moi MS Beatrix Reynal Original p/ v e pf, 1943, MS 1976 Vous reverrai-je um jour ? MS Beatrix Reynal Original p/ v e pf, 1944, MS 1980 Nana MS An. Original p/ v e pf, 1928, RB 1980 Las Mujeres son las moscas MS An. Original p/ v e pf, 1928, RB

8 – TRANSCRIÇÃO PARA ORQUESTRA DE VIOLÕES

Ano Título Edição Observações 1983 Dança do Chico-Rei e da Rainha N’Ginga MS Extraída do bailado Maracatu

do Chico-Rei (1933)

Sabemos que, durante a infância e juventude, Mignone desfrutou uma intensa

vida musical, freqüentando os mais diversos ambientes. Da ópera, do conservatório, passando-

se por Chico Bororó até as serenatas de rua. Sobre estas, numa entrevista, o compositor

relatou:

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...Bem, eu tocava nos cinemas e à noite, após a sessão, saia em companhia de outros músicos: eu com violão ou flauta, outros com clarinetas, pandeiros, etc. Íamos cantando pelas ruas da cidade...cantando e improvisando, e tal...Em geral as serenatas eram destinadas a alguma moça – namorada – ou conhecidos. Íamos até a casa delas, tocávamos e cantávamos. Isso quando os pais permitiam. às vezes éramos surrados, ou levávamos boas bacias de água na cabeça...3

Nestas impressões, Mignone não deixa dúvida sobre o seu envolvimento nas

serenatas pelas ruas paulistanas do início do séc. XX, e o que isto o influenciou principalmente

nas suas valsas e choros, onde é bem peculiar encontrarmos uma sonoridade exageradamente

violonística.

À parte estas impressões, temos alguns registros relacionados com Mignone e o

violão. O primeiro data de 1930, quando era diretor artístico da Parlophon. Em março daquele

ano, o compositor recebia os violonistas Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, e Serelepe (D.

Montezano), para um teste, que logo após, transformou-se na primeira experiência

profissional de Garoto em disco 4.

Outro fato, foi a publicação, em 1937, de um arranjo para violão de Nazareth, a

terceira das Quatro peças brasileiras (1930) para piano, feita pelo violonista argentino

Antonio Sinópoli (1878 - ? ) 5.

3 BRIZA, Lucita. Surras, peladas e saraus modernos, entrevista inédita de Mignone realizada em 1975. Caderno de Sábado, p. 05, Jornal da Tarde, 30/08/1997, São Paulo. 4 ANTÔNIO, Irati & PEREIRA, Regina. Garoto, Sinal dos Tempos. Rio de Janeiro, p. 16, Funarte, 1982 (coleção MPB,5). 5 Na capa consta: F. MIGNONE/NAZARETH/Danza Brasileña/arreglo para guitarra de A. Sinopoli/1937/G. Ricordi & C. – Editores/ Buenos Aires. Sinópoli também editou pela mesma Ricordi argentina, o que nos parece serem os primeiros arranjos para violão de peças de Ernesto Nazareth (1863-1934) como Odeon, Brejeiro e Espalhafatoso.

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F. Mignone: compassos iniciais de Nazareth na transcrição de Sinópoli e no original

Em 1953, surgem as primeiras composições originais para violão. Duas delas,

Modinha e Chôro, foram publicadas nos primeiros números da prestigiosa Guitar Review e

dedicadas à violonista e professora argentina Monina Távora 6. São pequenas obras

6 Guitar Review, New York, no. 22, ano 1958 p. 10 e 11 (Modinha) e p. 16 e 17 (Chôro) e no. 47, p. 20 e 21, ano 1980 (Brazilian song). Ver Anexo. Adolfina Raitzin de Távora, conhecida como Monina Távora, a quem Mignone dedicou duas das peças escritas em 1953, a Modinha e o Chôro, foi discípula de Domingo Prat (1886-1944) e Andrés Segovia e posteriormente, responsável pela formação de dois dos mais prestigiados duos da história do violão, os brasileiros Sérgio e Eduardo Abreu e Sérgio e Odair Assad.

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despretensiosas e singelas, ideais para propósitos didáticos e que, de certa maneira, já apontam

para procedimentos que aparecerão na retomada de sua produção violonística nos anos 70.

Apesar de cauteloso, notamos certa familiaridade com a escrita violonística.

Podemos definir o Minuetto-Fantasia, como uma peça híbrida de traço clássico

na forma ternária simples (A-B-A-Coda). A Modinha, já bem ao seu estilo cantante, com a

indicação Lento, nel spirito di una serenata está construída num simples rondó A-B-A-B-A.

Já o Chôro e Repinicando, mais despojados que as peças anteriores, estão impregnados de

ritmos da música urbana que encontramos em João Pernambuco, Ernesto Nazareth e do

próprio Chico Bororó. Mignone tinha uma enorme facilidade de penetrar no universo destes

músicos, especialmente Ernesto Nazareth, sem dar a impressão de estar fazendo uma simples

reprodução de estilo ou cópia. Neste contexto, podemos incluir sua Brazilian Song (1970).

Dezoito anos depois, num depoimento para o Museu da Imagem e do Som,

sentimos uma certa insatisfação e reserva do compositor em relação ao violão. Não sabemos

se isto está relacionado com resultado final destas primeiras obras, ou simplesmente pelos

motivos expostos na declaração abaixo:

...Confesso que não sou muito admirador do violão, devido aquele negócio de escorregar o dedo na corda, aquele ruído que ninguém consegue tirar, nem o Segovia. E tem outra coisa, o violão é um instrumento simpático, durante vinte minutos, depois começa a ficar cansativo. Ele não tem grande variedade de sonoridade, sempre procurando posições complicadas, mas é um instrumento muito romântico, simpático. Mesmo um concerto do Segovia eu não consigo ouvir inteiro, depois da primeira metade estou mais do que satisfeito. E como não conheço bem o instrumento, prefiro não escrever, porque tem que pedir a outro o arranjo, sabe como são essas coisas, acabam dizendo que arrumaram a música para mim, que não conheço o violão e a gente tem que ter amor próprio 7.

7 Texto do depoimento dado no dia 15/10/68 p/ o Museu da Imagem e do Som no Rio de Janeiro. In: BARBEITAS, Flavio Terrigno. Circularidade Cultural e Nacionalismo nas Doze Valsas para Violão de Francisco Mignone. Dissertação apresentada à Escola de Música da UFRJ, p.76, Rio de Janeiro, 1995.

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Dois anos mais tarde, o conteúdo deste comentário parece ir abaixo, quando

Mignone escreve seus dois grandes ciclos para violão, os 12 Estudos e as 12 Valsas

Brasileiras em Forma de Estudos, concluídos em menos de dois meses. O encontro com o

violonista Carlos Barbosa-Lima foi decisivo para motivar o compositor à criação de suas

principais obras para violão. O intérprete paulista não somente fez as primeiras audições dos

Estudos e do Concerto, como um importante trabalho de revisão dos 12 Estudos, que

receberam uma primorosa edição em dois volumes pela Columbia Music Company em 1973.

Além disso, realizou, em 1978, o único registro fonográfico onde encontramos o seguinte

texto de autoria do compositor:

12 Estudos para violão de Francisco Mignone dedicados ao intérprete Carlos Barbosa-Lima 8 .

Em 1970, durante a realização do 2o. Festival Internacional de Violão de Porto Alegre, promovido pelo então Liceu Palestrina, Francisco Mignone, convidado pelos organizadores do Festival, teve a oportunidade de conhecer pessoalmente o festejado violonista Barbosa-Lima 9. Este tocou para o compositor vários prelúdios e estudos de Villa-Lobos. Após a execução magistral dessas obras, o intérprete perguntou e solicitou a Mignone: “porque o sr. não

escreve algo para o meu instrumento dedicando-me a obra?” E, disse mais, “dos nossos autores

toco apenas obras de Villa-Lobos porque não possuo e nem tenho de outros brasileiros”. De

pronto, prometi, entusiasmado pela solicitação, de pensar seriamente em atendê-lo. E, ao regressar ao Rio, de um jato, compus quatro estudos que, imediatamente remeti ao Barbosa-Lima. Este gostou e gabou as obras e fê-lo com tal calor que me estimulou a escrever mais oito estudos. E, com isso, tenho a plena certeza e convicção que enriqueci o patrimônio da literatura violonística brasileira que, excluindo a obra genial de Villa-Lobos, era muito pobre e insignificante e, no mais das vezes, baseado em arranjos e transcrições 10.

8 Texto da contracapa do LP Barbosa-Lima Interpreta 12 Estudos para violão de Francisco Mignone, LP Philips 6598-312, Rio de Janeiro, 1978. 9 Promovidos pelo Liceu Palestrina, os Seminários Internacionais de Violão de Porto Alegre, realizados conjuntamente com concursos internacionais, foram uma referência importante do violão sul-americano entre os anos de 1969 até 1985. Em 1974, tivemos a oportunidade de presenciar Carlos Barbosa-Lima interpretando uma seleção de estudos na presença do compositor. 10 Sobre esta afirmação, percebemos o desconhecimento do compositor sobre o repertório violonístico brasileiro naquele momento. É certo que o violão como instrumento de concerto no início dos anos setenta começava a firmar-se internacionalmente com o já consolidado repertório segoviano, as obras de Villa-Lobos e violonistas

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Villa-Lobos indiscutivelmente deu ao violão novas e insuspeitadas possibilidades. E é justamente pensando nisso que, relendo e estudando Villa-Lobos, me propus a ampliar e especular ainda mais as possibilidades do mais romântico dos instrumentos de corda. Cada estudo, por mim escrito, tem uma peculiaridade técnica que permite ao executor o emprego de todos os seus recursos artísticos interpretativos. São esses predicados que Barbosa-Lima aplica e desfruta com grande mestria e, sobretudo, admirável autoridade. Como autor não poderia desejar maior e melhor intérprete. Muito obrigado.

Num exame do manuscrito, constatamos que Mignone ocupou-se da

composição dos 12 Estudos entre agosto e o dia 15/09/1970, data assinalada no manuscrito

do último estudo, confirmando seu depoimento, sobre o curto espaço de tempo levado para a

composição de um ciclo de envergadura para um instrumento pouco familiar. Ainda mais

surpreendente, foi o tempo gasto para compor o ciclo das 12 Valsas Brasileiras em Forma de

Estudos, apenas seis dias, de 19 a 24/09/1970, como assinalam os manuscritos.

Seguimos com a reprodução de um trecho de uma recente entrevista de Carlos

Barbosa-Lima sobre o primeiro encontro com o compositor 11.

... eu encontrei com ele (Mignone) num dos Seminários Internacionais de Porto Alegre, naquela época áurea de Porto Alegre. Ele estava lá dando uma conferência, e eu lhe disse que depois de Villa-Lobos ninguém havia se arriscado a compor estudos para violão no Brasil 12. Ele gozou da idéia, conversamos muito, eu toquei para ele, e logo em seguida ele foi mandando pelo correio. Eu fui ficando entusiasmado, já revisava e mandava de volta porque percebi que estava se tornando uma obra realmente portentosa, digna do grande compositor que era Mignone. Era uma pessoa encantadora, tocava piano com um charme que você nem imagina, gostava de viajar, beber, conversar. Eu considero os Estudos um marco na história do violão.

como Narciso Yepes, Julian Bream, John Williams tomando suas posições. No capítulo anterior, podemos até admitir que a produção brasileira até 1970 ainda era pequena, mas não tão pobre e insignificante. 11 ZANON, Fábio. Entrevista com Carlos Barbosa Lima parte III, In: Violão Intercâmbio, no. 40, Ano VII, p. 23, mar/abr. 2000, Santos. 12 Camargo Guarnieri havia escrito seu Estudo no. 1 em 1958 e Radamés Gnatalli seus 10 Estudos em 1967, sendo o sétimo dedicado a Carlos Barbosa Lima.

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Ainda não muito satisfeito com a primeira edição dos 12 Estudos de Mignone,

nesta mesma entrevista Barbosa Lima declarou:

...Talvez eles mereçam uma nova edição, talvez Mel Bay se interessasse em fazer uma versão revisada, com algumas modificações que fiz e o Mignone gostou muito, e que viesse com um CD junto 13. Barbosa Lima comenta ainda nesta entrevista sobre os 12 Estudos como um ciclo e

também da dificuldade técnica do último da série.

...Eles são muito de tocar como um todo. Aquele Estudo no. 12 eu nem cheguei a tocar muito em público, é muito difícil. Na hora de gravar foi uma batalha. Fiquei feliz de ter saído logo de primeira, nem quis mexer muito porque ele não dá espaço para o intérprete relaxar, é uma dificuldade atrás da outra...14

A julgar por esta última observação, não somente o décimo segundo estudo,

mas como um todo, o ciclo de Mignone é um empreendimento árduo e de grande dificuldade.

Sua duração por volta de 43 minutos, com uma média por volta de 3 minutos e 15 segundos

por estudo, é aproximadamente 10 minutos a mais do que a média das gravações dos Estudos

de Villa-Lobos. Dentro deste perfil, esta obra de Mignone está entre os grandes ciclos de

estudos do repertório violonístico internacional.

Curioso observarmos o cuidado com a distribuição das tonalidades, um aspecto

que provavelmente Mignone notou nos estudos em Villa-Lobos. Enquanto que o centro tonal

13 Idem, ibidem. Esta foi a segunda abordagem da forma de estudo feita pelo compositor. A primeira foi em 1931, quando completou seus Seis estudos transcendentais para piano dedicados a Guiomar Novaes, uma obra de referência da literatura pianística brasileira. 14 Idem, Ibidem

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dos 12 Estudos de Villa-Lobos está baseado em mi, Mignone optou por um centro tonal em

sol, como podemos constatar na tabela abaixo 15.

Villa-Lobos – 12 Estudos (1929) Mignone – 12 Estudos (1970) 1- mi menor 1- la menor 2- LA MAIOR 2- re menor 3- RE MAIOR 3- SOL MAIOR 4- SOL MAIOR/mi menor 4- mi menor 5- DO MAIOR 5- la menor 6- mi menor 6- SOL MAIOR 7- MI MAIOR 7- fa # menor 8- do # menor 8- sol menor 9- fa # menor 9- SOL MAIOR 10- si menor 10- fa menor 11- mi menor 11- re menor 12- la menor 12- mi menor

Uma característica típica desta obra de Mignone, que não vemos nos estudos de

Villa-Lobos é a circularidade motívica, como nos casos Valsa em sol menor e na 4a. Valsa-

choro para piano como veremos adiante. Alguns exemplos abaixo:

1. Estudo no 5 com a Valsa em do menor:

15 Um estudo sobre as tonalidades dos 12 Estudos para violão de Villa-Lobos, foi apresentado por Marlos Nobre (1939), no texto do encarte do CD LC 4401, Joaquim Freire/guitar/ Marlos Nobre/ Homenagem a Villa-Lobos & Reminiscência/ Heitor Villa-Lobos/ Douze Etude (Doze Estudos), Léman Classics, Suiça, 1993.

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2. Estudo no 3 e Estudo no 9:

Aqui faremos uma primeira tentativa de estabelecer algumas relações de estilo e

de caráter entre os estudos, dividindo-os em 4 grupos:

1- Execução transcendental de perpetum mobile, nos . 1, 4, 8 e 12;

2- Melodia seresteira, nos. 2, 5 e 11 (Spleen), subtítulo assinalado no manuscrito;

3- Universo de Chico Bororó e seus contemporâneos nos. 3, 6 e 9;

4- Peças de caráter: no. 7 (Cantiga de ninar), subtítulo assinalado no manuscrito e no. 10,

chopiniano.

Interessante constatar que os estudos pertencentes ao terceiro grupo, ligado ao

universo de Chico Bororó e seus contemporâneos, foram escritos em sol maior e o único que

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faz alusão ao ritmo de valsa é o oitavo em sol menor, confirmando relações de caráter com

tonalidades.

Ao contrário do ciclo villalobiano, Mignone voltou-se essencialmente à tradição

romântica, privilegiando a melodia de caráter seresteiro. Indiscutivelmente, como apontava na

autocrítica de seu cinqüentenário, sua música para violão vinte e três anos após A parte

do anjo, confirmava a tendência natural à simplicidade porém com grande controle e

refinamento 16.

Depois dos 12 Estudos, Mignone começa a relacionar-se com outros

violonistas. Ao contrário de Radamés Gnatalli, não foram muitos os que mantiveram contato

com Francisco Mignone. Tentando estabelecer uma ordem cronológica, podemos citar:

Monina Távora, Carlos Barbosa-Lima, Isaías Sávio, o Duo Marly e Miriam Colla, o Duo

Sérgio e Odair Assad, Maria Lúcia Godoy e Sérgio Abreu, nos trabalhos para voz e violão, e

Turíbio Santos. O encontro com estes intérpretes também motivou a realização de um grande

número de transcrições, como podemos notar nas tabelas acima.

Não sabemos se o compositor mudou de idéia em relação aos arranjos de suas

obras feitos por terceiros, como declarou anteriormente. Se observarmos seu catálogo, o

hábito de realizar transcrições e orquestrações foi uma constante em toda sua trajetória. Suas

transcrições violonísticas, merecem um estudo à parte pois, na sua maioria, ficaram sem

revisão. Mignone não tinha o hábito de registrar a fonte original e às vezes mudava o título,

16 A minha música deverá ser, dia a dia, mais refinada como técnica, mais clara, franca facilmente compreensível para a maioria. IN: MIGNONE, Francisco. A Parte do Anjo: autocrítica de um cinqüentenário, p. 39, São Paulo, Mangione, 1947.

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como vemos nas tabelas acima, fazendo com que muitas destas transcrições passem

desapercebidas por originais 17.

O Lundú do Imperador é parte da ópera O Chalaça (1973). Pelo seu tamanho

e formato não se presta a uma execução desvinculada da ópera.

O Prelúdio e Fuga (1974) é uma importante contribuição para o repertório

brasileiro para dois violões. Possui partes instrumentais equilibradas e virtuosísticas muito

semelhantes as dos 24 préludes et fugues - Le Guitares bien Tempérées Op. 199 de Mario

Castelnuovo-Tedesco. O prelúdio em duas seções contrastantes é seguido por uma fuga de

corte acadêmico com um tema construído por duas células, uma cromática pronunciadamente

nacionalista e a outra barroca 18.

F. Mignone: compassos iniciais da fuga do Prelúdio e Fuga p/ 2 violões

O Concerto para violão e orquestra (1975) é ainda uma obra pouco conhecida

entre nós, apesar de ter sido estreada nos Estados Unidos em 1977, com grande sucesso. Com

uma escrita já bem desenvolvida, resultado das composições anteriores, leva uma

instrumentação camerística compreendendo: flauta, oboé, clarinete, fagote, vibrafone, celesta,

17 Fizemos uma primeira tentativa de informar em nossas tabelas quais foram as obras originais pelas quais e o compositor baseou suas transcrições. 18 Não foi possível localizar o Choro (1980) para dois violões.

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xilofone e cordas. Num exame da partitura, notamos que o primeiro e segundo movimentos

estão dentro da tradição romântica e o terceiro a afirmação da nacionalidade 19.

Em 1976, Mignone escreveu duas de suas obras menos interessantes. As

Variações para violão sobre o tema “Luar do Sertão”, de Catulo da Paixão Cearense e a

Valsa de Esquina. Nelas, não sentimos a espontaneidade e singeleza das pequenas peças dos

anos 50 e da Brazilian Song de 1970, que são muito apropriadas ao uso didático. Mignone

explorou o conhecidíssimo tema de Catulo da Paixão Cearense pela primeira vez em 1931,

quando escreveu variações para soprano ligeiro (coloratura) e piano. Sua segunda abordagem

para violão possivelmente foi concebida como música popular de efeito virtuosístico. A escrita

é quase totalmente pensada para instrumento de cordas de arco como um violino, com acordes

cerrados e longos trechos monódicos. Na Valsa de Esquina, há um desequilíbrio entre as

seções. A primeira é bem apresentada mas é seguida de outras duas não muito bem concebidas

para o instrumento.

Nas três peças para voz e violão de 1976, escritas para Maria Lúcia Godoy e

Sérgio Abreu, Mignone explorou o uso de linhas vocalizadas, que aparece por inteiro no

Chôro e no Dialogando e nas partes extremas de O Impossível Carinho.

As partes vocais são de dificuldade técnica considerável, tanto que as duas

primeiras podem ser executadas em instrumentos como flauta e clarinete, mais afeitos ao estilo

característico do choro urbano. Por sua vez, na canção O Impossível Carinho, Mignone faz

uma releitura da sua 7a. Valsa de Esquina, através do emprego de vocalize nas partes

19 Recentemente, a parte de solista mereceu uma primorosa revisão do violonista e luthier Sérgio Abreu. Ver Anexo.

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extremas e introduzindo a poesia de Manuel Bandeira na seção central 20. É possivelmente a

obra brasileira para voz e violão mais importante.

A produção violonística de Mignone encerrou-se em 1980, quando o

compositor completou o Batuque, no mais característico estilo de Chico Bororó e, desta vez,

mais desenvolvido do que as pequenas peças dos anos 50, com certa proximidade da temática

africana que tomou parte significativa de suas obras do começo da década de trinta.

Após estes comentários, podemos concluir este capítulo estabelecendo três

períodos na obra original para violão de Francisco Mignone:

O primeiro período é caracterizado pelo predomínio da música urbana ligada a

Chico Bororó, através das primeiras quatro obras escritas em 1953, como: Minuetto-Fantasia

e principalmente Modinha, Chôro e Repinicando. O segundo é caracterizado pela criação das

grandes obras feitas entre 1970 até 1976. É o mais criativo e importante, quando foram

escritos os 12 Estudos, as 12 Valsas Brasileiras em forma de estudos, o Prelúdio e Fuga, o

Concerto para violão e orquestra e O impossível carinho. No terceiro, uma volta à

simplicidade de Chico Bororó, com o Batuque.

20 Poesia musicada primeiramente por Camargo Guarnieri em 1930, um dos pontos altos da canção modernista brasileira.

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3. AS 12 VALSAS BRASILEIRAS EM FORMA DE ESTUDOS PARA VIOLÃO

3.1 – Aspectos musicais

A tradição da valsa brasileira presente entre compositores e violonistas

populares, refletida na obra de Mignone, foi captada por Luiz Heitor Corrêa de Azevedo

(1905-1992) neste trecho de “Si alza la tela”:

...E na estupenda coleção de 12 Valsas de Esquina..., (Mignone) procura fixar os rítmos e a cadência melódica de vários tipos de valsas encontradas na tradição musical brasileira: valsas de violão e valsas de pianeiros, serenatas rasgadas ou chorinhos caipiras 1. Entre estes violonistas populares, a valsa estava entre as danças prediletas,

aparecendo de maneira preponderante como música instrumental. Destacamos Américo Jacomino,

O Canhoto, nas primeiras décadas do séc. XX, autor da famosa Abismo de Rosas; passando João

Teixeira Guimarães, o João Pernambuco, com Sonho de Magia, possivelmente admirada por Villa-

Lobos até Dilermando Reis, que mais escreveu valsas para violão, entre as quais Se ela perguntar 2.

No repertório violonístico brasileiro de concerto, predomina a valsa-choro nas

abordagens de Villa-Lobos, Theodoro Nogueira, Sérgio Vasconcellos Corrêa (1934) e

Camargo Guarnieri. Uma única valsa foi escrita por Osvaldo Lacerda (1927). Valsas aparecem

também como movimentos da Suîte Nazareth (1963) de Eunice Katunda (1915-1985) e da

Brasiliana no. 13 (1983) de Radamés Gnatalli, sem esquecer o seu Estudo no. 2 (1967)

1 In: MIGNONE, Francisco. A parte do anjo: autocrítica de um cinqüentenário, pg. 17, São Paulo, Mangione, 1947. 2 Interessante confrontarmos o início de Sonho de Magia com o Prelúdio no. 5 de Villa-Lobos.

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intitulado Valsa seresteira. Após a abordagem de Mignone, apenas Camargo Guarnieri

escreveria a sua segunda Valsa-Choro em 1986.

Curioso notar que, no repertório internacional de 1920 até 1970, há poucos

exemplos de valsas entre compositores não violonistas. Citamos a Valse de Manuel Ponce

(1886-1948), da da coleção das 4 Piezas (1932), Segovia Op. 29 (1925) de Albert Roussel

(1869-1937), apesar de não levar a indicação de valsa, e Guido Santórsola (1904-1996), com

Vals Romantico (1944) e a Valsa-Choro (1961). Entre os compositores-intérpretes, temos as

famosas Vals Venezolanas de Antônio Lauro (1917-1986) e as de Agustín Barrios. Sob este

aspecto, concluímos que a contribuição de Mignone, pelo seu formato, não encontra

precedentes.

Mignone tinha um especial fascínio pelo passado histórico e artístico. A

começar pelos argumentos que escolhia para a maioria de suas óperas e bailados, até a

produção de música instrumental, notamos um gosto especial em tratar, à sua maneira, formas

e estilos antigos, talvez com um propósito de evocar o passado distante e recente de seu

tempo. Examinando seu último catálogo de música instrumental, deparamos com uma grande

quantidade de danças antigas, como o minueto, passando pelas antigas formas brasileiras como

modinha e lundu3. Até mesmo nas valsas, onde o compositor encontrava a total liberdade de

expressão, a memória foi um sempre um fator decisivo, como neste depoimento sobre a 8a.

Valsa de Esquina:

...A oitava valsa de esquina, na forma A-B-A, é a que tem o maior e melhor parentesco com as obras de Mignone quando, ainda era moço, escondido de si mesmo, escrevia música popular sob o pseudônimo CHICO BORORÓ. A obra tem todo o sabor e as características das valsas

3 Mariz, Vasco (organizador) Francisco Mignone, O homem e a obra. Rio de Janeiro, Funarte & ED.UERJ, 1997.

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suburbanas da garoenta paulicéia. Aqui é uma flauta, ali uma clarineta, acolá um violão, alhures uma namorada ouvindo extasiada o embalo acariciante de uma serenata cantada ao luar...4

O entusiasmo pela valsa resultou em mais de uma centena de exemplares,

apresentados como peças isoladas ou dispostos em grandes ciclos. O piano é o instrumento

predominante, seguido pelo fagote e pelo violão, sem contar as mais variadas versões e

adaptações camerísticas e sinfônicas. Mesmo na idade provecta, quando parecia encerrada a

produção de valsas, Mignone surpreendia com a conclusão do segundo volume das 24 Valsas

Brasileiras e com a Última Valsa, sua derradeira composição. São poucos os textos onde o

compositor comenta sua obra de forma otimista, como este sobre a valsa que reproduzimos

em seguida:

Escrevi até hoje 53 valsas. No dizer de Manuel Bandeira sou, o “Rei da

Valsa”. Doze são as conhecidíssimas Valsas de Esquina. Seguem-se às doze Valsas-Choro, mais doze para violão, as recentíssimas e inéditas Valsas-Brasileiras para piano...., “Valsa

Elegante”, outra em sol maior e, finalmente, a que se denomina “Improviso Romântico”.

Tais peças formam o ciclo dessa, como diria o irreverente Mário de Andrade, “valsalhada”

toda. O porquê de tanta valsa vou procurar dizer a você meu paciente leitor. A “VALSA” originou-se na Áustria e Alemanha, a partir de 1770. Músicos célebres como Haydn, Mozart, Schubert e Beethoven contribuíram para a divulgação, seguidos pelos românticos Weber, Chopin, Schumann, Liszt e o puritano Brahms. Também não devemos esquecer os franceses, entre os quais estava Chabrier com sua famosa obra sinfônica “Espanha” e, mais tarde, os impressionistas gauleses Debussy (“La plus que

lent”), Ravel – autor das deliciosas e rebuscadas “Valses nobles et sentimentales” e o

aplaudidíssimo poema sinfônico “La Valse”. É importante assinalar que as quatro baladas

para piano de Chopin são outras tantas valsas que se juntam à Berceuse e à Barcarola. O Carnaval de Schumann, também para piano, contém muitos números valsísticos, e o genial Beethoven inicia a terceira sinfonia e a quarta com verdadeiros rítmos valsantes. Como vemos, a valsa tomou conta de toda a música ocidental. No Brasil, a valsa começou a ser manipulada pelo príncipe D. Pedro e pelo importado músico alemão Sigmund Neukomm. Francisco Manuel, autor do Hino Nacional, compôs, em 1834 a valsa “Beneficência” e, em 1847, “O Primeiro Beijo”. Henrique Alves de Mesquita escreveu, em 1867, a valsa “Saudades de Mme. Charton (sic)”. No século passado a valsa teve cultores em

todos os níveis, do popular ao erudito. Quando, afrancesada, veio ao Brasil, provocou uma enchurrada de valsas que lhe imitavam o estilo. Todo o mundo escrevia valsas com títulos

4 Texto de autoria do compositor, contido no LP Mignone interpretando Mignone. Rio de Janeiro. LP Philips-Polygram 6598-311, 1978.

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franceses. Nem “o gênio da ópera” e homem de teatro Carlos Gomes escapou à moda do

tempo. E compôs uma obra que ostentava o pomposo título: “Grande valsa de Bravoure”,

para piano. Na mão dos “chorões”, com seus cavaquinhos, violões e flautas a valsa começou a tomar características nacionalísticas. Anacleto de Medeiros, um regente de bandas, aparece com sua “Terna

saudade” e o festejado Patápio Silva – grande flautista da época – com a movimentadíssima “Primeiro Amor”. É bom saber que esta valsa foi uma das primeiras gravadas pela fábrica

“Odeon” no início deste século. Seguiram-lhe as pegadas Chiquinha Gonzaga e o inexaurível Ernesto Nazareth. Em Nazareth os cacoetes chopinianos são freqüentes e comprovam a boa formação pianística do compositor. Os autores brasileiros mais em evidência e filiados à corrente do Modernísmo cultivaram a valsa brasileira-nacionalista. Villa-Lobos reina soberano com “Tristorosa”, “A

dor” e “Impressões seresteiras”. Acompanha-o Lorenzo Fernandez, escrevendo “Valsa

suburbana”. E, antes deles, Nepomuceno também contribuía para a formação da valsa

brasileira. Pelo que expus, vocês podem avaliar a importância da valsa no Brasil e no mundo. Os atuais Camargo Guarnieri, Radamés Gnatalli, Osvaldo Lacerda, Teodoro Nogueira e Valdemar Henrique dão à valsa nacionalista uma força que transborda das nossas fronteiras e a tornam universal. Exatamente para fixar ainda mais este caráter nacionalista, grande parte da minha produção musical é destinada à valsa brasileira. Quando foram lançadas as “Valsas de Esquina”, todas elas dedicadas a

amigos e colegas, percebi que me esquecera de Manuel Bandeira. E este, que adorava essas valsas, me disse. “Você se esqueceu de mim!”. Retruquei: “Manuel, você não perde por esperar”. E as doze Valsas-Choro que se seguiram dediquei todas a ele. Ainda me lembro do seu sorriso satisfeito e adentuçado, quando leu a dedicatória. As “Valsas de Esquina” foram escritas para o público, as “Valsas-Choro” e

outras para violão com finalidade editorial e as “Brasileiras”, que aparecem neste disco,

exclusivamente para um “Brasil Brasileiro”, como diria Ari Barroso. Comecei a coleção de “Valsas Brasileiras” em 1962. Escrevi três, de pronto.

Interrompi a composição até 1979, quando fui acometido de enfarte. Nos dias em que estive acamado, recuperando-me, lembrei-me delas e prometi a mim mesmo completar a série. A de número quatro, que inicia este disco, começa com um preludiar de violão acompanhado mais tarde por uma flauta seresteira. É dedicada à menina Ana Helena Cazzani de Carvalho. Reparem que entre as sete valsas gravadas não há duas que se pareçam. A “Valsa Elegante” tem uma história análoga ao soneto de Felix Arvers: a

dama a quem dediquei esta peça e que amava secretamente, perguntou-me um dia: “Quem é

esta mulher?” Nunca lhe disse. guardei o segredo. Minto. Quem o sabia era o Mário de

Andrade, que está à minha espera lá em outras bandas...De início as valsas de esquina não tinham esse nome, não. Foi Mário de Andrade quem assim as denominou quando as ouviu pela primeira vez. Lembram aquelas valsas que à noite, debaixo dos bruxuleantes lampiões a gás das esquinas, os chorões tocavam em suas serenatas às amadas que, atrás das venezianas ou cortinas arreadas, ficavam ouvindo. As esquinas serviam de refúgio, caso aparecesse um parente na rua para afugentar os boêmios perturbadores do silêncio noturno...5

5 Texto de Francisco Mignone inserido da contracapa do LP 46.81.0385, Estúdio Eldorado Mignone, intérprete: Maria Josephina – participação especial do autor, São Paulo, 1980.

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Francisco Mignone sistematizou suas 12 Valsas Brasileiras em Forma de

Estudos para violão em doze tonalidades menores, dispostas numa seqüência cromática,

partindo de do menor até si menor. Mesmo não explorando a totalidade das 24 tonalidades,

isto não nos impede de colocar este ciclo entre as raras obras do repertório violonístico

baseadas na exploração do universo do sistema temperado, inicialmente posto em prática por

Johann Sebastian Bach (1685-1750) no Wohltemperiert Klavier (1722-1744), seguido por

Frédéric Chopin (1810 – 1849) nos 24 Préludes Op. 28 (1836-9) e por Dmitri Shostakovitch

(1906-1975) com os seus 24 Prelúdios e fugas (1950-1).

Na história do repertório do violão, as primeiras obras que exploraram este

universo apareceram no séc. XIX em meio a guitarromanie 6.

Com propósito didático, estas obras foram escritas pelo polonês Feliks Horecki

(1786-1837) e por Luigi Legnani (1790-1877) violonista e compositor italiano ligado a

Niccolò Paganini (1784-1840) 7.

No século XX, antes do ciclo de Mignone, estavam escritos os 24 Preludes

para violão (1929) do compositor mexicano Manuel Ponce e Les Guitares Bien Tempérées, 24

préludes et fugues pour deux guitares (1962) do compositor italo-americano Mario

Castelnuovo-Tedesco (1895-1968) 8.

6 O termo Guitarromanie refere-se às quatro primeiras décadas do Séc. XIX, na Europa Pós-Revolução Francesa, quando houve um grande cultivo da música para guitarra de seis cordas simples. 7 HORECKI, Feliks. 24 Studja Lub Cwiczenia, ze szcezgólnym uwzglednienniem arpeggia Op. 30, Varsóvia, PWN – 7555, sd e LEGNANI, L. Trente Six Capriches dans les tons Majeurs et Mineurs pour guitarre Op. 20, Paris, Richault. Ed. facsimilar, Milão, Ricordi, 1983. 8 Ver: PONCE, Manuel. 24 Preludes, London, Tecla Editions, 1981, prefácio de Miguel Alcázar e CASTELNUOVO-TEDESCO, Mario. Les Guitares Bien Temperées: 24 préludes et fugues pour 2 guitares Op. 199, 1a. ed. Firenze, Aldo Bruzzichelli – Editore, 1974. 2a edição, Bèrben, Ancona, 1996.

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Duas são as justificativas que apresentamos para a incluir estas doze valsas do

autor de O Chalaça, no contexto das obras que exploram o universo do sistema temperado.

São elas:

1- O caráter didático, ligado à demonstração prática do sistema temperado para o qual a

totalidade das obras mencionadas acima foram destinadas. No caso das valsas para violão, a

confirmação vem através do título 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos, que nos foi

revelado através do manuscrito citado 9. Outro fator que pode reforçar ainda mais a idéia de

uma obra didática desta natureza, é a dedicatória feita para Isaías Sávio, mestre de Carlos

Barbosa-Lima e o professor de violão mais prestigiado e requisitado do país naquele momento.

Além da homenagem a uma das mais importantes personalidades da história do violão

brasileiro, Mignone estaria apresentando, principalmente aos alunos de Sávio, uma obra para

violão que tinha como objetivo principal a exploração de tonalidades pouco usadas, além de

continuar ampliando as propostas apresentadas nos 12 Estudos;

2- O uso de 12 tonalidades menores na construção dos grandes ciclos de valsas, como uma de

suas principais características adotadas pelo compositor a partir das Valsas de Esquinas para

piano, como podemos constatar neste depoimento:

....e há uma coisa que talvez não devesse contar, mas como estamos aqui fazendo revelações...Nas Valsas de Esquina não há uma parecida com a outra, são doze valsas, uma diferente da outra. Isso porque estudei a fundo os Prelúdios de Chopin. Ele escreveu vinte e quatro e não há um ponto que se parece com outro, nem na tonalidade. Ele aproveitou as vinte e quatro tonalidades - maiores e menores – eu aproveitei as doze menores 10.

9 Ver Introdução e Fontes principais. 10 MIGNONE. F. Depoimento dado ao Museu da Imagem e do som em 15 de outubro de 1968. Fundação Museu da Imagem e do Som, p.7, Rio de Janeiro, 1991. Apud. BARBEITAS, Flavio Terrigno. Circularidade Cultural e Nacionalismo nas Doze Valsas para Violão de Francisco Mignone. Dissertação apresentada à Escola de Música da UFRJ, p. 91, Rio de Janeiro, 1995.

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O seqüenciamento das 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos para violão,

como vimos acima, aparecerá no segundo volume das 24 Valsas Brasileiras para piano, ou

seja, da décima terceira até a vigésima quarta. Tal seqüenciamento não aparece nos demais

ciclos, bem como no primeiro volume das Valsas Brasileiras para piano.

Segue abaixo uma tabela, onde demonstramos o uso das tonalidades menores

nos ciclos valsas de Mignone para violão e para piano 11.

12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos p/ violão (1970)

12 Valsas de Esquina p/ piano (1938-40-43)

12 Valsas Choro p/piano (1946-50-55)

24 Valsas Brasileiras p/piano (1963-72-79-84)

do menor do menor si bemol menor do # menor do # menor mi bemol menor do menor fa # menor re menor la menor la menor re menor mi bemol menor si bemol menor sol menor sol menor mi menor mi menor si menor la menor fa menor fa # menor do # menor mi bemol menor fa # menor sol menor si bemol menor si bemol menor sol menor do # menor mi menor la bemol menor la bemol menor la bemol menor fa menor si menor la menor si menor re menor fa menor si bemol menor re menor la bemol menor mi menor si menor fa menor fa # menor do menor do menor do # menor re menor mi bemol menor mi menor fa menor fa # menor sol menor la bemol menor la menor la # menor si menor

11 No último grande ciclo pianístico de Mignone, ressaltando particularmente sua segunda metade onde o seqüenciamento das tonalidades é semelhante ao do ciclo violonístico, o caráter didático não se faz presente.

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Não podemos deixar de mencionar que nas 16 Valsas para fagote solo (1981)

de Francisco Mignone, apenas uma foi escrita em tonalidade maior.

As 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos seguem uma mesma linha

estilística iniciada nas Valsas de Esquina (1938-42). Estruturação de tonalidades, tratamento

formal, contornos melódicos e a preocupação em firmar-se dentro da estética nacionalista. Esta

última característica nem sempre serviu de empecilho para que elementos da tradição européia

aparecessem em sua obra. Em suas valsas, está bem evidenciada a mistura entre o europeu e o

nacional. Seguem dois depoimentos sobre esta instabilidade de conviver entre o nacional,

como um caminho ideal preconizado por Mário de Andrade para sua carreira, e o europeu,

essência da sua natureza e formação.

1- As Valsas de Esquina foram escritas porque uma ocasião, numa discussão, sempre com o Mário de Andrade, o homem que mais me ajudou nesta parte, notamos que de todas as músicas brasileiras a que menos tinha sofrido influência da música americana era a Valsa, ela que se mantém genuinamente brasileira, apesar de suas origens serem de Chopin, ou italianas, espanholas, como queiram. Elas se mantêm num ponto em que posso fazer alguma coisa, e lembrei do meu tempo de seresteiro, daquelas Valsas que conheci em São Paulo um grande número delas... 12 2- No entanto, desejo reportar-me a um curioso episódio ocorrido, aí por volta de 1946, em casa de Luiz Heitor, na Rua dos Perecis. Estava presente Manuel Bandeira, amigo dileto do mestre, e Mignone atravessava um período de alguma depressão estética, pois julgava a sua própria música como demasiado fácil e mesmo vulgar. Em uma noitada íntima, estava Mignone ao piano interpretando uma de suas Valsas de Esquina, e eis que o compositor subitamente emendou acordes puccinianos e a melodia de E lucevan le stelle, da ópera Tosca. Deu dois murros no teclado e exclamou: “isto é que é a minha música!”. Foi um

constrangimento geral e todos procuraram consolá-lo e rebater sua afirmação 13.

12 Depoimento. Rio de Janeiro: Fundação Museu da Imagem e do Som, 1991. Apud. BARBEITAS, Flavio Terrigno. Circularidade Cultural e Nacionalismo nas Doze Valsas para Violão de Francisco Mignone. Dissertação apresentada à Escola de Música da UFRJ, pg. 82, Rio de Janeiro, 1995. 13 MARIZ, Vasco. Vida Musical, p. 216, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1997.

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Dois anos após a morte de Mário de Andrade, ao completar cinqüenta anos,

Mignone publica, em 1947, seu A Parte do Anjo (autocrítica de um cinqüentenário), quando

assumia com naturalidade todas as influências sentidas sobre a sua criação, que posteriormente

foram confirmadas nos depoimentos que se seguiram até sua última obra.

Dois anos antes de escrever os 12 Estudos e as 12 Valsas Brasileiras em Forma

de Estudos, Francisco Mignone, aos 70 anos de idade, faz a seguinte declaração numa

entrevista ao Jornal do Brasil:

...Mas, voltando a minha fase nacionalista, devo declarar que não andava contente com que produzia. Dediquei-me, para esconder-me de mim mesmo, a acompanhar ao piano, reger orquestras, ser regente de rádio, membro da falecida CAC e professor de regência na Escola Nacional de Música. E perdi muito tempo. Quando voltei a ser senhor de mim mesmo, mandei às urtigas, em primeiro lugar, a árdua, complicada e sisifesca tarefa de regente... Mais uma coisa. Depois de dobrar o cabo das boas resoluções, aos sessenta e mais anos, entreguei-me a escrever música pela música. Aceito e emprego todos os processos de composição conhecidos. Transformo-os à minha maneira. Como sou e serei sempre um eterno insatisfeito, refaço cinco ou mais vezes as minhas obras. O que é certo é que mandei numa coisa: se antes entregava-me a um inútil não-vale-a-penismo, hoje reajo escrevendo uma obra atrás da outra, na ânsia de superar-me 14.

Por esta declaração, podemos detectar a razão de tantas transcrições e também

da rapidez com que Mignone escrevia neste período.

Mignone não utiliza propriamente a repetição de motivos próprios como

elementos condutores exclusivos de uma só obra. Em especial em suas valsas, fazia-os circular

livremente no conjunto delas como uma espécie de assinatura e autocitação. Junto a estes

procedimentos, a memória do passado se faz presente através de Chopin, da ópera italiana, de

Chico Bororó e outros.

14 Francisco Mignone aos 80 anos, excertos da entrevista ao Jornal do Brasil, a 6/4/1968. In MARIZ, Vasco (organizador). Francisco Mignone, O homem e a obra. Rio de Janeiro, p.45, Funarte & ED.UERJ, 1997.

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A seguir, apresentaremos o quadro morfológico de cada uma das 12 Valsas

Brasileiras em Forma de Estudos, seguido de breves comentários sobre as características e

procedimentos apontados acima.

Valsa em do menor

Seção A

Moderato e romântico (compasso 01 até compasso 37) –

Seção B

Più Vivo (c.38 até o primeiro tempo do c.68) –

Coda

Molto Vivo (segundo tempo do c.68 até c.96)

Forma: Binária

Após a apresentação do tema principal da primeira seção, Mignone concentra

toda a escrita nas regiões média e grave até o final da peça. O intuito é explorar a sonoridade

característica das cordas graves do violão. Interessante notar que este é um dos recursos mais

usados nas suas valsas para piano, com a clara intenção de imitar um violão. Portanto, vemos

que o sentido de improviso e virtuosidade do Più vivo desta valsa para violão é praticamente o

mesmo que encontramos no Più vivo da p.05 da 12a. Valsa de Esquina.

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F. Mignone: Trecho da Valsa em do menor

F. Mignone: Trecho da 12a Valsa de esquina

Certo toque chopiniano como a pontuação usada no exemplo abaixo, que

aparece em várias outras situações neste ciclo de valsas.

F. Mignone: Valsa em do menor, comp. 30 e 31

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Valsa em do sustenido menor

A

Bem choroso e seresteiro (c.01 até c.32) –

A’

Calmo e espressivo (c.33 até c.60) –

B

a tempo (c.61 até c.93)

Forma: Binária simples

É possível que o motivo mais característico das valsas de Mignone, seja aquele

que ouvimos no início da 2a. Valsa de Esquina, a mais conhecida, com inúmeras versões do

próprio compositor. Três mínimas pontuadas como uma assinatura e autocitação. O mesmo

aparece na 10a. Valsa de Esquina.

F. Mignone: compassos iniciais da 2a e 10a Valsas de esquina

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Nas 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos, este motivo característico

inicia a 2a. Valsa em do sustenido menor e a 4a. Valsa em mi bemol menor.

F. Mignone: compassos iniciais das Valsas em do sustenido menor e mi bemol menor

Valsa em re menor

Tema

Moderato (c.1 até c.16)

Variação I

(c.17 até c.32)

Variação II

(c.33 até primeira metade do c.48)

Variação III

Meno (segunda metade do c.48 até c.64)

Variação IV

Mais Depressa (c.65 até c.80)

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Variação V

Assai Vivo (c.84 até c.99)

Variação VI

Meno (c.100 até a primeira metade do terceiro tempo do c.114)

Coda

(segunda metade do terceiro tempo do c.114 até c.122)

Forma: Tema e 6 Variações

Mignone aqui nos coloca diante da mais simples seqüência de acordes

construída sobre um baixo, à maneira de um antigo ground, como o vemos em When I laid in

earth do Dido and Aeneas, de Purcell. Nela o compositor nos revela a harmonia essencial que

utiliza em suas valsas.

F. Mignone: compassos iniciais da Valsa em re menor

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Valsa em mi bemol menor

A

Lento e meditativo (c.01 até c.33) –

B

Allegre (c.34 até c. 65) – D.C.

A

Lento e meditativo (c.01 até c.33) –

Coda

(c.66 até c.87)

Forma: Ternária simples

Como vimos na Valsa em do sustenido menor, o início assemelha-se ao da 2a.

Valsa de Esquina. A influência de Chopin se faz presente na segunda seção, onde Mignone

faz a citação do motivo da segunda seção da Valsa Op. 64 no. 2, do mestre polonês,

apresentando-o na forma espelhada.

F. Chopin: motivo da Valsa Op. 64 no 2

F. Mignone: motivo da Valsa em mi bemol menor

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Valsa em mi menor

A

Com muita vibração (c.01 até c.31) –

B

Meno e cantando (c. 32 até c.72) – D.C.

A

Com muita vibração (c.01 até c.31) –

Coda

Com abandono e tristeza (c.73 até c.90)

Forma: Ternária simples

Guardadas as devidas proporções, notamos que a instabilidade provocada pela

escrita rítmica e pela harmonia desta 5a. Valsa em mi menor possui um parentesco com a 12a.

Valsa de Esquina, como nos exemplos seguintes:

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1. Início da Valsa em mi menor e início da 12a Valsa de esquina

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2. Idem, trechos seqüenciais:

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Valsa em fa menor

A

Lento e espressivo (c.01 até c.16)

B

a tempo (c.17 até c. primeira metade do primeiro tempo do c.33)

A’

(segunda metade do primeiro tempo do c.33 até c.58)

Forma: Ternária simples (Prelúdio)

Aqui, temos uma afinidade na construção temática com os Preludes Op. 28 de

Chopin, em particular o quarto da famosa série em mi menor. Além desta valsa, o Estudo no.

10, também em fa menor, segue o mesmo princípio.

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F. Chopin: trecho inicial do Prelude Op.28 no 4

F. Mignone: trecho inicial da Valsa em fá menor

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F. Mignone: trecho inicial do Estudo no 10

Valsa em fa sustenido menor

A

Andante com ar de modinha (c.01 até primeiro tempo do c.21) –

A’

a tempo ( segundo tempo do c.21 até c.37) –

B

a tempo (meio arrítmico e fantasioso) (c.38 até primeiro tempo do c.50) –

Coda

Bem devagar (segundo tempo do c. 50 até c.55)

Forma: Binária simples

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74

Temos aqui a melodia colocada sobre um acompanhamento de acordes

repetidos, procedimento tipicamente pianístico. Um sinal que Mignone não havia ainda

familiarizado-se totalmente com uma escrita mais idiomática do violão. O uso de seqüências de

acordes em posição fechada, como nesta valsa, é constante em sua obra para violão.

Coincidentemente, na seção contrastante que segue, a partir do compasso 38, a seqüência de

acordes apresenta-se em posição aberta, onde a sonoridade do instrumento é favorecida por

uma escrita mais idiomática.

Valsa em sol menor

A

Movimentado e cantado (c.01 até c.29) –

B

Vivo (c.30 até c.61) –

A’

Io Tempo (c.62 até c.98) –

Coda

Bem Lento (c.89 até c.94)

Forma: Ternária simples

Aqui temos outra autocitação. O tema exposto na primeira seção desta. Valsa

em sol menor para violão é literalmente o mesmo do final da Valsa-Choro no. 4 para piano,

porém simples e sem ornamentações. Na retomada, este tema ganha uma nova variação,

diferenciada da obra pianística 15.

15 Detectamos esta autocitação quando ouvimos a seguinte gravação : Francisco Mignone. 12 Valsas-Chôros.

LP Festa LDR 5.002, Rio de Janeiro, 1962; Idem. ibidem. CD FT 1804, 1999.

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75

Valsa em la bemol menor

A

Soturno (bem triste) (c.01 até c.36) –

B

Un poco più mosso (c.37 até c.50) –

C

Allegro mosso (c.51 até c.96) – D.C.

A

Soturno (bem triste) (c.01 até c.35) –

Coda

A tempo (c.97 até c.108)

Forma: Ternária simples

Novamente, a melodia exposta na primeira seção nos bordões concentrando a

escrita nas regiões média e grave. Na seção que segue, A Tempo ma un poco più mosso, novo

motivo com uso de harmonias em posição fechada, variado na segunda frase com passagens

em terças. No Allegro mosso, novo tema nos bordões sob persistente acompanhamento em

acordes em posição fechada.

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Valsa em la menor

A

Preludiando calmamente (c.01 até c.016) –

B

Allegro deciso (c.17 até c.55) –

A’

Sempre Allegro ma poco meno del precedente (c.56 até c.71) –

A’’

a tempo e deciso (c.72 até c.83) –

Coda

Presto (c.84 até c.87) e Lento (c.88 e 89)

Forma: Ternária simples (Estudo)

Esta é de todas a que mais afinidades apresenta com a forma de estudo. A seção

inicial e sua primeira retomada, (A’) em modo maior, são estudos de sextas. Aqui, um contato

com a música rural, com a sonoridade do instrumento aproximando-se da viola sertaneja. A

segunda seção, Allegro deciso, apresenta-se como um estudo de notas repetidas que abre com

um motivo usado na Sonata no. 1 (1941). Na segunda retomada da seção (A’’)’, uma

combinação das dificuldades expostas.

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F. Mignone: início da 2a seção da Valsa em lá menor

F. Mignone: trecho da Sonata no 1 para piano

Ressaltamos que, na segunda seção, a escrita se aproxima muito da utilizada em

instrumentos de arco. Daí a concentração dos acordes em posição cerrada.

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Valsa em si bemol menor

A

Suave e meditativo (c.01 até c. 19) –

B

Più lento (c.20 até c.36) –

C

Più mosso e poco agitato (c.37 até c.66) –

B

Più lento (come prima) (c.67 até primeira metade do primeiro tempo do c.83) –

A

(c.83 até primeiro tempo do c.99) –

Coda

(segundo tempo do c.99 até c.120)

Forma: Palíndromo

De todas é a mais italianizante. Desde a chamada introdutória do Suave e

meditativo, passando pelo ‘belcantismo’ do Più mosso até o recitativo, que pouco a pouco

vai tomando forma no transcorrer da segunda seção.

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Valsa em si menor

A

Com muita alegria e entusiasmo (c.01 até c.22) –

B

(c.23 até c.38) –

A’

(c.39 até c.55) –

C

Molto meno (c.56 até c.89) – D.C.

A

Com muita alegria e entusiasmo (c.01 até c.22) –

B

(c.23 até c.38) –

A’

(c.39 até c.46 indo para c.90 e c.91) –

Coda

(c.92 até c.104)

Forma: Ternária ABA’ – C – ABA’ Coda

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A valsa que encerra o ciclo tem na sua primeira seção um seqüenciamento de

células rítmicas que ressaltam o caráter dançante. É seguido de uma seção, com um breve tema

sob pedal de dominante. Novamente, a retomada da seção inicial desta vez variada. Na seção

seguinte (C), uma melodia lírica começa a tomar forma, quando após a barra dupla no

compasso 64, um novo motivo percorre os seis compassos seguintes.

O ciclo das 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos é o mais despojado

escrito por Mignone. Nele, há apenas o essencial. Notamos que, depois Valsa em re menor, a

música vai tornando-se mais intimista. O tratamento das tonalidades menores é bem diferente

daquele usado nos Estudos, mais interiorizado do que a luminosa atmosfera seresteira destes.

Alia-se a este fator, a sonoridade ‘escura’ das tonalidades de do sustenido menor, mi bemol

menor, fa menor, fa sustenido menor, la bemol menor e si bemol menor, que no violão são por

vezes “lúgubres”. Outro dado que enfatiza a atmosfera noturna destas valsas, é o reduzido uso

de tonalidades maiores nas seções contrastantes. Aparecem apenas na Valsa em mi menor, na

Valsa em sol menor e na Valsa em la menor, sempre na tonalidade homônima.

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3.2 – Fontes Principais

São duas as fontes principais que tivemos acesso para esta edição das 12 Valsas

Brasileiras em Forma de Estudos, de Francisco Mignone. Pela ordem de contato, são as

seguintes:

3.2.1 - A primeira edição lançada pela Irmãos Vitale S/A. Ind. e Com., São Paulo – Rio de

Janeiro, 1970. Cada uma das valsas foi editada separadamente para a venda em forma avulsa

no formato 22,6 x 31 cm, constando na página de rosto da primeira valsa: FRANCISCO

MIGNONE / 1a. VALSA / Em Dó Menor / PARA VIOLÃO / Digitada por / CARLOS

BARBOSA LIMA / 190 - Violão / Vinheta do editor / IRMÃOS VITALE / EDITORES /

BRASIL. A numeração de catálogo vai de 190 até 201. Na pág. 2, constam em todas a

dedicatória a ISAÍAS SÁVIO, o título 1a. Valsa em Dó Menor, no canto superior esquerdo a

indicação - Digitada por CARLOS BARBOSA-LIMA e no canto direito FRANCISCO

MIGNONE com a data colocada (1970) colocada abaixo do nome.

3.2.2 - O manuscrito pertencente à Irmãos Vitale S/A. Ind. e Com., São Paulo – Rio de

Janeiro, no formato 23 x 31 cm, com 36 páginas incluindo folhas de rosto, provavelmente

antecedeu a preparação da edição mencionada acima. Foi escrito a caneta-tinteiro preta, pelo

compositor, e apresenta dedilhado de Carlos Barbosa-Lima feito a lápis, e as anotações do

gravador em lápis de cor e caneta esferográfica. Possui correções feitas por apagamento e por

sobreposição de colagens à caneta- tinteiro e em certos trechos com caneta esferográfica. Todas as

valsas, exceto a segunda, apresentam folha de rosto e não são todas que constam as datas de

composição. Estas aparecem na Valsa em Do menor e a Valsa em Re menor, datadas de 19-9-70,

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na Valsa em Fa sustenido menor, datada de 21-9-70, e nas Valsas em La menor e Si bemol menor,

datadas de 24-9-70. Esta última data aparece no final da décima segunda, Valsa em Si menor,

abaixo da assinatura do compositor.

Pela ordem, uma descrição de cada obra do ciclo. Na primeira, que apresenta o ciclo

e a primeira Valsa em Do menor, constam as seguintes indicações:

a- Numeração da Valsa em do menor colocada no meio da página em círculo;

b- Dedicatória a Isaías Sávio com letra não identificada no canto direito;

c- Título 12 VALSAS BRASILEIRAS / EM FÓRMA DE ESTUDOS feito em lápis de cor azul

marinho, pelo compositor;

d- Dedicatória a Isaías Sávio, que aparece novamente feita por Antônio Carlos Barbosa-

Lima;

e- Título escrito a caneta-tinteiro, VALSA Em Dó Menor/ para violão / de / FRANCISCO

MIGNONE / (1970);

f- Assinatura do compositor com local e data: Rio - 19-9-70 colocados abaixo da mesma;

g- Indicação Digitada por Carlos Barbosa-Lima, feita pelo mesmo e,

h- Numeração de catálogo 190 v., no canto inferior direito.

A segunda, como vimos, não apresenta página de rosto, porém há a numeração

colocada em círculo à direita, entre a dedicatória e o título.

Na terceira, estão apresentadas as seguintes indicações na página de rosto:

a- Numeração da Valsa em ré menor colocada em círculo no canto direito da página;

b- Dedicatória a Isaías Sávio com letra de Carlos Barbosa-Lima;

c- Título escrito a caneta-tinteiro, VALSA em Ré Menor/ para violão / de /

FRANCISCO MIGNONE / (1970);

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d- Assinatura do compositor, colocada ao lado direito da página, com local e data: Rio - 19-

9-70, abaixo da mesma;

e- Indicação Digitada por Carlos Barbosa-Lima, feita pelo mesmo.

Na quarta, estão apresentadas as seguintes indicações na página de rosto:

a- Numeração da Valsa em mi bemol menor colocada em círculo no canto direito da página;

b- Dedicatória a Isaías Sávio, com letra de Carlos Barbosa-Lima;

c- Título escrito a caneta-tinteiro, VALSA em mi bemol menor/ para violão / de /

FRANCISCO MIGNONE / (1970);

d- Indicação Digitada por Carlos Barbosa-Lima, feita pelo mesmo.

Na quinta, estão apresentadas as seguintes indicações na página de rosto:

a- Numeração da Valsa em mi menor colocada em círculo no canto direito da página;

b- Dedicatória a Isaías Sávio, com letra de Carlos Barbosa-Lima;

c- Título escrito a caneta-tinteiro, VALSA em mi menor/ para violão / de / FRANCISCO

MIGNONE / (1970);

d- Indicação Digitada por Carlos Barbosa-Lima, feita pelo mesmo.

Na sexta, estão apresentadas as seguintes indicações na página de rosto:

a- Numeração da Valsa em fa menor colocada em círculo no canto direito da página;

b- Dedicatória a Isaías Sávio, com letra de Carlos Barbosa-Lima;

c- Título escrito a caneta-tinteiro, VALSA em fa menor/ para violão / de / FRANCISCO

MIGNONE / (1970);

d- Assinatura do compositor;

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84

e- Indicação Digitada por Carlos Barbosa-Lima, feita pelo mesmo.

Na sétima, estão apresentadas as seguintes indicações na página de rosto:

a- Numeração da Valsa em fa sustenido menor colocada em círculo no canto direito da

página;

b- Dedicatória a Isaías Sávio, com letra de Carlos Barbosa-Lima;

c- Título escrito a caneta-tinteiro, VALSA em fa sustenido menor/ para violão / de /

FRANCISCO MIGNONE / (1970);

d- Assinatura do compositor, colocada ao lado direito da página, com local e data: Rio - 21-

9-70, abaixo da mesma;

e- Indicação Digitada por Carlos Barbosa-Lima, feita pelo mesmo, colocada no lado

esquerdo inferior.

Na oitava, estão apresentadas as seguintes indicações na página de rosto:

a- Numeração da Valsa em sol menor colocada em círculo no canto direito da página;

b- Dedicatória a Isaías Sávio, com letra de Carlos Barbosa-Lima;

c- Título escrito a caneta-tinteiro, VALSA em sol menor/ para violão / de / FRANCISCO

MIGNONE / (1970);

d- Indicação Digitada por Carlos Barbosa-Lima, feita pelo mesmo.

Na nona, estão apresentadas as seguintes indicações na página de rosto:

a- Numeração da Valsa em la bemol menor colocada em círculo no canto direito da página;

b- Dedicatória a Isaías Sávio, com letra de Carlos Barbosa-Lima;

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c- Título escrito a caneta-tinteiro, VALSA em la bemol menor/ para violão / de /

FRANCISCO MIGNONE / (1970);

d- Indicação Digitada por Carlos Barbosa-Lima, feita pelo mesmo.

Na décima, estão apresentadas as seguintes indicações na página de rosto:

a- Numeração da Valsa em la menor colocada em círculo no canto direito da página;

b- Dedicatória a Isaías Sávio, com letra de Carlos Barbosa-Lima;

c- Título escrito a caneta-tinteiro, VALSA em La menor/ para violão / de / FRANCISCO

MIGNONE / (1970);

d- Assinatura do compositor, colocada ao lado direito da página, com local e data: Rio - 24-

9-70, abaixo da mesma;

e- Indicação Digitada por Carlos Barbosa-Lima, feita pelo mesmo.

Na décima primeira, estão apresentadas as seguintes indicações na página de

rosto:

a- Numeração da Valsa em si bemol menor colocada em círculo no canto direito da página;

b- Dedicatória a Isaías Sávio, com letra de Carlos Barbosa-Lima;

c- Título escrito a caneta-tinteiro, VALSA em si bemol menor/ para violão / de /

FRANCISCO MIGNONE / (1970);

d- Assinatura do compositor, colocada ao lado direito da página, com local e data: Rio - 24-

9-70, abaixo da mesma;

e- Indicação Digitada por Carlos Barbosa-Lima, feita pelo mesmo.

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Na décima segunda, estão apresentadas as seguintes indicações na página de

rosto:

a- Numeração da Valsa em si menor colocada em círculo no canto direito da página;

b- Dedicatória a Isaías Sávio, com letra de Carlos Barbosa-Lima;

c- Título escrito a caneta-tinteiro, VALSA em si menor/ para violão / de / FRANCISCO

MIGNONE / (1970);

d- Assinatura do compositor, colocada ao lado direito da página, com local e data: Rio - 24-

9-70, abaixo da mesma;

e- A Indicação Digitada por Carlos Barbosa-Lima, feita pelo mesmo.

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3.3 Critérios para a edição

A razão principal para o trabalho desta edição para as 12 Valsas Brasileiras em

Forma de Estudos de Mignone, é como vimos, dar condições para que a obra possa ser

executada. A primeira edição, lançada com muitos erros e sem uma devida revisão, contribuiu

para o esquecimento deste importante ciclo por mais de 31 anos. Mesmo Carlos Barbosa-Lima

que fez o dedilhado da primeira edição, reconhece a necessidade de uma nova revisão, com

aponta o trecho abaixo extraído de recente entrevista 1:

- Você as digitou, mas elas continuam bem difíceis de fazer resultar, não é mesmo ? É, na época eu tentei tornar possível tocá-las do jeito que o Mignone escreveu, mas hoje eu acho que elas precisam de uma revisão mais abrangente, sabe? Eu até tenho um aluno que, sob minha supervisão, fez um estudo e uma outra versão das valsas, se você quiser posso lhe mostrar.

Foram adotados os seguintes critérios para esta edição:

3.3.1 A utilização do manuscrito de Irmãos Vitale Editores como referência principal, por

apresentar-se mais completo e corrigido evitando os inúmeros erros da primeira edição;

3.3.2 A viabilidade de execução sem prejuízo do conteúdo do texto com realização de

intervenções na partitura diante das seguintes situações:

a. Impossibilidade de execução,

b. Comprometimento da execução, ou seja, execução possível mas com dificuldade técnica.

1 ZANON, Fábio. Entrevista com Carlos Barbosa Lima parte III, In: Violão Intercâmbio, no. 40, Ano VII, p. 21, mar/abr. 2000, Santos.

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c. Correção dos erros da fonte principal de referência (manuscrito),

d. Suprir a falta de elementos necessários em determinados trechos que não constam no

manuscrito, como por exemplo, pausas e sinais de articulação,

e. Aumentar da clareza do texto. O manuscrito não apresenta muitas vezes um formato lógico

para acomodar a escrita do violão, em razão do espaço muito pequeno do pautado usado pelo

autor. Dentro deste item, chamamos a atenção para o dedilhado. Estes dois fatores nos levou

por vezes a alterar a disposição dos elementos na partitura, para aumentar a clareza do texto,

como no exemplo abaixo:

1. Original:

2. Edição:

As intervenções e demais trechos comentados nas notas da edição, p.144, estão

assinalados na partitura com uma chave com linha tracejada, como no exemplo abaixo:

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Da mesma forma, a colocação de ligaduras desta nova revisão está apresentada

em forma de um semicírculo tracejado, como no exemplo abaixo:

Valsa em do menor, comp. 49

Os procedimentos utilizados nas intervenções são os seguintes:

1- Exclusão de notas,

2- Inclusão de notas,

3- Mudanças de posicionamento de acorde,

4- Uso de outras inversões de acorde,

5- Colocação de dedilhado

3.3.3 Com exceção do dedilhado e das ligaduras tracejadas, todas as intervenções estão

justificadas 2;

3.3.4 Abrir a edição com a inserção de cópia do manuscrito e da primeira edição da obra 3.

2 Ver Notas, p. 144. 3 Ver Anexo

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3.4 Partitura

FRANCISCO MIGNONE

12 VALSAS BRASILEIRAS EM FORMA DE ESTUDOS PARA VIOLÃO (1970)

Edição: Edelton Gloeden

(2002)

Copista: Leonardo Camargos

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144 3.5 Notas Valsa em do menor Compasso 18. No original:

Trecho de difícil execução. Solução apresentada: a exclusão da nota mi bemol no terceiro acorde; Compasso 19. No original:

Trecho de difícil execução. Solução apresentada: a eliminação da nota re no terceiro acorde; Compasso 30. No original:

Inserção de uma haste inferior na nota fa, que abre o compasso, transformando-a em uma semínima pontuada para tornar a escrita mais exata; Compasso 31. No original:

Inserção de uma haste inferior na nota fa, que abre o compasso, transformando-a em uma semínima pontuada, e exclusão das duas notas fa dos acordes seqüenciais, para tornar a escrita mais exata e possibilitar maior clareza da parte principal;

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145 Compassos 52 e 53. No original:

Impossibilidade de execução do trecho. Apresentamos duas soluções: A primeira, excluindo a nota mi bemol, e a segunda dispondo o acorde em outra posição, como indicado na ossia; Compassos 54 e 55. Idem, compassos 52 e 53; Compasso 67. Colocação de uma pausa de semínima no terceiro tempo que não consta no manuscrito; Compasso 92. No original:

Impossibilidade de manter todas as notas do acorde na duração indicada, devido a mudança de posição necessária para a execução do motivo no baixo. Solução apresentada: mudança da escrita para possibilitar a execução, ou seja, o acorde com duração de colcheia e as devidas pausas. Valsa em do sustenido menor Compassos 01, 02, 03. Alteração, na ossia, da disposição das notas do acompanhamento para que as três mínimas pontuadas possam ser executadas na duração real; Compasso 19. Colocação de uma tratina na nota mi, mínima pontuada que não consta no manuscrito; Compasso 36. Seguimos a indicação do revisor do manuscrito, Carlos Barbosa-Lima, mantendo o harmônico na nota sol sustenido que abre o compasso; Compasso 44. Seguimos a indicação do revisor do manuscrito, mantendo o harmônico na nota fa sustenido que abre o compasso; Compasso 45. Colocação de uma pausa de colcheia no primeiro tempo que não consta no manuscrito;

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146 Compasso 49. Idem, compasso 45; Compasso 50. Idem, compasso 49; Compasso 51. Idem, compasso 50; Compasso 52. Idem, compasso 51 e seguimos as indicações anteriores do revisor do manuscrito, colocando harmônico sobre a nota do sustenido que abre o compasso; Compasso 54. Colocação de uma pausa de colcheia no primeiro tempo que não consta no manuscrito; Compasso 55. Idem, compasso 54; Compasso 56. Idem, compasso 55; Compasso 57. Idem, compasso 56; Compasso 60. Idem, compasso 56. Valsa em do sustenido menor – (3) em F# Apresentamos novamente esta obra com uma opção de scordatura que utiliza a terceira corda afinada um semitom abaixo, para propiciar mais conforto na execução e riqueza tímbrica, sem nenhuma descaracterização sonora. Esta scordatura proposta é usada no estudo e execução da música renascentista, portanto familiar entre violonistas. Valem, portanto, todas as informações apresentadas na Valsa em do sustenido menor com a afinação normal. Valsa em re menor Compasso 51. No original:

Exclusão da nota mi dos acordes do segundo e terceiro tempos, para valorizar o fraseado;

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147 Compasso 52. No original:

Exclusão da nota re do acorde do segundo tempo, para valorizar o fraseado; Compasso 53. No original:

Exclusão da nota re do acorde do segundo tempo, para valorizar o fraseado, e exclusão da nota la do segundo espaço do mesmo acorde, por impossibilidade de execução; Compasso 54. No original:

Exclusão da nota re do acorde do segundo tempo, para valorizar o fraseado; Compasso 56. No original:

Impossibilidade de execução do acorde do segundo tempo. Solução apresentada: exclusão da nota si bemol da terceira linha e incluir a nota re, quarta corda solta;

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148 Compasso 60. No original:

Impossibilidade de execução do acorde do segundo tempo. Solução apresentada: exclusão da nota la do segundo espaço; Compasso 61. No original:

Impossibilidade de execução do acorde do segundo tempo. Solução apresentada: exclusão da nota si do acorde; Compasso 62. No original:

Impossibilidade de execução do acorde do segundo tempo. Solução apresentada: mudança na posição do acorde, passando a nota la para uma oitava acima; Compasso 63. No original:

Impossibilidade de execução do acorde do segundo tempo. Solução apresentada: exclusão da nota re;

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149 Compassos 82 e 83. No original:

Trecho de difícil execução. Se a opção for o original, a solução apresentada é a seguinte: o uso de harmônico na nota la na segunda metade do segundo tempo, como indicamos na partitura, deixando-a ressoar até tocar acorde com fermata no compasso seguinte. O objetivo é amenizar a sonoridade ‘dura’ das quartas da região aguda no terceiro tempo. Apresentamos

também a solução impressa na ossia, transportando as notas graves do terceiro tempo uma oitava mais baixa, que resulta em execução mais cômoda e sonoridade mais ampla; Compassos 91, 92 e 93. No original:

Trecho de difícil execução para ser concatenado com as seqüências de movimento anterior e posterior. Sugestão apresentada: exclusão da nota sol no primeiro e no terceiro tempos do compasso 91, para permitir mais conforto nas mudanças sem prejuízo de sonoridade; Compasso 92. Trecho de difícil execução pela extensão dos dedos 1 e 4 da mão esquerda em meio à concatenação rápida dos movimentos. Solução apresentada: exclusão da nota si do segundo tempo, para permitir mais conforto nas mudanças sem prejuízo de sonoridade; Compasso 93. Impossibilidade de execução pela extensão dos dedos 1 e 4 da mão esquerda e também pela concatenação rápida de movimentos. Solução apresentada: exclusão da nota si do segundo tempo, para permitir uma troca de movimentos com mais conforto sem prejuízo de sonoridade;

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150 Compassos 100 e 101. No original:

Exclusão da nota la (segundo espaço) dos acordes repetidos com função de acompanhamento, para valorizar o motivo em oitavas. A indicação de ragueado no original tem pouca funcionalidade e não é aplicável nas seqüências seguintes; Compassos 102 e 103. No original:

Exclusão da nota mi (primeira linha) dos acordes repetidos com função de acompanhamento, para valorizar o motivo principal escrito em oitavas; Compassos 104 e 105. Apesar do mi bemol grave da oitava, tocado na quarta corda, não poder ser mantido devido a troca de posição e a repetição dos acordes de acompanhamento, decidimos conservá-lo, para não alterar a escrita original em demasia; Compasso 106. No original:

Exclusão da nota la (segunda linha), dos acordes repetidos com função de acompanhamento, para valorizar o motivo principal escrito em oitavas. Apesar do la grave da oitava, tocado na quinta corda solta, não poder ser mantido devido a repeticão dos acordes de acompanhamento, decidimos conservá-lo, para não alterar a escrita original em demasia; Compasso 107. Apesar do sol grave da oitava, tocado na sexta corda, não poder ser mantido devido a repeticão dos acordes de acompanhamento, decidimos conservá-lo, para não alterar a escrita original em demasia;

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151 Compassos 108 e 109. Apesar do sol grave da oitava, tocado na quarta corda, não poder ser mantido, devido a armação da posição e a repetição dos acordes de acompanhamento, decidimos conservá-lo, para não alterar a escrita original em demasia; Compassos 110 e 111. No original:

Exclusão da nota re (terceira linha) dos acordes repetidos com função de acompanhamento, para valorizar o motivo em oitavas. Apesar do re grave da oitava, não poder ser mantido devido a execução dos acordes de acompanhamento, decidimos conservá-lo, para não alterar a escrita original em demasia; Compassos 112 e 113. No original:

Exclusão da nota fa (primeiro espaço) dos acordes repetidos com função de acompanhamento, para valorizar o motivo em oitavas. Apesar do fa grave da oitava, não poder ser mantido devido a repetição dos acordes de acompanhamento, decidimos conservá-lo, para não alterar a escrita original em demasia; Compassos 114 e 115. No original:

Mudamos a disposição das notas de acompanhamento no compasso 114 para uma oitava acima e colocamos as colcheias da oitava em mínimas pontuadas, em razão do original resultar numa sonoridade ‘pobre e vazia’; Compasso 115. Impossibilidade de execução. A solução foi mudar a posição do acorde passando a nota do sustenido para uma oitava acima.

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152 Valsa em mi bemol menor Compassos 01, 02, 03 e 05. Início de difícil execução na região aguda dos bordões, onde a afinação pode ser comprometida numa execução do ciclo ou numa seqüência com outras peças. Solução apresentada: a troca de naipe do acompanhamento, como está indicado na ossia; Compasso 32: No original:

Impossibilidade de execução. Solução apresentada: uso de outra posição do acorde. Valsa em mi menor Compassos 02, 04, 06, 10, 12 e 14. No manuscrito, falta uma colcheia ligada entre o primeiro e terceiro tempos. Ex.:

Compassos 01 e 02. No original:

Seqüência inicial de difícil execução devido a disposição das notas dos acordes do segundo compasso. Soluções apresentadas: 1- Dobramento das notas sol e si do acorde da segunda metade do terceiro tempo do primeiro compasso, para obter uma densidade que ressalta sem esforço a acentuação assinalada. 2- Inserção no acorde seguinte, no segundo compasso, de um harmônico na nota la tocada na quinta corda na décima segunda posição, antes do acorde como uma acciaccatura, com a função de completar a harmonia e dar possibilidade de montagem dos acordes seqüenciais;

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153 Compassos 03 e 04. Seqüência semelhante aos compassos 01 e 02, de difícil execução, devido a disposição das notas dos acordes do quarto compasso. Soluções apresentadas: 1- Dobramento das notas sol e si do acorde da segunda metade do terceiro tempo do terceiro compasso, para obter uma densidade que ressalta sem esforço a acentuação assinalada. 2- Inserção no acorde seguinte, no quarto compasso, de um harmônico na nota la tocada na quinta corda na décima segunda posição, antes do acorde como uma acciaccatura, com a função de completar a harmonia e dar possibilidade de montagem dos acordes seqüenciais; Compassos 05 e 06. Dobramento da nota sol do acorde da segunda metade do terceiro tempo do compasso 05, para obter uma densidade que ressalte a acentuação sem esforço; Compassos 07 e 08. No original:

Acorde da segunda metade do terceiro tempo difícil de ser montado. Solução apresentada: uso de outra inversão; Compassos 09 até 14. No original:

Impossibilidade de execução da seqüência de acordes. Solução apresentada: exclusão da nota la de todos os acordes, embutida na harmonia pela ressonância da quinta corda solta no harpejo do acompanhamento;

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154 Compassos 17. No original:

Dificuldade de montagem do acorde. Solução apresentada: uso de outra inversão; Compasso 18. No original:

Impossibilidade de execução da seqüência de acordes. Solução apresentada: prolongamento da nota re, última do compasso anterior tocada em harmônico até o final do compasso 18, e executar os acordes com três notas; Compasso 22. No original:

Impossibilidade de execução da seqüência de acordes. Solução apresentada: a exclusão da nota do no primeiro, segundo e terceiro acordes; Compasso 31. Dobramento em uníssono a nota sol, última do compasso como reforço tímbrico; Compassos 44 e 45. Impossibilidade de manter a nota si do baixo na duração indicada. Optamos por não alterar a escrita original; Compasso 49. Inserimos um bequadro na nota do apenas como precaução; Compasso 81. No original:

Seqüência de grande dificuldade de execução. Solução apresentada: exclusão da nota fa sustenido do primeiro tempo e da nota re sustenido do segundo tempo. Como a seqüência está toda construída sobre o acorde de dominante, a exclusão destas notas não alteram a sonoridade pretendida;

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155 Compasso 85. Impossibilidade de manter as notas do no segundo e terceiro tempos na duração estabelecida. Optamos por não alterar a escrita original; Compasso 87. No original:

Seqüência de acordes de difícil montagem. Solução apresentada: troca da nota la por uma nota mi. em todos os acordes; Compasso 88. Colocação de pausas que não constam no manuscrito no segundo e terceiro tempos. Valsa em fa menor Compassos 34 e 35. Impossibilidade de manter a nota la na duração estabelecida. Optamos por não alterar a escrita. Valsa em fa sustenido menor Compasso 11. No original:

Impossibilidade de execução do acorde da segunda metade do segundo tempo. Solução apresentada: Exclusão da nota do sustenido; Compasso 12. No manuscrito, o compositor aponta a indicação deixe vibrar a 5a. corda. Na edição consta deixe vibrar a 1a. corda. Optamos por esta última por ser a correta;

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156 Compasso 16. No original:

Impossibilidade de execução para manter a duração do baixo do acorde na segunda metade do terceiro tempo. Solução apresentada: a exclusão da nota la sustenido no acorde da última colcheia. Valsa em sol menor Compasso 02. Pequena dificuldade na mudança de posição entre o terceiro tempo do primeiro compasso e o primeiro acorde do segundo, que pode expor o executante ao ruído de cordas produzido pela mão esquerda e a um comprometimento do legato implícito no fraseado. Solução apresentada na ossia: mudança para um dedilhado que concentra toda a execução do segundo compasso na primeira posição e a exclusão da nota mi do último acorde; Compasso 07. Incluímos na ossia a nota mi bemol no baixo apenas para preenchimento harmônico; Compasso 09. No original:

Impossibilidade de montagem do acorde. Solução apresentada: uso de outra inversão; Compasso 16. No original:

Passagem de difícil execução. Solução apresentada: uso de outra inversão com uma mínima no baixo fa seguida de um re semínima no 3o tempo; Compasso 19. Dobramento do mi oitava abaixo, como reforço harmônico para progressão melódica sobre o um mesmo acorde até o final do compasso seguinte;

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157 Compassos 19 e 20. No original:

Exclusão da nota mi do acorde do terceiro tempo no compasso 20, para manter uma unidade tímbrica no fraseado; Compasso 62. Exclusão da nota sol do terceiro tempo, como alternativa para evitar a mudança de posição. Ver ossia. Valsa em la bemol menor Compasso 11. Seguimos a sugestão do revisor do manuscrito, mantendo o uso de harmônico na nota la bemol no acorde de acompanhamento; Compasso 12. Seguimos a sugestão do revisor do manuscrito, mantendo o harmônico na nota sol no acorde de acompanhamento; Compasso 13. Seguimos a sugestão do revisor do manuscrito, mantendo o harmônico na nota re bemol no acorde de acompanhamento; Compasso 15. Seguimos a sugestão do revisor do manuscrito, mantendo harmônico na nota do bemol no acorde de acompanhamento; Compasso 36. Seguimos a sugestão do revisor do manuscrito, mantendo uso os harmônicos na linha superior; Compasso 45. Impossibilidade de manter a nota fa na duração estabelecida. Optamos por não alterar a escrita original; Compasso 47. Impossibilidade de manter a nota mi bemol na duração estabelecida. Optamos por não alterar a escrita original; Compassos 51 até 72. Como havíamos comentado anteriormente, Mignone faz uso de seqüências harmônicas usando acordes em posição fechada. Neste trecho, a melodia do baixo nos compassos 56, 57, 64 e 65 tem suas notas encurtadas pela impossibilidade de mantê-las devido a posição cerrada de alguns acordes. Solução apresentada: uso de outra posição, invertendo a segunda e terceira notas depois de cada um dos baixos. Ver ossia; Compassos 97 a 99 e compassos 101 a 103. Temos aqui, no compasso 98 e 102 a mesma situação que aparece nos compassos 56, 57, 64 e 65, porém com uma mudança obrigatória na metade dos compassos 99 e 103 para a posição original.

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158 Valsa em la menor Compasso 03. Inclusão do sinal de acentuação na nota la no baixo da segunda metade do primeiro tempo; Compasso 05. Idem, compasso 03; Compasso 06. Idem, compasso 05; Compasso 07. Idem, compasso 06; Compasso 08. Idem, compasso 07; Compasso 09. Idem, compasso 08; Compasso 11. Idem, compasso 09; Compasso 12. O penúltimo acorde é difícil de ser montado pela extensão dos dedos 1 e 2 com o dedo 4. Solução apresentada na ossia: a exclusão da nota si, presente na harmonia do início do compasso; Compasso 19. Separação da haste do acorde das notas repetidas para maior clareza do texto; Compasso 20. Idem, compasso 19; Compasso 29. Idem, compasso 20; Compasso 31. Idem, compasso 29; Compasso 33. Seqüência de difícil execução. Solução apresentada: exclusão da nota sol sustenido que aparece na terceira e na quarta semicolcheia do segundo tempo, como está indicado na ossia; Compassos 34 a 36 e 42 a 45. Seqüências de difícil execução. A solução foi reescrever estes compassos como estão indicados na ossia; Valsa em si bemol menor Compasso 06, No original:

Impossibilidade de executar o acorde. Soluções apresentadas: 1- Exclusão da nota sol do acorde. 2- Exclusão da nota la bequadro como indicamos na ossia;

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159 Compasso 19, No original:

A nota fa que conclui a seção possui pouca sustentação em meio ao ritenuto. Solução apresentada: Dobramento oitava abaixo com uso de uma acciaccatura, que guarda relações com os acordes que imitam golpes de arco da seção inicial; Compasso 87. Idem compasso 06; Compasso 113. No original:

Impossibilidade de execução. Solução apresentada: nota do foi excluída do primeiro acorde. Valsa em si menor Compasso 05, No original:

O último acorde é de extrema dificuldade para ser armado isoladamente e impossível de ser concatenado com o acorde do compasso seguinte. Soluções apresentadas: 1- Exclusão do fa sustenido do acorde. 2- Outra inversão do acorde, como está indicado na ossia; Compasso 15, Idem compasso 05; Compasso 43. No original:

Não constam no manuscrito o do sustenido na clave e um bequadro no do da segunda tercina do segundo tempo, alteração esta que caracteriza o acorde de sétima diminuta. Feitas as correções devidas, resulta a dificuldade na montagem do acorde do terceiro tempo, caso semelhante ao compasso 05. Solução apresentada: mudança de posição;

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160 Compasso 92. Dobramento em uníssono da nota sol do acorde no terceiro tempo, para valorizar o sforzando; Compasso 94. Idem, compasso 92; Compasso 96. Idem, compasso 94; Compasso 97. Idem, compasso 96; Compasso 98. Idem, compasso 97; Compasso 99. Idem, compasso 98.

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Conclusão

Dez anos após a composição e edição das 12 Valsas Brasileiras em Forma de

Estudos, Mignone deixou registrado que este ciclo para violão foi feito apenas com finalidade

editorial 1. Sentimos, nesta declaração, um certo conformismo e frustração, possivelmente por

não receber uma resposta dos violonistas em relação a esta obra. Mesmo os Estudos, mais

divulgados e conhecidos, até hoje não são muito visitados.

É possível que até o final de sua vida, Mignone não tenha presenciado a

execução de alguma destas valsas para violão. Hoje sabemos que o compositor sentia um

grande entusiasmo em escrever para intérpretes aos quais se identificava.

Apontamos quatro fatores que contribuíram para a falta de interesse e o

esquecimento da obra e as soluções possíveis para superar tais barreiras. São os seguintes:

1- O emprego de tonalidades pouco usadas. Um aspecto técnico que chama a atenção dos

violonistas, logo ao primeiro exame da partitura para problemas como dificuldade de leitura e

pouco rendimento sonoro. Acreditamos que nós, violonistas, estamos hoje mais preparados e

interessados nas obras que exploram o universo do sistema temperado dentro do repertório do

violão. Um exemplo é a edição de 1981, de Miguel Alcazar, que nos revelou o ciclo dos 24

Preludes de Manuel Ponce, cinqüenta anos após a edição fragmentada de Andrés Segovia 2.

Hoje, este ciclo está plenamente incorporado ao repertório como obra referencial, com

inúmeras gravações e guardando afinidades como estrutura, proposta didática e até mesmo

história com o ciclo de Mignone;

1 Texto de Francisco Mignone inserido da contracapa do LP 46.81.0385, Estúdio Eldorado Mignone, intérprete: Maria Josephina – participação especial do autor, São Paulo, 1980. 2 B. Schott’s Söhne, Mainz, 1930.

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2- A grande quantidade de erros da primeira edição. Aqui detectamos muitas discrepâncias

em relação ao manuscrito dos Irmãos Vitale. Este revelou-se mais completo e serviu de

referência para a elaboração desta edição alternativa;

3- A falta de uma revisão mais apurada e abrangente, reconhecida por Carlos Barbosa-Lima,

como vimos, que fez o dedilhado da primeira edição e provavelmente muitas das correções no

manuscrito. Propusemos-nos a uma nova revisão com um novo dedilhado, justificando todas

as correções e alterações feitas nesta edição. Procuramos abrir nossa edição, incluindo nesta

tese, e em futura publicação, uma cópia do manuscrito dos Irmãos Vitale, a exemplo das mais

recentes tendências editoriais de obras de referência do repertório violonístico como a

Sonata (1933) do compositor espanhol Antônio José (1902-1936) descoberta nos anos 80 3;

4- Considerando as diferenças entre o manuscrito dos Irmãos Vitale, a primeira edição, a data

de conclusão da obra e o lançamento no mercado, acreditamos que houve certa precipitação.

Escrever para violão, sem um conhecimento razoável das suas possibilidades e

do manejo de sua escrita, é uma tarefa árdua e arriscada. Na recente história do instrumento, a

colaboração entre compositores e intérpretes vem tornado-se quase obrigatória,

principalmente quando o instrumento é trabalhado nos seus limites.

Na história dos instrumentos, entre vários exemplos, citamos o Concerto para

violino e orquestra Op. 73 em ré maior (1878) de Johannes Brahms (1833-1897), que teve o

violinista e compositor Joseph Joachim (1831-1907) como consultor e autor da famosa

3 Edizioni Bèrben, Ancona, 1990.

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cadenza. Na época, uma obra de extrema dificuldade, hoje obrigatória do repertório de

qualquer grande solista. Como exemplo mais recente, não podemos deixar de mencionar o

depoimento do violoncelista, pianista e regente Mstislav Rostropovich (1927) sobre o seu

convívio com três grandes compositores do séc. XX.

...At the end of my life I can name three heroes, three supreme figures: Prokofiev,

Shostakovich and Britten. My relationship with Britten was diferent from the others because

when I came to know him I was more mature as a person and musician. With Prokofiev and

Shostakovich I was more like a student, but with Ben, thought not his equal, I was more

developed, older. He opened my eyes to completely new human qualities. I had never met

anyone like him before. And of course I was overwhelmed by the wealthy of his music, the

ocean of his music. I don’t know who played the piano better then him. I stopped playing

Schubert’s Arpeggione Sonata after he died – it was impossible to find anyone else who

would rise his level...

...There were only two composers – Britten and Shostakovich – who composed so

perfectly for the instrument that you didn’t have to change a note. For Prokofiev, no!

Somethings he composed things that were really impossible for the instrument. And I would

have to help him. ‘Change them, Slava, change, change!’ he would say 4.

Colaborações como estas foram decisivas para a evolução da técnica

instrumental, para a arte da interpretação e para viabilizar a execução de obras primas.

Acreditamos, que no caso de Mignone e Barbosa-Lima, tivemos uma das mais

relevantes colaborações na história do repertório violonístico brasileiro, que resultou em obras

como os 12 Estudos e o Concerto para violão e orquestra. Infelizmente, as 12 Valsas

4 BBC Music Magasine, Rostropovich at 75. Entrevista a Moray Welsh. p. 36, vol. 10, number 8, april, 2002.

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Brasileiras em Forma de Estudos não receberam um tratamento igual as obras mencionadas

acima.

É praticamente impossível manter-se isento, por mais criteriosa e escrupulosa

que tenha sido a metodologia empregada nas intervenções. O aumento da responsabilidade e

da cumplicidade do intérprete é proporcional à medida que sua participação seja solicitada e,

portanto, é vital saber mergulhar no universo do compositor, ainda mais quando não podemos

consultá-lo. Este foi o nosso maior desafio neste trabalho.

Esperamos, com esta edição, contribuir para a divulgação deste ciclo único e

referencial do repertório violonístico brasileiro e internacional.

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MIGNONE, Francisco. 12 Estudos para violão de Francisco Mignone dedicados ao

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interpreta 12 Estudos para violão de Francisco Mignone, Rio de Janeiro, 1978.

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intérprete: Maria Josephina – participação especial do autor, São Paulo, 1980.

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interpretando Mignone. Rio de Janeiro, 1978.

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Eduardo Francisco Alves, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1994.

ENCICLOPÉDIA DA MÚSICA BRASILEIRA: erudita, folclórica e popular. São Paulo,

editor: Marcos Antônio Marcondes, Art. Ed., 1977.

ENCICLOPÉDIA DA MÚSICA BRASILEIRA: erudita, folclórica e popular. 2a. ed. São

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5. Dissertações

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Violão de Francisco Mignone. Dissertação apresentada ã Escola de Música da UFRJ, Rio de

Janeiro, 1995.

GLOEDEN, Edelton. O Ressurgimento do Violão no Século XX: Miguel Llobet, Emilio Pujol

e Andrés Segovia. Dissertação apresentada ao Depto. de Música da ECA/USP, São Paulo,

1996.

6. Cópias de documentos diversos

GUERRA PEIXE, César. 1 – Curriculum Vitae; 2 – Diplomas, Certificados e Outros

Documentos, 3 – Prêmios de Composição, de Estímulo, Menções Honrosas, etc. 4 –

Instituições das quais foi membro, participações em congressos e atuação como jurado em

concursos; 5 – Principais traços evolutivos da produção musical; 6 – Catálogo de obras

musicais; 7 – Musicologia; 8 – Gravações em discos fonográficos e tapes; Referências

bibliográficas; Rio de Janeiro, 1971.

_____________________. Relação Cronológica de Composição desde 1944. Rio de Janeiro,

1993.

_____________________. Relacionamento Cultural e Artístico de Guerra Peixe com

Pernambuco, s.l., s.d;

MIGNONE, Francisco. 12 Estudos para violão, cópia do MS, Rio de Janeiro 1970;

__________________.12 Valsas para violão (avulsas), São Paulo, Irmãos Vitale, 1970;

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___________________. 12 Valsas Brasileiras em forma de estudos, MS, São Paulo, Irmãos

Vitale, 1970.

7. Entrevistas

BRIZA, Lucita. Surras, peladas e saraus modernos, entrevista inédita de Francisco Mignone

realizada em 1975. Caderno de Sábado, pg. 05, Jornal da Tarde, 30/08/1997, São Paulo.

LOPES-GRAÇA, Fernando. Inquérito aos Compositores Brasileiros. II- Francisco Mignone

In: Obras Literárias – Opúsculos (2), pg. 199. Lisboa, Editorial Caminho, 1984.

WELSH, Moray, Rostropovich at 75. BBC Music Magasine, London. p. 36, vol. 10, number

8, april, 2002.

ZANON, Fábio. Entrevista com Carlos Barbosa Lima parte III, In: Violão Intercâmbio, no. 40,

Ano VII, p. 21, mar/abr.2000, Santos.

8. Gravações

Barbosa-Lima Interpreta 12 Estudos para violão de Francisco Mignone, LP Philips 6598-

312, Rio de Janeiro, 1978.

Francisco Mignone, Sonatas e Sonatinas, piano: Heitor Alimonda, Esther Naiberger, Miriam

Ramos, André Carrara e Estela Castaldi, São Paulo, CD 004840, Paulus, 1999.

Francisco Mignone, Concerto para piano e orquestra e 19 Canções. Rio de Janeiro, CD

S003, SOARMEC, 1997.

Francisco Mignone. 12 Valsas-Chôros. LP Festa LDR 5.002, Rio de Janeiro, 1962.

Idem. ibidem. CD FT 1804, 1999.

Page 131: AS 12 VALSAS BRASILEIRAS EM FORMA DE … Agradecimentos: Adelia Issa Antonio Felipe Issa Cláudio Hodnick Flávia Prando Irmãos Vitale José Eduardo Martins Leonardo Camargos Marco

172

As 12 Valsas de Esquina de Francisco Mignone – Arthur Moreira Lima, Rio de Janeiro, LP

uarup KLP-013, 1982.

Valsas de Esquina, Francisco Mignone, piano. Rio de Janeiro, LP Festa LDR 5001, s.d.

Mignone interpretando Mignone. Rio de Janeiro. LP Philips-Polygram 6598-311, 1978.

Viagem pelo Brasil, Música brasileira indicada por viajantes da primeira metade do século

XIX. Anna Maria Kieffer, voz; Gisela Nogueira, viola de arame e Edelton Gloeden, violão. São

Paulo, Akron, 2000.

9- Outras publicações

Villa-Lobos, sua obra, catálogo, 3a. ed., Rio de Janeiro, Museu Villa-Lobos, 1989.