As ações físicas de Stanislavski

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As ações físicas de Stanislavski. No teatro ocidental, ao longo de sua trajetória histórica, foram poucas as teorias que falam diretamente do trabalho do ator. O texto por muito tempo era o foco central de todo pensamento dos homens de teatro, assim obras importantes foram criadas para conceituar o entendimento da dramaturgia e seus aspectos literários. O paradoxo do Comediante de Denis Diderot é considerado o primeiro estudo do papel do ator no teatro, escrito no final do século XVIII, propõe fazer uma reflexão e incitar uma mudança no pensamento artístico europeu. Esta obra reivindicava um novo teatro, pedindo o abandono de formas teatrais antiquadas, feitas para uma sociedade ultrapassada, mantida por uma retórica artificial. Para Denis Diderot as artes cênicas necessitavam de novos personagens que traduzissem o novo cidadão político, a nova economia e os meios sociais humanos, deixando para trás o mito do herói. Dessa forma, o novo ator deveria ser dotado de grandes qualidades imaginativas, racionais, gestuais e, sobretudo saber sensibilizar a platéia sem se deixar emocionar pelo o papel. A obra de Diderot é uma suma de alerta aos interpretes quanto à sensibilidade no teatro. Desde então começaram a ser ensaiadas tentativas de método para os atores.  Na Alemanha durante a metade do século XIX o duque George Sax Mennieger’s formou uma companhia fixa de repertório, que tinha como característica fazer um apanhado histórico da dramaturgia, a realização constantes de ensaios, treino físico dos atores. Assim, George de Sax menniegire’s, defendia ser o corpo a base para interpretar qualquer personagem. Mas como incorporar uma técnica ao corpo sem que esta seja percebida pelo publico? A solução é simples e direta: exercícios, transpiração, dedicação e compromisso. Para Margot Berthold (2008) a companhia dos menniegere’ s influenciou muitos artistas desta época. Foi pensando nisso que Constatin Stanislavski ((1863-1938) desenvolveu um método de trabalho para a interpretação do ator, voltada para este através de procedimentos que consiste no desenvolvimento da arte dramática. Com Stanislavski vamos ter a primeira sistematização de um método para o ator. Sua contribuição para teatro foi transformadora, pode ser constatada através de seus livros:  A Preparação do  Ator e  A Construção da Personagem , neste último já encontramos o método das ações  físicas através do qual objetivava a união das ações físicas às psíquicas, utilizando-se dessa metodologia para uma interpretação que se aproximasse ao máximo da vida

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As ações físicas de Stanislavski.

No teatro ocidental, ao longo de sua trajetória histórica, foram poucas as teorias

que falam diretamente do trabalho do ator. O texto por muito tempo era o foco central

de todo pensamento dos homens de teatro, assim obras importantes foram criadas para

conceituar o entendimento da dramaturgia e seus aspectos literários.

O paradoxo do Comediante de Denis Diderot é considerado o primeiro estudo do

papel do ator no teatro, escrito no final do século XVIII, propõe fazer uma reflexão e

incitar uma mudança no pensamento artístico europeu. Esta obra reivindicava um novo

teatro, pedindo o abandono de formas teatrais antiquadas, feitas para uma sociedade

ultrapassada, mantida por uma retórica artificial.

Para Denis Diderot as artes cênicas necessitavam de novos personagens que

traduzissem o novo cidadão político, a nova economia e os meios sociais humanos,

deixando para trás o mito do herói. Dessa forma, o novo ator deveria ser dotado de

grandes qualidades imaginativas, racionais, gestuais e, sobretudo saber sensibilizar a

platéia sem se deixar emocionar pelo o papel. A obra de Diderot é uma suma de alerta

aos interpretes quanto à sensibilidade no teatro. Desde então começaram a ser ensaiadas

tentativas de método para os atores.

 Na Alemanha durante a metade do século XIX o duque George Sax Mennieger’s

formou uma companhia fixa de repertório, que tinha como característica fazer um

apanhado histórico da dramaturgia, a realização constantes de ensaios, treino físico dos

atores. Assim, George de Sax menniegire’s, defendia ser o corpo a base para interpretar 

qualquer personagem. Mas como incorporar uma técnica ao corpo sem que esta seja

percebida pelo publico? A solução é simples e direta: exercícios, transpiração,

dedicação e compromisso. Para Margot Berthold (2008) a companhia dos menniegere’s

influenciou muitos artistas desta época.

Foi pensando nisso que Constatin Stanislavski ((1863-1938) desenvolveu ummétodo de trabalho para a interpretação do ator, voltada para este através de

procedimentos que consiste no desenvolvimento da arte dramática. Com Stanislavski

vamos ter a primeira sistematização de um método para o ator. Sua contribuição para

teatro foi transformadora, pode ser constatada através de seus livros: A Preparação do

 Ator e A Construção da Personagem, neste último já encontramos o método das ações

 físicas através do qual objetivava a união das ações físicas às psíquicas, utilizando-se

dessa metodologia para uma interpretação que se aproximasse ao máximo da vida

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Tanto na vida real, como na vida em cena, a ação deve ser feita de um constante

surgimento, de provocações, internas e externas.

Para trazer à cena a experiência de uma ação viva, o ator ou atriz precisa manter uma

continuação de desejos, que por sua vez despertem aspirações do intimo de cada um. Para

vivermos a experiência de uma ação real ou vivida, nos colocamos no lugar da personagem. É aí 

que entra em cena o “se” que segundo Stanislavski (2008) é um dos fatores importantes para

chegarmos ao objetivo desejado. Outro ponto fundamental para uma abordagem das ações

físicas, exterior, são as circunstâncias dadas: onde se passa a estória; que horas são; qual é a

época do ano e etc. “A falsa interpretação de paixões ou de tipos ou simples usos de gestos

convencionais são erros freqüentes em nossa profissão” (Stanislavski, 2008, p.67)

Para Stanislavski não devemos adotar irrealidades, ou seja, tipos. Não devemos

copiar arquétipos. Nossa interpretação deve brotar do fato de vivermos no próprio fato.

Não se pode representar sem antes ter pensado no que se passou primeiro. Devemos

pensar com toda força neste fato que se passou antes, só assim teremos o resultado de

uma ação real e lógica.

Na verdade uma ação a ser praticada, deve uma finalidade, ou seja, um motivo.

Por exemplo: se fecharmos uma janela, temos o desejo implícito de que a janela

permaneça fechada, com o objetivo de evitar que o sol e a chuva penetrem no ambiente.

Ou para que as pessoas que passam na rua não observem o ambiente. Em outras

palavras não devemos fechar a janela sem nenhuma razão em mente. Enfim toda ação

deve ter uma finalidade.

Quando uma ação, não tem fundamento interior, ela jamais prende a atenção do

espectador. Para nós atores viver uma ação, é muito difícil, ao contrario das crianças

vivem as ações naturalmente. Então devemos seguir o exemplo dos pequenos, que

sentem, vivem e imaginam as ações sem que haja a necessidade de cenário, publico ou

adereços. Devemos atuar com convicção, motivação. Aprendendo que no palco toda

ação precisa de uma justificação interior, deve ser real.

Mais uma vez precisamos do se para sair do mundo que nos cerca, para

alcançarmos o universo da imaginação.

Segundo Stanislavski (2008) O “se” aguça os sentidos que produz uma alavancano interior instantaneamente. Quando nos colocamos no lugar da personagem ouquando nos colocamos diante de uma situação. Todas as vezes que usamos a palavra“Se” estamos nos colocando sob um sentido como se fosse um fato real, nossubmetendo a viver a situação que qualquer um sentiria no que Stanislavski chama

circunstancia dadas.

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Logicamente o ator não obrigado aceitar nenhuma suposição como realidade;

ninguém é forçado a crer em nada, pois o “se” não emprega, nem força o ator a executar

ação alguma. Na verdade este inspira domínio de uma situação imaginaria.

O “se” é o estimulo da criação. Outra qualidade do “se” é de despertar atividade

real e interior. Também estimula o subconsciente, disto podemos concluir que o “se” é

fundamental na arte da criatividade inconsciente, por meio de técnica consciente.

O se é o primeiro passo e as circunstancias dadas são o desenvolvimento. O se estimula a imaginação, as circunstancias dadas prepara a base para o próprio se. Tantoum como o outro, juntos ou separados tem a função de ajudar na criação interior.

O ator pode até se submeter ao desejo do diretor, mas para sentir a ação física oupsicológica, é preciso que use seus próprios desejos, gerados e elaborados por elemesmo e deve exercer sua própria vontade, não a do diretor. Não que o diretor não

possa sugerir ao ator suas vontades, mas é o ator que tem que incorporar na natureza dopróprio ator ação existente no espírito.

Uma ação pode ser executada em cena sem nenhum sentimento ou emoção, éclaro que continuara sendo uma ação, mas será uma ação sem qualidade cênica.

Segundo Stanislavski (2008) para o ator expor em cena os sentimentos vivos econscientes é preciso invocar a ação aguçadora da criatividade, que é a isca para nossasemoções a capacidade do ator criar objetivos que despertem a atividade dele próprio, é acapacidade de manejar os objetivos que constitui as preocupações de toda a nossatécnica interior.