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Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 Volume 4 Número 12 maio 2014 Edição Especial Homenageado F E R N A N D O T A R A L L O Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 219 AS CONSTRUÇÕES TEMPORAIS EM EPIPHANIO DIAS, ROCHA LIMA E MOURA NEVES Marilda Alves Adão Carvalho (UEG Quirinópolis) [email protected] RESUMO: Almeja-se neste artigo traçar e/ou apresentar uma análise comparativa de diferentes abordagens sobre as construções temporais em três obras de diferentes períodos históricos da língua portuguesa, em busca de estabelecer os aspectos que as aproximam ou as distanciam no que se trata do assunto em pauta. Para tanto, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, visto que se fez uma revisão das obras: Syntaxe Histórica da Língua Portuguesa, de Augusto Epiphanio da Silva Dias; Gramática Normativa da Língua Portuguesa, de Carlos Henrique da Rocha Lima e Gramática de Usos do Português, de Maria Helena Moura Neves com enfoque nas conjunções subordinadas adverbiais e na oração adverbial temporal. Essa investigação se, por um lado, facultou o conhecimento de como se é tratado um aspecto sintático em três obras gramaticais, por outro lado, facultou compreender a projeção e/ou visão de estudos da sintaxe por Epiphanio Dias, os quais se encontram à frente de seu tempo. PALAVRAS-CHAVE: Sintaxe; conjunções subordinativas; oração adverbial temporal ABSTRACT: This paper aims to show a comparative analysis of three different approaches regarding temporal constructions in three different history periods of the Portuguese language. It seeks to establish the aspects which approximate or distance the referred constructions. For that, we resorted to the bibliographic research, reviewing the following references: Sintaxe Histórica da Língua Portuguesa, by Augusto Epiphanio da Silva Dias; Gramática Normativa da Língua Portuguesa, by Carlos Henrique da Rocha Lima and Gramática de Usos do Português, by Maria Helena Moura Neves focusing on adverbial subordinate conjunctions and temporal adverbial clause. This study allowed us to understand how a sintatic aspect is treated in three different grammatical works and also led to grasping Epiphanio Dias´s orignal studies. KEYWORDS: Syntax; Subordinatives Conjunctions; Temporal Adverbial Clause. INTRODUÇÃO Considerando a notória complexidade que envolve o estudo das construções de tempo, visto elas abarcarem não só valor gramatical, mas também valor semântico - pragmático, nesse estudo buscar-se-á apresentar o critério de classificação dessas construções nas obras gramaticais de Epiphanio Dias (1918), Rocha Lima (1992) e Moura Neves (2000), as quais foram escolhidas tendo em vista o espaço de tempo

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AS CONSTRUÇÕES TEMPORAIS EM EPIPHANIO DIAS, ROCHA

LIMA E MOURA NEVES

Marilda Alves Adão Carvalho (UEG – Quirinópolis)

[email protected]

RESUMO: Almeja-se neste artigo traçar e/ou apresentar uma análise comparativa de diferentes

abordagens sobre as construções temporais em três obras de diferentes períodos históricos da língua

portuguesa, em busca de estabelecer os aspectos que as aproximam ou as distanciam no que se trata do

assunto em pauta. Para tanto, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, visto que se fez uma revisão das obras:

Syntaxe Histórica da Língua Portuguesa, de Augusto Epiphanio da Silva Dias; Gramática Normativa da

Língua Portuguesa, de Carlos Henrique da Rocha Lima e Gramática de Usos do Português, de Maria

Helena Moura Neves com enfoque nas conjunções subordinadas adverbiais e na oração adverbial

temporal. Essa investigação se, por um lado, facultou o conhecimento de como se é tratado um aspecto

sintático em três obras gramaticais, por outro lado, facultou compreender a projeção e/ou visão de estudos

da sintaxe por Epiphanio Dias, os quais se encontram à frente de seu tempo.

PALAVRAS-CHAVE: Sintaxe; conjunções subordinativas; oração adverbial temporal

ABSTRACT: This paper aims to show a comparative analysis of three different approaches regarding

temporal constructions in three different history periods of the Portuguese language. It seeks to establish

the aspects which approximate or distance the referred constructions. For that, we resorted to the

bibliographic research, reviewing the following references: Sintaxe Histórica da Língua Portuguesa, by

Augusto Epiphanio da Silva Dias; Gramática Normativa da Língua Portuguesa, by Carlos Henrique da

Rocha Lima and Gramática de Usos do Português, by Maria Helena Moura Neves focusing on adverbial

subordinate conjunctions and temporal adverbial clause. This study allowed us to understand how a

sintatic aspect is treated in three different grammatical works and also led to grasping Epiphanio Dias´s

orignal studies.

KEYWORDS: Syntax; Subordinatives Conjunctions; Temporal Adverbial Clause.

INTRODUÇÃO

Considerando a notória complexidade que envolve o estudo das construções de

tempo, visto elas abarcarem não só valor gramatical, mas também valor semântico -

pragmático, nesse estudo buscar-se-á apresentar o critério de classificação dessas

construções nas obras gramaticais de Epiphanio Dias (1918), Rocha Lima (1992) e

Moura Neves (2000), as quais foram escolhidas tendo em vista o espaço de tempo

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existente entre elas, bem como suas perspectivas teóricas: as duas primeiras, perspectiva

normativa, e a terceira, descritiva.

A opção pelo campo da sintaxe se deu em favor do interesse por investigações

na área e, ainda mais, por sua importância dentre os estudos linguísticos, uma vez ser na

sintaxe que melhor se reflete a linearidade, a organização e a estruturação dos atos de

fala e/ou comunicativos do homem, sejam eles orais ou escritos. Portanto, na/pela

sintaxe é que se estabelecem as devidas relações no eixo sintagmático da língua, a fim

de garantir a eficácia, a coerência discursiva.

Desta feita, ao se adentrar no campo dos estudos sintáticos à luz de abordagens

normativas e descritivas, especificamente no que se trata das construções temporais,

procurar-se-á responder se uma gramática formal apresenta consistência teórica capaz

de dar conta dos usos reais da língua. Logo, por meio de uma revisita aos estudos

tradicionais, hipotetiza-se uma certa relação entre sintaxe e critérios semântico-

pragmáticos, de forma a aproximar as obras de Epiphanio Dias e de Rocha Lima, mais a

primeira que a segunda, com a Gramática de Usos do Português, de Moura Neves, ou

aproximar esta, daquelas.Para então comprovar ou negar essa hipótese, destacar-se-á em

cada autor o conceito de sintaxe, o lugar em que se trata dos dois tópicos e a forma

determinada de tratá-los, isso a partir do que é gramática nos textos.

Ressalta-se que não se pretender desenvolver aqui um estudo historiográfico

e/ou de gramaticografia, mas tão somente um estudo comparativo entre três gramáticas,

duas do século XX e outra do século XXI.

1 Referencial Teórico

1.1O desvendar das obras gramaticais

Toma-se como referência histórica para este texto a obra de Augusto Epiphanio

da Silva Dias, a qual é construída num contexto de língua portuguesa de Portugal e, que,

segundo Leite de Vasconcellos (1919), ex-aluno do filólogo,

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[...] é um precioso trabalho de análise, d’aquela análise paciente e judiciosa

de que o Sr. Epiphanio sabia tão bem o segredo.Tanto a matériacomo o lado

histórico poderiam, sem dúvida, ser ampliados: mas tal como a obra está, e

como saiu das mãos trêmulas de um moribundo, constitui um padrão

firmíssimo na história da Filologia Portuguesa, ao qual irão forçosamente

encostar-se todos os que de futuro tentarem o mesmo assunto (POSFÁCIO À

SYNTAXE HISTÓRICA PORTUGUESA, p. 376).

A afirmação de Vasconcellos bem justifica a importância da obra de Dias para o

desenvolvimento dos estudos sintáticos e para o embasamento de outros estudiosos que

se interessam pelo tema, mesmo porque a autonomia da sintaxe como área de estudo

somente se firmou a partir do século XX, muito embora gramáticos da antiguidade já se

voltassem ao seu estudo. Borba (1979, p.08) esclarece que Aristóteles e Platão já

praticavam algumas investigações acerca das partes da oração. Os Estoicos e

posteriormente os Medievais também mantiveram a preocupação com o estudo da

gramática com enfoque na oração, inclusive retomando as ideias gregas como

fundamentos para seus estudos.

O trabalho de Dias pode ser lido dentro da perspectiva da Sintaxe Psicológica,

ou seja, como uma teoria da oração, de forma a tentar compreender sua natureza e

composição para se chegar a uma taxionomia das partes do discurso.

Por sua vez, a obra de Lima caracteriza-se como gramática normativa, haja vista

apresentar ao leitor um conjunto de normas que deve ser seguido para o “bem falar e

escrever”. O próprio autor afirma (1992, p. 7) “Fundamentam-se as regras da gramática

normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja linguagem as classes ilustradas

põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso idiomático

estabilizou e consagrou”, ideia essa em que se evidencia uma língua ideal também para

falantes ideais.

Tal como Dias, Rocha desenvolve sua Gramática Normativa da Língua

Portuguesa numa perspectiva psicológica, preocupada, portanto, com a ordem das

palavras na oração, o que é perceptível quando se lê o conceito de frase na terceira parte

da sua Gramática Normativa (1992)

Frase é uma unidade verbal com sentido completo e caracterizada por

entoação típica: um todo significativo, por intermédio do qual o homem

exprime seu pensamento e/ou sentimento. Pode ser brevíssima, constituída às

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vezes por uma só palavra, ou longa e acidentada, englobando vários e

complexos elementos (p. 232)

Diferentemente dos dois autores, Neves (2000) tem sua obra caracterizada como

gramática descritiva, haja vista fazer uma descrição da estrutura e funcionamento da

língua, de sua forma e função. Para Travaglia (2009, p. 28) “Gramatical será então tudo

o que atende às regras de funcionamento da língua de acordo com determinada

variedade linguística”. Logo, a Gramática de Usos do Português pode ser compreendida

como uma obra em que a língua portuguesa se apresenta tal como é usada atualmente no

Brasil, o que a determina como de caráter funcionalista.

Todavia, ao se analisar a gramática de Neves (idem), observa-se nela um cunho

também normativo, o qual é anunciado na introdução da obra, com a seguinte afirmação

da autora “Embora uma gramática de usos não seja, em princípio, normativa, para maior

utilidade ao consulente comum a norma de usos é invocada comparativamente, de modo

a informar sobre as restrições que tradicionalmente se fazem a determinados usos

atestados e vivos (idem, 2000, p.14).

Tendo em vista essa consideração, atesta-se parecer, já de início, que o estudo

das construções temporais, conforme proposto na Gramática de Usos, não se configura

como algo jamais visto, jamais pensado e/ou discutido por gramáticos de tradição

gramatical, mas um desdobramento do estudo proposto nas gramáticas ditas tradicionais

ou normativas, de forma a enriquecê-lo, aperfeiçoá-lo. Assim, esse ponto de contato

entre as três obras gramaticais em análise é que permite a comparação que ora se

objetiva estabelecer.

1.2 O conceito de sintaxe nas obras gramaticais em análise

Em se tratando da Syntaxe Histórica Portuguesa (1918), observa-se que em

momento algum Dias nela define o termo “sintaxe”. No entanto, por meio de uma série

de fragmentos da obra, conclui-se se ela a parte da gramática que trata da ligação das

palavras na oração; da ligação das orações na frase e da colocação das palavras na

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oração. Por exemplo: no título da parte I, tem-se Da ligação das palavras na oração

(1918, p. 13). A seção I dessa parte é chamada de Da composição da oração:

concordância do predicado com o sujeito (idem, 13). Na seção II da parte I, encontra-se

o fragmento A função sintática de uma palavra nominal, ou é indicada, já pela

colocação (...) ou se infere no sentido geral da frase (idem 36/37).

Quando se trata das palavras nominais em particular, o filólogo afirma que O

aposto em sentido estrito liga-se diretamente, isto é, sem estar posto em relação

particular com o predicado, a uma palavra nominal (DIAS, 55). Em outra parte, A um

substantivo aposto, a que se liga uma oração relativa ou outra determinação

equivalente, pode pospor-se o por, este ou esse (IDEM, 76). Sobre alguns advérbios

Quando se coordenam ou se ligam por partículas comparativas advérbios em “mente”,

põe-se este chamado sufixo, se não há ênfase, unicamente no último, suprimindo-se nos

mais (ep, p. 174). Em alguns acréscimos à primeira seção, explica que Uma palavra

ligada a outra, por uma expressão expletiva, deve estar na forma correspondente à

função que exerce a palavra que se liga (IBIDEM, 177).

Em Lima (1992), a partir do conceito de frase como unidade verbal com sentido

completo e caracterizada por entoação típica: um todo significativo, por intermédio do

qual o homem exprime seu pensamento e/ou sentimento [...]. Pode ser brevíssima,

constituída às vezes por uma só palavra, ou longa e acidentada, englobando vários e

complexos elementos (p. 232), chega-se ao conceito de sintaxe como uma das três

partes da gramática que compreende o estudo da construção da frase (idem, p. 8).

Já em Neves (1994), compreendendo que “Qualquer abordagem funcionalista de

uma língua natural, na verdade, tem como questão básica de interesse a verificação de

como se obtém a comunicação com essa língua, isto é, a verificação do modo como os

usuários da língua se comunicam efetivamente” (p. 109), entende-se que essa

preocupação com a comunicação não anula o conceito básico de sintaxe, conforme se

observa em Dubois (2004, p. 559), como a parte da gramática que descreve as regras

pelas quais se combinam as unidades significativas em frase.

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Reportando-se a Martinet (1991), funcionalista francês, em trecho em que define

frase “como enunciado cujos elementos se ligam todos a um predicado único ou a

vários predicados coordenados, com dispensa de fazer intervir em tal definição a

entoação, o que, dado o caráter fracamente linguístico deste fenômeno, apresenta

consideráveis vantagens” (p. 125), pode-se abstrair a ideia de sintaxe também como

ligação de termos.

Nesse sentido, muito embora o conceito de sintaxe seja comum aos três autores,

a gramática funcional tem sempre em consideração o uso das expressões linguísticas no

processo de interação verbal, o que pressupõe uma certa pragmatização do componente

sintático-semântico do modelo linguístico (Neves, 2001, p. 16). Em outras palavras, a

sintaxe não é vista separadamente da semântica, e essas são tratadas por meio da

perspectiva pragmática.

Neves (idem), retomando C. Dik, do grupo de funcionalista da Holanda, diz

“que no paradigma funcional, a pragmática é vista como o quadro abrangente, no qual a

semântica e a sintaxe devem ser estudadas. A semântica é instrumental em relação à

pragmática e à sintaxe, e a sintaxe é instrumental em relação á semântica. Nessa visão,

não há lugar para uma sintaxe autônoma” (p. 46).

Compreende-se,pois, que pensar a sintaxe desse ponto de vista implica pensar

que, quando as pessoas falam, o que determina a ordenação linear dos sintagmas

nominais na frase é visto na sequência que o falante considera adequada para obter a

atenção do ouvinte, todavia, modificações da ordem desses sintagmas podem agir no

sentido de garantir a comunicação.

Diante do conceito de sintaxe supracitado, coloca-se em evidência o fato de que,

enquanto a gramática tradicional e/ou normativa, por meio de uma sintaxe psicológica

dá indicações de que percebe a íntima relação entre a ligação das palavras na oração e o

sentido que elas possibilitam a partir da posição e da ordem em que se encontram, a

gramática funcional ou a gramática de usos parece ver essa relação como análoga às

relações retóricas que constroem o texto, ou seja, para os funcionalistas, essa relação

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permeia e governa o texto como reflexo e consequência do objetivo que se tem quando

se utiliza uma língua.

1.3 O lugar das conjunções temporais e da oração adverbial temporal nas obras

analisadas

Para Lima (1992), a gramática compreende três partes; fonética e fonologia;

morfologia e sintaxe. Dentro dessa concepção, o gramático separa as conjunções das

orações, inclui as subordinativas temporais na parte da morfologia e estuda sua forma,

sua estrutura e classificação. As orações são tratadas na parte da sintaxe, em que se

estuda a construção da frase.

De forma diferente, Dias (1918) não trata das conjunções isoladamente das

orações adverbiais. Pode-se explicar essa abordagem considerando que o autor

restringiu-se à sintaxe em sua obra, por isso não seria possível falar de orações

subordinadas adverbiais sem tratar das conjunções. Porém, em termos de gramática

normativa, o tópico conjunções é estudado em morfologia, como o faz Rocha Lima

(idem). O que se lê na Seção II de Syntaxe Histórica Portuguesa, em que o autor trata

das palavras nominais, no capítulo VI, Da conjunção, remete-se a uma outra parte da

obra, como se pode ver por meio das palavras Das conjunções tratar-se-á na Parte II.

Por sua vez, Neves (2000) divide sua gramática priorizando predicação, para

depois tratar das palavras de referência situacional e textual. Em seguida, destaca o

artigo e o numeral indicadores de definição/indefinição e a quantificação. Na última

parte, evidencia as palavras que pertencem à esfera semântica das relações e processos

e que atuam especificamente na junção dos elementos do discurso, isto é, ocorrem num

determinado ponto do texto indicando o modo pelo qual se conectam as porções que se

sucedem (NEVES, 2000, p. 599). Nessa parte, encontram-se as conjunções e as orações

temporais, as quais são estudadas conjuntamente.

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1.4 O tratamento dado às conjunções temporais e à oração adverbial temporal por

Ephifanio Dias, Rocha Lima e Moura Neves

Como as conjunções são estudadas na seção II, Da ligação das orações,

nessa,Dias (1918) refere-se a elas quando define cada tipo de oração subordinada. Em

relação às adverbiais, tem-se o seguinte conceito “As orações adverbiais ou são de

modo finito, sendo neste caso ligadas por conjunções, ou são infinitas, sendo neste caso

ligadas por preposições, ou são orações de particípio (particípios absolutos)” (p. 271). A

partir da definição, passa-se a apresentar cada conjunção temporal para, em seguida,

tratar da oração adverbial utilizada com as conjunções.

A característica de gramática normativa, a qual pode ser atribuída à obra de

Dias, aparece por meio dos exemplos das conjunções em textos estritamente literários,

textos em que os vários aspectos de temporalidade são expressos pela ligação da oração

principal do período.

Assim, tem-se a conjunção temporal mais usada: “quando”. De exprimir

simplesmente o tempo em que uma coisa acontece, serve a conjunção quando:

Quando a fortuna é contra o homem, todos os parentes fogem dele (Fabul. FAB, 61).

Sentem-se mais o perigos, quando estamos perto deles (Sousa, V. do Arc., I, 71). Os

povos, como os indivíduos, assentam-se indiferentes e serenos no átrio da morte,

quando lhes chega a quadra fatal do idiotismo senil (Herc. Op. I, 278) (DIAS, P. 287).

Partindo-se do mais simples para o mais complexo, Dias tece considerações que

se tornam um diferencial em sua obra. Como exemplo destaca-se:

a) Em narrativas animadas, quando serve de ligar um acontecimento expresso por um

presente histórico ou pretérito definido, a um momento ou estado anteriormente

indicado, vindo assim a oração De quando a ser logicamente a principal:

Escassamente acabou/ a cantiga toda inteira,/ quando o que me guiou/ começou

nesta maneira (D. Manuel, Can. G.al, I, 407). Não acabava, quando uma figura/

se nos mostra no ar, robusta e valida (Lus., V, 39). Não tinha acabado de

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pronunciar estas palavras, quando ouviu uma voz que lhe dizia...(Vieira, I,

1098).

b) Em asserções gerais, as orações de quando avizinham-se muitas vezes das

condicionais de se (...) Se eu a provar {a prop.], não há dúvida que será um grande

louvor de meu senhor S. Joseph: e quando a não aprove, servirá de consolação ao meu

desejo (Vieira, S. de S. José, 3) (DIAS, p. 288)

c)Falando se do que é real tanto na oração subordinada como na subordinante, muitas

vezes tem-se em vista principalmente a exprimir um contraste entre o conteúdo das

duas orações.

O que mais peso fazia ao sentimento de Cristo no Presépio era a consideração

de que o desconheceram os homens, quando o conheciam os animais (Vieira, II,

172).

d) Como, na qualidade de partícula temporal, só se usa modernamente, quando se

exprime a sucessão dos acontecimentos nas narrativas históricas (ainda neste caso

prefere-se, em geral, o emprego do particípio).

Os trechos selecionados revelam um gramático que analisa detalhadamente as

conjunções temporais em uso nas orações adverbiais temporais, bem como revelam a

preocupação com a sintaxe, no entanto com uma valorização do sentido decorrente do

uso que se faz de determinada conjunção ou locução conjuntiva. Apesar dessa

abordagem que o distancia da gramática normativa, encontra-se exemplo de prescrição

gramatical quando se lê Apenas que e mal que são expressões incorretas (DIAS, p.

290).

As orações adverbiais assim se denominam porque, equivalentes a um advérbio,

figuram como adjunto adverbial da oração a que se subordinam (RL, 1992, p. 274). De

forma mais sucinta, Rocha Lima (1992) apresenta as orações adverbiais temporais

ligadas por conjunções (já apontadas na parte de morfologia em sua gramática)

apropriadas para exprimir a ideia de um acontecimento ocorrido antes do outro, depois

do outro ou simultaneamente a outro.

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Como em Dias, Lima inicia pela mais geral das partículas, quando, mas

considera apenas o que se exprime por meio dessa conjunção, de maneira mais ou

menos vaga, à ocasião em que se passa um fato. Da mesma forma, apresentam-se as

demais conjunções temporais: assim que, logo que, tanto que, mal que, mal, apenas,

enquanto, sempre que, cada vez que, todas as vezes que.

O aspecto semântico é ligeiramente tratado. Percebemos que a intenção, de certo

modo, é a de limitar-se apenas à parte sintática da gramática. Apesar de considerar que

as regras da gramática tradicional fundamentam-se nas obras dos grandes escritores,

(LIMA, 1992, p. 7), Rocha Lima não nos dá nem um exemplo literário quando aponta

as orações subordinadas adverbiais.

Em Neves (2000), as conjunções subordinativas temporais se dão sob o enfoque

do ponto de vista das construções temporais. Por isso, a autora divide a seção em que

trata desses conectivos em: 1) o modo de construção; 2) a correlação de tempos verbais

nas construções temporais; 3) as relações expressas.

Explicitando essa questão, a autora afirma que “A construção temporal, expressa

por um período composto é constituída pelo conjunto de uma oração nuclear, ou

principal, e uma temporal, para então, considerar que em português, a análise das

construções temporais pode ser representada na análise das orações iniciadas pela

conjunção quando” (NEVES, 2000, p. 787).

Além da conjunção quando, Neves (idem) trabalha com exemplos de

construções temporais com outras conjunções, tais como: enquanto, apenas, mal, além

de incluir as locuções conjuntivas.

Seguem-se alguns exemplos dos quais se utiliza a autora para tratar do modo de

construção temporal:

A música de Bach cede quando a mãe começa a cantar.

Quando os moradores chegarem levarão susto.

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Enquanto vês os exércitos e os seus chefes, enquanto contemplas as nações e os

seus dominadores, enquanto o teu pensamento abarca o entrebater das entidades

coletivas e dos representantes, esqueces o indivíduo.

Assim que nos abraçamos e beijamos, senti-o, porém, confuso, sem jeito. (idem,

p. 787, 88 e 89).

Como a Pragmática, a Semântica e a Sintaxe estão entrelaçadas na gramática

funcional, a autora (2000, p. 787) afirma que “a ordem relativa das orações é pertinente

para interpretação do efeito de sentido. Também tem grande importância a existência ou

não de pausa entre a oração nuclear e a oração temporal”.

Os exemplos da Gramática de Usos são tirados da observação que se fez em uma

base de 70 milhões de ocorrências, pois a preocupação é com a língua portuguesa em

uso efetivo na fala dos brasileiros. Para tanto, afirma a autora

Esse corpus abriga textos escritos de literaturas romanesca, técnica, oratória,

jornalística e dramática, o que garante diversidade de gêneros e permite

abrangência de diferentes situações de enunciação, incluindo a interação,

sendo notável a representatividade da língua falada, encontrada na simulação

de dela fazem as peças teatrais (NEVES, 2000, p. 14)

Ao discutir a correlação de tempos verbais nas construções temporais, nas

orações com quando, por exemplo, nas quais aparece o tempo presente na oração

principal e na subordinada, Neves observa que essa correlação caracteriza uma

perspectiva global imperfectiva de estados de coisas simultâneas (total ou parcial), o

que licencia a indicação de habitualidade. Esse complexo favorece uma interpretação

condicional (idem, p. 791). Com esse exemplo, pode-se considerar a abrangência de

análise da gramática funcional, o que permite uma leitura muito mais completa não só

da construção da frase, como também de seu sentido em determinado contexto de uso

da língua.

Compreende-se, desse modo, que a questão das relações expressas por meio das

conjunções e das orações temporais não é tão simples como a gramática tradicional

muitas vezes aponta. Embora as orações com conjunções temporais expressem o tempo

em que ocorre o estado de coisas, a relação temporal pode envolver simultaneidade e

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não-simultaneidade. Além disso, há a existência de relações de tipo lógico-semânticas

(causal, condicional, concessiva) associada à relação temporal que se estabelece entre

orações. Também esse tipo de associação é licenciada por um conectivo de valor bem

neutro (como o quando) e pela natureza do complexo temporal que se estabelece em

dependência do tempo e do modo empregado em cada uma das orações (NEVES, p.

797).

Considerações finais

Ao se destacar a forma de tratamento que os três autores deram às conjunções

temporais e às orações adverbiais temporais, quis-se aproximar três momentos da

produção de gramáticas da Língua Portuguesa, ligados por um aspecto comum, a

sintaxe. Esse aspecto comum possibilitou explicitar relações próximas e distantes entre

uma abordagem dita tradicional (Syntaxe Histórica Portuguesa), uma abordagem, de

fato, tradicional (Gramática Normativa) e uma abordagem funcionalista (Gramática de

Usos do Português).

O conceito de sintaxe, mesmo em abordagens diferentes, por uma série de

fatores apontados, torna-se comum quando se focaliza o sentido que, por ser obra mais

antiga das três, o filólogo Epiphânio Dias atribui a ele quando, ainda que não

explicitado, repete a palavra ligação em seu texto. Portanto, é consenso que sintaxe é a

ligação entre as palavras da oração e a ligação das orações no período

Observando a gramática de Moura Neves, entende-se que sua obra está muito

mais próxima da Syntaxe Histórica de Epiphânio Dias do que da Gramática Normativa

de Rocha Lima. Por esse motivo, pode-se afirmar que o desenvolvimento da Syntaxe

Histórica Portuguesa mostra um gramático muito preocupado com a questão da sintaxe,

a ponto de conscientemente ou não, aproximar Sintaxe e Semântica, fazendo por

antecipação o que vários linguistas, como Martinet, Guillaume, Pottier, Chomsky, entre

outros fizeram a partir da década de 60, século XX. Nesse sentido, compreende-se que

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Dias se mostra/mostrou, sem nenhuma dúvida, bem à frente do seu tempo no tratamento

de questões da língua.

Essa consideração atualiza e valoriza a obra do filólogo português, comparando-

a com obras mais recentes como as destacadas aqui. Cumpre-se assim a “profecia” do

ex- aluno do professor Epiphânio Dias, José Leite de Vasconcellos, a que se fez

referência no início desse artigo, bem como se comprova a hipótese nele levantada.

Referências bibliográficas

BORBA, Francisco da Silva. Teoria Sintática. São Paulo: EDUSP, 1979

DIAS, Augusto Epiphanio da Silva. Syntaxe Histórica Portuguesa. 1ª ed., Clássica

Editora, 1918.

DUBOIS, Jean et alii. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cultrix, 2004.

LIMA, Carlos Henrique da Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rio

de Janeiro: José Olympio, 1992.

MARTINET, André. Elementos de Lingüística Geral. Lisboa: Sá da Costa Editora,

1991.

NEVES, Maria Helena de Moura. A Gramática funcional. São Paulo: Martins Fontes,

2001.

______. Gramática de Usos do Português. São Paulo: UNESP, 2000

______. Uma visão geral da gramática funcional In: Alfa. São Paulo; Editora UNESP,

v. 38, p. 109 -127, 1994.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de

gramática. São Paulo: Cortez, 2009.

Recebido Para Publicação em 20 de abril de 2014.

Aprovado Para Publicação em 9 de maio de 2014.