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1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE ARTES - CEART DEPARTAMENTO DE DESIGN MICHELLE BERTICELLI NUNES AS CONTRIBUIÇÕES DO DESIGN PARA O MEIO RURAL: UM ESTUDO DE CASO COM O GRUPO DE AGRICULTORES AGROECOLÓGICOS DE GAROPABA – S.C. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Design Industrial. Orientador: Prof. Douglas Ladik Antunes, MSc. FLORIANÓPOLIS, S.C. 2006

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Trabalho de Conclusão de Curso - Michelle Berticelli Nunes, 2006 - CEART/UDESC

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE ARTES - CEART DEPARTAMENTO DE DESIGN

MICHELLE BERTICELLI NUNES

AS CONTRIBUIÇÕES DO DESIGN PARA O MEIO RURAL: UM ESTUDO DE CASO COM O GRUPO DE AGRICULTORES AGROECOLÓGICOS

DE GAROPABA – S.C.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Design Industrial. Orientador: Prof. Douglas Ladik Antunes, MSc.

FLORIANÓPOLIS, S.C. 2006

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MICHELLE BERTICELLI NUNES

AS CONTRIBUIÇÕES DO DESIGN PARA O MEIO RURAL: UM ESTUDO DE CASO COM O GRUPO DE AGRICULTORES AGROECOLÓGICOS

DE GAROPABA – S.C.

Trabalho de conclusão de curso aprovado como requisito parcial para a obtenção do

grau de bacharel, no curso de Graduação em Design Industrial da Universidade do

Estado de Santa Catarina.

Banca Examinadora:

Orientador: _______________________________________________________ Prof. Douglas Ladik Antunes, MSc. UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina

Membro: _______________________________________________________

Prof. Eugenio Merino, Dr. UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

Membro: ____________________________________________________ Marcos José de Abreu CEPAGRO - Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo

Florianópolis, 21 de dezembro de 2006.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta pesquisa a todos que vivem e

sobrevivem da agricultura familiar, de

imenso potencial e valor para nosso país.

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AGRADECIMENTOS

Muitas são as pessoas queridas e especiais que estiveram comigo nesta nova

etapa de minha vida, me apoiando e me animando. Pessoas que estarão eternamente

no meu coração e que merecem os meus sinceros agradecimentos...

... À minha família linda e sempre tão unida... Ao meu pai querido, companheiro e

bondoso com todos, que me ensina a cada dia ser uma pessoa mais forte e

responsável.... à minha mamy, uma artista incomparável, batalhadora, e acima de tudo,

uma amiga fiel... à minha irmãzinha... não é preciso dizer muito... apenas que ela é e

sempre será um exemplo de pessoa, com toda sua dedicação, responsabilidade e

carisma.... à todo o restante desta imensa família, avós, avós, tias, tios, primos, primas...

Amo muito todos vocês!!!

... Ao meu namorado Rodrigo... o qual proporcionou os melhores momentos de

minha vida... os mais simples e ingênuos, porém os mais marcantes e sinceros... que

mesmo distante, me ampara, me corresponde e me encoraja a cada dia... amo muito

você e com certeza tudo isso não será em vão... PS amor!!

... A todos os responsáveis por minha formação dentro da Universidade,

professores, colaboradores, técnicos e colegas de sala... em especial ao meu orientador

Douglas, que desde os primeiros semestres tem encarado nossa turma de maneira

descontraída e profissional... Agradeço por ter aceitado meu convite, com a pesquisa já

em curso, e por ter me guiado da forma mais sensata e proveitosa...

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... Às minhas amigas inseparáveis, que estiveram comigo durante todos esses

anos... em especial à Ana Sofia, Rosa Marina e Marina.... vocês são muito loucas e

muito divertidas!! Aprendi muito com cada uma de vocês e agradeço por ter conhecido

todas vocês... às minhas amigas ainda mais loucas... que não param quietas... Marta e

Marcela... vocês são show de bola... por onde estiverem desejo o melhor para vocês...

ao restante da turma, cada pessoa que compartilhou um pouco de sua amizade

comigo... muito obrigada!!!

... À amizade em especial também, de Adelita, por me aconselhar e sempre se

preocupar comigo... e com certeza ao nosso futuro profissional juntas...muito obrigada!!

... À nova amizade de Tânia e Natacha, que antes de serem minhas chefes,

foram grandes amigas e companheiras de trabalho!!

... Em especial, ao pessoal do CEPAGRO, que me acolheu e me auxiliou a

encontrar um rumo para a proposta desta pesquisa, possibilitando o encontro com o

Grupo de Agricultores... com certeza o trabalho não irá parar por aqui!

... Mais especial ainda, a todas as famílias de agricultores agroecológicos de

Garopaba, por permitirem adentrar em suas propriedades, conhecer um pouco de sua

vivência e cumprir com os objetivos desta pesquisa... foi uma experiência maravilhosa, e

que com certeza fará diferença em minha vida...

E por fim, porém não menos importante, agradeço a Deus e aos anjos que me

cercam por terem me guiado até o momento...

A todos vocês, obrigada do fundo do meu coração...!

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RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo fundamental compreender as condições reais do Grupo de Agricultores Agroecológicos do Município de Garopaba – Santa Catarina, identificando – com base em entrevistas, discussões e observações – os entraves para a sustentabilidade e sociabilidade da agricultura agroecológica, bem como para a expansão e valorização de seus produtos, como também, as potencialidades e oportunidades para o seu próprio desenvolvimento local. Tendo como propósito final, o levantamento de demandas de competência do Designer e sua análise com base nos fatores: prioridade, viabilidade e eficiência. Entre os principais elementos de discussão desta pesquisa estão o contexto agrícola brasileiro, enfatizando a permanência dos agricultores familiares, com foco na agricultura familiar do Estado de Santa Catarina; e a dinâmica atual do meio rural, com a compreensão da agroecologia junto às diversas concepções a cerca dos modelos de desenvolvimento vinculados à sociedade ao longo dos anos. A agroecologia é considerada a base científica constituída por princípios mais viável aos agricultores familiares que buscam a sustentabilidade de suas unidades produtivas, tornando-se um agente promotor de um padrão de desenvolvimento ecologicamente prudente e socialmente justo, valorizando as capacidades locais e as ações sociais coletivas, oportunizando a inserção do Design e a contribuição deste para o processo de desenvolvimento.

PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento local, agricultura agroecológica, demandas de Design.

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ABSTRACT

The present research has as objective basic to understand the real conditions of the Group of Ecological Agriculturists of the City of Garopaba - Santa Catarina, identifying - on the basis of interviews, quarrels and comments - the impediments for the sustainability and sociability of ecological agriculture, as well as for the expansion and valuation of its products, as well as, the potentialities and chances for its proper local development. Having as final intention, the survey of demands of ability of the Designer and its analysis on the basis of the factors: priority, viability and efficiency. It enters the main elements of quarrel of this research are the Brazilian agricultural context, emphasizing the permanence of the familiar agriculturists, with focus in the familiar agriculture of the State of Santa Catarina; e the current dynamics of the agricultural way, with the understanding of the ecological agriculture next to the diverse conceptions about the entailed models of development to the society throughout the years. The ecological agriculture is considered more viable the scientific base consisting by principles the familiar agriculturists who search the sustainability of its productive units, becoming a promotional agent of a standard of ecological cautious development and socially just, valuing the local capacities and the collective social actions, giving chance to insertion of the Design and the contribution of this for the development process.

KEY-WORDS: Local development, ecological agriculture, demands of Design.

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SUMÁRIO

1. CAPÌTULO I ......................................................................................................... 14

1.1. Introdução ..................................................................................................... 14

1.2. Delimitação do Tema .................................................................................... 15

1.3. Objetivos ....................................................................................................... 17

1.3.1. Objetivo Geral ........................................................................................ 17

1.3.2. Objetivos Específicos ............................................................................. 17

1.4. Justificativa do Tema .................................................................................... 18

1.5. Metodologia ................................................................................................... 21

1.6. Cronograma .................................................................................................. 23

2. CAPÍTULO II ........................................................................................................ 24

2.1. Modelo Agrícola Brasileiro ............................................................................ 24

2.2. Definições e Concepções da Agricultura Familiar ........................................ 27

2.3. Modelo Agrícola Familiar de Santa Catarina ................................................ 30

2.4. Contextualização das Unidades de Produção Familiar – UPFs ................... 33

2.5. O Meio Rural ................................................................................................. 36

2.6. A Agroecologia .............................................................................................. 38

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2.7. Concepções sobre Desenvolvimento ............................................................ 45

2.7.1. Do Desenvolvimento Vigente a uma Nova Perspectiva ........................ 46

2.8. Metodologias Participativas .......................................................................... 62

2.9. Abordagem do Design .................................................................................. 65

3. CAPÍTULO III ....................................................................................................... 72

3.1. Desenvolvimento do Estudo de Caso ........................................................... 72

3.2. A Rede de Agroecologia Ecovida ................................................................. 73

3.3. A Instituição – CEPAGRO ............................................................................. 77

3.4. Ambientação - Município de Garopaba ......................................................... 80

3.5. Ambientação - Grupo de Agricultores Agroecológicos de Garopaba ........... 84

3.6. A Pesquisa .................................................................................................... 92

4. CAPÌTULO IV ..................................................................................................... 104

4.1. Limitações ................................................................................................... 104

4.2. Potencialidade e Oportunidades ................................................................. 108

4.3. Levantamento e Análise de Demandas ...................................................... 113

5. CAPÌTULO V ...................................................................................................... 127

5.1. Considerações Finais .................................................................................. 127

6. REFERENCIAL .................................................................................................. 130

7. ANEXOS ............................................................................................................ 135

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapeamento dos Núcleos da Rede Ecovida ........................................... 68

Figura 2 – Localização do Município de Garopaba ................................................... 70

Figura 3 – Localização das praias do Município de Garopaba ................................. 71

Figura 4 – Barcos de pesca na praia de Garopaba ................................................... 72

Figura 5 – Produção de hortaliças ............................................................................. 74

Figura 6 – Mercado do Produtor ................................................................................ 75

Figura 7 – Feira Agroecológica Municipal ................................................................. 76

Figura 8 – Agricultor Zezinho .................................................................................... 77

Figura 9 – Agricultora Dona Lourdes ......................................................................... 78

Figura 10 – Agricultor Batista e sua esposa .............................................................. 79

Figura 11 – Agricultor Mariomar ................................................................................ 80

Figura 12 – Agricultor Adi e sua família .................................................................... 80

Figura 13 – Oficina de Biofertilizante ......................................................................... 81

Figura 14 – Oficina de Compostagem ....................................................................... 81

Figura 15 – Reunião do Grupo ................................................................................... 82

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – As cinco dimensões do desenvolvimento sustentável ............................ 52

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LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAO – Associação de Agricultura Orgânica

APA – Área de Proteção Ambiental

APACO – Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense

CEMEAR – Centro de Motivação Ecológica e Alternativas Rurais

CEPA – Centro de Estudos de Safras e Mercados

CEPAGRI – Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores Rurais

CEPAGRO – Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo

CIASC – Centro de Informática e Automação do Estado de Santa Catarina

CMDR – Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural

DRP – Diagnóstico Rápido Participativo

EMATER – Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e

Extensão Rural

EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural

FAO – Food and Organization of the United Nations

FETRAF – Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar

IAF – Inter-American Foundation

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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ICSID – Conselho Internacional de Sociedades de Design Industrial

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

MAPA – Ministério da Agricultura e Planejamento Agrário

MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário

MISEREOR – Agência de Desenvolvimento da Igreja Católica da Alemanha

ONG’s – Organizações Não Governamentais

PIB – Produto Interno Bruto

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UPF’s – Unidades de Produção Familiar

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1. CAPÌTULO I

1.1. Introdução

Ao estudar as raízes históricas da Agricultura Brasileira, constantes

transformações de diferentes dimensões são deparadas, advindas de alternativas

propostas e geradas conforme a contextualização e os interesses do modelo de

desenvolvimento daquele mesmo momento histórico.

O modelo de desenvolvimento vigente, contemplado ao longo desta pesquisa,

tem sido abordado e discutido por diversos segmentos da sociedade, implicando em

distintos setores (como na economia, na política, entre outros), como também, no

modelo Agrícola Brasileiro dos últimos anos.

Muitas revoltas, inquietações, como também, conquistas e mudanças de caráter

prático, foram marcantes na história da Agricultura Brasileira. Passamos por um período

exploratório, extrativista, escravista, exportador, tornando-nos seres apenas predatórios.

Chegamos a um período de colonização, de interesses governamentais, de fortes

concentrações de renda, do destaque dado ao setor privado, às grandes propriedades,

aos latifúndios e às questões acerca da reforma agrária. Partimos para a

industrialização, urbanização, bem como a indução de uma modernização

conservadora. Novas intenções modernizantes surgem a partir da intervenção do

Estado, como o sistema nacional de créditos rurais, o surgimento de complexos

industriais e a exportação de produtos dinâmicos.

Por fim, é percebida a existência de dois modelos de Agricultura, a Patronal e a

Familiar (assim denominados por alguns autores), dois Ministérios (MAPA – Ministério

da Agricultura e Planejamento Agrário e o MDA – Ministério do Desenvolvimento

Agrário), e inúmeros debates, pesquisas, argumentos em relação à agricultura e ao

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modelo de produção familiar enfatizada nesta pesquisa, bem como questionamentos

quanto ao planejamento para o desenvolvimento econômico, social, cultural e ambiental

dessa parcela populacional vinculada à agricultura. Destacando-se assim, a questão

atual, a respeito do planejamento local, promissor aos agricultores familiares e

conseqüentemente, a essa pesquisa.

A Agricultura Familiar de base agroecológica, compreendida nesta pesquisa, é

representada não somente por uma forma de organização produtiva, mas também, por

uma atividade econômica especializada, diferenciada, intensiva, de caráter permanente,

valendo de sua característica maior: a representatividade de um modo de vida que

preserva a paisagem, a biodiversidade e diversos aspectos econômicos e culturais de

importância fundamental para o seu próprio desenvolvimento.

São essas algumas das contextualizações que nos desafiam a contribuir a favor

daqueles que demandam o ingresso de inúmeras inovações e a constante atuação e

articulação de atores comprometidos, de enorme potencialidades e oportunidades,

cabendo ao profissional de Design, contíguo a tantos outros, um papel comprometedor

e de grande contribuição para o seu fortalecimento, planejamento e desenvolvimento.

1.2. Delimitação do Tema

O desafio inicial proposto nesta pesquisa é o de compreender de forma uma tanto

sucinta, a questão agrícola brasileira, junto às diversas concepções acerca dos modelos

de desenvolvimento vinculados à sociedade ao longo dos anos, enfatizando em um

segundo momento, a existência dos agricultores familiares, com foco na agricultura

familiar do Estado de Santa Catarina, em especial, ao Grupo de Agricultores

Agroecológicos do Município de Garopaba – SC, a fim de contribuir nos principais

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entraves e potencialidades de suas unidades produtivas, a partir do levantamento de

demandas de conhecimento e competência do Designer.

O modelo de agricultura exercido por tais agricultores, a Agricultura Familiar, de

forte presença no Estado de Santa Catarina, caracterizada pelo trabalho exercido

predominantemente pelo agricultor(a) e sua família, vem registrando forte capacidade

de resistência, produtividade e eficácia, apesar de seu histórico conturbado devido aos

grandes complexos industriais e da deficiência de crédito e apoio perante o intermédio

entre sua unidade produtiva e o mercado atual.

Seu desempenho e fortalecimento dependem da integração e articulação entre

diversos atores sociais comprometidos com a mesma. O que possibilita ao profissional

de Design, o surgimento de uma recente área de atuação, necessitada, porém de

grande potencial emergente.

Os princípios de Design, voltados para questões econômicas, sócio-culturais,

ambientais, bem como, ações gestoras e estratégicas, têm como preceito, a

contribuição para a ampliação e viabilidade das unidades de produção familiar,

promovendo um papel mais efetivo entre o agricultor e o meio externo, identificando

esses entraves e diagnosticando oportunidades e potencialidades a essas unidades.

Portanto, o problema da pesquisa buscará compreender as condições reais do

grupo de agricultores específicos, em contrapartida aos princípios do Design, onde se

norteará pelos seguintes questionamentos:

1. Quais as principais limitações bem como as potencialidades e oportunidades do

grupo de agricultores familiares em questão?

2. De que forma a identificação de demandas de Design implicará em resultados

prósperos aos mesmos? E como será potencializada esta relação entre a

identificação de demandas junto ao Grupo de Agricultores?

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1.3. Objetivos

1.3.1. Objetivo Geral

Compreender as condições reais do Grupo de Agricultores Agroecológicos do

Município de Garopaba, Santa Catarina, a partir da identificação de suas limitações bem

como suas potencialidade e oportunidades, enfatizando o modelo de Agricultura

Familiar com base no Desenvolvimento Local Integrado e nas ações estratégicas e

operacionais do Design, a fim de levantar demandas de conhecimento e competência

do Designer.

1.3.2. Objetivos Específicos

§ Levantamento bibliográfico e revisão teórica sobre os temas a serem abordados:

histórico da agricultura brasileira; surgimento e contextualização da agricultura familiar

brasileira e de Santa Catarina; abordar os discursos a respeito dos modelos de

desenvolvimento e a questão do Planejamento Local Integrado como forma de

desenvolvimento.

§ Investigar e vivenciar a realidade do Grupo de Agricultores em análise, compreender

seu dinamismo cultural, econômico, ambiental e social.

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§ Revisar e transcrever os dados e informações coletadas para a proposição das

demandas de competência do Designer.

§ Promover uma análise das demandas de Design, conforme os aspectos: prioridade,

viabilidade e eficiência.

1.4. Justificativa do Tema

A preferência em trabalhar com os agricultores familiares agroecológicos foi

motivada pela importância em destacar alguns pontos críticos da história brasileira

como: a insustentabilidade de uma das principais heranças brasileiras – a agricultura; o

surgimento de uma agricultura rústica e precária, considerada inicialmente de

abastecimento – a Agricultura Familiar, e por fim, o reconhecimento do meio rural como

fonte de empreendedorismo e fortes potencialidades; a tendência mundial a cerca dos

produtos ecológicos e das propriedades agroecológicas.

Uma quarta justificativa para a pesquisa, é a iniciativa atual procedente dos

profissionais de Design, em trabalhar e aprimorar seus conhecimentos nesta recente

área de abrangência: o meio rural, gerando documentações como artigos e projetos

publicados e apresentados em congressos e eventos. No entanto, esta demanda em

abranger a área rural buscando uma maior relação com o Design, vem sendo alvo de

muitos designers brasileiros focados preferencialmente nas atividades particulares do

Design Gráfico, não abrangendo assim, as demais atuações do Design.

Outra medida para justificar esta pesquisa, é a própria contextualização do

território brasileiro. Segundo Pádua (2003), a formação do atual território brasileiro na

economia mundial moderna, a partir do século XVI, deu-se basicamente pela

agricultura. Afirmação esta sendo justificada pelo autor, devido a nossa colonização

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portuguesa, ao contrário, por exemplo, da América Latina, de colonização espanhola,

voltada para as conquistas de minérios. “A fundação do nosso país, portanto, foi

marcada pela exploração da biomassa vegetal“ (PÁDUA, 2003).

É importante enfatizar que a agricultura foi a base do modelo econômico de

diversas fases históricas do nosso país, mas não foi a única. Passamos por outros ciclos

adversos também marcados por essa exploração da biomassa vegetal e de grande

importância, como o da borracha, de extração mineral, como o ferro, alumínio, nióbio,

entre outros. No entanto, a agricultura foi o ciclo de maior destaque e que se prepondera

até os dias de hoje.

Fica-se evidente, desde a nossa colonização, a importância e a contribuição da

agricultura, onde abriga um terço da população brasileira, tornando-se responsável por

inúmeros e constantes processos de transformações no universo econômico, cultural,

ambiental e político do nosso país.

A fim de justificar novamente a temática da pesquisa, a mesma se direcionará ao

estudo da Agricultura Familiar no Estado de Santa Catarina, caracterizada entre os seis

principais Estados produtores de alimentos onde apresenta os maiores índices de

produtividade por área, graças à capacidade de trabalho e de inovação do agricultor, ao

emprego de tecnologias adequadas e ao próprio modelo agrícola de caráter familiar.

Conforme divulgado pelo Centro de Safras e Mercados, intitulado anteriormente

como Instituto Cepa, de acordo com o Censo Demográfico de 2000, realizado pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o Estado possuía uma população

de 5.333.284 habitantes, dos quais aproximadamente 25% viviam no meio rural, em

cerca de 203 mil estabelecimentos rurais. Devido ao processo de urbanização ocorrido a

partir da década de 70, cerca de 30% da população catarinense está concentrada nas

oito cidades com mais de 100 mil habitantes.

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O setor agrícola catarinense representa 12,8% do Produto Interno Bruto estadual.

As atividades do agronegócio1, no entanto, contribuem com cerca de 20% do PIB

estadual. Os três mil estabelecimentos de indústrias agrícolas e agroalimentares, por si

sós, respondem por 19% da renda, empregando cerca de 35 mil pessoas (Centro de

Safras e Mercados, 2003).

Santa Catarina ocupa o quinto lugar entre os estados exportadores. No ano de

2000, as exportações estaduais corresponderam a 4,6% do total brasileiro. Já em 2003,

o agronegócio representou 57% do valor total exportado pelo Estado. Na pauta de

exportações estaduais, destaca-se o complexo agroindustrial, que contribuiu com 50%

do total estadual, destacando as exportações de produtos florestais e de carnes, aves e

miudezas (Centro de Safras e Mercados, 2003).

A partir da compreensão desses indicadores, é visível o papel crucial deste

segmento na economia do Estado e principalmente dos pequenos municípios que se

mantém da mesma.

Estes produtores são responsáveis pela geração de muitos empregos como no

comércio e nos serviços prestados, de grande importância social para o Estado e para o

desenvolvimento dos municípios, porém, esta parcela da população, vem sendo

prejudicada devido à atual caracterização do mercado globalizado e competitivo e

também da forte predominância das agroindústrias.

Nesta seqüência de abordagens a cerca da contextualização agrícola

catarinense, junto à compreensão dos modelos de desenvolvimento, bem como, a

ênfase dada à nova dinâmica voltada para o desenvolvimento das localidades, ou seja,

1 Também chamado freedy mercury ou agribusiness, segundo a Enciclopédia Wikipédia, agronegócio é considerado o conjunto de negócios relacionados à agricultura, dentro do ponto de vista econômico. Costuma-se ser divididos em três partes: 1. os negócios agropecuários propriamente ditos, representados pelos agricultores rurais; 2. os negócios à montante aos da agropecuária, representadas pelas industrias e comércios fornecedores de matérias primas e insumos; 3. os negócios à jusante aos da agropecuária, representados pelos negócios que compram os produtos agropecuários, os beneficiam, os transportam e os vendem para os consumidores finais.

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para o Desenvolvimento Local2, a pesquisa torna-se justificável mais uma vez, não

somente devido à atualidade e repercussão deste tema, mas também, pela consciência

ao que contempla o desenvolvimento local como um espaço heterogêneo e

diversificado, que induz a repensar a multiplicidade de atores comprometidos.

Oferecendo assim, possibilidades de novas parcerias e abertura para o profissional de

Design, junto a suas competências e habilidades, em intervir nesta área de atuação,

como mobilizador e mediador social também, na construção e aplicação deste

desenvolvimento a partir da inserção de novas fronteiras de conhecimento ao meio

rural.

1.5. Metodologia

Com base nos objetivos desta pesquisa, a metodologia empregada é do tipo

exploratória e de caráter qualitativo, a partir da delimitação de um objeto de estudo e a

vivência da realidade de uma determinada localidade, neste caso, o grupo de

agricultores agroecológicos, residentes no município de Garopaba - SC. Sendo assim,

os procedimentos metodológicos serão caracterizados pela aplicação de uma pesquisa

de campo, buscando resultados por meio das relações práticas e teóricas.

As relações práticas foram obtidas por meio de visitas ao Município de Garopaba,

e às propriedades dos agricultores, em um primeiro momento, junto aos técnicos

agrícolas e funcionários do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo –

CEPAGRO, que já exercem atividade na região, partindo para futuras visitas

particulares, conforme o curso da pesquisa.

2 O termo Desenvolvimento Local será contextualizado na seqüência desta pesquisa.

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O Grupo de Agricultores Agroecológicos de Garopaba são formados por onze

famílias, mas, no entanto, a pesquisa se direcionou a cinco famílias de agricultores,

devido principalmente, ao maior contato dessas, com as atividades oferecidas pelo

CEPAGRO durante o período da pesquisa de campo e conseqüentemente, um maior

contato com o pesquisador.

Os métodos utilizados para a coleta de informações foram desde conversas

informais, entrevistas, práticas de observação e roteiros semi-estruturados que puderam

auxiliar para o desenvolvimento da pesquisa, junto ao maior número de atores

envolvidos: proprietários e trabalhadores rurais, familiares dos agricultores/proprietários,

comerciantes da região, associações locais, o CEPAGRO, entre outros.

Foi utilizado primeiramente um questionário direcionado aos integrantes do

CEPAGRO, os quais possuem maiores responsabilidades junto ao Grupo de

Agricultores, sendo este descrito no anexo de número 1. Na seqüência, foi elaborado

um roteiro de perguntas e questionamentos, utilizado para as entrevistas individuais, do

tipo semi-estruturada, sendo descrito no anexo de número 2. O roteiro contempla nove

áreas de abrangência (1. propriedade/agricultor/história; 2. princípios da agroecologia; 3.

pré-produção; 4. produção; 5. produto; 6. instrumento de trabalho; 7. estrutura física; 8.

mercado; 9. outros assuntos) sendo questionadas as condições e demais informações

quanto a cada uma dessas áreas a partir desta pesquisa.

Quanto às informações secundárias, porém necessárias, relacionadas ao

Município de Garopaba, devido ao escasso tempo de pesquisa, serão coletadas por

meios indiretos, como websites do Governo, da Prefeitura do município e de Portais

Turísticos.

Em vista as relações teóricas pretendidas nesta pesquisa, serão empregados

outros procedimentos, como a pesquisa bibliográfica em livros, periódicos, projetos e

artigos científicos, a fim de coletar informações distintas relacionadas aos assuntos

abordados, como também, pesquisa em acervos documentais sobre as áreas de

estudo, em websites de entidades e organizações governamentais, públicas e privadas.

Page 23: “As contribuições do Design para o meio rural: um estudo de caso com o grupo de agricultores agroecológicos de Garopaba (SC)”

23

Por fim, foram coletados os dados e as informações com base no questionário,

nas entrevistas guiadas pelo roteiro e na prática de observação, transcritas e listadas

em três abordagens, de forma a facilitar a compreensão de cada uma delas: 1.

informações quanto às questões históricas; 2. informações quanto às questões

subjetivas; informações quanto às questões específicas e técnicas.

Após uma análise e reflexão quanto a essas informações, foram identificadas e

listadas as limitações e as potencialidades relatadas pelo próprio Grupo e identificadas

pelo pesquisador, para na seqüência, serem propostas as demandas de Design,

abordadas em quatro temáticas, junto a uma análise das mesmas, conforme os

aspectos: prioridade, eficiência e viabilidade, configuradas em tabulações.

1.6. Cronograma

Etapas 08/06 09/06 10/06 11/06

3ª S 4ª S 1ª S 2ª S 3ª S 4ª S 1ª S 2ª S 3ª S 4ª S 1ª S 2ª S 3ª S 4ª S

1. finalização do

referencial teórico.

2. preparação para a

pesquisa de campo

(ambientação, articulação,

formulação de entrevistas

questionários).

3. saídas a campo (coleta

de dados, ferramentas).

4. transcrição e análise

dos dados coletados.

5. proposição e análise

das demandas.

6. elaboração das

considerações finais

7. preparação dos

documentos finais

Page 24: “As contribuições do Design para o meio rural: um estudo de caso com o grupo de agricultores agroecológicos de Garopaba (SC)”

24

2. CAPÍTULO II

2.1. Modelo Agrícola Brasileiro

O debate em torno da problemática agrária no Brasil (como produzir e de que

forma ocorrerá a produção agrícola), e também da problemática agrícola (o que

produzir, quanto produzir e onde produzir), persiste desde o inicio do século XX, sendo

esta, identificada em seus primórdios como agroexportadora e monocultora, vinculada a

uma sociedade capitalista e conservadora.

Paulillo apud Batalha (1997), deixa claro que foi na década de 60 que a questão

agrária ganhou ênfase, onde era considerada um empecilho ao processo de

industrialização nacional, e para isso necessitou o emprego de novas tecnologias e um

crescimento produtivo acirrado através de estratégias de mudanças econômicas e

sociais, que favorecessem a produção agrícola.

Uma certa “modernização conservadora” da agricultura, visando o

desenvolvimento aliado à industrialização e urbanização, foi induzida aos agricultores

através da introdução dos “pacotes tecnológicos” da Revolução Verde, que

incentivavam largas escalas de produção, aumento geral da produtividade, do número

de produtos exportados e a expansão de sistemas monoculturais.

“Eram pacotes difundidos através de órgãos oficiais que incluíam máquinas agrícolas, sementes geneticamente modificadas, fertilizantes químicos, venenos químicos, entre outros. O que representou para os países pobres uma

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25

maior dependência de importações tecnológicas e matérias primas dos países ricos”. (MUSSOI apud ESTEVAM, 2001).

A justificativa para o emprego deste modelo de agricultura encontrava-se

unicamente na necessidade de aumentar rapidamente a produção e a produtividade.

Olalde et. al (2003), relata que essa orientação “produtivista” estava associado ao

cumprimento das funções da agricultura, direcionada unicamente, ao desenvolvimento

econômico, sendo elas: produzir alimentos baratos; fornecer matéria prima para

indústria; permitir a obtenção de divisas a partir do aumento das exportações (ou

redução das importações); consumir produtos industrializados e liberar mão-de-obra

para as atividades urbano-industriais.

Este mesmo modelo de modernização possuiu grandes incoerências e

conseqüências devastadoras: privilegiou algumas culturas, favorecendo apenas médias

e grandes propriedades; provocou o abandono dos agricultores e a fixação nos grandes

centros urbanos; intensificou a concentração de renda no campo; promoveu

oportunidade de créditos agrícolas destinados apenas aos grandes proprietários e, por

fim, promoveu uma constante mudança nas técnicas de produção através da

mecanização, que impossibilitava à agricultura familiar, o uso desse mesmo recurso.

Kalnin (2004), menciona que segundo Graziano Neto, os resultados desse

processo foram catastróficos, tanto no plano econômico quanto do plano social e

ecológico. A sua face mais visível foi uma enorme contradição: se por um lado houve

um grande avanço em termos de progresso técnico (resultados econômicos); em

contrapartida constata-se uma notável regressão em termos sociais, frutos destas

transformações sem a equivalência no campo social cujas conseqüências foram os

êxodos rurais, gerando gigantescos bolsões de pobreza nos centros urbanos,

transformando muitos produtores rurais em “subconsumidores urbanos” e o aumento da

concentração de renda e da terra.

A verificação da existência do êxodo rural e desses gigantescos bolsões de

pobreza é confirmada pelo intenso processo de transformação no tecido social ocorrido

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26

em nosso país, onde, em 1940 a percentagem da população urbana do país, era de

31,2%, passando a ser de 81,2% em 2000.

“Isso significa em termos de população total, que as cidades passaram a abrigar cerca de 138 milhões de pessoas em 2000, contra apenas 12,7 milhões em 1940. A mudança que isso representa na paisagem sócio-física do país é extraordinária, mesmo levando em conta as críticas recentes quanto ao uso de um conceito excessivamente amplo de existência “urbana” nesses dados, de maneira que a porcentagem da atual população que efetivamente poderia ser classificada como tal seria bem menos, algo em torno de 57%” (VEIGA apud PÁDUA, 2003).

A partir da percepção destas conseqüências e das deficiências que o setor

agrícola vem enfrentando, provocando transformações na sociedade e no modelo

econômico do país, muitas reflexões surgiram e foram debatidas por diferentes

entidades responsáveis, como o Estado, os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, as

Organizações de fomento, entre outros.

Paulillo apud Batalha (1997), comenta que o debate sobre o desenvolvimento

agrário no país reacendeu-se somente na década de 80, com o processo de

reestruturação econômica, abertura política, reajustamento social e o ressurgimento dos

movimentos sociais no campo, onde foram analisadas as características e

especificidades do processo de desenvolvimento capitalista na agricultura, considerando

o surgimento de novas perspectivas para a agricultura.

Toda essa análise sobre o desenvolvimento capitalista refletido na agricultura e

sobre a problemática das novas gerações de agricultores, por parte da fragilidade que

vinha passando, o padrão tecnológico moderno, levou na década de 80, à constituição

de movimentos de oposição e de proposição a fim de amenizar e reverter a situação da

falta de oportunidades, tecnologias não apropriadas e o insuficiente incentivo para com

o meio rural e principalmente para a agricultura familiar. Surge então, a necessidade da

intervenção das instituições de fomento e outros atores sociais, vinculados de alguma

forma ao setor agrícola, para a implementação de programas de fortalecimento desta

agricultura familiar.

Page 27: “As contribuições do Design para o meio rural: um estudo de caso com o grupo de agricultores agroecológicos de Garopaba (SC)”

27

Na década de 90, surgem projetos de desenvolvimento local/regional com base

na promoção da Agricultura Familiar através da implementação de agroindústrias

familiares, principalmente as agroindústrias de beneficiamento alimentar. Kalnin (2004),

lembra que neste momento se inicia a idéia de não limitar as atividades agrícolas

familiar somente ao cultivo e sim, incluir a produção de outros bens e serviços,

agregando valor nas cadeias produtivas.

Surge a partir de então, diversos conceitos e concepções a respeito dos termos

Agricultura Familiar, Agricultor Familiar e Agroindústria Familiar, sendo discutidos por

diversos autores, cabendo a cada um, buscar identificar esse grupo de agricultores bem

como o meio produtivo no qual estão envolvidos e lhes proporcionar a devida atenção.

2.2. Definições e Concepções da Agricultura Familiar

Lamarche (1997), prefere usar o termo Agricultura Familiar, como uma unidade

de produção agrícola onde a propriedade e o trabalho estão ligados intimamente à

família. Destaca ainda três tipos de agricultores familiares: aqueles cuja finalidade

essencial não seria a reprodução enquanto unidade de produção, mas a reprodução

familiar, modelo familiar; aqueles que estão interessados apenas na sobrevivência da

família, modelo de subsistência; aqueles motivados por um tipo de exploração agrícola

organizada com base no trabalho assalariado e/ou orientada para a obtenção de um

ganho máximo, modelo de empreendimento agrícola.

Mussoi citado por Estevam (2001), considera Agricultura Familiar aquela em que

os trabalhos são exercidos predominantemente pelo agricultor e sua família, dando a

eles responsabilidades, como a iniciativa, o domínio e o controle do que produzir e como

produzir, havendo uma relação estreita entre o que é produzido e o que é consumido,

ou seja, são unidades de produção e consumo, mantendo também um alto grau de

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28

diversificação produtiva, mas tendo alguns produtos relacionados com o mercado,

interagindo o produtor com o consumidor.

Segundo o Centro de Safras e Mercados, o termo Agricultura Familiar esta

relacionada diretamente com a produção deste sistema constituído por agentes - os

produtores e seus familiares – que estabelecem entre si e com o meio que os cerca,

relações com vistas a produzir alimentos, serviços, lazer, obter renda, melhorar a

qualidade de vida, zelar pelo meio ambiente, pela paisagem rural, entre outros.

Segundo Kalnin (2004), em sua contextualização sobre o termo, busca definir

Agricultor Familiar como sendo:

“todo aquele que explora parcela da terra na condição de proprietário assentado, posseiro, arrendatário ou parceiro e atende simultaneamente aos seguintes quesitos: utiliza o trabalho direto seu e de sua família, podendo ter, em caráter complementar, ate dois empregados permanentes e contar com a ajuda de terceiros, quando a natureza sazonal da atividade agropecuária o exigir; não tedenha, a qualquer título. Área superior a quatro módulos fiscais, quantificados segundo a legislação em vigor; tenha no mínimo 80% da renda familiar bruta anual originada da exploração agropecuária, pesqueira e/ou extrativa; resida na propriedade ou em aglomerado rural ou urbano próximo”

É percebido, a partir desses e inúmeros outros conceitos a respeito desses

termos, a necessidade de identificar esses grupos de agricultores a partir de alguns

critérios que facilitem o processo, como organização do trabalho, renda anual, escala de

produção, entre outros. Cabe salientar que o necessário é identificar esse grupo a partir

de sua vivência e de sua realidade, a qual lhe garante um estilo de vida único e

diferenciado, não excluindo a sua importância para com a economia, a política e a

estrutura social do nosso país.

Nesta mesma década, onde inúmeros debates com o intuito de compreender tais

termos e suas caracterizações, muitos agricultores familiares começam a se unir em

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associações, cooperativas e condomínios para iniciar a implementação de pequenas

agroindústrias, surgindo o termo Agroindústria Familiar.

Agroindústria Familiar: atividade que permite aumentar e reter, nas zonas rurais,

o valor agregado da produção da agricultura familiar, através da execução de tarefas de

pós - colheita nos produtos provenientes de explorações agrosilvopastoris, tais como

seleção, lavagem, classificação, armazenamento, conservação, transformação,

embalagem, transporte e comercialização (Instituto Cepa/SC, apud KALNIN, 2004).

Segundo o Censo Agropecuário de 1995/1996, realizado pelo Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística – IBGE, estima-se em aproximadamente quatro milhões o

número de estabelecimentos familiares rurais no Brasil, caracterizando um significante

contingente populacional heterogêneo e que demandam de tratamentos diferenciados e

emergenciais.

Essa defesa da Agricultura Familiar, como forma de reverter a situação atual do

meio rural, causados pela Agricultura Tradicional ou Patronal, repousa em indicadores

concretos:

Segundo Pádua (2003), um levantamento recente revelou que, entre 1989 e

1999, as propriedades com menos de 100 hectares (reconhecidas como familiares),

apresentaram taxa de crescimento anual médio do rendimento físico da produção da

ordem de 5,80% contra 3,29% na agricultura patronal. A taxa anual média de

crescimento da quantidade produzida na agricultura familiar no mesmo período, por

outro lado, foi de 3,79% ao ano, contra 2,60% na agricultura patronal.

Outros indicadores, segundo o Censo Agropecuário de 1995/1996, realizado pelo

IBGE, revelaram que a Agricultura Familiar, constituída por pequenos e médios

produtores, representam a maioria dos produtores rurais no Brasil, são cerca de 4

milhões de estabelecimentos, representando 85,2% do total, onde detém 30,5% das

terras, respondendo por 30% da população global e por 37,9% do valor bruto da

produção agrícola nacional, empregando cerca de 13,8 milhões de trabalhadores,

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30

representando cerca de 80% do Pessoal Ocupado, apesar de receber apenas 25,3% do

financiamento total (cerca de 938 milhões de reais).

O domínio desse setor é evidente preferencialmente na produção de alimentos

básicos da dieta do brasileiro como feijão, arroz, milho, hortaliças, mandioca e pequenos

animais, sendo responsável por 60% da produção nacional em relação a esses

produtos.

Essas afirmações vêm evidenciar a forte capacidade de resistência do modelo de

agricultura familiar, nos revelando mais uma vez, o potencial desses grupos de

agricultores e a demanda em constante ascensão de seus produtos. São responsáveis

por demonstrar resultados produtivos e eficazes apesar da falta de apoio e créditos

necessários. O que nos direciona a reconhecer este modelo e buscar fortalecê-lo a partir

de novas reflexões e novos projetos de intervenção sobre o mesmo.

No entanto, esses mesmos agricultores encontram-se escondidos muitas vezes,

por de trás das grandes indústrias e pelo mercado acirrado e competitivo, necessitando

desta forma, da inclusão de atores sociais que visem a melhoria da capacidade

produtiva e organizacional de seus sistemas produtivos, o empreendimento de políticas

ativas, e que desafiem este mercado trabalhando para o fomento da atividade agrícola

como forma de desenvolvimento de nossa sociedade.

2.3. Modelo Agrícola Familiar de Santa Catarina

O modelo agrícola catarinense é caracterizado devido ao processo de ocupação

e formação deste Estado, a qual, segundo Freire (2002) é identificada por três períodos

significativos e pela sua inserção gradativa no mercado regional, nacional e

internacional.

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31

O primeiro período de formação do Estado Catarinense, que se estende do

século XVII a 1850, é caracterizado pela preocupação dos portugueses em fortificar a

extensão litorânea, criando pontos de abastecimentos garantindo acesso à Região do

Prata e viabilizando o transporte para a exploração do ouro. Predominando desta forma,

a economia de subsistência e agro-exportadora. Inicia-se neste período a ocupação de

alguns povoados originando as cidades de Nossa Senhora da Graça do Rio São

Francisco do Sul, Santo Antônio dos Anjos de Laguna, Nossa Senhora do Desterro, e

posteriormente, a emancipação do município de Lages. O segundo período,

correspondente à 1850 a 1914, encontra-se vinculado ao expressivo contingente de

imigrantes vindos principalmente da Itália e Alemanha trazendo experiências já

industrializadas e o conhecimento da economia policultura e de mão de obra familiar,

fator este, que garante a diferenciação entre os demais Estados brasileiros: a atividade

de policultura, com o cultivo confinante de diferentes produtos, em resistência à

monocultura. Surgiram neste período, os primeiros povoados alemãs e italianos como

São Pedro de Alcântara. O terceiro período, entre 1914 e 1960, é caracterizado pela

inserção no mercado nacional junto a uma melhor reflexão sobre a produção familiar,

onde algumas de suas características, como a pequena produção baseada no

policultivo, são apontadas como fatores de resistência à crise e também como fatores de

desenvolvimento.

Segundo a FAO/INCRA, citado por Freire (2002), o Estado possui algumas

características típicas em suas Unidades Rurais Familiares – como: (1) a preeminência

da força de trabalho familiar; (2) a unidade, interação e interdependência existente entre

a família e a unidade de produção, isto é, a não separação entre os proprietários dos

meios de produção e os trabalhadores; (3) a não especialização e divisão clássica,

formal e hierárquica do trabalho e entre a atividade administrativa e executiva, isto é,

entre trabalhadores diretos e indiretos; (4) uma participação solidária e co-responsável

de todos os membros da família na organização e no funcionamento do conjunto do

sistema família – unidade de produção; (5) um projeto (objetivos e finalidades)

orientado, prioritariamente, para a reprodução das condições e da força de trabalho

familiar; (6) uma estratégia voltada para a garantia da segurança alimentar da família,

para a redução dos riscos, para o aumento da renda total da família e por unidade de

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trabalho para a garantia do emprego da mão-de-obra familiar e para a melhoria e

ampliação das condições de trabalho e produção.

O Estado possui inúmeras particularidades em seu contexto agrícola, que o

diferencia dos demais Estados. Uma delas diz respeito às concentrações de terras e de

riquezas, as quais foram amenizadas durante um período devido à resistência das

Unidades de Produção Familiar, possuindo atualmente, um dos menores índices de

concentração fundiária do país.

Após a “modernização na agricultura”, ocorrida durante a década de 60 e 70, o

modelo agrícola catarinense - baseado na presença de imigrantes e na sua própria

formação, onde em um primeiro momento, suas unidades de produção familiar visavam

a subsistência a partir de processos rudimentares - lidou com algumas modificações em

seus processos produtivos como as implantações de Complexos Agroindustriais,

integrando-se assim, á dinâmica da produção industrial.

Os complexos agroindustriais começam a deter um maior controle sobre o

trabalho dos agricultores, no entanto, fizeram aumentar o número de agricultores com

emprego fora das propriedades, ou a combinação de atividades dentro da própria

unidade de produção, atividades estas que nem sempre estão diretamente relacionadas

à produção agrícola.

No entanto, com base nos critérios de classificação do Programa Nacional da

Agricultura Familiar - PRONAF, estima-se que em 2000, a agricultura familiar em Santa

Catarina representa um universo de 180 mil famílias, ou seja, dentre os 21% habitante

no meio rural, mais de 90% estão inseridos no modelo da agricultura familiar. O que nos

revela a superação frente a esses complexos agroindustriais, voltados

preferencialmente à produtividade e rentabilidade.

Estas famílias de agricultores, apesar de ocuparem apenas 41% da área dos

estabelecimentos agrícolas, são responsáveis pelo destaque do setor primário, detendo

mais de 70% do valor da produção agrícola e pesqueira do estado, destacando-se na

maior produção nacional de suínos, maçãs, cebolas, ostras e mexilhões, como também

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33

na produção do feijão, milho, leite entre outros, constituindo uma das bases da nossa

economia local, de grande prestígio nacionalmente.

2.4. Contextualização das Unidades de Produção Familiar – UPFs

Ao classificarmos as unidades de produção familiares - UPF, nos deparamos com

alguns autores que as diferenciam conforme critérios estabelecidos, como a renda bruta

percebida no ano agrícola, a área ocupada, a produtividade, entre outros. No entanto,

esta seção enfatiza os principais problemas enfrentados por tais unidades, onde são

distinguidos apenas por sua intensidade. Será abordada também, a própria

contextualização das unidades de produção, apontando suas especificidades e

peculiaridades.

Segundo Blum apud Tedesco (1999), os problemas estão envolvidos aos quatro

fatores de produção: terra, mão-de-obra, capital e capacidade empresarial.

Quanto ao fator “terra”, relacionam-se as seguintes entraves: a concentração e

distribuição de terra, devido à forma de colonização e a qualidade da terra devido ao

sistema antigo e nômade de preparo do solo, uso excessivo de tratores e

conseqüentemente o empobrecimento do solo e o assoreamento dos rios.

Quanto ao segundo fator, a “mão-de-obra”, tais problemas relacionam-se à

escassez de mão-de-obra, devida principalmente ao êxodo rural e a preferência por

empregos nos setores do comércio e indústrias; à qualidade da mão-de-obra, devido a

pouca instrução tecnológica e sistemática do processo produtivo; ao custo da mão-de-

obra, ligada diretamente à escassez, por não manter os trabalhadores na propriedade

por longos períodos; à humanização da mão-de-obra, onde tais trabalhadores são

designados a executar atividades de grande esforço, penosas e algumas vezes de risco.

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Quanto ao fator “capital”, tais problemas também se encontram relacionados à

escassez de capital, devido a questões externas como inflação, a instabilidade dos

preços, alto valor de impostos entre outros; à política agrícola, devido a inexistência ou

baixa qualidade de alguns aspectos econômicos como comercialização, credito rural,

legislações trabalhistas, fiscais, direitos da saúde, educação, entre outros.

Quanto ao último fator, “capacidade empresarial”, pode-se perceber a intensa

inexistência ou ineficiência de uma administração rural, e conseqüentemente a

insuficiente instrução oferecida aos agricultores direcionada a este assunto. Eis alguns

dos impasses relacionados a este fator: a falta de gerenciamento e visão empresarial,

devido ao não conhecimento aprofundado das áreas administrativas, (produção,

recursos humanos, financeiros, comercialização, marketing) e da função de um

administrador (planejar, organizar, dirigir e controlar); falta de análise e controle das

entradas e saídas do sistema produtivo; dificuldade em manter unidades de produção

isolada, se contrapondo à vivência em grupos sociais, como cooperativas e

associações; falta de visão sistêmica, onde se deve avaliar um conjunto de relações e

não apenas a unidade produtiva; a deficiência na comercialização e agregação de valor,

devido a participação de intermediários o que aumenta o preço nas vendas dos

produtos, e o baixo retorno para o agricultor; deficiência no uso das tecnologias, devido

a escassa assistência técnica e conseqüentemente o uso inadequado das questões

tecnológicas produtivas, como insumos, agrotóxicos, maquinários, infraestrutura.

Cabe aqui mais uma vez, ressaltar a justificativa desta pesquisa, onde vem a

considerar o Design, como meio estratégico, a fim de lidar com algumas dessas ações e

salientar as oportunidades e potencialidades existentes no meio rural ao mesmo tempo

em que visa promover o conhecimento em prol da melhoria na qualidade de vida desses

agricultores, e da melhoria de seus produtos ofertados ao mercado.

Brandenburg (1999), cita que a existência das unidades de produção familiar se

condiciona primeiramente pela posse da terra, tanto para a constituição da identidade

do agricultor como para organizar tecnicamente a produção. “A situação do agricultor

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em relação à propriedade da terra define a sua estratégia de sobrevivência e determina

as suas condições de reprodutibilidade”.

O sistema de produção vivenciado pelos agricultores familiares define um modo

de vida particular e que garante aos mesmos uma identidade, uma certa autonomia e

diversificação de seus deveres, ao contrário da lógica produtivista que maximiza a

racionalidade econômica, mediante sistemas especializados. Suas atividades são

praticadas conforme suas culturas, criações e recursos.

Devido a um vasto segmento da agricultura familiar que não consegue afirmar-se

economicamente em virtude do ambiente que a vincula ao mercado, tendo como

entrave de maior evidência, a comercialização de seus produtos, é percebido um melhor

aproveitamento das unidades de produção familiares quando se associa a produção

destinada ao autoconsumo, em relação à produção destinada ao mercado como

geradora de renda. Ou seja, a satisfação da família é demandada, mas, entretanto, o

mercado não se satisfaz com o que é ofertado pela propriedade rural.

Como forma de buscar um maior rendimento, e a satisfação também do

mercado, as unidades familiares se especializam em torno de um ou mais produtos

orientados ao mercado, através de produções integradas às agroindústrias ou

cooperativas, as quais impõe através da relação contratual, um padrão convencional de

produção da exploração que é objeto de contrato (BRANDENBURG, 1999).

Porém essa configuração de produção vem a contrapor à dinâmica vivida e

expressada pela agricultura familiar desde suas origens, onde suas características

marcantes, entre tantas outras, são a diversificação de seus produtos e sua própria

unidade organizacional.

O que apronta, conforme o contexto, uma necessidade de aprimoramento deste

ajuste entre a propriedade e o mercado, pois mesmo mantendo a identidade familiar, a

autonomia e sua produção voltada para a diversificação, como unidade produtiva, a

propriedade deve considerar o mercado como articulador ao seu desenvolvimento,

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36

sendo que um dos desafios das unidades de produção familiar, é adotá-las de meios

que lhe garantem participar desses mercados dinâmicos, competitivos e exigentes.

2.5. O Meio Rural

A alocução existente a respeito da ruralidade, do espaço correspondente ao meio

rural, tem sido muitas vezes, relacionada e comparada com o processo de

desenvolvimento do meio urbano, com sua expansão territorial e com sua modernidade.

No entanto, este antagonismo histórico tem recebido recentemente, o destaque

merecido por distintos autores onde buscam, a partir dessa relação entre o meio rural e

o meio urbano, salientar um novo dinamismo para ambos os espaços.

É o que abordou José Eli da Veiga, em sua Conferência “A relação urbano/rural

no processo de desenvolvimento” apresentada no evento realizado pela Sociedade

Brasileira para o Progresso da Ciência em Florianópolis em 2006, e em muitos de seus

artigos científicos.

Ao conceituar o meio rural, o autor acima citado, compara-o ao grau de

‘artificialização’ dos ecossistemas do local em análise, ou seja, ao grau de intervenção

antrópica deste local. As áreas de menor pressão antrópica, de menor alteração, seja

ambiental como manter a vegetação primária, ou social como manter baixa densidade

demográfica, são consideradas ‘rurais’.

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF,

expõe sua visão a respeito da interação entre cidade e campo citando seu pressuposto

básico: “existe um potencial de geração de renda no meu rural e nos municípios aos

quais se relaciona diretamente que a sociedade não tem sido capaz de valorizar”.

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Para a oficial classificação, quanto ao termo “rural” e quanto ao termo “urbano”, é

preciso alguns critérios e bases quantitativas, as quais definem e considera o que vem a

ser ‘rural’ e o que vem a ser ‘urbano’, no entanto, esta classificação tecnicista, não será

o enfoque deste capítulo, e sim a situação atual do meio rural.

Maria de Nazareth Wanderley, ao registrar o prefácio do livro Agricultura

Familiar, Ongs, e Desenvolvimento Sustentável, de Alfio Branderburg (1999), relata a

situação do meio rural de uma forma bastante clara, detonando peculiaridades ao

ambiente, recordando o seu passado e sua existência ao longo dos anos:

“Para boa parcela da população brasileira, o ”rural” é o lugar de origem (...) faz

parte da memória familiar, constituindo o pano de fundo da cena de tantas lembranças e

histórias passadas de geração a geração (..) A vida no campo é associada a uma maior

experiência de liberdade e de contato direto com a natureza, mas, ao mesmo tempo, o

campo é, para muitos, o lugar de opressão, do cerceamento dessa mesma liberdade,

onde o poder privado se sobrepõe, e freqüentemente anula os direitos do cidadão. (...) é

socialmente percebido como o lugar de precariedade, onde os benefícios da

“civilização” custam a chegar (...) é também o lugar da ruptura, freqüentemente dolorosa

para os que partem para ganhar o mundo ou para fugir do atraso (...) Lugar de saída

parece ser a imagem que mais corresponde à representação que muitos fazem do meio

rural (...) Mas, há os que ficam. Por necessidade ou por gosto. E fazem do meio rural um

lugar de vida.”

Outro questionamento que tem surgido quanto ao meio rural, se norteia em

função das possibilidades observadas em relação ao seu destino. Filósofos e

sociólogos, a cerca de trinta anos, vem lançando hipóteses para esta questão, onde

abordam duas das possibilidades: a extinção do ‘rural’ ou ‘completa urbanização’; e o

‘renascimento do rural’ ou como Veiga nomeia, uma ‘nova ruralidade’, um fenômeno

embrionário de causas atuais, onde observam as potencialidades ali presentes.

Esta “nova ruralidade” tem ganhado destaque, possuindo inúmeras razões para

se afirmar, sendo uma delas, a própria mudança incidida entre o meio rural e o meio

urbano. Cada vez mais nos deparamos com a revalorização do meio rural, devida a

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suas amenidades naturais, aos seus serviços prestados, à agregação de valor contido

em seus produtos ofertados e a sua industrialização em forma de exportação de bens

manufaturados.

Cada vez mais, é percebida uma nova dinâmica nas relações econômicas e

sociais existente no meio rural, que se defrontam com o meio urbano na forma de uma

complementaridade e interação, onde a cidade e o campo se casaram, e enquanto ela

cuida de lazer e trabalho, ele oferece liberdade e beleza” (Veiga,2006).

Nesta nova dinâmica do meio rural, associada à modernização de seu modelo

produtivo, observa-se, a implementação de novas atividades, algumas não-agrícolas, e

de novas funções, ressaltando suas peculiaridades: a pluriatividade e

multifuncionalidade.

A pluriatividade surge para romper com o modelo clássico de desenvolvimento

rural, baseado unicamente na produção agrícola, propondo assim uma nova alternativa

na diversificação das fontes de rendas das famílias envolvidas na produção agrícola.

Suas funções de preservação ambiental, criação de um espaço de maior contato

com a natureza e com um estilo de vida diferente do característico das cidades urbanas,

são cada vez mais valorizados e absorvidos por diversas áreas. Sendo uma delas, o

turismo, uma das atividades de maior expressão que incorporam essa nova dinâmica do

meio rural, designando novas funções como a oferta de lazer e prestações de serviços

(multifuncionalidade). São essas as construções de novas relações que promovem o

dinamismo entre o meio rural e seus agricultores, com o meio urbano e o mercado.

2.6. A Agroecologia

Page 39: “As contribuições do Design para o meio rural: um estudo de caso com o grupo de agricultores agroecológicos de Garopaba (SC)”

39

Ao contestar os padrões produtivistas do uso intensivo de insumos industriais, e

da necessidade de aumentar rapidamente a produção e a produtividade,

desencadeando graves conseqüências sobre o meio ambiente e sobre a saúde

humana, foram pressionadas mudanças a serem consideradas, fazendo surgir, a partir

de meados dos anos 80, o movimento que ficou conhecido como agricultura alternativa,

focado na construção de um novo paradigma com base nas condições ecológicas e

socioeconômicas da agricultura brasileira. O movimento reforçaria o processo de

organização e de resistência, sendo que seus maiores potenciais eram suas

proposições ou estratégias de sobrevivência da agricultura (Lovato & Schimidt, 2006).

Muller, citado por Olalde et. al (2003), descreve que este movimento representou

o início do que ele chamou de “politização ecológica”, havendo a introdução de valores

ambientais na opinião pública, nas práticas agrícolas e nas políticas agrárias de

desenvolvimento.

O movimento da agricultura alternativa, antes mesmo de se caracterizar por

movimento, “é uma ciência, um conjunto de conceitos, princípios e métodos que

permitem estudar, manejar e avaliar um ecossistema agrícola, oferecendo diretrizes

para uma agricultura mais sustentável, ambientalmente sadia, socialmente justa e

economicamente viável” (EPAGRI, 2002).

Seu destaque maior voltou-se ao modelo agroecológico e aos preceitos com

base na ciência advinda da Agroecologia. Por se tratar de um termo conceitual

complexo, ainda em construção, diversas interpretações são tratadas a respeito da

agroecologia.

Segundo Miguel Altieri et al., citado por Santin (2005), a agroecologia é

considerada:

“uma disciplina científica que define, classifica e estuda sistemas agrícolas desde uma perspectiva ecológica e socioeconômica. Considera os fundamentos científicos da agricultura sustentável para estudar, analisar, desenhar, manejar e avaliar agroecossistemas, com o propósito de permitir a implantação e o desenvolvimento de estilos de agricultura com maiores níveis de sustentabilidade no curto, médio e longo prazo” (p. 59).

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Ainda citados pela autora, no conceito de Caporal e Costabeber (2000), a

agroecologia é vista como um processo multidimensional de mudança social orientado

no sentido da ecologização das práticas agrícolas no manejo dos agroecossistemas.

Sevilla Guzmán apud Santin (2005), acrescenta o papel estratégico da

agroecologia como agente promotor de um padrão de desenvolvimento ecologicamente

prudente e socialmente justo, valorizando as capacidades locais e incorporando a ação

social coletiva como sujeitos do processo:

“a estratégia agroecológica poderia ser definida como o manejo ecológico dos recursos naturais que, incorporando uma ação social coletiva de caráter participativo, permite projetar métodos de desenvolvimento sustentável. (...) Em tal estratégia, o papel central da dimensão local é como portadora de um potencial endógeno que, através da articulação do conhecimento camponês com o científico, permite a implementação de sistemas de agricultura alternativos, potenciadores da biodiversidade ecológica e sociocultural” (p. 60).

A agroecologia é ressaltada ainda como uma ação de mudança social, buscando

mudanças não somente nos padrões tecnológicos, mas, sobretudo no comportamento

dos agricultores e da sociedade em geral em relação a uma nova perspectiva ecológica

e socioeconômica compatível com os diversos agroecossistemas.

Os princípios difundidos pela agroecologia são universais, no entanto, suas

técnicas aplicadas de diversificação, de reciclagem e de integração são específicas para

cada localidade. Ela “incorpora as perspectivas tanto ecológicas quanto culturais e

sócio-econômicas inerentes aos sistemas de produção agrícolas” (OLALDE et. al, 2003,

p.38).

Ainda que mantido o mesmo aspecto legal, os movimentos agroecológicos

distinguem-se dos movimentos orgânicos, no sentido de que a agroecologia é uma base

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científica de princípios que se aplicam na forma orgânica ou de outras formas, para

chegar a uma agricultura sustentável. E esta, a agricultura orgânica é um sistema de

produção, um conjunto de técnicas que se aplicam no princípio da agroecologia

(SANTIN, 2005).

A agroecologia é considerada a base científica de princípios mais viável aos

agricultores familiares, em particular da Região Sul do País por representar, segundo o

IBGE, 90,5% de todos os estabelecimento agrícolas, que buscam no novo paradigma do

desenvolvimento, baseado na sustentabilidade e solidariedade, um modelo de produção

onde o agricultor tem o domínio do processo em sua total integralidade, desde a

produção, transformação, armazenamento, transporte, comercialização, mesmo que se

percebam algumas limitações em determinadas etapas deste processo e que não seja

do conhecimento e habilidade do agricultor solucioná-las.

Uma das entidades vinculadas aos preceitos da agroecologia, a Rede de

Agroecologia Ecovida, relata que “enquanto estratégia de fortalecimento da agricultura

familiar, a agricultura ecológica é o começo de um processo de grandes mudanças que

deverão acontecer nos próximos anos”. Tais mudanças são visíveis na base produtiva

das propriedades, com incorporação de técnicas e métodos diferenciados, como

também, “mudanças nas formas de organização dos agricultores para que possam

superar e avançar as barreiras da comercialização e industrialização” (SÍTIO DIGITAL

ECOVIDA).

Tais princípios e conceitos embutidos na agroecologia se sustentam não somente

pela percepção do agricultor em se opor e resistir aos demais modelos convencionais,

mas também pela crescente demanda de consumidores por alimentos saudáveis e

puros, sem a inclusão de qualquer componente tóxico, em razão à melhor qualidade de

vida e preservação do meio ambiente, ou seja, produtos ecológicos.

É considerado também, o forte vínculo já existente entre esses produtos e o

mercado externo através das exportações, onde se percebe além da venda apenas da

matéria prima, um novo estímulo às demandas de produtos finais como geléias, sucos

de frutas, café solúvel, frutas desidratadas, entre outros. No entanto, esses produtos têm

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conquistado espaço também no mercado interno. Sendo que um dos maiores motivos

para esta constatação em relação aos produtos orgânicos, é que “a diferença de preço

em relação ao convencional é compensada pelo ganho na qualidade” (OLALDE et. al,

2003, p. 46).

Torna-se cada vez mais significativa a demanda por gêneros diferenciados, ao

que Veiga (1999) denomina de “mercado de qualidade”, cabendo aos produtos que não

contenham insumos químicos ou tóxicos em sua composição, bem como o respeito

causado ao meio ambiente, o destaque merecido. O mercado dos produtos

ecologicamente diferenciados, como os alimentos orgânicos ou “bio” como são

denominados na Europa, movimenta atualmente US$ 20 bilhões no mundo, crescente a

uma taxa superior a 20% ao ano (OLALDE et. al, 2003).

Segundo a EPAGRI, em um de seus Projetos do Programa de Desenvolvimento

Rural, onde busca fomentar a agroecologia, expõe que o Brasil é o segundo país com o

maior número de lavouras orgânicas no mundo, contando com 19 mil agricultores

brasileiros produzindo orgânicos, sendo que 70% são pequenos produtores familiares.

Em Santa Catarina, desde 1996, o némero de associações ou grupos de agricultores

orgânicos, têm superado mais de 60 entidades formais e informais, associações,

cooperativas que reúnem mais de 2.000 famílias.

A comercialização de produtos ecológicos, destinada a um público específico,

com perfis diferenciados, é considerada um dos maiores potenciais de mercado nos dias

de hoje. O que nos faz, junto a um estudo entre agricultor - produto - consumidor, atuar

para tornar esse potencial em uma real oferta exigida pelo mercado e seus integrantes.

Mantendo constantemente os princípios iniciais da agroecologia, “visando promover

uma reestruturação profunda no modelo de organização no processo de produção, de

distribuição e de consumo desses produtos, como parte de um processo mais amplo de

construção de uma nova sociedade” (OLALDE et. al, 2003, p.30).

Os perfis desses consumidores têm sido cada vez mais estudados e observados,

a fim de identificar as principais razões de consumo, como também mapear os locais de

compra e comercialização desse segmento de produtos. Objetivos estes propostos pelo

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Instituto CEPA/SC junto a CEPAGRO, no ano de 2003 quando promoveram uma

pesquisa a respeito da comercialização e consumo de produto agroecológicos da

Grande Florianópolis.

Quanto à pesquisa, inúmeros dados relacionados ao próprio produto foram

levantados, quais os locais de venda; o grupo de produtos mais procurados; a origem

dos produtos em relação à estrutura produtiva; a procedência dos produtos; a forma de

divulgação; as formas de garantia do produto; as principais razões para a

comercialização; nível de satisfação dos estabelecimentos com a venda. Dados

relacionados ao consumidor também foram observados como: critério de compra; grau

de instrução e de renda; principal atividade ocupacional; periodicidade em que

consome; as principais razões para o consumo; o nível de satisfação e o maior

problema com relação à oferta.

Os resultados da pesquisa, além de reafirmar a unanimidade da crescente

tendência e a satisfação de mercados direcionados à comercialização de produtos

agroecológicos, puderam considerar outras informações como a falta de regularidade na

oferta; a exigência quanto à garantia e autenticidade dos produtos adotando como

critério a certificação seja por selos ou relações de confiança; a tendência no consumo

variado de produtos não mais somente o grupo das hortaliças; a insatisfação a respeito

do alto valor dos produtos; e a necessidade de obter maiores informações sobre os

produtos ecológicos.

Reafirmando os resultados da pesquisa, Mattos e Borguini, citados por Olalde et.

al (2003), participaram de uma importante revisão das pesquisas disponíveis no Brasil

durante os anos de 1992 a 1999, onde listaram alguns pontos em comum: 1. o

consumidor tem com principal motivação a preocupação com sua saúde e de sua

família; 2. a maioria dos consumidores estão dispostos a pagar um preço mais elevado

pelos alimentos orgânicos; 3. parcela expressiva dos consumidores não tem consciência

clara do significado da agricultura orgânica; 4. muitos consumidores gostariam de contar

com uma oferta mais diversificada de alimentos orgânicos, tanto em relação à variedade

de produtos como de postos de venda.

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A principal conclusão desta revisão foi a carência na abrangência do potencial de

consumo desses produtos no mercado nacional e até internacional, sendo esta, uma

visível demanda para a intervenção de diferentes áreas profissionais.

Essas e demais pesquisas que surgem em relação a este segmento de produtos,

junto ao seu grupo consumidor, são essenciais para a verificação de potencialidades e

cada vez mais, para a expansão dos grupos de agricultores agroecológicos, construindo

um espaço agrícola cada vez mais coerente com os princípios da própria agroecologia,

de ética, de sociabilidade e de cooperação.

É compreensível que muitas foram as ações e estratégias para a expansão desse

conceito, desse princípio, desse modelo de produção fomentado pela agroecologia.

Diversas organizações e instituições atualmente encontram-se ligadas de alguma forma,

à agricultura orgânica, como a AAO – Associação de Agricultura Orgânica em São

Paulo, a EMATER - Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência

Técnica e Extensão Rural, no Rio Grande do Sul, e as cooperativas de diversos

Estados, como o caso da Rede de Agroecologia Ecovida, abrangendo os Estados de

Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.

No entanto, fazendo parte de um contexto muito maior, onde são sustentadas as

diversas dimensões, como políticas, econômica, sociais, ambientais e culturais, esses

grupos de agricultores, de consumidores e demais agentes atuantes, estão vinculados

ao próprio processo de alterações e de evoluções que o ambiente em que vivemos, se

defronta ao longo dos anos.

É nestas constantes transformações do ambiente social em que nos encontramos

que permeia os questionamentos da própria população, como cidadãos, representados

por uma parcela significativa deste processo, e muito mais além, como sujeito do seu

próprio desenvolvimento.

Este reconhecimento dos cidadãos em serem considerados parte integrante

deste processo, aprovando a importância de suas ações e responsabilidades, bem

como a valorização do fenômeno cultural das sociedades, enfatizado pelo capital social,

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são cada vez mais abordadas e absorvidas pelos poderes públicos. No entanto, este

reconhecimento se deu ao longo de um enorme e constante debate que se encontra

ainda em andamento, a respeito dos modelos de desenvolvimento difundidos conforme

os preceitos daqueles de maior autoridade e o contexto histórico vivido pelos mesmos.

2.7. Concepções sobre Desenvolvimento

O processo histórico de construção do pensamento sobre o tema

desenvolvimento, tem emergido por diversas concepções distintas, podendo ser

abordadas basicamente por duas de suas correntes: a primeira onde o desenvolvimento

e crescimento econômico foram considerados sinônimos, onde o país é tido como de

maior ou menor desenvolvimento conforme seu grau de crescimento econômico, e uma

segunda onde não mais o crescimento econômico é uma condição única para o

desenvolvimento e sim, uma condição indispensável, junto a outras tantas dimensões

como as relações sociais, culturais, tecnológicas e ambientais (EID & PIMENTEL, 2005).

Dentre essas duas correntes, voltadas às concepções sobre o desenvolvimento,

muitas foram as contradições, os movimentos e os discursos para se chegar a um

modelo mais realístico e ideal de desenvolvimento, que possa ser aposto a tantas

peculiaridades e dependências de nosso país. Nesta verificação é relevante

compreendermos de forma concisa, o curso desses discursos, bem como as

circunstâncias e suas conseqüências ao longo dos anos.

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2.7.1. Do Desenvolvimento Vigente a uma Nova Perspectiva

O discurso referente ao modelo de desenvolvimento vigente, fundamentado no

dinamismo de expansão e reprodução do sistema capitalista mundial, denominado por

Vargas de “processo de globalização econômica, produtiva e financeira”, é amplamente

favorável a inúmeros questionamentos e discussões ao longo dos anos.

“As crescentes evidências do custo ambiental do desenvolvimento vigente, a crise ambiental, a queda da renda agrícola, a superprodução aliada à má distribuição de alimentos (decorrentes das novas relações econômicas internacionais), as ‘rupturas recentes’ (demográficas, do modelo de agricultura familiar, a dissociação entre agricultura, território e meio ambiente), as insuficiências do pensamento clássico e dos debates contemporâneos acerca do desenvolvimento (anos 50 e 60) e a contribuição dos movimentos literários e civis pós-68, são ‘elementos decisivos’ no debate atual sobre esta questão” (NAVARRO apud VARGAS, 2001, p. 217).

Seu primado econômico faz prevalecer, a pura e simples “produção pela

produção”, atrelando a espécie humana ao processo mais geral de valorização do

capital.

A idéia-mestre, como cita Almeida (2001), do desenvolvimento inspirado nas

sociedades ocidentais propondo modelos para o conjunto do mundo, residia no

“paradigma do humanismo ocidental”, ou seja, na compreensão de que o

desenvolvimento sócio-econômico é provocado pelos avanços técnico-científicos,

assegurando ele próprio o crescimento e progresso das virtudes humanas, das

liberdades e dois poderes dos homens. Afirmando que o sócio-econômico encontra-se

voltado necessariamente para a construção do futuro.

Outra forte atitude deste modelo de desenvolvimento é que ele se impõe como

universal, como um bem para todos, sendo aplicado de forma uniforme, propagando-se

a diferentes meios e situações, onde todos são julgados por um modelo único de

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modernização, e que contrapartida, desencadeia um enorme descontentamento dos

países “subdesenvolvidos” por serem julgados “em atraso”, conforme padrão dos países

“desenvolvidos”.

Em contrapeso a esta imposição única e universal do modelo de

desenvolvimento vinculado à sociedade, Rodriguéz (1997) aborda seis níveis

conceituais referentes aos modelos de desenvolvimento, sucedidos pela análise teórica

do desenvolvimento a partir dos anos 60, sendo eles:

1. Modelo Convencional: (citado até o momento) desenvolvimento econômico de

nível técnico-econômico. Reduz-se a fenômenos parciais definidos por variáveis

micro e macro-econômicas. Recursos naturais como demandas produtivas.

Maximiza a geração de renda.

2. Modelo Convencional Ampliado: desenvolvimento econômico e social de nível

social. Adicionam-se componentes sociais, e garantem formas mais ou menos

equilibradas da assimilação da renda gerada.

3. Modelo da Dependência: de nível político. Adicionam-se as variáveis de poder e

as relações de dominação.

4. Modelo de Desenvolvimento Humano: novo desenvolvimento de nível axiológico.

Implica no desenvolvimento do homem integral ou vital e amplia a gama de

opções das pessoas.

5. Modelo de Ecodesenvolvimento: de nível ecológico. Adquire as consciências dos

limites do meio ambiente. Favorece uma maior racionalidade sócio-ambiental

para o manejo de recursos e do espaço, buscando um maior controle

democrático e a participação popular nas decisões.

6. Modelo de Desenvolvimento Sustentável: síntese conceitual dos níveis

ecológicos e axiológicos. Centrado na dimensão humana, em criar condições

sustentáveis referidas a dimensão social, a qualidade de vida e a dinâmica

natural. Gestão ao longo prazo da natureza.

Acredita-se que o surgimento de um novo modelo de desenvolvimento, estará

sustentado ao nível axiológico, ou seja, centrado no desenvolvimento humano,

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orientado à satisfação de suas necessidades, elevando a qualidade de vida, operando

nas demais dimensões sociais, culturais, econômicas e ambientais.

Sua preposição básica se dará pela eficiência econômica, eficácia social e

ambiental, implicando na expansão ou realização de potencialidade, almejando,

gradativamente, um estado melhor, maior e mais pleno (CAVALVANTI, 1997).

Acredita-se por fim, que “o desenvolvimento requer não só a criação e

reprodução do capital econômico, mas também do capital humano (conhecimento,

habilidades e competências) e do capital social (confiança, cooperação,

empoderamento, organização e participação social)” (PÁDUA, 2003).

Esta busca por um novo modelo de desenvolvimento intensifica durante as

décadas de 60 e 70, quando problemas relacionados à exploração desenfreada dos

recursos naturais e a degradação ambiental com caráter global, aprofundou a

consciência ecológica em muitos segmentos da sociedade, originando o que foi

reconhecido por movimento ambientalista. Sendo este, considerado por muitos autores,

como o primeiro movimento de abordagem da problemática social e ambiental do

universo capitalista, trazendo elementos indicativos acerca das perspectivas da

evolução futura. (MONTIBELLER FILHO, 2001).

Neste contexto, a humanidade percebe as contradições do mundo moderno,

tomando consciência de que o processo de desenvolvimento vigente, caracterizado por

um processo de modernização – ocidentalização, com base na homogeneização,

destrói e/ou moderniza as sociedades tradicionais. (BECKER, 2001).

O referido autor, ainda cita que a sociedade foi construída ao lado do uso

massivo de recursos naturais, onde se acreditava que o processo de desenvolvimento

era livre de barreiras naturais. A natureza era mantida como objeto, um recurso a ser

explorado, “o próprio processo de exploração geraria as condições autoreguladoras e

reestabelecedoras do ”equilíbrio”.

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Este padrão de consumo estruturava-se sobre a suposição economicista de que

a capacidade criativa humana geraria os conhecimentos numa velocidade

compensatória dos estragos causados pelo processo produtivo à natureza. No entanto,

logo ficaram evidentes as disfunções e evidências contrárias deste padrão, gerando o

descontentamento com esta modernidade.

O movimento ambientalista tem como distinção sua multissetoriedade, fruto da

preocupação oriunda de uma série de atores e processos, como organizações e grupos

de proteção ambiental, agências governamentais, cientistas, gestores de recursos e

processos produtivos, entre outros.

Leis e D’Amato, citados por Montibeller-Filho (2001), definem por esta

característica predominante, cada década da evolução do movimento: os anos 50 são

vistos como os do ambientalismo dos cientistas, pois é pela via da ciência que emerge a

preocupação ecológica em âmbito mundial; a década de 60 caracteriza-se pelas

organizações não-governamentais; a década de 70 é da institucionalização do

ambientalismo, marcado pela Conferência de Estocolmo-72 sobre o meio ambiente, a

qual evidenciou a preocupação do sistema político e da Igreja Católica; a década de 80

é marcada pela Comissão de Brundtland (1987), onde publicou, como texto preparatório

à Conferencias das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (Eco-92), o seu Relatório

“Nosso Futuro Comum”, no qual sintetiza o conceito de desenvolvimento sustentável; a

década de 90 caracteriza pela entrada do setor empresarial que valoriza ou impõe ao

produtor o cuidado ambiental.

O autor encerra ao adotar o movimento “de grande iniciativa e capacidade de

ação ética e comunicativa, que o habilita para se constituir um eixo civilizatório

fundamental na direção de uma maior cooperação e solidariedade entre nações, povos,

culturas, espécies e indivíduos” (p. 37).

Com vista à necessidade de uma conjuntura em diversas dimensões da

sociedade, não somente quanto à questão ambiental, Illich citado por Rampazzo (2001),

afirma:

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“A crise ecológica é apenas uma das facetas de uma crise mais geral da sociedade industrial, englobando a crise social, econômica, político-ideológica e moral. Essa crise não atinge apenas os paises subdesenvolvidos (ou em vias de desenvolvimento), como também atinge de forma aguda as nações industriais avançadas, crescentemente dilaceradas por uma polarização social, econômica e política que parece indicar uma exaustão histórica desse modelo de desenvolvimento” (p.176).

Entre as décadas de 80 e 90, é registrado o início de uma mudança no

movimento ambientalista, pois todos os interesses pelos problemas ecológicos não

estavam vinculados ao tema do desenvolvimento socioeconômico: “economia e ecologia

eram percebidas como realidades antagônicas”. Considerava-se agora, não mais

exclusivamente a perspectiva da proteção ambiental, mas sim esta em relação ao

desenvolvimento (MONTIBELLER FILHO, 2001).

A preocupação com a preservação do meio ambiente conjugada com o

desenvolvimento socioeconômico em prol da melhoria das condições socioeconômicas

da população fez surgir o conceito de ecodesenvolvimento, o qual parte da crítica à

visão economicista e ao desenvolvimentismo, ou seja, à visão unilateral da realidade,

onde não considera as demais dimensões, enfocando somente a produção e a

produtividade econômica, embasada apenas no crescimento da economia, e na falta de

consideração dos aspectos sociais e ambientais (MONTIBELLER FILLHO, 2001).

O conceito de ecodesenvolvimento buscou constituir um novo paradigma ou

padrão normativo de compreensão da realidade complexa e mutante, abordando seus

fenômenos sociais e ambientais no mesmo grau dos econômicos, com a premissa de

respeitar os ecossistemas locais e avocar a participação ativa e consciente dos diversos

atores envolvidos no desenvolvimento.

Ignacy Sachs foi quem formulou os princípios básicos dessa nova visão do

desenvolvimento, quais sejam: 1. a satisfação das necessidades básicas; 2. a

solidariedade com as gerações futuras; 3. a participação da sociedade envolvida; 4. a

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preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral; 5. a elaboração de um

sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas;

programas de educação (CAVALCANTI, 1995).

Ainda citado por Montibeller-Filho (2001), Sachs afirma: “Trata-se de gerir a

natureza de forma a assegurar aos homens de nossa geração e de gerações futuras a

possibilidade de se desenvolver” (p. 45).

Relata ainda que o ecodesenvolvimento pressupõe a solidariedade e o

comprometimento sincrônico, ou seja, o desenvolvimento voltado às necessidades

fundamentais da população atual, e a solidariedade e o comprometimento diacrônico, o

cuidado de preservar o meio ambiente a as possibilidades de reprodução da vida com

qualidade às gerações futuras. Possui como dimensão essencial, a dimensão cultural,

evocando um novo estilo de vida e caracterizando-se como um projeto de civilização.

Neste âmbito, Sachs elabora o que denomina de “cinco dimensões da

sustentabilidade do ecodesenvolvimento” ou seja, elabora requisitos para que se possa

manter a sustentabilidade deste novo modelo de desenvolvimento, sendo elas:

1. Sustentabilidade Social: o processo deve se dar de maneira que reduza as

diferenças sociais, “abrangendo todo o espectro de necessidades materiais e não-

materiais”.

2. Sustentabilidade Econômica: “defini-se por uma alocação e gestão mais

eficientes dos recursos e por um fluxo regular de investimentos público e privado”.

3. Sustentabilidade Ecológica: compreende o uso dos potenciais inerentes aos

ecossistemas, compatível com sua deterioração. Implica em obedecer ao ciclo temporal

da natureza e na preservação das fontes de recursos energéticos e naturais.

4. Sustentabilidade Espacial/Geográfica: pressupõe evitar a excessiva

concentração geográfica de populações, na busca equilibrada da relação entre

cidade/campo.

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5. Sustentabilidade Cultural: buscar a pluralidade de soluções particulares, que

“respeitem as especificidades de cada ecossistemas, de cada cultura, de cada local”.

Rodriguéz (1997), referente à questão, acrescenta por último, a sustentabilidade

tecnológica, onde promove a implantação de técnicas mais limpas, adequadas, de baixa

porcentagem de resíduos e eficientes no uso de recursos.

Com o contíguo propósito e o intuito de garantir o vigor e a precisão desta nova

perspectiva de desenvolvimento, cerca de duas décadas atrás, se difundiu outro termo

relevante para as discussões: o termo desenvolvimento sustentável, o qual foi utilizado

pela primeira vez pela União Internacional pela Conservação da Natureza - IUCN, em

1986, tendo como princípios: 1. integrar a conservação da natureza e desenvolvimento;

2. satisfazer as necessidades humanas fundamentais; 3. perseguir eqüidade e justiça

social; 4. buscar a autodeterminação social e respeitar a diversidade cultural; 5. manter

a integridade ecológica.

A partir da relação entre os requisitos elaborados por Sachs e os princípios

abordados pelo desenvolvimento sustentável, Montibeller-Filho (2001) apresenta uma

tabela onde cada uma dessas dimensões sintetiza seus componentes e seus objetivos

de forma a alcançar o conjunto da sustentabilidade, com o cumprimento simultâneo de

seus requisitos, atingindo assim, o desenvolvimento.

DIMENSÃO COMPONENTES OBJETIVOS

Sustentab.

Social

-Criação de postos de trabalho que permitem

a obtenção de renda individual adequada (à

melhor condição de vida; à maior qualificação

profissional)

-Produção de bens dirigida prioritariamente

às necessidades básicas sociais.

Redução das

desigualdades sociais.

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Sustentab.

Econômica

-Fluxo perante de investimentos públicos e

privados (com destaque para o

cooperativismo)

-Manejo eficiente dos recursos

-Absorção dos custos ambientais

-Endogeinização: contar com suas próprias

forças

Aumento da produção e da

riqueza social, sem

dependência externa.

Sustentab.

Espacial/ Geográfica

-Desconcentração espacial (de atividades e

população)

-Desconcentração/democratização do poder

local e regional

-Relação cidade/campo equilibrada

Evitar excesso de

aglomerações.

Sustentab.

Cultural

-Soluções adaptadas a cada ecossistema

-Respeito à formação cultural comunitária

Evitar conflitos culturais

com potencial regressivo.

Sustentab.

Ecológica

-Respeitar os ciclos dos ecossistemas

-Prudência no uso de recursos naturais não

renováveis

-Prioridade à produção de biomassa e à

industrialização de insumos naturais

renováveis

-Redução da intensidade energética e

conservação da energia

-Tecnologias e processos produtivos de baixo

índice de resíduos

-Cuidados ambientais

Melhoria da qualidade do

meio ambiente e

preservação das fontes de

recursos energéticos

naturais para as próximas

gerações.

Tabela 1. As cinco dimensões do desenvolvimento sustentável.

Fonte: Montibeller-Filho (2001).

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É na difusão destes termos, que inúmeros autores buscam defini-los e inseri-los

na sociedade, na forma de possibilitar o nascimento deste novo modelo de

desenvolvimento ou de organização social que tenha uma base social, econômica,

cultural e ambiental mais sustentável. Neste contexto onde se busca atingir níveis

superiores e mais desejáveis a cerca das dimensões apresentadas, Almeida (2001)

afirma que o próprio desenvolvimento sustentável tem como premissa a

“insustentabilidade” ou inadequação econômica, social, cultural e ambiental das

sociedades contemporâneas.

Em relação à união e integração dessas dimensões Muller (2001), cita que “O

desenvolvimento sustentável diz respeito a uma sociedade ser capaz de manter, no

médio e no longo prazos, um circulo virtuoso de crescimento econômico e um padrão de

vida adequado. Não se trata de abolir os ciclos econômicos com suas flutuações, mas

de manter expectativas, com realizações, de melhoria continua do padrão de vida”

(p.130).

Referente ao assunto, Rodriguéz (1997) argumenta que o “o desenvolvimento

pode ser concebido basicamente como um processo de mudança estrutural, global e

contínua de liberação individual e social que tem como objetivo satisfazer as

necessidades humanas, iniciando pelas básicas e aumentar a qualidade de vida das

gerações presentes e futuras” (p.51).

Podemos ainda abordar a questão de que o Desenvolvimento Sustentável

caracteriza-se pela gestão e administração dos recursos e da orientação das mudanças

tecnológicas e institucionais. É a reorganização das relações essenciais da sociedade e

a redefinição das ações a serem tomadas pelo governo, empresas, organizações,

instituições de pesquisa e de ensino.

Montibeller-Filho observa o seguinte: “é desenvolvimento porque não se reduz a

um simples crescimento quantitativo; pelo contrário, faz intervir a qualidade das relações

humanas com o ambiente natural e a necessidade de conciliar a evolução dos valores

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socioculturais com a rejeição de todo o processo que leva à deculturação. É sustentável

porque deve responder à equidade intrageracional e à intergeracional3

Após todo este esforço em alcançar o nível desejado para a concepção do

desenvolvimento sustentável, bem como compreender suas implicações e limitâncias,

muitos ainda, são os questionamentos a respeito da existência de diferentes modelos de

desenvolvimento, bem como da universalidade de sua implantação, ou seja, tem-se

compreendido os diferentes requisitos, necessidades e especificidades de cada região

ou localidade em relação às dimensões tratadas pela sustentabilidade, o que necessita

desta forma, a predominância de um modelo de desenvolvimento e ações sustentáveis

cabíveis e potenciais a essa mesma região ou localidade.

É neste contexto, que vem sendo introdizido o mais recente paradigma do

desenvolvimento, ou seja, o Desenvolvimento Local, voltado para o planejamento de

situações particulares de forma participativa sustentado pelos pilares do capital humano,

capital social, capital produtivo e capital natural.

Uma das principais características desta passagem de século, por parte do

resultado do aprimoramento democrático na maioria dos países e por parte da crise do

Estado centralizador, tem sido a descentralização, fazendo com que governos locais,

empresas, organizações não governamentais e entidades passem a assumir funções e

responsabilidades antes consideradas típicas do governo central. (BAIARDI, 2003).

Esta mudança política-social iniciou nos anos 80, onde o Estado intensificou o

debate voltado à municipalização como forma de descentralização do poder estatal.

Esse processo se deu através de uma reforma na política fiscal, com a instituição do

Fundo de Participação dos Municípios, e através das transferências aos municípios, das

políticas que eram coordenadas e/ou executadas pelos governos estaduais e federais

(EID & PIMENTEL, 2005).

3 Termos utilizados para se referir às gerações atuais (intrageracional) e gerações futuras (intergeracionais).

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Esta constatação tem promovido atualmente, o debate envolto ao

desenvolvimento em suas distintas dimensões como abordado anteriormente, com

enfoque nas possibilidades da gestão local para o desenvolvimento, ou seja,

referenciando a idéia de território e territorialidade com base no desenvolvimento local,

pronunciando a crescente compreensão do espaço junto às ações humanas,

reaproximando assim, o homem, enquanto espécie, do seu próprio desenvolvimento,

De forma a compreendermos o âmbito do desenvolvimento local, é relevante

reconhecermos os seus elementos e suas terminologias, como território, territorialidade

e local.

Quanto ao termo território, Albagli (2004), o define como o espaço apropriado por

um ator, ao mesmo tempo em que é considerado o produto da intervenção e do trabalho

de um ou mais atores sobre um determinado espaço. A autora ainda relata que a noção

de território tem sido analisada sob diversas perspectivas (geográfica, antropológica,

sociológica, econômica, política, bioecológica), até porque este termo, vincula-se a uma

variedade de dimensões, tais como:

§ Dimensão física: características e propriedades físicas específicas e recursos

naturais.

§ Dimensão econômica: formas de organização dos processos de produção, de

consumo e de comercialização, capacidade competitiva e de rentabilidade e

capacidade de absorção de inovações.

§ Dimensão sócio-política: meio para interações sociais, modos de estruturação,

organização e gestão do território.

§ Dimensão simbólica: conjunto específico de relações culturais e efetivas entre um

grupo, formação da identidade individual e coletiva, sentimento de pertencionismo e

atributos humanos (conhecimento, arte, moral, capacidade, hábitos, costumes,

crença).

O termo territorialidade refere-se justamente às relações entre os indivíduos ou

atores e seu meio de referência, seu espaço habitado, manifestando nas várias escalas,

como uma localidade, uma região ou um país, expressando um sentimento de

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pertencionismo daquele determinado espaço geográfico. Caracterizada como atributo

humano, por evidenciar e reforçar a identidade de um grupo, a territorialidade é

condicionada por normas sociais e valores culturais e principalmente pela interação e

pelo comportamento deste mesmo grupo frente a um referencial.

O conceito de território e territorialidade, abordado por Gehlen & Riella (2004),

além de referir a um recorte ou limite geográfico, inclui a noção de patrimônio

sociocultural, e a necessidade de mobilização dos recursos e das competências

humanas, através de atribuições de responsabilidades sociais, por meio de processos

participativos. Essa mobilização induz à redinamização do território, através de novas

modalidades de integração e de valorização dos recursos, da população local e dos

produtos locais, como componente do patrimônio sociocultural coletivo. É nesta

redinamização que se vincula o desenvolvimento local, voltado para o reconhecimento

do potencial da população local em prol da gestão coletiva e de seu próprio

desenvolvimento.

Quanto ao termo local, Eid & Pimentel (2005), contemplam três dimensões para

os seus inúmeros significados: 1. econômica, pela localização das atividades

econômicas e sociais; 2. sociológica, pelo espaço cotidiano de interação social; 3.

antropológica e cultural, pela identificação de sujeito com o espaço habitado. Albagli,

citada pelos autores, relata também a sua análise quanto aos diferentes aspectos na

construção do conceito deste termo: 1. tamanho/dimensão local, associando-se ao

conceito de escala; 2. diferenciação e/ou especificidade do local; 3. grau de autonomia

do local; 4. nível de análise e de complexidade do local.

No entanto, fica-se evidente as semelhanças nos significados desses termos

(território, territorialidade, local), bem como na referência dada à dimensão espacial, à

singularidade do espaço contemplado e de seus elementos de identidade, que o

distingue e que se expressam em termos sócio-econômicos, políticos, físico-geográfico

e étnicos-culturais próprios e particular do seu desenvolvimento.

Quanto aos ensaios para uma definição do desenvolvimento local, Paulo Jesus,

citado por Eid & Pimentel (2005), caracteriza-o como:

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“um processo que mobiliza pessoas e instituições buscando a transformação da economia e da sociedade locais, criando oportunidades de trabalho e de renda, superando dificuldades para favorecer a melhoria das condições de vida da população local. (...) se trata de um esforço localizado e concentrado, isto é, são lideranças, instituições, empresas e habitantes de um determinado lugar que se articulam com vistas a encontrar atividades que favoreçam mudanças nas condições de produção e comercialização de bens e serviços de forma a proporcionar melhores condições de vida aos cidadãos e cidadãs, partindo da valorização e ativação das potencialidades e efetivos recurso locais” (p. 126).

O Projeto Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local, realizado pelo

Instituto Cidadania, relata o desenvolvimento local consiste na possibilidade de adaptar,

com flexibilidade, distintas formas de desenvolvimento à ampla diversidade existente no

país, evitando a irracionalidade que resulta das soluções rígidas e padronizadas. Trata-

se de equilibrar e combinar com bom senso as necessidades populacionais, ambientais

e produtivas, articulando crescimento econômico com inclusão social, elevação de

qualidade de vida e sustentabilidade ambiental” (Documento de Apresentação do

Projeto).

Ao enfatizar o desenvolvimento local, suscita-se a uma nova tendência do

fortalecimento do poder local, do empoderamento e da pré-atividade das comunidades,

bem como das transferências de responsabilidades por parte do governo central, vindo

a promover a passagem das megadecisões, das macropolíticas, dos grandes projetos

de desenvolvimento predominantes, para uma crescente participação das

microdecisões, das micropolíticas e dos pequenos projetos, que levarão/levam à

definição e constituição de múltiplos modelos e múltiplas formas de inserção de cada

conjunto no processo geral de transformações e de desenvolvimento (BECKER, 2001).

Quanto ao assunto o autor ainda comenta que “cada localidade, municipalidade,

sub-região, região poderá e deverá optar por um processo de desenvolvimento que

respeite seus valores e recursos específicos e melhor lhe oportunize participar do

processo mundial de desenvolvimento” (p.63), afirmando dessa forma, a inexistência de

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um único modelo, mas sim inúmeros modelos de desenvolvimento decorrentes das

formas de organização e estruturação de cada espaço da sociedade.

O que tende a ser verdade, devido à dependência que o desenvolvimento local

enfrenta frente a seus próprios pilares de sustentação: o capital humano (segundo as

redes de atores locais e suas características protagonista e de empoderamento), o

capital social4 (segundo um conjunto de recursos reais ou potenciais, instituídos pelas

relações de confiança, cooperação organização e participação local para um benefício

mútuo), o capital produtivo (segundo a capacidade competitiva e inovativa de suas

potencialidade, vocações, oportunidades e vantagens), e por fim, o capital natural

(segundo seus recursos naturais disponíveis).

Abromovay (1999), ao tratar a questão do desenvolvimento local e agricultura

familiar, discute a construção de uma nova dinâmica territorial, a partir de uma política

ativa da sociedade e do Estado a fim de alterar a matriz com base na qual os indivíduos

irão inserir-se socialmente, dependendo não apenas da iniciativa e da transferência de

recursos por parte do Estado, mas fundamentalmente da mobilização das próprias

forças sociais interessadas na valorização do meio rural: é daí que poderão nascer as

novas instituições capazes de impulsionar o desenvolvimento dessas regiões, desses

territórios, estimulando a formulação descentralizada de projetos capazes de valorizar

os atributos locais e regionais no processo de desenvolvimento.

É dessa mobilização local, da articulação dos diversos agentes locais com suas

relações externas perante a sociedade local até mundial, que Sachs citado por Becker

(2001), ressalta a característica predominante deste novo paradigma do

desenvolvimento. Trata-se pois,

“de ajudar a sociedade civil a tornar-se o terceiro sistema do poder, a tomar consciência do seu papel para vir a ser uma entidade por si mesma, a começar a ter voz própria, a impor suas opções plurais; em resumo, reequilibrar a seu favor a relação de forças perante o Estado e as instituições que dominam a vida

4 Para um maior aprofundamento sobre o assunto, pesquisar outros autores como Pierre Bourdieu, James Coleman, Robert Putnam.

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econômica, sejam elas privadas ou públicas. Isto porque uma constatação banal e não obstante essencial salta aos olhos: o desenvolvimento só se pode manifestar lá onde vivem as pessoas, isto é, localmente” (p. 82,83).

Tão importante e necessário quanto à mobilização e o estímulo em prol da

participação e comprometimento dos próprios indivíduos de uma localidade, é o

reconhecimento enquanto patrimônio, de seus bens culturais, considerados de grande

acuidade para a história e para a memória social daquela localidade, como também,

objetos de grande interesse de diferentes áreas.

Retomando o sentido de patrimônio, como o conjunto de referências

compartilhadas, a Legislação Brasileira, partindo do pressuposto que esses bens são

um ativo que reflete atributos múltiplos da identidade brasileira, passou a incluir, além

dos patrimônios culturais materiais (representados por documentos, edificações, obras

de arte, áreas naturais entre outros), os bens denominados “patrimônios imateriais”,

assim entendidos como “as formas de expressão e os modos de criar, fazer e viver”

(Brasil, Constituição de 1988), profundamente enraizados no passado e na experiência

adaptativa de sobrevivência das diferentes localidades (CABRAL, 2004).

Conforme o Decreto de 2000, esses bens de natureza imaterial foram

contemplados em quatro categorias: 1. saberes: conhecimentos e modos de fazer

enraizados no cotidiano das comunidades; 2. celebrações: rituais e festas que marcam

a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras praticas

da vida social; 3. formas de expressão: manifestações literárias, musicais, plásticas,

cênicas e lúdicas; 4. lugares: mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços

onde se concentram e reproduzem praticas culturais coletivas (ARANTES, 2004).

Na terminologia adotada pela Organização das Nações Unidas para a Educação,

a Ciência e a Cultura – UNESCO, um dos organismos promotores da salvaguarda

desses patrimônios, esses bens culturais correspondem ao chamado “patrimônio

intangível”, definido como “as práticas e representações – acompanhadas dos

necessários conhecimentos, habilidades, instrumentos, objetos, artefatos e lugares –

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sendo reconhecidos enquanto patrimônio pelas comunidades e pelos indivíduos, sendo

coerente com os direitos humanos e os princípios universalmente aceitos da equidade,

de sustentabilidade e de respeito mutuo entre as comunidades culturais (ARANTES,

2004).

Nesta perspectiva referente à devida contemplação e reconhecimento desses

bens culturais, Baiardi (2003) argumenta da necessidade de ir além do desenvolvimento

tradicional, buscando um processo de planejamento endógeno, específico e particular

ao território em questão, que se fundamenta nas potencialidades locais advindas da

própria cultura, do saber popular, da economia popular, das experiências de vida, das

estratégias de sobrevivência e das redes de solidariedades.

É no comprometimento e na participação não somente dos agentes envolvidos,

mas também da sociedade em prol de seu desenvolvimento, que inúmeras experiências

têm promovido o desenvolvimento local em nosso país, alcançando a exposição de leis,

planos, programas, projetos sociais e ações inovadoras, mesmo percebendo-se uma

forte limitante na escala de operação das mesmas.

Esta limitante, a qual dificulta a prática de muitos outros projetos, é caracterizada

justamente pela premissa do desenvolvimento local, ou seja, pela efetiva participação

da comunidade na definição e implementação de suas estratégias e ações de

planejamento e desenvolvimento.

A partir dessa constatação, tem percebido a prática de alguns desses agentes

como Organizações não governamentais e outras entidades, em experimentar a

implementação de abordagens participativas, com a devida especificidade, flexibilidade

e criatividades nos distintos contextos locais, ou seja, buscar a utilização devida, de

metodologias participativas a fim de integrar-se e possibilitar a integração de todos os

envolvidos no processo, ressaltando o caráter protagonista de cada indivíduo

participante.

Através da aplicação das diferentes metodologias participativas, como o

Diagnóstico Rápido Participativo – DRP, (explanado na seqüência), os exercícios de

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planejamento, experimentação e monitoramento, têm claramente proporcionado às

entidades que o conduzem, a darem maiores continuidades às suas ações, mantendo o

envolvimento de todos os integrantes e socializando melhor os resultados e as

informações (ROMANO & ALMEIDA, 1999).

Petersen & Romano (1999), relatam que o desenvolvimento agrícola tem sido

motivo de crescentes preocupações, sendo considerados alvos para o estudo e

aplicações dessas metodologias participativas, com o enfoque estratégico no agricultor,

como sujeito coletivo, como o gestor de seu próprio desenvolvimento. É o que justifica

Weid, citado pelos mesmos autores: “os agricultores têm cultura, conhecimentos,

habilidades, limitações, vontades, experiências, gostos e tendências além de condições

materiais diversificadas” (p.59). Não considera-los como agentes ativos de todo o

processo de desenvolvimento tem sido o equívoco gerador da maioria das frustrações

dos projetos atuais.

O processo de desenvolvimento com enfoque local, válido para os autores

Petersen & Romano (1999), é aquele constituído pelas etapas do diagnóstico, passando

pela identificação das propostas de intervenção, seu teste, avaliação e seu

monitoramento permanente, onde o agricultor e demais agentes se apropriam dessas,

adquirindo novos papéis e métodos, para encaminhar um desenvolvimento “humano e

duradouro” (p.60).

2.8. Metodologias Participativas

Conforme a proposta desta pesquisa, em verificar a realidade de um grupo de

agricultores específicos, identificando possíveis demandas de competência e hanilidade

do designer, será abordada uma das ferramentas participativas de grande importância

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para o processo de desenvolvimento deste grupo: a etapa inicial do diagnóstico local, ou

Diagnóstico Rápido Participativo como os autores acima mencionam.

No entanto, o diagnóstico a ser aplicado nesta pesquisa, é um tanto menos

complexo, pois abrange exclusivamente a identificação de possibilidades e

oportunidades observadas no grupo de agricultores a fim de levantar demandas que

possibilite a intervenção do designer, visto que os Diagnósticos Rápidos Participativos

são direcionados às abordagens mais complexas e amplas, que visam a melhoria da

qualidade de vida, da renda, das condições ambientais, da influência e efetivação no

empoderamento comunitário, entre outras questões.

São inúmeras as aplicações de diagnósticos em diversos projetos de diversos

segmentos, no entanto, muitos deles ainda são realizados basicamente a partir da

aplicação de questionários e preenchimentos de planilhas com o objetivo de obter

numerosos dados quantitativos, o que lhes proporcionavam certos prejuízos devido, por

exemplo, ao atraso no processamento dos dados (PETERSEN & ROMANO, 1999).

A concepção dos diagnósticos, por parte da ineficiência dos métodos utilizados

até então, vem evoluindo, permitindo entre outras coisas:

§ Levantar informações necessárias e suficientes para a análise dos agroecossistemas

de forma a subsidiar o planejamento futuro;

§ Conseguir estas informações de forma rápida, barata e confiável, e

§ Que a análise dos problemas seja compartilhada com a comunidade de forma que

esta se comprometa com o planejamento, com a implementação e,

fundamentalmente com os resultados do projeto (PETERSEN & ROMANO,1999,

p.61).

O Diagnóstico Rápido Participativo tem como papel maior, mobilizar diferentes

grupos de pessoas pertencentes a uma comunidade, promovendo uma comunicação

dialógica entre todos os envolvidos de forma a constituir um ambiente de discussão e

análise dos problemas, atuando sobre suas causas e não somente sobre seus

sintomas, impulsionando aos diferentes grupos expressarem suas percepções sobre tais

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problemas, resultando em diferentes visões dos mesmos, porem enfrentando-os

coletivamente.

Como mencionado anteriormente, conforme o contexto cultural, econômico,

social e ambiental em análise, para qualquer modelo de desenvolvimento exige-se muita

flexibilidade, adaptação e criatividade, valendo o mesmo para o diagnóstico a ser

conduzido. Nenhum Diagnóstico Rápido Participativo será igual a um outro, ele se

distinguirá por seus integrantes, por sua atuação e comprometimento.

Não tendo uma seqüência lógica de ações, pois os diagnósticos dependem

preferencialmente da participação ativa de seus integrantes, os autores, para efeito

didático, decompõem um DRP em um conjunto de passos, sendo eles:

§ Formação da equipe que conduzirá o diagnóstico: formada por técnicos que fomenta

o diálogo e por representantes das comunidades.

§ Estudo dos dados secundários: reunião e sistematização das informações pré-

existentes sobre o local.

§ Formulação das hipóteses de partida: percepção dos técnicos, sobre os problemas

vividos pela comunidade com base nas informações de que dispõe.

§ Elaboração dos roteiros para as entrevistas e observações: lista de temas a serem

explorados podendo ser reelaborada.

§ Levantamento das informações: através de entrevistas semi-estruturadas (a partir de

uma série de técnicas), e observações.

§ Sistematização das informações: organização das informações coletadas,

destinadas à análise coletiva.

§ Análise das informações: de forma coletiva, feita permanentemente após as

hipóteses iniciais.

§ Restituição (ou devolução): debate com a comunidade a cerca dos resultados do

trabalho, confirmando ou rejeitando-os. Parte párea a discussão das possíveis

soluções para os problemas priorizados.

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2.9. Abordagem do Design

“Design é a atividade consciente de combinar, de

modo criativo, invenção tecnológica com inovação

social, com o propósito de auxiliar, satisfazer ou

modificar o comportamento humano”.

(Alexandre Manu - Designer Romeno).

Uma das necessidades primordiais, destes grupos de pequenos produtores, que

contemplam os princípios do Desenvolvimento Local Integrado, já referenciada como

uma de suas premissas é a participação e a interação voltada para o comprometimento

e dedicação, entre diversos atores sociais que possam auxiliar e identificar

possibilidades em seu sistema agrícola, suscitando em um conjunto de propostas e

ações participativas, em busca do crescimento profissional, do fortalecimento da

identidade do grupo e da qualidade de vida dos mesmos, inserindo-os no mercado

competitivo, justificando desta forma, produtos de qualidade, bem apresentáveis e de

retorno social e econômico viável.

Neste âmbito, o profissional de Design, como mais um ator social em vista da

qualidade e do bem estar de um território e de seus componentes, possui abertura e

qualidades profissionais para intervir no sistema agrícola desses pequenos produtores a

partir de alguns princípios e algumas vertentes nas quais abordam a gestão de um

empreendimento e o desenvolvimento do mesmo.

Para seguirmos a pesquisa, enfatizando a abordagem do Design inserida no

meio rural, partiremos de uma breve contextualização desta atividade durante os anos,

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66

tanto discutida e refletida, quanto pouco compreendida, devida à própria plenitude de

suas atuações.

A definição internacionalmente mais difundida do Design foi elaborada por

Maldonado (1963) onde declara: “Design é uma atividade de projeto que consiste em

determinar as propriedades formais dos objetos a serem produzidos industrialmente. Por

propriedades formais entende-se não só as características exteriores, mas, sobretudo

as relações estruturais e funcionais dos objetos”.

Um tanto focada em apenas alguns parâmetros, tal definição abranda as demais

percepções e desempenho da atividade do Design. No entanto, é importante salientar

que esta atividade envolve um método criador e integrador, onde seus fundamentos

conceituais advêm também das alterações globais, sendo constantemente moldada a

tais complexidades e acontecimentos, e por isso, a complexidade em difundi-la a partir

de um único conceito.

Em contraposto à definição de Design acima, uma das principais organizações

envolta à atividade do Design e de maior respaldo e reconhecimento, devido a sua

abrangência expansionista a todos os continentes, com diversas entidades afiliadas, o

ICSID – Conselho Internacional de Sociedades de Design Industrial, criado em 1957

com o intuito de promover a atividade do desenho industrial em nível internacional,

buscou salientar o Design em 2000, a sua concepção holística e de uma forma mais

abrangente, definindo-o como:

“uma atividade criativa cujo propósito é estabelecer as qualidades multifacetadas dos objetos, dos processos, dos serviços e dos seus sistemas de ciclos de vida. Conseqüentemente, o Design é o fator central da humanização inovadora das tecnologias e o fator crucial das trocas culturais e econômicas. O Design trata de produtos, serviços e sistemas concebidos através de ferramentas, organizações e da lógica introduzidas pela industrialização – não somente quando são produzidos em série.

O adjetivo 'industrial' associado ao design deve relacionar-se ao termo indústria, ou no seu sentido de setor produtivo, ou em seu sentido mais antigo de "atividade engenhosa, habilidosa". Assim, o design é uma atividade que envolve um amplo espectro de profissões nas quais produtos, serviços, gráfica,

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interiores e arquitetura, todos participam. Juntas, essas atividades deveriam ampliar ainda mais - de forma integrada com outras profissões relacionadas - o valor da vida.

O design procura identificar e avaliar relações estruturais, organizacionais, funcionais, expressivas e econômicas, visando: 1. Ampliar a sustentabilidade global e a proteção ambiental (ética global); 2.Oferecer benefícios e liberdade para a comunidade humana como um todo, usuários finais individuais e coletivos, protagonistas da indústria e comércio (ética social); 3.Apoiar a diversidade cultural, apesar da globalização do mundo (ética cultural); 4.Dar aos produtos, serviços e sistemas, formas que expressem (semiologia) e sejam coerentes com (estética) sua própria complexidade".

Dessa forma o termo designer se refere a um indivíduo que pratica uma profissão intelectual, e não simplesmente oferece um negócio ou presta um serviço para as empresas” (www.icsdi.org).

Em relação às atuações do Design, podemos salientar que seu campo é bastante

amplo, o que promove a viabilidade desta pesquisa, no entanto, cabe ressaltar aqui as

competências e capacidades do profissional, assim como Victor Papanek listou em seu

livro Arquitetura e Design: ecologia e ética (1997):

1. aptidão para investigar, organizar e inovar;

2. dom para descobrir as respostas adequadas aos problemas novos ou recém

surgidos;

3. a habilidade para testar estas respostas através da experimentação, de modelos

computadorizados, funcionamento de protótipos ou séries de testes reais;

4. prática para transmitir esse desenvolvimento através de desenhos, modelos,

simulações e estudos de viabilidade, em vídeo ou filme, bem como através de

relatórios verbais e escritos;

5. talento para combinar as rigorosas considerações técnicas da forma criada com a

preocupação dos fatores sociais e humanos e da harmonia estética;

6. sabedoria para prever as conseqüências ambientais, ecológicas, econômicas e

políticas provocados pelo design;

7. capacidade para trabalhar com pessoas de muitas culturas e áreas diferentes.

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No entanto, embora compreendendo as habilidades do profissional, ainda são

visíveis inúmeras controvérsias e discussões a cerca da origem do Design, não

enfatizadas nesta pesquisa, porém, seus princípios ainda se encontram vinculados aos

anseios da industrialização, onde seu comprometimento tem estado desde então

atrelado exclusivamente à constante produtividade, com a preocupação em atender às

exigências estético-formais e condições técnico-econômicas.

No entanto, após longos estudos iniciados nos anos 60 e 70, por alguns

designers, como Victor Papanek, perpetuou-se um novo propósito de Design, voltada

para o desenvolvimento de produtos focado nas necessidades humanas, baseado na

ética e respeito ao meio ambiente e à sociedade. Após a publicação do seu livro em

1972, Design for the Real World, Papanek lançou “a proposta dos designers assumirem

um papel social construtivo e intervencionista em oposição às forças consumistas”

(Martins & Couto, 2006). O referido designer, citado por Casagrande et. al (2006),

ressaltava ainda “que a única coisa importante do Design é como ele se relaciona com

as pessoas”.

Já nos anos 80, uma nova perspectiva adere aos princípios do Design, com a

introdução de uma consciência ecológica em seus processos, o que venho a ser

reconhecido por Ecodesign. A definição precisa deste termo, segundo Manzini e Vezzoli

(2002), é indeterminada, pois os dois campos que o compõe, design e ecologia, são

amplamente vastos e cercados de indeterminação. Na tentativa de uma conceituação,

os autores relatam que o ecodesign é uma das atividades do Design que visa ligar o

tecnicamente possível com o ecologicamente necessário, fazendo “nascer novas

propostas que sejam social e culturalmente apreciáveis” (p.20).

Neste momento, os designers assumem um papel de interferência com o meio

ambiente, priorizando a variável ambiental, tendo no pensamento ecológico, a base e

vetor para as suas medidas e ações. Essa interferência do Design com o meio, segundo

os autores, se dá por quatro níveis fundamentais:

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§ O redesign ambiental de produtos existentes: considera o ciclo de vida dos

produtos, promovendo a eficiencia (consumo de matéria e energia, reciclagem e

reutilização de materiais);

§ Design de novos produtos que substituam os demais: inserção de novos produtos

ecologicamente aceitáveis;

§ Design de novos produtos ecológicos: inserção de novos produtos socialmente

apreciáveis pelos consumidores;

§ Propostas de novos cenários ambientais correspondentes a estilos de vida:

desenvolvimento de atividades no plano cultural promovendo novos critérios de

qualidade.

Já praticados alguns desses níveis de interferência, constata-se que a atividade

de Design não se limita apenas à variável ambiental e sim, a um conjunto de

considerações à cerca das implicações relacionadas à dimensão ambiental, bem como

das dimensões técnicas, econômicas, sociais, culturais junto a suas condicionantes.

Ainda durante a década de 70 e 80, outros profissionais, como economistas e

filósofos, buscam idéias para o desenvolvimento baseado nas particularidades das

regiões, nas condições e potencialidades das localidades. Uma oportunidade

indispensável, para a intervenção e o comprometimento das atividades do Design, mas

que infelizmente só vem a ser disseminada anos mais tarde, como trata esta pesquisa.

Em contraste à abordagem linear focada excepcionalmente, na solução de

problemas, caracterizada pelo século XX, a mais recente constatação referente à

atividade do Design perante as empresas e demais organizações, é que o Design vem

sendo abordado como uma atividade gerencial por excelência, com base em um

processo de planejamento estratégico, se afirmando como um importante diferencial

competitivo. (Santos, 2000). Cabe aqui salientar, que o processo de Design focado na

identificação de potencialidades e limitações a fim de gerar propostas por meio de

processos participativos, está inserido em um contexto muito maior, ou seja, está

vinculado à atividade de gestão que este processo demanda, ou propriamente dita, à

Gestão do Design.

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Cabe à gestão do design, processar as constantes informações técnicas/

particulares, as informações do mercado/consumidor, as informações

estratégicas/competitivas, como também gerir os recursos humanos, materiais e

naturais, durante todo o desenvolvimento, passando pela concepção até a

comercialização de um projeto, enfatizando a idéia multi e interdisciplinar deste

processo, avaliando as questões a nível estratégico, operacional e também social,

sendo elas: administração empresarial, estrutura organizacional, sistematização da

produção, planejamento ambiental, planejamento financeiro, planejamento de

marketing, qualidade total e estratégias competitivas. Apresentando-se como

mecanismo de integração dessas questões para uma postura social, ética e de

competência com o processo da atividade em si.

Esse novo propósito do Design surge de uma visão abrangente, onde leva em

considerações preocupações humanas, o conhecimento tecnológico e científico,

perspectivas históricas, políticas, econômicas e ambientais, não podendo ser reduzido a

uma de suas partes constituintes, sendo concebido como um todo, caracterizado pela

sua atuação holística. É nesta gama de conhecimento que o Design se atrela, que

reside o seu maior reconhecimento: o da multidisciplinaridade e interdisciplinaridade, ou

seja, de sua necessidade e capacidade de interação com demais áreas profissionais,

muitas advindas de conceitos divergentes, porém na busca de um mesmo intento.

No entanto, este processo de Design voltado a estas concepções deverá ser

conduzido dentro de uma visão global, devido às condições e limitações existentes do

mercado e do próprio meio, mas suas ações deverão agir à nível local, pois os

mercados são locais, as exigências e as necessidades são individualizadas (Santos,

2000).

Quanto ao assunto, Blaich citado por Santos (2000), define que o Design é a

“ponte que liga e traduz diversas áreas de conhecimento, devendo estar na liderança

desse processo, pensando globalmente e agindo localmente” (p.26).

A partir dessas concepções, o Design vem ganhando espaço para ressaltar o seu

forte papel no planejamento de um futuro responsável e o seu comprometimento com o

Page 71: “As contribuições do Design para o meio rural: um estudo de caso com o grupo de agricultores agroecológicos de Garopaba (SC)”

71

meio e com a sociedade, por via de suas ações planejadas e de seus gestores

capacitados e comprometidos.

Através de suas diversas possibilidades de manifestações, bem como suas

habilidades e competências, a atividade do Design, por meio de sua gestão e

participação ativa em diferentes dimensões (sociais, econômicas, culturais, ambientais,

mercadológicas), se destaca em prol do planejamento e do desenvolvimento local,

tendo como responsabilidade, promover o desenvolvimento com base no fortalecimento

sócio-econômico do meio em que se insere. Isto se dá, pelo fato da própria atividade de

Design ser considerada um meio estratégico de discernir os diferenciais e anseios de

uma determinada localidade e potencializar seu conjunto de bens culturais, seus

saberes locais, proporcionando a identificação e valorização destes atributos

representado a partir da concepção de produtos, artefatos ou serviços.

Com o intuito de intensificar este reconhecimento do saber local, compreender as

necessidades, limitações e potencialidades produtivas, naturais e culturais de uma

determinada localidade, o Design ganha mais uma vez, espaço suficiente para intervir

no desenvolvimento local, voltado à busca de um equilíbrio entre as particularidades

locais e o mercado, para não somente buscar o prestígio deste reconhecimento, mas

também, o incremento da renda familiar, subseqüente à melhoria de vida desta

localidade.

Neste âmbito, onde a questão mais atual e urgente que deve ser abordada pelos

profissionais de Design é o seu comprometimento com as sociedades e com o meio,

enfatizando a atividade do Design como um todo, onde se promove a ação de

planejamento em suas diversas esferas e o desenvolvimento de projetos, é plausível a

intervenção deste profissional, no meio em que esta pesquisa norteia, ou seja, no meio

rural.

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72

3. CAPÍTULO III

3.1. Desenvolvimento do Estudo de Caso

Como já citado anteriormente, a proposta desta pesquisa, é identificar as

potencialidades e oportunidades de um determinado grupo de agricultores, trabalhando

com as bases discutidas pelo desenvolvimento local evidenciando por fim, o

levantamento de demandas do Design.

De forma a materializar esta proposta, foi empregado uma metodologia

exploratória, a partir de um objeto de estudo, sendo ele, o Grupo de Agricultores

Agroecológicos do Município de Garopaba, pertencentes à Rede de Agroecologia

Ecovida.

Primeiramente será explanada a caracterização da Rede de Agroecologia

Ecovida, em seguida da instituição do CEPAGRO e posteriormente será abarcado o

ambiente onde o Grupo reside, como características e potenciais do município de

Garopaba e seu entorno, e por fim, será dado um maior enfoque no próprio Grupo, em

suas práticas agrícolas, sua sistematização organizacional, suas potencialidades, para

que se tenha uma base suficiente para nos próximos capítulos, abordar a identificação

das limitações e potencialidades bem como o levantamento das possíveis demandas de

Design.

A contextualização do Município de Garopaba foi possível por meio de pesquisas

em websites do Governo do Estado de Santa Catarina (<http://www.sc.gov.br>), da

Prefeitura Municipal de Garopaba (<http://www.garopaba.sc.gov.br>), do portal turístico

“Viva Garopaba” (<http://www.vivagaropaba.com.br>) e do portal de informações

“Garopaba Surf” (<http://www.garopabasurf.com.br>).

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73

3.2. A Rede de Agroecologia Ecovida

A Rede Ecovida de Agroecologia foi fundada em 1998, na Região Sul do País,

onde seu surgimento se deu através de um processo de evolução e consolidação de

alternativas realizadas ao longo dos anos por entidades de agricultores familiares,

instituições de assessoria, organizações não-governamentais, organizações de

consumidores e comerciantes, além de pessoas comprometidas com a expansão dos

princípios da agroecologia.

Em seu próprio estatuto, a Rede Ecovida de Agroecologia é considerada um

“espaço de articulações entre agricultores familiares ecologistas e suas organizações,

organizações de assessoria e simpatizantes com a produção, o processamento, a

comercialização e o consumo de produtos ecológicos. A Rede trabalha com princípios e

objetivos definidos e tem como metas fortalecer a agroecologia em seus mais amplos

aspectos, gerar e disponibilizar informações entre os participantes e criar mecanismos

legítimos de credibilidade e garantia dos processos desenvolvidos por seus membros”.

A Rede definiu pela utilização da denominação “produto ecológico” em vez de

“produto orgânico” por entender que desenvolve uma agricultura ecológica sob os

princípios da agroecologia e não apenas uma agricultura de substituição de insumos (de

químicos para orgânicos) cujos produtos também podem, segundo a legislação, receber

a denominação “orgânico”.

Segundo as normas de organização e funcionamento, seus princípios e objetivos

norteiam pelos seguintes apontamentos:

Princípios:

§ Ter na agroecologia a base para o desenvolvimento sustentável;

§ Trabalhar com agricultores familiares e suas organizações;

§ Ser orientada por normativa própria de funcionamento e de produção;

§ Trabalhar na construção de um mercado justo e solidário;

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§ Garantir a qualidade através da certificação participativa.

Objetivos:

§ Desenvolver e multiplicar as iniciativas agroecológicas;

§ Incentivar o trabalho associativo na produção e no consumo de produtos ecológicos;

§ Articular e disponibilizar informações entre as organizações e pessoas;

§ Aproximar, de forma solidária, agricultores e consumidores;

§ Fomentar o intercâmbio, o resgate e a valorização do saber popular;

§ Ter uma marca e um selo que expressam o processo, o compromisso e a qualidade

dos produtos.

A Rede desenvolve diversas atividades de promoção e fomento da agroecologia,

como a articulação política; formação e capacitação; atividade de organização e

funcionamento; contribuição na comercialização, obtenção de parceiros e

colaboradores; disseminação da informação e comunicação, e por último, a certificação

dos produtos ecológicos.

A certificação dos produtos ecológicos se dá através de um processo centrado na

agricultura familiar, chamado Certificação Participativa em Rede, sendo considerado um

sistema solidário de geração de credibilidade, onde a elaboração e a verificação das

normas de produção ecológica são realizadas com a participação efetiva de agricultores

e consumidores, recebendo assim, o selo Ecovida.

O selo Ecovida é obtido após uma série de procedimentos desenvolvidos dentro

de cada Núcleo Regional. Ali ocorre a troca de experiências e a verificação junto ao

Conselho de Ética, o qual designa a avaliação da propriedade, autuando-a apta ou não

para o recebimento do selo. A certificação participativa é uma forma diferente de

certificação, que além de garantir a qualidade do produto ecológico, permite o respeito e

a valorização da cultura local através da aproximação de agricultores e consumidores e

da construção de uma Rede que congrega iniciativas de diferentes regiões.

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75

O funcionamento da Rede se dá de forma descentralizada, e sua estrutura

organizacional é constituída por núcleos regionais, os quais são formados pelos

membros de uma determinada região geográfica com características físicas e

organizacionais semelhantes, por uma pessoa representante, por um conselho de ética,

organizações não governamentais, cooperativas e outras entidades de apoio.

No último levantamento, realizado em 2005, a Rede encontrava-se composta por

21 núcleos regionais, organizados nos três Estado do Sul do Brasil, abrangendo 180

municípios, com a integração de 2.438 famílias de agricultores familiares, reunidas em

272 grupos, associações e cooperativas, além de 28 ONGs, pequenas agroindústrias,

17 comercializadoras de produtos ecológicos, 6 cooperativas de consumidores e

colaboradores. Contando ainda com 137 feiras ecológicas em todo o Sul do Brasil

ligadas à Rede (REBELATTO, 2005).

Na seqüência, a imagem representativa dos 21 Núcleos Regionais da Rede, com

seus respectivos nomes:

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O núcleo abordado nesta pesquisa é o Núcleo Litoral Catarinense, possuindo,

segundo a própria Rede Ecovida, um total de seis grupos de agricultores, somando

cerca de 60 famílias envolvidas em atividades agroecológicas. Por sua localização

estratégica do ponto de vista ecológico e turístico, este Núcleo é considerado pela Rede

como possuidor de um expressivo potencial de desenvolvimento, permitindo aumentar o

número de organizações integrantes e melhorar ainda mais a qualidade do trabalho

(SANTOS, 2005).

01 Centro Oeste do PR

02 Sudoeste do PR

03 Maurício Burmester do Amaral

04 Agroflorestal

05 Extremo Oeste de SC

06 Oeste de SC

07 Vale do Rio do Peixe

08 Planalto Norte

09 Planalto Serrano

10 Alto Vale

11 Litoral Catarinense

12 Alto Uruguai

13 Planalto

14 Vale do Rio Pardo

15 Serra

16 Litoral Solidário

17 Vale do Caí

18 Sul

19 Centro RS

20 Oeste do PR

21 Monge João Maria

Figura 1. Mapeamento dos Núcleos da Rede Ecovida.

Fonte: Sítio Digital Ecovida <http://www.ecovida.com.br>

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77

Dentre esses grupos de agricultores associados ao Núcleo Litoral Catarinense,

encontra-se a Associação dos Agricultores Agroecológicos de Garopaba, sendo esta,

junto a seus integrantes, o sujeito desta pesquisa.

3.3. A Instituição – CEPAGRO

Conforme o seu próprio Estatuto, o Centro de Estudos e Promoção da Agricultura

de Grupo – CEPAGRO é uma organização não governamental, formada por entidades

de abrangência regional ou estadual de agricultores familiares e por entidades de apoio

à Agricultura Familiar como o Centro de Motivação Ecológica e Alternativas Rurais –

CEMEAR (no Alto Vale do Itajaí); a Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste

Catarinense – APACO; o Centro Vianei de Educação Popular (no Planalto Serrano); O

Centro De Assessoria e Apoio aos Trabalhadores Rurais – CEPAGRI (no Planalto Norte

e Alto Vale do Rio do Peixe) e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar -

FETRAF.

O CEPAGRO foi fundado em 20 de abril de 1990, por um grupo de pequenos

agricultores e técnicos interessados na promoção da agricultura de grupo, como forma

de viabilização das pequenas propriedades rurais. Sua sede está localizada atualmente,

junto ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina,

possibilitando, através de projetos e ações o envolvimento direto de acadêmicos do

curso de Agronomia e de outros cursos.

O CEPAGRO através de profunda e contínua reflexão crítica vem se

reestruturando para melhor atender a atual realidade sócio-cultural e econômica do

Estado de Santa Catarina, no que tem obtido bons resultados através dos projetos que

executa, atuando sempre em forma de rede, parcerias e convênios.

O CEPAGRO tem como finalidades representar, quando formalmente delegado

para tal, coordenar e promover as relações e interesses das entidades que o compõe,

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78

no que diz respeito ao desenvolvimento da agricultura de grupo e de outras formas de

solidariedade no meio rural, assessorando, apoiando, e promovendo ações que

busquem o desenvolvimento local sustentável, tendo a agricultura familiar solidária

como base para o desenvolvimento rural.

Mesmo consolidando um trabalho de base, o CEPAGRO, ao representar o

Conselho quando delegado, integra diferentes espaços públicos, como Conselho

Estadual do PRONAF, Comissão Estadual de Produção Orgânica, Conselho Estadual

do Desenvolvimento Rural, membro do Centro Ecumênico de Apoio ao

Desenvolvimento, Fórum Estadual e Fórum Regional de Economia Solidária, Comitê

Estadual de Alternativas para a Cultura do Fumo, Rede de Agroecologia Ecovida, Rede

Monte Cristo e outros. Por serem espaços representativos e deliberativos, possibilita a

interlocução com as diferentes esferas de governo e sociedade civil, favorecendo a

criação e implementação de políticas públicas voltadas para o interesse da agricultura

familiar e comunidades urbanas, reforçando a relação entre micro e macros esferas.

O CEPAGRO desenvolve suas ações, em rede, com as organizações de sua

Direção e entidades parceiras. Sua proposta emergente é a ampliação de sua atuação

na Agroecologia, tanto na área rural quanto na área urbana, atuando de forma

participativa junto às comunidades e famílias mais necessitadas, a partir de alternativas

que promovam a Agroecologia, o desenvolvimento local e regional, a organização

comunitária e a inclusão social, apontando assim para uma melhoria da qualidade de

vida.

Atualmente, o CEPAGRO desenvolve os seguintes programas de trabalho:

1. Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário: a partir das ações

de organização do Núcleo Regional Litoral Catarinense da Rede de Agroecologia

Ecovida tendo como objetivo principal, promover a agroecologia na região,

implementar a certificação participativa dos produtos ecológicos e incentivar o

comércio ético e solidário; e a promoção da produção animal e vegetal de forma

agroecológica, viabilizando a atividade agrícola e pecuária familiar, protegendo as

áreas de conservação, fomentando processos produtivos de baixo custo

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energético, possibilitando a formação e o acompanhamento técnico

agroecológico.

2. Programa Rede de Iniciativas Ecológicas e Solidárias Rurais e Urbanas no Litoral

Catarinense que tem como objetivo principal construir relações entre o ambiente

urbano e rural, tendo como pano de fundo a Agroecologia através de

intercâmbios entre agricultores urbanos e rurais; construções de Programas de

Aquisição de Alimentos; resgate da história e cultura rural de moradores urbanos,

principalmente da periferia da grande Florianópolis produzindo alimentos nos

quintais, utilizando plantas medicinais e reciclando o lixo orgânico; difusão do

trabalho coletivo através de hortas comunitárias e grupos de geração de renda.

Todos estes pontos têm como objetivo promover a inclusão social e ambiental

nas comunidades carentes gerando sustentabilidade das comunidades, pautada pelos

princípios da Economia Solidária e Agroecologia.

O Centro conta para os próximos 36 meses o apoio da Cooperação Internacional

através da MISEREOR - Agência de Desenvolvimento da Igreja Católica da Alemanha e

da IAF – Inter-American Foundation, para a execução de atividades de Agricultura

Urbana e Desenvolvimento Rural atingindo e consolidando um trabalho de base

regional.

Outro projeto que vem sendo enfatizado atualmente se dá em parceria com o

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alfredo Wagner - SC, onde buscam consolidar

um trabalho começado em 2000 visando à produção animal agroecológica, tendo o leite

como estratégia de permanência das famílias no campo.

O Centro tem como meta dar continuidade às ações implantadas nos Grupos já

organizados do Núcleo Litoral catarinense, possibilitando o incentivo e a participação de

novas famílias para a ampliação ou formação de novos grupos, tendo a Agroecologia

como orientadora do trabalho no espaço rural, além das possíveis interfaces com o

urbano.

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O propósito dos projetos é organizar grupos de suporte por comunidades,

envolvendo famílias que estejam interessadas em se organizar e serem multiplicadores

das propostas trabalhadas com base na Agroecologia.

3.4. Ambientação - Município de Garopaba

Garopaba é um município litorâneo, situado na região sul do Estado de Santa

Catarina, distante 79km da capital do Estado, possuindo uma área de 111 Km2 de

extensão, onde aproximadamente 60% da área é montanhosa, abrangendo também,

parte do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Possui uma população de

aproximadamente 15.000 habitantes, com 18,5% na área rural.

O Município tem como principal característica sua formação remanescente da

Mata Atlântica, seu complexo lagunar e as áreas de praias preservadas, recortadas por

dunas e colinas. Sua área se estende da ponta do Faísca ou Gamboa até a Ponta do

Ouvidor, banhada a leste pelo Oceano Atlântico, a oeste e norte fazendo limites com o

Município de Paulo Lopes, e ao sul com o de Município de Imbituba. O acesso

rodoviário é feito pela BR-101, seguindo pela SC-434 por mais 15 Km.

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Os tupi-guaranis foram os primeiros habitantes de Garopaba dando o nome à

cidade. Este nome vem grafado – gahopapaba - na carta de Turim, em 1523, ou assim:

upaua, upaba, guarupeba. Que significa a enseada dos barcos, do descanso ou ainda, o

lugar abençoado. Os traços da colonização açoriana ainda são assistidos na arquitetura,

na pesca artesanal, na gastronomia, nos costumes festivos e nos artesanatos locais.

Quanto aos aspectos econômicos, o Município abrange os três setores da

indústria, se destacando atualmente no setor terciário voltada à economia com base no

turismo de temporada (prestações de serviços e lazer), em seqüência ao setor primário,

com a economia oriunda da agricultura, pecuária e pesca e por fim, não menos

importante, o setor secundário, caracterizado pela economia oriunda das indústrias de

eletro-eletrônicos, fábricas de vestuário, peças em neoprene e artigos esportivos.

A cidade conta com uma infra-estrutura diversificada, com estabelecimentos

básicos referentes à educação, saúde, segurança, comércios, indústrias e empresas de

médio porte, profissionais autônomos, serviços bancários e prestadores de serviço,

Figura 2. Localização do Município de Garopaba.

Fonte: Governo de SC - CIASC

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segmento este que vem se destacando devido à ascensão do turismo, com a estrutura

de restaurantes, meios de hospedagem, imobiliárias, agências de viagens, comércio

direcionado, entre outros.

Sem perder suas características de vila de pescadores, Garopaba oferece novas

opções de lazer e vem se transformando em um dos principais pólos turísticos do

Estado de Santa Catarina, aonde chega a receber cerca de 100 mil turistas durante a

temporada. Considerada um paraíso à beira-mar, por suas belezas naturais, a cidade

possui nove praias (Gamboa, Siriú, Garopaba, Preguiça, Silveira, Ferrugem, Barra,

Ouvidor e Vermelha), que vão desde mar manso a praias reconhecidas

internacionalmente para a prática do Surf, sendo eleita pelo Estado como a Capital da

Catarinense do Surf.

Figura 3. Localização das praias do Município de Garopaba.

Fonte: <http://www.pousadadalagoa.com.br>

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O Município ainda dispõe de diversificadas atrações turísticas, como visitas às

cachoeiras, lagoas, dunas (prática do sand board), trilhas ecológicas, rappel,

agroturismo, pesca artesanal, cavalgadas, esportes aquáticos, apreciação da fauna e

flora local e observação das baleias Franca, provenientes do sul do continente, que

entre os meses de julho a outubro, visitam as praias do município para se reproduzirem

e amamentarem. A cidade faz parte da APA - Área de Proteção Ambiental da Baleia-

Franca, sendo considerada o reduto desses cetáceos e um dos melhores lugares no

mundo para sua observação.

Suas atrações culturais, como eventos e festividades, gastronomia, arquitetura,

artesanato e produtos típicos, são também atrativos que retratam a perfeita harmonia

entre o município e o meio, bem como o saber local daquele povo.

Figura 4. Barcos de pesca na praia de Garopaba.

Fonte: Michelle B. Nunes, 2006.

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3.5. Ambientação - Grupo de Agricultores Agroecológicos de Garopaba

O Grupo de Agricultores Agroecológicos de Garopaba foi criado oficialmente no

mês de março de 2004. No entanto, o vínculo existente entre o Grupo e a Rede de

Agroecologia Ecovida, se deu a partir do final do ano de 2002, onde o Grupo participou

do Encontro Ampliado da Rede em Lages – SC, integrando-se assim, ao Núcleo

Litorâneo Catarinense.

O interesse e a motivação para haver a conversão agroecológica e assim,

produzirem com base nos princípios da Agroecologia, surgiu com o intercâmbio de

informações e conhecimentos entre os próprios agricultores.

Por meio de palestras e cursos sobre permacultura, ministrados em 1990 pelo

agricultor Glaico Sell, de Paulo Lopes – SC, (um dos pioneiros da região que há mais de

10 anos vem incentivando e colaborando na conversão dos demais agricultores, que na

época era Secretário Municipal da Agricultura), e outros integrantes defensores da

agroecologia, as discussões a cerca da agricultura agroecológica foram levadas até a

Associação dos Produtores Rurais do município de Garopaba, onde apenas um

pequeno grupo buscou a continuidade deste trabalho.

As reuniões eram feitas quinzenalmente, ou mesmo semanalmente, entre os

grupo de maior interesse pela agroecologia, até que entre os anos de 2000 e 2002, um

dos agricultores buscou a união e o incentivo dos demais agricultores e

conseqüentemente ao início das primeiras etapas de conversão de sua propriedade,

passando assim, a serem reconhecidos e denominados de Grupo de Agricultores

Agroecológicos de Garopaba - SC.

Atualmente, o Grupo é composto por onze famílias, entre agricultores

agroecológicos e processadores de produtos coloniais. Porém, a pesquisa direcionou o

trabalho a cinco famílias, as quais mantém uma maior ligação com o Núcleo Litoral

Catarinense e com as atividades oferecidas pelo CEPAGRO. Tais famílias são

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representadas pelos agricultores José Antônio Furtado (Zezinho), Mariomar Manoel

Pereira, João Batista Cardoso, Adi da Rosa, e pela agricultora Maria de Lourdes Lopes

de Souza.

O próprio CEPAGRO relata algumas características predominantes no Grupo

como, a flexibilidade, o constante interesse por novos conhecimentos, o fácil

aprendizado devido, participativos em reuniões e oficinas práticas e principalmente,

dispostos a divulgar a proposta do seu trabalho, fomentado pela agroecologia, validando

o intuito da própria instituição.

As principais atividades econômicas do Grupo são o cultivo de hortaliças,

legumes, especiarias hortícolas; a preparação do leite e a criação de animais. Também

ocorre o beneficiamento para a obtenção de farinhas, geléias, e produtos coloniais como

pães, bolachas, bolos entre outros.

Figura 5. Produção de Hortaliças.

Fonte: Michelle B. Nunes, 2006.

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Devido a essa formação em grupo, algumas das ações dos agricultores são

realizadas coletivamente, como a aquisição (compra ou coleta) de matérias primas e

insumos de produtores não sócios; a obtenção de clientes ou serviços para os sócios; a

comercialização de seus produtos; a obtenção da certificação orgânica, a partir do selo

Ecovida e o assessoramento técnico realizado pelo CEPAGRO.

Quanto à infra-estrutura, atualmente, o Grupo conta com um espaço edificado em

2003, por iniciativa do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural - CMDR, na

época, coordenado pela EPAGRI, o mercado do produtor, uma estrutura para incentivar

e dar escoamento à produção agroecológica local, aberto de segunda a sábado,

localizado ao lado da Estação Rodoviária.

O Mercado do Produtor é administrado por todos os integrantes do Grupo,

constituído por um presidente e um tesoureiro, sendo esses, também agricultores. É

contratado o serviço de uma funcionária permanecendo no local de segunda a sábado.

Cada agricultor entrega seus produtos no local por volta das 7:30 da manhã, todos os

dias. O local também é utilizado para a comercialização de alguns artesanatos locais

como também como sede para as reuniões quinzenais do Grupo.

Figura 6. Mercado do Produtor.

Fonte: Michelle B. Nunes, 2006.

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87

Outro empreendimento alçado em parceria com a administração pública

municipal, com fundos provenientes do Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar – PRONAF Infraestrutura, foi a construção do engenho comunitário

de farinha e de cana de açúcar – pequenas indústrias de beneficiamento da mandioca,

e outra da cana, com alambique para produção de cachaça com fornos e batedores

para processamento do açúcar mascavo e do melado. O terreno onde foi construído o

engenho de mandioca foi doado à Prefeitura pelo pai do agricultor Adi da Rosa,

atualmente, o engenho está sendo utilizado pela família do agricultor e administrado

pelo mesmo.

Em julho de 2005, foi criada por interesse dos próprios agricultores, a feira

agroecológica municipal, ocorrendo semanalmente no período da manhã, na praça em

frente à nova Igreja, próximo à praia de Garopaba. Os próprios agricultores são

responsáveis pela venda dos produtos, estando de maneira revezada, presentes na

feira. Tanto no Mercado do Produtor, quanto na feira agroecológica, os agricultores

possuem um controle de entrada e saída de seus produtos, utilizados por meio de notas

individuais e pela distribuição proporcional do excedente.

Figura 7. Feira Agroecológica Municipal.

Fonte: Michelle B. Nunes, 2006.

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De forma bastante breve e precisa, será contextualizada a história de cada

agricultor (a), enfatizando neste momento, a sua ligação com a agricultura e com o que

vem produzindo atualmente por meio da agroecologia. Na seqüência, será abordada

com maior ênfase as particularidades e semelhanças percebidas entre os agricultores

junto a questões de interesse desta pesquisa.

Agricultor Zezinho: reside em Garopaba com seus pais, foi caminhoneiro até seus

25 anos de idade. Buscou trabalhar na agricultura diversas vezes, mas retornava ao

serviço anterior. Há seis anos por interesse e vontade própria, decidiu viver da

agricultura agroecológica, mesmo não tendo o total apoio de seu pai no início, devido à

falta de conhecimento a respeito da mesma. Atualmente, em sua propriedade, próximo

à Lagoa da Encantada, produz hortaliças variadas, legumes, morango, milho entre

outros produtos, além do beneficiamento da mandioca, a partir de um engenho

artesanal conduzido por seu pai. Acredita que a agricultura convencional é “um crime” e

que a principal vantagem da agricultura agroecológica é o de não estar “envenenando o

meio ambiente”.

Figura 8. Agricultor Zezinho.

Fonte: CEPAGRO, 2006.

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Agricultora Dona Lourdes: reside em Garopaba com seu esposo a mais de 30

anos na mesma propriedade. Já trabalhou por mais de dez anos na agricultura

convencional, no entanto, há dois anos vêm cultivando de forma agroecológica, por

vontade própria e por acreditar em melhores oportunidades, ervas medicinais para o

beneficiamento de remédios, chás, sabonetes e outros produtos, destinados à Pastoral

da Saúde. Produz ainda com a ajuda de contratados, familiares ou não, geléias

diversas, pães e biscoitos integrais. Acredita que o maior motivo em não mais aceitar

trabalhar na agricultura convencional é o de poder ter “uma saúde melhor” e que a maior

vantagem da agricultura agroecológica é proporcionar “bem estar e um sabor diferente

nos alimentos”.

Agricultor Batista: reside em Garopaba com sua esposa Lúcia e seus filhos. Antes

de trabalhar como agricultor, exerceu a atividade de pedreiro e açougueiro.

Posteriormente, trabalhou na agricultura convencional por cerca de dez anos, no

entanto há dois anos, por incentivo e conversa com outros agricultores vem contribuindo

com a agricultura agroecológica. Produz atualmente algumas hortaliças, legumes, milho,

feijão, cana de açúcar e mandioca. Sua maior renda é oriunda da produção de leite e o

beneficiamento deste para a produção de queijo e iogurte. Acredita que o maior motivo

Figura 9. Agricultora Dona Lourdes.

Fonte: Michelle B. Nunes, 2006.

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90

em não aceitar trabalhar na agricultura convencional é a “destruição da terra” e o

cuidado com a saúde, e que as maiores vantagens percebidas com a produção

agroecológica são a de ter “mais saúde” e a “união da família”. Em uma visita a sua

propriedade, o agricultor relatou, que já se sente “certificado”, pois percebeu o quanto

sua vida melhorou após a compreensão a cerca da agroecologia e das técnicas

utilizadas pela mesma.

Agricultor Mariomar: reside em Garopaba com sua esposa Taís. Trabalhou na

agricultura convencional por cerca de oito anos. Sua propriedade atual foi adquirida por

terceiros, sendo que seu primeiro plantio foi ainda convencional, no entanto, cerca de

cinco anos, pelo incentivo de outros agricultores buscou o conhecimento a respeito da

agroecologia e posteriormente a conversão de sua propriedade. É proprietário também

de uma sapataria, conduzida atualmente por seu pai. Produz atualmente hortaliças

diversas, legumes, árvores frutíferas, ovos entre outros produtos. Acredita que a

certificação dos produtos é necessária e que o mercado de produtos orgânicos tem

potencial.

Figura 10. Agricultor Batista e sua esposa.

Fonte: CEPAGRO, 2006.

Page 91: “As contribuições do Design para o meio rural: um estudo de caso com o grupo de agricultores agroecológicos de Garopaba (SC)”

91

Agricultor Adi: reside em Garopaba com sua esposa e uma filha, além de sua

família de irmãos e cunhadas. Trabalhou muitos anos no comércio de Garopaba,

mantendo uma amizade e contato com muitos empreendimentos. Sua maior renda é

oriunda do beneficiamento da mandioca, a partir do engenho de farinha cedido pela

administração pública junto ao PRONAF, conduzido pela própria família. Produzem

também hortaliças diversas, legumes, mandioca entre outros produtos.

Figura 11. Agricultor Mariomar.

Fonte: CEPAGRO, 2006.

Figura 12. Agricultor Adi e sua família.

Fonte: CEPAGRO, 2006.

Page 92: “As contribuições do Design para o meio rural: um estudo de caso com o grupo de agricultores agroecológicos de Garopaba (SC)”

92

3.6. A Pesquisa

Conforme as visitas feitas semanalmente, junto aos técnicos do CEPAGRO, onde

tinham, como objetivo maior, o emprego das oficinas demandadas pelo próprio Grupo

de Agricultores, foi possível visitar algumas das propriedades agrícolas e observar o

interesse do Grupo para com novos conhecimentos vindos de representantes que visam

a melhoria da propriedade, da sua sustentabilidade e do que ela tem a oferecer.

Em uma segunda visita ao município, foi possível comparecer à reunião

quinzenal do Grupo, onde este discute questões relevantes ao mesmo. Nesta reunião

foi cedido um espaço para que pudesse me apresentar pessoalmente, como também,

apresentar a proposta desta pesquisa.

Figura 13. Oficina de Biofertilizante.

Fonte: Michelle B. Nunes, 2006.

Figura 14. Oficina de Compostagem.

Fonte: Michelle B. Nunes, 2006.

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Após uma maior familiaridade com os agricultores, foi possível, a partir de

conversas e entrevistas com o Grupo e individualmente, abordar algumas questões de

interesse desta pesquisa, e coletar informações sobre as mesmas. Para isto, foi

estruturado um roteiro destinado às entrevistas individuais, sendo bastante flexível para

que seja oportunizada uma conversa aberta entre o agricultor e o pesquisador, porém

com base técnica e também subjetiva.

Como visto no Anexo 2, o roteiro utilizado abrange desde questões históricas da

própria trajetória particular de vivência da agricultura, passando por questões subjetivas

referente aos princípios e valores depositados no modelo agroecológico da agricultura e

na prospecção desta, frente ao mercado local e nacional, até questões específicas e

técnicas voltadas às particularidades do próprio produto e da produção, como das

estruturas físicas e equipamentos. Foram estes os três pontos enfatizados nas

conversas individuais, que na seqüência serão transcritos e analisados.

Figura 15. Reunião do Grupo.

Fonte: Michelle B. Nunes, 2006.

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Quanto às questões históricas a respeito da trajetória de vivência na agricultura

de cada agricultor, foram reveladas algumas diversidades entre os mesmos, no entanto,

suas semelhanças também são significativas, as quais auxiliaram para a formação do

Grupo e para a integração de novas famílias. Algumas das características observadas

quanto a essa trajetória são relatas na seqüência:

• Todos possuem uma origem rural, onde seus conhecimentos agrícolas foram

disseminados por seus familiares, principalmente pais e avós.

• A maioria buscou uma renda na área urbana antes de trabalhar com a

agricultura, apenas nos últimos seis ou cinco anos, que os agricultores

voltaram-se à atividade agroecológica.

• Aqueles que trabalharam com a agricultura convencional, relatam que não

tinham conhecimento algum a respeito da agroecologia nem mesmo dos

danos que estavam sendo causados com as técnicas convencionais.

• As maiorias das propriedades administradas pelos agricultores são oriundas

de herança familiar, ou sendo esta, a própria propriedade da família há anos.

No entanto, com a valorização da terra, muitos adquiriram por terceiros, uma

segunda terra, seja para o aumento da produção ou para futuro investimento

e aproveitamento da mesma.

Quanto às questões subjetivas, referentes à visão dos agricultores frente aos

princípios e valores sustentados pela agroecologia, bem como ao expansionismo destes

produtos frente aos mercados foram expostas algumas considerações, tais como:

• A união e integração dos agricultores de Garopaba e dos municípios vizinhos,

antes mesmo da formalização do Grupo, foram os impulsionadores para o

conhecimento e discussão sobre a agroecologia e assim, às conversões de suas

propriedades.

• O Grupo acredita atualmente que é possível viver da agricultura agroecológica,

não somente pelo seu aspecto econômico, de redução de custos, menores

Page 95: “As contribuições do Design para o meio rural: um estudo de caso com o grupo de agricultores agroecológicos de Garopaba (SC)”

95

investimentos, mas também devido aos princípios embutidos na mesma, sejam

eles, a união da família, a preservação do meio ambiente e da saúde humana,

bem como o bem estar da coletividade.

• O Grupo ressalta ainda que as oportunidades de novos mercados, mesmo local,

e a expansão junto ao reconhecimento dos princípios agroecológicos são o

incentivo maior para continuarem a exercer a atividade de agricultor

agroecológico.

• Um dos objetivos do Grupo é buscar socializar seus conhecimentos práticos e

buscar disseminar a eficácia e a responsabilidade inserida na agroecologia frente

a outros agricultores e pessoas sensíveis a essa mudança social e cultural,

proporcionando assim, uma aprendizagem coletiva. É a busca pela prática

coletiva em grupos de pessoas heterogêneas com a função de construção de um

novo saber que se direciona a conduta da agroecologia (MARTINIC apud

SANTIN, 2005).

• Os agricultores manifestam também o descontentamento em relação ao apoio

local, seja pelas entidades públicas ou pela própria comunidade local. Uma de

suas preocupações diz respeito ao crescimento desenfreada da área urbana,

junto à pressão imobiliária pelas pequenas áreas rurais, decorrentes da atividade

em massa do turismo nos últimos anos.

• Em contraposto ao tópico à cima, os agricultores reconhecem que a atividade

turística tem proporcionado uma maior demanda pelos produtos, e uma grande

oportunidade para o reconhecimento e a valorização de seus produtos

ecológicos.

Page 96: “As contribuições do Design para o meio rural: um estudo de caso com o grupo de agricultores agroecológicos de Garopaba (SC)”

96

Quanto às questões específicas e técnicas voltadas às particularidades de todo o

sistema produtivo, se buscou compreender todo o seu dinamismo, desde as

considerações a cerca das questões pré-produtivas, passando pelos mecanismos e

técnicas de produção, até as etapas de finalização deste ciclo. Para apurar tais

considerações de forma organizada, foram enfatizados alguns pontos relevantes, sendo

eles:

Quanto à Pré-Produção

• O Grupo busca facilitar esta etapa do sistema produtivo planejando em prol da

coletividade, como o caso da aquisição de mudas e sementes realizadas

quinzenalmente a um único fornecedor para a grande maioria do Grupo.

• Pode-se perceber também uma ajuda mútua caracterizada pelas trocas de

sementes, mudas, remédios para os animais e plantas, ferramentas e

equipamentos, assim como, de informações e conhecimentos técnicos. São as

necessidades que o Grupo busca socializar entre os integrantes.

Quanto à Produção

• A etapa de produção, desde a preparação de mudas e sementes, como da área

de plantio, até a colheita desses produtos, são preferencialmente de

responsabilidade dos próprios agricultores e seus familiares. Em épocas de

maiores necessidades, se faz a contratação de terceiros.

• A responsabilidade de cada agricultor contratado ou da própria propriedade, não

possui necessariamente uma função específica, sendo necessário o

conhecimento de todo o processo produtivo.

• Raramente os agricultores possuem parte de sua produção já direcionada a

algum mercado. O controle do que é produzido e o quanto é produzido, se faz

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97

pelo próprio conhecimento de cada agricultor em relação à demanda daquele

produto e à própria questão climática do município.

• Ocorre o beneficiamento da mandioca, do leite e de produtos coloniais na grande

maioria das propriedades, exigindo em cada uma delas, estruturas e outros

processos produtivos capazes de garantir a qualidade dos produtos sendo eles:

farinha, queijo, iogurte, pães, geléias, biscoitos integrais, remédios e ervas

medicinais. Esta etapa de beneficiamento é preferencialmente conduzida pelas

esposas, pelos pais ou outros familiares dos agricultores, pois o cuidado com a

horta, ou com o pasto, de responsabilidade dos agricultores, ocupa a maior parte

do tempo.

• As limitações relatadas pelos agricultores a respeito da etapa de produção, têm

sido relacionadas exclusivamente às particularidades dos produtos, como por

exemplo, o cuidado exigido ao semear ou plantar algum produto, ou o

alastramento de alguma praga ou danos causados nas plantações ou nos gados.

Questões estas que estão sendo articuladas junto aos técnicos que assessoram

o Grupo, com o objetivo de soluciona-las.

Quanto aos Produtos

• É percebida uma ajuda mútua caracterizada pela troca de produtos entre os

agricultores, (principalmente as hortaliças e legumes), com o objetivo de atender

as necessidades do mercado e a demanda diversificada exigida pelo consumidor.

Essa ação entre os agricultores contribui não apenas para a interação e

cooperação entre os mesmos, mas principalmente para a satisfação permanente

do cliente.

• O credo dos agricultores é produzir uma maior variedade de produtos durante

todo o ano, sendo que alguns em maiores quantidades e outros em menores

quantidades. Desta forma, garantem ao consumidor a oferta dos mesmos

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produtos em diferentes épocas do ano. Não havendo necessariamente critérios

para a diversidade de produtos a serem produzidos.

• Devido à variação climática e após observarem a disparidade na procura entre as

épocas de inverno e verão, os agricultores produzem em maiores quantidades,

legumes na época do inverno e hortaliças na época do verão.

• Alguns dos produtos (principalmente hortaliças e legumes) são colhidos em

carrinhos de mão ou caixotes de plástico, seguidos por um processo de lavagem

e transportados até os pontos de venda, não exigindo a armazenagem dos

mesmos por mais de um dia. No entanto, aqueles em exceção, são armazenados

em caixotes de plásticos, empilhados no chão ou em uma bancada de uma área

à parte ou na própria casa do agricultor.

• A produção da farinha e dos derivados do leite é realizada em engenho artesanal

e áreas de pasteurização, sendo reservados e armazenados em barris de

madeira no próprio engenho, com exceção do engenho comunitário conduzido

pela família do agricultor Adi, o qual já possui estruturas físicas semi-industriais.

Quanto ao Posto de Trabalho e os Instrumentos Utilizados

• Pode-se perceber uma variedade de postos de trabalho dos agricultores, pois a

sua atividade é bastante dinâmica e na maioria das vezes é concentrada em uma

única pessoa. Podemos citar de forma sucinta o ciclo correspondente os postos

de trabalho exercidos pelos agricultores: iniciando com o preparo das mudas e do

solo; o plantio propriamente dito; a colheita; a lavagem dos produtos; o

armazenamento; o beneficiamento (promovendo uma outra seqüência de ações)

e a entrega.

• Os instrumentos de trabalho dos agricultores são bastante variados, desde

máquinas motorizadas como tratores e carpideiras, passando pelos

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99

equipamentos de tração animal, até as pequenas ferramentas manuais, como

enxadas, motoserra, trado, serrote, carrinhos de mão, facão, foice, entre outros.

Podemos ainda citar outros artefatos utilizados pelos agricultores, como balaios,

caixotes de plástico entre outros.

• A maioria dos instrumentos de trabalho são particulares, adquiridos já há um

tempo ou por outras gerações, muitas vezes reformados, consertados e

adaptados pelos próprios agricultores. No entanto, observa-se novamente uma

ajuda mútua caracterizada pelo empréstimo dos equipamentos ou pelo apoio dos

órgãos públicos locais em oferecer o empréstimo dos mesmos.

• A grande maioria dos instrumentos encontra-se guardados em galpões ou em

áreas abertas, próximas da casa. No entanto, não possuem espaços próprios,

estando expostos sem nenhuma segurança.

• Alguns dos agricultores relataram que nem sempre os instrumentos utilizados são

os mais apropriados, porém, as possibilidades em investir nesse segmento, não

são consideradas prioridades atualmente. No entanto, relatam ainda que a

atividade agrícola é dispendiosa, mas acreditam que as inovações tecnológicas,

além de seus conhecimentos técnicos, são de grande benefício pra agricultura,

quando devidamente empregadas.

Quanto às Estruturas Físicas

• As estruturas físicas das propriedades são constituídas basicamente pela própria

residência familiar, uma outra área utilizada como galpão para inúmeras funções,

como a lavagem e armazenamento dos produtos e de algumas ferramentas,

entre outras, e por uma área destinada à avicultura (criação de aves).

• No entanto, algumas atividades específicas, como por exemplo a preparação das

mudas, que exigem um espaço reservado, estão sendo produzidas junto a outras

estruturas, ou mesmo em áreas abertas.

Page 100: “As contribuições do Design para o meio rural: um estudo de caso com o grupo de agricultores agroecológicos de Garopaba (SC)”

100

• Devido ao próprio beneficiamento dos produtos, no caso a farinha e os derivados

do leite, os agricultores contam com a área do engenho e da pasteurização do

leite. Sendo essas mesmas áreas, designadas a outras funções, como citada no

primeiro tópico.

• As estruturas físicas citadas até o momento, sejam elas, galpões, áreas abertas,

estufas, engenhos, estábulos, ou outras áreas, encontram-se edificadas

preferencialmente em madeira, com o aproveitamento de algum material e com

aspecto rústico e artesanal, no entanto, muitas vezes impróprias às atividades

que ali são exercidas devido à necessidade principal de higiene do local de

trabalho, bem como no uso de materiais e equipamentos adequados e higiênicos.

• Alguns produtos ou etapas a serem consideradas em todo o processo produtivo

exigem estruturas específicas, como o caso da lavagem, do armazenamento, do

empacotamento entre outros, porém, estas funções têm sido exercidas em um

mesmo local, muitas vezes adaptadas devido ao espaço reduzido.

• Os investimentos neste segmento são de grande necessidade dos agricultores,

como o caso do agricultor Batista, aonde vem edificando uma pequena área

específica para o beneficiamento do leite (ainda beneficiado na própria

residência). No entanto este investimento em otimizar o espaço existente, ou a

criação de um novo espaço, ocorre ainda lentamente e de acordo com as

legalidades e normas exigidas pelo sistema de inspeção sanitária entre outros.

Quanto ao Mercado – questões referentes à comercialização, divulgação e distribuição de seus produtos

• Como citado anteriormente, o Grupo conta com dois espaços para a

comercialização de seus produtos: o Mercado do Produtor e a Feira

Agroecológica. Devido à baixa lucratividade de ambos os pontos de venda, os

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101

agricultores buscam novos mercados para seus produtos, como mercearias,

pequenos e médios mercados locais, padarias, lanchonetes, restaurantes e

hotéis. Ocorre ainda, a venda dos produtos na própria propriedade do agricultor,

por clientes já fiéis e de boa relação com o mesmo.

• As distribuições dos produtos até os pontos de venda são realizadas, na maioria

das propriedades, preferencialmente todos os dias na parte da manhã, através

veículos particulares como motos e carretas. Os próprios agricultores são

responsáveis pelas entregas e pelas vendas dos produtos.

• Para a preparação da Feira Agroecológica e de algumas outras entregas, um dos

agricultores utiliza o seu automóvel de grande porte em prol do Grupo, dirigindo-

se a cada propriedade, recolhendo os produtos e levando-os até o ponto de

venda.

• Quando necessário, o cliente (mercearia, mercados, hotéis...) entra em contato

com o agricultor (na grande maioria via telefone celular) e faz o pedido

normalmente, para três a quatro dias. Quando a oferta excede a demanda do

agricultor em particular, o mesmo entra em contato com os demais e realiza a

troca de produtos, citada anteriormente.

• Alguns agricultores já possuem alguns pontos de vendas fixos, promovendo uma

forte interação entre sua cliente e seus produtos.

• Os agricultores relatam que a demanda é estável durante o ano todo, não tendo

excedente na produção, porém, teriam capacidade como Grupo, de potencializar

suas produções, direcionando-as a um forte mercado receptor, como o caso das

escolas Municipais através da merenda orgânica escolar.

• No período do verão, esta demanda se sobrepõe, necessitando de um melhor

planejamento da produção, da distribuição, da comercialização, ou seja, uma

melhor organização e controle do Grupo como um todo, o que não vem sendo

posto em prática, como foi relatado pelo mesmo.

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• O Grupo afirma que uma das principais características levadas em maior

consideração na comercialização de seus produtos, é o contato direto com o

cliente, onde ocorre com a presença deste na Feira ou mesmo na propriedade do

agricultor. No entanto, alguns dos agricultores contam que não é possível se

manter apenas do contato direto com o consumidor, exigindo desta forma, o

fornecimento de seus produtos a terceiros, como restaurantes e outros mercados.

• Quanto à divulgação de seus produtos, o Grupo contou com o forte apoio da

Prefeitura em relação à Feira Agroecológica no último ano, no entanto, o apoio e

a divulgação promovida não foi o suficiente para o reconhecimento do Grupo pela

própria comunidade de Garopaba.

• A divulgação atual mais precisa, vem sendo a “do boca a boca”, onde cada

família, ou o próprio Grupo se propõe a socializar suas experiências e expandir

os valores inseridos em seus produtos ecológicos para àquelas pessoas de maior

contato e relacionamento, como forma de divulgação dos mesmos.

• Por interesse próprio, o Grupo buscou se identificar de alguma forma bastante

urgente após um maior reconhecimento de sua existência, optando em utilizar um

selo com a denominação do Grupo, que já tinha sido estudada há um tempo

atrás: Associação dos Produtores Orgânicos e Coloniais de Garopaba –SC. Este

selo foi reproduzido em etiquetas com o nome do agricultor e com as informações

técnicas básicas do produto (data de validade, peso, sabor...). Este selo não é

efetivamente a marca registrada da Associação, pois ainda não foi registrada,

nem mesmo desenvolvido o seu manual de identidade visual.

• O Grupo observa que há a necessidade de uma maior divulgação em relação aos

seus produtos, e que somente a partir dessa divulgação, será mais bem

encaminhada à etapa de comercialização dos mesmos. Algumas ações simples e

emergenciais são relatas pelo Grupo, como por exemplo, a divulgação em rádios

ou carros de sons, a necessidade de placas indicativas a respeito do local e

horário da Feira e do Mercado do Produtor, o desenvolvimento de algum material

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103

informativo como panfletos, banners, a promoção de eventos a respeito da

agroecologia e produtos orgânicos, entre outros.

• Todos os agricultores e seus familiares possuem o conhecimento a respeito da

diferenciação de seus produtos, bem como a identificação de um potencial

consumidor para o mesmo, no entanto, a opinião relatada pelos agricultores, é

que eles ainda receiam que o município de Garopaba, ou melhor, que a

comunidade local, não se encontra totalmente preparada para a oferta desses

produtos e nem mesmo para a aceitação do valor final desses produtos. O Grupo

definiu três causas para esta constatação: a primeira seria a necessidade do selo

da certificação dada pela Rede Ecovida, o qual só é possível após uma série de

alterações e conversões na propriedade e das atividades exercidas por cada

agricultor, a segunda causa é a falta do conhecimento em relação à existência do

próprio Grupo de Agricultores Agroecológicos, e a terceira causa é a falta do

conhecimento em relação ao que vem a ser uma propriedade agroecológica e

produtos orgânicos, quais suas vantagens e benefícios para quem o consome.

Todas essas constatações abarcadas a partir de entrevistas, conversas e

discussões com o Grupo, junto ao Grupo de Agricultores e representantes do

CEPAGRO, possibilitou a formação de uma base reflexiva e ponderada a respeito de

todo o contexto em que emergem esses agricultores.

Foi possível compreender as condições reais ao sistema que envolve toda uma a

propriedade (aquelas relatadas pelos próprios agricultores, e também, às constatadas

após um breve diagnóstico), identificando as potencialidades deste espaço, as

experiências promissoras, as oportunidades de expansionismo desta dinâmica

agroecológica, suas regras de funcionamento, suas ações de planejamento, seus atores

envolvidos, suas necessidades e particularidades.

A partir desta reflexão e dos relatos particulares do Grupo e de cada família,

pode-se partir para o próximo capítulo da pesquisa, ressaltando a discussão e

identificação a cerca das duas oposições em que se encontram tais atores, sejam elas:

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suas potencialidades e suas limitações, para posteriormente serem abordadas e

analisadas as reais demandas vinculadas ao Design.

4. CAPÌTULO IV

4.1. Limitações

A partir da pesquisa contextualizada anteriormente, foi possível verificar a

dificuldade e as limitações que o Grupo de Garopaba encontra-se atualmente em

relação a duas situações relatas pelo mesmo, sejam elas:

1. A busca em se sustentar da agricultura agroecológica e socializar seus princípios:

O Grupo acredita que é possível se manter da agroecologia, mas que, no entanto, se

deparam com inúmeras limitações que os impedem ou dificultam para a sua

sustentabilidade, sendo uma delas, a própria socialização da agroecologia, ou seja,

buscar manter o expansionismo da proposta agroecológica agregando cada vez mais

pessoas ou entidades sensibilizadas com a mesma.

2. A busca em expandir a comercialização e a valorização de seus produtos:

O Grupo, conforme o relato de alguns agricultores, tende a enfrentar diariamente um

constante processo de conhecimento de seus produtos perante a comunidade local,

onde muitas vezes, desconhece ou não valoriza os mesmos, impedindo que a

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comercialização de seus produtos atinja níveis mais acentuados, ou seja, que possam

ser adquiridos por um percentual maior de consumidores ou até mesmo, possam ser

comercializados em outros pontos de vendas.

Em relação a cada uma das situações, nas quais o Grupo acredita que possam

ser superadas, pode-se listar as seguintes limitações ou dificuldades relatadas pelo

próprio Grupo e identificadas pelo pesquisador:

Quanto à busca em se sustentar da agricultura agroecológica e socializar seus princípios:

§ O recente conhecimento a respeito das técnicas e práticas agrícolas com

menores custos e investimentos – até pouco tempo, os agricultores utilizavam

métodos mais dispendiosos e que promoviam resultados menos satisfatórios;

§ Uma considerável parcela de agricultores locais que ainda produzem de forma

convencionais que, no entanto desconhecem a temática agroecológica; § A dificuldade em expor aos demais agricultores a relação de custo/benefício

existente no modelo de agricultura de base agroecológica, até porque está

relação é visível a médio e longo prazo, pois os agricultores necessitam de um

período de transição para a conversão de sua propriedade e para o

aprendizado de técnicas e práticas agroecológicas; § A carência de documentação oficial que contemple as experiências e

informações práticas e teóricas de cada agricultor, bem como o processo

evolutivo do Grupo em relação às questões administrativas e operacionais;

§ A carga de trabalho excessiva e desgastante, pelo fato do maior número de

atividades serem exercidas por uma mesma pessoa e pelo próprio processo

produtivo dependente principalmente dos fatores climáticos, como sol intenso,

chuvas, temporais entre outros;

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§ A complexidade no próprio processo produtivo em manter o nível de

qualidade, principalmente no aspecto visual dos produtos, devido a diversos

fatores, como mencionados a cima, que exigem um constante controle e

cuidados na produção;

§ Diversidade de postos de trabalhos desconfortáveis e de riscos à saúde

humana, devido principalmente, aos instrumentos e estruturas utilizadas,

muitas vezes inadequadas e precárias;

§ A especulação imobiliária principalmente por estrangeiros, com a oferta de

valores exuberantes para a aquisição de terrenos, provocando uma

urbanização desenfreada apoderando-se das áreas rurais e

conseqüentemente o afastando de novos interessados em obter renda a partir

da agricultura;

§ A sazonalidade do turismo, provocando uma demanda muito maior no verão e

estável durante o restante do ano. Sendo também considerada uma

oportunidade devido a este potencial turístico da cidade e ao crescimento

populacional neste período do ano, que muito provável, torna-se consumidor

dos produtos ecológicos;

§ O desinteresse dos mais jovens em trabalhar na agricultura, buscando uma

renda de mais fácil acesso no meio urbano;

§ A carência em obter apoios locais, vindos de diferentes instâncias, para a

promoção e socialização da agricultura agroecológica, principalmente em

relação aos créditos ou investimentos financeiros – muitos agricultores não

possuem o capital de giro necessário para a adequação de sua propriedade, e

por isso dependem dos programas de créditos e investimentos.

Quanto à busca em expandir a comercialização e a valorização de seus produtos:

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§ As dificuldades de plantio de determinados produtos, devido ao clima ou

outros fatores físicos locais, exige o intercâmbio de produtos oriundos de

agricultores próximos ou de outros municípios, para que a oferta dos produtos

mantenha a diversidade que satisfaça o consumidor;

§ A não valorização de alguns supermercados e outros pontos de vendas,

quanto aos produtos ecológicos, adquirindo-os por um valor inferior ao que

são vendidos no Mercado do Produtor e na Feira Agroecológica, e igualados

ao valor dos produtos convencionais;

§ Na maioria dos pontos de vendas (com exceção do Mercado do Produtor e da

Feira Agroecológica) não há a devida disjunção entre os produtos ecológicos

e os produtos convencionais, mantidos em um mesmo espaço sem nenhuma

informação quanto aos mesmos;

§ A carência de uma grande parcela de consumidores, em obter a devida

compreensão a cerca dos produtos ecológicos e da agroecologia, quais seus

benefícios e vantagens, bem como a justificativa por seu valor final;

§ A existência de consumidores potenciais, os quais já possuem a compreensão

e a sensibilidade à cerca dos produtos ecológicos, que, no entanto, exigem a

certificação dos mesmos por meio do selo. O processo de certificação das

famílias encontra-se atualmente em andamento, onde algumas delas já são

aptas a recebê-lo;

§ A ausência de material informacional que contemplasse a temática da

Agroecologia, a existência do Grupo, e a divulgação de como adquirir os

produtos ecológicos;

§ A inexistência de placas de informação ao longo da rodovia estadual SC 434

e no centro do Município, que indicasse os pontos de venda permanentes

como o Mercado do Produtor e a feira Agroecológica;

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§ A distância relativamente grande entre as propriedades e destas em relação

aos pontos de venda, estando localizados, a maioria deles, no centro da

cidade, o que dificulta e encarece o transporte para a entrega dos produtos,

ocorrido quase que diariamente, de forma individual ou coletiva;

§ A própria estrutura interna do Mercado do Produtor, a qual disponibiliza um

espaço adequado, porém de forma um pouco desorganizada, com carência

em informações técnicas (como os valores dos produtos, horários de

funcionamento do Mercado) e informações relacionada à própria procedência

dos produtos (quem são os produtores, onde localiza-los...);

§ A falta de divulgação a respeito da existência do Grupo em locais estratégicos

da cidade, como hotéis, restaurantes, academias, lojas especializadas entre

outros;

§ O desconhecimento da maioria dos consumidores e moradores do município a

respeito da Rede de Agroecologia Ecovida;

§ O baixo investimento direcionado aos recursos mercadológicos, como

embalagens para o transporte, embalagens individuais e a própria identidade

visual dos produtos;

§ A inexistência fortalecida e organizada de uma identidade visual coletiva,

abrangendo a realidade do Grupo de Agricultores e o pertencionismo à Rede

de Agroecologia Ecovida.

4.2. Potencialidade e Oportunidades

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109

São visíveis as variadas deficiências e limitações que o Grupo de Agricultores

vem enfrentando desde a sua formação. No entanto, essa mesma formação, de certa

forma recente e ainda embrionária, junto à expansão de pequenos empreendimentos

agrícolas como forma de desenvolvimento local e a tendência no consumo de produtos

ecológicos, proporcionam ao Grupo uma série de potenciais e oportunidades para o seu

crescimento, sua sustentabilidade e seu reconhecimento.

De forma a simplificar e melhor organizar esta etapa da pesquisa, foi preferível,

listar na forma de itens, as considerações a respeito dos potenciais e das oportunidades

que o Grupo se depara atualmente, como na seqüência:

§ Talvez uns dos grandes potenciais regionais que reflete diretamente no Grupo de

Agricultores, tem sido a própria valorização cultural, existente no Litoral Catarinense,

com a produção da farinha de mandioca, da cachaça, do melado e do açúcar

mascavo, por meio de engenhos artesanais ou semi-industrializados, como também,

a atividade da pesca artesanal, da própria agricultura familiar, da gastronomia típica

representada principalmente por pratos de frutos do mar, as festas tradicionais e com

os artesanatos locais.

Esse potencial cultural e social é bastante expressivo no Município de Garopaba,

principalmente por sua localização litorânea e por seu povoado açoriano. Junto a

essa caracterização cultural, onde se mantém um comportamento e um estilo de vida

particular, tem surgido a abertura para a agricultura agroecológica de forma pacífica,

porém, praticamente desconhecida por muitos agricultores e demais moradores da

cidade. No entanto, a agroecologia vem sendo considerada como um forte potencial

da região de Garopaba como também do Município vizinho, Paulo Lopes, tendo a

oportunidade de consolidar ainda mais, o seu reconhecimento e sua proposta.

§ Garopaba tem sido um dos pontos turísticos mais desejados nos últimos anos,

recebendo cerca de 100 mil visitantes durante a temporada de verão (entre os

meses de janeiro a março), e uma considerável parcela destes, durante a época de

carnaval. Essa explosão turística no Município, com cerca de 14 mil habitantes, tem

ocasionando diversas conseqüências para o mesmo, como, já citado anteriormente,

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110

o surgimento de uma especulação imobiliária, onde visitantes encantados com as

belezas naturais do local, adquirem os terrenos por preços exorbitantes,

preferencialmente em áreas rurais, devido principalmente às aglomerações

residenciais das áreas urbanas.

No entanto, este potencial natural existente no Município de Garopaba, representado

por suas diversas belezas naturais, como a mais conhecida delas, suas praias junto

à prática do surf, tem também conduzido a novas oportunidades de mercado aos

agricultores, ou seja, se devidamente explorado esse potencial turístico, desde os

visitantes, os novos moradores, como também as estruturas de apoio ao turismo,

como hotéis, restaurantes, portais turísticos entre outros, os agricultores possuem a

oportunidade de conquistar um novo nicho de mercado, seja para a própria venda

dos produtos ou para a divulgação dos mesmos.

Um dos agricultores já oferece seus produtos a uma das redes hoteleiras da cidade,

no entanto, esta oportunidade vai além da venda propriamente dita ao hotel, mas

sim, de buscar socializar a proposta dos produtos ecológicos a esses novos

mercados, abordando uma tendência à mudança no hábito alimentar das pessoas.

§ Como relatado pelo próprio Grupo, a produtividade de muitos agricultores é maior no

período de verão, e estável no restante do ano. Foi discutido em alguns momentos

durante as visitas, a respeito do fornecimento de alimentos orgânicos para as

unidades educacionais do município, sendo oferecido na merenda escolar, o qual iria

garantir uma maior estabilidade produtiva durante todo o ano, auxiliando na época

de verão e reforçando o restante dos meses.

No entanto, esta oportunidade em fornecer os alimentos orgânicos e interferir

também na mudança de hábito dos estudantes, passou a existir a partir de um

Projeto de Lei aprovado em 2002 havendo a necessidade da parceria entre as

Secretárias de Educação e de Agricultura e convênios entre o Estado e os

Municípios, gerando uma certa burocracia e empenho de ambos os responsáveis.

Infelizmente o Grupo não oferece os alimentos a rede educacional, mas juntos

garantem a capacidade produtiva para a demanda exigida. Cabe ao Grupo entrar em

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111

contato com os devidos responsáveis e buscar a consolidação desta nova

oportunidade.

§ Como vimos anteriormente, o reconhecimento e a comercialização dos produtos

ecológicos ou orgânicos, como alguns denominam, tem crescido nos últimos anos,

principalmente quando nos deparamos com as exportações de produtos

beneficiados ou semi-industrializados, no entanto, com as diversas entidades

sensibilizadas de alguma forma com a agroecologia, e com o maior conhecimento

técnico e prático a respeito da capacidade produtiva, percebe-se a receptividade de

diversos agricultores em produzir hortifrutigranjeiro de forma ecológica, ou seja,

produtos in natura.

Essa tendência no consumo de produtos in natura também ecológicos, ainda em

expansão no Município, possui uma influência direta com a nova mudança nos

hábitos alimentares daqueles consumidores que visam um padrão de vida

supostamente mais saudável e uma melhor preservação do meio ambiente,

seguidos da proposta fomentada pela agroecologia.

§ Atribuídas à nova dinâmica do meio rural, a pluriatividade e multifuncionalidade têm

se destacado de forma a gerar um maior planejamento e conseqüentemente, uma

maior renda às propriedades, por meio principalmente, da diversificação das

atividades e das funções ofertadas por cada propriedade. Abordam na verdade, a

capacidade de empreender das famílias de agricultores, promovendo o seu espaço

de trabalho e socializando a proposta da agroecologia.

Esta nova dinâmica pode estar sendo desenvolvida também nas propriedades dos

agricultores de Garopaba, onde além da atividade produtiva, a propriedade bem

como o agricultor tem a oportunidade de diversificar suas atividades, como, por

exemplo, recebendo a visita de turistas e outros interessados, instruindo algumas

técnicas e processos aos mesmos, ou seja, não tornar a propriedade como mero

ponto de passagem, e sim atribuir à mesma, um potencial de valor simbólico e

cultural.

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112

§ Os Municípios de Garopaba e Paulo Lopes, pertencentes à Rede de Agroecologia

Ecovida possuem suas particularidades geográficas, suas diversidades naturais, no

entanto, ambos são representados por grupos de agricultores, os quais vem se

desenvolvendo a cerca de 10 anos com base preferencialmente, na agricultura

agroecológica, porém de certa forma isolada, sem a interação e socialização entre os

mesmos.

De forma a gerar a socialização entre os Grupos, contribuindo para a pluriatividade

da agricultura familiar e a promoção da agroecologia, torna-se oportuno conciliar esta

proposta com o planejamento de uma rota turística entre os dois Municípios para

visitação às propriedades, aos engenhos, às belezas naturais e seus diferenciados

atrativos. Exigiria-se, inserido neste planejamento, um plano integrado entre as duas

Prefeituras, a fim de que fossem possíveis ações conjuntas, como a própria

divulgação da rota turística e o desenvolvimento de ambas as áreas.

§ O município de Garopaba tem em sua localidade geográfica, importante

característica estratégica para o expansionismo dos produtos ecológicos. Localiza-se

a 79 km da capital do Estado, (dispondo um forte número de consumidores

potenciais com base na pesquisa realizada pelo Instituto Cepa, 2003), ao lado de

Paulo Lopes, município este que vem desenvolvendo também a proposta

agroecológica, contando com um Grupo de produtores agroecológicos pertencentes

também à Rede Ecovida e próxima às demais cidades como Tubarão e Criciúma.

A maioria dos agricultores possui ainda a limitação quanto à comercialização de seus

produtos nas cidades citadas, priorizando ainda o mercado local e de entorno do

município, no entanto, ao longo prazo, os potenciais representados por tais cidades

podem ser devidamente oportunos ao Grupo de Agricultores.

§ O dinamismo a cerca do modelo de desenvolvimento vigente, como referenciado no

início desta pesquisa, tem sido discutido por diferentes áreas e profissionais no

âmbito de buscar a sustentabilidade em suas distintas dimensões (cultural,

ambiental, social, tecnológica, econômica). Em especial à área ambiental, algumas

ações são essenciais para tornar comum as discussões a cerca da necessidade de

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preservação do meio ambiente. A ação educacional se enquadra devidamente a

necessidade atual, ou seja, a promoção de uma consciência coletiva para a defesa e

preservação do meio ambiente deve ser enfatizada constantemente, atingindo o

maior número de atores.

Neste contexto, o Grupo de Agricultores de Garopaba, bem como as demais

entidades sensibilizadas com a agroecologia são consideradas parte integrante

dessas ações coletivas, de forma a expor a temática agroecológica e a proposta

desta para com o meio ambiente, proporcionando não somente a conscientização

ecológica, mas também, a ocasião para a compreensão à cerca da agricultura

agroecológica e o incentivo e motivação para que outros jovens busquem o sustento

de suas famílias por meio da agricultura agroecológica.

4.3. Levantamento e Análise de Demandas

Após uma série de relatos, constatações com base em entrevistas e discussões,

a própria identificação das limitações e dos potenciais e oportunidades que o Grupo vem

enfrentando, serviram mais uma vez, de base reflexiva e concreta, para que fosse

possível a continuidade da pesquisa, considerando neste momento, o levantamento das

demandas de competência do Design e a construção de um plano operacional com

base nos aspectos relacionados à prioridade, eficiência e viabilidade de cada uma

delas.

De forma a otimizar a compreensão desta etapa da pesquisa, foi abordada

algumas temáticas distintas correspondentes a cada uma das demandas de Design

propostas, onde na seqüência de cada uma delas, encontra-se um quadro contendo a

demanda específica e sua análise quanto aos aspectos: prioridade, eficiência e

viabilidade.

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Quanto ao termo “prioridade”, buscou-se avaliar o grau de prioridade para a

implementação da demanda específica, sendo estipulado conforme as necessidades

relatadas pelo Grupo e percebidas após a compreensão de suas condições. Quanto ao

termo “eficiência”, buscou-se listar os resultados após a implementação da demanda

específica, o quanto a demanda é eficiente ao Grupo. Quanto ao último termo,

“viabilidade”, buscou-se avaliar a viabilidade de implementação da demanda específica

analisando alguns parâmetros como prazos e custos.

As temáticas abordadas foram as seguintes:

1. Empreendedorismo

O empreendedorismo tem sido considerado o conjunto de comportamentos e de

hábitos que podem ser adquiridos, praticados e reforçados nas pessoas, fazendo com

sejam capazes de gerir e aproveitar oportunidades, melhorar seus processos e

desenvolver da melhor forma o seu negócio.

O empreendedor é considerado aquela pessoa que possui algumas

características diferenciadas, como a originalidade, pró-atividade, flexibilidade,

iniciativa, autoconfiança, responsabilidade em assumir riscos, dinâmico, e

principalmente, ser visionário quanto ao seu negócio.

Ele tem a capacidade de planejar, realizar e controlar seu negócio, sendo apto a

identificar oportunidades, ter iniciativa, estabelecer metas, buscar informações, possuir

responsabilidade em correr riscos, exigir qualidade e eficiência, persistir e se

comprometer com suas ações.

Neste contexto, mesmo mantendo suas atividades de forma isolada, onde cada

um possui a responsabilidade a cerca de seu negócio e de sua propriedade, o Grupo de

Agricultores tendem a gerir um único negócio, quando se trata da rede constituída entre

todos os agricultores, ou seja, a própria formação em Grupo, possuindo ações e

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responsabilidades coletivas, como a comercialização, a divulgação, a fiscalização

proposta pela Rede Ecovida, e a própria organização interna administrativa.

Por esta formação em Grupo, é viável a percepção de todos os integrantes

quanto às características empreendedoras em prol do reconhecimento e

desenvolvimento do próprio Grupo. Fortificando tais características, muitas delas já

intrínsecas em alguns agricultores, é possível alcançar uma melhor confiança e

autonomia do Grupo quanto às suas ações, fortalecer o comprometimento e a

persistência de cada um junto às mesmas e contribuir para a construção de uma visão

coletiva e otimista para o Grupo a curto e médio prazo.

Demandas

A intervenção do Design se dará por meio da promoção e capacitação do

conjunto das características empreendedoras, auxiliando, em conjunto com

o Grupo, no desenvolvimento de um plano empreendedor, o qual

promoveria as devidas ações:

§ Enfatizar as reais responsabilidades e funções de cada integrante;

§ Construir uma visão otimista e próspera ao Grupo.

Em médio prazo, poderá também ser desenvolvido um plano de negócio5

direcionado ao Grupo.

Prioridade

A principal causa para a aplicação deste processo, tem sido o

descontentamento e desinteresse por parte de alguns agricultores em

relação às ações do Grupo como um todo, geradas principalmente pelas

limitações enfrentadas diariamente por cada família. No entanto, esta

5 O plano de negócios é uma ferramenta utilizada no processo empreendedora. Ele é um documento escrito que tem o objetivo de estruturar os principais fatores necessários para a implementação e sustentabilidade de um empreendimento, a fim de sistematizar e planejar o negócio, avaliando a viabilidade do mesmo. Também é utilizado para a solicitação de empréstimos e financiamentos junto a instituições financeiras. Um Plano de Negócios serve para que o empreendedor possa situar-se no seu ambiente de negócios.

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causa agrava cada vez mais o empreendimento do Grupo, necessitando

com certa urgência uma ação reversa, ou seja, este processo se encontra

em nível de maior prioridade.

Eficiências

§ Motivação, interação, confiança e auto estima do Grupo;

§ Sistematização e controle gerencial;

§ Capacidade visionária do negócio;

Viabilidade

Este processo é bastante viável e de baixo recurso financeiro e de material,

por trabalhar preferencialmente com o estímulo oferecido aos integrantes

do Grupo, para que possam desenvolver cada vez mais o seu negócio.

Ocorreria a partir de reuniões, exposições de palestras ministradas por

distintos profissionais, como administradores, economistas entre outros, e

exposição de distintos casos de outros empreendedores, oficinas práticas e

saídas a campo. Resultaria em um documento contendo toda as

discussões, bem como a descrição do plano empreendedor.

Trata-se em enfatizar a característica da solidariedade entre o próprio Grupo,

buscando ressaltar ou até mesmo estimular a qualidades intrínseca existente em cada

integrante do Grupo, a fim de fortalecer o negócio de forma coletiva.

Poderíamos de forma um tanto quanto audaciosa, definirmos como a intervenção

de um “Design Solidário”, que busca fomentar e articular de forma a promover o

desenvolvimento de um grupo de empreendedores, ou seja, do Grupo de Agricultores

auxiliando no caminho que este Grupo tende a vir tomar no futuro.

2. Estratégias de Mercado

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Uma das maiores preocupações de muitos empreendimentos está relacionada

com a concorrência e a competitividade acirrada do mercado atualmente, não muito

distinto do que vem ocorrendo com o Grupo de Agricultores. Alguns agricultores ainda

comercializam seus produtos em certos pontos de vendas, com valores semelhantes

aos convencionais, por infelizmente não haver o devido reconhecimento por parte

primeiramente, do ponto de venda, em relação ao valor diferenciado contido no produto

ecológico.

Ao mesmo tempo em que se tem amadurecido gradativamente a procura por

produtos ecológicos em Garopaba, os produtos convencionais continuam a ser

adquiridos pela maioria da população. No entanto, considerar-se que esta situação

tende a mudar a partir da construção de um plano de ações que busque atingir a sua

principal causa, ou seja, a falta de conhecimento que a cerca da existência do produto

ecológico e da proposta intrínseca ao mesmo e a desvalorização daqueles que já o

conhecessem.

É neste contexto, perante esta limitação específica e mais enfatizada na

pesquisa, que surge a necessidade de estruturarmos um Planejamento Estratégico, que

fortaleça o empreendimento do Grupo e atinja o principal objetivo: promover o

conhecimento e a valorização dos produtos ecológicos.

O Planejamento Estratégico se dá primeiramente pela construção do foco do

empreendimento, onde se defini a missão (a descrição do negócio atualmente), a visão

(quais os afazeres do negócio em longo prazo), os objetivos (intenções e desejos do

negócio), as metas (os passos para se chegar ao objetivo), até a definição das

estratégias (plano de ações que busca atingir as metas em vista do objetivo).

Antes de definirmos as estratégias ou o Plano de Ações, é sensato analisarmos o

ambiente em que o Grupo de Agricultores se encontra atualmente, frente às suas

condições Internas, onde se analisa o próprio Grupo, quanto às suas forças e fraquezas

e frente às suas condições Externas, onde se analisam seus concorrentes, quanto às

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suas oportunidades e ameaças. A este método, chamado de Análise FOFA6 (análise

das forças, oportunidades, fraquezas e ameaças), é possível obter uma série de

informações quanto ao empreendimento e quanto ao mercado externo, sendo utilizado

como base para o Plano de Ações, voltado especificamente, ao objetivo almejado.

Segundo Porter (1986), as empresas em geral, conforme a sua necessidade

(conforme seus objetivos) e sua situação, podem adotar três tipos de Estratégias a

serem desempenhadas no Plano de Ações, as quais exigem uma série de decisões a

serem tomadas pela própria empresa. São elas:

1. Estratégia de Liderança em Custos – comercializar o produto com o menor custo

do mercado. Decisões: diminuir custos; reaproveitar material; reduzir despesas

com publicidade e recursos humanos; produzir em maior quantidade, entre

outras.

2. Estratégia de Diferenciação – oferecer um conjunto de benefícios que integram

na qualidade do produto, ou seja, agregar valor ao produto. O que acontece com

os produtos ecológicos, por preservarem o meio ambiente, por não conterem

agrotóxicos, por preservarem sua qualidade por maior tempo, ou seja, por

estarem vinculados à proposta da agroecologia, são atribuídos de um maior

diferencial perante os demais.

3. Estratégia de Enfoque – concentrar os produtos ou uma linha específica de

produtos, em um determinado grupo comprador, atuando em um nicho de

mercado (um segmento pequeno que demanda uma oferta específica de

produto). Decisões: pesquisa detalhada do grupo comprador, conhecer seus

hábitos, suas necessidades, desejos e preferências.

6 Durante o período desta pesquisa, não foi possível a aplicação da ferramenta, devido à necessidade de um maior contato com todos os integrantes do Grupo, bem como, com o mercado concorrente, exigindo assim, um período de maior dedicação e objetivos bastante específicos, não sendo esta a proposta fundamental da pesquisa.

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Demandas

A intervenção do Design se dará através da estruturação desse

Planejamento Estratégico, onde visa auxiliar na construção de um Plano

de Ações/Estratégias, focadas no objetivo de promover o conhecimento

e a valorização dos produtos ecológicos. Algumas das ações pertinentes

para atingir este objetivo podem ser listadas como:

§ Palestras e participações em eventos locais;

§ Material informativo em pontos estratégicos;

§ Visitas de grupos de estudantes nas propriedades;

No entanto, é importante enfatizar a figura do designer como facilitador e

moderador na estruturação desse Planejamento Estratégico, e não como

figura central ou executor do Plano de Ações, pois para a construção do

Plano de Ações, deverá ser contemplada a participação efetiva e coletiva

dos agricultores, onde o profissional de Design irá auxiliar a pensar e

viabilizar as ações pertinentes para o alcance do objetivo.

Uma outra intervenção do Design também se dará pela construção da

análise das condições Internas e Externas do Grupo, a partir da

ferramenta FOFA, com o mesmo método de participação coletiva.

Prioridade

Pela gradativa tendência no consumo desses produtos, pelo potencial do

município de Garopaba em receber inúmeros visitantes, a maioria deles

em busca de uma melhor qualidade de vida, e pelo próprio peso contido

no resultado desta demanda (conhecimento e valorização dos produtos),

sendo este uma das bases principais para a venda dos mesmos, o

cumprimento desta demanda encontra-se também em nível de maior

prioridade.

Eficiências

§ Próprio alcance do objetivo;

§ Interação e união do Grupo – correlação com a demanda anterior

§ Identificação das forças, oportunidades, fraquezas e ameaças do

Grupo perante o ambiente interno e externo;

§ Aumento gradativo das vendas;

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§ Mais pessoas sensibilizadas com a proposta agroecológica

Viabilidade

Devido principalmente, à importância dada à aplicação da ferramenta

Fofa, antes da estruturação do Plano de Ações, constata-se que o

desempenho desta demanda é viável, porém exige-se um maior período

de dedicação não somente com os integrantes do Grupo, mas com o

mercado externo, neste caso, o mercado local, de maior gastos

financeiros e físicos (locomoção, entrevistas...), no entanto, bastante

válido, devido ao resultado gerado. Resultaria também em documentos

contendo de forma descritiva, a análise Fofa e o Plano de Ações, com

informações referentes aos prazos, valores e exigências de cada uma

das estratégias definidas. OBS.: Para a execução de cada estratégia

listada no Plano de Ações, suas condições de viabilidade, prazos,

exigências são distintas, e por este motivo, só poderão ser avaliadas a

partir de sua existência.

Trata-se nesta temática, acima de tudo, em promover o planejamento

participativo entre o Grupo de Agricultores, ou seja, a partir da intervenção do designer,

estimular o Grupo a pensar nas possibilidades bem como em suas potencialidades a fim

de atingir o objetivo inicial proposto na demanda.

3. Comunicação

O termo utilizado, “comunicação” refere-se exatamente a sua abrangência

temática, ou seja, a tudo que possa manifestar ou comunicar a identidade de algo

(produto, empresa ou serviço), através de elementos visuais que representem os seus

anseios, seus valores e conceitos e que principalmente, seja responsável por transmiti-

los ao meio externo de forma coerente, sistematizada e consistente.

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A identidade está relacionada diretamente com o conjunto de atributos que

determinado empreendimento adota perante o mercado, definindo quem realmente ele

é, junto aos seus valores e princípios. Essa identidade será transmitida ao meio externo,

por meio de uma imagem, a qual define e posiciona como a empresa se parece e como

ela é percebida pelos mesmos.

A imagem transmitida ao público e percebida pelo mesmo, pode ser

representada por diversas áreas de atividades, como pelo próprio ambiente interno da

empresa; pelo comportamento desta com o ambiente externo; pela própria qualidade e

eficiência de seus produtos ou serviços; por sua identidade visual.

A identidade visual constituída por um conjunto de elementos visuais, com

objetivo de materializar a personalidade, os valores e os princípios de uma empresa,

produto ou serviço, tem ampla responsabilidade na construção da imagem percebida

pelo público frente a essa empresa, produto ou serviço, pois possui um maior contato

com o mesmo, estabelecendo um nível ideal de comunicação com aqueles que a

visualizam.

Essa materialização se dá através de um conjunto de projetos visuais, como o

desenvolvimento da marca nominal e gráfica; a definição das cores institucionais; do

alfabeto institucional; a utilização ou não de elementos adicionais; entre outros.

Outro importante aspecto a ser levado em consideração, também de grande

importância para a comunicação das empresas, neste caso, do Grupo de Agricultores, é

a questão da reprodutibilidade desta identidade visual em diferentes suportes, ou até

mesmo a configuração desses suportes, como o caso das embalagens.

Esta demanda se refere principalmente à construção de uma identidade visual

coletiva ao Grupo, às suas aplicações em diversos suportes, e o desenvolvimento de

embalagens também coletivas ou específicas aos produtos de maior necessidade, seja

por motivos tecnológicos (como manter o produto preservado, intacto) ou por motivos

conceituais (como valorizar visualmente o produto).

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Demandas

A comunicação, por meio da construção de uma identidade visual, neste

caso, para o Grupo de Agricultores, é o foco principal desta demanda,

onde será possível representar visualmente e de forma sistematizada, a

proposta contida nos produtos ecológicos. No entanto, a comunicação

além do intermédio da identidade visual, se dá também por outros meios

visuais, como a própria configuração de uma embalagem (ou uma família

de embalagens que identifique uma identidade territorial), que tende a ser

também, o objetivo desta demanda.

Com a pesquisa em andamento, pode-se perceber que o Grupo considera

de grande importância, o desenvolvimento e o aperfeiçoamento quanto à

sua identidade visual e os meios as quais possam ser reproduzidas. No

entanto, um dos objetivos do e dos princípios que o próprio Grupo adota, é

a construção de uma identidade coletiva, enfatizando primeiramente o

Grupo e a proposta agroecológica, para posteriormente, avaliar as

especificidades e objetivos isolados de cada agricultor.

Prioridade

Quanto ao desenvolvimento da identidade visual coletiva, devido às

eficiências geradas a partir de seu resultado, é visível o seu grau de

prioridade, estando a frente das demais demandas levantadas.

Eficiências

§ Reconhecimento e valorização de forma coletiva;

§ Fortalecimento do Grupo;

§ Melhor identificação dos produtos;

§ Padronização e consistência das informações visuais;

§ Fortalecimento da proposta agroecológica;

§ Credibilidade aos produtos;

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Viabilidade

Devido a grande necessidade e eficiência de seu resultado, a demanda se

torna amplamente viável, no entanto, exige uma série de etapas, como

compreender a identidade e os s valores do Grupo, através de reuniões e

discussões específicas com todos os integrantes, até materializá-los na

forma de uma identidade visual, a qual exige recursos materiais como o

uso de computadores e seus componentes.

Para o desenvolvimento de embalagens e para a reprodutibilidade da

identidade visual em diferentes suportes, necessita-se também de um

maior recurso financeiro destinado aos testes e variações e ao projeto

propriamente dito, pois são horas de profissionais envolvidos e amparados

por ferramentas de interação com o grupo interessado.

Pode-se pensar a partir dessa temática, a construção de uma identidade

territorial, a qual vem sendo discutidas por representantes do governo, sendo esta uma

forte demanda também para o Design, onde materializaria uma proposta que tende

expressar a diversidade e a identidade de todo um território.

4. Sistemas de Produção

Quanto à temática abordada por Sistemas de Produção, pode-se compreender

todo o contexto identificado à cerca do processo produtivo dos agricultores, que neste

caso, corresponde desde o recebimento das matérias primas e insumos até a

manipulação final dos produtos (lavagem, separação, seleção, armazenamento e

distribuição).

Neste contexto, três importantes constatações foram levantadas: a diversidade de

postos de trabalho operados em sua maioria por uma única pessoa; a diversidade de

instrumentos manuseados em cada um deles, alguns de grave risco ao agricultor; e por

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último, as condições mínimas exigidas em função de uma melhor organização e

praticidade nas estruturas físicas destinadas às operações de trabalho.

É com base nessas três constatações, que se evidencia a proposta desta

demanda, enfatizando o desenvolvimento de novos projetos (entendido aqui não

somente como o produto em si, mas como todo o sistema físico envolto do processo

produtivo: os produtos ou instrumentos utilizados, a estrutura física e a própria

operacionalização da atividade) ou as devidas recomendações para o aperfeiçoamento

dos projetos existentes, em vista principalmente à melhor qualidade de vida do agricultor

e a um melhor rendimento do trabalho, que conseqüentemente, influenciará na

comercialização de seus produtos.

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Demandas

O desenvolvimento de novos projetos ou as recomendações dos projetos

existentes enfatiza três áreas distintas, porém interligadas: os postos de

trabalho; os instrumentos manuseados e as estruturas físicas utilizadas.

§ Quanto aos postos de trabalho, a demanda se daria pela análise

detalhada de cada posto de trabalho operado pelo agricultor, com base

em estudos ergonômicos, gerando um caderno de encargos, contendo

as devidas recomendações técnicas a cada posto, como também,

contendo as informações para os devidos ajustes (redesenhos) e

reparos a alguma das operações dos mesmos. Os postos de trabalhos

passíveis a estes redesenhos ou ajustes são representados pelas

áreas, por exemplo, da lavagem dos produtos (tanque); área de

seleção dos produtos (bancada), entre outros, podendo ser

redimensionados, redesenhados e readaptados.

§ Quanto aos instrumentos utilizados, a demanda se daria também pela

análise mais detalhada dos instrumentos de maior manuseio, ou que

possuem algum risco, ou que tendem a ser de maior incomodo ao

operador, gerando algumas recomendações com base na usabilidade

dos produtos, ou até mesmo, o desenvolvimento de novos produtos,

específico para a particularidade da atividade. Aqui poderiam ser

contemplados os instrumentos como foice e facas, de maior risco a

agricultor, como também o desenvolvimento de algum novo produto ou

mecanismo que facilite o processo do plantio e da colheita, de grande

desgaste ao agricultor, devido a sua postura durante o procedimento.

§ Quanto às estruturas físicas, a demanda se daria novamente pela

análise detalhada das estruturas existentes, como também da

atividade desempenhada em cada uma delas, avaliando suas

necessidades e exigências técnicas (principalmente quanto às

necessidades quanto à higienização do local), gerando também as

devidas recomendações, adaptações ou o desenvolvimento de alguma

parte da estrutura.

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Nas três atuações, terá como base preferencial, os estudos ergonômicos

com o objetivo de aperfeiçoar a interface entre o agricultor e o seu sistema

produtivo, atuando para o seu próprio benefício e para o melhor

rendimento de seu trabalho.

Prioridade

É visível que os resultados desta demanda são benéficos não somente ao

agricultor, mas também à sua produtividade, no entanto, devido a uma

certa acomodação ou aceitação por parte dos agricultores em relação ao

seu sistema produtivo (contemplado aqui pelos postos de trabalho,

instrumentos e estruturas físicas) ou pelo alto e médio investimento

necessário para a sua execução, esta demanda encontra-se em um nível

intermediário quanto a sua prioridade. Porém, os agricultores reconhecem

a necessidade de intervenção e aperfeiçoamento dessas três áreas.

Eficiências

§ Melhor qualidade de vida do agricultor;

§ Melhor rendimento do trabalho;

§ Menores riscos ao agricultor;

§ Melhor aproveitamento dos instrumentos e estruturas disponíveis;

Viabilidade

Por se tratar em parte, da necessidade do desenvolvimento de algum

projeto específico, como a execução de um novo instrumento adequado a

uma determinada atividade, a demanda tem em seus princípios uma certa

resistência quanto a sua viabilidade, pois necessita de maiores recursos

financeiros, para o desenvolvimento, para os testes e para as alterações

necessárias, como também, o envolvimento de outras áreas do

conhecimento, como fisioterapeutas, ergonomistas entre outros. O mesmo

ocorre quando não se trata do desenvolvimento de algum projeto, e sim a

recomendação de algum ajuste ou reforma em determinada operação,

necessitando, do investimento do próprio agricultor em materializar essa

recomendação, ou seja, em ajustar ou reformar o que foi recomendado.

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Pode-se pensar a partir dessa temática, na identificação e utilização de

tecnologias apropriadas, identificadas neste contexto como todos os mecanismos ou

instrumentos necessários durante o processo produtivo dos agricultores e

principalmente, coerentes à proposta agroecológica, em buscar a preservação do meio

ambiente, e coerentes à proposta do desenvolvimento local, visando a utilização de

recursos específicos a abundantes da localidade.

5. CAPÌTULO V

5.1. Considerações Finais

A pesquisa realizada, desde a sua contextualização teórica, abordando os

principais discursos a respeito da agricultura familiar, passando pelo modelo de

desenvolvimento vigente, até a compreensão a cerca do planejamento local integrado

para o desenvolvimento igualitário em suas distintas dimensões, foi de grande validez

para que fosse possível na seqüência, a interação e aplicação desses discursos em

contextos atuais, vivenciados neste caso, pelo Grupo de Agricultores Agroecológicos de

Garopaba.

Com o objetivo de compreender as condições reais do Grupo de Agricultores, ao

longo da pesquisa, algumas particularidades foram reveladas, como também devidas

informações antes especuladas e investigadas, foram evidenciadas.

Evidenciou-se em primeiro momento, a existência de redes sociais formadas por

relações e articulações, como a forte relação social existente, por meio da amizade e

cooperação entre os agricultores; a relação fraterna de união da família em prol do

desenvolvimento da propriedade e pela própria relação de intervenção da maioria dos

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128

agricultores em distintos segmentos do Município, sejam em órgãos públicos,

organizações locais e demais entidades.

Essas redes sociais vêm resultando em uma conjuntura bastante oportuna ao

Grupo, ou seja, a relação de interface entre distintos atores sociais, como técnicos,

consumidores, fornecedores, outros agricultores e organizações locais, que

coletivamente, promovem uma rede ampla de conhecimento responsável pela troca de

informações técnicas, de experiências práticas e de ensinamentos, permitindo cada vez

mais, o expansionismo da proposta agroecológica e o desenvolvimento do próprio

empreendimento constituído pelo Grupo.

O Grupo tem mantido uma maturidade bastante ativa, no que se refere à

compreensão de intervirem de forma estratégica e planejada em diversos ambientes

sociais, não somente com a função de comercializar ou divulgar seus produtos, mas

principalmente, contribuindo para a discussão sobre os problemas sociais, ambientais e

econômicos locais, enfatizando e representado pela realidade pertencente.

Percebeu-se também, a devida importância dada ao trabalho desempenhado

pela Instituição do CEPAGRO, com o intuito principal de fomentar a agroecologia no

Núcleo Litoral Catarinense, a partir do assessoramento principalmente técnico e da

socialização dos Grupos com demais entidades. Mesmo porque muitos agricultores

relatam o desconhecimento a respeito da proposta agroecológica e de suas técnicas

agrícolas antes do contato existente entre o Grupo e a Instituição.

Este contato tem interagido diretamente no processo evolutivo das propriedades,

as quais após a sua avaliação, onde são consideradas aptas a receber o selo de

certificação, tendem por um período, serem fiscalizadas pela Instituição, porém sendo

esta, função própria da Rede Ecovida, ou seja, de responsabilidade dos demais

integrantes do Grupo.

A partir de então, cabe ao Grupo de Agricultores, devidamente capacitados e

fornidos com uma carga de experiência bastante proveitosa, desempenhar seu papel de

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129

mediador entre as ações coletivas, que promovam e desenvolvam cada vez mais o

Grupo, junto às distintas instituições ou entidades locais e regionais.

A participação e articulação dos agricultores junto a essas instituições e

entidades a fins, contribui fortemente para uma ação pública de interesse da

coletividade, onde os sujeitos desse processo, os próprios agricultores, se tornarão cada

vez mais, capazes de agir de forma pró-ativa, persuasivos, e de anseios empreendedor,

em vista aos seus interesses e direitos. O que requer e exigem o comprometimento de

todos os integrantes do Grupo, bem como uma melhor estrutura organizacional interna e

com uma articulação de um arranjo institucional mínimo para a execução do plano de

ações.

Devido principalmente, à recente formação do Grupo, e à presente ensino-

aprendizagem a cerca das técnicas agrícolas com base agroecológicas e às outras

limitações relatadas na pesquisa, o Grupo desponta alguns percalços que o impede de

obter o devido reconhecimento e o total fortalecimento para intervir nesses ambientes,

no entanto, a compreensão visionária de muitos empreendimentos tem sido abordada

pelos agricultores, os quais acreditam e tem se comprometido com uma mudança social,

ecológica e econômica de sua realidade, que por vez, influencia em sua localidade.

Ao longo da pesquisa percebeu-se a necessidade de se repensar a contribuição

de outros atores sociais, que possam envolver-se com o contexto referido, em suas

distintas particularidades e efeitos ao mesmo. Cabendo aqui, não somente o profissional

do Design, sendo este o foco dessa pesquisa, mas também, profissionais das áreas

administrativas, jurídicas, entre outras, um papel promissor e de plena responsabilidade

perante a sociedade.

Ao fim da pesquisa, junto ao levantamento das demandas de maiores

necessidades de intervenção, confirmou-se a multidisciplinaridade do Design, devido

principalmente, quanto à abrangência de suas atividades, sendo propícias a distintas

áreas de atuação, quanto também, para a área de abordagem desta pesquisa, ou seja,

para o meio rural. No entanto, ficou presente que a intervenção do Design não se dá

através da participação única e exclusiva deste profissional, e sim, através da interação

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130

e mediação deste com os demais atores envolvidos. O designer torna-se mais um

integrante deste processo em vista do desenvolvimento sustentável e promissor de toda

uma coletividade.

6. REFERENCIAL

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7. ANEXOS

Anexo 1. Questionário aos integrantes do CEPAGRO.

IDENTIFICAÇÃO Cargo junto ao CEPAGRO:

Cargo junto ao Grupo de Agricultores:

Período de trabalho junto ao Grupo de Agricultores:

1. Desde a união do grupo junto ao Cepagro, o interesse dos agricultores em relação

ao sistema produtivo baseado na agroecologia, tem:

( ) aumentado

( ) diminuído

( ) ocorrido alguns desinteresses de algumas famílias

( ) outros _____________________________________________________________

2. Quais os interesses da Cepagro em trabalhar com este grupo de agricultores? Citar

na ordem de prioridade: (1) maior prioridade e (6) menor prioridade.

( ) fomentar a agroecologia

( ) apoiar financeiramente o grupo – favorecer a geração de renda

( ) buscar o desenvolvimento do grupo

( ) buscar o reconhecimento do grupo e de seus produtos

( ) ampliar o número de famílias pertencentes ao núcleo litorâneo da Rede

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( ) outros _____________________________________________________________

3. Quanto ao nível exigido para o selo de certificação participativa, o grupo se encontra:

( ) em nível primário

( ) em nível de transição

( ) totalmente agroecológico

( ) algumas famílias em transição e outras já preparadas para a certificação

4. Quais as principais características percebidas no grupo, quanto ao trabalho que o

Cepagro vem exercendo sobre o mesmo? (Poderá ser listada mais de uma

alternativa)

( ) flexibilidade

( ) constante interesse

( ) insegurança

( ) pouco interesse por parte de algumas familias

( ) fácil aprendizado

( ) difícil aprendizado

( ) comprometidos com suas obrigações

( ) participativos nas reuniões e oficinas

( ) outras _____________________________________________________________

5. Quais as potencialidades do lugar (Garopaba) que o Cepagro observa de forma a

favorecer o grupo de agricultores? Citar na ordem de prioridade: (1) maior prioridade

e (5) menor prioridade.

( ) cidade turística

( ) aproximidade da área rural e urbana

( ) tendência dos consumidores locais em consumir produtos ecológicos

( ) proximidade com cidades estratégicas (Florianópolis, Tubarão, Criciúma)

( ) tendência e consciência dos agricultores locais em aderir ao sistema de produção

agroecológico

( ) outras _____________________________________________________________

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6. Quais as limitações do lugar (Garopaba) que a Cepagro observa de forma a

desfavorecer o grupo de agricultores? Citar na ordem de prioridade: (1) maior

prioridade e (6) menor prioridade.

( ) sazonalidade do turismo – maior demanda no verão e menor durante o restante do

ano.

( ) a não possibilidade de produção de determinados produtos devido ao clima e outros

fatores

( ) falta de apoio local (prefeitura, sindicatos, instituições)

( ) o não conhecimento dos habitantes com relação aos produtos ecológicos e à

agroecologia

( ) uma considerável parcela de agricultores que ainda produzem de forma

convencional

( ) outras _____________________________________________________________

7. Quais os próximos passos relacionados ao trabalho do Cepagro para com o grupo de agricultores? Citar na ordem de prioridade: (1) maior prioridade e (5) menor prioridade.

( ) continuar com a assistência técnica e outras atividades que o Cepagro já vem

trabalhando

( ) dar abertura a outros profissionais para atuarem junto ao grupo

( ) buscar ampliar o número de agricultores vinculados à rede ecovida

( ) validar a certificação das famílias

( ) outros _____________________________________________________________

8. Em relação à situação do que o Grupo enfrenta atualmente, em que níveis os

mesmos se encontram, condizentes a tais parâmetros:

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9. Qual ou quais as famílias que possuem uma melhor estrutura em relação ao seu

sistema produtivo (plantio – colheita/armazenamento – comercialização)?

10. Qual ou quais as famílias que possuem prioridade no atendimento feito por outros

profissionais (engenheiros técnicos, consultores, designers)?

11. Com base no conhecimento pessoal, a respeito das possibilidades de atuações do

design (o que vem a ser Design e no que ele pode contribuir?), quais as possíveis

demandas percebidas no grupo (seja em sua totalidade ou em propriedades

isoladas), para o campo do Design?

12. Quais os produtos que possuem maior prioridade para o foco do profissional do

Design? Por que motivo?

13. Quais as vantagens que o Cepagro observa em relação às contribuições do Design?

Nível baixo

Nível intermediário

Nível alto

Produção totalmente agroecológica

Reconhecimento do grupo pela comunidade de

Garopaba

Oportunidade de novos pontos de vendas locais

Oportunidade de expandir o mercado para outras

cidades (Florianópolis, Tubarão, Criciúma...)

Compreensão do consumidor sobre o que é produto

ecológico e o que é agroecologia

Identificação visual dos produtos (banners, placas, rótulos)

Recursos para a comercialização em grupo (transporte,

embalagem de armazenamento, embalagem individual)

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Anexo 2. Roteiro para entrevista semi-estruturada Quanto à propriedade / agricultor / história

1. Como e quando adquiriu a propriedade?

2. Quantos hectares possuem a área do plantio, área das estruturas física, e área de

mata?

3. Possui antecedentes que viveram no meio rural e trabalhavam na agricultura? De

onde eram? O que produziam? O que lhes ensinaram?

4. Possui alguma atividade complementar à agricultura?

5. O que fazia antes de trabalhar na agricultura?

6. Possui filhos? Eles também trabalham na agricultura? Qual sua opinião a respeito da

falta de interesse dos jovens com a agricultura?

Quanto aos princípios da Agroecologia

1. O que o motivou a trabalhar com a agricultura ecológica?

2. Como aderiu a associação dos agricultores agroecológicos? Há quanto tempo?

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3. Quais os pontos positivos e negativos em trabalhar com a agricultura ecológica?

4. Qual a sua opinião a respeito do pouco número de agricultores ecológicos em

Garopaba?

5. O que você faz para que o consumidor reconheça a proposta da agricultura

agroecológica e seus produtos diferenciados?

6. Qual a sua opinião a respeito do mercado destinado a esse tipo de produto?

7. Como você imagina a agricultura ecológica e os produtos orgânicos daqui um

tempo? Terão expandido o mercado e o seu reconhecimento?

Quanto às questões da pré-produção

1. Como é feita a aquisição das matérias primas como mudas e insumos? De onde são

adquiridos? Como são entregues até a propriedade?

2. Possui algum controle nesta etapa, algum tipo de contrato, acordo ou fidelidade com

os fornecedores?

3. De quanto em quanto tempo ocorre a compra dessas matérias primas?

4. O quanto é gasto e investido nesta etapa anualmente? (percentual)

Quanto às questões da produção

1. Quantas pessoas trabalham na propriedade? Quem são elas?

2. Os trabalhadores possuem funções específicas?

3. Como e quando é feita a contratação de terceiros?

4. Qual o controle em relação à produção e a saída dos produtos? Qual o critério ou

forma de controle para a quantidade produzida?

5. Possui produção já direcionada? A quem? Quanto do total da produção?

6. Quais as limitações percebidas durante a etapa de produção – desde o plantio até a

colheita?

7. Após a colheita, quais as próximas etapas?

8. É feito o beneficiamento de algum produto? Quem é responsável por essa etapa?

Onde ela ocorre?

Quanto às questões do produto

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1. O está sendo produzido atualmente?

2. Quais os principais produtos produzidos na época do verão (outubro a março) e no

inverno (abril a setembro)?

3. Qual o produto de maior dificuldade para o plantio? E por que motivo?

4. Como é estipulado o valor final dos produtos?

5. Quais os critérios utilizados para a escolha dos produtos a serem produzidos?

6. Onde e como os produtos finais estão sendo armazenados? Possuem algum

cuidado especifico?

7. Qual a sua opinião a respeito do espaço destinado ao armazenamento dos produtos

e da forma que estão sendo armazenados?

Quanto aos instrumentos de trabalho

1. Que tipo de ferramentas e equipamentos possui?

2. Qual a ferramenta e equipamento que você mais utiliza?

3. Como adquiriu esses equipamentos e ferramentas?

4. Tem em vista a aquisição de algum equipamento? Qual?

5. Possui alguma reclamação quanto às ferramentas e equipamentos?

6. Já adaptou alguma ferramenta ou equipamento? Qual? E por que?

7. O quanto é investido em equipamentos e ferramentas anualmente?

Quanto à estrutura física

1. A propriedade conta com que tipo de estrutura física? Qual a função de cada uma

delas?

2. Houve algum planejamento prévio para a construção dessas estruturas?

3. Qual a dimensão dessas estruturas?

4. Qual sua opinião a respeito das estruturas físicas de sua propriedade? Precisa de

melhorias?

5. Alguma estrutura já foi adaptada ou reaproveitada?

6. Investiram nos últimos anos em infra-estrutura e possui interesse em investir

atualmente? O que pretende fazer?

Quanto ao mercado (distribuição / comercialização / divulgação)

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1. Como e quando é feita a distribuição dos produtos? De quanto em quanto tempo?

Quem é responsável pela entrega?

2. Onde estão sendo vendidos os produtos atualmente?

3. Quem cuida e controla a venda dos produtos?

4. Possui algum ponto de venda “fixo”?

5. Como é feito a primeira visita ao ponto de venda para oferecer o produto?

6. Como é mantido o contato com os pontos de vendas?

7. Os pontos de venda possui algum tipo de divulgação a respeito do grupo, do

agricultor ou do produto orgânico?

8. Quais os meios de divulgação utilizados pelo agricultor em particular?

9. O agricultor busca identificar novos mercados? Oferece seus produtos a novos

mercados? Obteve sucesso isoladamente ou em grupo?

10. Qual a opinião a respeito da divulgação e comercialização dos seus produtos?

11. Já pensou em colocar um “nome”, uma “marca” para seus produtos?

12. Utiliza o selo da associação dos produtores orgânicos e coloniais de garopaba – sc?

13. Quais as suas propostas para uma maior divulgação, reconhecimento e valorização

dos produtos e da agricultura ecológica?

14. Como funciona a feira agroecológica municipal e o mercado do produtor? Qual a sua

opinião sobre esses dois pontos de venda? Tem tido lucro e reconhecimento?

Quanto a outros assuntos

1. Qual sua opinião a respeito do turismo em massa? Quais os pontos positivos e

negativos para agricultura?