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DANIELE RODRIGUES MACHADO AS CONTRIBUIÇÕES DE LABAN PARA A DANÇA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO HUMANA Monografia apresentada, como requisito parcial à conclusão do curso de Licenciatura em Educação FÍSica, Setor de Giéncias Biológicas, Universidade Federal dó Paraná. Orientadora: Mestre Astrid Baecker Aviia CURITIBA 2002

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DANIELE RODRIGUES MACHADO

AS CONTRIBUIÇÕES DE LABAN PARA A DANÇA NO PROCESSO DEFORMAÇÃO HUMANA

Monografia apresentada, como requisito parcial à conclusão do curso de Licenciatura em Educação FÍSica, Setor de Giéncias Biológicas, Universidade Federal dó Paraná.Orientadora: Mestre Astrid Baecker Aviia

CURITIBA2002

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho é dedicado primeiramente a Deus, que esteve e está presente em todas as minhas lutas e principalmente a meus pais, que com muito paciência e dedicação me apoiaram e compreenderam o pouco tempo que pude dedicar-lhes devido ao meu comprometimento na elaboração do presente trabalho. Agradeço também aos meus colegas de trabalho, que me deram apoio, e ocuparam as minhas responsabilidades durante algumas semanas para que eu pudesse concluir essa pesquisa. E por fim agradeço aos meus amigos, que compreenderam a minha ausência e me apoiaram nesse período importante da minha vida.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 01

2 REVISÃO DA LITERATURA..................................................................................05

2.1 A EXPRESSÃO CORPORAL ATRAVÉS DOS TEMPOS....................................05

2.2 POSSIBILIDADES DO TRABALHO DA DANÇA.................................................18

4. CONCLUSÃO........................................................................................................28

DOCUMENTOS CONSULTADOS............................................................................30

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RESUMO

A presente pesquisa fala a respeito da contribuição de Laban para a dança

na a formação humana, com objetivos de mostrar algumas concepções da dança

através da sua história e por seguinte apontar algumas possibilidade do trabalho

da dança como meio de formação humana emancipatória. Para abordar tais

questões, foi utilizado o método de análise de conteúdos abordado por MINAYO. O

trabalho começa com um breve histórico da dança através dos tempos, analisando

cada época da dança em seus aspectos políticos, sociais, culturais e religiosos.

No segundo capítulo, mostra-se duas possibilidades de trabalhar com a dança,

seguindo a ordem: método de Laban e a improvisação de SOARES (1998) .

Laban, com sua análise do movimento, aponta para que os seres humanos sejam

capazes de tomarem consciência de seus corpos, utilizando da melhor maneira

possível os movimentos, que são a combinação de quatro categorias:

expressividade, espaço, forma e corpo. Para ele, a dança deve ensinar a criança a

viver, mover-se e expressar-se no ambiente que rege sua vida . E SOARES

(1998), trabalha com a dança no sentido de desenvolver a consciência do

movimento e sensibilizar os sentidos do corpo. A autora trabalha com a

improvisação, ou seja, criar movimentos não treinados, espontâneos, sem uma

prévia preparação dos mesmos.

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1. INTRODUÇÃO

" O conhecimento vai crescendo, sedimentando, camada sobre camada, e chega um momento em que nos esquecemos da sabedoria sem palavras

que mora no corpo...” Rubem Alves

Para muitas pessoas, a comunicação só acontece através das palavras. Elas

esquecem que tem um corpo e que este corpo se manifesta através de gestos e

posições que muitas vezes passam despercebidos pelo ser humano. A rotina diária,

as imposições da vida fazem com que as pessoas percam a capacidade criativa e

sensível de se expressarem. As crianças são expressivas por natureza. Elas se

expressam das diferentes formas, como brincando, dançando, conversando, entre

outras, sem se preocuparem se está certo ou errado, ou o quê que as outras

pessoas vão pensar delas, se elas agirem de uma determinada maneira. Com o

passar da idade, essa expressividade vai sendo contida, pois as regras e padrões da

sociedade são impostos na vida dessas crianças, de uma maneira que ao se

expressarem espontaneamente poderão ser discriminadas. Todo ser humano

precisa conviver com regras, para viver harmoniosamente em uma sociedade, mas

isso não quer dizer que não possam questioná-las e modificá-las. Devemos como

educadores, propiciar o desenvolvimento da expressividade, criatividade,

sensibilidade humana.

Além da discriminação por comportamentos que devem obedecer a um

padrão da sociedade, há uma visão que só apenas os conhecimentos racionais são

importantes, deixando de lado a sensibilidade, as artes e todas as outras formas de

conhecimento sensível.

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Ao refletir sobre o tema expressão corporal, pensei em escrever sobre a sua

importância para crianças de 02 a 06 anos. Escolhi essa faixa etária, porque eu

trabalho com crianças dessa idade. Quando comecei a ler sobre o assunto, descobri

um campo de pesquisa na área da expressão corporal muito vasto, e decidi não

escrever restritamente a uma faixa etária. Ao ler textos sobre dança, percebi que era

o caminho que eu deveria percorrer nessa pesquisa. A dança, que é uma das várias

maneiras do ser humano se expressar corporalmente, surge enquanto tema desta

pesquisa.

Pretendo fazer uma reflexão de como a expressão corporal - neste caso a

dança -, vem ao longo da história desenvolvendo-se.

Sabe-se que o corpo humano está entre o mundo interior e o exterior,

manifestando a personalidade do ser humano de acordo com o modo como é

utilizado. Ao refletir sobre isso, surgiu o problema a ser estudado com mais precisão:

Quais as contribuições de Laban para a dança, enquanto processo de formação

humana?

Para responder essa questão esse trabalho apresenta um objetivo geral, que

é analisar as contribuições de Laban para a dança na formação humana e dois

objetivos específicos, sendo o primeiro de compreender as diferentes concepções da

dança, e o segundo de destacar as possibilidades do trabalho com a dança para a

formação humana pautada na emancipação.

O presente estudo é um projeto de pesquisa monográfica cuja abordagem

visa a solução de um problema elaborado no plano teórico.

O método de abordagem é a análise de conteúdos, que segundo Bardin,

citado por MINAYO, 1996, é definida como: “ Um conjunto de técnicas de análise de

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comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição

do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a

inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas

mensagens”.

A análise de conteúdos é subdividida em algumas técnicas, como análise de

expressão, análise de relações, análise temática e análise de enunciação. A técnica

utilizada nessa pesquisa é análise temática. Segundo MINAYO, 1996, a análise

temática está ligada a uma afirmação a respeito de determinado assunto. Ela

comporta um feixe de relações e pode ser graficamente apresentada através de uma

palavra, uma frase, um resumo.

Segundo MINAYO, 1996, análise temática possui três etapas: a) Pré-análise:

seleção do material a ser estudado; b) Exploração do material: analisa o material de

estudo com o objetivo de compreendê-lo; c) Tratamento de resultados obtidos e

interpretação: a interpretação dos dados deve voltar-se para ideologias, tendências .

Para a elaboração dessa pesquisa, foi utilizado como suporte teórico dois livros de

Laban, O domínio do Movimento e A dança Educativa Modema. Além de Laban , foi

consultado livros da história da dança, textos de Foucault, textos sobre a dança na

educação, Tese de mestrado, monografia em versão preliminar.

No primeiro capítulo, o trabalho inicia com um breve histórico da dança, no

decorrer nos tempos, refletindo come ela se apresentava diante dos momentos

políticos, sociais e religiosos de cada época. O caminho percorrido desde vai desde

a era paleolítica, até a Dança Contemporânea.

No segundo capítulo, mostra-se algumas possibilidades para o trabalho da

dança, como o método de Laban, iniciador da Dança Moderna, a improvisação

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explicada por SOARES (1998) . Sendo as duas possibilidades, marcadas pela

característica de desenvolvimento de um ser humano mais autônomo, mais criativo e

consciente de sua participação na sociedade.

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REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A DANÇA ATRAVÉS DOS TEMPOS

A dança tem sua origem na pré-história. Ela se inicia como danças sagradas,

danças de rituais. É no período paleolítico superior (30.000 - 8.000 a.c) que surge

as primeiras manifestações de danças. Certos autores descreviam outrora uma

cerimônia dançada da pré-história : na gruta de Pech-Merle (Lot) , há dezenas de

milhares de anos, as mulheres vinham dançar para obter maior fecundidade. Mas

esse relato não tem caráter formal, pois não há documentos suficientes para

comprovar tal acontecimento. O primeiro documento que apresenta um humano

indiscutivelmente em ação de dança tem 14000 anos.

“Na época paleolítica, o homem é um predador. Vive da caça, da pesca e da colheita, sujeito

aos acasos do destino. No clima rude de glaciações de wurm, que fez com que as geleiras

dominassem grande parte do território atual da França, o animal é um inimigo difícil de ser vencido,

uma presa difícil de ser abatida. Assim. Ele condiciona a sobrevivência do homem, fornecendo-lhe o

indispensável: carne e gordura para a alimentação, peles para as vestimentas, ossos e chifres para

os instrumentos. O ecossistema paleolítico baseia-se nos animais; as danças só poderiam referir-se a

eles." (BOURCIER, 1987 p. 3)

Alguns documentos arqueológicos relatam que nessa época, as danças já

possuíam giros, que tinham caráter sagrado, de colocar-se num estado que

acreditavam estar em contato com um “espírito”. É no período neolítico ( 8000 -

5000 a.c) que surgem as primeiras representações em grupo. Há uma figura

gravada na gruta de Addaura mostra uma roda de sete personagens centrais que se

contorcem no chão, todos nus, usando máscaras com focinhos pontudos. Deve-se

observar a característica dos giros que tem início no paleolítico , se perpetuam até

hoje em diferentes partes do mundo, e ainda em algumas tribos, ou regiões ainda se

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conservam o significado de estar em contato com um “espírito”, e também o uso das

máscaras que se prolonga até o século XVIII, quando é substituída pela maquiagem,

mas no Oriente ainda continua sendo utilizada na maioria das danças religiosas.

No período neolítico, o homem passa de predador para produtor, ele

descobre as técnicas da agricultura e de criação de animais, tornando-se mais

independente. É nesse período que surgem as primeiras cidades, cada uma com

suas divindades protetoras, com freqüência um animal simbólico, e também cada

cidade terá suas próprias danças. “ A partir de então, assiste-se a uma mudança no

sentido da dança: da identificação como o “espírito, conseguida pela dança por giro,

passa-se a uma liturgia , a um culto de relação e não mais de participação, a um rito

cívico, porque integrado à vida da cidade e comandado por ela.” (BOURCIER, 1987,

p. 12).

Nos antigos impérios, no Oriente Médio, no Egito, no Hebreus também são

relatados processos de danças. No Oriente Médio há documentos que descrevem

dançarinos em roda referente a um rito cósmico, sem dúvida solar. No Egito, os

documentos mostram que as danças eram utilizadas nos cortejos funerários , onde

os dançarinos guiavam os defuntos até o limiar de sua vida pós-terrestre. Mas a

danças não era utilizada somente para este fim , os egípcios também davam

atenção para danças acrobáticas, principalmente pela dança em que se joga a nuca

ou todo o corpo para trás a ponto de fazer uma ponte, alcançando-se os tornozelos

com as mãos. Já os Hebreus são proibidos por sua religião de representarem seres

vivos. É importante ressaltar que esse povo não podia utilizar máscaras para a

realização de danças, devido a religião. As danças são conservadoras e é o único

povo a não ter transformado sua dança em arte.

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A civilização grega tem grande espaço na área da dança. A dança é utilizada

em rituais religiosos, cerimônias cívicas, festas, educação das crianças, treinamento

militar e na vida cotidiana. O surgimento da dança grega , acontece em Creta,

segundo o qualificativo de Homero, que os deuses ensinaram a dança aos mortais ,

para que estes “os honrassem e se alegrassem” . (BOURCIER, 1987)

Pode-se notar que em Creta , as dançarinas fazem um gesto simbólico com

os braços erguidos, representado em direção à divindade. Para os gregos, a dança

era de essência religiosa, dom dos imortais e meio de comunicação com eles. Platão

dá a sua contribuição para a dança, colocando que ela é um meio excelente de ser

agradável aos deuses e de honrá-los. Para Sócrates, a dança forma o cidadão

completo, é fonte de boa saúde . Os gregos são lembrados como um povo que não

separou o corpo do espírito, para quem o corpo também era um meio de conquistar

o equilíbrio mental, o conhecimento, a sabedoria.

Outros povos também deram sua contribuição para a história da dança, como

os etruscos e os romanos.

A dança dos etruscos teve uma forte influência das danças gregas. É muito

comum nos relatos, a dança guerreira entre os etruscos. Segundo BOUCIER, 1987,

estas danças foram introduzidas em Roma no reinado de Numa, rei-sacerdote

etrusco.

Os romanos têm a sua história referente à dança marcada por três períodos:

Reis, República e Império.

Durante o período dos Reis, do séc. VIII ao séc. VI a.c., Roma era dominada

pelos etruscos, então a dança se assemelhava as danças gregas, como já citado

anteriormente.

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No período da república, Roma teve influência heienística, as origens

religiosas foram esquecidas e passaram a ser apenas uma arte de recreação. As

danças que permaneceram nesse período foram as danças tradicionais da velha

cultura romana, a dos bufões, quando das cerimônias triunfais, das grandes

personalidades e as das cerimônias nupciais (BOUCIER, 1987).

No terceiro período, o Império, a dança era praticada até por mulheres das

classes altas. Ela teve grande importância nos jogos de circos, que era praticada a

pantomina, mas a mímica assumiu uma maior importância do que o movimento da

dança.

Na Idade Média, houve uma quebra no desenvolvimento da dança, devido as

restrições de cunho religioso. A dança nessa época tem apenas caráter de

divertimento, tornando-se dança-espetáculo. Com o surgimento do balé clássico, no

século XVIII , em uma sociedade burguesa, na Europa, os princípios técnicos

trabalhados pelos bailarinos eram exigidos para obterem gestos perfeitos, utilizando

as pontas dos pés. Os bailarinos deveriam ser magérrimos, para dar um arde leveza

nos movimentos. Trabalhava-se até a exaustão dos bailarinos para conseguir a

perfeita técnica. O romantismo fica presente nas apresentações, com textos ,

figurinos representando fadas, princesas, príncipes, entre outras figuras idealizadas

e imaginárias. É um período marcado pelas regras, onde não há espaço para o

bailarino colocar suas idéias e sua criatividade .

Segundo ASSUNÇÃO, 2003, monografia em versão preliminar, o balé

clássico está presente nos dias atuais, da mesma maneira que era tratado no seu

início, baseado nos movimentos anti-naturais do ser humano, em coreografias que

mostram um mundo de fantasias, sonhos e uma extrema importância às técnicas

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corporais. A monografia de ASSUNÇÃO apresenta alguns relatos de uma

companhia de balé clássico, que apontam para um modelo de dança, onde a

composição coreográfica é objetivada para competição, resumindo-se apenas no

produto final da dança, não tendo importância pela evolução da construção das

coreografias, pois estas são de autoria da professora, não havendo nenhuma

participação dos alunos nesse processo. Além disso, o tema nem sempre está

presente, e quando está é pesquisado apenas pela coreógrafa que explica sobre o

que se trata para os/as bailarinos/as.

Analisando essas características do balé clássico, percebe-se que esta

modalidade, não desperta a criatividade nos seres humanos, porque os bailarinos

apenas repetem movimentos já prontos e impostos pelo professor.

Após esse período marcado pelo romantismo dos balés clássico, surge a

Dança Moderna. Esta surgiu num período bastante conturbado, entre duas guerras

mundiais. Esse período foi marcada por regimes autoritários, os quais negavam os

princípios de liberdade e autonomia humana.

Alguns dançarinos, com Mary Wigman, Kurt Joss, Isadora Duncan e Martha

Grham se opuseram às práticas do balé clássico do séc. XVIII, dando início ao

movimento estético da Dança Moderna. E os fatores determinantes foram as

pressões e conflitos daquele período histórico.

A Dança Moderna teve um caráter expressivo, que sentimentos como a dor,

angústia, foram bem retratados. Esses sentimentos transformaram o velho

paradigma da dança, que era baseado no homem fragmentado, para um novo

paradigma: alcançar a utopia de recriar e exprimir a humanidade e a corporeidade.

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Algumas propostas pedagógicas do ensino da dança, como as de Emile

Jacques, Dalctroze, François Delsarte deram origem a novas formas de dança que

superou os modelos tradicionais baseados na cópia e repetição, nos treinamentos

imposto e nas relações autoritárias. As novas propostas pedagógicas buscavam o

sentido de se dançar e as relações de liberdade e autonomia da realidade vivida.

Os balés clássicos e seus enredos românticos, não exprimiam mais as

necessidades e as crises da época. Tratar os corpos humanos como máquinas, a

serem treinadas e disciplinadas para representar personagens destas lendas e

contos românticos, deixou de ser o objetivo da dança. O importante para a dança,

passou a ser a vivência da corporeidade.

A Dança Moderna Germânica tinha como necessidade, exprimir a dor e o

sofrimento da humanidade em momentos de guerra e de se criar uma poética do

movimento através de vivências da corporeidade. Artistas como Rudolf Von Laban,

Mary e Kurt Joss, se destacaram no campo da dança, pois buscavam na prática da

dança, compreender o potencial expressivo dos corpos.

O artista Rudolf Laban, merece uma atenção maior, pois ele marca um

momento de grande transformação na história da dança.

Ele nasceu na Húngria, 1879, no período da idade Média, que estava

prevalecendo os balé clássicos, marcado pelo Romantismo, um movimento estético

que na verdade era um sonho, uma fantasia, com técnicas exaustivas, fazendo os

dançarinos se distanciarem da vida e da realidade.

Laban não concordava com os conteúdos do teatro e da dança nessa época,

achava-os vazios. Por esse motivo, começou a idealizar um novo modelo para a

dança, um modelo pautado nos sentimentos das lutas interiores e sociais, buscando

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uma utilização dos movimentos de uma forma mais espontânea e sempre unindo o

corpo e o espírito.

Laban criou centros de estudo que eram baseados em movimentos naturais ,

na espontaneidade e riqueza e na plena vivência consciente de cada um deles e o

que acarretava em desenvolvimento amplo e profundo em quem pratica.

Acreditava que o movimento humano é sempre uma combinação dos

mesmos elementos, seja na arte, no trabalho , na vida cotidiana, voltou-se para o

estudo desses elementos e na sua utilização , dando ênfase na parte fisiológica.

Os seus estudos foram dirigidos para a dança, como meio de educação,

portanto pautou-se pela preocupação com a formação humana.

Laban encontrou na II Guerra mundial, na Inglaterra seus ideais de harmonia

e libertação , através da vivência criativa do movimento. Ele compreendeu a parte da

vida interior do homem , onde se origina o movimento e ação, para compreender o

fluir espontâneo do movimento, a expressividade do movimento, garantindo uma

eficácia na agilidade.

Chegou a conclusão que o único meio para promover a libertação e a

espontaneidade da pessoa, era compreender os princípios gerais de impulso e

função.

O ser humano se move por necessidade, que é originada por um impulso

interno . A disposição desses impulsos interiores, que criam o movimento, mostram

um ritmo e tensão. Essa tensão, que gera um esforço, que é resultada dos

movimentos , são baseadas nos fatores dos movimentos: peso, espaço, tempo e

fluência. (LABAN , 1978).

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As experiências de vida das pessoas, podem influenciar nas diferentes formas

de esforço, que esta pessoa cria ao se desenvolver ao longo dos anos, até se tornar

um adulto. Ma o homem tem o poder de modificar, transformar seus hábitos de

esforços, de forma consciente, para adaptar-se ao seu mundo. Esta é uma

característica peculiar do homem, porque ele é um ser racional. Já o animal, possui

o esforço, faz suas ligações entre os fatores de movimento, mas de forma instintiva,

não tem o poder de alterar ou recriar movimentos. Voltando ao homem, essa

característica do esforço, é um fator muito importante nas suas possibilidades da

educação do movimento.

As danças regionais e nacionais são criadas pela repetição desses esforços,

caracterizadas pelas comunidades. Alguns exemplos de esforços durante diversos

períodos são as danças oníricas de uma oriental, a orgulhosa e apaixonada dança

da espanhola e a dança temperamental da italiana do sul, a bem medida dança em

círculos dos anglo-saxões. (LABAN, 1978).

Por um grande período, o homem não tinha um conhecimento sistematizado

do movimento. Foi a partir de Laban, que esse conhecimento teve caráter descritivo

e científico.

Para darmos desenvolvimento a essa pesquisa, se faz necessário descrever

os pontos chaves da teoria de Laban.

Laban acreditava na fluência dos movimentos, que é influenciado pela ordem

em que são acionados as diferentes partes do corpo, que podem ser divididos em

fluência livre e fluência controlada. Os movimentos que se originam do tronco, e

partem para as extremidades dos braços e pernas, são em geral mais livremente

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fluentes do que aqueles nos quais o centro do corpo permanece imóvel quando os

membros começam a se movimentar. (LABAN, 1978)

Voltando para os conceitos de fluência, podemos considerar que a fluência

livre, é baseada em movimentos de dentro para fora, em direção às articulações e a

fluência controlada é baseada em movimentos de fora para dentro.

A origem dos movimentos, se dá através de uma excitação interna dos

nervos, provocada tanto por impressão sensorial imediata, quanto por complexa

cadeia de impressões sensoriais experimentadas e arquivadas na memória. Essa

excitação tem resultado o esforço interno, voluntário ou involuntário ou impulso para

o movimento.

Para compreender a teoria de Laban, precisa-se deixar esclarecido o conceito

de esforço. Os movimentos humanos estão ligados a um esforço o qual, na

realidade é seu ponto de origem, em aspecto interior. O esforço e a ação dele

podem se inconsciente e involuntário, havendo uma relação direta com os elementos

do movimento: peso, tempo, espaço e fluência. Essa relação pode ser enriquecida

com as diversas possibilidades de compor esses componentes, a fim de criar

movimentos com o corpo.

Laban faz uma comparação do nosso corpo com uma orquestra. Ele diz que o

nosso corpo é o nosso instrumento de expressão por via do movimento. O corpo age

como uma orquestra, na qual cada seção está relacionada com qualquer uma das

outras e é uma parte do todo. As várias partes podem se combinar para uma ação

em concerto ou uma delas poderá exercitar sozinho um certo movimento solista,

enquanto as outras descansam.

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Cada elemento possui características próprias. O espaço, pode ser

influenciado pela velocidade, tempo-ritmo, tempo, pausa e movimentos vibratórios. O

tempo tem a energia e o acento. O peso é influenciado pela direção de voltas,

motivos de voltas, colocação de voltas, pulos, entre outras. A fluência é influenciada

na continuação do movimento, como a de uma corrente fluente, podendo ser mais

ou menos controlada.

A teoria de Laban é baseada em quatro categorias: corpo, expressividade,

forma e espaço. A expressividade é composta por quatro fatores: fluxo (contido ou

livre), espaço, peso e tempo. A forma é composta por três fases: forma fluída, forma

direcional e a forma tridimensional.

Esses elementos e suas possibilidades de combinações, se espelham nas

ações do corpo. Essa ações que forem executadas com uma consciência

imaginativa , estimularão e enriquecerão a vida interior.

A criança nos seus primeiros anos de vida, aprende a desenvolver atenção,

intenção, decisão , que são os três quesitos para um preparação interior de uma

ação corporal externa, que se dá através da fluência do movimento, que encontra

sua expressão concreta no corpo, sendo essa característica da categoria

expressividade.(FERNANDES, 2001)

Laban estudou especificamente cada elemento do movimento, suas diversas

combinações, suas seqüências e seus significados, que contribuíram para o

entendimento da origem do domínio do movimento.

As pessoas devem estar cientes de cada categoria, para saber relacioná-las

entre si com os elementos da cultura presente e fazer um reflexão interna , fazendo

assim uma criação de movimentos de forma autônoma.

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Com a explicação no capítulo I da teoria de Laban, pode-se compreender a

origem da Dança Moderna e suas contribuições para a história.

A dança Moderna é mais rica em movimentos, é mais livre em gestos e

passos. Ela tem relação com hábitos , formas de expressão de movimentos

humanos do homem moderno. É preciso deixar claro que todo o tipo de trabalho,

exige um esforço técnico, que é o fluxo do movimento. O estudo e o domínio das

funções naturais , apontam para um fluxo do movimento.

A nova técnica de dança, proposta por Laban, baseada nos aspectos

corporais e mentais, torna a ação mais consciente e não apenas ações repetidas

como no balé clássico.

A Dança Moderna retratou muito bem o desespero, a angústia, a fome, as

questões mais drásticas que a guerra pode causar. A necessidade de expressar a

vida, o desejo de transformar o mundo cruel em um mundo digno da humanidade

marcou essa época da dança, chamada Dança Moderna.

A Dança Moderna tem um grande nome a ser considerado: Isadora Duncan.

Ela trouxe uma nova concepção de dança e de vida. Para ela , dança não é apenas

uma arte que permite à alma humana expressar-se em movimento, mas também a

base de toda uma concepção da vida mais flexível, mais harmoniosa, mais natural. A

idéia dela sobre a dança é que deve-se exprimir os sentimentos e as emoções da

humanidade. Ela acredita que através da dança, pode-se adquirir uma libertação

pessoal e também como um meio de luta constante contra as instituições e os

costumes opressivos.

Isadora Duncan teve como mestres inspiradores, Beethoven, que criou a

dança em termos poderosos, Nietzsche, que criou a dança em espírito e também foi

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o primeiro filósofo da dança e Wagner que criou a dança em formas esculturais.

Também sofreu influências das danças Dionísticas, estudando a fundo as danças

gregas , para tentar entender a espontaneidade daqueles dançarinos. Isadora

mergulhou nos estudos da filosofia alemã, a qual lhe deu uma visão mais ampliada

de cultura , desenvolvendo a sua espontaneidade e sua liberdade na arte de dançar.

“Isadora Duncan não deixou uma escola, nem uma doutrina, nem uma

técnica, ao contrário de Denishawn ou Martha Graham, que a sucederam. Trouxe o

novo espírito que tornaria possível a grande renovação, o nascimento e o

desenvolvimento da dança moderna e, de certo modo, esboçou os princípios da

futura técnica desta dança.

A dança passa a ter um papel significativo na educação, apenas com a Idade

moderna, onde surge grandes nomes dessa época, como Rudollf Laban e Isadora

Duncan.

Isadora Duncan volta-se para a Grécia Antiga, para entender as formas

desses movimentos, para posteriormente criar uma nova visão sobra a dança. Uma

visão que era pautada na liberação do movimento, tirando o excesso de roupa do

bailarino, para libertar o corpo do bailarino, para que ele possa exprimir seus

movimentos de corpo e alma.

Isadora Duncan tornou a despertar o sentido da poesia do movimento no

homem moderno. Numa época em que a ciência, especialmente a psicologia,

procurava abolir radicalmente qualquer idéia de alma, esta bailarina teve o valor de

demonstrar, com êxito, que existe no fluxo do movimento humano um princípio

ordenador que não se pode explicar mediante os costumeiros fundamentos

racionalistas. (LABAN , 1990)

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“A pré-expressividade” e a forma fluída (duas categorias de Laban) lidam

com uma sensibilidade presente nos primeiros anos de vida, daí sua importância na

Dança-Educação: estimular a percepção e reconquista desta sensibilidade pelos

adultos e fortalecê-las nas crianças, promovendo uma conexão fluída entre

processos físicos, emocionais e cognitivos, contribuindo para uma sociedade mais

humana. (FERNANDES, 2001)

A dança contemporânea, é difícil de ser definida, ma alguns autores, com

FAVARETTO, 1985:98) citado por ASSUNÇÃO, 2003, coloca que “ A arte

contemporânea é simplesmente um espaço de ações não categorizáveis, um

sistema de relações entre o convencionalmente artístico e não artístico, entre o

artístico e o técnico-industrail, entre o artístico e reflexivo, entre a arte e a vida.”

Analisando esse conceito. Pode-se perceber que a dança, que é uma arte, tem

atualmente características de liberdade de expressão, desprendida da perfeição

técnica. O bailarino passa a respeitar seus limites físicos, coloca suas idéias e

sentimentos na dança, passa a ser sujeito na construção da história, passa a ser um

cidadão presente nas discussões que permeiam a arte enquanto dança.

No estudo de caso de ASSUNÇÃO, há um relato da professora do grupo G2

Cia de dança, da Faculdade de Artes do Paraná, que diz o seguinte: “ A dança

Contemporânea é o encontro do teu corpo com a dança. Que dança é essa que

você busca, você ter conhecimento o que é teu corpo em relação as coisas que você

pensa, em relação as coisa que você faz, em relação as coisa que você vive. Então

eu acredito que não é uma dança feita de fora para dentro, e sim de dentro para

fora. Dança Contemporânea é você primeiro descobrir o teu corpo e depois você se

movimentar a partir dele.”

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A dança Contemporânea é pautada no respeito pelo indivíduo, tornando-o

mais crítico e mais criativo, fazendo com que ele se desenvolva como ser humano.

A dança vem através dos tempos, sendo utilizada pelos diferentes povos, de

maneiras bem específicas. Mareei Mauss (1974), citado por AVILA, 2000, demonstra

como cada sociedade possui hábitos próprios, chamando a tenção de que só é

possível compreender este fato (“fato social total”) por um tripé, formado pela

fisiologia, psicologia e sociologia.

Em toda história da dança, é observado que ela sofre influência dos

acontecimentos políticos, sociais, econômicos e religiosos de cada época. Desde a

sua origem, no Período paleolítico, até os dias atuais, a dança sofreu muitas

transformações.

2.2 POSSIBILIDADES DO TRABALHO DA DANÇA

Com a explicação no capítulo II da teoria de Laban, pode-se compreender a

origem da Dança Moderna e suas contribuições para a história .

Há inúmeras possibilidades para trabalhar com a dança, mas nessa pesquisa

será retratado apenas o método de Laban, e a Improvisação de SOARES (1998). A

dança pode expressar os sentimentos dos povos, costumes, tradições. É nessa

perspectiva que a dança na escola pode contribuir em várias áreas. A história de um

povo pode ser retratada com movimentos. Os alunos podem aprender a diversidade

cultural existente no mundo , dançando.

Segundo SOARES, (1998), a dança possibilita a compreensão/preservação

das práticas culturais de movimento dos povos, tendo em vista uma forma de auto-

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afirmação de quem fomos e do que somos; ela proporciona o encontro do homem

com sua história, seu presente, passado e futuro e através dela o homem resgata o

sentido e atribui novos sentidos à sua vida.

A dança, na abordagem de improvisação, tem como um dos seus objetivos o

desenvolvimento da criatividade, na qual e pela qual o indivíduo dá vazão ao seu

potencial de criação de movimentos novos ou adaptados, para demonstrar à si

mesmo ou às outras pessoas a sua mensagem/obra. (SOARES, 1998, p. 33)

Soares coloca também que a criatividade não pode ser vista de uma maneira

isolada, sem considerar as crenças, valores e tradições, pois cada pessoa tem uma

experiência diferente da outra pessoa.

Para compreender mais essa idéia de Soares, sobre a criatividade

relacioanda com as experiências de cada pessoa, será descrito algumas

observações sobre a expressividade humana.

Desde os primeiros meses de vida a criança se expressa. Primeiramente ela

utiliza o choro para expressar suas vontades, suas angústias, suas dores. Ao longo

do tempo ela vai enriquecendo sua capacidade de se expressar até chegar na forma

verbal, a palavra. Nessa fase a criança busca novos meios de expressão: o salto, o

gesto, sons, ruídos, gritos, ... Aquilo que acontece em seu mundo interior

(impressões, sentimentos, conceitos...), possuem relações complexas com aquilo

que nos cerca (outras relações humanas, relações com a natureza, relações consigo

mesmo, ...), nesse caminho de mão dupla é que ocorre a formação humana. Todos

esses gestos que a criança aprende, são transmitidos de cultura para cultura, e

fazem parte da formação do ser humano. (AVILA, 2000) . Esses gestos estão

embutidos valores, crenças, padrões sociais aceitos ou não pela criança, de uma

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determinada, época. A criança tem sua expressividade, que pode ser aguçada pelo

desejo de exprimir seus sentimentos em uma dança, mas essa expressividade pode

se calar quando a criança passa a apenas copiar padrões de dança presente na

mídia, nas escolas , e em outros locais, que são trabalhados a dança. Desenvolver

mais essa idéia. Valores - gesto não é físico, é corporal, ou seja, o pensamento não

para ao mover-nos.

Segundo Vygostsky (kolYak F, 1995), citado por SOARES 1998“a criança

nasce e começa a viver experiências sensoriais com seu próprio corpo, e por meio

social que ela utiliza-se desses sentidos para começar a nomear sensações e

movimentos do seu próprio corpo. Quando a criança se comunica com outras

crianças, ou com o adulto, ou com personagens invisíveis, ela está desenvolvendo

também seu lado afetivo, perceptivo e intelectual e resulta do exercício de

conhecimento da realidade.

A expressão corporal estimula o desejo de descobrir, conhecer, utilizar cada

vez mais as suas possibilidades motoras e aplicá-las na vida cotidiana. Não somente

ela correlaciona as diversas partes do corpo, mas dá a possibilidade de

experimentar o movimento no tempo e no espaço. Ela também desenvolve a

sociabilização, a adaptação, a concentração, a memória e a sensibilização.

O nosso corpo é o canal de comunicação com o mundo exterior, é através

dele que podemos exprimir nossas vontades, desejos, sentimentos, angústias, etc.

Nós temos que resgatar a unidade do ser, nós somos um ser inteiro, com um corpo

que pensa, que sente, que intui, que age, que sofre, que ama, um corpo que deseja,

que deseja ver, ouvir, sentir, tocar, brincar, rir, mas que também chora, e sofre.

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O impulso inato das crianças, é uma forma inconsciente de descarga e

essência que as introduz no mundo do fluxo do movimento e reforça suas

faculdades naturais de expressão. Nas escolas não se deve preocupar com a

perfeição ou criação e execução de danças sensacionais, mas deve se preocupar

com o efeito benéfico que as atividades criativas da dança têm sobre o aluno.

(LABAN, 1990)

Nessa parte da pesquisa será aprofundado as possibilidades da dança, sendo

explicado o método de Laban.

Segundo Laban, a escola tem algumas tarefas no ensino da dança: a primeira

é cultivar e concentrar o impulso e fazer com que as crianças mais velhas tomem

consciência de alguns princípios que governam o movimento; a segunda tarefa, é

preservar a espontaneidade do movimento e mantê-la viva até a idade adulta; a

terceira é ajudar a expressão criativa das crianças, representando danças

adequadas a faixa de desenvolvimento e cultivar a capacidade de tomar parte na

unidade superior das danças coletivas dirigidas pelo professor; a quarta tarefa é

despertar s perspectiva da atividade humana, observando o fluxo do movimento, que

se emprega.

A Dança-educação tem uma visão do ser humano, capaz de criar, expressar,

aprender, socializar e cooperar. O aluno deve ser educado também pela dança,

deixando para trás a velha concepção de que o aluno deve estar sempre sentado,

calado, ouvindo o professor.

A dança é essencial formação humana e seu ensino na escola tem o

potencial de contribuir para a construção de um processo educacional mais

harmonioso e equilibrado.

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A expressão e a dança, estimulam as crianças, jovens, adultos a serem

criativos através de movimentos livres e próprios, educando através de movimentos

expressivos, dando a oportunidade para que as pessoas possam criar outros

movimentos, a partir de movimentos básicos. De acordo com os P.C. N. (1997:67): “

A atividade da dança na escola pode desenvolver na criança a compreensão de sua

capacidade de movimento, mediante um maior entendimento de como seu corpo

funciona. Assim, poderá usá-lo expressivamente como maior inteligência,

autonomia, responsabilidade e sensibilidade”.

Primeiramente, será relatado o método de Laban como possibilidade da

dança na educação. O primeiro passo no método de Laban, é que os movimentos

devem ser baseados nos movimentos que o bebê faz institivamente. O professor

deverá incentivar as crianças para criar suas próprias idéias e esforços sem corrigi-

las. A correção e assessoramento deve vir depois, quando a criança já desenvolveu

sua personalidade sem restrições, nem inibições e pode entender e apreciar o

significado completo daquilo que lhe é solicitado.

Na primeira etapa, o uso de repetição é natural e tem valor, pois os

movimentos devem incluir todo o corpo e não devem exigir precisão ou

concentração. Todas as oportunidades de desenvolver sua expressão por meio de

esforços e sua própria escolha devem ser oferecidos. Os movimentos devem ser

desenvolvidos a partir de esforço intenso, direto e rápido, pois os movimentos

contínuos se desenvolvem com naturalidade.

A segunda etapa, segundo Laban, é o impulso de imitar. Deve-se observar os

outros alunos e realizar imediatamente o que foi observado, desenvolvendo assim a

observação do movimento e conhecimento maior da ação. Também deve deixar livre

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para que o aluno invente sucessões próprias e deve ser ensinado noções de

diferenças entre tensão forte e suaves, movimentos súbitos e sustado.

O professor deve procurar a combinação feliz da mente e corpo em

desenvolvimento, sem inibir a mente e nem o corpo e também deve ficar atento com

as abordagens que as crianças farão com os fatores tempo, peso, espaço e fluência.

Em relação ao tempo, o professor deve observar a velocidade que ascrianças

executam cada movimento. Quanto ao peso, deve-se analisar a resistência que este

está presente no movimento; em relação ao espaço, é necessário despertar a

relação do movimento com o seu redor, usando o espaço com muita imaginação,

para depois fazer movimentos direcionados; e a fluência que o aluno deve aprender

as diretrizes , a amplitude os diferentes lugares em torno de seu corpo par onde

pode deslocar-se.

Para Laban, a dança deve ensinar a criança a viver, mover-se e expressar-se

no ambiente que rege sua vida e o mais importante: estar consciente do seu próprio

fluxo de movimento, pois se a criança tem um fluxo, encontra-se em harmonia

perfeita com todos os fatores do movimento e está adaptada á vida nos aspectos

físico e mental. Se a criança não tiver desenvolvido esse fluxo natural, isso não

ocorre.

Na outra etapa do método de Laban, que é para crianças de 08 a 11 anos, é

uma etapa mais metódica, que visa a preparação para as formas de dança mais

criativas e complexas. Nessa etapa, a criança pode corrigir uma composição de

esforços desequilibrados.

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A partir dos 12 anos ou mais, o enfoque do método de Laban é mental para o

movimento. As sensações básicas, devem ser um hábito par permitir a compreensão

do estado de espírito.

A segunda possibilidade é a improvisação de SOARES, (1998). A

improvisação em dança, significa criar movimentos não treinados, espontâneos, sem

uma prévia preparação dos mesmos. Nesse sentido a improvisação além de

conteúdo da dança, é conteúdo do movimento, oferecendo possibilidades de

ultrapassar os limites da experimentação padronizada na escola. SOARES, (1998),

P. 39). Segundo a autora, a improvisação tem dois objetivos: o primeiro de

desenvolver a consciência do movimento e o segundo de sensibilização dos

sentidos do corpo.

A Educação Física em muitas instituições escolares é vista como uma

disciplina que trabalha exclusivamente o corpo - entendido como um físico

desprovido da mente- , sem levar em conta os aspectos sociais, psicológicos,

afetivos e intelectuais do ser humano.

“A escola como outras instituições sociais, tem sido um espaço disciplinador

onde movimentos e gestos são reprimidos para produzir submissão.” FOUCAULT

(1988) analisa o controle do corpo em sua caminhada histórica, demonstrando que a

sujeição de suas forças impõe uma relação de docilidade - utilidade. Quanto mais

obediente se torna o corpo, mais útil, mais controlável. Com a política das coerções

que atua sobre o corpo, manipulando gestos e comportamentos, forma-se uma

analogia política que também, como tantas outras formas de controle e repressão, é

uma mecânica do poder.

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A dança educação tem a proposta de reverter esse quadro atual. Ela se

preocupa com a qualidade do aprendizado do aluno. A dança se justifica enquanto t

campo de conhecimento e atuação, que poderá desenvolver a criatividade dos

alunos, tornando-os capazes de através de um conhecimento inovador, interior no

estabelecimento de uma sociedade ética, mais equitativa e solidária (Demo 1996)

citada por Soares 1998.

A dança não se restringe os movimentos mecânicos, sem significados e sem

sentimentos. A dança tem um caráter formativo na vida do ser humano. É através da

dança, que as pessoas exprimem angústias, alegrias, revoltas. Ela trabalha com o

interior, o movimento nasce de dentro para fora e não um movimento alienado que

vem de fora para dentro. A dança pode ser utilizada como lazer, quanto como meio

de formação, se fossem ofertadas as oportunidades de se compreendê-la/

apreendê-la, pelo menos no decorrer do ensino formal pelo qual a maioria das

pessoas passa - a escola. (FIAMONCINI E SARAIVA, p. 1999 )

A dança não tem distinção entre sexo, idade e raça. Qualquer pessoa pode

usufruir deste maravilhoso movimento expressivo que é a dança. Essa discriminação

entre homens e mulheres, em relação ao movimento, é dada pela influência dos

valores culturais , pautados na socialização das pessoas. (FIAMONCINI E

SARAIVA, 1999)

Segundo Garaldy, 1980 “Dança é expressão , através dos movimentos do

corpo, organizados em seqüências significativas de experiências que transcederam

o poder das palavras e da mímica.

Na dança a criatividade está muito presente dentro do processo educativo de

uma dança, as pessoas buscam inspirações de movimentos nas atividade do

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cotidiano , trabalho, esportes e lares, podendo também se originado de gestos

representativos, acontecimentos comuns, recordações de coisas vistas, ouvidas ou

feitas. Algumas vezes é utilizado da imaginação, de alguma fantasia. Pode ser

inventado de uma idéia, sensação ou sentimento muito diferente da realidade

exterior. (FAH Lebuch, Hannelore. Dança Moderna e contemporânea Rio de Janeiro

Sprint, 1990)

Os movimentos escolhidos em uma dança variam de pessoa para pessoa,

porque depende muito das experiências vividas de cada um e a necessidade de

expressar os sentimentos vivenciados nessas experiências.

A escola que temos não propicia um tempo -espaço em que se conhece o

corpo. Nela não cabe o prazer , a dor, a paixão, a alegria, ou quaisquer outros

sentimentos. Através desse distanciamento da sabedoria do corpo, a escola

colocou-se à margem das experiências vividas dos educandos e assim, o processo

de construção do conhecimento, atualmente, reflete o abismo que foi causado entre

o sentido destes saberes na vida dos educandos. (BARRETO, 1998)

Quando as crianças são permitidas a exprimir sua criatividade, ela passa a

fazer parte do processo de ensino aprendizagem com muita alegria e prazer. As

atividades escolares devem ser prazerosas, pertinente a realidade dos educandos.

A dança educação trabalha com valores fundamentais como a solidariedade,

confiança, respeito à individualidade, honestidade, lealdade, compaixão, entre outros

. Nessa perspectiva o educando sente prazer em dançar, torna-se um ser humano

melhor.

Gestos e movimentos são expressão humana e esta é tudo aquilo que

exceder o movimento meramente mecânico . E esta transcedência do puramente

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biomecânico, que nos faz humanas, capazes de observar, criar e desenvolver

possibilidades de movimentos bastante diferenciados, contudo conseqüentes de

uma gestualidade expressiva e significativa. (SOARES 1998).

A dança é uma possibilidade de expressão e também de comunicação

humana, que pode ser trabalhada nas escolas com essa perspectiva. A escola tendo

um projeto de educação, que tenha como objetivo a formação de pessoas que não

apenas aprendam os conhecimentos elaborados pela humanidade como verdades

absolutas e imutáveis, mas que saibam refletir sobre esses conhecimentos, fazendo

uma nova síntese, contribuirá para a construção de uma nova realidade da dança.

(FIAMONCINI E SARAIVA, 1999)

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4 CONCLUSÃO

A dança se torna importante na vida da criança, quando esta se torna capaz

de criar, contribuindo para transformar a sociedade, fazendo que a criança tenha

espírito crítico , superando a sua dependência ao mundo que a cerca.

Laban, com a sua análise do movimento, contribuiu para que os seres

humanos sejam capazes de tomarem consciência de seus corpos, utilizando da

melhor maneira possível os movimentos, que são a combinação das quatro

categorias: expressividade, espaço, forma e o corpo. Além da consciência das

realização dos diversos movimentos, Laban contribuiu para que esses movimentos

ganhem vida, liberdade, dando um espaço na dança para que as pessoas possam

exprimir seus sentimentos, suas angústias de um corpo marcado pelas questões

sociais, culturais , políticas e religiosas. Segundo Laban, 1990, a dança possui dois

valores educativos: em razão do são domínio do movimento e facilitar o

aperfeiçoamento da harmonia pessoal e social do movimento.

A dança na educação tem uma responsabilidade sobre a formação humana,

que pode dar origens a cidadãos diferentes na vida adulta. Se a dança na educação

for tratada como um mero instrumento de reproduções de movimentos, presentes na

mídia, este cidadão será mais um nesse mundo, sendo um simples trabalhador, sem

muitas idéias, com pouca imaginação e com a sua criatividade condenada. Se a

dança na educação estiver pautada em uma das duas possibilidades, relatadas na

presente pesquisa, que são o método de Laban, a improvisação de SOARES , os

alunos terão grande chances de ser um ser humano crítico, capaz de mudar a

realidade que o cerca, pois terão uma liberdade de exprimir seus sentimentos,

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através da dança, utilizando todo o potencial criativo, que adquiriram com suas

experiências passadas juntamente com as experiências da realidade de cada um.

Para que a dança seja utilizada como meio de formação humana, pautada na

emancipação, a formação de docentes deve ser reavaliada e transformada, a fim de

que seja uma formação capaz de transformar a realidade da dança na escola,

trabalhando com conceitos culturais, respeitando a individualidade, experiências,

fazendo o aluno recrie movimentos a partir dos movimentos vivenciados por uma

determinada cultura.

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DOCUMENTOS CONSULTADOS

AVILA, Baecker Astrid. As relações entre cultura e subculturas circunscrevendo a cultura corporal. Dissertação de mestrado. Programa de mestrado em Educação Física. Centro de Educação Física e Desportos, UFSC, 2000.

BARRETO, D. Dança, Sentimentos e Educação. São Paulo. Dissertação de Mestrado em Educação Física, UNICAMP, 1998.

BOURCIER, P. História da Dança no Ocidente. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

FERNANDES, Ciane .Caderno CEDES, n 0 53. São Paulo: 2001.

FARO, A. J. Pequena História da Dança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.

FIAMONCINI, Luciana; SARAIVA, Maria do Carmo. Unidade Didática 3 Dança na escola: a criação e a co-educação em pauta. São Paulo: UNIJUÍ, 1999.

GARAUDY, R. Dançara vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

LABAN, R.V. Dança Educativa Moderna. São Paulo: ícone, 1990.

LABAN, R.V. Domínio do Movimento. São Paulo: summus, 1978.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

MOREIRA, Wey Wagner. Corpo Pressente. São Paulo: Papirus, 1995.

SOARES, Andresa. Improvisação e Dança: conteúdos para a dança na educação

física. Santa catarina: UFSC, 1998.