As Corporações e O Arquétipo de Destruição

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MBA DE GESTÃO EM SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA Disciplina: Responsabilidade Social Corporativa Prof. Prof. JUVENAL CORREIA FILHO As Corporações e O Arquétipo de Destruição Consuelo Marques Jean Michel da Silva Trabalho desenvolvido a partir da leitura do livro A Corporação, de Joel Barkan, desenvolvida durante a disciplina de Responsabilidade Social Corporativa do MBA de Gestão em Sustentabilidade Corporativa, empregado como avaliação da referida disciplina. Curitiba, Paraná Maio / 2013

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Trabalho desenvolvido a partir da leitura do livro A Corporação, de Joel Barkan, desenvolvida durante a disciplina de Responsabilidade Social Corporativa do MBA de Gestão em Sustentabilidade Corporativa, empregado como avaliação da referida disciplina.

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MBA DE GESTÃO EM SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA

Disciplina: Responsabilidade Social Corporativa

Prof. Prof. JUVENAL CORREIA FILHO

As Corporações e O Arquétipo de Destruição

Consuelo Marques

Jean Michel da Silva

Trabalho desenvolvido a partir da leitura do livro A Corporação, de Joel Barkan, desenvolvida durante a disciplina de Responsabilidade Social Corporativa do MBA de Gestão em Sustentabilidade Corporativa, empregado como avaliação da referida disciplina.

Curitiba, Paraná

Maio / 2013

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 RESUMO

Este artigo analisa algumas questões levantadas por Joel Barkan em seu

livro a Corporação. São tratados assuntos como a característica externalizadora

das corporações, o arquétipo bem definido e estabelecido das mesmas – neste

ponto recorre-se a conceitos da Psicologia Analítica de Jung; também é feito um

estudo sobre a Corporação Psicopata, além da análise de cases que retratam o

quão devastadora tem sido a relação entre empresas e sociedade.

1. INTRODUÇÃO

É um fato afirmar que nos dias atuais as corporações ditam o ritmo de

nossas vidas. O que compramos, comemos, assistimos, qual roupa devemos

vestir e como nos comportar. A corporação nos dita regras, e até mesmo

controlam a sociedade.

Sua origem tem na necessidade humana de criar um ser, um ente, uma

instituição com direitos de pessoas, porém sem deveres de pessoas; sem moral e

sem consciência. As empresas criadas como “pessoas jurídicas” poderiam ser

levadas a julgamento, mas sem comprometer as pessoas de carne e osso que

comandam a corporação e ditam suas ações. De acordo com Bakan (2008), o

sucesso da corporação está ligado a sua talentosa forma, “e a razão de seu

notável crescimento ao longo dos três últimos séculos foi, e é, sua capacidade de

combinar o capital, e portanto o poder econômico de um ilimitado número de

pessoas.”

Esse ser dotado de muita ganância e sem nenhuma consciência tornou-se

tão poderoso e influenciável a ponto de tornar o governo um ente vulnerável às

suas decisões. No momento em que se instalam na esfera pública, são as

corporações que controlam os setores da sociedade.

Por pressão dos lobbies, o governo retrocede, e deixa de exercer sua

função reguladora. Bakan (2008) afirma que existe uma nova forma de regulação

para ditar o ritmo das corporações: o mercado. Porém, este modelo de regulação

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encontra uma barreira considerável: ao contrário do governo, que é escolhido

pelas pessoas através do voto, sendo que cada pessoa tem direito

igualitariamente a um voto; no mercado a pessoa basicamente tem seu poder

relacionado ao seu poder de aquisição. Em resumo, para o governo: pessoa =

voto, para a corporação: pessoa = cifra. Sendo assim, ainda que controlado pela

sociedade, a regulação da corporação pelo mercado é desigual, favorece apenas

uma parte desta sociedade; aquela com maior poder aquisitivo.

Qual seria então um modelo de regulamentação destas corporações?

Deixá-la nas mãos dos acionistas continuaria não resolvendo o problema, pois

estes estão focados apenas nos lucros. E os consumidores? O desafio aqui é

como eles terão acesso a informações sobre a produção do produto, a análise do

ciclo de vida; onde se disponibilizariam essas informações e quão representativa

seria a fatia de consumidores conscientes que poderia provocar pressão suficiente

na corporação para que esta mude suas atitudes impensadas e psicopatas, visto

que movimentos desta natureza ainda são esporádicos e sem força.

Porém, dentre todas estas, as sanções formais do governo ainda tornam-se

a melhor alternativa (regulações através de leis exequíveis). Bakan (2008), afirma

que as regulações exigem que as corporações sejam responsáveis, tanto social

quanto ambientalmente. Definem padrões apropriados para o comportamento

corporativo, onde o governo dita as regras; governo este que tem como único

propósito “proteger e promover os interesses da população e refletir o desejo das

pessoas”. Por este meio, buscam-se valores sociais que vão além de interesses

de acionistas e “riquezas que ditam os comportamentos de corporações e

mercados.”

2. A COPORAÇÃO E SEU ARQUÉTIPO DEFINIDO

A má fama das corporações se arrasta ao longo do século XX e chega aos

dias de hoje. O profissional que optou, ou foi condicionado a escolher, pelo

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trabalho dentro destas instituições, acaba por perceber que a competição pelo

mercado tem ficado cada vez mais acirrada e a ética tem sido deixada em

segundo plano.

Numa luta indiscriminada pelo poder e pela alta lucratividade a qualquer

custo, muitas organizações escolhem métodos fraudulentos e ilegais com o intuito

de garantir fatia do mercado, cortar custo e ter mais rentabilidade – tudo isto à

custa de funcionários, estrategicamente denominados por “colaboradores”, meio

ambiente e sociedade em geral.

E de acordo com Bakan (2008) estas e outras características são

facilmente identificadas em algumas corporações “doentes”. Entre muitas,

destacamos:

a) Incapacidade de seguir as normas sociais e condutas dentro da lei;

b) Descaso pelos sentimentos alheios;

c) Incapacidade de manter relações duradouras;

d) Descaso pela segurança alheia;

e) Insinceridades: repetidas mentiras e trapaças para obter lucro e;

f) Incapacidade de sentir culpa.

Segundo o autor, todas estas características podem ser observadas nas

corporações deficientes de qualquer moral ou ética. Ao analisarmos as

corporações como extensões da mentalidade humana – visto que elas não

existiram caso não houvesse pessoas para gerenciá-las – pode-se notar que este

padrão repetitivo e doentio acabou por criar um arquétipo bem definido

envolvendo o egoísmo e a necessidade descontrolada de tirar vantagens sobre o

próximo. Vale trazer aqui a definição de arquétipo – termo este criado pelo

psiquiatra suíço pai da psicologia analítica, Carl Gustav Jung.

Segundo Jung (2002) os arquétipos são estruturas virtuais, primordiais da

psique, responsáveis por padrões e tendências de comportamentos comuns.

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“Para Jung, os arquétipos hereditários e representam o aspecto psíquico do

cérebro. São universais, comuns a todos os seres humanos e ordenam imagens

reconhecíveis pelos efeitos que produzem. Pode-se percebê-los pelos complexos

que todos temos, pelas imagens arquetípicas que geram, assim como pelas

tendências culturais coletivas.” (Novaes, 2005).

Ao construirmos uma instituição dotada de valores completamente

distorcidos, na qual a moral e o respeito à vida e ao planeta são questões

indiferentes ( pois, teoricamente, não influenciam aos números de “EBITIDA”, logo

não são de interesse às corporações) , acabamos por criar um padrão de

comportamento, no qual ser socioambientalmente irresponsável se torna algo

comum e impassível de questionamento.

“Em todas as tomadas de decisão corporativas, a

riqueza intangível da vida e sua fragilidade

tornam-se invisíveis em meio a cálculos abstratos

e análises de custo e benefício” (Barkan, 2008, pg.

77).

Ainda utilizando a metáfora da corporação como um “ser vivo” com

comportamento altamente doentio e contagioso, percebemos a forte presença de

um sentimento destruidor em sua essência: o egoísmo. As empresas estão cada

vez mais centradas em si mesmas e enxergam os seus funcionários

(“colaboradores”) como peças, infelizmente, necessárias ao funcionamento de

toda a engrenagem.

“[para a corporação, trabalhadores] não são seres

humanos e sim recursos humanos. Para a

corporação moralmente cega, eles são

ferramentas para gerar o maior lucro possível. E ‘

a ferramenta’ pode ser tratada como um simples

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pedaço de metal: você usa se quiser e joga fora

se não quiser mais” (Barkan, pg. 82, 2008)

Bakan (2008) dá o nome a estas instituições de “corporações psicopatas”.

Para entendermos este paralelo, vale o um pequeno aprofundamento no tema. A

palavra psicopata foi descrita pela primeira vez em 19411 pelo psiquiatra Hervey M

Cleckey. O médico classificou como portadores desta característica, pessoas

egocêntricas, desonestas e indignas de confiança. Com frequência, adotam

comportamentos irresponsáveis sem razão aparente, exceto pelo fato de se

divertirem com o sofrimento alheio. Os psicopatas não sentem culpa. Raramente

aprendem com seus erros ou conseguem frear impulsos.

A maneira desumana com que as corporações vem tratando a sociedade e

meio ambiente, retrata nitidamente o perfil psicopata de suas relações. Ela não

consegue seguir preceitos morais para evitar o prejuízo ao próximo. Elas vivem

em busca de seus próprios objetivos egoístas. “A corporação, assim como a

personalidade psicopata com que se parece, está programada para explorar os

outros visando o lucro” (Bakan, pg. 82, 2008).

O arquétipo da destruição está moldado e operante. E uma das maneiras

da corporação terceirizar as reponsabilidades de sua loucura desenfreada pelo

lucro é tentar repassar o peso de suas decisões catastróficas aos outros através

da externalização.

3. A EXTERNALIZAÇÃO

Não sendo regida por preceitos morais e éticos, levando em consideração

apenas seus próprios interesses, a única obrigação da corporação é agradar seus

acionistas. Para este ser psicopata, todas as outras relações negativas possíveis

com comunidade, meio ambiente, consumidores e colaboradores são ____________ 1 LILIENFELD, Scott O. O Que é um psicopata? Disponível em: < http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/o_que_e_um_psicopata_.html> Acesso em: 20 de Maio de 2013.

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  consideradas como “problema dos outros”; externalidades. Milton Friedman (in

BAKAN, pg.72, 2008) apresenta um conceito de externalidade:

“Uma externalidade é o efeito de uma transação

para um terceiro que não havia consentido em

participar da realização dessa transação.”

Porém, visto o tamanho e a magnitude da influência da corporação, as

externalidades por elas causadas podem ter seus efeitos sentidos no mundo como

um todo. “Externalizar os custos embutidos na corporação está na raiz de muitas

doenças ambientais e sociais do mundo”. (BAKAN, 2008)

Talvez a situação mais polêmica e discutida de externalizaçao é a questão

envolvendo os produtos “Made in China”. Nos dias atuais é praticamente

impossível fugir de um produto feito por chineses. As grandes empresas de varejo

importam a grande maioria de seus produtos da nova grande potência que se

tornou a China. Mao de obra disponível e barata é o principal fator que leva as

empresas a procurar fornecedores chineses. Porém, como se dá a produção

destes produtos? Quais as reais condições de trabalho destas pessoas que estão

nas fabricas? Qual o custo real do produto adquirido?

O projeto “The Story of Stuff” lançado em 2010, mostra à população

mundial, em formato de vídeo, uma provocação sobre como devastamos os

recursos naturais e exploramos pessoas para mantermos hábitos de consumo

insustentáveis, impulsionados pela mídia de massa que nos força a ter novas

necessidades.

Sara Bongiorni, uma jornalista americana, aceitou o desafio de juntamente

com sua família permanecer um período sem consumir produto algum fabricado

na China. O resultado dessa “odisseia” foi o livro “Um ano sem Made in China”,

onde a mesma relata os desafios e dificuldades de passar um ano inteiro

verificando a origem de cada produto antes de compra-lo, e recusá-lo caso fosse

chinês. Sara não foi motivada por nenhum cunho político, o que ela pretendia

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verificar era a dependência extrema dos norte-americanos aos produtos chineses.

E confirmou, pois cada vez que precisava de um produto, a dificuldade de

encontrar um não chinês era evidente. Além disso, as despesas com roupas,

móveis, brinquedos, sapatos, etc., tornaram-se muito mais altas, visto que os

produtos chineses são vendidos a preços baixíssimos no mercado, o que

dificilmente paga o seu custo real. Esse fato exemplifica a ciência da exploração,

maximizar o lucro “sugando” o trabalho de pessoas pagas por produção, em

condições de miséria e sofrimento.

O caso dos trabalhadores chineses, entre tantos outros de externalização, é

uma das provas do uso da análise de custos e benefícios utilizados pelas

corporações. A forma como é constituída uma corporação, sua necessidade de

atingir os interesses financeiros acima de tudo, sua prioridade em explorar acima

de beneficiar, faz com que as decisões sejam baseadas apenas nos benefícios

para as corporações e não nos custos, e este é o seu negócio e o principal motivo

pelo qual a corporação não assume suas externalidades. “Cada custo que ela

consegue descarregar em outra pessoa é um benefício para si mesma, um

caminho direto para o lucro” (BARKAN, 2008).

Quem paga o preço das decisões tomadas pelas corporações? Acidentes

de trabalho, mortes, destruição crônica do meio ambiente, diminuição da

qualidade de vida de pessoas, exploração, desvalorização da vida humana e

poluição. Estes são o preço que a sociedade, embora às vezes não os veja, paga

direta ou indiretamente, mais cedo ou mais tarde, pela deficiência da consciência

deste ser psicopata que é a corporação.

O egoísmo da corporação não tem limites, e dele muitas pessoas

diretamente já se tornaram vítimas, em situações que mudaram suas vidas para

sempre.

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4. VÍTIMAS DO EGOÍSMO (CASES DE INSUCESSO)

Ainda tendo Barkan (2008) como base deste artigo, pode-se citar dois

“cases” de insucesso, nos quais a irresponsabilidade e o egoísmo doentio das

corporações foi responsável pela destruição de vidas, de famílias e do meio

ambiente.

Case 1 - General Motors e Patrícia Anderson. O primeiro caso trazido por Barkan, nos leva a uma profunda reflexão a

respeito da vida e dos valores distorcidos de uma sociedade detentora de muitas

corporações psicopatas. O autor narra o caso de Patricia Anderson e o famoso

carro Chevrolet Malibu 1979. Era natal de 1993. Patrícia voltava de casa com

seus quatro filhos. A moça, ao ver o sinal ficar vermelho, pára o carro. No entanto

um veículo em alta velocidade não vê o carro parado e colide fortemente com o

Chevrolet Malibu. Patricia e os filhos sofreram graves queimaduras de segundo e

terceiro graus que acabaram por desfigurar seus rostos – o motorista, que por

sinal estava bêbado, nada sofreu além de pequenos arranhões. Patrícia

processou a General Motors, culpado a companhia pela explosão e pelo incêndio.

De acordo com os advogados de Anderson, “O tanque do combustível de seu

Malibu, não tinha proteção adequada contra o impacto de uma colisão” ( Barkan,

pg 73, 2008).

Após longo julgamento, o júri decidiu que a GM realmente era culpada, pois

havia posicionado o tanque de combustível de forma perigosa com o intuito de

cortar custos. O juiz da Surprema corte de Los Angeles, Ernest G. Williams,

deliberou com o seguinte texto:

“A corte considera que evidências claras e

convincentes demonstraram que o tanque de

combustível do acusado foi colocado atrás do eixo

dos automóveis no projeto de fabricação do

modelo em questão, com o objetivo de maximizar

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os lucros, em detrimento da segurança pública” (

Barkan, pg 73, 2008)

Segundo provas coletadas, a GM estava ciente desta possibilidade

incêndios quando projetou o Malibu e alguns de seus outros modelos. Após o caso

ter ganhado espaço na mídia, outros 6 casos vieram a tona, mostrando que o

problema realmente era sério e necessitava atenção.

Algo muito discutido enquanto acontecia o processo era o valor da vida

humana. Tanto júri, quanto acusados, não conseguiam entrar num consenso de

como indenizar as vítimas. A empresa argumentava que seria necessário estimar

o valor em dólares para ser feita a restituição – um ponto controverso. No fim do

caso, a corporação teve a audácia de indicar que os jurados “ eram humanos

demais” para avaliar a situação. Que eles valorizavam a vida de acordo com seus

próprios interesses, motivos familiares, afetivos, de amizade, e outros “intangíveis”

que fazem “a vida valer a pena”.

Analisado os fatos, podemos perceber o quão egoísta é a

corporação e como somente o resultado das vendas é o que interessa.

“Os executivos não têm autoridade para levar em

consideração os efeitos prejudiciais que uma

decisão pode ter para outras pessoas, como

Patrícia Anderson e seus filhos, ou para o meio

ambiente, a menos que esses efeitos tenham

consequências negativas para a própria

corporação.” ( Barkan, pg 76, 2008)

CASE 2 – Nike e o massacre aos direitos humanos

Outro caso interessante citado pelo autor, aconteceu na Republica

Dominicana. Charles Kernaghan, diretor do Comitê Nacional do Trabalho,

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descobriu depois de seguir o destino do lixo até aterros sanitários, graves

problemas que afetavam diretamente os direitos humanos.

Pode-se dizer que ele achou “ouro” meio a tanta sujeira. Em uma de suas

incursões ele encontrou cópias de documentos internacionais de precificação da

Nike em uma caixa que havia sido deixada por um dos caminhões de lixo. Lá,

continham números que mostravam o quanto os trabalhadores eram explorados

pela corporação de renome internacional.

“O objetivo da empresa era maximizar o lucro que podia

espremer de meninas e jovens mulheres que costuram

roupas para a nike em fábrica que exploram a mão de

obra barata em países em desenvolvimento [...] Somando

todas as unidades, os cálculos exigiam que cada camisa

levasse no máximo 6,6 minutos para ser fabricada, o que

significa um custo de trabalho de 8 centavos de dólar para

uma camisa que a Nike vende nos EUA por 22,99

dólares.” ( Barkan, pg. 78, 2008)

De acordo com Kernaghan, a maioria destas trabalhadoras são tratadas

como verdadeiras escravas. Ficam trancafiadas em ambientes impróprios, são

supervisionadas por guardas que as humilham e as agridem por qualquer motivo e

repetem o mesmo movimento (de costurar) cerca de 2000 vezes por dia. Isto

demonstra o quão doentio é o processo de exploração criado pelas corporações.

5. Conclusão Tendo em vista todo o triste cenário no qual as corporações são as

principais protagonistas, pode-se acreditar que toda esta situação jamais se

inverterá e que nos resta apenas acompanhar estes fatos. No entanto, existe a

possibilidade de revertemos esta realidade. Não podemos assistir passivos toda

esta destruição que vem sendo causada, dia após dia, por empresas gananciosas

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e egoístas. Os tempos são outros. Consumidores tem se tornado cada vez mais

exigentes e mais interessados em conhecer a procedência dos produtos que

consomem, assim como a índole das corporações e todos os envolvidos no

processo: da matéria prima à logística reversa – para onde está indo o lixo

produzido pelos produtos vendidos pelas corporações?

De acordo com Barkan (2008) as corporações são criações nossas, e como

criaturas feitas pelo homem, ainda temos o poder para controla-las e reverter todo

este panorama.

“Chegou a hora de usar este poder, não só

colocando em ação as leis de revogação de

alvará, mas também, num sentido mais amplo,

submetendo as corporações a controles

democráticos mais rigorosos” (Bakan, pg 192,

2008)

Temos que ter em mente que a corporação não é um ser independente. Ela

foi uma ferramenta criada pelo Estado com o intuito de desenvolver a política

social e econômica. Dessa maneira, ela acaba por ter apenas um objetivo

institucional: “servir ao interesse público (e não apenas um conceito circular de

interesse público que se ajusta aos interesses comerciais)” (Barkan, 2008).

Segundo o autor, existe a possibilidade se recriarmos as corporações como

seres não-psicopatas. Existe a real possibilidade de reconstruí-las para servir,

promover e ser responsável por setores mais amplos da sociedade do que apenas

por si mesmas e seus acionistas. Existe aí um grande desafio ( e uma grande

oportunidade): há que se encontrar um meio de controlar a corporação e submetê-

la às restrições democráticas e de proteger os cidadãos de suas tendências

perigosas.

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Barkan (2008) lista algumas maneiras de fazer com que as corporações se

transformem a médio e longo prazo. São elas:

a) Melhoria do Sistema Regulatório; O sistema regulador deveria ser revisto para melhorar a prestação de

contas e evitar tanto a “captura da agência” quanto as tendências

centralizadoras e burocráticas do regime atual e dos anteriores.

b) Fortalecer a Democracia Política; As eleições deveriam ser financiadas pelo poder público, as doações

corporativas deveria ser pouco a pouco eliminadas e o lobby e o fluxo

pendular de pessoal entre o serviço público e as empresas deveriam ter

mais restrições.

c) Criação de uma Esfera Pública Forte; Grupos sociais e interesses considerados importantes para o bem público

deveriam ser governados e protegidos por administrações públicas.

d) Desafiar o Neoliberalismo Internacional. As nações deveriam unir-se para afastar as ideologias e as práticas das

instituições internacionais, como a OMC, O FMI e o Banco Mundial, do

fundamentalismo do mercado e sua facilitação por meio da desregulação e

da privatização.

Existem saídas para todo este problema criado por nós: as corporações.

Precisamos reunir esforços para se inverta todo este panorama doentio e

psicopata que hoje vemos. “O mais importante é não nos esquecermos da

mais subversiva das verdades: as corporações

são nossa criação. Elas não tem vida, poderes e

capacidades além das que nós, por meio dos

governos, lhe damos” (Barkan, pg 199, 2008).

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6. REFERÊCIAS

BAKAN, Joel. A corporação. São Paulo, Editora Novo Conceito,2008.

JUNG, Carl Gustav. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Tradução: Dora Mariana R. Ferreira da Silva. Petópolis, Ed. Vozes, 2002.

LILIENFELD, Scott O. O Que é um psicopata? Disponível em: < http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/o_que_e_um_psicopata_.html> Acesso em: 20 de Maio de 2013.

NOVAES, Adenáuer. Mito Pessoal e Destino Humano. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2005, p. 250.