As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

57
1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Ciências Sociais Instituto de Filosofia e Ciências Humanas AS ELEIÇÕES DE 1962 NA GUANABARA: A CONSOLIDAÇÃO DE BRIZOLA NO CENÁRIO POLÍTICO NACIONAL GUILHERME ESTEVES GALVÃO LOPES Rio de Janeiro 2013

description

 

Transcript of As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

Page 1: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

1

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Ciências Sociais

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

AS ELEIÇÕES DE 1962 NA GUANABARA: A CONSOLIDAÇÃO DE BRIZOLA NO

CENÁRIO POLÍTICO NACIONAL

GUILHERME ESTEVES GALVÃO LOPES

Rio de Janeiro

2013

Page 2: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

2

GUILHERME ESTEVES GALVÃO LOPES

AS ELEIÇÕES DE 1962 NA GUANABARA: A CONSOLIDAÇÃO DE BRIZOLA NO

CENÁRIO POLÍTICO NACIONAL

Monografia de conclusão do curso de graduação em

História apresentado ao Departamento de História

do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da

Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Orientador: Prof. Dr. Oswaldo Munteal Filho.

Professor Adjunto – UERJ.

Rio de Janeiro

2013

Page 3: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

3

FOLHA DE APROVAÇÃO

AS ELEIÇÕES DE 1962 NA GUANABARA: A CONSOLIDAÇÃO DE BRIZOLA NO

CENÁRIO POLÍTICO NACIONAL

Guilherme Esteves Galvão Lopes

Monografia submetida ao corpo docente do Departamento de História do Instituto de

Filosofia e Ciências Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Bacharel.

Banca examinadora:

____________________________________

Prof. Oswaldo Munteal Filho – Orientador

_____________________________

Prof. Luiz Edmundo Tavares

_____________________________

Prof.ª Edna Maria dos Santos

Page 4: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

4

Agradecimentos

Agradeço a Deus, em primeiro lugar, por todas as coisas.

Aos meus pais, Vicente e Denise, por tudo que fizeram por mim. Às minhas irmãs

Michele e Thalita, minha avó Matildes e toda minha família, tanto no Rio de Janeiro, quanto

no Ceará. Por ser extremamente grande, seria uma lista enorme de pessoas, e ainda assim me

esqueceria de muita gente.

À minha amada Isabelly, por caminhar comigo em todos os momentos, e me ajudar até

mesmo no que não tinha conhecimento. Seu incentivo, esforço, compreensão e

companheirismo me fizeram chegar até aqui. Obrigado por tudo, flor!

Ao professor Oswaldo Munteal, mais que um orientador e mentor, um verdadeiro

amigo. À professora Beatriz Vieira, pela paciência em me ajudar na organização da

monografia. Aos professores Luiz Edmundo Tavares, Jaime Antunes e Celso Thompson, pelo

exemplo de caráter e dedicação ao ofício de historiador.

Ao companheiro Wendel Pinheiro, pela imensa confiança e todo seu empenho em me

fazer seu sucessor na Secretaria Estadual de Formação Política da JSPDT/RJ. Aos meus

primos Tecla Lopes de Carvalho e Luiz Ademar Lopes Muniz pela colaboração em contar a

história de nossa família, aos meus irmãos Luana e Samuel Braun por toda a ajuda.

Aos companheiros do PDT que colaboraram para a construção deste trabalho, em

especial ao Rafael Galvão, Everton Gomes, Osvaldo Maneschy, João Guilherme Paranhos

Micelli, Marcelo Rotenberg, Diogo Nunes, Ione Groff e seu filho Danilo Groff Filho,

Augusto Ribeiro, e à família Hasan Gomes.

Aos amigos e companheiros de ofício da UERJ: Gustavo Rangel, Leandro Gavião,

Vanessa Lopes, Iberê de Oliveira, Adriana Corrêa, Cristiane Lima, Jéssica Gonzaga, Rosane

Barros, Alex Vasconcelos, Tamires Sol, Rose Naiff, André Guimarães, Alessa Passos,

Joseanne do Carmo, Taís Costa, Mauro Sérgio, dentre tantos outros.

Aos queridos Sidnei e Fernando, da Biblioteca CCS/A, e ao Denilson.

Aos que quase não vejo, mas que sempre me incentivaram: Isabel Spitz, Luiz

Henrique Junior, Maria da Conceição Machado e família, Eduardo Riviello, Alcides Nunes

Vieira e família, Jean Santos, Fátima e Karolyne Roberta Chagas.

Ao amigo Ricardo Conolly, por disponibilizar os dados eleitorais de forma

extremamente gentil.

Ao André Ferreira e a todos os colegas do DETRAN/RJ.

Page 5: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

5

À memória da minha avó Floripes do Vale Lopes (1920-

2007), grande incentivadora, que por poucos dias

infelizmente não me viu aprovado no vestibular. A você,

obrigado por tudo.

Ao meu avô, Polybio Galvão Lopes (1909-1982), que,

apesar de não ter conhecido, se torna sempre presente

quando vou ao Ceará e dele ouço falar. Herdei dele, além

da aparência, o gosto pela política e a admiração pela

figura de Leonel de Moura de Brizola.

Page 6: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

6

“Os grandes revolucionários foram sempre

perseguidos durante a vida; a sua doutrina foi

sempre alvo do ódio mais feroz, das mais furiosas

campanhas de mentiras e difamação por parte das

classes dominantes. Mas, depois da sua morte, tenta-

se convertê-los em ídolos inofensivos, canonizá-los

por assim dizer, cercar o seu nome de uma auréola

de glória, para “consolo” das classes oprimidas e

para o seu ludibrio, enquanto se castra a substância

do seu ensinamento revolucionário, embotando-lhe o

gume, aviltando-o”.

Vladimir Lênin,

em O Estado e a Revolução.

Page 7: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

7

As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político

nacional

RESUMO

Neste trabalho é abordada a consolidação de Leonel Brizola no cenário político nacional,

através de sua candidatura à Câmara dos Deputados pelo PTB do antigo estado da Guanabara.

O intuito é saber como e por que Brizola concorreu pela Guanabara, como foi o processo de

campanha eleitoral e a plataforma política adotada, e quais seriam as motivações e objetivos

de sua candidatura.

Palavras-chave: Brizola. Trabalhismo. Guanabara. Reformas de Base. PTB. Eleições de 1962.

Eleições de 1965. Parlamentarismo. Presidencialismo.

Page 8: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

8

Lista de figuras

Figura 1 – Manchete do Correio da Manhã, com instruções sobre como pedir a

impugnação da candidatura de Brizola (06/06/62, capa)........................................................

52

Figura 2 – Manchete da Última Hora sobre a convenção do PTB que escolheu Brizola e

outros candidatos do PTB (03/08/62, capa)............................................................................

52

Figura 3 – Propaganda do PTB veiculada no jornal Última Hora (05/10/62, p. 5)................ 52

Figura 4 – Capa do jornal Última Hora, destacando o último comício da AST, realizado

em Bangu (05/10/62, capa).....................................................................................................

53

Figura 5 – Matéria do jornal A Noite, sobre comício da UDN (06/10/62, p. 3)..................... 53

Figura 6 – Propaganda eleitoral de políticos ligados à UDN, em sua maioria financiados

pelo IPES/IBAD, no jornal A Noite (06/10/62, p. 3)..............................................................

53

Figura 7 – Propagandas de Brizola e outros candidatos da AST, veiculados na Última

Hora (06/10/62, p. 2)...............................................................................................................

54

Figura 8 – Manchete da Última Hora, sobre a iminente vitória dos principais candidatos da

AST (09/10/62, capa)..............................................................................................................

54

Page 9: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

9

Lista de tabelas

Tabela 1 – Resultado das eleições para deputado federal do estado da Guanabara em 1962.... 55

Tabela 2 – Resultado das eleições para deputado estadual da Guanabara em 1962.................. 56

Tabela 3 – Resultado das eleições para vice-governador do estado da Guanabara em1962...... 58

Tabela 4 – Resultado das eleições para senador do estado da Guanabara em 1962.................. 58

Page 10: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

10

Lista de siglas e abreviaturas

ALEG – Assembléia Legislativa do Estado da Guanabara

ALERJ – Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro

AST – Aliança Social Trabalhista (1962)

CDU – Christlich Demokratische Union Deutschlands (União Democrata Cristã da

Alemanha)

ESG – Escola Superior de Guerra

FMP – Frente de Mobilização Popular

FPN – Frente Parlamentar Nacionalista

FP – Frente Popular (1962)

IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática

IPES – Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais

ISEB – Instituto Superior de Estudos Brasileiros

JK – Juscelino Kubitschek

MTR – Movimento Trabalhista Renovador

PCB – Partido Comunista Brasileiro

PDC – Partido Democrata Cristão

PDT – Partido Democrático Trabalhista

PL – Partido Libertador

PR – Partido Republicano

PRP – Partido de Representação Popular

PRT – Partido Republicano Trabalhista

PSB – Partido Socialista Brasileiro

PSD – Partido Social Democrático

PSP – Partido Social Progressista

PST – Partido Social Trabalhista

PTB – Partido Trabalhista Brasileiro

PTN – Partido Trabalhista Nacional

TRE – Tribunal Regional Eleitoral

TSE – Tribunal Superior Eleitoral

UDN – União Democrática Nacional

Page 11: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

11

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 12

CAPÍTULO I – PERFIL PESSOAL E POLÍTICO DE LEONEL BRIZOLA......................... 14

1.1 – Brizola: de Carazinho a Porto Alegre.................................................................. 14

1.2 – O governo Brizola no Rio Grande do Sul (1959-1963)....................................... 15

CAPÍTULO II – A CONJUNTURA POLÍTICA NACIONAL E LOCAL.............................. 20

2.1 – A transferência da capital do Rio de Janeiro para Brasília.................................. 20

2.2 – As primeiras eleições na Guanabara.................................................................... 21

2.3 – Conjuntura nacional: governo parlamentarista de João Goulart.......................... 22

2.4 – O situação do PTB da Guanabara em 1962......................................................... 25

2.5 – Brizola candidato a deputado federal................................................................... 26

CAPÍTULO III – DISPOSITIVOS ELEITORAIS VIGENTES EM 1962.............................. 28

CAPÍTULO IV – COMPOSIÇÃO DAS CHAPAS E ALIANÇAS PARTIDÁRIAS NA

GUANABARA PARA AS ELEIÇÕES DE 1962.................................................................

31

4.1 – Alianças para o Senado e o vice-governo da Guanabara..................................... 31

4.2 – Câmara dos Deputados......................................................................................... 32

4.3 – Assembleia Legislativa........................................................................................ 33

CAPÍTULO V – A CAMPANHA ELEITORAL..................................................................... 36

5.1 – Organização e plataforma da candidatura Brizola............................................... 36

5.2 – Jornais e rádios do estado da Guanabara.............................................................. 36

5.3 – A candidatura Brizola nos meios de comunicação e a influência do

IPES/IBAD............................................................................................................................

38

5.4 – Comícios e eventos de campanha........................................................................ 41

CAPÍTULO VI – RESULTADO DAS ELEIÇÕES................................................................. 43

CONCLUSÃO.......................................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................... 48

FONTES CONSULTADAS..................................................................................................... 50

IMAGENS................................................................................................................................ 51

TABELAS................................................................................................................................. 54

Page 12: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

12

INTRODUÇÃO

Leonel de Moura Brizola (1922-2004) foi uma das personalidades políticas mais

importantes do Brasil no século XX, além de um dos maiores líderes populares de toda nossa

história. Poucos homens tiveram um currículo tão extenso: deputado federal, deputado

estadual, secretário de estado, prefeito, três vezes governador por dois estados diferentes, duas

vezes candidato à presidência da república e uma vez à vice-presidência, fundador e

presidente nacional do PDT e vice-presidente da Internacional Socialista.

Poucos homens também despertaram paixões como Brizola: odiado por muitos,

querido por outros tantos, era ao mesmo tempo, admirado pela população mais humilde e

demonizado pela mídia conservadora. Era uma figura nacional, sendo o Rio de Janeiro e o Rio

Grande do Sul seus principais redutos.

No Rio Grande do Sul, sua terra natal, Brizola começou sua carreira política, chegou

ao governo do estado, ganhou notoriedade no episódio da sucessão de Jânio Quadros, mas foi

no Rio de Janeiro que ele protagonizou importantes acontecimentos políticos do Brasil nos

últimos 40 anos de sua vida.

Em 1982, foi eleito governador do Rio nas primeiras eleições diretas após o golpe em

1964. Em 1990, em seu retorno ao Palácio Guanabara, obteve consagradores 61% dos votos.

Alternou seus mandatos com candidaturas à presidência da república: em 1989, a primeira

eleição presidencial depois de quase 30 anos, ficou em 3º lugar, com mais de 11 milhões de

votos (15,45%). Em 1994, depois de um governo marcado por desgastes com ex-aliados e

com a TV Globo, que enfatizava os problemas de segurança pública em seu governo, Brizola

recebeu pouco mais de 2 milhões de votos (3,18%).

O golpe de 1964, que cassou seu mandato e seus bens, forçou sua fuga do Brasil.

Quando retornou do exílio em 1979, Brizola decidiu recomeçar sua carreira política

exatamente onde ela havia sido interrompida: no Rio de Janeiro. 17 anos antes, ele havia sido

eleito o deputado federal mais votado da história até então, pelo antigo estado da Guanabara,

fato lembrado pelas gerações mais antigas. O histórico de Brizola com o Rio de Janeiro era

antigo, e sua figura permaneceu no imaginário político carioca e fluminense durante décadas.

Ao se candidatar ao governo do estado em 1982, muitos evocaram essa antiga relação,

ressaltando o perfil carismático e combativo de Leonel Brizola. Ao fim da campanha, Brizola

Page 13: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

13

foi eleito, apesar da manobra do voto vinculado e o escândalo do Proconsult,1 com 34,2% dos

votos. Seu novo partido, o PDT, elegeu também 24 de 70 deputados estaduais, 16 de 46

deputados federais, além do único senador, Roberto Saturnino Braga.

Em 1990, retornou ao governo fluminense com mais votos do que todos os outros

candidatos juntos, novamente elegendo boa parte dos deputados federais e estaduais, além do

senador, o professor Darcy Ribeiro.

Ao longo de vários anos, vários de seus aliados e ex-aliados ocuparam cargos

importantes da administração pública a nível estadual e nacional, como Marcello Alencar,

Anthony Garotinho, Cesar Maia, Jamil Haddad, Miro Teixeira, Carlos Lupi, Manoel Dias,

Albuíno Azeredo, Jaime Lerner, Waldir Pires, Alceu Collares, Dante de Oliveira, além da

atual presidenta da República Dilma Rousseff, fundadora do PDT.

Até seu falecimento em 2004, mesmo sem mandato desde 1994, Brizola continuou

sendo figura respeitada, tendo a sua opinião levada em conta em diversas questões, mantendo

sua firmeza de caráter e suas convicções políticas, cercado sempre de muitos amigos e

admiradores. Seu velório, realizado no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, foi um dos

maiores já vistos na história recente do Brasil.

O objetivo deste trabalho é resgatar o momento inicial da trajetória política no Rio de

Janeiro, quando a atual capital fluminense ainda era o estado da Guanabara, recém-criado

após a transferência da capital federal para Brasília. Naquele ano de 1962, além do desafio de

recuperar o espaço perdido para a UDN de Carlos Lacerda e fazer com que o PTB obtivesse

bons resultados eleitorais, Brizola buscava firmar-se como liderança política nacional,

objetivando uma futura candidatura à Presidência da República.

1 Para mais informações sobre as denúncias de fraude e corrupção nas eleições de 1982 no Rio de Janeiro, ver o

livro Plim-Plim: A peleja de Brizola contra a fraude eleitoral, de Paulo Henrique Amorim e Maria Helena

Passos, publicado pela Editora Conrad.

Page 14: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

14

CAPÍTULO I – PERFIL PESSOAL E POLÍTICO DE LEONEL BRIZOLA

1.1 – Brizola: de Carazinho a Porto Alegre

Nascido em 22 de janeiro de 1922, na localidade de Cruzinha, em Carazinho, então

distrito de Passo Fundo, Leonel de Moura Brizola era filho de pequenos agricultores.

Batizado de Itagiba, ainda criança adotou o nome Leonel em homenagem ao revolucionário

Leonel Rocha, líder maragato na Revolução de 1923.2

Seu pai, José Brizola, que lutou ao lado dos maragatos, foi morto em uma emboscada

por forças governistas (chimangos), quando Brizola era ainda bebê. Sua mãe, Oniva, cuidou

de alfabetização de todos os filhos.

Aos 14 anos, saiu de casa rumo à capital, e se matriculou no Instituto Agrícola de

Viamão, concluindo o curso 3 anos depois. Trabalhou como ascensorista, operário em

refinaria de óleo, engraxate, fiscal de moinhos e jardineiro para manter-se em Porto Alegre.

Fez o supletivo de ensino médio no tradicional Colégio Julio de Castilhos, prestou o

serviço militar, e em seguida foi aprovado no vestibular para a Faculdade de Engenharia de

Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Foi ainda na faculdade que Brizola iniciou sua meteórica carreira política. Aproximou-

se dos ideais getulistas, participando da fundação do Partido Trabalhista Brasileiro gaúcho e

da Ala Moça do partido, em 1945.

No mesmo ano, seguindo orientação do ex-presidente Getúlio Vargas, Brizola se

candidatou a uma vaga na Assembléia Legislativa, sendo eleito com 3.839 votos, sendo o 11º

votado de uma bancada de 23 deputados.

Formou-se em 1949, e em 1950 se casou com Neusa Goulart, irmã de seu colega de

bancada, João Goulart. Brizola teve como padrinho de casamento Getúlio Vargas. No mesmo

ano, Brizola foi reeleito deputado estadual, sendo o mais votado do estado, com 16.691 votos.

Devido a sua consagração nas urnas, no ano seguinte foi candidato à prefeitura de Porto

Alegre, perdendo por diferença de apenas 1% dos votos.

2 Para saber mais sobre a Revolução de 1923 e suas causas, ver a dissertação de mestrado de Ledir de Paula

Pereira, da UFRGS, intitulada O positivismo e o liberalismo como base doutrinária das facções políticas

gaúchas na revolução federalista de 1893-1895 e entre maragatos e chimangos em 1923.

Page 15: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

15

Em 1952, assumiu a Secretaria de Obras Públicas do governo Ernesto Dornelles,

iniciando um grande plano de obras no estado. Em 1954, alcançou a maior votação para

deputado federal do Rio Grande do Sul até então (103.003 votos). No ano seguinte, Brizola

conquista a prefeitura de Porto Alegre, derrotando a coligação UDN-PL-PSD, que ele

enfrentou no pleito de 1951.

Já na prefeitura, inicia um grande plano de reestruturação administrativa e financeira

da capital, contemplando também a construção de escolas públicas, principal promessa de

campanha de Brizola: “nenhuma criança sem escola”.

Com apenas 36 anos de idade, Brizola foi eleito governador do Rio Grande do Sul,

derrotando Walter Peracchi Barcellos, da coligação UDN-PL-PSD, com uma diferença de

quase 170 mil votos (670.003 a 500.944).

1.2 – O governo Brizola no Rio Grande do Sul (1959-1963)

Leonel Brizola assumiu o governo do estado em 29 de março de 1959, com o desafio

de colocar em prática seu lema de campanha: educação popular e desenvolvimento

econômico.3 À época, o Rio Grande do Sul sofria com o desequilíbrio de sua balança

comercial na negociação de produtos agrícolas, sua principal fonte de receita, pelos produtos

industrializados, importados dos grandes centros urbanos do país. Isso demonstrava como

estava atrasado seu processo de industrialização. Além disso, o estado recebia poucos

recursos do governo federal.4 Todos esses fatores dificultavam o seu desenvolvimento

econômico, impossibilitando investimentos públicos em infra-estrutura, educação e pesquisa.

No que diz respeito à educação pública, o estado do Rio Grande do Sul sofria, no ano

de 1959, com o déficit calculado de 273.095 vagas. Para resolver tal problema, a idéia de

Brizola foi descentralizar a estrutura da Secretaria de Educação, criando as subsecretarias de

Ensino Primário, Médio e Técnico, e criar, a partir dos dados educacionais existentes, o Plano

de Emergência de Expansão do Ensino Primário. A meta do plano era ambiciosa para a

realidade gaúcha: todas as crianças entre os 7 e os 14 anos matriculadas e a erradicação do

analfabetismo no Rio Grande do Sul.5

3BANDEIRA, 1979, p. 57.

4RUAS, 1986, p. 122.

5BRAGA, 2004, p. 57.

Page 16: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

16

Ao fim de seu governo (1959-1962), Brizola construiu 6.302 estabelecimentos, entre

escolas primárias (5.902), técnicas (278), ginásios, colégios e escolas normais (131). Foram

contratados também de 42.153 novos professores para a rede pública estadual. O resultado foi

a oferta de 688.209 novas vagas nos estabelecimentos de ensino gaúchos.6

Para tanto, foi necessária a parceria entre governo do estado, que fornecia o material

de construção, as prefeituras municipais, que doavam o terreno e o apoio logístico, e a

população, que construía estes estabelecimentos em regime de mutirão. As verbas necessárias

para a execução das obras foi possibilitada através da reserva de 15% do orçamento anual do

estado, além da captação de recursos através da venda de bônus.7

No campo econômico, o estado precisava de dinheiro para realizar os investimentos

necessários nos setores agrícola, de transportes, comunicações, energia elétrica, além de

acelerar a industrialização. Não havia a possibilidade de aumentar a carga tributária, o que

poderia interromper de vez a retomada do desenvolvimento econômico e social do Rio

Grande do Sul.

O governador Brizola criou o gabinete de Planejamento, composto por técnicos e

funcionários públicos, com o intuito de equacionar as finanças do estado, e elaborar

estratégias para o crescimento econômico.

Uma das primeiras realizações foi, ainda em 1959, a criação e venda das Letras do

Tesouro estadual, que possuíam prazos e juros prefixados, com resgate dentro do mandato de

Brizola. Foi criada também a Caixa Econômica Estadual, com o objetivo de captar recursos

para investimentos sociais através das cadernetas de poupança, evitando também que o capital

gaúcho fosse depositado em outros bancos, e esses mesmos recursos fossem enviados e/ou

investidos fora do estado.

Outra iniciativa foi o fortalecimento do Banco do Estado do Rio Grande do Sul

(Banrisul), e a criação, em 1961, juntamente com os estados do Paraná e Santa Catarina, do

Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), instituição existente até a

atualidade, com o objetivo de oferecer microcrédito aos pequenos e médios empresários.

Foi criada a Estrada da Produção (hoje parte da BR-386), ligando as regiões agrícolas do

noroeste do estado aos portos de Rio Grande e de Porto Alegre, para facilitar o escoamento da

produção.

6 BANDEIRA, 1979, p. 59.

7RUAS, 1986, p. 126.

Page 17: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

17

Um grande passo no processo de industrialização do estado foi a criação da empresa

Aços Finos Piratini, empresa de capital misto, mas que possuía controle estatal (51% das

ações). O objetivo era oferecer aço para as indústrias mecânica e automobilística.

Em parceria com a Petrobras, a instalação da Refinaria de Petróleo Alberto Pasqualini

foi iniciada, no município de Canoas. A obra foi concluída somente no ano de 1968. Foi

criada também a Usina Termelétrica de Charqueadas, e a Açúcar Gaúcho AS – AGASA,

criada com o objetivo de oferecer álcool como combustível alternativo à gasolina.

Mesmo após diversos investimentos e projetos nos setores educacional, bancário,

rodoviário, siderúrgico e energético, o Rio Grande do Sul ainda sofria com problemas em dois

setores essenciais: telefonia e energia elétrica.

A energia elétrica era monopólio da Companhia de Energia Elétrica Riograndense

(CEERG), controlada pela norte-americana Eletric Bond and Share, por sua vez criada pela

General Electric (GE). Já os serviços de telefonia e telégrafo eram controlados pela

Companhia Telefônica Riograndense, pertencente à multinacional International Telephone

and Telegraph (ITT).

Devido aos péssimos serviços prestados, e a recusa da CEERG em realizar

investimentos para aumentar a capacidade energética e a oferta do serviço, o governador

Brizola, com autorização do presidente Juscelino Kubitschek, expropriou a filial gaúcha da

Bond and Share, em decreto publicado no Diário Oficial em 13 de maio de 1959. Como a

CEERG devia altas somas de impostos ao governo gaúcho, o único valor pago pela posse da

empresa foi de simbólico 1 cruzeiro, depositado em banco comercial.8

Sobre a Companhia Telefônica Riograndense, Brizola negociou para que parte do

controle acionário da empresa fosse repassada ao governo gaúcho. Depois de dois anos de

conversações sem chegar a acordo algum, Brizola estatizou a companhia e a incorporou à

recém-criada Companhia Riograndense de Telecomunicações, em fevereiro de 1962.9

Tais atitudes de Brizola geraram repercussão negativa por parte da imprensa

conservadora, que passou a rotular o governador gaúcho de comunista e incendiário. As

encampações geraram também desconforto em autoridades brasileiras e norte-americanas.

Mesmo tais ações sendo absolutamente legais, o embaixador norte-americano Lincoln Gordon

colocou a Justiça brasileira sob suspeita, em reunião promovida pelo chanceler brasileiro San

Tiago Dantas, estando presentes também Brizola e o embaixador brasileiro nos EUA Roberto

8 BANDEIRA, 1979,p. 61-62.

9 BRAGA, 2004,p. 54-55.

Page 18: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

18

Campos. Os diretores da ITT também foram chamados para a reunião, sendo, porém, retirados

da sala com a recusa de Brizola em participar da reunião com a presença deles.10

Foi em 1961, porém, que aconteceu o batismo de fogo de Brizola como grande

liderança. Devido às pressões dos grupos conservadores insatisfeitos com suas atitudes

ambíguas, o presidente Janio Quadros renunciou à Presidência no dia 25 de agosto. O

Congresso aceitou sua renúncia, e o vice João Goulart constitucionalmente deveria ser

empossado no cargo. Mas os ministros militares impediram, ameaçando prender Jango, que

estava em missão oficial na China comunista, assim que retornasse ao Brasil.

A partir daí teve início uma crise que causou instabilidade política no Brasil durante

semanas. Brizola, ao suspeitar que Jânio tivesse sido deposto, ofereceu suporte ao ex-

presidente caso quisesse fazer frente ao possível golpe. Ao receber a confirmação da renúncia

de Jânio Quadros, Brizola organizou a resistência ao golpe em gestação, que era dirigido não

a Jânio, mas a Jango.11

Brizola transformou o Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, em quartel general da

resistência. A partir da rádio Guaíba, organizou uma cadeia de cerca de 150 emissoras de

rádio do Brasil e do exterior, a chamada “Cadeia da Legalidade” ou “Rede da Legalidade”

com o intuito de difundir sua pregação legalista e os comunicados sobre a tentativa de golpe

em marcha.12

A população se organizou, recebeu armas, armazenou mantimentos, com a

expectativa de que o pior poderia acontecer.

No decorrer da crise, foram dadas ordens de bombardeio à capital gaúcha por parte do

Marechal Odílio Denys, transmitidas pelo General Orlando Geisel.13

Militares legalistas,

porém, esvaziaram os pneus e desarmaram os aviões que atacariam Porto Alegre,

impossibilitando assim a decolagem da Base Aérea de Canoas.14

No episódio da Legalidade, Brizola recebeu o apoio de Mauro Borges, governador de

Goiás, e de Ney Braga, governador do Paraná, que organizaram também a resistência em seus

respectivos estados.

A adesão mais importante à Legalidade foi a do comandante do III Exército, general

Machado Lopes, que deu a Brizola a garantia de que seus comandados permaneceriam fiéis à

Constituição, não obedecendo às ordens dos ministros militares. Com isso, o Marechal Denys

substituiu Machado Lopes por Oswaldo Cordeiro de Farias no comando do III Exército. A

10

AGUIAR, 2012, p. 68. 11

KUNH, 2004, p. 32-33. 12

FERREIRA, 2005, p. 286. 13

RIBEIRO, [1994?], p. 47. 14

MARKUN, 2001, p. 208-209.

Page 19: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

19

situação se agravou quando Lopes afirmou que Cordeiro de Farias seria preso ao pisar no Rio

Grande do Sul. Cordeiro nunca assumiu efetivamente o comando do III Exército.

Paralelamente à crise militar, o Congresso tentava uma solução política, com a

proposta de emenda constitucional instituindo o sistema de governo parlamentarista,

garantindo assim a posse de Jango na presidência, mas com poderes reduzidos, sendo o

primeiro-ministro escolhido pelo Congresso. Resolvido o impasse, Jango retornou ao Brasil e

tomou posse no dia 7 de setembro, tendo ao seu lado Tancredo Neves como primeiro-

ministro.

Com a decisão de Jango de acatar a escolha do regime parlamentarista, Brizola

encerrou a Rede da Legalidade, e passou a fazer sistemática pregação contra o regime

parlamentarista e pelo retorno ao presidencialismo, através da realização de um plebiscito

nacional.

Page 20: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

20

CAPÍTULO II – A CONJUNTURA POLÍTICA NACIONAL E LOCAL

2.1 – A transferência da capital do Rio de Janeiro para Brasília

O fim dos anos 50 e início dos 60 foi um período de grandes novidades para a cidade

do Rio de Janeiro. Em 1955, o mineiro Juscelino Kubitschek foi eleito presidente pelo PSD,

em chapa formada com o PTB do vice-presidente João Goulart. A sua principal realização no

comando do país foi a construção de Brasília e a transferência da capital da cidade do Rio

para a “Novacap”, que se concretizou em 21 de abril de 1960.

A cidade do Rio, que sempre tinha seu prefeito indicado pelo presidente enquanto

capital federal, criou grandes expectativas em relação ao pleito daquele ano, pois de forma

imediata sofreu com o esvaziamento político e econômico ocasionado pela transferência da

capital.

Com o intuito de amenizar tal ônus, o Rio de Janeiro foi transformado em cidade-

estado, a única do Brasil: o estado da Guanabara. Pelo fato de ser um estado com município

único, a cidade não elegeria um prefeito, nem vereadores. Em seu lugar, seriam escolhidos o

governador e deputados estaduais. Para a Presidência da República, Câmara dos Deputados e

o Senado Federal, a votação seria como em qualquer outro estado.

A exclusividade de município único diferenciaria a cidade do Rio de Janeiro de todas

as outras, colocando-a em evidência no cenário nacional por seu status e sua indiscutível

influência cultural e artística no restante do país. Com a transferência da capital para a

“Novacap”, o Rio de Janeiro continuaria sendo a “Belacap”, palco das decisões políticas mais

importantes do Brasil desde 1763, quando a sede administrativa foi deslocada de Salvador

para ela.

O primeiro teste para a população da Guanabara foi a eleição de 1960, na qual ficou

explícita a insatisfação com a decisão da transferência da capital ao eleger um candidato que

fazia feroz oposição à administração central, “denunciando” o “abandono” e “descaso” das

autoridades federais em relação à cidade do Rio de Janeiro.15

15

MOTTA, 2004, p. 29.

Page 21: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

21

2.2 – As primeiras eleições da Guanabara

Nas primeiras eleições da Guanabara, em 1960, o jornalista Carlos Lacerda, que já

fora vereador e deputado federal, foi eleito governador pela UDN com 357.153 votos.

Lacerda, ex-militante comunista, era ferrenho adversário do ex-presidente Getúlio Vargas e de

seu legado político, representado principalmente pelo PTB.

Na ocasião, Lacerda enfrentou Sérgio Magalhães, membro do chamado “Grupo

Compacto”, que reunia os parlamentares mais radicais do PTB, e Tenório Cavalcanti,

deputado federal pelo vizinho estado do Rio de Janeiro, considerado um político folclórico e

“populista”. Magalhães foi derrotado por uma diferença pequena (pouco mais de 20 mil

votos), ao receber o apoio de 333.901 eleitores. Tenório obteve, pela legenda do PST, pouco

mais de 220 mil votos.

A candidatura de Tenório Cavalcanti foi apontada como principal causa da derrota do

PTB, pois o candidato buscava votos nos mesmos redutos do PTB, principalmente os

subúrbios da Zona Norte e Zona Oeste. Na antiga 12ª zona eleitoral, que englobava Pavuna e

Madureira, Tenório obteve a 2ª colocação, com 32.297 votos, apenas 1.332 votos atrás de

Sérgio Magalhães.

A maior bancada da ALEG era de políticos da UDN. Ainda em 1960, o partido elegeu

9 deputados constituintes, contra 6 do PTB. Somando-se os parlamentares da UDN com os do

PR (2), PDC (1) e PTN (2), que fizeram parte da aliança que elegeu Lacerda, a base

governista era de 14 deputados, de um total de 30.

Nas eleições anteriores, em 1958, quando o Rio de Janeiro ainda era o Distrito

Federal, a UDN elegeu 6 vereadores contra 5 do PTB, de um total de 17. O quadro se repetiu

em Brasília, onde a UDN fez a maior bancada carioca, de 6 deputados. A bancada do PTB era

de 5 deputados, e os outros partidos possuíam 6 cadeiras, de um total de 17.

Além do crescimento da UDN, também contribuiu para o fraco desempenho do PTB o

fortalecimento de pequenas legendas partidárias, como o PRT, PTN e PST, que possuíam em

suas fileiras políticos com boa votação nos mais diversos redutos da Guanabara, e que até

mesmo confundiam o eleitorado por ter a palavra “trabalhista” em seus nomes.

Page 22: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

22

2.3 – Conjuntura nacional: governo parlamentarista de João Goulart

Em 1962, o presidente era João Goulart, que fora reeleito vice-presidente da República

nas eleições de 1960. Na ocasião, o candidato a presidente pela chapa PSD-PTB-PSB-PST-

PRT era o marechal Henrique Teixeira Lott, derrotado pelo candidato do PTN, Jânio Quadros,

apoiado por UDN, PDC, PR e PL.Naquele pleito, Jânio Quadros obteve 48,27% dos votos,

contra 32,93% do general Lott. Concorreu também Adhemar de Barros, pelo PSP, que

conquistou 19,56% dos votos, num universo de 12 milhões e meio de eleitores.

À época, o vice-presidente era escolhido em eleição à parte. João Goulart foi eleito

com 36,1% dos votos, percentual pouco maior que os 33,7% dados ao candidato udenista

Milton Campos. O gaúcho Fernando Ferrari, do MTR, dissidente do PTB, que conquistou

17% dos sufrágios.

Relativamente jovens, Jânio Quadros e João Goulart, que possuíam, respectivamente,

43 e 41 anos, possuíam estilos políticos totalmente antagônicos. Nascido no Mato Grosso do

Sul, Jânio Quadros começou sua meteórica carreira política na cidade de São Paulo. Com 30

anos, se candidatou a vereador pela capital paulistana pelo PDC. Com a cassação do PCB e de

seus parlamentares, Jânio assumiu a vaga na Câmara municipal.

Em 1950, foi eleito deputado estadual com 17.840 votos, o mais votado do estado de

São Paulo. Três anos depois, foi eleito prefeito da cidade de São Paulo, com mais votos que

os outros candidatos juntos. No ano seguinte, se candidatou ao governo do estado, ganhando

do ex-governador Adhemar de Barros por minúscula margem de votos: 660.264 a 641.960

votos. No ano de 1958, ao fim de seu mandato, se candidatou a deputado federal pelo estado

do Paraná, não assumindo a vaga.

Seu perfil era conservador, declaradamente anticomunista, demonstrando forte

influência católica. Utilizava uma linguagem simples, era adepto do chamado “corpo-a-

corpo” com os eleitores, e para demonstrar simplicidade, se mostrava por vezes desleixado

com a aparência.

Foi candidato com apoio de grupos políticos tradicionais, com um discurso

extremamente moralista, prometendo “varrer” a corrupção do Brasil, utilizando como símbolo

de sua campanha uma vassoura.

Page 23: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

23

Do outro lado, estava João Belchior Marques Goulart. Nascido em São Borja, Rio

Grande do Sul, em 191916

. De origem estancieira, assumiu os negócios da família em 1943,

após a morte do pai. Era bem próximo do presidente Getúlio Vargas, e recebeu dele o convite

para ingressar no recém-fundado PTB, em 1945.

Em 1947, foi eleito deputado estadual com 4.150 votos, sendo colega de bancada de

Leonel Brizola e Fernando Ferrari. Em 1950, no mesmo ano em que Getúlio Vargas retornou

à Presidência da República, Jango, como era conhecido, foi eleito com 39.832 votos, sendo o

2º mais votado do partido. No ano seguinte, assumiu a Secretaria de Interior e Justiça do Rio

Grande do Sul, exercendo o cargo até 1953, quando foi escolhido Ministro do Trabalho pelo

presidente Vargas. Na ocasião, Jango já era presidente nacional do PTB.

Assumiu posição a favor dos trabalhadores urbanos, dos institutos de previdência e

dos sindicatos. Devido à grande defasagem do salário mínimo desde o governo de Eurico

Dutra, Jango propôs aumento de 100%, que foi acatado por Vargas. A atitude, porém, gerou

grande reação de setores econômicos e militares conservadores, que culminou com a renúncia

de Jango do cargo, em fevereiro de 1954.

Com o suicídio de Vargas, em agosto de 1954, Jango era a principal liderança do

partido a nível nacional, o que o credenciou como candidato à vice-presidência no ano

seguinte, na chapa de Juscelino Kubitschek, vencedora das eleições daquele ano.

Em 1961, após a posse de Jango e Jânio Quadros, ambos começaram a desagradar os

conservadores. Jânio por iniciar, paralelamente a uma política interna conservadora (proibiu o

uso de biquínis em concursos de beleza, dentre outros), uma política externa independente,

baseada nas idéias de Araújo Castro, Afonso Arinos e San Tiago Dantas.

Na OEA, o Brasil defendeu a política de não-intervenção e de autodeterminação,

principalmente em relação a Cuba comunista. Restabeleceu relações diplomáticas com a

União Soviética e a China, e se aproximou de países do bloco socialista e da África, tendo

nomeado o primeiro embaixador negro da história do Brasil, Raimundo Sousa Dantas, que

exerceu suas funções em Gana.

Já a insatisfação contra Jango era justamente por seu passado e por suas ligações com

grupos sindicalistas e de esquerda, sendo taxado diversas vezes de “comunista” e

“subversivo”.

16

“A maioria dos livros (...) apontam o ano de 1918, mas (...) ele nasceu no dia 1º de março de 1919. A confusão

se deve a uma segunda certidão de nascimento, (...) que (...) acrescentou um ano à idade (...) para que ele

pudesse ingressar na faculdade...” (BRAGA, 2004,p. 19).

Page 24: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

24

A crise se agravou quando Jânio Quadros condecorou o líder revolucionário Ernesto

“Che” Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul, mais alta condecoração da República.

Sofrendo pressões de grupos variados, por parte principalmente da UDN, na figura de Carlos

Lacerda, possuindo baixo apoio no Congresso Nacional e enfrentando críticas de grupos

esquerdistas por sua política de congelamento de salários, Jânio renunciou no dia 25 de agosto

de 1961.

O episódio gerou a crise da sucessão de Jânio, quando a Rede da Legalidade foi

organizada por Brizola com o intuito de impedir o golpe que estava se organizando para

impedir a posse de Jango, e o impasse foi resolvido com a “solução parlamentarista” (o

episódio foi abordado no capítulo 1.2).

Quando Jango assumiu a presidência, setores da esquerda, do movimento estudantil,

sindicatos e subalternos das Forças Armadas iniciaram a campanha pelas chamadas reformas

de base, intervenção do governo nos setores agrário, bancário, administrativo, fiscal, eleitoral

e urbano. Exigiam também o retorno ao regime presidencialista, e criticavam a política de

conciliação de Jango com setores de oposição, representada pela escolha do pessedista

Tancredo Neves como primeiro-ministro do gabinete parlamentarista.17

A crise do parlamentarismo se agravou depois que Tancredo Neves renunciou ao

cargo para concorrer a uma cadeira na Câmara dos Deputados, em 21 de julho de 1962. O

indicado por Jango para ocupar o cargo foi San Tiago Dantas, ministro das Relações

Exteriores. San Tiago, porém, foi rejeitado pela UDN e por parte do PSD.

Em uma tentativa de conciliação, o nome do senador paulista Auro Moura Andrade foi

indicado, sendo aprovado pela Câmara por 222 votos a 51 votos.18

Porém, com a rejeição de

San Tiago e a eleição de Auro, ex-integrante da UDN, setores populares e sindicais

convocaram uma greve geral, com o objetivo de impedir a posse de Auro e a possível

nomeação de um gabinete conservador. Após uma semana de distúrbios, o professor

Francisco de Paula Brochado da Rocha, ex-secretário de Brizola e membro da ala progressista

do PSD, foi escolhido pela Câmara no dia 10 de julho.

Brochado da Rocha, com o apoio dos sindicatos e movimentos de esquerda, enviou

mensagem ao Congresso para marcar a data do plebiscito sobre o sistema de governo para o

dia 7 de outubro, dia das eleições. O plebiscito, porém, foi marcado para 6 de janeiro de 1963,

o que motivou a renúncia de Brochado da Rocha no dia 14 de setembro, causando nova greve

geral.

17

FERREIRA, 2008, p. 21. 18

Jornal do Brasil, 3 de julho de 1962.

Page 25: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

25

Com o fim iminente do sistema parlamentarista, Hermes Lima, escritor e jurista ligado

ao PTB, foi eleito primeiro-ministro do Brasil, com a missão apenas de garantir as eleições do

dia 7 de outubro e o plebiscito no ano seguinte.19

2.4 – A situação do PTB da Guanabara em 1962

O suicídio de Vargas em 1954, aliado à transferência da capital federal para Brasília e

à vitória da UDN em 1960, colaboraram para o enfraquecimento do PTB na Guanabara. Em

1962, o único senador do PTB carioca era o Marechal Aguinaldo Caiado de Castro, que havia

sido chefe do Gabinete Militar do ex-presidente Getúlio Vargas, eleito no pleito de 1954. Os

outros senadores eram Gilberto Marinho, eleito pelo PSD também em 1954, e Afonso Arinos

de Melo Franco, eleito em 1958, pela UDN.

O nome trabalhista que mais se destacava era o de Lutero Vargas, filho de Getúlio,

que fora derrotado para o Senado em 1958. Apesar disso, Lutero não era uma figura de apelo

popular. Não havia, no seio do partido, nenhum nome que pudesse fazer frente ao crescimento

da UDN, que, além de governar um importante estado de federação, dava indícios de que o

próprio Carlos Lacerda poderia ser seu candidato à presidência da república nas eleições de

1965.

Vários membros do PTB da Guanabara começaram a defender a candidatura de algum

ex-governador da sigla à Câmara dos Deputados após verem Juraci Magalhães, então

governador da Bahia, se candidatando ao Senado pela UDN carioca, com o intuito de reforçar

o peso eleitoral da sigla. Um desses membros era José Gomes Talarico20

, eleito 1º suplente de

deputado federal, que assumiu o mandato em diferentes ocasiões.

De acordo com Talarico, ao conversar com o presidente João Goulart sobre a ideia, o

nome sugerido foi o de Parsifal Barroso, então governador do Ceará pelo PTB. A idéia,

porém, não agradou nem a Talarico, nem a Barroso, e a partir daí o nome de Leonel Brizola,

jovem governador do Rio Grande do Sul, começou a ser cogitado dentro do PTB.

19

Jornal do Brasil, 18 de setembro de 1962. 20

As informações de José Gomes Talarico, salvo quando houver outra indicação de fonte, foram extraídas do

livro José Talarico, da Coleção Conversando sobre Política, de 1998, organizado por Américo Freire e

publicado pela FGV.

Page 26: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

26

2.5 – Brizola candidato a deputado federal

Segundo José Gomes Talarico, Brizola já pensava em se candidatar ao legislativo, pelo

estado do Paraná. Além de ser próximo ao Rio Grande do Sul, o estado contava à época com

uma colônia de cerca 100 mil gaúchos, o que poderia contribuir para uma excelente votação

de Brizola naquele estado.

Tal informação é confirmada por matérias como a veiculada ainda em 1961 no

Correio da Manhã, na qual Filisbino Rocha, indicado como coordenador da candidatura de

Leonel Brizola, declarou que dirigentes do PTB paranaense se reuniriam na Guanabara para

tratar da oficialização da candidatura.21

Quando o desejo de que Brizola fosse candidato pela Guanabara começou a ganhar

corpo, alguns dirigentes do PTB defenderam sua candidatura pelo estado de São Paulo, pois

“se se trata de aumentar a bancada trabalhista na Câmara, o governador Leonel Brizola

deveria candidatar-se por São Paulo, onde há um eleitorado quatro ou cinco vezes maior que o

do Rio de Janeiro, possuindo mais da metade dos trabalhadores fabris do Brasil (quase um

milhão e meio), e a influência do PTB é mínima, faltando-lhe uma cabeça de chapa”. A

mesma matéria dizia que Lutero Vargas se reuniria com João Goulart e Leonel Brizola acerca

da decisão sobre onde seria lançada a candidatura.22

Após inúmeros debates e apelos do PTB carioca, mesmo com o PTB paranaense ainda

confirmando sua candidatura a poucos meses das eleições23

, Brizola optou pela Guanabara

após a confirmação por parte de Talarico de que teria amplo apoio de candidatos do partido à

Assembléia Legislativa, já que, além de não conhecer geograficamente o Rio de Janeiro, sua

campanha não contaria uma grande soma de recursos financeiros. A formação das

“dobradinhas” facilitaria a campanha de Brizola entre diferentes setores sociais e regiões do

estado da Guanabara.

Após a promessa de José Talarico de que Brizola teria de “10 a 15 deputados

estaduais” apoiando sua candidatura, Brizola concordou em disputar a vaga na Câmara dos

Deputados pela Guanabara, tendo o respaldo do PTB em diversas instâncias.

21

Correio da Manhã, 4 de agosto de 1961, p. 4. 22

Diário de Notícias, 17 de abril de 1962, p. 4. 23

Última Hora, 16 de março de 1962, p. 4.

Page 27: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

27

Para tal empreitada, não haveria a necessidade de Brizola sair do governo gaúcho, nem

de transferir o domicílio eleitoral para a Guanabara, em virtude dos dispositivos eleitorais

vigentes à época do pleito.

Porém, uma das maiores motivações de Brizola em concorrer pela Guanabara seria a

de disputar o pleito no reduto político de Carlos Lacerda, trazendo novamente ao cenário

político carioca a disputa entre UDN x PTB24

, na cidade que, na condição de ex-capital

federal transformada em cidade-estado, havia optado anos antes pelo projeto político

lacerdista de defesa do Rio de Janeiro como “capital de fato” do Brasil.25

24

MOTTA, 2000, p. 73. 25

Ibidem, p. 44-45.

Page 28: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

28

CAPÍTULO III – DISPOSITIVOS ELEITORAIS VIGENTES EM 1962

Em 1945, ainda durante o Estado Novo, foi decretada a chamada Lei Agamenon

(Decreto-Lei Nº 7.586, de 28 de maio de 1945), elaborada por Agamenon Magalhães,

ministro da Justiça do governo de Getúlio Vargas. Dentre outros pontos, a Lei Agamenon

estabeleceu o Tribunal Superior Eleitoral e os Tribunais Regionais Eleitorais, órgãos

normativos e fiscalizadores do sistema eleitoral brasileiro.

Foi estabelecido através desta lei o sufrágio universal obrigatório, adulto, secreto e

alfabetizado, além do princípio de votação majoritária para a escolha de presidente,

governadores e senadores, e proporcional para a eleição de deputados e senadores.

No que diz respeito aos partidos políticos, a Lei Agamenon instituiu a obrigatoriedade

de partidos em caráter nacional, abolindo os partidos locais, comuns no período da República

Velha (1889-1930), que serviam, em sua maioria, de base às oligarquias estaduais. Para que

um partido político fosse registrado, eram necessárias 10 mil assinaturas em pelo menos 5

estados da federação, sendo que nenhum estado poderia ter menos de 500 assinaturas.

Em relação às candidaturas, o dispositivo era confuso: um mesmo candidato poderia

concorrer por mais de um partido para os cargos disputados pelo voto majoritário (senador,

prefeito, governador e presidente), mas somente por um partido ou coligação para cargos

disputados pelo voto proporcional (deputados federais e estaduais). Além disso, o candidato

poderia concorrer ao mesmo tempo para presidente, senador e deputado federal, num mesmo

estado ou em mais de um. As candidaturas deveriam ser registradas por partidos ou

coligações, sendo proibidas as candidaturas avulsas.

Getúlio Vargas e Luís Carlos Prestes foram exemplos típicos da Lei Agamenon. Nas

eleições de 1945, realizadas após o fim do Estado Novo, o ex-presidente foi eleito senador

pelo PTB em São Paulo e pelo PSD no Rio Grande do Sul, e deputado pelo PTB na Bahia,

Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, pelo antigo Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro),

Rio Grande do Sul e São Paulo. Prestes foi eleito senador pelo PCB no Distrito Federal, e

deputado federal também pelo Distrito Federal, Pernambuco e Rio Grande do Sul.26

Com a

possibilidade da candidatura fora do estado de origem, não houve necessidade de Brizola

transferir o domicílio eleitoral, como a legislação atualmente em vigor exige.

26

Site Eleições Pós-1945, acessado em 10 de fevereiro de 2012.

Page 29: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

29

Em 1950, foi instituído o Código Eleitoral (Lei 1.164, de 24 de julho de 1950), que

aperfeiçoou a Lei Agamenon. Segundo o Código, por exemplo, o registro de candidatos

deveria ser feito até 15 dias antes das eleições. A inscrição eleitoral deveria acontecer de

forma individual, ao contrário da Lei Agamenon, onde poderiam ocorrer inscrições ex-officio,

ou seja, o alistamento eleitoral poderia ser em massa, com empresas e entidades de classe

enviando listagens de funcionários para alistá-los como eleitores, com o objetivo de acelerar o

processo.

Sobre o registro de partidos políticos, o Código Eleitoral estabeleceu as seguintes

regras: para registro, o partido deveria possuir 50 mil assinaturas, em 5 ou mais unidades da

federação, com o mínimo de 1000 assinaturas em cada unidade. O Código também legislava

sobre a Justiça Eleitoral, alistamento eleitoral, o sistema eleitoral, coligações, locais de

votação, o rito da apuração, diplomação, funcionamento dos partidos políticos, propaganda

partidária e uma enorme lista de infrações eleitorais e suas respectivas penas.

Apesar do grande e por vezes confuso dispositivo eleitoral, muitas regras para as

eleições eram modificadas a poucos meses da eleição, e as regras poderiam variar de estado

para estado, de acordo com cada TRE.

Em junho de 1962, o TRE da Guanabara fixou normas para a realização de comícios

em espaços públicos do estado. As reuniões, liberadas a partir do dia 7 de julho, deveriam ser

comunicadas à polícia, “para fins de prioridade, a fim de evitar dualidade de reunião no

mesmo local, com a antecedência mínima de 24 horas”. Entre os locais liberados para

comícios estavam as praças Barão de Drumond, das Nações, Santos Dumont, General Osório,

1º de Maio, Cardeal Arcoverde, Felipe Cardoso, Rio Grande do Norte e o Jardim do Méier.27

Ainda em junho, no dia 27, decisão do TSE desconsiderou a necessidade de

desincompatibilização para os governadores que desejassem concorrer a outros cargos, desde

que a candidatura fosse em outro estado que não o governado.28

Desta forma, Brizola se

candidatou ainda exercendo o cargo de governador do Rio Grande do Sul, tendo sido eleito

deputado federal pela Guanabara no dia 7 de outubro de 1962, e cumprindo o mandato no

governo gaúcho até 25 de março de 1963.No dia seguinte, o alistamento eleitoral para as

eleições de outubro foi encerrado pelo Tribunal Regional Eleitoral da Guanabara.29

No dia 3 de julho, a Câmara dos Deputados aprovou a cédula única e a condições para

propaganda eleitoral nas eleições de outubro. Segundo o projeto, as emissoras de rádio e

27

Última Hora, 13 de junho de 1962, p. 5. 28

Idem, 28 de junho de 1962, p. 4. 29

Última Hora, 29 de junho de 1962, p. 2.

Page 30: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

30

televisão deveriam reservar, diariamente nos 60 dias antes das eleições, o espaço de duas

horas para veiculação de propaganda eleitoral dos diferentes partidos políticos, segundo a

representação nas casas parlamentares. O projeto também regulamentava a admissão e

exoneração de funcionários públicos no período pré e pós-eleitoral, bem como as cores nas

cédulas e o registro de candidaturas, que deveriam ser efetuadas até 45 dias antes da eleição.30

As normas específicas para as eleições gerais de 1962 foram explicitadas na Resolução

Nº 7.018, de 4 de setembro do mesmo ano, com instruções sobre seções eleitorais, lugares de

votação, fiscalização, início e encerramento de votação, além de preenchimento de cédulas e

aplicação de multas.

30

Jornal do Brasil, 4 de julho de 1962, p. 3.

Page 31: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

31

CAPÍTULO IV - COMPOSIÇÃO DAS CHAPAS E ALIANÇAS PARTIDÁRIASNA

GUANABARA PARA AS ELEIÇÕES DE 1962

4.1 – Alianças para o Senado e o vice-governo da Guanabara

De acordo com a legislação, o candidato a vice-presidente e vice-governador eram

eleitos separadamente, podendo ser de partidos diferentes.

O PTB se aliou ao PSB para a disputa eleitoral de outubro para os cargos de deputado

federal, vice-governador e senador, formando a Aliança Social Trabalhista (AST). Para a

ALEG, ambos os partidos concorreram isoladamente. O objetivo da aliança era, além de

fortalecer a esquerda eleitoralmente frente aos partidos ideologicamente opostos, que àquela

altura ganhavam espaço na Guanabara, lutar pela realização do plebiscito sobre o sistema de

governo.

Para concorrer ao cargo de vice-governador, o indicado foi o deputado Eloy Dutra,

que começou a despontar como candidato a poucos meses das eleições.31

Eloy era radialista,

se notabilizando ainda na década de 50 pela defesa de Getúlio Vargas, sendo eleito deputado

federal em 1958 com quase 60 mil votos, o mais votado do PTB.

Para o cargo de vice-governador, Lacerda decidiu apoiar o então presidente da ALEG

Lopo Coelho, do PSD, com dois objetivos claros: o primeiro, de estabelecer aliança com o

PSD, a fim de viabilizar a aprovação de projetos de interesses do governo. O segundo, de

minimizar a polarização ideológica com o PTB, com a escolha de um candidato a vice-

governador considerado neutro.32

A tentativa de Lacerda, porém, falhou após o episódio da

agressão de Lopo Coelho contra Roland Corbisier, intelectual do ISEB e deputado pelo PTB,

no plenário da ALEG. Dirigentes do PSD estavam convencidos de que o objetivo da agressão

era distanciar o partido, dividido em relação a Lacerda, de uma possível aliança com o PTB.33

Desta forma, o PSD se aliou à UDN na disputa pelo cargo de vice-governador do estado.

O candidato a vice-governador pelo minúsculo PL era o jornalista Mário Martins, ex-

deputado federal pela UDN, que oscilava entre a aproximação e o rompimento com Carlos

Lacerda.

31

Última Hora, 8 de junho de 1962, p. 3. 32

MOTTA, 2000, p. 71. 33

Última Hora, 23 de junho de 1962, p. 3.

Page 32: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

32

Para o Senado Federal, o quadro era um pouco diferente. O escolhido pela AST para

concorrer a uma das vagas de senador foi Aurélio Viana, então deputado federal pelo PSB de

Alagoas e integrante da FPN.34

Aurélio era acusado de ser comunista e de ser utilizado pelo

PTB com o objetivo de atrair apoios e votos dos comunistas para a legenda.35

Antes de sua

escolha, outros nomes cotados eram Mourão Filho, que concorreu pelo PST, o acadêmico

Hermes Lima, escolhido Primeiro-Ministro para último gabinete parlamentarista em setembro

de 1962, e o jurista Max da Costa Santos, ex-presidente do Conselho Federal das Caixas

Econômicas durante o governo JK, que decidiu se candidatar à Câmara dos Deputados.

Depois de amplos debates internos sobre o possível apoio do PTB à candidatura ao Senado de

Hugo Ramos, do PSD, no dia 3 de agosto o PTB decidiu que o único candidato seria

Aurélio,36

e também apoiaria informalmente a candidatura de Gilberto Marinho.37

O candidato da UDN, Juraci Magalhães, foi eleito presidente nacional do partido em

1957, e no ano seguinte foi eleito governador da Bahia. Foi revolucionário em 1930, atuando

ao lado de Juarez Távora no comando do movimento no Nordeste. Após o Estado Novo,

passou para a oposição, ajudando a fundar a UDN em 1945. Havia sido ainda presidente da

Companhia Vale do Rio Doce e adido militar brasileiro nos EUA. Por sua grande experiência

e pelo fato de ser uma figura nacional da UDN, se candidatou ao Senado pela Guanabara, com

o objetivo de consolidar o poder do partido no estado e dificultar qualquer tentativa do PTB

em retomar o espaço perdido para Lacerda.

Gilberto Marinho havia sido eleito senador em 1954 pelo PSD, com 260 mil votos.

Pela boa relação que tinha com o governo João Goulart, apesar de ser de perfil conservador e

ter apoio de parte da UDN, Marinho conseguiu o apoio informal do PTB à sua reeleição.

Antônio Mourão Vieira Filho foi escolhido pelo PST como candidato ao Senado

Federal. Mourão Filho era médico e foi eleito vereador mais votado pelo PSP em 1958, tendo

como base os subúrbios da Leopoldina.

4.2 – Câmara dos Deputados

34

MOTTA, 2000, p. 72. 35

A Noite, 4 de agosto de 1962, p. 2. 36

Última Hora, 3 de agosto de 1962, p. 2. 37

FREIRE, 1998, p. 159.

Page 33: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

33

A AST lançou uma forte nominata de candidatos a deputado federal. Constavam

Leonel Brizola, Sérgio Magalhães, Eloy Dutra, Max da Costa Santos, Breno da Silveira (ex-

vereador e deputado federal), Benjamin Farah (deputado federal) e Roland Corbisier. Outros

nomes eram novidades, como Benedito Cerqueira, dirigente sindical dos metalúrgicos e

secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria, e Antonio Garcia

Filho, sargento do Exército e filho de ferroviário, escolhido em convenção por um grupo de

300 a 400 militares das diversas armas, empolgados com as ações de nacionalização e a

pregação das reformas de base feitas por Brizola. A candidatura de Garcia Filho esbarrava na

legislação da época, que não permitia que os praças das Forças Armadas votassem.38

A UDN concorreu sem alianças para a Câmara dos Deputados. Os principais nomes

eram o deputado estadual jornalista Fidelis Amaral Neto, ferrenho anticomunista; o ex-

vereador e deputado federal Adauto Lúcio Cardoso; o jurista Aliomar Baleeiro; o ex-ministro

dos Transportes Maurício Joppert; o deputado federal Eurípedes Cardoso e o ex-senador pelo

então Distrito Federal Hamilton Nogueira.

O PSD e o PST formaram uma coligação, a Frente Popular. Sua lista era bem mais

modesta que as anteriores: Chagas Freitas, dono dos jornais O Dia e A Notícia, ex-aliado do

governador paulista Adhemar de Barros, portanto egresso do PSP; o já deputado federal

Nelson Carneiro e o ex-prefeito do Distrito Federal Ângelo Mendes de Moraes. Era também

candidato pela FP o membro do comitê central do PCB Marco Antonio Coelho, filiado ao

PST.

Pelo PDC, destacavam-se apenas o general Juarez Távora, revolucionário de 1930 que

posteriormente rompeu com Vargas e se alinhou ideologicamente a setores da UDN; e Afonso

Arinos Filho, então deputado estadual eleito pela UDN.

4.3 – Assembleia Legislativa

O número de partidos disputando as eleições para a ALEG era 2 vezes maior que os

que disputavam as vagas para deputado federal: 12 ao todo. Não houve a constituição de

alianças, com todos os partidos disputando isoladamente as 55 vagas.

38

Para saber mais sobre a influência de Brizola em setores nacionalistas e progressistas das Forças Armadas, ver

a dissertação de mestrado de César Rolim, pela UFRGS, intitulada “Leonel Brizola e os setores subalternos das

Forças Armadas brasileiras: 1961-1964”.

Page 34: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

34

UDN e PTB disputaram com força máxima. A UDN apostou na reeleição do radialista

Raul Brunini, da professora Lygia Lessa Bastos, do ex-chefe de polícia Frota Aguiar e do

general conservador Danilo Nunes. Concorreram ainda o médico Raimundo de Brito; os

advogados Vitorino Bartlet James e Nina Ribeiro; o policial militar Édson Guimarães, com

base eleitoral em Anchieta; os dentistas Geraldo Ferraz e Paulo Areal, ex-vereador do Grande

Méier; e o jurista Célio Borja.

Por sua vez, o PTB lançou os jornalistas da Última Hora Saldanha Coelho e Paulo

Alberto de Barros (Artur da Távola) e o líder sindical e dirigente do PCB Hércules Corrêa

como candidatos à reeleição. Eram candidatos o também líder sindical José Gomes Talarico e

a professora Edna Lott, filha do Marechal Henrique Lott, ainda muito prestigiado por setores

nacionalistas das forças armadas e militantes de esquerda. O primeiro havia assumido

algumas vezes o mandato na Câmara dos Deputados, a segunda era candidata pela primeira

vez. Ib Teixeira, outro jornalista da Última Hora, os funcionários públicos Rubens Macedo e

Luiz Corrêa, os advogados José Dutra e Sinval Sampaio, o animador cultural Osvaldo

Sargentelli, o líder negro Abdias Nascimento, o dono de colégio Celso Lisboa e o ex-vereador

Horácio Cardoso Franco reforçavam o time do PTB.

O PST lançou o advogado socialista Sinval Palmeira, a liderança comunista João

Massena Melo, o jornalista Nelson José Salim e o líder comunitário de Bangu Ubaldo de

Oliveira. Era também candidato o advogado Alfredo Tranjan. Pelo PSD, o cirurgião dentista e

também advogado Sami Jorge, o advogado Hugo Ramos e os empresários donos de colégios

Gonzaga da Gama Filho e Miécimo da Silva eram candidatos à reeleição, tendo como

companheiros de chapa Augusto do Amaral Peixoto Júnior, ex-prefeito do Distrito Federal e

irmão do ex-governador Ernani do Amaral Peixoto, cacique do PSD; o advogado José

Bonifácio Diniz de Andrada.

A escritora e colunista social Adalgisa Nery concorria a mais um mandato pelo PSB, e

disputavam pelo mesmo partido o médico Jamil Haddad, o líder sindical de Irajá Pedro

Fernandes Filho, o intelectual Bayard Boiteux e o advogado José Frejat. Pelo PRT, os ex-

vereadores Antonio Luvizaro, líder comunitário de Marechal Hermes, e Manoel Navella, da

região do Catumbi e Rio Comprido, eram acompanhados por João Xavier, médico

proeminente do Engenho de Dentro.

No PDC, os principais nomes eram o diplomata Álvaro Valle, os professores Hélio

Alonso e Gama Lima e o advogado Everardo Magalhães Castro. Pelo PSP, os principais

nomes eram os já deputados Waldemar Viana, líder sindical, e o dentista Levy Miranda

Page 35: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

35

Neves, além do ex-vereador e advogado Rubem Cardoso. Na chapa do PR, o médico espírita

Telêmaco Gonçalves Maia tentava retornar ao Palácio Pedro Ernesto, acompanhado do

advogado Paulo Duque e do general Naldir Laranjeira, que tentava a reeleição.

O PTN lançava o ex-vereador Amando da Fonseca, da Polícia de Vigilância, com

votos na região da Rocinha; o médico Gerson Bergher, candidato à reeleição e votado pela

comunidade judaica e o representante dos espíritas Átila Nunes. José Antonio Cesário de

Melo, da região de Campo Grande e Santa Cruz, e o fiscal de renda e deputado estadual

Silbert Sobrinho eram candidatos pelo PL. O médico João Machado era o principal nome do

MTR.

Page 36: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

36

CAPÍTULO V – A CAMPANHA ELEITORAL

5.1 – Organização e plataforma da candidatura Brizola

Para coordenar sua campanha, Brizola trouxe uma equipe do Rio Grande do Sul,

liderada por Jecy Sarmento, seu oficial de gabinete, que logo centralizou as ações, causando

estranhamento em parte dos aliados.39

Além de José Talarico, vários candidatos a deputado

estadual faziam campanha para Brizola, como Luiz Corrêa, Paulo Alberto de Barros (Artur da

Távola), Sinval Sampaio, dentre outros. O PTB também veiculou anúncios pedindo o voto

para Brizola e Badger da Silveira, candidato do partido ao governo do estado do Rio de

Janeiro, o que gerou confusão nos eleitores daquele estado.40

No fim das eleições, Brizola

ainda recebeu cerca de 60 mil votos no estado do Rio, que tiveram de ser anulados.41

A principal plataforma de campanha era a pregação nacionalista a favor das reformas

de base; pelo plebiscito sobre o sistema de governo, mostrando-se favorável ao

presidencialismo; a Lei de Remessa de Lucros sobre o que Brizola chamava de “perdas

internacionais”, o envio indiscriminado de altas quantias para o exterior; além de denunciar a

tentativa de golpe arquitetado pela UDN e por setores militares contra a posse de João

Goulart, em 1961.

O principal instrumento de comunicação de Brizola durante a campanha foi a Rádio

Mayrink Veiga, além da cobertura do jornal Última Hora, sobre os quais veremos a seguir.

5.2 – Jornais e rádios do estado da Guanabara

Em 1962, a televisão ainda era inacessível para muitos e os canais de TV eram poucos.

Dessa maneira, os jornais e as rádios ainda ocupavam um grande espaço dentre os meios de

comunicação, o que explica seu protagonismo em questões políticas até fins dos anos 1960.

39

FREIRE, 1998, p. 156-157. 40

Última Hora, 5 de outubro de 1962, p. 5. 41

FREIRE, 1998, p. 157.

Page 37: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

37

Na Guanabara, ex-capital federal, o número de jornais era considerável, com destaque

para O Globo, Jornal do Brasil, Última Hora, Tribuna da Imprensa e O Dia. Eram também

órgãos de razoável circulação o Diário de Notícias, o Correio da Manhã e A Noite. Dentre as

rádios, estavam a Nacional, Mayrink Veiga, Tupi e Globo. É preciso, de antemão, conhecer o

histórico e a linha editorial da cada veículo de comunicação para entender seu papel nas

eleições de 1962.

O jornal O Globo e a rádio homônima eram de propriedade da família Marinho, da

qual se destacava Roberto Marinho. Criado em 1925, possuía uma linha política

conservadora, demonstrando esta filiação publicamente ao apoiar, por exemplo, a tentativa de

derrubada de Getúlio Vargas em 1954 e o golpe civil-militar que viria a ocorrer em 1964.

O Jornal do Brasil foi criado em 1891 por Rodolfo Dantas. Em seu início, alternou

entre a defesa da monarquia já deposta e a da república recém-instaurada. Assim como o

concorrente O Globo, o veículo era identificado com o conservadorismo político.

A Última Hora, de 1951, era dirigida pelo jornalista Samuel Wainer. Era o mais

importante jornal de linha esquerdista, fundado com o objetivo principal de defender o

segundo governo de Vargas (1951-1954) dos ataques dos jornais conservadores. Após a morte

de Vargas, manteve a sua linha política, sendo o principal porta-voz da esquerda e dos setores

progressistas e populares da sociedade.

O principal rival da Última Hora era a Tribuna da Imprensa, fundada em 1949 por

Carlos Lacerda. Foi durante o segundo mandato de Vargas o principal órgão de denúncias e

críticas ao governo, chegando em momentos extremos a pregar abertamente o golpe de estado

contra o presidente. Tendia politicamente para o liberal-conservadorismo, tendo em suas

páginas artigos de jornalistas como David Nasser e Amaral Neto.

O jornal O Dia pertencia ao deputado Chagas Freitas, ex-aliado de Adhemar de

Barros. Circulou a partir de 1951. Por ter forte apelo popular, era considerado um veículo da

imprensa marrom. Chagas era sócio juntamente com Adhemar do vespertino A Notícia, de

menor circulação.

O Correio da Manhã começou a circular em 1901, fundado por Edmundo Bittencourt.

Era de linha política liberal, fez forte oposição ao governo Vargas, e não fugia à regra com

João Goulart. O Diário de Notícias, fundado em 1930, era dirigido por Orlando Ribeiro

Dantas. No ano de sua fundação, apoiou a Revolução de outubro liderada por Getúlio Vargas.

A partir de 1932, passou a combater Vargas até sua saída do poder, em 1945. Com a morte de

seu fundador em 1953, a direção do jornal passou à sua viúva Ondina Portela Ribeiro Dantas

Page 38: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

38

e ao seu filho João Ribeiro Dantas, que apoiou a eleição de Jânio Quadros. Sua linha política

era ambígua, apoiando e se opondo ao governo João Goulart em diversos momentos.

A Rádio Nacional, de 1936, foi criada como empresa privada, posteriormente

estatizada por Vargas durante o Estado Novo. Era a principal emissora do país, com a

programação voltada principalmente para a música, jornalismo e entretenimento.

Criada em 1926, a Rádio Mayrink Veiga era líder de audiência nas décadas de 1920 e

1930. Com ela, houve o início da chamada “Era do Rádio” ou “Era de Ouro do Rádio”.

Perdeu o posto de líder com a criação da Rádio Nacional.

Fundada em 1935, a Rádio Tupi era, juntamente com o canal de televisão de mesmo

nome, o principal veículo do maior conglomerado de comunicação da época, os Diários

Associados, de propriedade de Assis Chateaubriand. Chateaubriand era notório defensor do

alinhamento brasileiro ao modelo econômico liberal norte-americano, sendo uma das

principais figuras da emergente burguesia brasileira.

5.3 – A candidatura de Brizola nos meios de comunicação e a influência do IPES/IBAD

Desde as encampações promovidas no Rio Grande do Sul, Brizola passou a ser alvo de

ataques da imprensa, em grande parte conservadora, contrárias às suas ideias e ações. Eram

poucos os órgãos de comunicação onde ele possuía espaço para difundir sua pregação política

e se defender de ataques, e na maioria das vezes os espaços eram pagos.

Um dos órgãos onde Brizola conseguiu espaço foi a Rádio Mayrink Veiga, ao comprar

parte de seu horário. Brizola pedia aos seus simpatizantes, contribuições financeiras para

manter o programa no ar, e denunciava a influência explícita do capital estrangeiro,

principalmente norte-americano, no financiamento de instituições que patrocinavam

campanhas de políticos de diversos partidos, além da compra de grandes espaços nas rádios e

jornais de maior circulação.

Os embates com a imprensa conservadora começaram antes mesmo da oficialização

de sua candidatura. Em junho, o Correio da Manhã publicou em sua capa a manchete

“Eleitores podem impugnar a candidatura de Brizola”, com instruções de como o pedido

deveria ser feito ao TRE da Guanabara. Segundo a matéria, Brizola não poderia se candidatar

à Câmara, pois além de ainda ocupar o governo gaúcho, possuía parentesco de 2º grau com o

Page 39: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

39

presidente João Goulart. O jornal dizia se basear em decisões anteriores do TSE e na

legislação eleitoral da época.42

No mês seguinte, o PTB da Guanabara afirmou que a inelegibilidade de parentes de

até 2º grau do presidente da república não atingiria Brizola, “uma vez que antes da eleição do

Sr. João Goulart já houvera exercido o mandato de deputado. Essa exceção é feita no art. 140

da Constituição, nº 1, letra C”. 43

No dia 19 de agosto, um anúncio no Jornal do Brasil afirmava que Brizola, no dia

anterior, já havia pedido ao PTB o registro de sua candidatura para deputado federal pela

Guanabara. Ainda no dia 19, o jornalista Franklin de Oliveira, do Diário de Notícias, escreveu

o artigo Uma Voz, no qual comparava as trajetórias de Jânio Quadros e Leonel Brizola. Sobre

o primeiro, Franklin falou da decepção, pois os brasileiros haviam nele depositado a confiança

e Jânio, ao invés ver nos “vícios e imoralidades da nossa estrutura social” o cerne dos males

do país, achava que o problema estava “no comportamento dos homens”. Sobre Brizola, o

jornalista fez um balanço sobre seu governo no Rio Grande do Sul, totalmente transformado

após a passagem de Brizola pelo governo, principalmente no que dizia respeito à

infraestrutura, economia, educação e reforma agrária. O artigo enfatizava a liderança jovem e

entusiástica de Brizola, assim concluído:

No Tribunal Regional Eleitoral da Guanabara deu entrada ontem o pedido de

inscrição da candidatura do governador Brizola a deputado federal pela

Belacap.

Os cariocas não vão ganhar apenas mais um paladino para suas causas. A

candidatura do jovem líder gaúcho irrompe como um pólo de atração de

todas as forças progressistas nacionais. E é do solo irredento da Guanabara

que ela prorrompe como uma voz de comando. A que nos estava faltando.44

A visão positiva de Franklin sobre Brizola, porém, era minoritária nos jornais, muitos

deles favorecidos pelas altas quantias vindas das propagandas de candidatos da direita,

principalmente a UDN. O Correio da Manhã continuava divulgando notícias relativas a

pedidos de impugnação contra a candidatura de Brizola, um deles por iniciativa do advogado

Luiz Mendes de Morais Neto, também candidato a deputado federal pelo PDC.45

42

Correio da Manhã, 6 de junho de 1962, p. 1. 43

A Noite, 10 de julho de 1962, p. 2. 44

Diário de Notícias, 19 de agosto de 1962, p. 5 45

Correio da Manhã, 28 de agosto de 1962, p. 6.

Page 40: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

40

No dia 30 de agosto, era publicado anúncio de inauguração do Comitê Central Leonel

Brizola, por iniciativa do deputado federal Miguel Leuzzi, do PTN janista. O Comitê

funcionaria diariamente, das 8h às 22h, no Largo da Lapa, 28, Centro do Rio.46

Leuzzi foi um

dos proprietários da Rádio Mayrink Veiga47

, e nas eleições de 1962 seria eleito suplente do

senador Auro Moura Andrade (PSD-SP), o mesmo que dois anos depois declararia vaga a

Presidência da República após o golpe civil-militar.

Já em setembro, durante a campanha, Brizola fez denúncias de uma tentativa de

suborno de um jornal da Guanabara por grupos econômicos, se dirigindo diretamente contra

Carlos Lacerda, a quem chamou de “figura tétrica”, interessado em um golpe “direitista,

americanista, entreguista e de negociatas”. Brizola fez ainda a ameaça de um levante popular

contra o Congresso Nacional, caso o plebiscito sobre o sistema de governo não fosse fixado.

Lacerda retrucou, afirmando que a resposta às acusações de Brizola deveria ser dada por

Amaral Neto. Pediu ainda uma resposta de João Goulart, e não “de seu cunhado”, dizendo que

não se meteria em “questões de família”. Lacerda também acusou Brizola de golpista e de

“açambarcar arroz”.48

Como governador do Rio Grande do Sul, devido às graves crises de abastecimento da

Guanabara, Brizola enviava o excedente da produção de arroz para o Rio, levantando

acusações por parte de Lacerda de que estaria ele, Brizola, causando a crise do abastecimento,

por ser o estado gaúcho grande produtor agrícola, com o objetivo de denegrir a imagem do

governo da UDN.

Um dos grupos denunciados por Brizola era o IPES – Instituto de Pesquisas e Estudos

Sociais, que surgiu no início de 1962 inicialmente como uma instituição que se proclamava

contra a radicalização política entre direita e esquerda. Logo depois, porém, o IPES montou

uma ampla rede interessada em colher informações sobre a suposta infiltração comunista no

governo Jango, contando com isso com a colaboração de militares reformados e da ativa,

atuando inclusive na ESG. Tais informações seriam repassadas aos oficiais que ocupavam

postos de comando, em todo o país. Somente com o trabalho de propaganda entre as Forças

Armadas, o IPES teria gasto cerca de US$ 200.000.000 a US$ 300.000.00 anualmente, entre

1962 e 1964.49

46

Última Hora, 30 de agosto de 1962, p. 3. 47

LEITE FILHO, 2008, p. 251. 48

Jornal do Brasil, 3 de setembro de 1962, pp. 1-3. 49

BANDEIRA, 1977, p. 66.

Page 41: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

41

Outra importante instituição, que atuava na mesma linha que o IPES, era o IBAD –

Instituto Brasileiro de Ação Democrática, fundado em 1959 por Ivan Hasslocher. Em 1962, o

IBAD arrendou o jornal A Noite, de média circulação na Guanabara, durante 90 dias. Entre as

ações à frente do jornal estavam a propaganda favorável aos candidatos financiados pelo

IBAD e o forte conteúdo anticomunista.

Ambas as instituições recebiam grande parcela de recursos estrangeiros, com o intuito

de financiar o radicalismo político de direita. Entre os doadores em comum estava a Fundação

Konrad Adenauer, ligada à CDU alemã-ocidental. O IBAD recebeu recursos da Texaco,

Shell, Coca Cola, Bayer, GE, IBM, Souza Cruz, Remington Rand, Belgo Mineira, dentre

outras empresa brasileiras, bancos e multinacionais.

No dia 5 de setembro, A Noite, denunciada por Brizola e já sob comando do IBAD,

divulgava nota de que expiraria naquele dia, às 18 horas, o prazo para apresentação de

processos de impugnações contra ele e qualquer outro integrante de sua chapa. Curiosamente,

na mesma página eram veiculados anúncios das candidaturas de Juarez Távora, Dioclécio

Duarte, Menezes Côrtes, Raymundo Padilha, Edilberto de Castro e Raul Brunini, candidatos

apoiados pelo IBAD.

No dia 14 do mesmo mês, por ordem do TRE carioca, tropas da polícia foram

enviadas à Mayrink Veiga para coibir a “divulgação de propaganda subversiva”. Quando a

polícia chegou à rádio, porém, tropas do I Exército, liderado pelo General Osvino Ferreira

Alves, militar nacionalista, impediram seu acesso. Tal episódio, classificado como

“intervenção de fato” pelo TRE, foi mais um capítulo das tensões entre o Governo Federal e o

Governo da Guanabara, liderado por Carlos Lacerda.50

O objetivo era claro: coibir os

pronunciamentos de Brizola na rádio, principal instrumento de sua campanha.

5.4 – Comícios e eventos de campanha

Antes mesmo da oficialização de sua candidatura, Brizola já participava de diversos

congressos, manifestações cívicas e protestos, muitos deles organizados por sindicatos ou

setores políticos ligados ao PTB. Um exemplo foi o II Congresso Nacional da Liga Nacional

50

Jornal do Brasil, 18 de setembro de 1962, p. 3.

Page 42: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

42

da Mocidade Trabalhista, realizada em junho no Palácio Tiradentes, da qual Brizola

participou como principal atração.51

Apesar disso, foram poucos os eventos políticos de sua campanha dos quais Brizola de

fato participou, colaborando para isso o fato de ainda governar o Rio Grande do Sul, além de

ter de cuidar de seus três filhos pequenos. Talvez o maior deles tenha sido o chamado

Comício da Independência, realizado no dia 7 de setembro no Largo do Machado, Zona Sul

da Guanabara. Brizola chegou à praça às 20:20h, carregado pelos populares. O

acompanhavam na tribuna Aurélio Viana, Eloy Dutra, Sergio Magalhães e o líder sindical

Osvaldo Pacheco, presidente da União dos Portuários do Brasil. O tema foi quase unânime: o

retorno do sistema presidencialista e a as reformas de base. No fim do comício, Brizola foi

carregado pelo público, retornando logo após para Porto Alegre.52

Outro grande comício foi o último, realizado no dia 5 de outubro, em Bangu, Zona

Oeste. Cerca de 20 mil pessoas participaram do evento, que reuniu candidatos da AST na

Praça Primeiro de Maio. Entre as falas, denúncias contra o governo Lacerda, pregações a

favor das reformas de base, do presidencialismo, além de homenagens prestadas por

sindicatos, artistas e populares.53

Os comícios foram um grande instrumento da AST na promoção da candidatura de

Brizola, pois, mesmo impossibilitado de ir à Guanabara fazer campanha, os candidatos da

coligação falavam em seu nome e a ele sempre faziam referências. Além disso, os jornais

conservadores faziam questão de sempre manter o nome de Brizola de forma negativa nos

noticiários, o que acabou gerando efeito contrário.

51

Última Hora, 29 de junho de 1962, p. 3 52

Idem, 7 de setembro de 1962, p. 2. 53

Idem, 5 de outubro de 1962, p. 2.

Page 43: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

43

CAPÍTULO VI – RESULTADO DAS ELEIÇÕES

No dia 7 de outubro, as eleições gerais de 1962 foram realizadas. Ainda no dia anterior

ao do pleito, o advogado Luiz Mendes de Morais Neto continuou sua tentativa de impedir a

candidatura de Brizola, desta vez entrando com recurso contra a decisão do TRE que não

aceitou seu pedido inicial de impugnação. Nos jornais, declarações do Ministro da Guerra,

General Amaury Kruel, de que as eleições seriam livres e tranqüilas.

A Última Hora divulgou, no dia seguinte ao das eleições, pesquisas do IBOPE

apontando a vitória dos candidatos Eloy Dutra e Aurélio Viana, e dando como certa a boa

votação de Brizola e da legenda do PTB. Já no dia 9, com apenas 195 urnas apuradas, Brizola

já tinha quase 6 mil votos, enquanto o segundo colocado, Amaral Neto, aparecia com pouco

mais de 2 mil. No dia 11, o mesmo jornal já divulgava Brizola com 61.214 votos.

Com a iminente vitória, Eloy Dutra demonstrou que acumularia os mandatos de vice-

governador e deputado federal em Brasília, afirmando que já existia um precedente na

Câmara, do deputado Paulo de Tarso, “prefeito de Brasília”. Tal idéia de Eloy provocou a ira

da UDN, que ameaçou ir à justiça para impedir.54

Poucos dias depois, o TRE declarou

formalmente que diplomaria Eloy nos dois cargos.55

Já admitindo a derrota, A Noite mudava o foco dos noticiários, pouco falando da

apuração que ainda ocorria. No dia 9, entre sua manchetes estavam “DESORDENS NA

RÚSSIA POR FALTA DE COMIDA” e “JORNAL ITALIANO CLASSIFICA BRIZOLA

“FIDEL DO BRASIL””.

No dia 16 de outubro, a Última Hora anunciava: “BRIZOLA BATE RECORDE DE

PREFERÊNCIA POPULAR NA GB: 236 MIL VOTOS CONTADOS ATÉ ESTA

MADRUGADA”.

No dia 19, a apuração estava praticamente encerrada. O resultado final foi totalmente

favorável ao PTB: o partido elegeu o vice-governador Eloy Dutra (484.842 votos), derrotando

o governista Lopo Coelho, que obteve 402.292 votos, uma diferença de apenas 8,08 %

(49,83% contra 41,35%). O candidato do Partido Libertador, Mário Martins, teve apenas

39.998 votos. Em 1960, Carlos Lacerda foi eleito governador com 357 mil votos, diferença

apertada contra Sérgio Magalhães, que teve quase 334 mil votos. Tenório veio logo atrás, com

222.942 votos.

54

Última Hora, 12 de outubro de 1962. 55

Idem, 18 de outubro de 1962.

Page 44: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

44

Para o Senado Federal, a vitória foi dupla: Aurélio Viana foi eleito senador com quase

25% dos votos (509.979). Gilberto Marinho, do aliado PTN, obteve 431.284 votos (21,09%

dos votos). Logo atrás, veio o candidato udenista Juraci Magalhães, com 371.892 (18,19%).

Nas eleições anteriores, o eleito havia sido Afonso Arinos (UDN), que obteve 397.466 votos.

Na ocasião, o candidato petebista era Lutero Vargas, com quase 320 mil votos.

Na votação para a Assembléia Legislativa da Guanabara, a presença do PTB ficou

visível: em 1960, o partido elegeu 6 deputados de um total de 30. Em 1962, o PTB elegeu 13

deputados, porém houve um aumento para 55 vagas na ALEG. A UDN conquistou 14 das 55

cadeiras, e o PSD ficou com apenas 4 cadeiras, mesmo número do PST. O PSB alcançou 3

cadeiras, e as outras legendas menores conseguiram juntas 17 cadeiras.

Em comparação com a eleição anterior, de 1960, a votação do PTB aumentou de

177.583 para 190.034 votos. Já a UDN caiu de 250.474 votos para 204.594 votos. A pior

queda foi a do PSD: de 134 mil para pouco mais de 57 mil em 1962. Com a bancada da

ALEG quase dobrando de uma eleição para a outra, o PSD manteve o mesmo número de

assentos.

A vitória avassaladora do PTB, porém, ficou reservada para a Câmara dos Deputados:

em 1958, foram eleitos 5 deputados federais pelo partido, de um total de 17. Quatro anos

depois, quando a bancada federal da Guanabara aumentou 4 cadeiras, o PTB dobrou o número

de eleitos, levando mais 1 deputado do coligado PSB.

Mesmo tendo o vice-governador, o principal nome da eleição na Guanabara não

poderia ser outro: Leonel Brizola. Do alto dos seus 269.384 votos (em torno de 26% dos

votos), ele teve mais da metade de todos os votos da coligação do PTB com o PSB, e com um

quociente eleitoral de 46.129 votos, levou consigo 8 candidatos da AST. Dentre eles, Breno

da Silveira, o único do PSB, eleito com 8.801 votos, e Benedito Cerqueira, o eleito menos

votado da coligação, com 3.527 votos. Em termos de comparação, Hamilton de Lacerda, o

último da lista da UDN, foi eleito com 7.334 votos.

Para ter noção da votação expressiva de Brizola, é como se pouco mais de 1/4 dos

cariocas tivessem votado nele. O segundo deputado mais votado foi o udenista Amaral Neto,

com 123.383 votos, com menos da metade dos votos de Brizola. No total de votos, o PTB

alcançou 428.879 votos para a Câmara (em 1958, foram 252 mil votos), contra 259.206 da

UDN (na eleição anterior, foram quase 280 mil), 119.841 da Frente Popular, e apenas 54.031

votos do PDC, que elegeu somente 1 deputado.

Page 45: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

45

Dentre os deputados estaduais eleitos pelo PTB, estavam Artur da Távola, Hércules

Corrêa, José Gomes Talarico, Ib Teixeira e Edna Lott. Pela UDN, figuravam nomes como

Raul Brunini, Nina Ribeiro, Vitorino James, Ligia Lessa Bastos, e o mais votado, Danilo

Nunes.

Pelo diminuto PSD, os quatro eleitos foram Augusto do Amaral Peixoto Júnior, José

Bonifácio, Gonzaga da Gama Filho e Miécimo da Silva. O PSB elegeu três: Adalgisa Néri,

Pedro Fernandes e Jamil Haddad. No PST se destacou Sinval Palmeira, e no PSP, Levy

Miranda Neves. No PRT, Antônio Luvizaro foi o mais votado. O MTR elegeu apenas um

deputado, João Machado. Destacaram-se ainda Paulo Duque e Telêmaco Gonçalves Maia

pelo PR; José Antônio Cesário de Melo e Silbert Sobrinho, pelo PL; Álvaro Valle, pelo PDC;

e Gerson Bergher, do PTN.

Na Câmara dos Deputados, a representatividade partidária caiu de 12 para 6 partidos.

Além de Brizola, alguns dos eleitos pela AST foram Sérgio Magalhães, Eloy Dutra, Antonio

Garcia Filho, Benjamin Farah, Max da Costa Santos e Breno da Silveira, estes dois últimos do

PSB.

Pela UDN, figuravam, além de Amaral Neto, os eleitos Adauto Lúcio Cardoso,

Aliomar Baleeiro, Hamilton Nogueira. Pela Frente Popular, Chagas Freitas e Nelson

Carneiro. Juarez Távora foi o único eleito pelo PDC. Ainda pelo PDC, o advogado Luiz

Mendes de Morais Neto, o mesmo que tentou impugnar a candidatura de Brizola, obteve

meros 545 votos, suficientes apenas para deixá-lo na 7ª suplência de seu partido.

Alguns dos candidatos de maior expressão que não conseguiram se eleger foram

Osvaldo Sargentelli, Bayard Boiteux, José Frejat, Roland Corbisier, Abdias do Nascimento,

Maurício Joppert, Ângelo Mendes de Moraes, dentre outros.

Page 46: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

46

CONCLUSÃO

Brizola foi o grande vencedor das eleições de 1962. Recebeu 269 mil votos, passando

a ser o deputado federal mais votado do Brasil até então, e o mais votado proporcionalmente

até os dias de hoje. Apenas em 2010, quase 50 anos depois, o deputado federal José Antônio

Reguffe, curiosamente filiado ao PDT, se aproximou da votação recorde alcançada por

Brizola: 18,95% no Distrito Federal, equivalentes a 266.465 votos.

Com a repercussão de sua votação e o excelente desempenho eleitoral do PTB da

Guanabara, Brizola conseguiu o que almejava: entrar de vez para o rol de lideranças políticas

do país que possuíam capacidade de mobilizar a população e conseguir boas votações.

Dono de um carisma e oratória invejáveis, Brizola ocupou palanques e rádios em

busca de seu eleitorado e da consequente legitimação que ele deveria ter para alcançar postos

mais altos dentro do poder, para assim colocar em prática sua pregação política.

Brizola, ao se candidatar a deputado federal pela Guanabara, aceitou dois desafios: o

primeiro era o de obter uma boa votação. O segundo, derrotar a UDN dentro de seu “quintal”.

Brizola não só alcançou votação recorde, mas ajudou a eleger o vice-governador do estado e

um dos senadores. A UDN, que apostava no eleitorado da Guanabara visando 1965, viu

Carlos Lacerda ter uma derrota humilhante no estado que ela mesma, a UDN, lutou pela

criação.

Brizola também se consolidou dentro do PTB, fazendo frente ao grupo de Jango, até

então hegemônico no partido após a morte de Vargas em 1954. Brizola deixava claro suas

discordâncias políticas com o presidente desde a aceitação por parte de Jango da “solução

parlamentarista” para a crise de 1961. Sua distância com as posturas “conciliadoras” de Jango

ficou explícita no slogan “Cunhado não é parente, Brizola presidente”, repetido entre os

brizolistas que sonhavam com sua candidatura à presidência. Cabe ressaltar que João Goulart

se manteve distante do processo eleitoral da Guanabara.

Outro fator importante foi o de Brizola ter conquistado o voto na cidade do Rio de

Janeiro, um eleitorado considerado altamente consciente e politizado. Como dito

anteriormente, mesmo não sendo mais a capital do país, o Rio de Janeiro, até os dias atuais,

exerce grande influência no Brasil, principalmente social e política.

Brizola se firmou de vez como liderança política nacional, credenciando-se assim

como potencial candidato a presidente da república em 1965, apesar das restrições legais à sua

Page 47: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

47

candidatura. Dentre os candidatos que explicitavam a intenção de se candidatar à presidência

em 1965 estavam Juscelino Kubitschek, pelo PSD, que desde o fim de seu mandato em 1961

planejava seu retorno ao cargo; Carlos Lacerda, governador da Guanabara pela UDN,

enfraquecido pela vitória do PTB em seu reduto; Magalhães Pinto, governador de Minas

Gerais, também da UDN, político hábil que possuía a fama de conciliador; Adhemar de

Barros, o “eterno candidato”, eleito governador de São Paulo pelo PSP em 1962.

Na esquerda, além de Brizola, despontava Miguel Arraes, governador de Pernambuco,

que, embora filiado ao PSP adhemarista, era um político alinhado com idéias mais

progressistas. Cabe ressaltar, também, que Brizola não era unanimidade dentro do campo da

esquerda, pois era acusado de ser uma figura demagoga, desagregadora e ambiciosa, capaz de

colocar em risco até o governo de seu cunhado, com o intuito de favorecer suas ambições

pessoais.56

As tão sonhadas eleições presidenciais de 1965, porém, não ocorreram. O golpe civil-

militar ocorrido em abril de 1964 derrubou o governo de João Goulart, cassando também as

principais lideranças da esquerda, como Brizola, Miguel Arraes, Francisco Julião, Luís Carlos

Prestes, Neiva Moreira, Gregório Bezerra, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, além de Jânio

Quadros e Juscelino Kubitschek.

Brizola nunca escondeu sua vontade de ser presidente do Brasil, pois mesmo após 15

anos de exílio e 21 anos de ditadura, conseguiu manter sua posição de protagonista no cenário

político nacional, se elegendo governador do Rio de Janeiro em duas oportunidades (1982 e

1990), além de se candidatar à presidência em 1989 e 1994 e à vice-presidência na chapa de

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 1998, sendo derrotado em todas elas. Até o fim de sua

vida, era este o principal objetivo político de Leonel Brizola, fato que não se concretizou.

56

Essa era a opinião de lideranças da década de 60 como Sérgio Magalhães, Marcello Cerqueira e Hércules

Corrêa, exposta no livro A esquerda e o golpe de 64, de Dênis de Moraes, publicado pela Editora Espaço e

Tempo.

Page 48: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A HISTÓRICA mensagem do presidente João Goulart. [S. l]: [S. n.], [19--]. 14 p. Autor

desconhecido.

AGUIAR, Leonardo Andrade. Brizola – Política e Legalidade. 1ª edição. Rio de Janeiro:

Livre Expressão, 2012. 466 p.

AMORIM, Paulo Henrique; PASSOS, Maria Helena. Plim-plim: a peleja de Brizola contra a

fraude eleitoral. 1ª edição. São Paulo: Conrad, 2005. 230 p.

BANDEIRA, Moniz. Brizola e o Trabalhismo. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1979. 205 p.

______. O governo João Goulart – As lutas sociais no Brasil, 1961-1964. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 1977. 187 p.

BRAGA, Kenny (Coord.) et alii. Leonel Brizola: perfil, discursos e depoimentos (1922-2004).

1ª edição. Porto Alegre: Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, 2004. 626 p.

______. João Goulart: perfil, discursos e depoimentos (1919-1976). 1ª edição. Porto Alegre

Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, 2004. 280 p.

CARRION JR. Brizola: momentos de decisão. Porto Alegre: L&PM Editores, 1989. 75 p.

FALCON, Francisco. História e Poder. In. CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS,

Ronaldo. Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus,

1997.

FAUSTO, Boris (org.). História Geral da Civilização Brasileira.Tomo III. O Brasil

Republicano, 10 volume: Sociedade e Política (1945-1964). Rio de Janeiro: Editora Bertrand

Brasil, 4ª edição, 1990.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio: o dicionário da língua portuguesa.

Curitiba: Editora Positivo, 2008. 544 p.

FERREIRA, Jorge. O imaginário trabalhista: getulismo, PTB e cultura política popular

1945-1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. 390 p.

FERREIRA, Marieta de Moraes (Org.). A força do povo: Brizola e o Rio de Janeiro. Rio de

Janeiro: ALERJ, CPDOC/FGV, 2008. 228 p.

Page 49: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

49

FREIRE, Américo (Coord.). José Talarico. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1998.

GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1985. 244 p.

KUHN, Dione. Brizola: da legalidade ao exílio. Porto Alegre: RBS Publicações, 2004. 136 p.

LEITE FILHO, FC. El Caudillo – Leonel Brizola: um perfil bibliográfico. 1ª edição. São

Paulo: Aquariana, 2008. 544 p.

MARKUN, Paulo; HAMILTON, Duda. 1961: que as armas não falem. 1ª ed. São Paulo:

SENAC, 2001. 416 p.

MORAES, Dênis de. A esquerda e o golpe de 64. 2ª ed. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo,

1989. 379 p.

MOTTA, Marly; FREIRE, Américo; SARMENTO, Carlos Eduardo. A política carioca em

quatro tempos. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.

MOTTA, Marly. Saudades da Guanabara: o campo político da cidade do Rio de Janeiro

(1960-1975). 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000. 164 p.

PEREIRA, Ledir de Paula. O positivismo e o liberalismo como base doutrinária das facções

políticas gaúchas na Revolução Federalista de 1893-1895 e entre maragatos e chimangos de

1923. Dissertação (Mestrado em Ciência Política). Porto Alegre: UFRGS, 2006.

RIBEIRO, Darcy. Nossa herança política. [S. l.]: PDT, [1994?]. 61 p.

ROLIM, César Daniel de A. Leonel Brizola e os setores subalternos das Forças Armadas

Brasileiras: 1961-1964. Dissertação (Mestrado em História). Porto Alegre: UFRGS, 2009.

RUAS, Miriam Diehl. A doutrina trabalhista no Brasil (1945/1964). 1ª edição. Porto Alegre:

Sergio Antonio Fabris Editor, 1986. 160 p.

SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio a Castello (1930-1964). 1ª ed. São Paulo:

Companhia das Letras, 2010. 472 p.

SOUZA, Maria do Carmo Campello de. Estado e partidos políticos no Brasil (1930 a 1946).

São Paulo: Alfa-Ômega, 1976. 178 p.

Page 50: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

50

FONTES CONSULTADAS

JORNAIS

A Noite, Rio de Janeiro, 4 de agosto de 1962.

A Noite, Rio de Janeiro, 10 de julho de 1962.

A Noite, Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1962.

Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 4 de agosto de 1961.

Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 6 de junho de 1962.

Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 28 de agosto de 1962.

Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 17 de abril de 1962.

Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 19 de agosto de 1962.

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 3 de julho de 1962.

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 4 de julho de 1962.

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 3 de setembro de 1962.

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 18 de setembro de 1962.

Última Hora, Rio de Janeiro, 16 de março de 1962.

Última Hora, Rio de Janeiro, 8 de junho de 1962.

Última Hora, Rio de Janeiro, 13 de junho de 1962.

Última Hora, Rio de Janeiro, 23 de junho de 1962.

Última Hora, Rio de Janeiro, 28 de junho de 1962.

Última Hora, Rio de Janeiro, 29 de junho de 1962.

Última Hora, Rio de Janeiro, 3 de agosto de 1962.

Última Hora, Rio de Janeiro, 30 de agosto de 1962.

Última Hora, Rio de Janeiro, 7 de setembro de 1962.

Última Hora, Rio de Janeiro, 5 de outubro de 1962.

Última Hora, Rio de Janeiro, 12 de outubro de 1962.

Última Hora, Rio de Janeiro, 18 de outubro de 1962.

SITES

ASSEMBLÉIA Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em

<www.alerj.rj.gov.br> Acesso em: 19 de março de 2013.

CÂMARA dos Deputados. Disponível em <www.camara.gov.br> Acesso em: 20 de agosto

de 2012.

ELEIÇÕES pós-1945. Disponível em <www.eleicoespos1945.com> Acesso em: 5 de abril de

2012.

TRIBUNAL Regional Eleitoral do Rio de Janeiro. Disponível em <www.tre-rj.gov.br>

Acesso em: 20 de março de 2013

TRIBUNAL Superior Eleitoral. Disponível em <www.tse.gov.br> Acesso em: 12 de agosto

de 2012.

Page 51: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

51

IMAGENS

Figura 1 – Manchete do Correio da Manhã, com instruções sobre como pedir a impugnação da

candidatura de Brizola (06/06/62, capa).

Figura 2 – Manchete da Última Hora sobre a convenção do PTB que escolheu Brizola e outros candidatos

do PTB (03/08/62, capa).

Figura 3 – Propaganda do PTB veiculada no jornal Última Hora (05/10/62, p. 5).

Page 52: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

52

Figura 4 – Capa do jornal Última Hora, destacando o último comício da AST, realizado em Bangu

(05/10/62, capa).

Figura 5 – Matéria do jornal A Noite, sobre comício da UDN (06/10/62, p. 3).

Figura 6 – Propaganda eleitoral de políticos ligados à UDN, em sua maioria financiada pelo IPES/IBAD,

no jornal A Noite (06/10/62, p. 3).

Page 53: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

53

Figura 7 – Propagandas de Brizola e outros candidatos da AST, veiculados na Última Hora (06/10/62, p.

2).

Figura 8 – Manchete da Última Hora, sobre a iminente vitória dos principais candidatos da AST (09/10/62,

capa).

Page 54: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

54

TABELAS

Tabela 1 – Resultado das eleições para deputado federal do estado da Guanabara em

1962

Candidato Partido Votos % #

Leonel de Moura Brizola AST (PTB/PSB) 269.384 26,35 1

Fidelis dos Santos Amaral Neto UDN 123.383 12,07 2

Antônio de Pádua Chagas Freitas FP (PSD/PST) 56.657 5,54 3

Sérgio de Moura Magalhães

Junior AST (PTB/PSB) 47.570 4,65 4

Juarez do Nascimento Távora PDC 33.461 3,27 5

Elói Ângelo Coutinho Dutra AST (PTB/PSB) 30.614 2,99 6

Marco Antônio Tavares Coelho FP (PSD/PST) 21.300 2,08 7

Adauto Lúcio Cardoso UDN 18.625 1,82 8

Eurípedes Cardoso de Menezes UDN 17.669 1,72 9

Antônio Garcia Filho AST (PTB/PSB) 16.510 1,61 10

Aliomar Baleeiro UDN 13.835 1,35 11

Waldir Melo Simões AST (PTB/PSB) 12.196 1,19 12

Arnaldo de Castro Nogueira UDN 11.497 1,12 13

Nelson de Souza Carneiro FP (PSD/PST) 11.095 1,08 14

Benjamin Miguel Farah AST (PTB/PSB) 9.802 0,95 15

Breno Dália da Silveira AST (PTB/PSB) 8.801 0,86 16

Hamilton de Lacerda Nogueira UDN 7.334 0,71 17

Max José da Costa Santos AST (PTB/PSB) 5.758 0,56 18

Rubens Berardo Carneiro da

Cunha AST (PTB/PSB) 3.896 0,38 19

Jamil Amiden AST (PTB/PSB) 3.588 0,35 20

Benedito Cerqueira AST (PTB/PSB) 3.527 0,34 21

Votos AST (PTB/PSB) 428.979 votos 11 cadeiras

Votos UDN 259.206 votos 6 cadeiras

Votos FP (PSD/PST) 119.841 votos 3 cadeiras

Votos PDC 54.031 votos 1 cadeira

TOTAL: 21 cadeiras

Quociente eleitoral 46.129 votos

Votos nominais/legenda 862.057

Votos brancos 106.645

Votos nulos 53.515

TOTAL: 1.022.217

Page 55: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

55

Tabela 2 – Resultado das eleições para deputado estadual da Guanabara em 1962

Candidato Partido Votos % #

Danilo da Cunha Nunes UDN 51.226 5,01 1

Raul Brunini Filho UDN 48.433 4,73 2

José Saldanha da Gama Coelho Pinto PTB 40.019 3,91 3

Paulo Alberto Monteiro de Barros (Artur da

Távola) PTB 21.130 2,06 4

Raimundo de Moura Brito UDN 16.429 1,60 5

Hércules Corrêa dos Reis PTB 13.273 1,29 6

Lígia Maria Lessa Bastos UDN 11.961 1,17 7

Sinval Palmeira Vieira PST 8.938 0,87 8

Luiz Gonzaga Prado Ferreira da Gama Filho PSD 8.787 0,85 9

João Massena Melo PST 8.149 0,79 10

José Gomes Talarico PTB 7.855 0,76 11

Adalgisa Néri PSB 7.813 0,76 12

Edson Teixeira Guimarães UDN 7.551 0,73 13

Edna Marília Lott de Morais Costa PTB 7.256 0,70 14

Velinda Maurício da Fonseca PTB 6.909 0,67 15

Amando da Fonseca PTN 6.900 0,67 16

Álvaro Bastos Valle PDC 6.551 0,64 17

José Vitorino Bartlet Monteiro James UDN 6.434 0,62 18

Geraldo Moreira PTB 6.124 0,59 19

Ib Teixeira PTB 6.056 0,59 20

Waldemar Viana de Carvalho PSP 5.829 0,57 21

Augusto do Amaral Peixoto Júnior PSD 5.617 0,54 22

Francisco da Gama Lima Filho PDC 5.614 0,54 23

Rubens Cardoso de Macedo PTB 5.363 0,52 24

Naldir Laranjeira Batista PR 5.356 0,52 25

Antônio Frederico Luvizaro PRT 5.338 0,52 26

Anésio Frota Aguiar UDN 5.325 0,52 27

Geraldo de Oliveira Ferraz UDN 5.219 0,51 28

Miécimo da Silva PSD 4.863 0,47 29

José Bonifácio Diniz de Andrada PSD 4.770 0,46 30

Jamil Haddad PSB 4.750 0,46 31

Levi Miranda Neves PSP 4.731 0,46 32

Luiz Corrêa da Silva PTB 4.642 0,45 33

Gerson Bergher PTN 4.545 0,44 34

Joaquim Afonso Mac-Dowell Leite de Castro UDN 4.481 0,43 35

Manoel Novela da Silva Júnior PRT 4.475 0,43 36

Paulo Areal UDN 4.434 0,43 37

João Gonçalves Xavier PRT 4.406 0,43 38

Nelson José Salim PST 4.324 0,42 39

Paulo Hermínio Duque Costa PR 4.238 0,41 40

Francisco José Dutra Júnior PTB 4.223 0,41 41

Sinval Corrêa Sampaio PTB 4.207 0,41 42

Domingos D'Ângelo UDN 4.127 0,40 43

Page 56: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

56

Telêmaco Gonçalves Maia PR 4.125 0,40 44

Ubaldo da Silva Oliveira PST 4.120 0,40 45

Francisco Silbert Sobrinho PL 4.091 0,40 46

Emínio Nina Ribeiro UDN 3.959 0,38 47

José Antônio Cesário de Melo PL 3.889 0,38 48

Pedro Fernandes Filho PSB 3.579 0,35 49

Horácio Cardoso Franco PTB 3.548 0,34 50

João Machado MTR 3.107 0,30 51

Everardo Magalhães Castro PDC 3.092 0,30 52

Raimundo Barbosa da Carvalho Neto UDN 3.015 0,29 53

Rubem Cardoso Pires PSP 2.965 0,29 54

Mauro Magalhães UDN 2.691 0,26 55

Votos UDN 204.594 14 cadeiras

Votos PTB 190.034 13 cadeiras

Votos PST 66.082 4 cadeiras

Votos PSD 57.703 4 cadeiras

Votos PSB 57.381 3 cadeiras

Votos PRT 55.791 3 cadeiras

Votos PDC 57.807 3 cadeiras

Votos PSP 48.866 3 cadeiras

Votos PR 46.128 3 cadeiras

Votos PTN 40.862 2 cadeiras

Votos PL 38.685 2 cadeiras

Votos MTR 27.302 1 cadeira

TOTAL: 55 cadeiras

Quociente Eleitoral 17.615

Votos nominais/legenda 888.235

Votos brancos 80.614

Votos nulos 53.368

TOTAL: 1.022.217

Page 57: As eleições de 1962 na Guanabara: a consolidação de Brizola no cenário político nacional

57

Tabela 3 – Resultado das eleições para vice-governador do estado da Guanabara em

1962

Candidato Partido Votos % Situação

Elói Ângelo Coutinho Dutra AST (PTB/PSB) 484.842 47,43 Eleito

Lopo de Carvalho Coelho PSD/UDN 402.292 39,35 Não-eleito

Mário de Souza Martins PL 39.998 3,91 Não-eleito

Votos nominais 927.132

Votos brancos 45.682

Votos nulos 49.403

TOTAL: 1.022.217

Tabela 4 – Resultado das eleições para senador do estado da Guanabara em 1962

Candidato Partido Votos % Situação

Aurélio Viana da Cunha Lima AST (PTB/PSB) 509.979 24,94 Eleito

Gilberto Marinho PTN 431.284 21,09 Eleito

Juraci Montenegro Magalhães UDN 371.892 18,19 Não-eleito

Antônio Mourão Vieira Filho PST 347.379 16,99 Não-eleito

Votos nominais 1.660.534

Votos brancos 302.362

Votos nulos 81.538

TOTAL: 2.044.434