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AS GRANDES ENTREVISTAS IMPOSSÍVEIS Neste número Giordano Bruno, o Herege Divino. APRENDIZAGEM EMOCIONAL A origem dos seus conflitos R

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AS GRANDESENTREVISTASIMPOSSÍVEIS

Neste número

Giordano Bruno,o Herege Divino.

APRENDIZAGEM EMOCIONAL

A origem dosseus conflitos

R

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SHANTI - AGOSTO/2008 - PÁGINA 2

EXPEDIENTE

EDITORIAL

Direção/Edição:Laura Fahning

[email protected]

Projeto gráfico/editoração:

Iza Pyjak

[email protected]

Ilustrador:Yuri Pyjak Ricci

[email protected]

Capa:“Em Busca do Novo”

Gurdjief em 1916 dizia: “A evoluçãonão é obrigatória ou mecânica. É o re-sultado de uma luta consciente”. Essaluta na verdade é travada pelo inconsci-ente que dispõe de registros, que soma-dos, alertam o consciente de que algoestá errado. Quando temos consciênciade que pra evoluirmos precisamos nosconfrontar internamente, obtemos odiscernimento necessário para o cresci-mento.

Quantas vezes planejamos tomar umaatitude e na hora H, mudamos de idéiapor causa da emoção? Por que a nossavida é permeada de conflitos? O enfoquedeste artigo será na emoção, a verda-deira origem dos nossos conflitos.

Existem estudos que concluem queas doenças são 80% originadas pordesequilíbrio emocional. Mas como evi-tar este desequilíbrio? Como diminuir osconflitos em nossa vida? Será isto real-mente possível?

Sim, é possível!Vamos primeiro conhecer um assunto

interessante chamado as Energias Mãe,que são a sustentação emocional do pla-neta. São elas:

· A Justiça - responsável pelo esva-ziamento das emoções.

· O Potencial - responsável pelo usoda inteligência, para não manipular.

· O Amor - responsável pela aceita-ção das pessoas/situações, sem querermodificá-las.

· A Compreensão - responsável pelaavaliação do todo, para entender as par-tes.

Como a dualidade faz parte da es-trutura do planeta, as Energias Mãe tam-bém possuem sua correspondência an-tagônica como a Injustiça, o Poder, oDesamor e a Incompreensão. Particular-mente se analisarmos as condições atu-ais do planeta, não é na vibração destasEnergias Mãe Antagônicas que estamosvivendo?

O atrito entre as Energias Mãe Posi-tivas e as Antagônicas, gera os elemen-tos que compõem o nosso planeta, daseguinte forma:· Justiça # Injustiça = fogo· Potencial # Poder = terra· Amor # Desamor = água· Compreensão # Incompreensão = ar

Classificando os signos pelos elemen-tos que o compõem, temos o seguinte:· Fogo = Áries, leão e sagitário.· Terra = touro, virgem e capricórnio.· Água = câncer, escorpião e peixes.· Ar = gêmeos, libra e aquário.

Analisando as funções do signo solar,ascendente e da lua no nosso mapa as-

A ORIGEM DOS CONFLITOStral, concluímos:

· Signo solar - como você vêm aoplaneta – chamamos de essência.

· Signo ascendente - como você seapresenta no planeta – chamamos deferramenta.

· Lua - como você age e reage,emocionalmente, no planeta – chama-mos de aprendizagem emocional.

Agora vamos aplicar de forma práti-ca tudo o que foi exposto aqui. Pegue-mos a configuração abaixo como exem-plo:

· Signo solar - leão - fogo - justiça(essência)

· Signo ascendente - virgem - ter-ra - potencial (ferramenta)

· Lua - gêmeos - ar -incompreensão (aprendizagem)

Neste exemplo, de acordo com a lua,esta pessoa veio aprender a avaliar otodo, para entender as partes, para istotem que usar a inteligência (sua ferra-menta), para esvaziar a emoção (suaessência). Somente agindo assim, con-seguirá concluir a sua aprendizagememocional.

O mais interessante neste conheci-mento, é que da mesma forma que vocêatrai situações que envolvem suaaprendizagem, você também tem a ten-dência de agir de acordo com o queveio aprender. Baseando-se no exem-plo acima, se você veio aprender a ava-liar o todo, para entender as partes,não só terá a tendência a focar a aten-ção no detalhe, como atrairá pessoascom a mesma tendência a focar a aten-ção em você.

Este conhecimento foi aplicado em50 pessoas, entre elas, adultos, crian-ças e adolescentes e, o índice de errofoi zero. Incrível não?

Aplique você também e veja comomelhorar sua qualidade de vida, neu-tralizando o seu corpo emocional e,aprendendo a administrar seus confli-tos. Se você sabe o que veio aprender,para que brigar?

Quer saber mais sobre você? Enviepara o e-mail [email protected], seusigno solar, ascendente e lua ou, se nãosouber estes dados, envie sua data denascimento, hora, cidade e estado, quemandarei sua análise pela contribuiçãode R$30,00 (trinta reais), que poderáser depositada no Banco do Brasil, ag:0183-x, c/c 16409-7, em nome de LauraFahning. Ao fazer o depósito identifica-do com o seu nome, informe no e-mailacima.

Por Laura Fahningterapeuta holística

Ricardo [email protected]

Os desenhos de Yuri PyjakRicci, assim como a capade Ricardo Alagemovitsestão disponíveis para

venda e serão enviadosvia e-mail para impressão.

Solicitação:[email protected]

[email protected]

A Revista Shanti vol-tou!

Num formato diferen-te, arrojado, mais acessí-vel. Shanti continua como propósito de divulgar co-nhecimento a quem possainteressar.

A capa escolhida (EmBusca do Novo), do artis-ta plástico Ricardo Movits,retrata a intenção de es-tar inovando e cumprireste legado.

Esperamos que a Re-vista agrade a todos osnossos leitores e, confia-mos que a fórmula nova éa mais correta.

Boa leitura!Laura Fahning

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SHANTI - AGOSTO/2008 - PÁGINA 3

GIORDANO BRUNO: O Herege Divino

A inquisição implacável e inescrupulosa, conseguiuconsumir seu corpo no fogo, mas as chamas da fogueiranão alcançaram suas idéias.

Nosso enviadoespecial mergulha

nas dobras do tempoe vai a Roma

entrevistar GiordanoBruno, que está

prestes a sercondenado a morrer

queimado vivo, nafogueira do Tribunal

do Santo Ofício.Místico, filósofo e

cientista, Bruno foium padre diferente,independente. Não

aceitava fronteiras,nem limitações.Pouco depois de

ordenado, abandonoua Ordem e foi

excomungado porsuspeita de heresia.A partir daí, sua vida

foi uma constanterota de colisão com aIgreja, com o dogma,com a corrupção. Mas

era uma lutadesigual, pois contraele, estava o poderio

temporal de todauma religião, cujos

representantes eseus Cardeais

entendiam que eraextremamente

necessário queimarBruno, aquele ex-

padre inteligente eerudito, cujas idéias

incomodavam aIgreja, não porque

estivessem erradasmas, exatamente,porque continham

uma grande dose deverdade.

Estou indo em direção à Roma.A data é 8 de fevereiro de 1600.Giordano Bruno tem menos de 11dias de vida.

Devo buscá-lo, é claro, nas mas-morras da Santa Inquisição, onde elepermanece, há quase oito anos,submetido a torturas e privações,dali saindo, apenas para audiênciase interrogatórios, das quais retornaà sua cela fria e escura, cada vezmais alquebrado, mais sofrido, maisperto das chamas da fogueira sem,contudo, abdicar de suas idéias.

O pensamento de Bruno era in-cômodo à Igreja e, por isto, ele pre-cisava ser eliminado o mais rápidopossível.

Fico sabendo que, ainda hoje,pela manhã, Giordano Bruno este-ve diante de um tribunal, na Sala daCongregação, onde ouviu a leiturade oito denúncias de heresias a eleimputadas.

Entre outras, nelas estavam in-cluídas as crenças de que atransubstanciação de pão em carnee de vinho em sangue é uma falsi-dade, que nascer de mãe virgem éimpossível e a convicção de que vi-vemos em um Universo infinito,onde existem incontáveis mundosnos quais, criaturas como nós, po-dem viver e adorar seus própriosdeuses.

Bruno ouviu sereno as acusaçõese nada comentou.

O Tribunal da Congregação haviadecretado que a causa de Brunofosse levada ao extremo, e fosse omesmo condenado à Corte Secu-lar.

Agora, à tarde, novamente Bru-no está diante dos juízes. Vai serjulgado e, com certeza condenado,pelo Comitê Secular, presidido peloGovernador de Roma, na Sala da

Inquisição, no Mosteiro de Minerva.Bruno está de joelhos diante de

seus juízes. O governador de Romaemite a sentença.

Um dos bispos presentes apro-xima-se dele, rasga sua túnica depadre e, em voz alta, condena suaalma a sofrer nas chamas eternasdo inferno, degradando seu espírito,assim como degradariam, também,seu corpo físico.

Ao final, perguntaram a Bruno setem algo a dizer. Com voz potenteele declara: “Talvez o vosso medode impor-me esta sentença, sejamaior que o meu, de aceitá-la”.

Em seguida, o prisioneiro é no-vamente encaminhado à sua celadiminuta, úmida, escura e sem ar,na qual passara a maior parte dosseus últimos sete anos. Seus péssão acorrentados a um anel de fer-ro, preso no chão de pedra.

É aqui, neste local deprimente,que vou entrevistá-lo.

Shanti – Como as coisas pude-ram chegar a este ponto?

GB – Desde logo, percebi que avida monástica não era para mim.Questiono muito os dogmas da Igre-ja. Tenho especial interesse por as-suntos místicos, alquímicos eesotéricos, temas condenados peloVaticano. Leio Erasmo, o que é con-siderado falta grave. O meu destinonão poderia ser outro.

O Tribunal do Santo Ofício apre-cia conformidade e ortodoxia, e oVaticano mantém a Igreja presa aodogma e ao obscurantismo. O meupensamento está, exatamente, dolado oposto.

Shanti – Pelo que entendo, suasdiscordâncias são muito grandes.

GB – Enquanto a Igreja conside-ra a descrição do mundo físico feitapor Aristóteles como a verdade ab-

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SHANTI - AGOSTO/2008 - PÁGINA 4

GIORDANO BRUNO:O Herege Divino

soluta, eu vejo muitas falhas nassuas teorias. Seus representantesofuscam e suprimem verdadesconsideradas perigosas e revelam,apenas, aspectos básicos da dou-trina do catolicismo.

Por minha vez, eu luto pela li-berdade total de informação, pelamudança, pelo questionamento,pelo livre pensamento. Na reali-dade, minhas incompatibilidadescom a Igreja são muitas e todasinsuperáveis. Podem me queimar,mas, jamais irão me dobrar.

Shanti – Não há possibilidadede alguma declaração sua, quepossa redirecionar o julgamentoque, em breve, lhe será imposto?

GB – Eu não poderia estar emoutro lugar e outro não poderiaser o meu destino. Enquanto meupensamento transita pelaamplidão do espaço, livre e plenode energia dinâmica, meu corpofísico aqui está, na umidade, nasemi-escuridão, na reclusão e àdisposição dos inquisidores e tor-turadores. Eu sofro, é claro, masnão tanto quanto eles pensam.Minha convicção e minha fé mesustentam.

Shanti – Olho com respeito eadmiração para aquele homem al-quebrado, desgrenhado, ferido nocorpo, mas de alma vitoriosa. Naépoca em que viveu, não poderiamesmo estar em outro lugar quenão a masmorra. Para a fúria doscardeais inquisidores, consideravaa teologia cristã dos antigos egíp-cios, mais próxima da Verdade.Para ele, os ensinamentos antigospossuíam pureza e simplicidade,pois não estavam ainda,maculados por uma organizaçãocorrompida como a Igreja. En-quanto o Vaticano condenava fe-rozmente o ocultismo, taxando-o de heresia, Bruno aceitava as“ciências ocultas” como um pa-drão de idéias e uma rede de con-ceitos onde poderíamos conquis-tar um entendimento melhor doUniverso.

No seu entender, vivemos emum Universo infinito, muito maior

que o lugarzinho confinado, quaseridículo e paroquial imaginado pelosteólogos e padres da Igreja. Sua vi-são era avançada no tempo, ondeo Sol era somente uma dentre asinúmeras estrelas do firmamento. Ébom lembrar que estamos no anode 1600. A noção de um Universoinfinito, onde o Sol e a Terra são in-significantes diante do Todo, é insu-portável para a Igreja. Bruno ia ain-da mais longe. Admitia a existênciade vida inteligente, além da formahumana.

Shanti – O senhor já foi julgadoem Veneza e, em seguida, foi enca-minhado para os inquisidores deRoma. Qual a sua perspectiva parao novo julgamento?

GB – Não tenho ilusões. O pro-cedimento que a Igreja adota hojeé bem diferente daquele que osApóstolos usavam. Eles procuravamconverter com a pregação e oexemplo de boa conduta. Hoje, apli-cam punição, tortura e fogo.

Veja você a situação em que meencontro. Mantenho minhas cren-ças, acredito na existência de Deus,no papel de Jesus Cristo e em ou-tros conceitos fundamentais da dou-trina. Entretanto, sou torturado e,com certeza, serei condenado por-que tenho um entendimento religio-so muito mais amplo do que os car-deais ortodoxos. Soam como here-sia minhas idéias sobre a existência

Em uma certaocasião, eu meimaginei flutuandoacima e além daTerra. Enquanto eume aproximava daLua, ela ficava cadavez maior e a Terra,cada vez menor. Dasuperfície da Lua, aTerra parecia umsatélite e ela tinha asdimensões da Terra.Indo mais longeainda, vi a Terra e aLua como simplespontos de luz, atédesaparecerem,enquanto eu meafastava mais.A partir destaexperiência, eu passeia considerar umarelatividade nãomatemática e fiqueiconvencido que aaparência e arealidade das coisasnem sempre são asmesmas.

Yuri Pyjak Ricci R

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SHANTI - AGOSTO/2008 - PÁGINA 5

Sou informado quehoje, 19 de

fevereiro, eledeverá ser

executado comgrande pompa. A

Igreja quer mostrara todos, o destinode quem discorda

de suas idéias epreparou um grande

espetáculo.Às cinco horas e

trinta minutos,Bruno, acorrentado

e vestindo umatúnica branca que

lhe alcança ostornozelos, é levado

por um caminhoapinhado de

curiosos. Segundoapuramos, todos

esperam “umadivertida fogueira

judicial”.

GIORDANO BRUNO:O Herege Divino

nos últimos anos, muitos teóricoscomeçaram a usar, no seu trabalho,imagens visuais e figuras lógicas. E,a visão de Bruno de uma lógica pic-tórica, preside, hoje, as comunica-ções de todo o mundo industrializa-do, porquanto vivemos em uma so-ciedade dominada por computado-res que são máquinas que geramimagens, que era o que Bruno faziahá mais de quatrocentos anos, quan-do desenvolveu técnicas para aper-feiçoar a memória.

GB – Nos meus estudos, racio-nalizei minhas teorias sem usar ma-temática e criei figuras e manipuleiimagens para processar idéias com-plexas, sem o auxílio da álgebra.

Shanti – Para sentir como suamente estava avançada no tempo,indago sobre suas idéias em tornodo Universo que nos cerca.

GB – Há incontáveis sóis e umainfinidade de planetas que giram emtorno dos seus sóis, como nossossete planetas giram em torno donosso sol. Esta minha concepção éperigosa, pois nega um dos precei-tos centrais do Cristianismo. Sou umpensador e um pesquisador. Assim,baseado nos ensinamentos místicosde antigas religiões indianas e egíp-cias, sustento a tese da universali-dade. Todas as coisas são recicladase tudo é interdependente. Deus exis-te em um raio de sol e na espadado soldado, na respiração da prosti-tuta e na túnica curadora do santo.

Shanti – Fico impressionadocomo estas idéias possam ser emi-tidas no ano de 1600, em plena erada intolerância religiosa. E, ele con-tinua.

GB – É impossível a aniquilaçãode qualquer parte da natureza. Tudose renova de tempos em tempos,mudando e alterando seus compo-nentes.

Shanti – Espanto-me ao perce-ber que Bruno já captava as basesda Lei de Lavoisier (na natureza nadase perde, nada se cria, tudo se trans-forma), com 150 anos de antece-dência.

GB – Não há acima e abaixo ab-solutos, como ensinava Aristóteles.

de vida fora da Terra, de que Deusnão plantou vida apenas nesteplanetinha, de que tudo é interliga-do, de que a Santíssima Trindade é,apenas, um confuso jogo de pala-vras. O meu pensamento desagra-da e incomoda e é consideradocomo uma aberração.

Shanti – Ele nem pode imaginara importância, no futuro, das suas“experiências de pensamento” e dastécnicas sobre a mnemônica quedesenvolveu e publicou em inúme-ros livros. Relate para os nossos lei-tores, alguma das suas “experiênci-as de pensamento”.

GB – Posso citar algumas, poissempre gostei de pensar em termosde imagens, em lugar de equaçõesmatemáticas. Sempre apreciei utilizara lógica e o raciocínio puro e analíticoem vez de realizar experiências.

Em uma certa ocasião, eu meimaginei flutuando acima e além daTerra. Enquanto eu me aproximavada Lua, ela ficava cada vez maior ea Terra, cada vez menor. Da super-fície da Lua, a Terra parecia um sa-télite e ela tinha as dimensões daTerra.

Indo mais longe ainda, vi a Terrae a Lua como simples pontos de luz,até desaparecerem, enquanto eu meafastava mais.

A partir desta experiência, eu pas-sei a considerar uma relatividade nãomatemática e fiquei convencido quea aparência e a realidade das coisasnem sempre são as mesmas.

Shanti – De repente, me dou con-ta que a mente de Bruno estavaavançada no tempo e suas idéias ti-nham o embrião da ciência do futu-ro. Embora a matemática ainda es-teja presente na ciência moderna,

Montagem por Yuri Pyjak Ricci

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A posição deum corpo ésempre relati-va à posiçãode outros cor-pos. Somosparte de um Todo, estamosem comunicação direta com aDivindade, somos todos partedo infinito.

Shanti – Bruno tem poucotempo de vida. O Tribunal doSanto Ofício não perdoa suasidéias nem suas doutrinas. Eleé considerado um herege dosmais perigosos e incômodos.Abala as bases da Igreja e põea descoberto tacetas sombri-as de corrupção, intolerância,desregramento e crueldade.

Sou informado que hoje, 19de fevereiro, ele deverá serexecutado com grande pom-pa. A Igreja quer mostrar a to-dos, o destino de quem discor-da de suas idéias e preparouum grande espetáculo.

Às cinco horas e trinta mi-nutos, Bruno, acorrentado evestindo uma túnica branca quelhe alcança os tornozelos, é le-vado por um caminho apinha-do de curiosos. Segundo apu-ramos, todos esperam “umadivertida fogueira judicial”.

Enquanto a procissão pros-segue, a multidão se diverte ezomba de Bruno, que respon-de, aos gritos, com citações deseus livros e frases que refor-çam suas opiniões.

Repentinamente, o cortejoé interrompido pelos funcioná-

rios da Justiça do Tribunal do San-to Ofício. Então, espantados eemocionados, presenciamos umacena que mostra a fúria e a cru-eldade dos métodos aplicados aosconsiderados hereges.

Um deles avança e outros doisseguram com firmeza a cabeçade Bruno. Um longo espeto demetal foi enfiado na sua boche-cha esquerda, prendendo sua lín-gua e saindo pela bochecha direi-ta. Um outro espeto foi enfiadoverticalmente pelos seus lábios.Juntos formavam uma cruz. Ja-tos de sangue jorravam sobre suatúnica e espirravam no rosto da-queles que estavam muito perto.Bruno, não falou mais.

A procissão continua e, logo,chega ao “Campo de Fiori”, lugarda execução.

A fogueira já está preparada.Bruno é levado até o grosso mas-tro de madeira onde é, firmemen-te amarrado. Os feixes de ma-deira seca foram empilhados até

o seu queixo ea tocha, colo-cada entre seuspés. As chamaslogo subiram eo fogo pegou

sua túnica, lambeu-lhe o cor-po e, acima do chiado e dosestalos, pôde-se ouvir a aba-fada agonia do homem.

Depois que o fogo se apa-gou, suas cinzas foramlançadas ao vento, para quenada restasse do herege. Doherege divino, que estava maispróximo de Deus do que seusalgozes.

Mas, na realidade, enquan-to seu cérebro fritava nas cha-mas, suas idéias, como a fu-maça, se espalhavam pelo es-paço, preenchendo os vaziose prontas para florescer namente das gerações futuras.

Quatrocentos anos apóssua morte, Giordano Brunotorna-se uma figura lendária,presente na política e em inú-meros grupos, cujos interes-ses variam entre a filosofiapura e os extremos religiosos.

Retorno à redação deShanti, trazendo a certezade que nós passamos, masnossas idéias permanecematravés dos tempos, vivas epresentes, à disposição detodos que se dispõem abuscá-las. Bruno partiu, masdeixou girando as engrena-gens da mudança, das novasperspectivas e dos novos ho-rizontes.

SHANTI - AGOSTO/2008 - PÁGINA 6

GIORDANOBRUNO:O HeregeDivino

Há incontáveis sóis e umainfinidade de planetas quegiram em torno dos seussóis, como nossos sete

planetas giram em torno donosso sol. Esta minha

concepção é perigosa, poisnega um dos preceitos

centrais do Cristianismo.

Yuri Pyjak Ricci R

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Agora o mundo todo estámuito agitado; ele está cheiode descontentamento e ansie-dade, de medo e de facçõesmesquinhas e de ódio. Paraacalmá-lo e apaziguá-lo, remo-vendo o descontentamento ea ansiedade, vocês precisam terentusiasmo e coragem. Quan-do a derrota e a desilusão osolharem de frente, vocês nãodevem ceder à fraqueza ou aodesânimo. Nunca condenem asi mesmos como inferiores ousem valor; analisem a derrotae descubram os motivos, a fimde evitá-la da próxima vez.

Vocês devem ter músculosde ferro e nervos de aço. En-tão sua resolução irá, ela mes-ma, gerar a confiança neces-sária; e isso irá vencer a oposi-ção. Para a colheita da vida,coragem e confiança são osmelhores adubos; são tambémos melhores inseticidas. Sejamcomo leões no campo espiritu-al, governem sobre a florestados sentidos e caminhem, des-temidamente, com plena fé navitória. Sejam heróis, não ze-ros; pois Manava (o homem)é da natureza de Madhava(Deus); ele é o imperecívelAthma (Centelha Divina Imor-tal). Da mesma maneira que achuva, caindo em várias partesdo mundo, flui por mil canais epor fim, atinge o oceano, as-sim, também, credos, rituais,religiões, teologias, todas deri-vadas dos anseios do homempelo vasto e inescrutável Além,fluem em milhares de formasdiferentes, fertilizando muitoscampos, refrescando muitascomunidades, revigorando, demaneiras diversas, pessoascansadas e finalmente alcan-çam o Oceano de Bem-aventurança.

Sejam heróis, nãozeros à esquerda!

SHANTI - AGOSTO/2008 - PÁGINA 7

Nada acontece por acaso,nada cai do céu.

Se não dermos um passo,claro, ficamos parados.

Se esperarmos que outrosfaçam por nós – ficamos para-dos.

Não assumindo nossas vidasnão podemos progredir materi-almente e muito menos espiri-tualmente.

Ninguém sente a dor do ou-tro. Nem uma mãe extremosaconsegue sentir a dor do seubebê que chora. Ninguém respi-ra por nós. Se não respirarmos,morremos.

Assim é tudo na vida. Estarvivo é uma bênção divina. Po-der lutar e buscar é maravilho-so. Podemos até fracassar, masé bom lembrar que “quem fra-cassa é porque tentou” quemnunca tentou é realmente umfracassado.

Quem tenta, luta e busca, umdia conseguirá sentir o gosto daconquista, o sabor da vitória.

Há pessoas que se fazem devítimas, se queixam, reclamame são um peso para a família.

Por que invocar a Chama Violeta?por El Morya Luz da Consciência - [email protected]

Elas não têm consciência de queestão perdendo a oportunidadeúnica de se aprimorar. Estão pa-radas no meio de seu própriocaminho, e, a menos que com-preendam isto, nada será pos-sível em direção ao crescimen-to interno.

“Eu sou responsável pelaminha vida”.

Essa compreensão é abso-lutamente necessária para queo desenvolvimento e a mudan-ça ocorram.

Nosso Bem-Amado SaintGermain nos revelou o poder daTransmutadora e Misericordio-sa Chama Violeta para poder-mos ascensionar mais rapida-mente.

O Fogo Violeta é uma cha-ma de altíssima vibração, atra-vés da qual podemos mudar anossa estrutura atômica. Atô-mica sim – nossos 4 veículosinferiores são formados por áto-mos. Quando temos sentimen-tos, pensamentos ou atitudesnegativos nossos átomos sãocontaminados com essa ener-gia densa e desestruturados.

Quem se dá importância, sepreocupa com o ter.Quem se dá valor, se

preocupa com ser.Quem se dá importância, sepreocupa com a aparência.

Quem se dá valor, sepreocupa com a essência.

Quem se dá importância, avida é conquista.

Quem se dá valor, a vida érealização.

Pra quem se dáimportância, o que

interessa é o exterior.Pra quem se dá valor, o que

Qual a diferença entreimportância e valor?

interessa é o interior.E é por isso que:

Quem se dá importância,nunca se satisfaz com o

que tem.Quem se dá valor,

agradece e fica feliz com oque conquistou.

Felicidade não é umaestação à qual você chega,é uma maneira de viajar.

Felicidade não é umprocesso só de busca e

sim, de construção.

Autor desconhecido

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SHANTI - AGOSTO/2008 - PÁGINA 8

Ação construtiva em direçãoao Reino Animal - ONG VIRTUALSANTUÁRIO DOS GOLFINHOSNodia 23 de Agosto de 2008 de11:50h às 12:10h vamos fazer“Mentalização em direção à to-dos os Golfinhos, Foco: Fortale-cimento do espírito de amizade,proteção e cooperação entre Se-res Humanos e os Golfi-nhos” Qual a razão da propostadeste dia?

Leia na íntegra o texto abaixo:

É lastimável que algumas culturashumanas ainda façam ações de cru-eldade aos animais em geral e espe-cialmente aos evoluídos mentalmenteinteligentes como nossos amigos gol-finhos e também aos menos inteligen-tes, mas não menos importantes parao equilíbrio planetário. Segue dois re-latos que recebemos em Julho de2007:“Venho, contudo, dividir minhatristeza em saber que golfinhos estãosendo mortos cruelmente no Japãocomo noticiou no SBT semanas atrás.Eles são abatidos de forma cruel para depois tornarem-se pratos de-liciosos dos japoneses. O governodo Japão não condena essa práti-ca. Amigos, nós podemos fazeralgo? Ou devemos ficar conforma-dos em nome dos ciclos planetáriosonde os animais, mesmos evoluídosou mais espiritualizados, devempassar?Acredito que toda forma decrueldade a vida deve ser denuncia-da. Gostaria de saber o parecer de

DIAMUNDIALDE DEFESA

DOSGOLFINHOS:23 DE AGOSTO

vocês. Em nome dos nossosirmãos golfinhos. “Um abra-ço e desejo de paz e respei-to a todos”.Também aqui noBrasil no Amapá conforme re-lato de uma conhecida abai-xo:- “Olha, acabei de assis-tir o Jornal Nacional e fiqueichocada com o que estãofazendo no Amapá, matan-do golfinhos para fazer isca para tubarão! O Ibama nãofez nada! Falaram que nãoidentificaram os pescadores!Mas o Jornal Nacional mos-trou claramente... inclusiveas piadinhas ridículas deles!Mataram cerca de 80 golfi-nhos! Barbaramente! Esperoque vocês tenham comoajudá-los. Abraços frater-nais”.

Talvez possamos iniciarum movimento pacífico deconscientização em defesa

dos animais de todo planeta. Atra-vés de orações de amor, perdão ecompaixão aos nossos irmãos meno-res que estão sendo mortosinsanamente.

Aqui temos feito meditações deauxílio e contatado o nível dévico dosgolfinhos para que fujam de tal cha-cina. Outros animais também preci-sam da nossa atenção, proteção eauxílio. Eles clamam por ações pací-ficas na prática.

Agradecemos a todos que se le-vantam em pensamento, sentimen-to atitude e palavras em favor da-queles que não podem se defenderdiante das armas construídas pelasmãos humanas. Conclamamos a to-dos para ações efetivas e importan-tes colaborações nas mudanças doscruéis paradigmas vigentes. Lem-brando que o papel dos animais sem-pre foi de colaborar com os huma-nos no campo das suas emoções,eles as transmutam.

Para filiar-se a esta ONG bastaresponder a este e-mail com os di-zeres: FILIE-ME. Você passará a re-ceber informes e notícias do MundoAnimal e colaborar com nossos ir-mãos menores indefesos diante dasadversidades humanas. Contribuir napreservação do seu habitat naturale interagir com eles nos desafios dasobrevivência.Grata por vossa aten-ção e amor.

Fraternalmente, Lais Cristina eos golfinhos.

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Talvezpossamosiniciar um

movimentopacífico de

conscientizaçãoem defesa dos

animais detodo planeta.Através deorações de

amor, perdão ecompaixão aosnossos irmãosmenores queestão sendo

mortosinsanamente.

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Ao viajarpelo Oriente,mantive conta-tos com mongesdo Tibet, daMongólia, do Japão e da Chi-na. Eram ho-mens serenos,comedidos, re-colhidos em pazem seus mantoscor de açafrão.Outro dia, euobservava omovimento doaeroporto deSão Paulo: asala de esperacheia de execu-tivos com telefones celulares, preocu-pados, ansiosos, geralmente comendomais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa,mas como a companhia aérea ofereciaum outro café, todos comiam voraz-mente. Aquilo me fez refletir: ‘Qual dosdois modelos produzem felicidade?’

Encontrei Daniela, 10 anos, no ele-vador, às nove da manhã, e perguntei:‘Não foi à aula?’ Ela respondeu: ‘Não,tenho aula à tarde’. Comemorei: ‘Quebom, então de manhã você pode brin-car, dormir até mais tarde’. ‘Não’, retru-cou ela, ‘tenho tanta coisa de manhã...’‘Que tanta coisa?’, perguntei. ‘Aulas deinglês, de balé, de pintura, piscina’, ecomeçou a elencar seu programa degarota robotizada. Fiquei pensando:‘Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenhoaula de meditação!’

Estamos construindo super-homense super-mulheres, totalmente equipa-dos, mas emocionalmente infantilizados.Por isso as empresas consideram agoraque, mais importante que o QI é a IE,a Inteligência Emocional. Não adiantaser um super-executivo se não se con-segue se relacionar com as pessoas.Ora, como seria importante os currícu-

DO MUNDOVIRTUAL AO

ESPIRITUAL

SHANTI - AGOSTO/2008 - PÁGINA 9

Por Frei Betto

los escolares incluírem aulas de medi-tação!

Uma progressista cidade do interi-or de São Paulo tinha, em 1960, seislivrarias e uma academia de ginástica;hoje, tem sessenta academias de gi-nástica e três livrarias! Não tenho nadacontra malhar o corpo, mas me preo-cupo com a desproporção em relaçãoà malhação do espírito. Acho ótimo,vamos todos morrer esbeltos: ‘Como estava o defunto?’. ‘Olha uma maravi-lha, não tinha uma celulite!’ Mas como fica a questão da subjetividade? Daespiritualidade? Da ociosidade amoro-sa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na rea-lidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual.Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não háenvolvimento emocional, controla-seno mouse. Trancado em seu quarto,em Brasília, um homem pode ter umaamiga íntima em Tóquio, sem nenhu-ma preocupação de conhecer o seu vi-zinho de prédio ou de quadra! Tudo évirtual, entramos na virtualidade detodos os valores, não há compromisso

Yuri Pyjak Ricci R

Os psicanalistastentam descobrir o

que fazer com odesejo dos seus

pacientes. Colocá-losonde? Eu, que nãosou da área, possome dar o direito de

apresentar umasugestão. Acho que

só há uma saída:virar o desejo para

dentro. Porque, parafora, ele não tem

aonde ir! O grandedesafio é virar o

desejo para dentro,gostar de si mesmo,

começar a ver oquanto é bom serlivre de todo essecondicionamento

globalizante,neoliberal,

consumista.

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com o real! É muito grave esse pro-cesso de abstração da linguagem,de sentimentos: somos místicos vir-tuais, religiosos virtuais, cidadãosvirtuais. Enquanto isso, a realida-de vai por outro lado, pois somostambém éticamente virtuais…

A cultura começa onde a na-tureza termina. Cultura é o refina-mento do espírito. Televisão, noBrasil - com raras e honrosas ex-ceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sen-sação de que ficamos um poucomenos cultos.

A palavra hoje é ‘entretenimen-to’; domingo, então, é o dia naci-onal da imbecilização coletiva.Imbecil o apresentador, imbecilquem vai lá e se apresenta no pal-co, imbecil quem perde a tarde di-ante da tela. Como a publicidadenão consegue vender felicidade,passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres:‘Se tomar este refrigerante, vestireste tênis, usar esta camisa, com-prar este carro, você chega lá!’ Oproblema é que, em geral, não sechega! Quem cede desenvolve detal maneira o desejo, que acabaprecisando de um analista. Ou de

remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam desco-brir o que fazer com o desejo dos seuspacientes. Colocá-los onde? Eu, quenão sou da área, posso me dar o di-reito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar odesejo para dentro. Porque, para fora,ele não tem aonde ir! O grande de-safio é virar o desejo para dentro,gostar de si mesmo, começar a ver oquanto é bom ser livre de todo essecondicionamento globalizante,neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boasaúde mental três requisitos são in-dispensáveis: amizades, auto-estima,ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa noconsumismo pós-moderno. Se alguémvai à Europa e visita uma pequenacidade onde há uma catedral, deveprocurar saber a história daquela ci-dade - a catedral é o sinal de que elatem história. Na Idade Média, as ci-dades adquiriam status construindouma catedral; hoje, no Brasil, cons-trói-se um shopping. É curioso: a mai-oria dos shopping tem linhasarquitetônicas de catedraisestilizadas; neles não se pode ir dequalquer maneira, é preciso vestir rou-pa de missa de domingos. E ali den-tro sente-se uma sensação

SHANTI - AGOSTO/2008 - PÁGINA 10paradisíaca: não há mendigos, cri-anças de rua, sujeira pelas calça-das...

Entra-se naqueles claustros aosom do gregoriano pós-moderno,aquela musiquinha de esperar den-tista. Observam-se os vários ni-chos, todas aquelas capelas comos veneráveis objetos de consu-mo, acolitados por belas sacerdo-tisas. Quem pode comprar à vis-ta, sente-se no reino dos céus.Deve-se passar cheque pré-data-do, pagar a crédito, entrar nocheque especial, sente-se no pur-gatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no infer-no... Felizmente, terminam todosna eucaristia pós-moderna, irma-nados na mesma mesa, com o mes-mo suco e o mesmo hambúrguerdo Mac Donalds…

Costumo advertir os bal-conistas que me cercam à portadas lojas: ‘Estou apenas fazendo um passeio socrático.’ Diante deseus olhares espantados, explico:‘Sócrates, filósofo grego, tambémgostava de descansar a cabeçapercorrendo o centro comercial deAtenas. Quando vendedores comovocês o assediavam, ele respon-dia: ‘Estou apenas observandoquanta coisa existe de que nãopreciso para ser feliz.‘

Para muitos, as coisas são resolvidas “no gri-to”, acompanhado de uma boa dose de reclama-ção. Esse modo de agir alivia a tensão e ajuda aapontar os culpados. Jesus condena essa prática,ao pedir autenticidade quando ensinou, no Evan-gelho, a dizer sim quando for sim, e não quando fornão. Tudo além disso é resultado das maquinaçõesinteriores de cada pessoa – “onde está o seu te-souro, aí estará o seu coração” (a vida, todo o ser).

A capacidade de reclamar dos outros e das si-tuações é um hábito, e como todo hábito, foi cul-tivado e alimentado com muito carinho, mesmosem a pessoa perceber. Muitas vezes, o meio ondevive ou foi criada contribui para o mau hábito “ama-durecer”. Quem reclama demais, transferindo asresponsabilidades ou causas dos fatos aos seme-lhantes, sente-se incapaz ou desprovido de umcaráter forte. Mudar o hábito é uma tarefa árdua,porém necessária para a pessoa viver melhor esentir-se feliz.

A solução do problema começa com o reco-nhecimento. A pessoa precisa identificar esse maushábito em sua vida, no relacionamento com as

Reclamações não produzem bons resultadosClóvis Moreira SantosAcademia de Letras, Artes e Ciências de Cornélio Procópio/PR

pessoas, e analisar o problema com frieza e sin-ceridade. Depois deve fazer um propósito, comoeste, por exemplo: “durante uma semana não voureclamar”. Certamente não conseguirá evitar, masse ficar alerta, conseguirá reduzir bastante o índi-ce de reclamações, e perceberá uma melhora, umasensação mais agradável, devendo ficar com aconsciência tranqüila no final do dia. E quem sabe,adquire o hábito de parar de reclamar.

Importante notar a origem do hábito de recla-mar. Como todo mau hábito, e como todo bomhábito, tudo nasce da maneira como a pessoapensa e interage com o mundo, ou a sua realida-de. Pensamentos são cultivados, desenvolvem“raízes” dentro da pessoa e geram ações e estasgeram resultados (frutos). Se os resultados nãoagradam, se são parecidos com frutos podres ouestragados, o problema reside nas “raízes” (hábi-tos). Para produzir resultados/frutos melhores épreciso fortalecer as “raízes”, ou seja, mudar oshábitos. A tarefa é árdua, mas como todas asboas coisas da vida são difíceis de conquistar, valea pena, e agrada a Deus.

DO MUNDO VIRTUALAO ESPIRITUAL