As marcas e as empresas familiares

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FAMÍLIA S.A. | 82 | Julho 2011 | AMANHÃ {Levi Carneiro*} Sobre marcas e famílias A idéia de marca tem muito a ver com fa- mília. A marca, assim como o nome de família, tem a função primária de identificar, indicar a origem. Não é por outro motivo que, para vários autores, o lastro da família está presente no próprio surgimento do conceito de marca. O professor de design Joan Costa localiza sinais de marca na remota heráldica medieval que, com suas cores e brasões, assinalava a pro- priedade e a genealogia das linhagens feudais. Mais perto de nós, o estudioso Mauro Calixta Tavares mostra como as primeiras marcas da era industrial nada mais eram do que “sobrenomes”. Karsten, Swift, Hering, Lever, Matarazzo, Klabin e Ramezoni são importantes referências dessa época, sendo que algumas permanecem até hoje como marcas fortes e respeitadas. Nos dias atuais, vale a pena estimular uma reflexão sobre a importância de se restabelecer a relação entre marca e a empresa familiar. Ao que tudo indi- ca, tanto o branding contemporâneo como as organizações familiares têm a ganhar com o intercâmbio e a conexão positiva entre os seus universos de valores e objetivos. As marcas estão em busca de sentido e estratégia. Diante da commoditização crescente dos produtos e uma concomitante proliferação das mídias, as organizações sen- tem a necessidade de fortalecimento de suas marcas corporativas, que precisam funcionar como provedores de significado e valor para “famílias” inteiras de produtos e serviços. Ora, as empresas familiares têm ainda melhores condições de investir nessa direção e fornecer referência e propósito para suas marcas corporativas. Primeiro, porque já nascem inspiradas por um estatuto de valores e atitudes que está fundamentado na própria história familiar e pretende perdurar no tempo. Segundo, porque esse estatuto tem um poder de motivação e comprometimento que, natu- ralmente, vai além do ambiente de negócios. É verdade que está em curso um processo de aprimoramento das empresas familiares, que dedicam cada vez mais atenção e esforço para profissionalizar a relação entre a organi- zação e os laços de parentesco que ligam seus proprietários ou acionistas. Um capítulo espe- cial dessa profissionalização da gestão familiar deve dirigir a sua energia para a revitalização das marcas corporativas dessas empresas. As empresas familiares devem imprimir, com nitidez e determinação, no coração de suas marcas, os propósitos e posicionamentos que explicam e sustentam as suas organiza- ções. A marca corporativa é uma promessa fundamental que a organização faz e que se expande para todos os seus símbolos, mensa- gens e posturas. Numa organização familiar, essa promessa precisa exprimir as crenças e valores que deram origem ao negócio. É claro que isso não pode significar ficar paralisado no tempo. Significa apenas revitalizar ou revigorar o núcleo central da marca. Segundo uma especialista em empresas familiares, já está provado comparativamente que essas organizações têm mais capacidade de duração que as empresas comuns. A revi- talização da marca corporativa pode significar a chance de agregar ainda mais consistência e solidez, uma vez que fará da marca uma ferra- menta eficaz na inspiração, gestão, expansão e até mesmo sucessão da empresa familiar. Por tudo isso, faz todo sentido buscar a convergên- cia entre esses campos. * Diretor associado do Grupo Troiano de Branding e diretor da Idéia Comunicação Empresarial As empresas familiares devem imprimir, no coração de suas marcas, propósitos e posicionamentos que explicam e sustentam suas organizações

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Texto para a Revista Amanhã sobre as relações entre marcas e empresas de família.

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família s.a.

| 82 |Julho 2011 | amaNHÃ

{Levi Carneiro*}

sobre marcas e famílias A idéia de marca tem muito a ver com fa-

mília. A marca, assim como o nome de família, tem a função primária de identificar, indicar a origem. Não é por outro motivo que, para vários autores, o lastro da família está presente no próprio surgimento do conceito de marca. O professor de design Joan Costa localiza sinais de marca na remota heráldica medieval que, com suas cores e brasões, assinalava a pro-priedade e a genealogia das linhagens feudais.

Mais perto de nós, o estudioso Mauro Calixta Tavares mostra como as primeiras marcas da era industrial nada mais eram do que “sobrenomes”. Karsten, Swift, Hering, Lever, Matarazzo, Klabin e Ramezoni são importantes referências dessa época, sendo que algumas permanecem até hoje como marcas fortes e respeitadas. Nos dias atuais, vale a pena estimular uma reflexão sobre a importância de se restabelecer a relação entre marca e a empresa familiar. Ao que tudo indi-ca, tanto o branding contemporâneo como as organizações familiares têm a ganhar com o intercâmbio e a conexão positiva entre os seus universos de valores e objetivos.

As marcas estão em busca de sentido e estratégia. Diante da commoditização crescente dos produtos e uma concomitante proliferação das mídias, as organizações sen-tem a necessidade de fortalecimento de suas marcas corporativas, que precisam funcionar como provedores de significado e valor para “famílias” inteiras de produtos e serviços.

Ora, as empresas familiares têm ainda melhores condições de investir nessa direção

e fornecer referência e propósito para suas marcas corporativas. Primeiro, porque já nascem inspiradas por um estatuto de valores e atitudes que está fundamentado na própria história familiar e pretende perdurar no tempo. Segundo, porque esse estatuto tem um poder de motivação e comprometimento que, natu-ralmente, vai além do ambiente de negócios.

É verdade que está em curso um processo de aprimoramento das empresas familiares, que dedicam cada vez mais atenção e esforço para profissionalizar a relação entre a organi-zação e os laços de parentesco que ligam seus proprietários ou acionistas. Um capítulo espe-cial dessa profissionalização da gestão familiar deve dirigir a sua energia para a revitalização das marcas corporativas dessas empresas.

As empresas familiares devem imprimir, com nitidez e determinação, no coração de suas marcas, os propósitos e posicionamentos que explicam e sustentam as suas organiza-ções. A marca corporativa é uma promessa fundamental que a organização faz e que se expande para todos os seus símbolos, mensa-gens e posturas. Numa organização familiar, essa promessa precisa exprimir as crenças e valores que deram origem ao negócio. É claro que isso não pode significar ficar paralisado no tempo. Significa apenas revitalizar ou revigorar o núcleo central da marca.

Segundo uma especialista em empresas familiares, já está provado comparativamente que essas organizações têm mais capacidade de duração que as empresas comuns. A revi-talização da marca corporativa pode significar a chance de agregar ainda mais consistência e solidez, uma vez que fará da marca uma ferra-menta eficaz na inspiração, gestão, expansão e até mesmo sucessão da empresa familiar. Por tudo isso, faz todo sentido buscar a convergên-cia entre esses campos.

* Diretor associado do Grupo Troiano de Branding e diretor da

Idéia Comunicação Empresarial

As empresas familiares

devem imprimir, no coração de suas marcas, propósitos e

posicionamentos que explicam e

sustentam suas organizações