As Orações Em Waurá

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    Oraes em Waur

    JOAN RICHARDS

    Este artigo descreve as oraes gramaticais encontradas nos dados existentes e as combinaes das funes semnticas que so expressas por essas formas da estrutura de superfcie. No , entretanto, uma gramtica formal dos tipos de oraes em Waur.1

    Os critrios de diviso das oraes em grupos so explicitados em 1.0. Os tipos de orao resultantes so sumariamente apresentados em 1.1.-1.8. A seo 2. contm as definies do conjunto das funes semnticas encontradas nas oraes em Waur e, a seguir, descrevem-se as vrias combinaes possveis dessas funes na estrutura de superfcie. As oraes causativas e as vozes impessoal e reflexiva so sucintamente mencionadas nas sees 3. e 4.

    No se procurou dar detalhes das estruturas que desempenham os vrios elementos ao nvel da orao, nem se incluram os possveis desdobramentos de cada tipo de orao. Da mesma forma, a modalidade e a negao foram omitidas. Aqui se apresenta apenas um esquema dos elementos nucleares da orao.

    Esta anlise est fundamentada na pressuposio de que o trao caracterstico de qualquer predicado est contido nas funes dos atuantes que com ele ocorrem, e de que essas funes so determinadas pelo prprio predicado. O termo "funo" empregado para a relao semntica entre um atuante e a ao ou estado expresso pelo predicado. Um atuante aquele que tem alguma funo em relao ao predicado. Os atuantes so numerados segundo a intimidade de seu relacionamento com a ao, sendo o primeiro atuante o mais prximo. Assim, na orao "Joo tirou o quadro da parede", h 3 atuantes. O primeiro atuante Joo, o que realiza a ao. O mais prximo a seguir o quadro, e , por essa razo, o segundo atuante; o terceiro atuante a parede. Os atuantes exigidos pelo significado de um predicado so considerados nucleares, e aqueles cuja presena ou ausncia puramente acidental so considerados perifricos.

    O termo "predicado" usado para o elemento gramatical, e para os verbos ou outras estruturas que desempenham a predicao. Desde que nem todos os predicados so desempenhados por verbos, o termo "predicado" foi usado em lugar de "verbo" para se referir ao elemento que desempenha a predicao.

    1. OS TIPOS SUPERFICIAIS DE ORAO. As oraes em Waur dividem-se em tipos distintos, com base em um certo nmero de critrios, quais sejam: a presena ou ausncia dos elementos nucleares sujeito, objeto direto e objeto indireto; a ordem preferencial das palavras; a diviso entre fatos e descries; e, em alguns casos, a maneira pela qual apresentado um elemento nuclear. Sero discutidos, em primeiro lugar, os critrios, e, posteriormente, os tipos de oraes deles decorrentes.

    1.0. Cada predicado exige certos atuantes nucleares, cujas respectivas funes so discutidas na seo 2. deste artigo. Alguns predicados exigem 3, 2, l ou mesmo nenhum atuante. Isto no significa que uma orao que tenha um predicado particular possua todos os seus atuantes representados na estrutura de superfcie da orao, mas, sim, que esses atuantes esto implcitos e que podem ser recuperados a partir do contexto. Alm do mais, mesmo quando o contexto supre a identidade dos atuantes, esta geralmente tornada explcita.

    O exemplo 1) indica uma orao transitiva direta com o sujeito e objeto presentes.

  • 2

    1) yanumaka nuka p-itsupalu.2 ona ela=atacar sua-filha

    'A ona matou sua filha.'

    O exemplo 2), por outro lado, mostra como o contexto pode suprimir completamente um objeto e deixar o sujeito representado pela forma verbal de 3 pessoa (a ausncia de um prefixo pronominal3 no verbo indica sujeito de 3 pessoa).

    2) a) p-nuka nu-t voc-atacar meu-filho

    unute-! b) yanumaka dele=assassino-macho ona

    nuka-wa. ele=atacar-aumentativo

    c) hai, ka-nai? Ah! interrogao-lugar

    d) iya tuka ele=ir ele=tomar

    pa-mawaepe-e, e) -kah prpria-seiva-possuda isso-junto

    nuka-pai.4 ele=atacar-estativo

    a) Mate o assassino do meu filho! b) uma ona matou-(o).

    c) Ah, onde?

    d) Ele foi apanhar sua prpria seiva. e) Ela atacou-o l.'

    Nas oraes a) e b), o filho e a ona so identificados, e a informao dada que a ona matou o filho. Nas oraes d) e e) a identidade dos dois est implcita, desde que so evidentes a partir de a) e b).

    O primeiro atuante, a no ser que esteja suprimido, sempre representado pelo sujeito, com uma nica exceo: a orao atributiva indireta. Em certas estruturas gramaticais o primeiro atuante no pode ser explcito. Neste caso inclumos: a voz impessoal (analisada na seo 4) e as oraes sem sujeito.5 O sujeito indicado atravs de um prefixo pronominal no verbo, e pode ser representado por um sujeito livre adicional que concorda em pessoa com o prefixo verbal. Quando o sujeito e o ncleo do predicado so co-referenciais, como nas oraes de identificao e de existncia, o sujeito pode ser suprimido e o primeiro atuante representado pelo ncleo do predicado.

    O segundo e o terceiro atuantes so representados na estrutura de superfcie pelo objeto direto e pelo objeto indireto. Quando ambos so exigidos, o segundo ser expresso por um objeto direto e o terceiro pelo objeto indireto. H uma exceo a esta regra: o segundo atuante pode ser tornado implcito e o terceiro ser manifesto como objeto direto. Este artifcio propicia um certo destaque ao terceiro atuante. Os predicados que exigem dois atuantes pertencem a qualquer das duas classes, uma das quais exige que o segundo atuante seja representado por um objeto direto, e a outra, que o segundo atuante seja representado por um objeto indireto.

  • 3

    O objeto direto pode ocorrer como uma forma livre ou como um sufixo do verbo. Raramente os dois tipos co-ocorrem. O objeto direto livre desempenhado por um nome, um sintagma nominal, um pronome demonstrativo ou por um pronome pessoal de uma srie que pode desempenhar a funo de sujeito ou de objeto direto, a saber: natu '1 p. singular'; pitsu '2 p. singular'; aitsu '1 p. plural', yitsu '2 p. plural' e ne '3 pessoa'. O objeto no pode ser desempenhado por sintagmas posposicionais, e nem os sufixos de locao podem aparecer nos nomes ou sintagmas nominais.

    O objeto indireto desempenhado por um sintagma posposicional ou um sintagma que, potencialmente, inclui um sufixo de locao. Ou, ainda, por um prefixo pronominal no objeto direto.

    A ordem do sujeito e do predicado depende da natureza do predicado. H 4 possibilidades: sujeito-predicado em todas as oraes; sujeito-predicado na maioria das oraes, com a possibilidade de predicado-sujeito; predicado-sujeito na maioria das oraes, com a possibilidade da ordem inversa; e predicado-sujeito.

    Os fatores que governam as mudanas na ordem dos elementos no esto includos no escopo deste artigo, j que eles se referem relao entre a informao contida na orao e o contexto em que a orao ocorre.

    Os elementos no nucleares que podem ocorrer em uma orao dependem do tipo de predicado e da informao que o falante pretende transmitir a seu pblico. Os possveis desdobramentos de cada tipo de orao variam de acordo com esses dois fatores, mas h um nmero grande demais de combinaes para que se possa considerar uma subdiviso nesse aspecto.

    As oraes se dividem em oito grupos principais, com base em seus elementos nucleares. As oraes, bitransitiva, transitiva direta, transitiva indireta e intransitiva descrevem fatos. As oraes de opinio, as atributivas, as atributivas indiretas e de ambiente so descritivas.

    A classificao em "fatos" e "descries" parece ser, primeira vista, puramente semntica. H, entretanto, uma diferena gramatical bsica: a maior parte das oraes que caracterizam fatos pode ser transformada na sua equivalente imperativa, enquanto as oraes descritivas no se submetem a tal transformao. Outra diferena muito importante que as oraes descritivas, ao contrrio das oraes factuais, no possuem as mesmas funes no discurso narrativo. Por sua vez, as oraes factuais transmitem uma seqncia de fatos, o que no acontece com as oraes descritivas. Ambos os tipos de oraes podem ser empregados para fornecer detalhes, tais como: participante, identificao, explicao dos fatos, avaliao etc. Foi considerada como factual aquela orao que, no discurso, assim funcionar, mesmo se no puder ser transformada em uma orao imperativa.

    Quando todos os predicados de um tipo particular de orao mostram um trao semntico comum, este freqentemente usado como uma denominao do tipo. Da mesma forma, quando todas as oraes denotam um emprego semntico comum, este tomado para indic-las, como o caso das oraes de opinio. Este tipo de orao possui uma estrutura gramatical claramente distinta, e poderia ser denominada como orao atributiva indireta pitsi, mas como h um trao comum de avaliao (pelo falante), foram classificadas como oraes de opinio.

    Os oito grupos principais de oraes so descritos nas sees seguintes.

    1.1. Todos os verbos bitransitivos exigem trs atuantes, razo por que as oraes possuem um objeto direto e um objeto indireto. H 4 tipos de oraes bitransitivas: de enunciado sem citao, de enunciado com citao, sem sujeito, e simples. As duas primeiras relacionam-se com a fala, o que no ocorre com as 2 ltimas. Todos os predicados so desempenhados por verbos ou sintagmas verbais.

  • 4

    Nas oraes bitransitivas de enunciado sem citao, tanto o objeto direto quanto o objeto indireto, geralmente seguem o predicado. usual, tambm, que o sujeito preceda o predicado, mas pode segui-lo. No exemplo 3), o sujeito representado pela forma de 3 pessoa do verbo, j que ambos os participantes da conversa foram anteriormente identificados no pargrafo.

    3) iyka-pai -u ela=contar-estativo ele-para

    -tapiu. dele-irmo=mais=velho

    'Ela contou a ele sobre seu irmo mais velho.'

    Este um dos tipos de orao que pode deixar o segundo atuante implcito e realizar o terceiro atuante como o objeto direto da orao, como em 4).

    4) iyka-pai a-nai amunau. eles=contar-estativo aquele-lugar chefe

    'Eles contaram ao chefe l.'

    Neste exemplo, o chefe o principal participante do pargrafo, e as oraes anteriores tornam evidente que "eles" (os mensageiros) estavam contando ao chefe o resultado de sua viagem.

    As oraes bitransitivas de enunciado com citao obedecem, em geral, seguinte ordem dos elementos: predicado-sujeito, com o objeto direto precedendo o predicado, que desempenhado pelo verbo mo 'dizer'. O objeto direto pode ser desempenhado por qualquer expresso, desde uma palavra at um discurso completo. O objeto indireto geralmente segue o predicado, mas precede o sujeito, como em 5).

    5) yetsipa p-ya nu-malaitsa. logo voc-ir eu-depois

    ma-pai i-pitsi -ne. ele=dizer-estativo ele-para seu(dele)-pai

    ' Logo voc me seguir, disse o pai a ele.'

    As oraes bitransitivas sem sujeito tm o predicado desempenhado por um dos verbos: ta 'tomar', pak 'pr' ou tsapune 'pr na gua', nenhum dos quais pode ser flexionado quanto a pessoa.

    6) ta-kna -nku pk-wi, madeira-oca isso-em pr-perfectivo

    pak -knu-a k pr ele-prximo-locativo lua

    '(Eles) o pem numa caixa e pem a Lua perto dele.'

    Nas oraes bitransitivas simples o sujeito sempre precede o predicado, que pode ser desempenhado por qualquer verbo intransitivo flexionado quanto a pessoa, com exceo dos relacionados com a fala. Entre esses verbos esto: asaata 'mostrar'; emetsua 'roubar'; huka 'derramar' (lquido); seke 'dar'. Os objetos direto e indireto geralmente seguem o predicado, na forma do exemplo 7), embora o objeto indireto possa se realizar por meio de um prefixo pronominal no objeto direto, como no exemplo 8).

  • 5

    7) y-pta -kah ityana. vocs-pr ele-em veneno

    'Vocs pem veneno nele.'

    8) kaipa pta no=ndios eles=dar

    -uku-lu. nossa-flecha-possuda-___

    'Os no-ndios (nos) deram nossas armas.'

    O segundo atuante pode ser suprimido e o terceiro pode ser representado pelo objeto direto, assim como no exemplo 9).

    9) n-iy-we-neke eu-tomar-aumentativo=potencial-iminente

    pitsu-i, ats. voc-___ av

    ' Eu tomarei (isso) de voc agora, av.'

    A forma do objeto indireto seria piutsa 'de voc'. O contexto anterior o de uma discusso sobre a tocha da av que o Sol queria tomar emprestado.

    1.2. H dois tipos de oraes transitivas diretas: as de enunciado com citao e as simples, sendo a primeira relacionada com a fala. Todos os predicados so desempenhados por verbos ou sintagmas verbais, e todos exigem sujeito e objeto.

    As oraes transitivas diretas de enunciado com citao no podem ter um objeto indireto. O objeto direto preenchido por exclamaes, imitaes de gritos de animais ou sintagmas nominais. Os verbos que podem desempenhar o predicado so: elele 'chorar'; ma 'falar, dizer'; takapa 'responder'; e kityeka 'conversar'.

    A ordem dos elementos , em geral, predicado-sujeito, mas possvel tambm a ordem inversa. Normalmente, o objeto precede o predicado.

    10) ak ak ak ai ai ai

    ak ak ak akauuuu. elele-pei ai chorar-estativo

    tyik. txico

    ' Ai, ai, ai, ai, choraram os Txico.'

    Quanto s oraes transitivas diretas simples, o sujeito sempre precede o predicado, que pode ser preenchido por qualquer dos verbos transitivos diretos que no ocorra nas oraes do tipo transitiva direta de enunciado com citao. Entre os verbos possveis esto: atka 'cavar'; pamka 'virar alguma coisa'; itsitya 'amarrar'; mtawa 'deixar para trs'. O objeto, geralmente, segue o predicado.

  • 6

    11) kata kuhupa tpe estes gavies todos

    tya-pai ui. eles=comer-estativo cobras

    'Todos estes gavies comeram as cobras.'

    H um pequeno grupo de verbos transitivos diretos que diferem ligeiramente dos demais, no que se refere possibilidade de aceitar como objeto direto uma orao encaixada, como em 13), embora na maior parte das vezes o objeto seja expresso por um nome, um pronome ou um sintagma nominal. Esses verbos so: epete 'olhar, ver'; eteme 'ouvir, sentir, examinar, compreender'; kiee' saber'; takuta 'encontrar'; unupa 'olhar, ver'; uuta 'conhecer'.

    12) kam tyta unup-pai pessoa=doente s ele=ver-estativo

    pa-kah-awi apapatai. ele=prprio-em-locativo esprito

    'S a pessoa doente enxerga o esprito perto dele.'

    13) itsa a-uta-pai no ns-saber-estativo

    tumaa-kna-pai eles=fazer-impessoal-estativo

    walu-ata-pi, caramujo-concha-linear

    yenak-pi. disco=de=caramujo-linear

    'Ns no sabemos fazer colares e cintos de caramujos.'

    1.3. As oraes transitivas indiretas possuem um sujeito que quase sempre antecede o predicado, e um objeto indireto que geralmente o segue. Alguns verbos transitivos indiretos, tais como tka 'pousar no cho' no podem ser flexionados quanto a pessoa. Tais verbos podem ter um sujeito livre.

    14) tka aitsu -naku-i. pousar ns isso-em-

    'Nos saltamos para l.'

    Outros verbos transitivos indiretos so: tua 'vir'; akitya 'levantar'; iya 'ir'; e outros verbos similares.

    15) wak ta -n-yi mensageiros eles=vir este-lugar-___

    -ukal-iuh.6 nos-buscar-___

    'Os mensageiros vieram aqui nos buscar.'

    1.4. H dois tipos de oraes intransitivas: a simples e a receptiva. Exigem ambas um sujeito, mas se distinguem pela ordem preferencia l das palavras.

  • 7

    Os verbos que desempenham o predicado simples intransitivo descrevem aes realizadas pelo sujeito, tais como: ala 'voar'; huriritya serpentear'; katumala 'trabalhar'; kepee 'fugir'; e teriritya 'rolar'. Todos os verbos intransitivos simples podem ocorrer com um sujeito livre, mas nem todos podem ser flexionados quanto a pessoa, como por exemplo, pak 'abaixar', e pilala 'atravessar a floresta'. Entre estes verbos intransitivos tambm figuram aqueles que descrevem algo que acontece ao sujeito mas no modifica seu estado, como: alakia 'flutuar'; taka 'cair'; tua 'nascer'; e weka 'flutuar'. O sujeito geralmente antecede o predicado, como em 16), mas pode segui-lo, como em 17).

    16) wekh katumala-pai. dono ele=trabalhar-estativo

    'O dono trabalhou.'

    17) pilala -ne. atravessar=floresta seu (dele)-pai

    'Seu (dele) pai atravessou a floresta.'

    Os verbos que realizam o predicado intransitivo receptivo descrevem um processo que acontece ao sujeito e em geral modifica o seu estado. Alguns desses verbos intransitivos de processo so: akama 'morrer'; apuuka 'ferver'; hwa 'evaporar'; mutuka 'estourar'; m 'chamejar'; uluh 'secar'; usitya 'queimar'; waka 'apagar-se'. Usualmente, o sujeito segue o predicado.

    18) usitya iktsii. isso=queimar sap

    'O sap pegou fogo.'

    1.5. As oraes de opinio descrevem o julgamento de algum sobre um determinado ponto. A ordem dos elementos , em geral, predicado, objeto indireto, sujeito; mas o sujeito pode anteceder o predicado. Os verbos atributivos, tais como kakaya 'valioso' e aw 'bom' concretizam o predicado.

    19) kakaya-ka i-pitsi ela=cara-boato ela-para

    tsupalu. sua(dela)=filha

    'Diz-se que ela avaliou sua (dela) filha muito cara.'

    1.6. H um grande grupo de oraes atributivas, a maioria das quais possui predicado desempenhado por ncleo no-verbal. Podem ter sufixos verbais, como -pai 'estativo', -ta 'restritivo'; e -wi 'perfectivo'. Os tipos de oraes atributivas so: verbal, adjetival, nominal, pronominal, demonstrativa, posposicional, adverbial, e existencial.

    Todas as oraes deste ltimo grupo possuem predicados que incluem waka 'existir, estar disponvel', e por esta razo foram denominadas "existencial", a partir daquela forma nos respectivos predicados.

    As oraes atributivas verbais tm um predicado desempenhado por um verbo ou um sintagma verbal. O sujeito, geralmente, segue o predicado.

    20) mha-pai um. vermelho-estativo gua

    'A gua estava vermelha.'

  • 8

    O predicado das oraes atributivas adjetivais desempenhado por palavras tais como aht 'pequeno, levemente', e kika 'intensamente', que tambm podem funcionar como adjetivos ou advrbios. Ou, ainda, pode ser desempenhado por numerais. O sujeito sempre segue o predicado.

    21) aht-ha-ta kata-h. pequeno-___-restritivo isto-nfase

    'Isto s pequeno.'

    As oraes atributivas nominais tm um sujeito que geralmente segue um predicado desempenhado por um nome ou um sintagma nominal. O sintagma nominal pode ou no indicar a relao de posse, como, respectivamente, em 22) e 23).

    22) -putak-w wetsiulu-i. sua(deles)-aldeia=possuda-ex wetsiulu-___

    'Wetsiulu era sua (deles) aldeia.'

    23) ta yku-h. rvore urucu-nfase

    'Urucu uma rvore.'

    O sujeito da orao pronominal sempre segue o predicado, que expresso por meio de um pronome pessoal, como em 24), ou um sintagma pronominal, como em 25).

    24) natu-pei kala-h. eu-vir=a=ser aquilo-nfase

    'Aquilo ser meu.'

    25) muanlu tu-pei-yi-h. Muanalu dela-vir=a=ser-___-nfase

    'Ser de Muanalu.'

    Quando o sujeito e o pronome no predicado referem-se mesma pessoa, o sujeito pode ser apagado, como em 26).

    26) natu-pai. eu-estativo

    'Sou eu.'

    As oraes atributivas demonstrativas tm um predicado, expresso por um pronome demonstrativo, seguido de um sujeito.

    27) kata-pai wakuli. isto-estativo papa=de=peixe

    'Aqui est a papa de peixe.'

    28) -pai n-itsupalu-h, aquilo-estativo minha-filha-nfase

    n-wa. meu-sobrinho

    'Eu tenho filhas, sobrinho.'

  • 9

    O sujeito das oraes atributivas posposicionais segue o predicado, que desempenhado por um sintagma posposicional, assim como nos exemplos 29) e 30).

    29) -u-ha-pai yku. ele-para-___-estativo urucu

    'Ele tem urucu.'

    30) -naku-pai ti-h. isso-em-estativo sementes-nfase

    'H sementes nisso.'

    As oraes atributivas adverbiais subdividem-se em locativas e temporais. O predicado da locativa , em geral, seguido pelo sujeito, como em 31), enquanto as oraes temporais conservam sempre os elementos na ordem predicado-sujeito, na forma de 32).

    31) enu-pai kuamut. alto-estativo kuamut

    'Kuamut est no alto (no cu).'

    32) kamukawa itsu-i. estao=seca ns-___

    'Ns estamos na seca.'

    As oraes atributivas existenciais tem o predicado desempenhado por um nome seguido por waka 'existir', que no pode ser flexionado quanto a pessoa.

    33) watna wak-ini. flauta existir-pontual

    'Houve toque de flauta.'

    1.7. As oraes atributivas indiretas no tm sujeito. O predicado, expresso por um verbo de ambiente, seguido por um objeto indireto.

    34) a-nai mtiaka-ta aquele-lugar escuro-restritivo

    i-pitsi. ele-para

    'Ele s ficou no escuro.'

    1.8. As oraes de ambiente dividem-se em verbais e temporais, com base nos seus predicados. Estes podem ser desempenhados por um verbo, como em 35), ou por uma palavra ou expresso de tempo, como em 36). No possuem sujeito.

    35) iata-waka-wi. quente-___-perfectivo

    'Faz calor.'

    36) ak yukka-wi yetsipa. pequi estao-perfectivo logo

    'Logo ser a poca de pequi.'

  • 10

    2. FUNES SEMNTICAS. Neste estudo, o conjunto das funes que est sendo empregado baseia -se na proposta de Joseph E. Grimes (1975). Entretanto, devido s caractersticas da linguagem Waur, foram introduzidas pequenas modificaes. Tais funes so definidas em primeiro lugar, e, a seguir, so descritas as suas combinaes com os elementos de superfcie.

    2.0. Os predicados dividem-se em orientao e processo. A orientao inclui a idia de movimento e posio. Desta forma, eles transmitem informao sobre uma posio esttica ou mutvel. Os predicados de processo so independentes de movimento ou posio. Descrevem estados ou mudanas de estado. Os predicados de fala e experincia foram considerados como processo.

    A caracterizao das funes dos atuantes dependem do fato de estarem ligados a predicados do tipo de orientao ou de processo, o que pode ser observado em suas definies. As excees encontram-se nas funes agentivas de agente e instrumento, e em algumas das funes perifricas, como tempo.

    O agente identifica aquilo que responsvel por uma ao, tanto pela sua realizao direta quanto por causar a sua execuo.

    Instrumento o elemento empregado para concretizar uma ao, ou para produzir um estado.

    Paciente o elemento que se movimenta ou est em uma posio determinada, a coisa que mudada ou permanece em uma situao, ou o participante que se submete a uma experincia.

    Campo o espao por onde um paciente se desloca ou est localizado, o tpico da discusso, ou, ainda, o limite da extenso de um processo. Uma locao considerada campo quando o verbo que desempenha o predicado exige que ela seja nuclear.

    Citao uma espcie de campo, mas certas peculiaridades da linguagem Waur tornam necessrio separar citao de campo.

    Anterior a localizao de um paciente no incio do movimento, ou o estado material de alguma coisa antes de ocorrer uma mudana ou de se envolver em um processo.

    Posterior identifica a localizao de um paciente no final do movimento, ou o estado resultante de alguma coisa depois de se submeter a uma mudana ou se envolver em um processo.

    Veculo s ocorre com predicados de orientao, e o que transporta um objeto enquanto se movimenta com ele.

    Fim (telic) o propsito de uma ao. Nem todos os propsitos so considerados fim, pois freqentemente o propsito expresso por uma orao separada. Entretanto, quando est claramente dentro da orao, considerado fim.

    Locao uma afirmao locativa sobre uma ao ou estado no inerente natureza do predicado.

    Tempo uma afirmao temporal sobre uma ao ou estado. Geralmente esta afirmao expressa como orao separada.

    Companhia o que acompanha o agente ao praticar a ao, ou o paciente na mudana de posio ou estado.

  • 11

    Beneficirio algum ou alguma coisa sobre a qual uma ao tem efeito secundrio, seja positivo ou negativo.

    H vrias maneiras de expressar essas funes na estrutura de superfcie. As funes nucleares sero descritas em primeiro lugar, e, em seguida, as perifricas. Deve-se observar que, em certas situaes, duas funes podem estar fundidas em uma nica.

    2.1.0. As funes nucleares so aquelas que necessariamente esto representadas em uma orao, ou, quando implcitas, podem ser recuperadas atravs do contexto. Ainda no foi encontrado em Waur, nenhum verbo que exija mais de trs funes nucleares.

    H um sistema classificatrio da importncia relativa dessas funes. Assim se organizam: primeiro-agente; segundo-paciente; terceiro-citao; quarto-campo; quinto-anterior e posterior. O agente combinado com paciente funciona como agente; paciente combinado com posterior funciona como posterior.

    H um sistema de classificao semelhante para os elementos da estrutura de superfcie, qual seja: primeiro-sujeito; segundo-objeto; e terceiro-objeto indireto. As funes explcitas so emparelhadas s funes da estrutura de superfcie atravs da ordem de classificao, de tal forma que a funo classificada em nvel mais alto sempre realizada como o elemento classificado em nvel mais alto, e assim por diante. Um agente explcito sempre expresso como um sujeito. Deve-se lembrar que uma funo pode estar implcita, como nas oraes sem sujeito, e que isto pode afetar a representao das funes da estrutura profunda nos elementos da estrutura de superfcie. O quadro l mostra como as funes e os elementos de superfcie podem combinar-se.

    estrutura profunda estrutura de superfcie

    classe funo elemento classe

    1 agente sujeito 1

    1 agente + paciente sujeito 1

    2 paciente { sujeito objeto direto } 1 2 3 citao objeto direto 2

    4 campo { objeto direto objeto indireto } 2 3 5 anterior { objeto direto objeto indireto } 2 3 5 paciente + posterior { objeto direto objeto indireto } 2 3 5 posterior objeto indireto 3

    a {b } indica a ou b. esta funo expressa como objeto direto s quando

    o segundo atuante estiver implcito.

    QUADRO 1.

  • 12

    A ordem dos elementos em uma orao influenciada, mas no governada, pelas funes da estrutura profunda, especialmente pela do sujeito. A relao entre a ordem das palavras e a funo do sujeito evidenciada no quadro 2.

    A ordem preferida PS, nas oraes com citao do tipo bitransitiva e transitiva direta, no de surpreender. Estas so os nicos tipos de oraes nas quais o objeto direto geralmente antecede o predicado. Como a maior carga de informao dada pela citao realizada pelo objeto direto, no causa surpresa este elemento se antepor ao predicado.

    Ordem dos Elementos

    s SP SP preferida PS preferida s PS

    agente bit. simples bit. sem citao bit. com citao

    agente agente + paciente paciente }

    t. d. simples t. i. int. simples t. d. com citao

    Fun

    o d

    o Su

    jeito

    paciente

    int. receptiva opinio a. verbal a. nominal a. adv. loc.

    a. adjetival a. pronominal a. demonstrativa a. posposicional a. adv. temp.

    Abreviaturas: a. atributiva Smbolo adv. adverbial bit. bitransitiva int. intransitiva loc. locativa P predicado S sujeito temp. temporal t. d. transitiva direta t. i. transitiva indireta

    QUADRO 2.

    H vrios artifcios gramaticais destinados a deixar uma funo implcita (alm do apagamento de elemento da superfcie, quando o contexto torna sua presena desnecessria, como no exemplo 2) na seo 1.0). Esses mecanismos gramaticais no permitem que a funo implcita se torne explcita. So eles: o emprego de verbos no-conjugveis5 combinado com a ausncia de um sujeito livre, como na bitransitiva sem sujeito, deixa o agente implcito; a realizao do terceiro atuante pelo objeto direto, em vez de ser realizado pelo objeto indireto, deixa implcito o segundo atuante; o emprego da voz impessoal deixa implcito o primeiro atuante. Este ltimo artifcio est sucintamente descrito na seo 4. deste trabalho.

    a { b } indica a ou b.

  • 13

    H vrias combinaes possveis das funes nucleares determinadas pelo predicado. Estas combinaes aparecem nas oraes de dois ou trs atuantes.

    2.1.1. Nas oraes de 3 atuantes, o primeiro sempre um agente, mas h algumas combinaes possveis das funes do segundo e terceiro atuantes. O quadro 3 mostra como essas combinaes so expressas na estrutura de superfcie.

    processo orientao

    3 paciente + posterior 3 campo 3 anterior 3 posterior

    2 campo bitransitiva sem citao

    * * * *

    2 citao bitransitiva com citao

    bitransitiva com citao

    bitransitiva simples

    * *

    bitransitiva simples

    2 paciente * bitransitiva simples

    bitransitiva simples bitransitiva

    sem sujeito

    O espao em branco indica que no h exemplos nos dados. * = no ocorrncia 2 = segundo atuante 3 = terceiro atuante.

    QUADRO 3.

    A combinao de campo com paciente+posterior expressa como orao bitransitiva sem citao. O campo pode ser deixado implcito deliberadamente, como foi explicado na seo 1.1. Este tipo de orao possui um predicado de processo.

    37) iyka-pai -u Ela=contar-estativo ele-para

    -tap-iu. dele-irmo=mais=velho-___

    'Ela contou a ele sobre seu irmo mais velho.'

    As combinaes de citao com campo, e citao com paciente+posterior, apresentam-se na superfcie como oraes bitransitivas com citao. Estas oraes possuem predicados de processo. H duas combinaes possveis de citao com paciente+posterior. Na primeira, ambos no se referem ao mesmo participante, e o objeto direto pode ser desempenhado por qualquer tipo de citao, uma exclamao ou um discurso completo. Desde que a informao contida seja basicamente a mesma, a citao pode ser repetida seguindo-se orao e em aposio a ela.

    38) ntu-h, ma i-pitsi eu-nfase ele=dizer ele-para

    apapatai; esprito

  • 14

    ntu n-nka-wa-n. eu eu-atacar-aumentativo-___

    ' Eu fiz, o esprito disse a ele, eu o ataquei.'

    A segunda combinao possvel de citao com paciente+posterior uma forma idiomtica de dar o nome de um elemento. Assim sendo, a citao co-referencial ao paciente+posterior.

    39) mi. a-m-ta leo ns-dizer-restritiva

    i-ptsi. isso-para

    'Ns chamamos isso "leo para o corpo".'

    Campo e citao podem combinar-se quando o campo o tpico da citao. Como o exemplo 40) est na forma impessoal, o sujeito a citao.

    40) atuu iye-n. atujua ele=tomar-___

    ma-kna pi-pitsi. isso=dizer-impessoal voc-sobre

    ' Atujua levou-o embora, diz-se sobre voc.'

    As combinaes restantes das trs funes apresentam-se na superfcie como oraes bitransitivas simples ou sem sujeito. exceo de dois, todos os verbos empregados so de orientao. Estas excees asaata 'mostrar' e ehee 'esconder' exigem as funes de paciente e campo.

    41) ni asata pi-u l ele=mostrar voc-para

    pa-putak. prpria-aldeia

    'Ali ele mostra (a) voc sua (dele) prpria aldeia.'

    O verbo puhuka 'dar um grito de guerra' exige tanto campo quanta citao. A significao do verbo no induz a isso, mas a grande maioria das oraes com puhuka no predicado tem explcito o local da ao, mesmo quando o contexto supre esta informao. Por esta razo, este verbo foi considerado como de 'orientao' em vez de 'processo'.

    42) kuuwaaakakakaka, tyik kuuwaaakakakaka txico

    puhk-ini p-ku-i, eles=gritar-pontual casa-em-___

    hu hu hu hu hu hu hu. hu hu hu hu

    'Ento os Txico (deram um) grito de guerra na casa (com ideofones).'

  • 15

    A combinao de paciente+posterior ocorre nas oraes bitransitivas sem sujeito com predicados tais como pak 'por', e nas oraes bitransitivas simples com verbos como ityeke 'dar'. Paciente e anterior combinam-se nas oraes bitransitivas simples com verbos como emetsua 'roubar'.

    43) pap awanakta itsu p-ui. Papai ele=mandar nos voc-para

    'Papai nos mandou a voc.'

    44) p kwka, apapaatai, yene Ento flauta, demnio, ele-tirar

    pa-uku-lih -kh-itsi. prpria-flecha-possuda ele-em-de

    'Ento a flauta, o demnio, arrancou suas prprias flechas dele.'

    2.1.2. As oraes com dois atuantes possuem uma classe maior de combinaes possveis, como se v no quadro 4.

    processo orientao

    2 citao 2 paciente 2 campo 2 posterior 2 anterior

    1 agente t. d. com citao

    t. d. simples

    t. i. t. d. simples

    * * *

    1 agente + paciente * * t. d. simples t. i. t. i. t. i.

    t. d. simples t. i. 1 paciente * *

    opinio

    t. i. t. i.

    O espao em branco indica que no h exemplos nos dados disponveis * = no ocorre Abreviaturas: t. d. = transitiva direta t. i. = transitiva indireta

    QUADRO 4.

    A combinao de agente e citao, que ocorre com verbos de processo de enunciao, sempre expressa como orao transitiva direta com citao.

    45) ak ak ak ak ak ak akauuuu, ai ai ai ai ai aiii

    elele-pei tyik eles =chorar-estativo txico

    ' Ai, ai, ai, choraram os Txico.'

  • 16

    Agente e paciente uma combinao expressa em oraes transitivas diretas simples. Todos os predicados so desempenhados por verbos de processo (exemplo 46) fundidos com instrumento (exemplo 47) ou posterior (exemplo 48).

    46) a-nka kupti. ns-atacarpeixe

    'Ns pegamos peixe.'

    47) a-uk-ta kupt menek. ns-flecha-causa peixe logo

    'Ns flecharemos peixe logo.'

    48) ew--pehe -pwa. ns-causa-comida=assada isso-outro

    'Ns assamos outro.'

    O resultado de cozinhar o macaco seria pehe 'comida assada'.

    Agente combinado com campo pode apresentar-se na superfcie tanto como transitiva direta simples 49) quanto como transitiva indireta 50), dependendo do verbo de processo desempenhado pelo predicado.

    49) aitsa kuta no ele=esperar

    pe-peuku-nau. seu(dele)=prprio-amgo-plural

    'Ele no esperou por seus amigos.'

    50) mytya-pai -kha. preguioso-estativo ele-para

    'Eles so preguiosos com ele.'

    (i.e. 'Eles no trabalham para ele.')

    A combinao de paciente com campo pode apresentar-se na superfcie como transitiva direta simples, transitiva indireta, ou como opinio, dependendo do verbo de processo que realiza o predicado. A combinao de agente+paciente com campo aparece na superfcie como transitiva direta simples. Os mesmos verbos de processo da transitiva direta estaro envolvidos se o primeiro atuante for agente+paciente ou apenas paciente.

    freqente a ambigidade da funo do primeiro atuante, mas o contexto esclarece em que funo est envolvida. Por exemplo, os contextos dos exemplos 51) e 52) tornam claro que em 51) o primeiro atuante agente+paciente, e em 52) paciente. Deve ser observado que o mesmo pequeno grupo de verbos ocorre, quer dizer os que permitem uma orao encaixada como manifestao do objeto direto.

    51) kamukuaka -pne-w u-h. kamukuaka dele-casa-ex aquela-___

    h. a-unupa-pai. ah ns-ver-estativo

    ' Aquela a casa que era de Kamukuaka. Ah! Ns olhamos (para ela).'

  • 17

    52) tneu-ka ya ulei-taku, mulher-boato ela=ir mandioca-lugar

    unpa i iitsai. ela=ver cobra dela=ovos

    'Uma mulher foi ao campo de mandioca, comenta-se, e viu ovos de cobra.'

    Paciente com campo apresenta-se na superfcie como uma orao transitiva indireta, cujo predicado consiste em um verbo de processo que descreve uma emoo do paciente, como em 53). Tambm pode ser expressa como uma orao de opinio, quando descreve um atributo do paciente, como em 54).

    53) me-neke -u-ts-u. eles=medo-iminente4 ele-para-de-

    'Eles ainda tm medo dele.'

    54) kakaya-tua a-pitsi valioso-frustrativo ns-para

    a-putak. nossa-aldeia=possuda

    'Ns avaliamos nossa aldeia em vo.'

    As oraes de orientao com 2 atuantes apresentam-se todas na superfcie como oraes transitivas indiretas. Os verbos de orientao que desempenham o predicado sempre descrevem movimento para alguma direo. O primeiro atuante sempre aquele que movimentado. Assim sendo, quando o primeiro atuante tambm responsvel pelo movimento, sua funo agente+paciente. O movimento pode ocorrer ao longo de um caminho (campo), como em 55), at algum lugar (posterior), como em 56), ou a partir de algum lugar (anterior), como em 57).

    55) a-y ttttt ahnapu-a. ns-ir ideofone trilha-pela

    'Ns fomos pela trilha.'

    56) -ya-wi wnekutku-i. ns-ir-perfectivo aldeia =praa-___

    'Ns fomos praa da aldeia.'

    57) y-akty-iu amak-ua-its-iu. vocs-levantar-___ rede-em-de-

    'Levantem-se de (suas) redes.'

    Quando o primeiro atuante no responsvel pelo movimento, mas est passivamente nele envolvido, sua funo paciente. Nessas oraes, paciente pode ser encontrado com posterior, como em 58), ou com campo 59).

    58) -nku tk-ini tupi tupi tp isso-em cair-pontual pim pim pim

    'Est pingando dentro.'

    59) itsa n huk-ini no gua derramar-pontual

  • 18

    ata-pna -kah-a, rvore-folha isso-em-locativo

    aitsa-wi. no-perfectivo

    'A gua no atravessa as folhas, nem um pouco.'

    2.1.3. As oraes de um atuante podem apresentar fatos ou ser descritivas. As que apresentam fatos dividem-se em orientao e processo, como indicado no quadro 5. O primeiro atuante sempre sujeito.

    processo orientao

    agente intransitiva simples *

    agente + paciente intransitiva simples intransitiva simples

    paciente intransitiva receptiva intransitiva simples * indica que no ocorre.

    QUADRO 5.

    O nico atuante exigido pelos verbos de processo pode ser agente, agente+paciente, ou paciente. Quando a funo do atuante agente+paciente (exemplo 60) ou agente, a orao intransitiva simples. Quando o processo est fundido com instrumento (exemplo 61), ou posterior (exemplo 62), a funo do atuante agente. Quando a funo do atuante paciente, a orao intransitiva receptiva (exemplo 63).

    60) ni-neke ew-ityuapa-pai-h. l-ainda ns-esquentar=se-estativo-nfase

    'Enquanto estvamos l, ns nos esquentamos (passado).'

    61) p putka-nau ento xinguano-plural

    a-wtn-te-pei-u-h. eles=causa-flauta-causa-estativo + potencial-___-nfase

    'Ento os Xinguanos tocaro flautas.'

    62) kuka a-tuluk-yi. flauta eles=causa-danar + potencial-___

    'As flautas danaram.'

    63) ustya-pe tyik queimar-estativo+potencial txico

    -pn-iu. sua(deles)-casa-___

    'A casa dos Txico queimou.'

    Os verbos de orientao exigem ou agente+paciente (exemplo 64) ou paciente (exemplo 65), ambos expressos como sujeito de uma orao intransitiva simples.

    64) nu kepe-wi-u. sua(dele)=me ela=fugir-perfectivo-___

    'Sua(dele) me fugiu.'

  • 19

    65) -ni ak Ah aquele-lugar pequi

    tak-ehene. isso=cair-pontual

    'Ah, pequi caiu ali.'

    Nas oraes atributivas, o atuante sempre tem a funo de paciente. Os predicados so: processo de qualidade, categoria, quantidade, definio, identificao, ou existncia; ou orientao fundida com propriedade, campo ou tempo. O quadro 6 mostra como so expressos na estrutura de superfcie.

    predicado tipo de orao na superfcie

    qualidade atributiva verbal

    categoria atributiva verbal

    quantidade atributiva verbal, adjetiva

    definio nominal sem posse

    identificao pronominal

    processo

    existncia existencial demonstrativa

    propriedade nominal com posse pronominal, posposicional

    campo adverbial locativa demonstrativa, posposicional orientao

    tempo adverbial temporal

    QUADRO 6.

    Os processos de qualidade 66) e categoria 67) realizam-se como oraes atributivas verbais; quantidade expressa por uma orao atributiva verbal 68) ou uma orao adjetiva 69).

    66) autstya ak. delicioso pequi

    'Pequi delicioso.'

    67) its-kala hw-i. parece-certeza sal-____

    'Parece sal.'

    68) wke i-kiitsapa. grande seu(deles)-ps

    'Seus(deles) ps eram grandes.' wke 'grande' um verbo conjugvel.

    69) aht-ha-ta kata-h. pequeno-___-restritivo isto-nfase

    'Isto pequeno.'

    aht 'pequeno, levemente' pode funcionar como adjetivo ou advrbio.

  • 20

    O processo de definio realizado como uma orao nominal sem posse.

    70) iau-w-ha-ta kata. pessoas-ex-___-restritivo isto

    'Estas so apenas ex-pessoas.'

    O processo de identificao expresso como uma orao pronominal, com 71) ou sem 72) sujeito.

    71) aitsu-ta kata-n. ns-restritivo isto-___

    'Somos ns.'

    72) natu-pai. eu-estativo

    'Sou eu.'

    O processo de existncia representado na estrutura de superfcie por uma orao demonstrativa 73) ou por uma orao existencial 74).

    73) a-pai tnu paw-ik. aquela-estativo mulher uma-mo

    'Havia cinco mulheres.'

    74) kisua-ki-a branco-nominalizador-locativo

    apa-i cano-dono=no=especificado

    yaka-w-ma. existir-aumentativo-repetitivo

    'No dia seguinte houve mais cantoria.'

    As oraes de orientao de propriedade so realizadas atravs de oraes nominais com posse, ou oraes pronominais e oraes posposicionais. Nas primeiras, o nome no predicado identifica o paciente, e o prefixo pronominal identifica o possuidor.

    75) n-iu -ni yamuku-nau. minha-mulher aquela-___ criana-plural

    'Aquelas so minhas mulheres, gente.'

    Na orao pronominal, o pronome no predicado identifica o possuidor.

    76) natu-pei kala-h. eu-tornar=se aquilo-nfase

    'Aquilo ser meu.'

    O prefixo que marca pessoa na posposio identifica o possuidor na orao posposicional.

    77) pa p-u yuku. ento voc-para urucu

    'Ento voc tem urucu.'

  • 21

    As oraes de orientao, que envolvem campo ou tempo, aparecem na superfcie como oraes adverbiais temporais 78), adverbiais locativas 79), posposicionais 80) ou demonstrativas 81). A primeira delas inclui orientao no tempo, as demais incluem campo.

    78) yeiywa itsu-i. noite ns-___

    'Ns estvamos no escuro (era noite).'

    79) nai tsapatma-i kam-u-h. l tambm-___ sol-___-nfase

    'O sol est l tambm.'

    80) -kunu-la -kah-pai dele-porta-possuda isso-em-estativo

    aitsu-i. ns-___

    'Ns estvamos sua porta.'

    81) a-wi putka-nu-i. aquele-perfectivo xinguano-plural-___

    'Os Xinguanos estaro l (na festa).'

    Nas oraes atributivas indiretas, o atuante tem a funo de campo.

    82) a-nai mtiaka-ta aquele-lugar escuro-restritivo

    i-pitsi. ele-para

    'Ele s ficou no escuro.'

    2.1.4. As oraes sem nenhum atuante so sempre de processo. As que descrevem as condies ambientais realizam-se na superfcie como oraes de ambiente verbal, como 83), enquanto as oraes que indicam tempo apresentam-se como oraes de ambiente temporal, como 84).

    83) katka-waka. frio-intenso

    'Faz frio.'

    84) yeityini-wi. tarde-perfectivo

    'Era de tarde.'

    2.2. As funes no-nucleares so: instrumento, companhia, veculo, fim, locao, tempo, maneira, e beneficirio. Estas so apenas mencionadas aqui. No so descritas em detalhe pelo fato de que so expressas por uma larga variedade de estruturas de superfcie. Sua caracterizao ajusta-se melhor a um artigo que descreve os tipos de sintagmas do Waur.

    Instrumento aparece na estrutura de superfcie como um sintagma posposicional com um prefixo de 3 pessoa em situao de posposio, geralmente com tsenu 'com'. Foi encontrado apenas em oraes cujo predicado expresso por um verbo.

  • 22

    85) epi-mna pata i-tsenu machado-quase s isso-com

    tuka-pa t-iu-h. eles=cortar-estativo madeira-___-nfase

    'Eles cortam madeira s com machados de pedra.'

    Companhia expressa na estrutura de superfcie como um sintagma posposicional. encontrada nas oraes, transitivas diretas simples, transitivas indiretas e intransitivas simples. A posposio -tsenu possui um prefixo pronominal que identifica o atuante sendo acompanhado. Este pode ser tanto o primeiro atuante, como em 86), quanto o segundo, como em 87).

    86) a-numan-tsa km t-hini aquela-direo-de sol ele=vir-pontual

    ke i-tsenu-i. lua ele-com-___

    'O sol vem daquela direo com a lua.'

    87) Kam ni tum aitsui, Sol ele ele=fazer nos

    putka-nautpe i-tsenu-i. xinguano-plural todos eles-com-___

    'O sol nos fez com todos os Xinguanos.'

    Fim encontrado nas oraes que possuem um verbo no predicado. expresso por uma grande variedade de formas, uma das quais um simples nome representando uma atividade.

    88) ta iau ya piul. ento pessoas eles=foram pesca

    'Ento as pessoas foram pescar.'

    Veculo s encontrado em oraes transitivas indiretas.

    89) ya tsa-nku-i. ele=ir canoa-em-___

    'Ele foi de canoa.'

    Nos dados colhidos, o beneficirio somente ocorre em oraes transitivas diretas.

    90) n-atu tuma-w sua(dele)-av ela=fazer-isso

    -u-i ai-yiu. ele-para-___ -pimenta-___

    'Sua (dele) av preparou molho de pimenta para ele.'

    A locao estabelece um cenrio ambiental. Este, porm, no est restrito ao ou estado mencionado no predicado da orao em que se manifesta. Ela associada, embora no exigida, por estes. Muitas vezes o cenrio assim estabelecido abrange um trecho maior do discurso. Esta funo locativa no foi encontrada em oraes de opinio ou de ambiente verbal.

  • 23

    91) tuma-kna n mehh-eu. eles=fazer-impessoal l cabanas-___

    'Cabanas foram construdas l.'

    Tempo encontrado em oraes que possuem predicados verbais e em oraes existenciais. Indica o tempo associado ao ou estado, ou mais freqentemente, a uma srie de aes dentro de um discurso.

    92) aitsu pata yanumka nka-pai ns s ona ferir-estativo

    seky-iu. muito=tempo=atrs-___

    'A ona s caava a gente (a espcie humana) h muito tempo atrs.'

    Maneira ocorre com predicados verbais e indica a maneira pela qual uma ao se processou, ou a intensidade de um estado.

    93) kektsi-pai kik-yiu-h cortante-estativo muito-___-nfase

    ulut. ostras

    'As conchas de ostras so muito cortantes.'

    Algumas dessas funes perifricas podem ser interpretadas como predicados separados, da mesma forma que o causativo. Mas no so tratadas dessa forma neste trabalho.

    3. CAUSATIVO. Pode-se considerar que as oraes causativas possuem um atuante nuclear a mais do que as oraes no-causativas. Este atuante o iniciador ou o agente causativo. Exemplos como 94) podem, assim, ser analisados como tendo um iniciador pu- 'voc' e um agente natu 'eu'.

    94) pu-tuuka-ta-kala natu. voc-beber-causa-certeza eu

    'D-me uma bebida.' (Literalmente: 'Faa-me beber.')

    Entretanto, foi adotada aqui a anlise alternativa mencionada por Grimes (1975). Considerou-se que as oraes causativas possuem duas proposies consolidadas em uma nica. O predicado da primeira proposio no exemplo 94) representado pelo afixo causativo -ta 'causa'. Este predicado exige dois argumentos: um agente e um posterior (resultado). Posterior uma proposio encaixada, com seus prprios argumentos. O exemplo 94) pode, ento, ser assim analisado: pu- 'voc' o agente do predicado -t 'causa'; e natu 'eu' o agente da orao encaixada cujo predicado tuuka 'beber'.

    Na estrutura de superfcie, as oraes causativas so dos tipos bitransitiva simples ou transitiva direta. Estas oraes transitivas diretas diferem das transitivas diretas simples somente na ordem das palavras. O sujeito pode seguir o predicado, embora usualmente o preceda. O predicado inclui um ou ambos os afixos -a- 'causa' e -t 'causa' (Richards, no prelo). O sujeito da orao encaixada torna-se o objeto da orao causativa. Se a orao encaixada possui um objeto, este se apresenta na superfcie como um sintagma posposicional, na forma de 95).

    95) n-tya-ta-pai nu-pa eu-comer-causa-estativo meu-bichinho

  • 24

    kupat i-tsenu. peixe o-com

    'Eu alimento meu bichinho com peixe.'

    Deve ser observado que o instrumento da orao encaixada tambm se apresenta na superfcie como um sintagma posposicional de instrumento, como em 97). Quando o agente da orao causativa co-referencial ao primeiro atuante da orao encaixada, neste caso um paciente 96), a orao resultante reflexiva.

    96) n-mha-pai yuku i-tsenu. eu-vermelho-estativo urucu isso-com

    'Eu estou vermelho de urucu.'

    97) n-a-mha-t-ua-pai eu-causa-vermelho-causa-reflexivo-estativo

    yuku i-tsenu. urucu isso-com

    'Eu me pintei de vermelho com urucu.'

    Nem todos os tipos de orao podem ser encaixados como o posterior de uma orao causativa. As encontradas nos dados disponveis so: transitiva direta simples; transitiva indireta; intransitiva simples; intransitiva receptiva; e atributiva verbal. Quando a orao encaixada transitiva indireta, como no exemplo 98), a orao causativa bitransitiva. De outra forma, transitiva direta.

    98) patak-ta waku ele=sentar-causa rio

    -penu-a hpe-iuh. isso-acima-locativo cinza=salgada-___

    'Ele ps a cinza salgada na margem do rio.'

    4. VOZ. A lngua Waur possui as vozes ativa, impessoal e reflexiva. As oraes na seo 1. esto todas na voz ativa. As vozes impessoal e reflexiva so descritas nesta seo.

    4.1. A voz impessoal um artifcio gramatical usado para deixar implcito o primeiro atuante do verbo que, por essa razo, no representado na estrutura de superfcie. A voz impessoal na lngua Waur lembra a da lngua Uto-Azteca, na forma descrita por Langacker e Munro (1975). As oraes na voz impessoal tm o sufixo kna 'impessoal' ligado ao verbo.

    Nas oraes bitransitiva e transitiva direta, o prefixo pronominal concorda com o sujeito o elemento que seria o objeto da contraparte ativa da orao. Alm do mais, a ordem das palavras diferente da encontrada nas oraes ativas, no que se refere ordem preferencial dos elementos, que se configura como predicado-sujeito, embora seja possvel sujeito-predicado. Assim, o sujeito impessoal toma o lugar, na ordem dos elementos, equivalente ao do objeto nas oraes ativas. Nenhum objeto direto livre ou sufixal pode coocorrer com -kna 'impessoal' nem pode ser expresso o primeiro atuante subjacente. O exemplo 99) refere-se a uma orao bitransitiva impessoal e o 100), a uma transitiva impessoal.

    99) puta-kna -kh yku. isso=pr-impessoal ele-em urucu

    'Puseram urucu nele.'

  • 25

    100) n-aipiaka-kna-pai. eu-escarificar-impessoal-estativo

    'Fui escarificado.'

    Como a orao bitransitiva sem sujeito , na sua essncia, impessoal, desde que seu primeiro atuante est sempre implcito, no pode incluir um predicado com o afixo -kna 'impessoal'.

    As oraes transitivas indiretas, intransitivas e atributivas no possuem um objeto direto na voz ativa, portanto no podem ter um sujeito na voz impessoal. O exemplo 101) de uma orao transitiva indireta, o 102), de uma atributiva verbal e o 103), de uma pronominal demonstrativa.

    101) iy-kna-wi ir-impessoal-perfectivo

    wakty-pei-yiu-h. delegao-tornar=se-___-nfase

    'Houve um xodo geral para a festa.'

    102) man-kna-wi. terminar-impessoal-perfectivo

    'No deixaram nenhum.'

    103) a-kna-wi meneke. aquele-impessoal-perfectivo logo

    '(As pessoas) estaro l logo.'

    No possvel transmitir toda a fora desses exemplos em uma traduo, j que os sistemas so to diferentes neste aspecto. A funo das oraes impessoais no Waur muitas vezes a de conservar os participantes secundrios em segundo plano, de modo a permitir que a ateno se focalize nos participantes principais.

    Das oraes de opinio e atributivas, apenas as demonstrativas e verbais foram encontradas na voz impessoal.

    4.2. A voz reflexiva empregada quando o agente e o paciente so co-referenciais. No h objeto direto livre ou sufixal, e o sufixo -ua 'reflexivo' est includo no verbo.

    104) aw--yuku-t-a-wi. ns-causa-urucu-causa-reflexivo-perfectivo

    'Ns nos pintamos com urucu.'

    Tambm empregado quando o agente co-referencial com o possuidor do paciente.

    105) a-i-tsity-ua ns-causa-amarras-reflexivo

    a-punut nai. nosso-lugar ali

    'Ns prendemos nosso lugar ali.' (i.e. 'Ns penduramos nossas redes ali.')

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    As oraes bitransitivas e transitivas diretas simples s podem assumir a voz reflexiva quando esta compatvel com o significado do verbo que realiza o predicado. As oraes bitransitivas sem sujeito no podem ser reflexivas.

    Um emprego especial de voz reflexiva tornar a orao impessoal e, assim, evitar a especificao da identidade do agente, como em 106).

    106) wasity-ua-wi. atirar-reflexivo-perfectivo

    'Atirou-se.' (i. e. 'Perdeu-se.')

    NOTAS

    1. A anlise apresentada resultado de 17 meses de pesquisa no campo no perodo 1966-69, e 1974. Waur uma lngua Aruak falada por cerca de cem ndios monolnges que habitam uma aldeia num dos afluentes do Rio Batovi no Parque Nacional do Xingu, Mato Grosso, Brasil. A autora expressa seus agradecimentos aos Srs. Orlando e Cludio Villas-Boas, Administradores do referido Parque, bem como Fundao Nacional do ndio, pela oportunidade de realizar a pesquisa, que foi feita tambm em decorrncia dos convnios culturais com o Museu Nacional do Rio de Janeiro, a Universidade de Braslia, e o Ministrio do Interior.

    A autora tambm agradece ao Dr. Ivan Lowe pela sua participao nos estgios iniciais desta anlise, durante os seminrios lingsticos de Porto Velho, em 1969, e por t-la introduzido nos trabalhos de Halliday e Fillmore.

    2. Os dados esto escritos fonemicamente. A anlise fonmica, arquivada no Museu Nacional do Rio de Janeiro num trabalho indito, inclui os seguintes fonemas: oclusivas p [p, ph, b]; t [t, th, d]; ty [ ty, ky]; k [k, kh, g]; africada ts; fricativas s [s, z]; [, ]; h; nasais m; n; [, y]; semivocides [, w]; y; ; lateral 1; vibrante (flap); vogais orais i [i, , , ]; e [e, , ]; a [a, , , ]; alta central no arredondada [, ]; u [u, , , ]; vogais nasais [, ]; [, ]; [, ]; ; ; e intensidade. As vogais ligeiramente nasalizadas so indicadas por um gancho abaixo da vogal. So interpretadas como alofones da vogal oral.

    Os morfemas do Waur compreendem 2 classes, a maior das quais palataliza a consoante inicial depois de /i/, o que no ocorre com a outra. As mudanas consonantais so as seguintes; p e k para ty; e t para ts; m e n para ; e para y, e l para . Alm dessas mudanas, h harmonia voclica quando uma vogal anterior est envolvida; adjacente a /i/, transforma-se em i, assim como o a, adjacente a /e/, torna-se e. Estas mudanas voclicas afetam as slabas adjacentes que no recebem o acento primrio dentro da palavra, de tal forma que um afixo como -kala ter a forma -kele antes ou depois de /e/. Nos prefixos como o a- causativo, h harmonia voclica entre as vogais anteriores na slaba inicial da raiz e o prefixo. Desta forma, o prefixo causativo a- apresenta os alomorfes e- e i-, Quando um morfema terminado em // precede um morfema com a inicial /a/, a seqncia se torna /a/. Estas regras explicam a maioria das mudanas morfofonmicas. Os exemplos so grafados conforme os smbolos desta nota, exceto , que grafado r; grafado como w; e ty grafado como ty.

    Alguns smbolos adicionais so empregados, quais sejam: = unio de 2 ou mais palavras que equivalem traduo de um nico morfema Waur; - separaes entre morfemas e entre suas tradues; -___ indica que o significado do afixo ou afixos ainda desconhecido; ( ) indica uma palavra na traduo que no est presente na lngua original.

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    3. Os prefixos pronominais so apresentados no quadro 7.

    consoante inicial

    classe 1 classe 2 vogal inicial

    nome verbo nome verbo nome verbo

    1 singular nu- nu- nV- nV- n- n-

    2 singular pi- pi- pV- pV- p- p-

    3 singular e plural

    # # #

    1 plural A- ai- a(V)- a(V)- A- A-

    2 plural yi- yi- yV- yV- Y- Y-

    3 pessoa - a mesma do suj. da orao

    pA- * pA(V)- * pA- *

    QUADRO 7.

    - Os morfemas de classe l palatalizam a consoante inicial depois de /i/;

    - Os morfemas de classe 2 no palatalizam a consoante inicial depois de /i/;

    - A : e- antes de slabas com a vogal /e/ depois de uma consoante; e- antes de /e/; a- antes de /a/; a- nas demais situaes.

    Observe-se que quando a- precede o // inicial de radical, o // apagado. - : i- precedendo /s/, /ty/, //, /y/, slabas com uma consoante seguida

    por i, e /ts/ seguido por qualquer outra vogal que no //; u- antes de //; - ocorre nos demais ambientes.

    - n : # ou nasalizao quando o radical iniciado por /i/, dependendo a escolha do morfema; # quando o radical iniciado por //; # ou n- quando o radical iniciado por // ou //, dependendo a escolha do morfema; n- quando o radical iniciado por /a/, //, /e/, //, /u/ ou //.

    - V : /i/ precedendo radical iniciado por /s/, / ty/, // e /y/; radicais com a vogal /i/ na primeira slaba; e radicais com /ts/ que no sejam seguidos por //; // precedendo radicais iniciados com a vogal // na primeira slaba, e os iniciados por /ta/, /te/, /ha/, /he/ e /a/; /u/ ocorre nos demais ambientes.

    - (V) indica que a vogal apagada quando for // ou /u/.

    - [V] indica que a vogal apagada quando for //.

    - Y : // antes de vogais nasais; e /y/ antes de vogais orais.

    - H nasalizao em alguns prefixos, especialmente precedendo /ty/, /ts/. Este, entretanto, um tpico que necessita de estudos posteriores para a fixao de regras.

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    4. -pai 'estativo' abrange a rea semntica de 'estado, habitual, durativo'. -neke 'iminente' tem o significado de 'em vias de acontecer, ainda em progresso'.

    5. Os verbos no conjugveis constituem um pequeno grupo que no podem ocorrer com prefixos pessoais. Deve-se observar que alguns deles possuem dois significados. Um exemplo pak 'colocar, abaixar-se/curvar-se'. Com o significado de 'pr, colocar', pak - inerentemente impessoal e, desta forma, no pode ter um sujeito. Com o significado de 'curvar-se', pak no impessoal e pode ter um sujeito livre expresso na estrutura de superfcie. Somente os verbos bitransitivos no conjugveis so inerentemente impessoais.

    6. -ukala uma posposio com o significado de 'propsito de buscar', e no pode ser empregado como um verbo.

    TRABALHOS MENCIONADOS GRIMES, JOSEPH E.

    1975 The Thread of Discourse. Haia. Mouton e Cia.

    LANGACKER, R. W., e P. Munro 1975 "Passives and Their Meaning." Language. 51. 789-830.

    RICHARDS, JOAN "Estrutura Verbal Waur." Braslia. Srie Lingstica Prelo do SIL.

    Traduo de Laura Parisi