As Personagens Masculinas de Amor de Perdição e Primo Basílio

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Os protagonistas e antagonistas masculinos de Amor de Perdição e O Primo Basílio Trabalho apresentado à Disciplina Narrativa Portuguesa , do DELL. Docente responsável: Profa. Dra. Luciene Marie Pavanelo FERNANDO HENRIQUE MAGALHÃES MENDES

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Os protagonistas e antagonistas masculinos de

Amor de Perdição e O Primo Basílio

Trabalho apresentado à Disciplina Narrativa Portuguesa , do DELL.

Docente responsável: Profa. Dra. Luciene Marie Pavanelo

FERNANDO HENRIQUE MAGALHÃES MENDES

São José do Rio Preto

2015

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Nesse trabalho, pretende-se analisar e comparar as principais personagens

masculinas, desses romances que são considerados como os mais bem acabados

representantes de seus gêneros na literatura portuguesa do século XIX, o romance

sentimental e o romance realista. Para essa comparação, o objetivo do trabalho será

analisar as personagens protagonistas Simão e Basílio, e as antagonistas Jorge e

Baltasar, sendo que em ambos romances vemos um confronto entre personagens que

desafiam as convenções sociais (Simão e Basílio) e personagens que representam essas

convenções (Jorge e Baltasar).

Simão e Basílio são personagens altamente egocêntricas, que encaram a

vivência em sociedade de acordo com as próprias regras. Mas, eles se opõem no

sentindo em que, o primeiro afronta a moral da sociedade devido ao seu idealismo e

sentimentalismo exacerbado enquanto, o segundo simplesmente a ignora para sua

satisfação própria.

Simão, como uma personagem romântica, é guiado por seus sentimentos,

praticamente todas as ações e decisões tomadas por ele são decididas pelo amor, e na

necessidade da realização deste, não se importando nas consequências que suas

escolhas ocasionariam.Qualquer situação ou pessoa que se oponha a realização do amor

deve ser sobrepujada. Ele não tem consciência alguma das consequências de seus atos,

seu egocentrismo faz crer que suas ações afetarão somente ele e Tereza, já que seu

universo se reduz apenas aos dois e ao amor,no entanto seus atos afetam a vida de todos

ao seu redor, seus pais, os pais de Tereza, seus fiéis amigos João da Cruz e

Mariana.Desse modo, Simão pode ser também ser considerado um herói trágico no

sentido clássico do termo, pois todo o caráter trágico é fruto direto ou indireto de suas

ações .

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O protagonista representa a impossibilidade de se atingir o ideal romântico na

sociedade, pois para aqueles que querem tentar viver guiados apenas pelos sentimentos,

pela impetuosidade e inconsequência, o único destino certo é a morte prematura, e

justamente esse ponto que mostra que Amor de Perdição é uma obra metacrítica,

refletindo sobre o próprio pensamento ideológico de sua época.

Simão como herói romântico, não se interessa muito para as questões mundanas,

para ele somente o amor importa; dinheiro, poder e sua posição na sociedade não lhes

dizem respeito. Ao dar-se conta que esse sentimento não seria possível de se concretizar

no plano real, o herói abnega-se à realização desse amor no plano celestial, aceitando a

morte como uma libertação das amarras da sociedade para a realização de sua paixão

idealizada. Essa aceitação da morte por ele pode ser percebida nas cartas que ele envia à

Teresa, da prisão, principalmente nesse trecho : “[...]E, se não morre, Teresa, que a

felicidade é a morte, é o desfazerem-se em pó as fibras laceradas pela dor,é o

esquecimento que salva das injúrias a memória dos padecentes”[p.81]

Basílio como personagem do realismo-naturalismo, não se mostra guiado por

sentimentos e idealismos, mas sim pela busca do próprio prazer seja no âmbito

financeiro ou sexual. Ele seduz a prima Luísa, somente para satisfazer suas

necessidades, engana-a com falsas declarações de amor, vendo-a apenas como uma

distração durante o tempo que passa em Lisboa, alguém apenas para aplacar os desejos

da carne, e ter o que fazer nos intervalos de seus negócios. Desde o começo do romance

pode-ser perceber o caráter materialista e amoral de Basílio romance. Ele e a prima

foram criados juntos, namoravam as escondidas, e durante um tempo tornaram-se

noivos, mas o noivado acaba quando Basílio fica sem dinheiro e viaja para o Brasil,

terminando o noivado por carta. O episódio em Luísa, vai ao Paraíso(local onde o casal

de amantes se encontrava)e conta para ele sobre o roubo da carta por Juliana, e com

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isso propõe que fujam, mostra bem o caráter de Basílio, que sequer cogita a

possibilidade de fuga como um herói romântico como Simão proporia, e diz para ceder

à chantagem dando o dinheiro que a empregada queria.Após esse episódio, o narrador

deixa muito claro quais eram as reais intenções de Basílio com a prima :

“[...] As pretensões de Luísa, os seus terrores burgueses, a trivialidade reles do caso, irritavam-no tanto,

que quase não tinha vontade de voltar ao Paraíso, calar-se e deixar correr o marfim!Mas tinha pena dela, coitada! E

depois, sem a amar apetecia-a, era tão bem-feita, tão amorosa; as revelações do vício davam-lhe um delírio tão

adorável! Um conchegozinho tão picante enquanto estivesse em Lisboa...[...]”

O que motivava ainda a manter o relacionamento com Luísa era justamente o

caráter imoral dessa relação, além do adultério, havia também a questão do incesto com

a prima como pode se ver nesse trecho : “Que, verdade, verdade, enquanto estivesse em

Lisboa o romance era agradável, muito excitante; por que era muito completo! Havia o

adulteriozinho, o incestozinho”.

Baltazar Coutinho é o primo de Teresa em Amor de Perdição e seu pretendente,

como antagonista na trama, seu temperamento é vil e controlador. Seu antagonismo dá-

se na trama pela sua presença na narrativa e por suas ações contra o casal de

protagonista. Muitas vezes pressiona a prima Chegando ao ponto de armar uma

emboscada para o rapaz, que é frustrada em parte pela ajuda de João da Cruz. Baltasar

encarna o típico fidalgo acostumado a ver seus desejos realizados, tendo um

comportamento tirano. Seu interesse em Teresa está mais no âmbito da dominação e das

aparências sociais.

Jorge, uns dos antagonistas de O Primo Basílio, não aparece com grande

frequência na narrativa, mas é justamente o que se opõe diretamente ao personagem

Basílio; como sendo o representante da moral hipócrita, ele é a comodidade, a

convenção e da ideologia burguesa. Mas ao contrário de Baltasar, de Amor de Perdição,

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Jorge não é um vilão, pois o romance naturalista foge do maniqueísmo romântico,

apresentando personagens de moral dúbia, ele é o antagonista primeiramente por

apresentar valores opostos ao de Basílio, e por ser uns dos personagens que dificultam o

curso da ação dos protagonistas, a sua lembrança para Luísa é uns dos fatores que

atrapalham o adultério. Jorge também representa todo o tédio e a mediocridade da vida

mundana, que uma personagem de índole romântica como Luísa queria escapar, como

própria afirma sobre o marido [...] era tão caseiro, tão lisboeta”.

Ao analisar, tais personagens, podemos perceber como em ambas as obras, as

personagens principais masculinas formam eixos que se opõem diretamente, servindo

como uma crítica ao moralismo da sociedade da época da publicação dos romances. E

como cada autor desenvolve essas personagens de acordo com a ideologia de seu estilo

de época.

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BIBLIOGRAFIA

BRANCO, C.C Amor de Perdição.São Paulo.Três 1973

QUEIRÓS, E. O Primo Basílio. Klick Editora Estadão, 1997