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    Biografia

    As revolues de Caio Prado Jnior.Nascido em famlia tradicional, o escritor paulistano foi membro do Partido Comunista Brasileiro e preso diversas vezes. Autorde livros importantes para entender a sociedade brasileira, como Formao do Brasil contemporneo, Caio Prado Jnior foiconsiderado o maior historiador brasileiro do sculo XX por Srgio Buarque de Holanda.

    POR MARIA CLIA WIDER

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    Caio Prado mquina de escrever. O historiador autor deuma das obrasessenciais para entender a sociedade brasileira: Formao doBrasil contemporneo

    Teve, tambm, uma marcante atuao poltica como militante do Partido Comunista Brasileiro, pelo qual chegou a se eleger

    deputado estadual constituinte, em 1947. Sua incansvel atividade poltica fez que amargasse vrios anos na cadeia, emdiversas pocas de sua vida. Alm disso, foi empresrio e editor, ao fundar e presidir, por cerca de 30 anos, a EditoraBrasiliense.

    RAZES, TRADIO E RUPTURA DE CAIO PRADOCaio Prado Jnior nasceu na cidade de So Paulo, em 11 de fevereiro de 1907. Era o terceiro de quatro filhos de duas famliasrepresentantes da alta burguesia paulistana: seu pai era Caio da Silva Prado e a sua me Antonieta Penteado da Silva Prado.Esse aspecto importante no apenas como curiosidade biogrfica, mas para acentuar a tradio poltica, econmica e socialque ele herdou e na qual foi criado. Data do incio sculo XVIII a chegada do primeiro Prado ao Brasil, vindo de Portugal.Representantes da famlia Silva Prado aparecem na histria brasileira desde a Proclamao da Independncia, participandoativamente da vida poltica e econmica do Pas. Mais tarde, no perodo da Primeira Repblica, a famlia se tornaria smbolo dodesenvolvimento econmico e industrial de So Paulo, notadamente a partir do deslocamento da atividade cafeeira para oEstado e sua considervel expanso, de 1850 em diante. Os lvares Penteado esto ligados industrializao de So Paulo.Antnio de lvares Leite Penteado, av materno de Caio, foi um grande empreendedor, que fez fortuna como fazendeiro,industrial e comerciante.

    Caio Prado rompeu com a condio familiar e social ao se tornar milit ante do Partido Comunista

    As duas famlias moravam em palacetes na Avenida Higienpolis, no bairro de mesmo nome. Antnio lvares Penteado fizeraconstruir sua residncia um palacete em estilo art nouveau, conhecida como Vila Penteado, que ocupava o quarteirodelimitado pela Avenida Higienpolis e pelas ruas Itamb, Maranho e Sabar. No enorme jardim, onde havia at um lagoartificial, as crianas da famlia brincavam acompanhadas de preceptoras e governantas.Caio Prado Jr., que a famlia chamava carinhosamente de Caito, iniciou seus estudos em casa, com uma preceptora alem, efez o secundrio no Colgio So Lus. Sempre foi um aluno brilhante, alm de ser dedicado e estudioso, e ainda tinha aulascomplementares de msica e lnguas era fluente em francs, ingls, espanhol e alemo. O ambiente domstico era sofisticadoe ele conviveu com artistas, intelectuais e polticos que freqentavam as reunies de seus pais. Tambm eram comuns asviagens, seja para o exterior seja para as fazendas da famlia.Foi com tal condio social e familiar que ele acabou rompendo ao se tornar militante do Partido Comunista, em 1931. Osignificado dessa atitude foi captado pelo socilogo Florestan Fernandes na seguinte observao: Ele foi alm e espatifou todasas concepes, os valores e suas prprias razes. Mas, ironia da histria, no partido ele foi recebido com desconfiana, afinalera um notrio intelectual burgus. E Caito passou a se equilibrar a, em parte aceito e em parte rejeitado, em ambos os

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    Caio Prado era membro de umafamlia tradicional paulis tana, que

    morava em palacetes na AvenidaHigienpolis. Ac ima, seus pais, CaioPrado e Antonietta Penteado da SilvaPrado

    contextos.

    INGRESSO NA POLTICA E NA CADEIAFormado em Cincias Jurdicas e Sociais na Faculdade de Direito do Largo So Francisco,da Universidade de So Paulo (USP), o jovem iniciou sua atividade poltica no ento PartidoDemocrtico (PD), fundado por membros da elite paulistana insatisfeitos com a hegemoniado Partido Republicano Paulista (PRP), entre os quais estava seu tio-av, Antnio Prado,que participou ativamente do momento poltico. Getlio Vargas liderou a revoluo de 1930,que o levou ao poder, derrubando o presidente Washington Luis e pondo fim Repblica

    Velha.

    O historiador aos doi s anos de idade: Caito, como erachamado pela famlia, estudou no j esuta Colgio SoLus

    O PD apoiava Vargas e data da poca da campanha eleitoral a primeira priso de Caio Prado Jr, ao demonstrar, numa recepopblica, excessivo entusiasmo pelo futuro presidente. No novo governo, ele participou de um comit revolucionrio em RibeiroPreto, mas percebeu que as coisas no mudariam de acordo com suas expectativas. O jovem ento radicalizou e se fil iou aoPCB. Em 1935, ele era vice-presidente da Aliana Libertadora Nacional, em So Paulo. O movimento, liderado por Lus CarlosPrestes (1898- 1990), foi duramente reprimido pelo governo de Vargas, ao qual se opunha, e Caio Prado Jr. acabou sendopreso, dessa vez por um perodo mais longo: foram quase dois anos de deteno, primeiro no presdio Maria Zlia, um centro derepresso improvisado, depois no Presdio do Paraso.

    Casa em que Caio Prado Jnior mor ou, na rua MaestroElias Lobo, em So Paulo

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    Caito j era um homem casado, com Hermnia Cerquinho, a Baby, e pai de dois filhos, Yolanda (Danda) e Caio Graco.Comeou, para a famlia, uma rotina de visitas cadeia e de confronto social: a mulher e os filhos do intelectual eramostensivamente hostilizados no meio a que pertenciam. Lendo a correspondncia trocada entre o casal nesse perodo, possvel perceber as condies precrias do crcere e a angstia dos presos polticos com a falta de informaes. Na medidado possvel, na priso Caio continuou lendo, estudando e escrevendo suas reflexes datam da seusDirios polticos. Assimque foi solto, em 1937, ele partiu para o exlio na Frana. Sua libertao se deveu a uma anistia dada por Vargas aos presospolticos, que no tinham culpa formada. Foi uma brecha, pois em seguida veio a ditadura do Estado Novo e uma repressomais feroz aos opositores do regime. Em Paris, manteve seus contatos intelectuais e polticos, atuando no Partido ComunistaFrancs. Caito s voltaria ao Brasil em 1939, s vsperas da ecloso da Segunda Guerra Mundial, j separado de Baby.

    Comitiva d e Getlio Vargas durante passagem por Itarar,em So Paulo, aps vitria na Revoluo de 1930. Foinessa poca que Caio Prado Jnior foi pr eso pelaprimeira vez

    A PREOCUPAO COM A REALIDADE BRASILEIRAO Brasil era o principal foco das atenes de Caio Prado Jr.. Ele mesmo dizia que seu acentuado interesse pela situaobrasileira nascera de uma longa viagem que fizera pelo Pas, aos 18 anos de idade, na qual pde observar nossa diversidaderegional e os problemas decorrentes da misria e do subdesenvolvimento. Desde ento, Caio no se limitou a estudar o Pas doponto de vista histrico, econmico, poltico e geogrfico, e refletir sobre seus problemas em busca de solues, masempreendeu diversas viagens de reconhecimento, pois queria ver as coisasin loco. Ele se orgulhava de conhecer o Brasil porinteiro, de norte a sul.

    As viagens que fez durante a vida toda, no s no Brasil, mas por diversos pases, permitiramlhe imprimir em seus escritos amarca do olhar de etngrafo e gegrafo. Alm disso, ele fotografava no s as paisagens, mas as pessoas em vrias atividades,as manifestaes culturais e os aspectos arquitetnicos que o impressionassem. As fotos, que ele mesmo revelava, eramdispostas em lbuns, com explicaes e, muitas vezes nas viagens pelo interior do Pas, desenhos dos mapas dos roteiros. Aomesmo tempo, sua atividade intelectual continuava intensa e ele participara dos primeiros cursos de Histria, GeografiaeFilosofia da recm-fundada Universidade de So Paulo e comeara a escrever artigos para a revista Geografia, publicada pelaAssociao dos Gegrafos do Brasil, da qual foi um dos fundadores.

    Caio Prado Jnior (de culos) na pera de Pequim, em1962

    Em 1933, ele publicou, s expensas prprias, o livroEvoluo poltica do Brasil e outros estudos Ensaios de interpretaomaterialista da Histria do Brasil, no qual se firmava como pensador marxista e revolucionrio. O livro foi um marco da histriado marxismo no Brasil, colocou em evidncia as camadas populares e a questo da cidadania. Com esprito de polemista, eledizia na introduo: Os historiadores, preocupados unicamente com a superfcie dos acontecimentos expedies sertanejas;entradas e bandeiras; invases ou guerras esqueceram quase que por completo o que se passa no ntimo da nossa histria

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    de que estes acontecimentos no so seno reflexos exteriores.

    No mesmo ano, viajou Unio Sovitica, cuja experincia socialista ele desejava ver pessoalmente. De volta ao Brasil, relatousuas observaes em concorridas conferncias no Clube de Artistas Modernos e escreveu o livroURSS, um novo mundo,publicado no ano seguinte (alis, a segunda edio do livro foi apreendida pela polcia).

    FORMAO DO BRASIL CONTEMPORNEO E A EDITORA BRASILIENSEFoi na dcada de 1940 que se manifestaram grandes realizaes de Caio Prado Jr., no campo intelectual, na atividade poltica ena vida pessoal. Em 1942, publicou Formao do Brasil contemporneo, considerado seu livro mais importante. Era uma obramais aprimorada e slida. Na anlise do historiador Paulo Teixeira Iumatti, autor do minucioso estudo Caio Prado Jr.: umatrajetria intelectual:Em tais pginas deFormao do Brasil contemporneo, vemos um historiador j amadure-cido ecompleto. O enfoque econmico, incluindo a abordagem da interao entre fatores geogrfi- cos, sociais e culturais, livrara-sedo esquematismo que marcara Evoluo poltica do Brasil e suas primeiras monografias de geografia trabalhos, que, noentanto, esboavam tal enfoque.

    Quando estava na fazenda da famlia, no interior de SoPaulo, Caio Prado Jnio r costumava cavalgar todas asmanhs

    BIBLIOGRAFIA DE CAIO PRADOJNIOR

    1933 Evoluo poltica doBrasil e outros estudos ensaiode interpretao materialista daHistri a do Brasil (SP, Revistados Tribunais)1934 URSS, um novo mundo (1ed., SP, ed. Mart ins).1942 Formao do Brasilcontemporneo (1 ed., SPMartins fontes).1945 Histria econmica doBrasil (1 ed., SP, Brasiliense).1952 Dialtica doconhecimento (1 ed.,SP,Brasiliense, 2 vols.).1954 Diretrizes para umapoltica econmica brasileira

    (1 ed., SP, Urups).

    1957 Fundamentos da teoriaeconmica (1 ed., SP,

    Brasiliense).1959 Notas introdutrias

    lgica dialtica (1 ed., SP,Brasiliense).

    1962 O mundo dosocialismo (1 ed., SP,

    Brasiliense).

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    1966 A revoluo brasileira(1 ed., SP, Brasiliense).

    1970 O estruturalismo deLvi-Strauss, o marxismo de

    Louis Althusser (1 ed., SP,

    Brasiliense).

    1972 Histria edesenvolvimento (1 ed., SP,Brasiliense).

    1979 A questo agrria noBrasil (1 ed., SP, Brasiliense).1980 O que li berdade (1ed.,SP, Brasiliense).1981 O que Filosofia (1 ed.,SP, Brasiliense).1983 A c idade de So Paulo,geografia e histria (1 ed., SP,Brasiliense).

    Em Formao do Brasil contemporneo, Caio Prado Jr. estabelece o sentido da colonizao brasileira, mostrando que o Brasilnunca fora o objetivo de sua prpria produo. Ele revelou as relaes, os processos e as estruturas sociais, econmicas epolticas que operavam na composio etransformaoda sociedade brasileira5. Formao se tornou um dos livros maisinfluentes da historiografia brasileira do sculo XX. O l ivro havia sido pensado, inicialmente, para ser desenvolvido em quatrovolumes, mas ficou no primeiro. Dois anos depois, ele publicou Histria econmica do Brasil,no qual retomava a anlise iniciadaem Formao.

    esquerda, o escr itor Mont eiro Lob ato, grande ami go escio d e Caio Prado Jnior na Editora Brasili ense. direita: Elias Chaves Neto, Chico Barbosa, Caio PradoJnior e Edgard Ortiz

    No mesmo ano, ele se casou com Helena Maria Nioac, a Nena, que seria a grande companheira de sua vida. O filho deles,Roberto, nasceu em 1945. Caito e Nena moravam na Rua Maestro Elias Lobo, nos Jardins, onde reuniam a famlia algumasvezes por semana. Intelectual inquieto, ele fundou a Editora Brasiliense, em 1943, interessado, principalmente, em publicarlivros que abordassem vrios aspectos da realidade brasileira. De incio, lanou livros de mdicos, sanitaristas e especialistasem diversas reas cientficas. Vieram os relatos de viajantes, de exploradores e de cientistas europeus. E muita literaturabrasileira: as obras completas de Lima Barreto, de Maria Jos Dupr, de Monteiro Lobato. Da literatura portuguesa, vieram asobras completas de Ea de Queiroz.

    Monteiro Lobato e Caio Prado Jr. foram grandes amigos. Lobato, que, alm de escritor, tinha experincia no ramo editorial,chegou a ser scio de Caio na Brasiliense, de 1946 a 1948, quando morreu. Caio tinha tambm uma grfi- ca, a Urups, e umalivraria, aMonteiro Lobato, que se tornou ponto de encontro de intelectuais e militantes polticos. As articulaes polticas notinham fim: foi na editora que Caio e Antnio Cndido prepararam o I Congresso Brasileiro de Escritores, realizado em 1945, eque foi uma verdadeira arregimentao de intelectuais contra o governo.

    A REVISTA BRASILIENSE E AS INVESTIDAS POLTICAS

    O Estado Novo acabou oficialmente em 1945, com a renncia de Getlio Vargas. Era tambm o fim da 2 Guerra Mundial, coma vitria dos Aliados sobre o Eixo. O Pas e o mundo entravam numa nova fase da histria. Depois de 18 anos naclandestinidade, o PCB teve seu registro aceito pelo Tribunal Superior Eleitoral e voltou legalidade. Caio se candidatou adeputado federal na eleio de 1945, mas no foi eleito. Ele conseguiria a vaga de deputado estadual constituinte em 1947, peloPCB, que fizera a terceira maior bancada da Assemblia Legislativa.

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    O primeiro projeto de lei para a criao da Fapesp (Fundao de Amparo Pesquisa Cientfica do Estado de So Paulo) foi desua autoria. Ele acreditava que, por meio do amparo do Estado pesquisa cientfica, tanto a vida cultural quanto a econmica esocial de So Paulo e do Brasil poderiam ser transformadas. A criao da Fapesp s se tornou realidade muitos anos maistarde, em 1960. Na atividade parlamentar, era clara a preocupao de Caio Prado Jr. com a modernizao do Brasil. Alm dapesquisa cientfi- ca, estavam na sua mira a fiscalizao do poder pblico e o regime tributrio.

    Parece que uma das medidas repressoras dos governos, em momentos de crise, era prender Caio Prado Jnior

    No total, ele apresentou ou subscreveu 31 emendas, das quais nove foram aprovadas e quatro parcialmente aprovadas, e foilder da bancada comunista. Isso tudo em um mandato curtssimo. Foram apenas dez meses: no mesmo ano das eleies, oregistro do Partido Comunista foi cassado, bem como os mandatos dos parlamentares. E Caio voltou para a priso. A prximainvestida poltica importante veio em 1955, com a fundao da Revista Brasiliense. As bases do nacionalismo conseqente, queseria a tnica da publicao, haviam sido lanadas na tese Diretrizes para uma poltica econmica brasileira,apresentada porCaio Prado Jr. no concurso para a ctedra da Faculdade de Direito (nesse concurso, que virou um acontecimento e atraiu aateno de estudantes e intelectuais, curiosos em ouvir o historiador revolucionrio em uma instituio to tradicional, ele foipreterido como titular e obteve a livre-docncia).

    Caio Prado Jnior, direita, recebendo o Prmio Ju caPato, pela Unio Brasileira de Escritores, em 1966

    A Revistafoi concebida com o intuito de congregar escritores e estudiosos de assuntos brasileiros interessados em examinar edebater os nossos problemas econmicos, sociais e polticos6 e contou com a participao de intelectuais do centro esquerda, de vrias tendncias do espectro poltico nacional. Foi um verdadeiro desafogo democrtico. A lista de colaboradores

    era imensa. No conselho diretor, nomes como Srgio Buarque de Holanda, Edgar Cavalheiro, Elias Chaves Neto (que era odiretor responsvel), Joo Cruz Costa, Eudoro Berlink, Srgio Milliet, lvaro Dias, Nabor Cares de Brito, Fernando HenriqueCardoso, Heitor Ferreira Lima, Paulo Dantas e Paulo Alves Pinto.

    Caio Prado Jr. escreveu em praticamente todos os nmeros da revista foram 52 , sobre assuntos diversos: conjuntura polticanacional e internacional, a presena de capital estrangeiro no Brasil, poltica econmica, nacionalismo, questo agrria, alm deresenhar livros. Fez uma oposio cerrada aos governos de Juscelino Kubitschek, Jnio Quadros e Joo Goulart.

    Alm das questes polticas imediatas, a Revista abria espao para discusso do movimento estudantil, da crise universitria,do socialismo e do comunismo. Tambm eram abordadas questes culturais: literatura, pintura, arquitetura, teatro e cinema.Hoje, ela fonte inestimvel para pesquisas sobre o perodo histrico brasileiro, entre 1955 e 1964. Com o Golpe Militar de1964, a ltima edio da Revista foi apreendida pela polcia e destruda na grfica Urups, e Caio Prado Jr. voltou a ser detido.

    O PCB E A REVOLUO BRASILEIRAUma caracterstica importante da personalidade de Caio Prado Jr. era sua independncia intelectual: ele nunca se submeteu asectarismos. Mesmo sendo um militante exemplar no PCB, como reconhecia o lder histrico do partido, Lus Carlos Prestes, adivergncia era constante e foram inmeras as polmicas. O historiador, no entanto, sempre manteve suas crticas no mbito dadiscusso poltica. Ele sabia que no tinha prestgio nem influncia e se sentia marginalizado sempre fora um militante debase e atribua isso sua maneira de interpretar o Brasil, discordando dos dogmas oficiais do partido.

    ATRS DAS GRADES

    De 1935 a 1937, Caio Prado Jnior f icou detido nopresdio Maria Zlia, em So Paulo, e depois f oitransferido ao Presdio do Paraso, na mesma cidade.Antes de ser p reso, Caio Prado estava atuando como

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    Ficha de Caio Prado Jnior, do Deops, quando o escri torfoi pr eso em 1935

    militante da ANL (Aliana Nacional Libertadora) demaneira praticamente profissional, discursando emdiversos estabelecimentos. No crcere, escreveu alpis dois dirios polticos em pequenos cadernos debrochura, em que anotava e resumia as notcias quelia nos jo rnais. Em 1937, aproveitou um momento derelaxamento do governo de Getl io Vargas e, pormeio de um habeas-corpus, saiu da cadeia e seexilou na Frana, onde ficou at 1939, quando vol tou

    a So Paulo.

    O Golpe de 1964 abalou profundamente as esquerdas brasileiras.Certamente, os movimentos de esquerda e as lideranas no haviamavaliado bem a situao do Pas no governo Jango. Algum precisava tercoragem de fazer uma anlise profunda do que tinha dado errado. Em1966, Caio lanou o livroA revoluo brasileira,no qual apontava os errostericos do PCB e acusava os comunistas de no conhecerem a realidadebrasileira. Foi uma bomba: era uma anlise incisiva demais, uma crtica

    durssima, e os comunistas ficaram perplexos. O livro foi amplamentediscutido em reunies clandestinas por estudantes, intelectuais e operrios.

    Com a segun da mulh er, Helena Maria Nioac, em 1943

    Um dos problemas levantados, pelo qual ele se bateu, foi a questo agrria no Brasil. Era tese do PCB que o Brasil era um passemifeudal, o que, para o historiador, era um absurdo. Anos mais tarde, ele diria em uma entrevista ao jornal Estado de S.Paulo: No se trata de uma questo acadmica, mas de um fato concreto muito importante para se traar uma orientaopoltica. Para o PCB estvamos vivendo em um pas semifeudal, que precisava, portanto, de uma revoluo democrtico-burguesa para acabar com essa situao. A meu ver, tudo isso fantasia, mesmo porque h particularidades chocantes para

    demonstrar esse fato. Alm da polmica, o livro lhe rendeu o trofu Juca Pato, como intelectual do ano, concedido pela UnioBrasileira de Escritores. Ainda hoje, distantes do calor dos acontecimentos, historiadores e cientistas sociais discutem apropriedade das teses e conceitos do autor.

    CAIO PRADO J NIOR OU 30-K-33, PARA O DOPSEm 1968 o governo militar baixou o Ato Institucional n. 5 (AI-5) e a ditadura recrudesceu. Caio Prado Jr. se preparava para oconcurso para a ctedra de Histria da Civilizao Brasileira da Faculdade de Filosofia da USP, tendo redigido a tese Histria edesenvolvimento. O titular da ctedra era Srgio Buarque de Holanda, que ia se aposentar e insistiu para que Caio assumisseseu lugar os dois eram amigos, o respeito e a admirao eram recprocos. Mas o concurso foi anulado e o ttulo de livre-docente do historiador foi cassado.

    Caio Prado Jr. era fichado no DOPS (Delegacia de Ordem Poltica e Social, depois transformado em DEOPS DepartamentoEstadual de Ordem Poltica e Social) desde os anos 1930, quando iniciou sua militncia poltica. Sua identificao era 30-K-33.

    Alm de ter sido vigiado grande parte da vida, ele era com freqncia detido. Parece que, entre as medidas repressoras devrios governos autoritrios em momentos de crise, uma delas era prender Caio Prado Jr.

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    Caio Prado faz pose no s tio em Campos doJordo, em 1959

    Em 1968 no foi diferente. Dessa vez, a acusao era a de incitar estudantes guerra e subverso e ele foi indiciado numInqurito Policial Militar (IPM). O historiador dera uma entrevista a uma revista do Grmio da Faculdade de Filosofia da USP, queserviria como a prova do crime. Em um primeiro momento, ele se exilou no Chile, onde j estavam outros refugiados polticos,mas acabou voltando ao Brasil e se apresentando Justia Militar. Caio Prado Jr. foi condenado a quatro anos e seis meses depriso. A condenao gerou espanto e indignao entre intelectuais brasileiros, europeus e latinoamericanos. O jurista HelenoFragoso, em sua Apelao ao Superior Tribunal Militar, expressou esses sentimentos ao afirmar: A condenao brutal de CaioPrado Jnior trouxe a todos os que neste pas amam e servem justia profunda perturbao e desalento.

    Dir-se-ia que a injustia chegou aqui a seus ltimos limites e a propores alarmantes, que os tempos conturbados que a naoatravessa s fazem ressaltar. Essa sentena inqua, que lembra bem os processos deplorveis que nos pases totalitrios sefazem contra escritores por delitos de manifestao do pensamento, apresentou nosso pas perante todo o mundo como sefosse uma tirania, onde ter opinio constitui gravssimo crime7

    DEPOIS DO CRCERE, MUITA PRODUOCaio Prado Jr. foi l ibertado em agosto de 1971. Estava separado de sua segunda esposa e havia perdido o filho caula, que sesuicidara no ano anterior. Era preciso reorganizar a vida e retomar suas atividades. Ele voltou a escrever, alm de organizar apublicao de artigos. Na cadeia, havia redigido O estruturalismo de Lvi-Strauss, o marxismo de Louis Althusser, em queanalisava as concepes estruturalistas que julgava retrgradas e deformadoras do marxismo. O livro foi publicado em 1971.

    Redigiu tambm um post scriptumpara o Histria econmica do Brasil, em 1976. Retomando a anlise que havia feito dasituao econmica do Pas, ele crit icou, embasado em dados sobre as conjunturas nacional e internacional, o milagreeconmico brasileiro da dcada de 1970, e previu a iminncia de uma situao gravssima, que ser o resultado de umainconseqente poltica econmica em termos das reais necessidades do Pas e da massa de seu povo.

    A questo agrria no Brasil, uma coletnea de artigos que escrevera na Revista Brasiliense, saiu em 1979. Na dcada de 1980,publicou O que liberdade e O que Filosofia, ambos os textos extrados de livros anteriores. A cidade de So Paulo, geografiae histria, reunio de textos escritos nos anos 1930 e 1940, foi publicado em 1983. Esse livro, alis, nos remete s histriassobre as incurses do autor pela cidade ao lado do gegrafo francs Pierre Deff ontaines, que viera lecionar Geografia narecaines, que viera lecionar Geografia na recnalm-criada USP, e que lhe ensinou a ver o meio fsico e, principalmente, aentender a relao entre o meio fsico e o trabalho humano.

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    Caio Prado Jnior segura seu f ilho Roberto, quese suici dou aos 24 anos, em 1970. Caio fo iavisado da morte na priso

    O prazer de Caito em olhar a cidade era enorme e ele tinha o hbito, que manteve enquanto a sade permitiu, de andar debicicleta por toda parte, em passeios de reconhecimento. Ele tambm retomou sua vida social e as viagens de que tanto

    gostava. Em 1974, voltou a se casar, dessa vez com Maria Ceclia Naclrio Homem. Durante a dcada de 1970, sua filha Dandaestava exilada em Paris e ele passava longas temporadas na cidade.

    Na vida pessoal, o intelectual era um homem discreto e de hbitos regulares, que sempre se manteve ligado famlia

    Na foto acima , Clv is Graciano, Caio Prado Jnior,Sergio Milliet, Luis Martins , Eduardo Maff ei e ArnaldoPedroso DHorta.

    Assim como para a famlia, para os amigos prximos ele era Caito, mas companheiros de partido s o conheciam como Caio:

    nas conversas era uma mistura curiosa de nomes. Na vida pessoal, o intelectual era um homem discreto e de hbitos regulares,que sempre se manteve muito l igado famlia. Tinha uma inesgotvel curiosidade por tudo o que acontecia ao seu redor,adorava conversar e, principalmente, debater assuntos que julgasse controversos. Em 1988, Caio foi agraciado com o PrmioAlmirante lvaro Alberto para Cincia e Tecnologia, conferido pelo Ministrio de Cincia e Tecnologia e pelo CNPq (rea deCincias Humanas), mas j no tinha condies de receb-lo pessoalmente e sua filha Danda o representou na cerimnia deentrega do prmio. Caio Prado Jr. morreu em 1990, depois de vrios anos de luta contra o Mal de Alzheimer.

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    Ac ima, Caio aos 69 ano s com Maria Cec lia NaclrioHomem, na Sua.