As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

42
AS ROTAS PARA O ETANOL CELULÓSICO NO BRASIL Marcos S. Buckeridge, Wanderley D. dos Santos & Amanda P. de Souza Departamento de Botânica - IBUSP - Fone: (11) 30917592 Rua do Matão, 277 - Caixa Postal 11461 - CEP 05422-970 Cidade Universitária - Butantã - SP E-mail – [email protected] Resumo Neste capítulo, propomos que a produção de etanol celulósico a partir de cana de açúcar possa ocorrer em quatro gerações. A primeira seria o que já existe, ou seja, a produção de sacarose a partir de colmo de cana de açúcar. A segunda seria a produção de etanol a partir de açúcares produzidos pela hidrólise ácida do bagaço. A terceira compreende a produção de açúcares a partir da parede celular, usando enzimas de microorganismos. A quarta geração compreenderia uma integração de todas as gerações, mas com uma matéria prima (variedades de cana) modificadas geneticamente e capazes de realizar modificações na parede celular que tornariam mais eficiente o processo da terceira geração. Para explicar como seriam estes processos, revisamos brevemente o conhecimento sobre a estrutura de polissacarídeos de parede celular e comentamos sobre a existência de genes que codificam para enzimas hidrolíticas da própria cana que poderiam ser utilizadas para a produção de etanol celulósico. A idéia de utilizar a parede celular

description

Rotas para o etanol celulósico no Brasil

Transcript of As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

Page 1: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

AS ROTAS PARA O ETANOL CELULÓSICO NO BRASIL

Marcos S. Buckeridge, Wanderley D. dos Santos & Amanda P. de Souza

Departamento de Botânica - IBUSP - Fone: (11) 30917592

Rua do Matão, 277 - Caixa Postal 11461 - CEP 05422-970

Cidade Universitária - Butantã - SP

E-mail – [email protected]

Resumo

Neste capítulo, propomos que a produção de etanol celulósico a partir de cana de

açúcar possa ocorrer em quatro gerações. A primeira seria o que já existe, ou seja, a

produção de sacarose a partir de colmo de cana de açúcar. A segunda seria a produção

de etanol a partir de açúcares produzidos pela hidrólise ácida do bagaço. A terceira

compreende a produção de açúcares a partir da parede celular, usando enzimas de

microorganismos. A quarta geração compreenderia uma integração de todas as

gerações, mas com uma matéria prima (variedades de cana) modificadas geneticamente

e capazes de realizar modificações na parede celular que tornariam mais eficiente o

processo da terceira geração. Para explicar como seriam estes processos, revisamos

brevemente o conhecimento sobre a estrutura de polissacarídeos de parede celular e

comentamos sobre a existência de genes que codificam para enzimas hidrolíticas da

própria cana que poderiam ser utilizadas para a produção de etanol celulósico. A idéia

de utilizar a parede celular pode ser expandida para outras espécies, como o eucalipto e

sementes de árvores de espécies nativas de biomas brasileiros.

Salientamos também a importância de que as estratégias de produção de etanol

celulósico se coadunem com processos que sejam ambientalmente corretos, como os

sistemas agroflorestais. Propomos que o Brasil tem neste momento a oportunidade e

deve aproveitar a chance de produzir energia renovável de forma limpa e eficiente.

Introdução

As mudanças climáticas e a elevação nos custos do petróleo aliadas às

necessidades estratégicas de produção de energia têm motivado uma corrida sem

Page 2: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

precedentes à produção de combustíveis alternativos, preferencialmente de fontes

renováveis. Neste cenário, o Brasil desponta como o país com as tecnologias e políticas

mais avançadas do mundo devido à pioneira utilização do etanol obtido a partir da cana

de açúcar como combustível, desde a década de 1970. Hoje, o Estado de São Paulo é o

maior produtor de etanol no Brasil sendo, portanto, o segundo maior produtor depois

dos EUA com ¼ da produção mundial de etanol.

Além da tradição, variedades altamente selecionadas, processos industriais

sofisticados, clima e disponibilidade de terras agricultáveis garantem ao Brasil uma

liderança confortável na tecnologia da produção de etanol. Entretanto, para preservar

essa posição num cenário competitivo, o Brasil precisa manter investimentos

compatíveis na geração de novas tecnologias e formação de competências. Atualmente,

a conversão de material lignocelulósico ou biomassa em açúcares fermentáveis para

produção de etanol vem sendo considerada como uma alternativa promissora para

aumentar a produção de etanol necessária para atender à demanda mundial.

A celulose, principal componente da biomassa, é o polímero mais abundante da

Terra. Ele é formado por uma cadeia linear de moléculas de glicose ligadas entre si na

posição beta (β) -1,4. Tais ligações guardam energia livre e podem ser quebradas para

liberar açúcares fermentáveis. Entretanto, a celulose é muito bem protegida pelas

plantas, a fim de que não sejam facilmente utilizadas por predadores. Por esse motivo, o

rendimento líquido da conversão da celulose em glicose livre e, a seguir, em etanol é

desfavorável, com as tecnologias disponíveis. Tornar os rendimentos favoráveis

possibilitará o melhor aproveitamento dessa rica matéria prima natural encontrada não

só no bagaço da cana, mas em quaisquer outras fontes de biomassa vegetal (madeiras,

serragens, palhadas, cascas, etc.) atualmente desperdiçadas ou utilizadas de formas

menos nobres. O desenvolvimento de tecnologias capazes de desmontar a parede celular

vegetal requer o aprofundamento do nosso conhecimento sobre a fisiologia e estrutura

da parede celular tanto da própria cana de açúcar como de outros sistemas. Além disso,

o estudo de processos enzimáticos de microorganismos que naturalmente já se

alimentam da parede celular e, portanto, já possuem enzimas específicas para tal

finalidade, podem nos auxiliar na utilização da energia disponível nestes

polissacarídeos.

Page 3: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

Perspectivas na Produção de Etanol Celulósico

A produção de etanol a partir da cana-de-açúcar ocorre, atualmente, pela

fermentação alcoólica da sacarose. Diante das perspectivas de se obter o etanol

celulósico, o etanol obtido da sacarose, assim como o obtido a partir do amido de milho,

nos EUA, tem sido chamado de etanol de primeira geração. Dessa forma, o etanol

celulósico produzido a partir dos polissacarídeos da parede celular vegetal é

denominado etanol de segunda geração. No entanto, para a produção do etanol

celulósico, prevemos diversas etapas que podem ser claramente distinguidas: 1)

hidrólise química; 2) enzimática; e 3) auto-hidrólise. Por este motivo, propomos que

seja chamado de etanol de segunda geração somente aquele obtido pela hidrólise

química da parede celular. Esse processo utiliza solventes ácidos ou básicos para

afrouxar e quebrar os polímeros da parede celular vegetal liberando mono e

oligossacarídeos fermentáveis. Porém, além dos custos dos produtos químicos

empregados poderá haver a produção colateral de resíduos químicos. Nossa expectativa

é que a combinação de processos biológicos na hidrólise deverá render um processo

ainda mais eficiente. E, por ser um processo que demanda um input maior de estudos e

tecnologia para ser disponibilizado, denominamos este processo de etanol de terceira

geração. Acreditamos que o maior gargalo neste processo será a produção em escala

comercial de enzimas hidrolíticas e microorganismos selecionados e/ou modificados

para essa finalidade. Assim, nós nos arriscamos a ir além e sugerimos o que

denominamos etanol de quarta geração no qual a própria planta poderá ser modificada

geneticamente para produzir as enzimas necessárias à digestão de sua própria parede

celular (acima denominado auto-hidrólise) minimizando ainda mais os custos da

produção (Figura 1).

Além dos métodos de hidrólise da parede, o avanço no conhecimento sobre a

fisiologia de plantas utilizadas para a produção de etanol, o emprego de ferramentas de

engenharia genética e industrial deverão desempenhar importantes papéis no aumento

da produtividade do etanol, independentemente da geração. Mas antes de detalharmos

os principais aspectos das diferentes gerações, vejamos o que é a parede celular.

Page 4: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

Figura 1 – Esquema das rotas propostas para obtenção do etanol celulósico.

A parede

Toda célula vegetal possui parede celular. Ela determina o tamanho e a forma da

célula, confere resistência mecânica e proteção contra o ataque de predadores e

patógenos, promove a adesão entre as células, delimita o tamanho e propriedades

químico-físicas das moléculas que têm acesso ao interior da célula, controla o nível de

umidade e ainda pode funcionar como reserva.

A parede celular é composta por uma mistura de polissacarídeos, proteínas,

compostos fenólicos e sais minerais. Os polissacarídeos representam cerca de 90% do

peso seco da parede e consistem em celulose, que compõe de 20-40% da parede celular,

hemiceluloses (15-25%) e pectinas (~30%). Essa matriz é altamente ordenada e

dinâmica podendo tornar-se mais rígida ou mais frouxa conforme as necessidades

ontogênicas e comportamentais da célula ou da planta.

Seis a oito moléculas de celulose se alinham paralelamente para formar uma

fibra onde ocorre a completa expulsão das moléculas de água, tornando a microfibrila

extremamente longa e resistente. Sobre a superfície das microfibrilas, aderem-se as

Parede

celula

r

Açúcares fe

rmentáveis

2ª geraçãoHidrólise ácida

1 a 2 anos

Hidrólise enzimática direta

por fungos

Uso de coquetéis enzimáticos

Uso de fungos geneticamente

modificados

3ª geraçãoHidrólise com

microorganismos+ de 4 anos

4ª geraçãoModificações na parede canaNovas variedades incluindo transgênicos

+ de 10 anos

Modificações na composição da parede celular

Pré-hidrólise pela própria

planta

Resíduos tóxicosp.ex. furfurais Bioeta

nol

Preparações “físicas” d

o bagaço

técnicas que aumentem a superfície

exposta a ácido e enzim

as

Ro

tas

pa

ra o

eta

nol c

elu

lósi

co –

Ma

rco

s B

ucke

ridg

e, m

sbuc

k@u

sp.b

r

Parede

celula

r

Açúcares fe

rmentáveis

2ª geraçãoHidrólise ácida

1 a 2 anos

Hidrólise enzimática direta

por fungos

Uso de coquetéis enzimáticos

Uso de fungos geneticamente

modificados

3ª geraçãoHidrólise com

microorganismos+ de 4 anos

4ª geraçãoModificações na parede canaNovas variedades incluindo transgênicos

+ de 10 anos

Modificações na composição da parede celular

Pré-hidrólise pela própria

planta

Resíduos tóxicosp.ex. furfurais Bioeta

nol

Preparações “físicas” d

o bagaço

técnicas que aumentem a superfície

exposta a ácido e enzim

as

Ro

tas

pa

ra o

eta

nol c

elu

lósi

co –

Ma

rco

s B

ucke

ridg

e, m

sbuc

k@u

sp.b

r

Page 5: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

hemiceluloses (polímeros heterogêneos que são classificados de acordo com a

composição em monossacarídeos) que cobrem a celulose formando o chamado domínio

celulose-hemicelulose da parede celular (Figura 2). As hemiceluloses impedem que as

moléculas de celulose de fibras paralelas colapsem entre si, mas também permitem a

interação fraca entre uma fibra e outra, formando uma rede. O domínio celulose-

hemicelulose fica imerso em um domínio formado por pectinas, que são açúcares

altamente ramificados que dentre outras funções, determinam a porosidade da parede e

sinalizam a presença de organismos patogênicos e insetos (Buckeridge et al. 2008).

As principais hemiceluloses encontradas em plantas são os xiloglucanos (XyG),

os glucuronoarabinoxilanos (GAX) e os mananos (MN). Em todos os casos, há uma

cadeia principal de monossacarídeos de glicose, xilose e manose, respectivamente, que

pode ser ramificada com diferentes monossacarídeos (Figura 3). Os XyG são os mais

abundantes, encontrados na maioria das eudicotiledôneas. Os GAXs ocorrem em maior

proporção em paredes celulares de gramíneas (família Poaceae) e os MN são de ampla

ocorrência, mas geralmente aparecem em baixa proporção, exceto em alguns grupos de

samambaias (Pteridophytae) (Silva, 2005a). De fato, pode-se dizer que todas as

hemiceluloses ocorrem em todas as espécies, mas em diferentes proporções. Uma

exceção são os chamados glucanos de ligação mista ou β-glucanos (BG) que são

compostos de uma cadeia não ramificada de glicose com ligações β -1,4, interrompida

regularmente com ligações β - 1,3. Esta é uma hemicelulose que ocorre principalmente

em plantas do grupo da ordem Poales (que inclui Poaceae). Porém, sabe-se que está

presente também em líquens (uma associação de fungos e algas) o que indica ser

possível que os genes necessários para sintetizar β-glucanos esteja presente na maioria

das espécies de plantas superiores (Buckeridge et al. 2004).

Page 6: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

Figura 2 - Esquema da parede celular vegetal. A figura mostra a estrutura de uma microfibrila, que contém 36 moléculas de celulose depositadas umas sobre as outras. Uma das moléculas de celulose se apresenta aumentada e prolongada, mostrando as unidades de glucose ligadas entre si por ligações do tipo beta-1,4. Uma das moléculas de hemicelulose (o glucuronoarabinoxilano) também e mostrada em detalhe na parte de cima da figura.

Page 7: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

Figura 3 – Estrutura química das principais hemiceluloses de parede celular de plantas

Parede celular da cana-de-açúcar

A cana-de-açúcar pertence a um grupo de plantas denominadas família Poaceae

(gramíneas), do qual também fazem parte o milho, sorgo, trigo e arroz. Espécies desta

família apresentam uma arquitetura da parede típica que as distingue dos outros grupos

vegetais. A maioria das plantas possui o xiloglucano como principal hemicelulose. Já as

gramíneas apresentam como principal hemicelulose os glucuronoarabinoxilanos

(GAXs) (Saavedra, Kavacsonyi & Alfoldi, 1988; Souza, 2007), embora também possua,

em pequenas proporções, xiloglucanos e mananos. Além do GAXs, os β- glucanos são

relativamente abundantes em todos os tecidos de cana (Silva, 2005b).

Quando examinadas ao microscópio de fluorescência, as paredes celulares de

gramíneas apresentam autofluorescência (Figura 4). Este fenômeno se deve à presença

de resíduos de ácido ferúlico esterificados aos resíduos de arabinose que formam a

ramificação da cadeia central que, por sua vez, é composta por xilanos.

Page 8: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

Figura 4 – Células do parênquima do colmo de cana-de-açúcar mostrando a autofluorescência

da parede celular. A seta branca mostra a parede celular.

Resíduos de ferulatos esterificados a polímeros vicinais podem sofrer

dimerização, interligando os polissacarídeos entre si. A presença do ácido ferúlico

confere à parede de gramíneas, especial resistência aos raios UV e ao ataque das

enzimas hidrolíticas de patógenos (Figura 5).

Figura 5 – Glucuronorabinoxilanos interligados por resíduos de ácido ferúlico esterificados a

resíduos de arabinose de polissacarídeos adjacentes.

Page 9: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

Etanol de Primeira Geração: a fermentação da sacarose

Como citado acima, o processo atual de produção de etanol a partir da cana é

realizado pela extração e fermentação do caldo, que possui aproximadamente 15% de

sacarose e 15% de fibras (Macedo, 2008). Antes do processo de fermentação, que

ocorre por meio de linhagens selecionadas de leveduras Saccharomyces cereviseae, o

caldo é esterilizado e purificado. O álcool produzido é então separado da água por

destilação. Uma parte destes processos é impulsionada pela energia obtida com a

queima do bagaço da cana que alimenta as caldeiras e gera eletricidade. Mesmo

utilizando o bagaço para a geração de energia, a usina possui um excesso de cerca de

10% da biomassa que pode ser queimada e vendida na forma de energia elétrica

(Macedo e Nogueira, 2005).

Com técnicas mais eficientes de conservação da energia produzida pela queima

do bagaço esse excesso pode chegar a 45%. Além disso, cerca de 40-50% da palha da

cana que hoje é mantida no campo pode ser recuperada e incorporada à biomassa

(Macedo e Nogueira, 2005). Esse excesso de biomassa juntamente com os 15% de

fibras poderá, no futuro, ser utilizada para produção de etanol celulósico, como

detalhado a seguir.

Etanol de Segunda Geração: obtenção do etanol celulósico por hidrólise ácida

No processo de obtenção de etanol celulósico, o objetivo é “desmontar” a parede

celular para utilizar os polissacarídeos como fonte de açúcares fermentáveis. No

entanto, já foi salientado o quão complexa é a estrutura da parede e o quão “delicado”

deve ser este processo de desmonte para preservar intactos os monossacarídeos que

serão usados para fermentação. Atualmente se utiliza um processo denominado

hidrólise ácida para desmontar a parede celular. Embora o processo seja funcional,

ainda não é eficiente para permitir a produção comercial de etanol.

O processo básico de hidrólise ácida consiste em utilizar um ácido forte para

atacar as ligações glicosídicas entre os monossacarídeos de um polissacarídeo. A Figura

7 ilustra o processo de forma simples. Os ácidos, normalmente utilizados para a

obtenção de hidrólise em laboratório, são ácido sulfúrico, ácido clorídrico e o ácido

trifluoroacético. Há vantagens e desvantagens em relação a cada um. Enquanto os

Page 10: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

ácidos sulfúrico e clorídrico discriminam pouco as ligações glicosídicas de diferentes

tipos, atacando celulose e hemiceluloses de forma similar, o ácido trifluoroacético

quebra preferencialmente as ligações mais fracas, que são as ligações do tipo alfa (α)

presente nas ramificações das hemiceluloses.

Figura 7 – diagrama da hidrólise ácida.

No caso da parede celular de cana, os glucuronoarabinoxilanos possuem

ramificações de ácido glucurônico e arabinose cujas ligações são do tipo α, e estas são

as primeiras a serem quebradas. Posteriormente, são quebradas as ligações β (como as

β-1,4 dos xilanos). A celulose, por sua vez, é a última a ser hidrolisada devido à sua

forte interação intermolecular, à completa ausência de água na estrutura da microfibrila

e também ao fato das fibrilas estarem cobertas pelas hemiceluloses. O problema em um

processo de hidrólise de polissacarídeos contendo ligações α e β é que como o tempo

necessário para hidrólise é diferente, os monossacarideos liberados antes tendem a

degradar. Este processo é chamado de caramelização (similar à formação do caramelo

durante a preparação de uma calda de açúcar). Se a degradação é muito intensa formam-

se furfurais que são compostos tóxicos para as leveduras que serão utilizadas na etapa

de fermentação. Assim, ao hidrolisar uma mistura de celulose e hemiceluloses, a

desconexão temporal das quebras das ligações glicosídicas de cada tipo de

polissacarídeo torna-se um entrave para a produção de monossacarídeos fermentáveis.

Nos processos industriais, a hidrólise ácida tem sido realizada com ácido

sulfúrico (H2SO4). O fato de ainda não haver comercialização de etanol produzido a

partir da hidrólise ácida do bagaço da cana está relacionado a dificuldades técnicas e

operacionais que resultam em um custo elevado do produto final (cerca de US$ 0,80

Page 11: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

contra US$ 0,35 e US$ 0,27 por kg de etanol obtido a partir do amido e da sacarose,

respectivamente). Parte deste custo se deve ao fato de que para que a hidrólise ocorra de

forma eficiente é necessário aquecer o polissacarídeo na solução ácida. A temperatua

ideal para a quebra de hemiceluloses está entre 100 a 120o C e a concentração ideal de

ácido sulfúrico é ao redor de 3% (Buckeridge & Dietrich, 1990). No caso específico da

cana de açúcar, este custo é minimizado devido ao fato de parte do bagaço ser queimado

para alimentar as caldeiras e produzir a energia elétrica consumida no processo.

Outra dificuldade advém da necessidade de neutralização da solução contendo os

açúcares para que se possa proceder à fermentação. Em geral, para a neutralização,

utiliza-se hidróxido de cálcio (calcário). No entanto, ao se proceder desse modo, o ácido

sulfúrico é convertido em sulfato de cálcio e não pode ser reaproveitado (Ali, Mark &

Daniel, 2006). Esse é o principal fator que contribui para o alto custo da técnica. Para se

obterem níveis aceitáveis de comercialização (< US$ 0,36/kg) será necessária a redução

dos custos associados principalmente ao consumo e reutilização do ácido e ainda a

melhora na produtividade e eficiência na conversão da biomassa (Kaylen et al., 2000;

Goldenberg, 2007).

A fim de melhorar a perspectiva do uso da hidrólise ácida em escala comercial, a

empresa brasileira DEDINI – Indústria de Base investiu em pesquisas para tornar a o

processo mais rentável e, atualmente, possui uma usina experimental que tem utilizado

o próprio etanol em mistura com o ácido sulfúrico como solvente para a lignina. Isso

permite reduzir a utilização do ácido e recuperar o solvente. Outra proposta, feita por

um grupo de cientistas chineses é a substituição do processo de neutralização por um

processo de eletrodiálise, que consiste na aplicação de um potencial elétrico entre dois

compartimentos separados por uma membrana semipermeável carregada eletricamente.

Este processo permitiria uma economia de até 55% no consumo do ácido sulfúrico

(Cheng et al., 2008).

Segundo Rodrigues & Guirardello (2008), os furfurais, que se formam

naturalmente durante a hidrólise ácida, poderiam ser aproveitados como matéria prima

na produção de solventes e resinas para fabricação de fibra de vidro e outros materiais

plásticos. Sua comercialização pelas usinas poderia se tornar rentável e contribuir para

reduzir o custo do etanol celulósico.

Outros pesquisadores brasileiros também têm se dedicado a buscar soluções

compatíveis para melhorar o desempenho da hidrólise ácida. Em Lorena, Adriane

Milagres estuda métodos de remoção química da lignina para entender seu efetivo

Page 12: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

papel na limitação da hidrólise. Em São Carlos, Paulo Seleguin e Glauco Caurin, da

Escola de Engenharia de São Carlos desenvolvem um projeto de pré-processamento por

despressurização explosiva do bagaço da cana. Esta técnica expõe as fibras do bagaço,

aumentando a superfície de contato necessário para a quebra das microfibrilas. Estes

estudos brasileiros que estão em andamento têm potencial para aumentar tanto a

eficiência da hidrólise ácida quanto da hidrólise enzimática, como veremos a seguir.

Em suma, o processo de hidrólise tem um ótimo potencial para produzir

açúcares fermentáveis a partir de biomassa vegetal e pode ser adaptado a diferentes

casos. Para a cana, esta tecnologia já está próxima de se tornar comercial e será um

ponto de extrema importância estratégica para as próximas gerações de etanol

celulósico. Considerando-se o ponto em que se encontra no momento, pode-se esperar

que a viabilidade comercial seja atingida em 1 a 2 anos. O desenvolvimento de tal

tecnologia é de extrema importância tecnológica, pois abre o caminho para que se

utilizem enzimas e/ou se modifique a matéria prima para obter rendimentos ainda

maiores.

Etanol de Terceira Geração: complexidade e alternativas para a hidrólise

enzimática

As maiores expectativas para a viabilização do etanol celulósico no longo prazo

estão depositadas na possibilidade de utilizarmos a maquinaria bioquímica de

microorganismos (fungos e bactérias) para desmontar a parede celular. O problema é

que, assim como os fungos desenvolveram estratégias para invadir a parede celular, as

plantas também co-evoluiram para sofisticar seus mecanismos de defesa. Assim,

embora haja fungos capazes de degradar a parede celular vegetal, ela é bastante

recalcitrante à degradação. Uma das formas que as gramíneas desenvolveram para

resistir ao ataque enzimático parece ser a formação de interligações de ácido ferúlico

entre suas hemiceluloses (dos Santos et al. 2008; Figura 5).

Em geral, a lignina, que é bastante resistente ao ataque enzimático, acumula-se

apenas em certos tecidos especializados como fibras e células do tecido vascular das

plantas (xilema). Entretanto, nas gramíneas, pode-se dizer que as pontes formadas pelo

ácido ferúlico realizam uma quasi-lignificação em toda a extensão da parede celular,

mesmo em tecidos parenquimáticos. Esse processo está relacionado à cessação do

crescimento celular e resulta em uma dificuldade adicional para os microorganismos

Page 13: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

dispostos a atacar a planta. Por sua vez, certos fungos desenvolveram feruloil-esterases

que são enzimas aptas a separar os resíduos fenólicos dos arabinoxilanos, tornado a

parede mais susceptível às xilanases (enzimas capazes de hidrolisar xilanos).

Para chegar à celulose, que é o principal composto da parede celular, os fungos

ainda precisam hidrolisar as outras hemiceluloses que recobrem as microfibrilas. Esta

dificuldade é semelhante àquela dos ácidos às diferentes camadas e diferentes ligações

glicosídicas. Por essa razão, fungos como os dos gêneros Trichoderma e Penicillium

produzem verdadeiros arsenais com mais de uma centena de glicosidases e dezenas de

celulases, quitinases, proteases e lipases, entre outras hidrolases. Evidentemente que

para proceder à hidrólise enzimática da parede celular e aproveitar ao máximo a energia

armazenada nestas moléculas, é pertinente estudarmos esse poderio enzimático dos

fungos bem como as estruturas finas de enzimas hidrolíticas para que possamos utilizá-

los em nosso favor.

Para desenvolvermos uma tecnologia eficaz para converter a parede em açúcares

fermentáveis e etanol será estratégico compreender os processos relacionados com o

ataque de cada enzima sobre cada ligação na parede celular.

Atualmente, dispomos de algumas informações estratégicas que podem nos

ajudar a nortear o caminho do etanol celulósico:

a) conhecemos as ligações glicosídicas que têm de ser quebradas para liberar

monossacarídeos (Silva, 2005b). A partir desses dados podemos iniciar um escrutínio

sistemático e detalhado de enzimas e métodos para obter uma completa hidrólise desses

monossacarídeos.

b) conhecemos parte da identidade de 469 genes da cana de açúcar que estão

relacionados ao metabolismo de síntese e degradação da parede celular na cana de

açúcar (Lima et al., 2001). Entre estes genes estão vários que são capazes de degradar a

parede celular. Essa informação nos indica que se obtivermos o controle desses genes

poderíamos ativá-los no momento desejado.

c) há um grande número de estudos com enzimas de microorganismos

mostrando como estas atacam polissacarídeos de parede celular. Neste caso, há dois

caminhos que devem ser tomados paralelamente. Um deles é a prospecção de espécies

mais eficientes. O outro é a transformação genética de fungos que produzam maior

quantidade de enzima ou então que expressem genes que codifiquem para enzimas

heterólogas de interesse.

Page 14: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

d) Temos algum conhecimento sobre a estrutura de glicosidases de parede

celular que nos possibilitam desenhar estratégias para melhorar o desempenho destas

enzimas ao nosso favor.

Estes quatro conjuntos de informações são fundamentais para a concepção de

uma estratégia para obtermos um etanol de terceira geração que inclua o bagaço da

cana-de-açúcar e como uma das matérias primas com eficiência energética e, sobretudo,

sustentabilidade, tanto em relação aos gases estufa, quanto em relação aos demais

dejetos poluentes.

Outro desafio que se impõe à obtenção do etanol a partir da celulose é o da

fermentação de pentoses. As hemiceluloses são ricas em pentoses como xiloses e

arabinoses. O Saccharomyces cereviseae, microorganismo usualmente empregado na

produção de álcool a partir da sacarose, é muito pouco eficiente na conversão de

pentoses. A presença de pentoses de fato inibe a fermentação das hexoses. Uma

perspectiva é a utilização de outras espécies de fungos, melhor adaptados às pentoses.

Espécies como Pachysolen tannophilus são capazes de utilizar xilose e fermentam

parcialmente outras pentoses depois de consumirem a glicose e a celobiose disponíveis

que são seus alimentos preferidos (Hinman et al. 1989).

Para desenvolver as tecnologias do etanol celulósico é conveniente cruzar estas

informações e coordenar esforços com base em prioridades dos estudos. A tecnologia

deverá incluir o desenvolvimento de maquinário e processos para produção de enzimas

em escala industrial, bem como dos processos de degradação da parede em si, mas

também as tecnologias voltadas ao desenvolvimento das variedades de cana apropriadas

e as tecnologias para preparar o bagaço para incubação.

Prospecção, seleção e engenharia de fungos

A prospecção e a seleção de fungos é uma das estratégias para obter melhores

enzimas para hidrolizar o material lignocelulósico. Em um país como o Brasil, que tem

alto nível de biodiversidade, existe maior probabilidade de encontrar microorganismos

que apresentem novidades nesse aspecto.

Estudos feitos na Índia com palhada de cana, indicam que os fungos Aspergillus

terreus, Cellulomonas uda, Trichoderma reesei e Zymomonas mobilis podem ser

“chaves” na degradação do material lignocelulósico (Singh et al., 2008). No Brasil, o

grupo de pesquisa liderado por Maria de Lourdes Polizeli da USP Ribeirão Preto está

empenhado na prospecção de fungos e na caracterização, imunolocalização e

Page 15: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

purificação de enzimas fúngicas. Um dos estudos mostra a caracterização de uma

xilanase de Aspergillus (Rizzati et al., 2008). Nosso grupo, no Departamento de

Botânica - IB/USP prospectou a atividade celulolítica de mais de 50 espécies de fungos

do solo do cerrado e trabalha na viabilização do Penicillium steckii para uso industrial

(não publicado). Nosso grupo também estudou a ação da celulase sobre xiloglucanos

polímero também presente no colmo da cana. Descobrimos, por exemplo, que celulases

de Trichoderma podem funcionar como um sistema de restrição análogo às enzimas de

restrição usadas sobre o DNA (Tiné et al., 2003) agindo sobre a estrutura química fina

dos polissacarídeos hemicelulósicos (ver também Tiné et al., 2006). Informações

detalhadas sobre o mecanismo da ação enzimática sobre polisacarídeos são valiosas se

desejamos induzir um aumento na eficiência dessas hidrolases.

Outro grupo de pesquisa brasileiro que tem trabalhado com hidrolases fúngicas e

sua ação sobre polissacarídeos de parede celular é o de Edivaldo Ximenes Ferreira

Filho, da Universidade de Brasília. Seus estudos estão focados na detecção e

caracterização das enzimas, assim como nos genes que as codificam (ver Iembo et al.

2006 e Salles et al., 2007 como exemplos).

Na USP Zona Leste, Felipe Chambergo, estuda a utilização da potente

maquinaria de expressão gênica de celulases de Trichoderma reesei a fim de sintetizar

celulases de interesse para a indústria. Nesse âmbito (engenharia genética de fungos), já

existem resultados bastante interessantes sobre a regulação e sinalização da expressão

gênica obtidos pela equipe de Gustavo Goldman da USP Ribeirão Preto. Este grupo

verificou que a espécie Aspergillus niger, por exemplo, tem um único fator de

transcrição (XLnR) que regula a expressão de todos os genes relacionados à

degradação de polissacarídeos, enquanto que em Trichoderma, ocorre mais de um fator

de transcrição para estes mesmos genes (Gustavo Goldman, comunicação pessoal).

Goldman pretende manipular os mecanismos de regulação da expressão gênica, a fim de

obter mutantes capazes de produzir continuamente enzimas celulolíticas na presença de

substratos, sem que o sistema de expressão gênica sofra retro-inibição pelos produtos da

ação enzimática, como ocorre naturalmente.

Caracterização e engenharia de enzimas

Outro tipo de retro-inibição ou inibição pelo produto ocorre no nível da catálise.

Quando a concentração de produtos se torna alta no meio, as enzimas não conseguem se

desligar do produto formado e, então, a atividade enzimática começa a cair. A atividade

Page 16: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

pode não só parar completamente, como pode até mesmo se inverter. No Instituto de

Química da USP, Sandro Marana está propondo a união de um domínio de ligação à

celulose (CBD – cellular binding domain) a β-glicosidases a fim de promover a redução

da concentração local dos produtos da atividade da enzima. O CBD é uma seqüência

protéica encontrada em algumas celulases que adere à microfibrila provocando uma

desorganização local na estrutura cristalina da fibra que facilita a catálise. Um “braço”

protéico posiciona o sítio catalítico no local exato onde a desordenação promovida pelo

CBD expõe as moléculas de celulose ao ataque enzimático. Um recurso importante na

pesquisa interessada na compreensão e engenharia de enzimas é o do desvendamento da

estrutura terciária de proteínas. O grupo de Marana acredita que a razão

produto/substrato é menor nas proximidades do polissacarídeo. Com foco na estrutura

das enzimas, o grupo de Marana estuda β-glicosidases ativas sobre celobiose (um

dímero de glicose produzido pela hidrólise da celulose) e sobre celodextrinas

(oligossacarídeos beta-1,4 ligados derivados da celulose). Eles estão interessados nos

aminoácidos localizados fora do sítio ativo da enzima e que estão associados à

especificidade da ação enzimática. O grupo trabalha com uma metodologia denominada

evolução dirigida em que são produzidas pequenas variações na seqüência de

aminoácidos das enzimas e a seguir são realizados ensaios a fim de selecionar variantes

cuja eficiência catalítica de interesse aumentou e então são estudadas quais as variações

estruturais responsáveis pelo aumento na atividade/especificidade.

As diferentes glicosidases são agrupadas em famílias. Entretanto, a grande

maioria das delas ainda não tem sua estrutura terciária desvendada ou tem apenas uns

poucos representantes cuja estrutura estérica foi elucidada. O grupo de Igor Polikarpov

da USP de São Carlos estuda a estrutura terciária de enzimas por cristalografia de raios

X e entre elas glicosidases. Eles já conseguiram cristalizar e resolver a estrutura de

xilanases de Trichoderma reesei (Galubev et al. 2000, Rojas et al. 2005). Polikarpov e

seus colaboradores são responsáveis por técnicas que têm levado ao aperfeiçoamento da

cristalografia que tornou a metodologia muito mais eficiente. Eles estão empenhados na

criação/aperfeiçoamento de modelos de enovelamento protéico que possam ser usados

para prever a estrutura terciária com base na seqüência de aminoácidos e que podem ser

utilizados na engenharia de catalisadores enzimáticos.

Usando conhecimentos sobre os mecanismos fisiológicos, bioquímicos e moleculares

para aprimorar o acesso à celulose

Page 17: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

Ainda que a estrutura básica das hemiceluloses já seja conhecida (tipos e

proporções entre as ligações glicosídicas), é necessário estudarmos sua “estrutura fina”.

Para tanto é necessário utilizar enzimas específicas que revelem os padrões de

ramificação e/ou das repetições das ligações glicosídidas na cadeia principal

(proporções entre ligações beta-1,3 e beta-1,4 nos beta-glucanos e entre as manoses e

glicoses nos mananos, etc). Tais informações são relevantes, pois temos verificado que

a ação das hemicelulases depende fortemente da estrutura fina (Tiné et al. 2003). Além

das estruturas baseadas nos açúcares, outro aspecto ainda relativamente pouco estudado

em relação às hemiceluloses são as ramificações com radicais acetila e também com

compostos fenólicos (dos Santos et al. 2008b). Para que possamos aprofundar nosso

conhecimento a esse respeito precisamos utilizar estudos com base em enzimas

específicas puras e espectrometria de massas (e.g. MS-MS).

Para que possamos manipular as enzimas corretas para desmontar a parede e

obter acesso à celulose precisamos também aprofundar nosso conhecimento sobre os

mecanismos de sinalização e expressão dos genes relacionados à parede celular.

Atualmente, nosso grupo está estudando a composição e estrutura fina da parede

celular em diversos órgãos da cana de açúcar e as variações nessa composição durante o

desenvolvimento. Investigamos a importância dos compostos fenólicos na recalcitrância

da parede celular ao ataque de hidrolases (dos Santos et al. 2008c) e o controle

hormonal sobre o crescimento, o desenvolvimento e a composição da parede celular.

Estamos estudando ainda os mecanismos de autodigestão da parede que ocorrem

naturalmente (como em frutos e sementes) e que podem auxiliar na compreensão do

processo de síntese e, sobretudo, de degradação da parede. Estamos também

empenhados em estudar as enzimas e a composição da parede celular de sementes

visando à produção de álcool através do uso sustentável de sementes nativas. Sementes

de espécies nativas de vários biomas brasileiros, entre eles a Mata Atlântica e do

Cerrado, acumulam grandes quantidades de polissacarídeos de parede celular

(Buckeridge & Dietrich, 1990, Buckeridge et al. 1995, Mayworm et al. 2000). Em

algumas destas o acúmulo é de tal ordem que é possível extrair carboidratos em larga

escala para uso industrial. Já desenvolvemos, por exemplo, um processo para obter

galactomanano a partir de sementes de faveiro (Dimorphandra mollis; Panegassi et al.

2000). Durante os últimos 15 anos temos desvendado os mecanismos bioquímicos e

fisiológicos envolvidos nos processos de degradação desses polímeros. Purificamos

diversas enzimas (Buckeridge et al. 2000) e clonamos genes relacionados (ver Alcântara

Page 18: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

et al. 1999, 2006, Lisboa et al. 2006 e Brandão 2008), bem como investigamos os

mecanismos de controle hormonal da degradação da parede celular nesses modelos de

estudo (Santos et al. 2004, Tonini et al. 2006).

A idéia é introduzir em leveduras os genes que codificam para as enzimas de

hidrólise de galactomananos e xiloglucanos de sementes de Leguminosae. Então,

poderíamos usar as leveduras para degradar o polissacarídeo das sementes para produzir

monossacarídeos e, a seguir, promover a fermentação alcoólica. Além do faveiro

(Dimorphandra mollisii) o feijão-do-mato (Sesbania virgata) e o jatobá (Hymenaea

courbaril) produzem grandes quantidades (acima de 40% do peso seco) de

polissacarídeos nas sementes (Buckeridge et al. 2000). Nos casos citados, as espécies

são de larga ocorrência em vários biomas sul-americanos e é possível a exploração

sustentada através de contatos com cooperativas que já utilizam outras partes de forma

sustentável.

Em termos de escala de produção, a quantidade de etanol passível de ser

produzida é relativamente pequena em relação ao que a cana-de-açúcar pode produzir.

No entanto, as vantagens ambientais suplantam muito às econômicas no caso de se

formar sistemas agro-florestais em que florestas sejam regeneradas (ou mantidas) em

meio ao canavial. Esta estratégia, que denominamos ‘caminho do meio’ (Buckeridge,

2007), tem o potencial de produzir um etanol que poderia ser certificado como

ambientalmente correto e poderia assegurar fatias de mercado (por exemplo, na Europa

e Japão) de combustível que tenha padrão de produção com baixo impacto ambiental.

No caso da cana-de-açúcar, uma possibilidade é fazer um “screening” das

paredes celulares das diversas variedades buscando diferenças de composição que

possam nos auxiliar a compreender as variações estruturais e produzir mutantes que

permitam maior acesso à celulose.

Como o grande propulsor da busca por novas tecnologias para obtenção de

etanol é a mudança climática global, nosso grupo também estuda os efeitos das

mudanças climáticas sobre a cana-de-açúcar e outras espécies de interesse para a

obtenção de energia renovável em regiões amazônicas, como a Senna reticulata (mata-

pasto) e Euterpe oleracea (açaí). Um dos objetivos é entender os mecanismos de

acúmulo de biomassa e avaliar outros aspectos bioquímicos e ecofisiológicos afetados

por mudanças climáticas.

Plantas de cana-de-açúcar incubadas em atmosfera de gás carbônico de 720 ppm

(concentração esperada para 2050, caso as emissões de combustíveis fosseis continuem

Page 19: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

na mesma taxa), apresentaram um aumento na taxa fotossintética e um grande aumento

em biomassa. Na cana, o aumento pode chegar a 60% apenas na biomassa do colmo

(Souza et al. 2008). Nestas plantas, observamos a superexpressão dos genes

relacionados com expansão celular como a xiloglucano endo-transglicosilase (XTH),

com a fotossíntese e também com a inibição da expressão de genes relacionados à

síntese de fenilpropanóides (intermediários na síntese da lignina). Paralelamente, o

grupo de Gláucia Souza do IQ USP, com o qual colaboramos, observou que plantas

com alta produtividade de açúcares expressam a XTH com maior intensidade e também

têm inibida expressão da cinamil orto-metiltransferase (COMT), relacionada à síntese

de fenilpropanóides.

Neste momento estamos aprofundando os estudos sobre o papel da enzima XTH

no metabolismo de parede celular de cana e o processo fotossintético em cana-de-

açúcar. Nossa expectativa é a de poder aumentar a produtividade da cana aumentando a

expressão dos genes de fotossíntese que respondem ao CO2 elevado. Com isto, a planta

não só produz mais sacarose, mas também mais fibra, que servirá como substrato para a

produção do etanol celulósico.

Etanol de Quarta Geração: a planta ajudando na produção de etanol

O que chamamos de etanol de quarta geração irá integrar os processos de

produção das demais gerações (Figura 1). Consistirá em um conjunto de alterações na

própria planta de cana-de-açúcar (adaptável também a outras espécies) que deverão

aumentar a eficiência dos processos de produção de etanol de segunda e terceira

gerações.

Além de otimizar a produção do etanol através de modificações na planta e

microorganismos utilizados na degradação da celulose, uma alternativa que poderá

reduzir o custo da produção de enzimas é a modificação da cana para expressar enzimas

capazes de promover a digestão da parede celular. Nosso grupo se dedica a entender

tanto a relação entre a expressão dos genes relacionados à biossíntese e degradação da

parede celular quanto àqueles relacionados com o metabolismo de carboidratos em

geral. Em 2001, nosso grupo participou do projeto SUCEST da cana e encontrou 459

genes relacionados ao metabolismo de parede celular (Lima et al. 2001). Neste trabalho

foi demonstrado que grande parte dos genes da via de biossíntese está ativada, enquanto

os genes da via de degradação em geral não são expressos durante o desenvolvimento.

Page 20: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

Isso indica que deve haver um baixo turnover de polissacarídeos da parede. No entanto,

os genes existem e devem ser expressos em condições específicas como durante a

senescência foliar. Se obtivéssemos controle sobre estes genes poderíamos induzir a

planta a expressar estas enzimas na época da colheita, reduzindo a necessidade de se

introduzir enzimas fúngicas para desmontar a parede.

Outra idéia é a de introduzir na cana genes heterólogos que sejam ativos apenas

em condições específicas, durante o processamento da biomassa. Já foram produzidas

plantas transgênicas, nas quais foi inserido o gene da α-amilase que converte o amido

em glicose e uma celulase para a degradação da celulose. Num outro estudo, uma

endoglucanase E1 de Acidothermus cellulolyticus que funciona otimamente a 81o C e

pH 5 foi expressa no apoplasto de várias plantas incluindo Arabidopsis e arroz. A

enzima mostrou-se ativada em extratos brutos e quando adicionada aos colmos de arroz

após a colheita e após um pré-tratamento ácido, mas não causou degradação da celulose

in planta (Dai et al, 2000). Estudos em andamento em nosso laboratório indicam que a

presença de hemicelulose e lignina previnem o acesso da E1 à celulose (dos Santos et al.

2008c). Sendo assim, torna-se necessário estudar in vitro a ação de enzimas que

degradam lignina como lacases e peroxidases, bem como enzimas ativas sobre

hemiceluloses (feuloil-esterases, xilanases, liquenases, etc). Posteriormente, a expressão

dessas enzimas pode ser estudada em Arabidopsis e cana, direcionando-as para

compartimentos celulares que permitam que sua ação seja disparada apenas no

momento desejado. Para tanto, precisamos prospectar as enzimas produzidas pela

plantas de interesse e/ou relacionadas, assim como os mecanismos de sinalização

envolvidos na regulação da expressão desses genes. Dessa forma estaríamos aptos a

tentar controlar esses mecanismos de sinalização em nosso favor. Já prevendo esta

possibilidade, nosso grupo, em colaboração com outros, está realizando experimentos

para verificar quais enzimas, em quanto tempo, e em qual ordem e proporções, devem

ser utilizadas a fim de degradar a parede da cana-de-açúcar com a maior eficiência

possível.

Uma outra possibilidade é modificar o tipo de hemicelulose presente na parede e

ativar a síntese dos polissacarídeos reduzindo a quantidade de lignina a fim de produzir

a “cana-energia” que, como conseqüência da maior quantidade de polissacarídeos,

possuirá mais energia conversível em etanol. Essa planta poderá ser usada para hidrólise

com coquetéis enzimáticos de alta eficiência ou mesmo por fungos geneticamente

modificados ou ainda por enzimas expressas pela própria planta.

Page 21: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

Apesar do alto grau de conhecimento que necessitamos ter para que se torne

possível tal situação, a manipulação e/ou introdução de genes para a degradação da

parede in vivo é possível. Acreditamos que o etanol de quarta geração se tornará viável

em cerca de 10 anos, pela utilização de modificações genéticas que alterem a parede

celular e fisiologia da planta de forma a prepará-la para melhor adaptação a diferentes

condições com aquelas advindas das mudanças climáticas globais.

Para que esta quarta geração de etanol seja realizada, metas como o

seqüenciamento completo do genoma da cana e alguns fungos-chave, o mapeamento

dos genes de parede, a compreensão dos mecanismos de controle fisiológico

(hormônios, fatores de transcrição), bem como na compreensão da relação entre

estrutura e eficiência de enzimas e substratos, devem se tornar linhas de pesquisa

prioritárias, hoje.

A Figura 7 resume as rotas do etanol celulósico integradas entre si, considerando

a possibilidade de se alterar, com tecnologias de quarta geração, o balanço entre

biossíntese e degradação e produzir plantas que tenham mais celulose e, portanto, um

maior nível de empacotamento de energia nas ligações glicosídicas (veja Buckeridge

2007 para maiores detalhes).

Figura 7 – Rotas possíveis para o etanol de quarta geração.

B

D

Quais genes?(sequenciamento completo)

Expressão gênica

Proteômica

B

D

B

D

CANA ENERGIA

FermentaçãoHidrolases fúngicas

(modo de ação, cristalografia e

genética)

SinalizaçãoCelular

CO2

Temperatura

Água

Seqüências e propriedade das

proteínas

Controlar a arquitetura da parede

Estudar a variabilidade genética

MUDANÇA

S

CLIM

ÁTICAS

GLOBA

IS

Xilose ?

ETANOL

Mitigação e adaptação

Ro

tas

pa

ra o

eta

nol c

elu

lósi

co –

Ma

rco

s B

ucke

ridg

e, m

sbuc

k@u

sp.b

r

B

D

B

D

Quais genes?(sequenciamento completo)

Expressão gênica

Proteômica

B

D

B

D

B

D

B

D

CANA ENERGIA

FermentaçãoFermentaçãoHidrolases fúngicas

(modo de ação, cristalografia e

genética)

SinalizaçãoCelular

CO2

Temperatura

Água

Seqüências e propriedade das

proteínas

Controlar a arquitetura da parede

Estudar a variabilidade genética

MUDANÇA

S

CLIM

ÁTICAS

GLOBA

IS

Xilose ?

ETANOL

Mitigação e adaptação

Ro

tas

pa

ra o

eta

nol c

elu

lósi

co –

Ma

rco

s B

ucke

ridg

e, m

sbuc

k@u

sp.b

r

Page 22: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

Abordagens paralelas à cana-de-açúcar para o avanço tecnológico do etanol

celulósico

O eucalipto é atualmente a maior fonte de celulose disponível comercialmente,

embora sua produção esteja voltada para a fabricação de papel. Entretanto, a casca do

eucalipto, atualmente desperdiçada, é uma grande fonte de carboidratos que podem vir a

ser matéria-prima para produção de etanol celulósico. Há alguns anos, nosso grupo

realizou um levantamento sobre a composição da parede celular do eucalipto em um

projeto financiado pela Suzano Papel e Celulose e, atualmente, o grupo liderado por

Carlos Labate da ESALQ/USP vem realizando um estudo sobre produtividade e

composição dos carboidratos da casca de diferentes variedades de eucalipto. Algumas

têm a casca especialmente rica em hexoses chegando a apresentar até 5% de sacarose

em sua composição. Labate também está interessado em estudar celulases com

especificidade por essas matérias-primas, como as encontradas no trato digestivo de

cupins e outros insetos especializados em madeiras. Além do conhecimento sobre a

composição da parede de eucalipto, a polpa também já foi estudada com relação ao

ataque de enzimas fúngicas (Medeiros et al., 2002).

Outro resíduo que pode ser obtido em grandes quantidades é o ingáço

(pendúculo do cacho) de banana com composição similar à da cana (resultados não

publicados) que podem ser digeridos por enzimas de fungos (Medeiros et al. 2000).

Outro resíduo promissor é a borra de café, que é rica em manano e celulose (não

publicado) que poderia ser digerida por uma mistura de mananases (Lisboa et al., 2006)

e celulases. Há várias outras possibilidades, mas estes processos podem ser vistos como

exemplos que poderiam complementar a produção de etanol celulósico com base no

bagaço da cana.

Mesmo com o foco no etanol de alta tecnologia, é importante não perdermos a

necessária atenção sobre a fisiologia das plantas de interesse para produção de etanol.

Precisamos investir em plantas mais produtivas e precoces a fim de reduzir a

necessidade de expansão das áreas de plantio. Do mesmo modo, é importante obtermos

variedades mais resistentes à seca, alagamento, frio e patógenos para fazer frente as

modificações climáticas em curso, bem como para atender à demanda por variedades

aptas ao cultivo em regiões distintas das tradicionais.

Conclusões

Page 23: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

O etanol celulósico, ao lado do biodiesel, é uma promissora fonte de

combustível sustentável e eficiente capaz de atender à demanda universal por

combustíveis líquidos, tanto para propelir veículos quanto para alimentar as iminentes

células de combustível. Diversos métodos para obtenção de etanol estão em

experimentação e é imprescindível que o Brasil mantenha sua liderança natural neste

campo para que o valor tecnológico agregado dos biocombustíveis possa ser revertido

em nosso favor enquanto o produto avança para se tornar uma comódite. Neste

caminho, a cana de açúcar desponta com larga vantagem como a planta sobre a qual

devemos depositar nossos maiores esforços a curto prazo. Entretanto, não podemos

perder de vista outras fontes de lignocelulose como o eucalipto e outras plantas tais

como o sorgo sacarino e as sementes de espécies nativas. Também devemos manter a

atenção sobre tecnologias voltadas à hidrólise, mas sem perder de vista a necessidade

avançar na produtividade das plantas que servirão como matéria-prima a este processo.

Além disso, independentemente do foco em combustíveis de segunda, terceira e

quarta gerações é importante que conheçamos profundamente a fisiologia das plantas de

interesse para produção de etanol. Assim, poderemos produzir variedades mais

resistentes à seca, alagamento, frio e patógenos, bem como plantas mais produtivas e

precoces frente a modificações no ambiente de plantio devido à possibilidade de

expansão de áreas e às mudanças climáticas em curso no planeta.

A produção de bioenergia é uma medida de extrema importância para

enfrentarmos os sérios desafios ambientais relacionados com os efeitos das mudanças

climáticas globais. Ainda que a bioenergia não seja a única solução para este problema,

ela certamente contribuirá para mitigar as emissões de combustíveis fósseis.

Outro desafio igualmente importante é a preservação da biodiversidade. O

aumento de produtividade esperado nos próximos 10 a 15 anos, deve ser usado para

diminuir a necessidade de expansão da área plantada para produzir combustível. Ao

mesmo tempo, deve ser incentivada a recuperação de florestas que, se possível, podem

ocupar espaço em meio aos canaviais, recuperar as matas ciliares e trazer de volta parte

da biodiversidade.

A produção de etanol celulósico com alta eficiência e sustentabilidade não será

tarefa de poucos, mas resultará da integração entre diversos grupos de pesquisa

especializados em diferentes áreas da fisiologia, ecologia, bioquímica, genética,

enzimologia, física e engenharia, entre outras. O Brasil está diante de mudança no modo

Page 24: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

de produção rara ou talvez inédita na história. Podemos desenvolver uma tecnologia de

alto valor agregado e ao mesmo tempo usá-la também para recuperar a biodiversidade,

integrando sustentabilidade e desenvolvimento tecnológico. Talvez não seja exagero

dizer que Brasil tem a chance de liderar uma transição entre o velho Homo sapiens

pujante e poluidor para um novo e equilibrado Homo ambientalis.

Referências Bibliográficas

ALCÂNTARA, P.H.N., DIETRICH, S.M.C. & BUCKERIDGE, M.S. (1999). Xyloglucan mobilisation and purification of a (XLLG/XLXG) specific ß-galactosidase from cotyledons of Copaifera langsdorffii Desf. (Leguminosae). Plant Physiology & Biochemistry 37(9): 653-663.

ALCÂNTARA, P.H.N., MARTIN, L., SILVA, C.O., DIETRICH, S.M.C. & BUCKERIDGE, M.S. (2006) Purification of a beta-galactosidase from cotyledons of Hymenaea courbaril L. (Leguminosae). Enzyme properties and biological function. Plant Physiology and Biochemistry 44: 619-627.

ALI, M. MARK, R. & DANIEL, J.S. (2006). Conditioning hemicelluloses hydrolysates for fermentation: effects of overliming pH on sugar and ethanol yields. Process Biochemistry 41: 1806 – 1811.

BRANDÃO, A. D (2008). Isolamento de cDNAs parciais de quatro genes do metabolismo de carboidratos e análise de seus padrões de expressão durante a fase inicial do desenvolvimento em plântulas de jatobá (Hymenaea courbaril L.). Tese de Doutorado em Biologia Celular e Estrutural - Universidade Estadual de Campinas.

BUCKERIDGE, M.S., SILVA, G.B. & CAVALARI, A. A. (2008). Parede Celular. In: Kerbauy, G.B. (ed). 2ed. Fisiologia Vegetal, Guanabara Koogan: Rio de Janeiro. Pg. 165-181.

BUCKERIDGE, M. S. ; TINÉ, M. A. S. ; Lima, D U ; Santos HP (2000). Mobilisation of storage cell wall polysaccharides in seeds. Plant Physiology and Biochemistry, v. 38, p. 141-156.

BUCKERIDGE M.S., RAYON, C., URBANOWICZ, B., TINÉ, M.A.S, CARPITA, N.C. (2004). Mixed linkage (1-3),(1-4)-beta-D-glucans of grasses. Cereal Chemistry 81(1):115-127.

BUCKERIDGE, M. S. (2007). Seqüestro de carbono, cana-de-açúcar e o efeito Cinderela. ComCiencia Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, Campinas, 10 abr.

BUCKERIDGE, M. S. (2007) . Bioetanol de quê?A cana é hoje a melhor opção para produzir álcool, mas o milho e sobretudo a mandioca também têm bom potencial. Revista Pesquisa FAPESP, 28 nov. 2007. Disponível em: <http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=4338&bd=2&pg=1&lg>

BUCKERIDGE, M.S. & DIETRICH, S.M.C. (1990) Galactomannan from Brazilian legume seeds. Revista Brasileira de Botanica 13: 109-112

BUCKERIDGE, M.S., PANEGASSI, V.R. & DIETRICH, S.M.C. (1995). Storage carbohydrate mobilisation in seeds of Dimorphandra mollis Benth. (Leguminosae) following germination. Revista Brasileira de Botanica 18(2): 171-175

CHENG, K., CAI, B., ZHANG, J., LING,H., ZHOU, Y. GE, J. & XU, J. (2008). Sugarcane bagasse hemicellulose hydrolisate for ethanol production by acid recovery process. Biochemical Engineering Journal 38: 105-109.

Page 25: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

Dai, Z., Hooker, B.S., Anderson, D.B. (2000) Thomas, S.R. Expression of Acidothermus cellulolyticus endoglucanase E1 in transgenic tobacco: biochemical characteristics and physiological effects. Transgenic Research. 9: 43–54.

DOS SANTOS W. D., FERRARESE, M. M. L., FERRARESE-FILHO, O. (2008a). Ferulic Acid: An Allelochemical Troublemaker. Functional Plant Science and Biotechnology, 2 (1), 47-55.

DOS SANTOS, W. D., M. L. L. FERRARESE, C. V. NAKAMURA, K. S. M. MOURÃO, C. A. MANGOLIN, O. FERRARESE-FILHO. (2008b). Soybean (Glycine max) Root Lignification Induced by Ferulic Acid. The Possible Mode of Action. Journal of Chemical Ecology, DOI 10.1007/s10886-008-9522-3.

DOS SANTOS, W. D., SILVA, A. M., SOUZA, A. CARPITA, N., BUCKERIDGE, M. (2008c). Composition and Structure of Sugarcane Cell Wall. The Pan American Congress on Plant and Bioenergy, ASPB, p. 36.

GOLDEMBERG, J. (2007). Ethanol for a sustainable energy future. Science 315: 818.

GOLUBEV, A M ; BRANDÃO NETO, J R ; ENEYSKAYA, E V ; KULMINSKAYA, A V ; KERZHNER, M A ; NEUSTROEV, K N ; POLIKARPOV, Igor . (2000) Purification, crystallization and preliminary X-ray study of beta-xylosidase from Trichoderma reesei . Acta Crystallographica Section D - Biological Crystallography, Copenhagen, v. 56, n. Part 8, p. 1058-1060.HINMAN, N.D., WRIGHT, J.D. HOAGLAND, W., WYMAN, C.E. (1989). Xylose fermentation, an economic analysis. Applied Biochemistry Biotechnology 20/21: 391-401.

IEMBO, T. ; AZEVEDO, M. O. ; BLOCH JR., C. ; FILHO, E. X.F. (2006). Purification and partial characterization of a new beta-xylosidase from Humicola grisea var. thermoidea. World Journal of Microbiology and Biotechnology, Holanda, v. 22, p. 475-479.

KAYLEN, M. VAN DYNE, D.L., CHOI, M., BLASÉ, M. (2000). Economic feasibility of producing ethanol from lignocellulosic feedstocks. Bioresource Technology 14: 19-32.

LIMA, D.U., SANTOS, H.P., TINÉ, M.A., MOLLE, F.D. & BUCKERIDGE, M.S. (2001). Patterns of expression of cell wall related genes in sugar cane. Genetics and Molecular Biology 24 (1-4): 191-198.

LISBOA, C.G.S., TINÉ , M.A.S. & BUCKERIDGE, M.S. (2006). Endo-beta-mannanase from the endosperm of seeds of Sesbania virgata (Cav.) Pers. (Leguminosae): purification, characterisation and importance for germination and early seedling growth. Plant Physiology and Biochemistry 18(2): 269-280.

Macedo, I.C. ; NOGUEIRA, L. A. H. (2005) . Biocombustíveis. 1. ed. Brasilia: Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. v. 1. 233 p.

Macedo, I.C., Seabra, J.E.A. and Silva, J.E.A.R. (2008). Greenhouse gases emissions in the production and use of ethanol from sugarcane in Brazil: The 2005/2006 averages and the prediction for 2020. Biomass and Bioenergy doi:10.1016/j.biombioe.2007.12.006.

MAYWORM M.A. S., BUCKERIDGE, M.S., SALATINO, A. (2000) Composition of polysaccharides of seed cell walls and the taxonomy of Vochysiaceae. Phytochemistry 55:581-587.

MEDEIROS R. SILVA JR. F. SALLES B. ESTELLES R. FILHO, E. X.F. (2002) The performance of fungal xylan-degrading enzyme preparations in elemental chlorine free bleaching for Eucalyptus pulp. Journa of Industrial Microbiology and Biotechnology, Inglaterra, v. 28, n. 4, p. 204-206.

MEDEIROS, R.; SOFFNER, M.; THOME, J.; CACAIS, A.; ESTELLES, R.; SALLES, B.; FERREIRA, H.; LUCENA NETO, S.; SILVA JR., F.; FILHO, E. X.F. (2000) The production of hemicellulases by aerobic fungi on medium containing residues of banana plant as substrate. Biotechnology Progress, Estados Unidos, v. 16, n. 2, p. 522-524.

Page 26: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

PANEGASSI, V.R., SERRA, G.E. & BUCKERIDGE, M.S. (2000) Potencial tecnológico do galactomanano de sementes de faveiro (Dimorphandra mollis) para uso na indústria de alimentos. Revista Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, 20 (3): 406-415.

RIZZATTI, A. C. S. ; FREITAS, F. Z. ; BERTOLINI, M. C. ; PEIXOTO-NOGUEIRA, S. C. ; JORGE, J. A. ; TERENZI, H. F. ; POLIZELI, M. L. T. M. (2008). Regulation of xylanase in Aspergillus phoenicis: a physiological and molecular approach. Journal of Industrial Microbiology and Biotechnology, v. 35, p. 237-244.

RODRIGUES, F.A. & GUIRARDELLO, R. (2008). Evaluation of a sugarcane bagasse acid hydrolisis technology. Chemical Engineering & Technology   31 (6): 883-892.

ROJAS, A L ; FISCHER, H ; ENEYSKAYA, E V ; KULMINSKAYA, A A ; SHABALIN, K A ; NEUSTROEV, K N ; CRAIEVICH, A F ; GOLUBEV, A M ; POLIKARPOV, Igor (2005). Structural insights into the -xylosidase from Trichoderma reesei obtained by synchrotron small-angle x-ray scattering and circular dichroism spectroscopy. Biochemistry, Washington, v. 44, n. 47, p. 15578-15584, 2005.

SAAVEDRA, F. KARÁCSONYI, Š, ALFÖLDI, J. (1988) Studies of the polysaccharides of sugar cane (Saccharum officinarum): structural features of the water-insoluble D-xylans. Carbohydrate Res. 180, 61-71.

SALLES, B. C. ; TE'O, V. S. J. ; GIBBS, M.D., BERGQUIST, P.L. ; FILHO, E. X.F. ; XIMENES, E.A. ; NEVALAINEN, K. M. H. (2007) Identification of two novel xylanase-encoding genes (xyn5 and xyn6) from Acrophialophora nainiana and heterologous expression of xyn6 in Trichoderma reesei. Biotechnology Letters, Inglaterra, v. 29, p. 1195-1201.

SANTOS, H. P.; Purgatto, E.; Mercier, H.; BUCKERIDGE, M. S. (2004) The Control of Storage Xyloglucan Mobilisation in Cotyledons of Hymenaea courbaril L.. Plant Physiology (Bethesda) 135: 5, p. 287-299.

SILVA, A.M. (2005b) Caracterização da parede celular de Saccharrum officinarum L. (cana-de-açúcar) e Brachiaria decumbens Stapf (braquiária). Tese de Doutorado em Biologia Celular e Estrutural - Universidade Estadual de Campinas.

SILVA, G.B. (2005a). A importância da parede celular para a filogenia das Pteridofitas. Dissertação de Mestrado em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente. Instituto de Botânica de São Paulo.

SINGH, P., SUMAN, A., TIWARI, P., ARYA, N., GAUR,A. & SHRIVASTAVA, A.K. (2008). Biological pretreatment of sugarcane trash for its conversion to fermentable sugars. World Journal Microbiological Biotechnology 24: 664 – 673.

SOUZA, A.P. (2007). A cana-de-açúcar e as mudanças climáticas: efeitos de uma atmosfera enriquecida em CO2 sobre o crescimento, desenvolvimento e metabolismo de carboidratos de saccharum ssp. Dissertação de Mestrado em Biologia Celular e Estrutural - Universidade Estadual de Campinas.

SOUZA, A.P., GASPAR, M., SILVA, E.A., ULIAN, E.C., WACLAWOVSKY, A.J., NISHIYAMA-JR, M.Y., SANTOS, R.V., TEIXEIRA, M.M., SOUZA, G.M., BUCKERIDGE, M.S. (2008) Elevated CO2 increases photosynthesis, biomass, productivity, and modifies gene expression in sugarcane. Plant Cell & Environment 31 : 1116- 1127.

TINÉ, M. A. S.; Lima, D U; BUCKERIDGE, M. S. (2003) Galactose branching modulates the action of cellulase on seed storage xyloglucans. Carbohydrate Polymers, Irlanda, v. 52, p. 135-141.TINÉ, M.A.S., SILVA, C.O., LIMA, D.U., CARPITA, N.C. & BUCKERIDGE, M.S. (2006). Fine structure of a mixed-oligomer storage xyloglucan from seeds of Hymenaea courbaril. Carbohydrate Polymers 66: 444-454.

Page 27: As Rotas Para o Etanol Celulósico No Brasil,

TONINI, P. P. ; LISBOA, C. G. ; Frisch L ; Mercier, H. ; VIVEIROS, S. C. M. ; BUCKERIDGE, M. S. (2006) Effect of abscisic acid on galactomannan degradation and endo-beta-mannanase activity in seeds of Sesbania virgata (Cav.) Pers. Trees (Berlin), v. 20, p. 669-678.