As Seitas Protestantes de o Espírito do Capitalismo

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As Seitas Protestantes de o Espírito do Capitalismo Max Weber nasceu em Erfurt, em 21 de abril de 1864. Pelo pai, que foi deputado do Partido Nacional Liberal, Weber teve oportunidade de entrar bem cedo em contato com ilustres historiadores, filósofos e juristas da época. Historiador, sociólogo, economista e político, Weber trata dos problemas metodológicos com a consciência das dificuldades que emergem do trabalho efetivo do historiador e do sociólogo, mas, sobretudo com a competência do economista. Com o objetivo de relacionar as idéias religiosas fundamentais do protestantismo com as máximas da vida econômica capitalista, Weber analisa alguns pontos fundamentais da ética calvinista, como a afirmação de que "o trabalho constitui, antes de qualquer coisa, a própria finalidade da vida". Outra idéia no mesmo sentido estaria contida na máxima dos puritanos, segundo a qual "a vida profissional do homem é que lhe dá uma prova de seu estado de graça para sua consciência, que se expressa no zelo e no método, fazendo com que ele consiga cumprir sua vocação". Por meio desses exemplos, Weber mostra que o ascetismo secular do protestantismo "libertava psicologicamente a aquisição de bens da ética tradicional, rompendo os grilhões da ânsia de lucro, com o que não apenas a legalizou, como também a considerou como diretamente desejada por Deus". Pertencer a uma Igreja trazia "status", como se fosse uma garantia de idoneidade. Nos EUA a questão da filiação religiosa era quase sempre formulada na vida social e na vida comercial que dependiam de relações permanentes e de crédito. A admissão à congregação é considerada como uma garantia absoluta de qualidades morais, especialmente as qualidades exigidas em questões de comércio. A seita é, porém, uma associação voluntária apenas daqueles, que, segundo o princípio, é religiosa e moralmente qualificada. A exclusão de uma Igreja, por motivos de ofensas morais, significa, economicamente, a perda de crédito e, socialmente, a perda de classe. A concorrência entre as seitas é forte, entre outras coisas, através das ofertas materiais e espirituais nos chás das congregações. Entre as igrejas mais liberais, também a música entra nas competições. Hoje, o tipo de congregação a que alguém pertence é irrelevante. O importante é que se seja admitido como membro através de votações, depois de um exame e uma comprovação ética no sentido das virtudes que estão a prêmio para o ascetismo ao mesmo tempo íntimo e voltado para o mundo do protestantismo, e, daí, para a tradição puritana. Essas associações eram, especialmente, os veículos típicos de ascensão social para o círculo da classe média empresarial. Serviam para difundir e manter o ethos econômico burguês e capitalista entre as amplas camadas das classes médias (inclusive os agricultores).

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As Seitas Protestantes de o Espírito do Capitalismo

Max Weber nasceu em Erfurt, em 21 de abril de 1864. Pelo pai, que foi deputado do Partido Nacional Liberal, Weber teve oportunidade de entrar bem cedo em contato com ilustres historiadores, filósofos e juristas da época.

Historiador, sociólogo, economista e político, Weber trata dos problemas metodológicos com a consciência das dificuldades que emergem do trabalho efetivo do historiador e do sociólogo, mas, sobretudo com a competência do economista.

Com o objetivo de relacionar as idéias religiosas fundamentais do protestantismo com as máximas da vida econômica capitalista, Weber analisa alguns pontos fundamentais da ética calvinista, como a afirmação de que "o trabalho constitui, antes de qualquer coisa, a própria finalidade da vida". Outra idéia no mesmo sentido estaria contida na máxima dos puritanos, segundo a qual "a vida profissional do homem é que lhe dá uma prova de seu estado de graça para sua consciência, que se expressa no zelo e no método, fazendo com que ele consiga cumprir sua vocação". Por meio desses exemplos, Weber mostra que o ascetismo secular do protestantismo "libertava psicologicamente a aquisição de bens da ética tradicional, rompendo os grilhões da ânsia de lucro, com o que não apenas a legalizou, como também a considerou como diretamente desejada por Deus".

Pertencer a uma Igreja trazia "status", como se fosse uma garantia de idoneidade.

Nos EUA a questão da filiação religiosa era quase sempre formulada na vida social e na vida comercial que dependiam de relações permanentes e de crédito.

A admissão à congregação é considerada como uma garantia absoluta de qualidades morais, especialmente as qualidades exigidas em questões de comércio. A seita é, porém, uma associação voluntária apenas daqueles, que, segundo o princípio, é religiosa e moralmente qualificada.

A exclusão de uma Igreja, por motivos de ofensas morais, significa, economicamente, a perda de crédito e, socialmente, a perda de classe.

A concorrência entre as seitas é forte, entre outras coisas, através das ofertas materiais e espirituais nos chás das congregações. Entre as igrejas mais liberais, também a música entra nas competições.

Hoje, o tipo de congregação a que alguém pertence é irrelevante. O importante é que se seja admitido como membro através de votações, depois de um exame e uma comprovação ética no sentido das virtudes que estão a prêmio para o ascetismo ao mesmo tempo íntimo e voltado para o mundo do protestantismo, e, daí, para a tradição puritana.

Essas associações eram, especialmente, os veículos típicos de ascensão social para o círculo da classe média empresarial. Serviam para difundir e manter o ethos econômico burguês e capitalista entre as amplas camadas das classes médias (inclusive os agricultores).

Como bem se sabe, não poucos ( a maioria da geração mais velha ) dos "promotores", "capitães da indústria" americanos, dos multimilionários e dos magnatas dos trustes pertenciam formalmente a seitas, especialmente a dos batistas. Mas, segundo o caso, essas pessoas freqüentemente eram filiadas apenas por motivos convencionais, como na Alemanha, e apenas a fim de se legitimarem na vida pessoal e social_ não para se legitimarem como homens de negócios; na era dos puritanos, esses "super-homens econômicos" não precisavam de tal muleta, e sua religiosidade era, certamente com freqüência de uma sinceridade mais do que dúbia. As classes médias, acima de tudo as camadas em ascensão com as classes médias e as que dela se estão afastando, foram os portadores dessa orientação religiosa específica que devemos, na realidade, acautelar-nos para não considerar apenas como oportunistas.

A decisão dependia de ter ou não a pessoa provado a sua qualificação religiosa através da conduta, no sentido mais amplo da palavra, como ocorria entre toas as seitas puritanas.

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Quem não conseguisse ingressar numa associação não era um cavalheiro; quem desprezasse as associações, como era habitual entre os alemães, tinha de trilhar o caminho difícil, especialmente na vida econômica.A opinião de que os deuses concedem riquezas ao homem que os agrada, através do sacrifício ou pelo seu comportamento, difundiu-se realmente por todo o mundo. As seitas protestantes, porém, estabeleceram conscientemente uma ligação entre essa idéia e esse tipo de comportamento religioso, segundo o princípio do capitalismo inicial: "A honestidade é a melhor política". Essa ligação se encontra, embora não exclusivamente, entre essas seitas protestantes, emborasomente entre elas se observem continuamente e coerência características em tal ligação.

A disciplina da seita ascética era, na verdade, muito mais rigorosa do que a disciplina de qualquer Igreja.Em contraste com os princípios das Igrejas protestantes oficiais, às pessoas afastadas por ofensas morais era freqüentemente negado todo relacionamento com os da congregação. A seita invocava, assim, um boicote absoluto contra tais pessoas, que incluía a vida econômica.

É interessante comparar "o espírito do capitalismo," conforme a descrição feita por Weber e reconhecido por nós em nós mesmo e nos outros, com as idéias do próprio Calvino a respeito do dinheiro e dos negócios. Ele considerava os negócios como uma forma legítima de servir a Deus e de trabalhar para sua maior glória.

No entendimento de Weber, à medida que foi se estendendo a influência do estila de vida puritano, centrado na idéia da votação_ e isto, naturalmente, é muito mais importante do que o simples fomento da acumulação do capital_, foi favorecido o desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa. Er mais importante e sua única orientação consistente, isto tendo sido o berço do moderno "homem econômico". A intensidade da busca do reino de Deus gradualmente começa a transforma-se em sóbria virtude economia, quando lentamente desfalecem as raízes religiosas, dando lugar à secularidade utilitária... Uma ética profissional especificamente burguesa surgiu em seu lugar.

E m síntese, a tese de Weber afirma que a consideração do trabalho (entendido como vocação constante e sistemática) como o mais alto instrumento de ascese e o mais seguro meio de preservação da redenção da fé e do homem deve ter sido a mais poderosa alavanca da expressão dessa concepção de vida constituída pelo espírito do capitalismo.

Referência Bibliográfica:

Weber, Max. Ensaios de Sociologia, Max Weber, Zahar Editores 5ª ed. Rio de Janeiro,1971