“AS SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS COMO FERRAMENTAS PARA O ENSINO DE ENGENHARIA: PROJETO E OPERAÇÃO...

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XII Simposio Iberoamericano sobre planificación de sistemas de abastecimiento y drenaje “AS SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS COMO FERRAMENTAS PARA O ENSINO DE ENGENHARIA: PROJETO E OPERAÇÃO DE SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA” Bruno M. Brentan (1), Edevar Luvizotto Jr. (2), Ricardo de Lima Isaac (3), Lubienska C.J.Ribeiro (4), Ana Luíza Marques (5) (1) FEC-Unicam, Av. Albert Einstein, 981, Campinas , SP, BR, 19 3281-2354, [email protected] (2) FEC-Unicamp, Av. Albert Einstein, 981, Campinas , SP, BR, 19 3281-2354 [email protected] (3) FEC-Unicamp ,Av. Albert Einstein, 981, Campinas , SP, BR, 19 3281-2354 [email protected] (4) FT-Unicamp, Rua Paschoal Marmo, 1888, Limeira, SP, BR, 19 2113-3368 [email protected] (5) FEC-Unicamp, Av. Albert Einstein, 981, Campinas, SP, BR, 19 3281-2354 [email protected] RESUMO Os avanços na modelagem matemática e nos algoritmos computacionais e o aumento da velocidade dos computadores possibilitaram melhorias em diversos ramos da ciência e, em particular na engenharia. As simulações computacionais decorrentes destes avanços, ao contrário de teorias que idealizam sistemas, permitem lidar com condições do mundo real sem as limitações dos modelos experimentais. Este trabalho apresenta o resultado de experiências educacionais desenvolvidas pelo Laboratório de Hidráulica Computacional da FEC-UNICAMP em temas relacionados aos sistemas de abastecimento de água, empregando simulações computacionais. Os resultados indicam que estas ferramentas devam fazer parte do currículo da engenharia, desempenhando papel relevante como estratégia pedagogica. Palavras chaves: Simulação, Ensino de Engenharia, Sistemas de Abastecimento de Água. ABSTRACT The advances in mathematical modeling and in computer algorithms, have prepared the way to unprecedented improvements in engineering and other science fields. Unlike most theories which posits restricted, idealize systems, the computer simulations resulted by these advances allow us to deal with real conditions. By this way, this paper presents the result of educational experiences developed by the Laboratory of Computational Hydraulic of FEC-UNICAMP, notoriously related to water supply systems themes using computer simulation. The results indicate that the computer simulation should not be limited to some parcel of the abilities of the engineer students but to be an essential part of the base curriculum, where it is relevant as a pedagogical strategy. Key-words: Simulation, Engineering teaching, Water Supply Systems. SOBRE O AUTOR PRINCIPAL Autor 1: Engenheiro Civil, mestrando do Programa de Engenharia Civil da FEC-Unicamp, na área de concentração de Recursos Hídricos, participante do programa de estágio docente, membro do LHC-FEC Unicamp.

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“AS SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS COMO FERRAMENTAS PARA O ENSINO DE ENGENHARIA: PROJETO E OPERAÇÃO DE SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA”

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  • XII Simposio Iberoamericano sobre planificacin de sistemas de abastecimiento y drenaje

    AS SIMULAES COMPUTACIONAIS COMO FERRAMENTAS PARA O ENSINO DE ENGENHARIA: PROJETO E OPERAO DE SISTEMAS DE

    ABASTECIMENTO DE GUA

    Bruno M. Brentan (1), Edevar Luvizotto Jr. (2), Ricardo de Lima Isaac (3),

    Lubienska C.J.Ribeiro (4), Ana Luza Marques (5)

    (1) FEC-Unicam, Av. Albert Einstein, 981, Campinas , SP, BR, 19 3281-2354, [email protected]

    (2) FEC-Unicamp, Av. Albert Einstein, 981, Campinas , SP, BR, 19 3281-2354 [email protected]

    (3) FEC-Unicamp ,Av. Albert Einstein, 981, Campinas , SP, BR, 19 3281-2354 [email protected]

    (4) FT-Unicamp, Rua Paschoal Marmo, 1888, Limeira, SP, BR, 19 2113-3368 [email protected]

    (5) FEC-Unicamp, Av. Albert Einstein, 981, Campinas, SP, BR, 19 3281-2354 [email protected]

    RESUMO

    Os avanos na modelagem matemtica e nos algoritmos computacionais e o aumento da velocidade dos

    computadores possibilitaram melhorias em diversos ramos da cincia e, em particular na engenharia. As

    simulaes computacionais decorrentes destes avanos, ao contrrio de teorias que idealizam sistemas,

    permitem lidar com condies do mundo real sem as limitaes dos modelos experimentais. Este trabalho

    apresenta o resultado de experincias educacionais desenvolvidas pelo Laboratrio de Hidrulica

    Computacional da FEC-UNICAMP em temas relacionados aos sistemas de abastecimento de gua,

    empregando simulaes computacionais. Os resultados indicam que estas ferramentas devam fazer parte do

    currculo da engenharia, desempenhando papel relevante como estratgia pedagogica.

    Palavras chaves: Simulao, Ensino de Engenharia, Sistemas de Abastecimento de gua.

    ABSTRACT

    The advances in mathematical modeling and in computer algorithms, have prepared the way to

    unprecedented improvements in engineering and other science fields. Unlike most theories which posits

    restricted, idealize systems, the computer simulations resulted by these advances allow us to deal with real

    conditions. By this way, this paper presents the result of educational experiences developed by the

    Laboratory of Computational Hydraulic of FEC-UNICAMP, notoriously related to water supply systems

    themes using computer simulation. The results indicate that the computer simulation should not be limited to

    some parcel of the abilities of the engineer students but to be an essential part of the base curriculum, where

    it is relevant as a pedagogical strategy.

    Key-words: Simulation, Engineering teaching, Water Supply Systems.

    SOBRE O AUTOR PRINCIPAL

    Autor 1: Engenheiro Civil, mestrando do Programa de Engenharia Civil da FEC-Unicamp, na rea de

    concentrao de Recursos Hdricos, participante do programa de estgio docente, membro do LHC-FEC

    Unicamp.

  • INTRODUO

    Nos ltimos 70 anos um assombroso

    desenvolvimento tecnolgico reduziu o tempo para

    uma descoberta cientfica tornar-se uma inovao

    tecnolgica. Essa afirmao valida-se nas geraes

    dos computadores digitais. O primeiro computador

    eletrnico foi concludo em 1946, na Universidade

    da Pensilvnia - EUA, o ENIAC (Eletronic

    Numerical Integrator and Calculator). Empregava

    cerca de 18000 vlvulas, tinha 30m de comprimento,

    1m de largura e 3m de altura. Consumia algo em

    torno de 140 KW de energia e custou cerca de

    500.000 dlares. A partir desta inveno, os

    computadores sofreram rpida evoluo decorrente

    do avano da eletrnica, que transformou a vlvula

    (1 gerao), em transistor (2 gerao); este em

    circuito integrado - CI (3 gerao). O chip (circuito

    integrado com alta tecnologia de miniaturizao)

    caracteriza a atual e 4 gerao de computadores.

    At a dcada de 60 os computadores foram

    utilizados em grande parte pelas universidades,

    institutos de pesquisa e rgos governamentais

    (principalmente militares). A verdadeira revoluo

    ocorre a partir da dcada de 70. Em 1975 a revista

    Popular Eletronics apresentou o projeto e anunciou a venda do kit do primeiro microcomputador pessoal, o Altair 8800, baseado no

    microprocessador 8008 da Intel (como curiosidade,

    para este microcomputador Paul Allen e Bill Gates

    venderam um de seus primeiros produtos: um

    interpretador Basic). A quarta gerao de

    computadores marcou o desenvolvimento dos

    computadores pessoais que se tornaram cada vez

    mais velozes em funo dos avanos nos

    microprocessadores. De fato, em 1981 lanado o

    microcomputador IBM-PC baseado no 8088

    microprocessador de 8 bits desenvolvido em 1979.

    Oito anos depois (1989) j era lanado o

    Microprocessador 80486 DX de 32 bits com clock

    de 25 MHz e, com um desempenho 50 vezes

    superior ao 8088. A evoluo do desempenho dos

    microprocessadores pode ser observada na figura 1,

    com a evoluo de 40 anos dos microprocessadores

    da Intel (1971-2011).

    Os avanos das ltimas dcadas produziram

    mudanas significativas em diversas atividades

    humanas e, notadamente na engenharia. Nos

    primeiros trs quartos do sculo 20 a rgua de

    clculo era a principal ferramenta dos engenheiros e

    um smbolo da profisso. No eram muito precisas

    e, sem cuidados e experincia podiam produzir uma

    enorme impreciso ao final de clculos repetitivos.

    Os cursos de engenharia ofereciam disciplinas

    especficas para o uso correto desta ferramenta. Os

    futuros engenheiros aprendiam complexas tcnicas

    para extrair o mximo de suas rguas de clculo.

    O fim desta poca foi prenunciada em uma

    propaganda veiculada em 1952. Nela uma empresa

    fabricante de computadores expressava o fato de sua

    mquina ter a mesma capacidade de clculo que um

    grupo de 150 engenheiros. Sem dvida, com o

    avano da computao nos anos 60 e 70, clculos

    que eram inviveis, tornaram-se possveis. A

    preciso e os detalhes nos projetos aumentaram

    produzindo reflexos na economia de processo e de

    materiais.

    A era da computao digital iniciada em 1946

    democratizou-se apenas h cerca de 40 anos. Este

    tempo corresponde ao perodo mdio de atividade

    profissional de um engenheiro e, portanto, toda esta

    revoluo ocorreu sobre uma gerao de

    profissionais. Cabe lembrar que os avanos da

    computao trouxeram consigo outros, relacionados

    a tecnologia da informao (informtica), com

    evidentes impactos sobre a engenharia. Como pensar

    a formao do engenheiro neste contexto? Como

    explorar adequadamente as novas tecnologias sem

    que se perca a essncia da formao deste

    profissional? Estas so questes suscitam reflexes

    nos que trabalham com o ensino de engenharia.

    Figura 1. Evoluo dos processadores.

    ASPECTOS DO ENSINO E

    APRENDIZAGEM

    O processo de ensino antecede ao da aprendizagem,

    como resultado da relao fenomenolgica causa-

    efeito. A palavra ensinar deriva do latim insignire que quer dizer distinguir, assinalar, marcar. Tem a

  • mesma origem de signo e de significado. Aprender

    deriva do latim "apprehendere", que significa

    apanhar, apropriar, adquirir, prender, apossar-se de.

    Tem a mesma origem das palavras presa, aprisionar,

    prisioneiro. A relao entre o ensino aprendizagem

    parece ento estabelecer a forma da relao

    professor-aluno, o primeiro deve dar significado

    para despertar o desejo do segundo em apossar-se

    de. Este processo pode ser compreendido com o

    auxlio do ciclo de POCE (figura 2), que um

    modelo utilizado para a soluo de problemas

    relacionados a tcnicas de ensino. Ele prev um

    processo estabelecido nos passos: Por que (P); O que

    (O); Como (C); E se (E). Estes passos so ordenados

    e, cada um, depende da execuo do anterior.

    Figura 2. Ciclo de POCE - Belhot (1995)

    Segundo Belhot (1995), para que ocorra movimento

    no ciclo necessrio escolher os mtodos, as

    tcnicas de ensino e os recursos instrucionais

    especficos e, adequados para cada passo. O autor

    afirma que; pode haver incompatibilidade entre o estilo de aprendizagem comum aos alunos (forma de

    como aprisionar) e o estilo tradicional de ensino dos professores (de dar o significado). Em

    consequncia os alunos tornam-se desatentos em

    classe, mostram-se aborrecidos, demonstram baixo

    aproveitamento, desencorajamento pelo curso,

    currculo e, em alguns casos, chegam inclusive

    abandonar o curso. Por outro lado, os professores

    confrontam-se com notas baixas, falta de interesse

    dos alunos, hostilidade e baixa cooperao. O mesmo autor citando Stice, identifica diferentes

    tipos de alunos cujas preferncias os professores

    devem identificar e trabalhar para que sua parte no

    processo de aprendizagem seja plena (o restante do

    processo estar a cargo do aluno). Quanto a estes

    estilos afirma: Existem alunos criativos e inovadores que tm facilidade de reconhecer

    problemas e gostam de saber o valor do que iro

    aprender (por que), os alunos que esto mais

    interessados na lgica e no conceito que iro

    aprender (o que). Existe ainda outro tipo de aluno, o

    que gosta de integrar teoria e prtica, para resolver

    problemas reais (como). E finalmente existem

    alunos que aprendem com ensino, tentativa e erro,

    extrapolam condies iniciais, demonstram

    independncia e sua questo favorita (e se).

    Conjugando os aspectos relacionados aos avanos

    tecnolgicos, delineados na introduo, que

    favorecem novas tecnologias, como as simulaes

    computacionais, com os aspectos de ensino e

    aprendizagem sintetizados, surgem indagaes

    como:

    Como utilizar as simulaes como ferramentas de ensino, e em particular nas

    disciplinas relacionadas aos sistemas de

    abastecimento de gua?

    Qual o papel efetivo da simulao no processo de aprendizado?

    Qual contedo deve ser simulado? Qual o ambiente de simulao? Como deve ser a

    implantado?

    A estes questionamentos mesclam-se reflexes como

    as apresentadas por Wankat et. al., (2002),

    mudanas educacionais esto ocorrendo mais rapidamente no ensino de tecnologia que no de

    engenharia. A misso da educao tecnolgica a

    produo de tcnicos e operadores para trabalhar

    com a tecnologia corrente, enquanto que a

    educao em engenharia (entre outras coisas)

    produzir engenheiros para desenvolverem a prxima

    gerao de tecnologia. Embora relacionada

    engenharia, em muitos aspectos, a tecnologia usa

    uma abordagem mais prtica e menos matemtica

    em sua instruo. Tambm afirmam, com base na frase de Theodore Von Karman: "Um cientista

    descobre o que existe. Um engenheiro cria o que

    nunca foi, que, o projeto a essncia da engenharia. Ao se adotar as estratgias apresentadas neste trabalho todas estas questes

    foram refletidas e discutidas no mbito do LHC-

    FEC-Unicamp.

    AS SIMULAES EM HIDRULICA E

    SANEAMENTO

    A Engenharia Hidrulica tem sido um campo com

    um grande nmero de aplicaes bem sucedidas de

    computadores associados a modelos numricos.

    Como mencionado por Abbot (1993), a hidrulica

    entrou em uma relao simbitica com a mquina

    digital. O autor introduziu o termo Hidrulica Computacional para expressar esta simbiose e, mais tarde introduziu o termo de Hidroinformtica para

    expressar a simbiose entre a tecnologia de

    informaes com a hidrulica (Barbosa et. al., 1996).

  • Tomando como exemplo o problema particular do

    clculo do regime permanente em uma rede de

    distribuio de gua, pode-se observar um progresso

    significativo desde a aplicao do mtodo manual de

    Hardy-Cross; ao mtodo de Newton-Raphson, ao da

    Teoria Linear e ao Mtodo Gradiente. Antes do

    advento dos computadores digitais, a anlise de uma

    rede de distribuio de gua era baseada

    essencialmente no mtodo de Hardy-Cross, no qual

    as estimativas iniciais eram corrigidas

    sucessivamente e em cada malha individualmente, a

    cada iterao. Por sua vez, as abordagens mais

    recentes, que apresentam convergncia mais rpida e

    maior preciso, as correes so feitas

    simultaneamente, em toda a rede a cada iterao.

    Entretanto, estas tcnicas somente so adequadas

    para a aplicao em computador digital, pois

    necessitam resolver um grande nmero de equaes

    simultneas. Por outro lado, o avano das tcnicas

    numricas e das linguagens de programao com

    ambientes grficos, tornou possvel o

    desenvolvimento de interfaces homem-mquina eficazes e propcias ao desenvolvimento de

    ambientes para simulaes, que abrem o caminho

    para uma nova interlocuo e, estimula o

    aprendizado e a compreenso de fenmenos

    complexos ligados a engenharia.

    Para Magma et. al. (2010), simulaes

    computacionais tornaram-se um elemento para

    experincias de aprendizagem que proporcionam aos

    alunos de engenharia a capacidade de fazer coisas

    que eles no poderiam fazer no mundo real. Fazendo

    referncia a outros autores afirmam que as

    simulaes so programas que incorporam um modelo interativo (que pode ser repetidamente modificado e recalculado) com objetivo de

    compreender o fenmeno fsico descrito pelo

    modelo, seja por descoberta, experimentao,

    demonstrao ou outros mtodos. Com base nessas

    premissas definem simulaes computacionais como

    representao de estado(s) da realidade, usada em

    treinamento, pesquisa e educao para representar

    a fenomenologia fsica, dispositivos e/ou processos,

    por meio de modelos matemticos e tcnicas de

    soluo numrica utilizando computadores.

    Os sistemas de abastecimento de gua so uma

    importante rea da Engenharia Hidrulica e Sanitria

    a que as simulaes adequam-se notoriamente ao

    ensino. Como obra de infraestrutura urbana,

    demandam uma grande quantidade de recursos

    financeiros e naturais em sua implantao e

    explorao e, alguns aspectos importantes de projeto

    e de operao so difceis de serem ensinados

    apropriadamente, dada a complexidade dos

    fenmenos envolvidos. Nestes casos os mtodos

    tradicionais de ensino no so suficientes para um

    aprofundamento destas questes e, a tecnologia da

    informao tem refletido positivamente no

    desenvolvimento de metodologias modernas de

    educao.

    Fan (2012) menciona que computadores assim como, softwares e outros hardwares podem ser utilizados em sala de aula e laboratrios

    proporcionando um mtodo mais efetivo e eficiente

    de ensino e aprendizagem, permitindo que uma

    grande quantidade de problemas de engenharia, de

    matemtica complexa, possam ser compreendidos.

    Para incrementar o uso destes recursos o LHC,

    Laboratrio de Hidrulica Computacional da FEC-

    Unicamp, adotou como estratgias; a construo do

    Laboratrio de Hidrotrnica (Luvizotto e Andrade,

    2002), o desenvolvimento de softwares didticos, a promoo de convnios com empresas de

    softwares comerciais e a prospeco de softwares de domnio pblico, com objetivo de obter ferramentas de ensino para disciplinas de

    graduao e ps-graduao em engenharia civil,

    nomeadamente: Sistemas de Abastecimento de

    gua, Transitrios Hidrulicos, Sistemas de

    Transporte Fluido, Bombas e Adutoras. A tabela 1

    mostra o elenco de ferramentas atualmente adotadas.

    A abordagem empregada, sob os aspectos do projeto

    e da operao de redes de distribuio de gua e dos

    sistemas de recalque, com o emprego de algumas

    das ferramentas listadas ser apresentada.

    Projeto de sistemas de abastecimento de gua

    Nos cursos introdutrios de engenharia os alunos

    apreendem conceitos de hidrulica e de mecnica

    dos fluidos necessrios modelao em regime

    permanente, perodo extensivo e regime transitrio.

    No caso do regime permanente e perodo extensivo

    so capacitados a obterem as equaes que permitem

    analisar o escoamento na rede de distribuio em

    termos de cargas nos ns e/ou vazo pelos

    elementos. A soluo encaminhada aos mtodos de

    Newton-Raphson, da Teoria Linear e do Mtodo

    Gradiente, para que possam avaliar as caractersticas

    de cada um destes modelos, seus pontos fortes e

    deficincias. Empregando ambientes destinados a

    experimentos matemticos tais como; Freemat,

    Octave (distribuio gratuita), Matlab e

    Mathemtica (comerciais) solucionam pequenos

    problemas da hidrulica de redes, fortalecendo os

    aspectos tericos aprendidos. Nesta etapa possvel

    rever e aplicar conhecimentos de disciplinas bsicas

    de mtodos numricos, clculo, alm da hidrulica e

    mecnica dos fluidos. So revistas tcnicas para

  • Tabela 1. Algumas ferramentas computacionais empregadas pelo LHC -Unicamp

    resolver sistemas lineares e no lineares de

    equaes, obteno de zeros e ajustes de funo, etc.

    Avaliam condies adversas que resultam em

    sistemas mal condicionados, observando falhas que

    podem ocorrer nas simulaes numricas

    computacionais. Confrontam os resultados obtidos,

    com os modelos desenvolvidos, com os obtidos por

    aplicativos disponveis (EPANET, WATERCAD,

    etc), para os quis recebem treinamento prvio. Sob o

    aspecto do ensino cumpre-se, nesta fase, um ciclo

    completo do circulo de POCE (Por que, O que,

    Como, E se).

    A fase seguinte de desenvolvimento de um projeto

    prtico de um sistema de abastecimento. O projeto

    desenvolvido por equipes de alunos. Uma das

    dificuldades desta fase residia na criao de cenrios

    e locais diversificados (um para cada equipe).

    Repeties de locais e cenrios costumavam gerar

    pouco desafio ao longo do tempo (os projetos

    tornavam-se repetitivos com o transcorrer dos

    semestres e, uma tentao ao plgio!). Por outro lado, a ideia de um projeto novo, a cada semestre,

    conduzia a necessidade de informaes nem sempre

    fceis de serem obtidas, principalmente as plantas de

    arruamento e de cotas de nvel para o traado em

    planta e perfil, da rede de distribuio e das

    adutoras. Os recursos atuais de informtica

    permitem adotar pequenas localidades escolhidas

    livremente pelos alunos. O aplicativo adotado para

    este fim o Google Earth. Cada grupo de projeto

    escolhe uma localidade (cidade ou um bairro), em

    alguma parte globo terrestre. So mantidos alguns

    limites (de rea, de relevo, etc). Empregando o

    aplicativo Google Sketchup em conjunto com o

    Google Earth possvel obter as curvas de nvel do

    local selecionado com boa aproximao, para o

    exerccio de projeto. O resultado deste processo

    ento exportado na forma de arquivo de imagem,

    que serve de base para o traado da rede a ser

    projetada. A figura 2 ilustra o resultado do

    procedimento descrito.

    Na sequncia os grupos fazem estudos populacionais

    para alocao de demandas, consultam fornecedores

    de equipamentos e de servios para composio de

    preos e obteno de catlogos tcnicos. O conjunto

    dos grupos gera um banco de dados compartilhado,

    que ser utilizado para o dimensionamento e

    especificaes da instalao. Consultam normas para

    avaliar as condies limites impostas e, a serem

    tomadas como restries para o modelo de

    otimizao empregado para o dimensionamento

    econmico. Aplicam fundamentos de matemtica

    financeira para composio dos custos de

    implantao e de explorao da instalao no

    horizonte de projeto. Esta fase permite trabalhar a

    espacialidade, relevo, zonas topogrficas, dinmica

    populacional, interferncias e desenho base para a

    esqueletizao da rede de distribuio.

    Ferramenta Destinada a Natureza Aplicao Freemat Modelagem numrica Software livre Desenvolvimento bsico

    Wxmaxima Modelagem numrica Software livre Desenvolvimento bsico

    Euler Modelagem numrica Software livre Desenvolvimento bsico

    Octave Modelagem numrica Software livre Desenvolvimento bsico

    MatLab Modelagem numrica Comercial Desenvolvimento bsico

    Mathematica Modelagem numrica Comercial Desenvolvimento bsico

    EPANET Modelagem hidrulica/qualidade Software livre Projeto e operao

    WaterCAD/Gems Modelagem hidrulica/qualidade Comercial Projeto e operao

    Whamo Modelagem hidrulica (transitrio) Sofware livre Projeto e operao

    Hamer Modelagem hidrulica (transitrio) Comercial Projeto e operao

    Google Earth Modelo de terreno Software livre Projeto

    Google Sketchup Modelo de terreno Livre/Comercial Projeto

    CodeBlook Linguagem de programao Software livre Desenvolvimento de aplicativos

    Python/Spyder Linguagem de programao Software livre Desenvolvimento de aplicativos

    WxDev-Cpp Linguagem de programao Software livre Desenvolvimento de aplicativos

    Visual Studio Linguagem de programao Software livre Desenvolvimento de aplicativos

    Lazarus/FreePascal

    Linguagem de programao Software livre Desenvolvimento de aplicativos

    Spring Modelagem de Terreno/SIG Software livre Projeto e operao

    TerraLib Modelagem de Terreno/SIG Software livre Projeto e operao

    SQL/Access Livre/comercial Banco de dados

  • Figura 3. Obteno das curvas de nvel As atividades subsequentes empregam ferramentas

    de simulao hidrulica, como: o EPANET,

    EPANET-Toolkit (de domnio pblico) e o

    WATERCAD ou WATERGEMS (comerciais). Os

    aplicativos comerciais so disponibilizados aos

    alunos da FEC-Unicamp graas ao programa

    acadmico firmado com a Bentley (Bentley

    Academics) desde 2010. No caso de

    dimensionamento da rede de distribuio, os alunos

    apreendem noes de otimizao baseada em

    algoritmos genticos, para aplicao do modelo

    Darwin Designer, disponvel nos aplicativos WATERCAD e WATERGEMS (figura 4), ou

    atravs de implementao empregando o EPANET-

    Toolkit. Tambm nesta etapa os alunos so

    orientados a avaliarem cenrios futuros

    (intermedirios e de final de projeto), simulando

    condies de crescimento populacional (com seus

    reflexos sobre as demandas e coeficientes de hora e

    dia de maior consumo), envelhecimento de

    tubulaes e de adio de consumos pontuais

    decorrentes grandes consumidores (industriais,

    comerciais, etc), que possam vir a ocorrer.

    Aprendem a definir estratgias de reabilitao para a

    adequao do sistema e avaliar a vulnerabilidades

    atravs de simulaes operacionais de diferentes

    cenrios.

    Figura 4. Darwing Designer, WaterCad - Bentley

    Operao dos sistemas de abastecimento

    As simulaes computacionais so ferramentas

    muito eficazes de avaliao operacional dos sistemas

    de abastecimento de gua. So empregadas em

    diferentes situaes tais como; anlises de eficincia

    energtica, deteco de fugas e/ou reduo destas,

    controle operacional otimizado (definio de

    manobras timas para mltiplos objetivos) e

    avaliao da qualidade da gua. A simulao em

    perodo extensivo a usualmente empregada para

    este propsito. Os programas EPANET, EPANET

    ToolKit, WaterGems e WaterCAD, so empregados

    como os ambientes de simulao, cada qual se

    adequada melhor, como ferramenta de ensino e

    aprendizado, para uma dada finalidade. Como

    exemplo, o aplicativo EPANET, utilizado pela sua

    simplicidade, para guiar os primeiros passos no

    aprendizado das simulaes computacionais de

    operao. Permite o estudo de condies definidas

    por controles lgicos, tais como, ligar/desligar

    bombas, ou abrir/fechar vlvulas caso uma

    determinada condio operacional seja atingida, ou

    se a operao for prevista para uma determinada

    hora no perodo de simulado. O Epanet-Toolkit

    permite, por sua vez, o desenvolvimento de

    aplicativos para finalidades especficas como

    calibrao, deteco de fugas, pesquisa operacional

    para definio de manobras otimizadas, estudos de

    eficincia energtica, etc... Para tanto, os alunos

    aprendem a encadear (lincar) as bibliotecas

    dinmicas do Toolkit a outras bibliotecas, como as

    de otimizao, por exemplo, criando novas

    aplicaes. Neste processo utilizam linguagens de

    programao como, C, C++, Visual Basic, Pascal,

    Matlab, Python ou mesmo uma simples planilha

    Excel.

    Figura 5 - Aplicativo para simulao de transitrios em instalaes de recalque

    Outro tema importante abordado na operao dos

    sistemas de abastecimento relaciona-se aos

    fenmenos transitrios. Tais fenmenos decorrem

  • das manobras efetuadas sobre os elementos ativos do

    sistema. Este tema tratado em curso eletivo na

    graduao e em disciplina especfica de ps-

    graduao. Os alunos aprendem a teoria do

    fenmeno, a modelao rgida e a elstica,

    desenvolvem pequenos aplicativos para simulao

    de ocorrncia de situaes transitrias para

    instalaes simples. As aplicaes, desenvolvidas

    em uma das linguagens de desenvolvimento

    apresentadas na Tabela 1, tem por objetivo

    familiarizar o aluno com o fenmeno e permitir a

    compreenso de aspectos relacionados s tcnicas

    numricas envolvidas na soluo das equaes que

    governam o fenmeno, como a discretizao no

    espao-tempo, convergncia, etc... A figura 5 ilustra

    uma aplicao desenvolvida para simular a parada

    de bomba em uma instalao de recalque. A

    evoluo dinmica da linha piezomtrica, da presso

    no registrador grfico e, a simulao do registro em

    um data-loger de presso, que pode ser localizado

    em vrias posies da instalao, permitem ao aluno

    um ambiente de aprendizado bastante fiel realidade

    e, sem o risco de causar um desabastecimento por

    uma manobra inadequada (em um sistema real).

    Neste aplicativo de simulao tambm possvel

    explorar outros contedos, como o conceito de

    envoltria de cargas extremas, como indicado na

    figura 6.

    Figura 6 Envoltria de cargas piezomtricas

    RESULTADOS E DISCUSSES Embora a experincia de utilizao integrada de

    recursos de simulao computacional nas disciplinas

    de Abastecimento de gua seja recente, na FEC-

    Unicamp (cerca de 4 anos), pode-se constatar um

    maior envolvimento dos alunos com as disciplinas

    afins e, uma maior assimilao dos conceitos

    abordados. Nota-se um crescente nmero de alunos

    em busca de temas relacionados para o

    desenvolvimento de trabalhos de iniciao cientfica

    e de final de curso. Tal interesse tambm

    observado na ps-graduao. Outra constatao,

    resultante de relatos de ex-alunos, a facilidade que

    estes encontram no mercado de trabalho em

    decorrncia desta formao especial e domnio de aplicativos empregados comumente nas empresas de

    saneamento.

    A preocupao com a perda do contedo terico,

    quando da implantao desta experincia de ensino,

    no se justificou. Ao contrrio, o que se pode

    observar foi que, desafiados por questes que

    surgiram das simulaes, os alunos buscaram a

    teoria e bases que os permitissem enfrentar tais

    questes.

    As aulas tornaram-se mais dinmicas e

    participativas, com os alunos entendendo o seu papel

    de agentes e no espectadores de sua formao

    acadmica. Os projetos em equipe fomentam

    discusses e geram questionamentos que muitas

    vezes norteiam o desenvolvimento de pesquisas. Diferentes solues e pontos de vista podem ser

    debatidos, durante as etapas de projeto, at que a

    soluo de consenso da equipe seja definida. Este

    processo muito rico sob o ponto de vista do ensino

    e aprendizagem e sem dvida um exerccio de

    trabalho coletivo, bastante valorizado nas grandes

    empresas de engenharia.

    CONCLUSO Os atuais recursos computacionais e de informtica

    podem ser poderosos auxiliares no processo de

    ensino e aprendizagem de engenharia. Este trabalho

    descreveu as experincias com o emprego destes

    recursos, notoriamente das simulaes

    computacionais, aplicadas ao ensino e aprendizado

    de disciplinas de graduao e de ps-graduao

    relacionadas ao projeto e a operao de sistemas de

    abastecimento de gua, na Faculdade de Engenharia

    Civil da Unicamp, promovidas pelo Laboratrio de

    Hidrulica Computacional (LHC).

    Os resultados das aplicaes propostas evidenciam

    um maior envolvimento dos alunos nas disciplinas

    ao entenderem o papel ativo que desempenham na

    aprendizagem. Sem dvida, isso proporcionado

    pelo ambiente de simulao que propcio para

    estabelecer o ciclo; porque, o que, como e se.

    Observa-se, como decorrncia desta experincia

    didtica, um crescente nmero de alunos de

    graduao, atravs de programas de iniciao

    cientfica e, de alunos de mestrado e doutorado,

    atravs de programas de capacitao docente, que se

    voluntariam para as tarefas de implantao e

    acompanhamento de atividades, como o

    desenvolvimento de aplicativos e de treinamento.

  • Cabe ressaltar que, a adoo de ferramentas, como

    as descritas, demanda do professor constante

    atualizao, tempo para o aprendizado dos

    aplicativos e, para a elaborao de uma sistemtica

    de ensino que seja capaz de estabelecer o importante

    significado da autoaprendizagem proporcionado pelos ambientes de simulao e de extrema

    importncia em um ambiente de acelerada evoluo

    tecnolgica.

    AGRADECIMENTO

    O autor (1) agradece a CAPES, pelos recursos

    concedidos atravs do programa de mestrado no

    pas, que permitem a sua participao no

    desenvolvimento de pesquisas no LHC-Unicamp.

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