As Sobreviventes

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B | QUINTA-FEIRA, 21 DE JANEIRO DE 2010 | Gazeta de Alagoas Inaugurada em 2006, a 100% Vídeo possui cerca de 25 mil clientes Gazeta de Alagoas SERVIÇO CM VÍDEO Endereço: av. Fernandes Lima, 1785, Farol Funcionamento: de segunda a sábado, das 10h às 22h Informações: 3241-0500 100% VÍDEO Endereço: av. Deputado José Lages, 729, Ponta Verde Funcionamento: de segunda a sábado, das 10h às 23h Informações: 3327-5795 O QUE VOCÊ ENCONTRA NAS LOCADORAS DA CIDADE Drástica, a redução pode ser notada nas ruas: se há seis anos eram cerca de 90 as videolocadoras em atividade em Maceió, hoje elas não chegam a uma dezena. Em tempos de download gratuito, popularização da TV por assinatura e pirataria, a consequência não poderia ser outra. Mas alguns estabelecimentos parecem ter encontrado formas de sobreviver nesse terreno ‘movediço’. A Gazeta foi aos dois maiores videoclubes da cidade para saber como anda o negócio – e se deparou com algumas curiosidades. Que tal conferir? | RAMIRO RIBEIRO Repórter Quem gosta entende perfeita- mente. Passar algumas horas “perdido” entre as prateleiras de uma videolocadora bacana faz parte do ritual cinéfilo de mui- ta gente que na hora de relaxar prefere assistir a um bom filme no conforto de casa. É prazeroso encontrar um título que há mui- to se procurava ou mesmo reen- contrar um que já faz parte da nossa memória afetiva. Sem con- tar a chance de se inteirar das úl- timas novidades e trocar infor- mações com outros membros da “congregação”. Em Maceió, os filiados dos vi- deoclubes têm tido dificuldade para satisfazer essas – e outras – necessidades. A década que acaba de terminar foi particular- mente difícil para as locadoras da cidade, e ao longo desse perío- do a capital sofreu uma redução drástica no número de estabele- cimentos do gênero. Se com o bo- om do DVD, há seis anos, a quan- tidade de lojas abertas girava em torno de 90, hoje esse total não chega a dez. Motivos que justifi- quem esse cenário não faltam: o download gratuito via internet, a popularização da TV por assi- natura e a pirataria, o principal vilão segundo os lojistas. Mas, ao contrário do que uma rápida visita aos camelôs da ci- dade pode sugerir, ainda há es- perança para o setor. Curiosa- mente, as duas “sobreviventes” no segmento dos grandes vide- oclubes sintonizam seus discur- sos quando o assunto é o que es- perar de 2010. Tanto na vetera- na CM Vídeo, há 16 anos sedi- ada no bairro do Farol, quanto na 100% Vídeo, aberta na Pon- ta Verde em 2006, a crença apon- ta para um arrefecimento do co- mércio de cópias ilegais, o que corresponderia a um incremen- to nas locações. Na CM Vídeo a curva, que já foi descendente, es- tacionou. “Caiu muito em 2007 e 2008. Em 2009 deu uma estabilizada e em 2010 a gente espera que isso As coleções de atores e di- retores ‘cult’ são alguns dos atrativos encontrados nas prateleiras das duas maio- res videolocadoras de Ma- ceió. Sim, há muito mais por lá, mas nem por isso você deve deixar de conferir nos- sas dicas. CM Vídeo ›› Wim Wenders ›› Eric Rohmer ›› Rainer Werner Fassbinder ›› Akira Kurosawa ›› Jacques Tati ›› Harold Lloyd ›› Rogério Sganzerla ›› Pier Paolo Pasolini ›› Luchino Visconti 100% Vídeo ›› Federico Fellini ›› Paolo e Vittorio Taviani ›› Luis Buñuel ›› Os últimos lançamentos do “cinemão americano” ›› Animações do estúdio Pixar ›› Filmes e jogos no formato blu-ray FRASES “Já chegamos a comprar 50, 60, até 70 filmes por mês, sem falar dos pornôs. Hoje, num mês movimentado, compramos 30”. “Locadora que não trabalha com pornô não dura muito. Sempre tivemos e fomos referência no pornô, em quantidade de filmes”. “Antigamente tínhamos o quê? Cerca de 90 locadoras oficiais. Hoje temos cinco, seis que ainda estão com a bandeira levantada”. “Na realidade, nosso grande vilão hoje se chama download grátis”. CARLISTENES PEDRO DO CARMO, proprietário da CM Vídeo O gênero do pornô/eróti- co sempre foi responsável por parte generosa do lucro das videolocadoras, arregi- mentando um público fiel – que não foi embora com o advento das novas sedu- ções tecnológicas. Na CM Vídeo esse cenário é mui- to bem definido: “Respon- de por 50% do nosso movi- mento. A clientela do gêne- ro continua fiel, não é co- mo quem procura os lança- mentos e some com a pira- taria. São sempre os mes- mos. E notamos que o fluxo de novos clientes aumen- tou em 2009”. Mas se por um lado um horizonte diferenciado co- meçou a surgir no setor, por outro alguns proble- mas continuam a apare- cer ou mesmo permane- cem. Além do redimensio- namento do público assí- duo, a relação com as distri- buidoras não é das melho- res, em especial após o de- saparecimento de uma fi- gura-chave nessa engrena- gem: o representante dos distribuidores. Atualmen- te, uma empresa de Forta- leza faz a intermediação e concentra a venda de tí- tulos para as locadoras do Nordeste. Como uma bo- la de neve, a ausência do público levou à diminuição da compra de novos filmes, que extinguiu o papel do re- presentante e pôs a venda nas mãos de poucos empre- sários, que monopolizam o mercado. Apesar das adversida- des, os responsáveis pelos dois maiores videoclubes da capital mantêm a con- fiança na recuperação gra- dual do setor. É esperar pa- ra conferir. |RR Público do pornô manteve-se fiel AS SOBREVIVENTES Robson Lima No Farol há 16 anos, a CM Vídeo é referência para cinéfilos Ricardo Lêdo/Arquivo GA se mantenha”, afirma o propri- etário, Carlistenes Pedro do Car- mo. Para ele, a pirataria passa por um mau momento: “O que aconteceu com as videolocado- ras também afetou a pirataria. Houve o estouro geral, quando você via vários vendedores na rua. Hoje não há mais tantos as- sim”. Fábio Ribeiro Macena, ge- rente da 100% Vídeo, concorda com a afirmação. “As coisas não acontecem por acaso: hoje a pi- rataria está tão fraca que as pes- soas que antes compravam estão deixando de comprar, em virtu- de da péssima qualidade”. A loja instalada na Ponta Ver- de possui 25 mil clientes cadas- trados, que procuram principal- mente os últimos lançamentos e os grandes blockbusters, respon- sáveis pela maior fatia das lo- cações. Outros títulos bastante procurados são aqueles disponí- veis no formato blu-ray, de al- ta definição e com maior capa- cidade de armazenamento. “Pre- zamos o atendimento, para que o cliente saia sempre satisfeito. Afinal, é uma forma de lazer. A pessoa vem aqui, pega um filme para ver em casa com a família, e não quer se preocupar com o trabalho nem com as contas a pagar. É o momento de relaxar”, afirma Fábio. Já a CM Vídeo é dona de uma respeitável reputação entre os apreciadores do chamado cine- ma de arte. Aos poucos, com seu acervo a loja foi se especi- alizando em atrair quem procu- rava por filmes asiáticos, euro- peus e clássicos norte-america- nos das décadas de 30 a 60. “Sem- pre ‘focamos’ nesse tipo de pú- blico, os frequentadores da Ses- são de Arte do Maceió Shopping e do Cine Sesi Pajuçara. Direcio- namos nossos investimentos pa- ra quem frequenta mais a loja, sabemos o que eles preferem. Acho que aqui em Alagoas só nós temos um acervo desses. Hoje não daria mais para fazer um in- vestimento desse tipo, começar do zero”, avalia Carlistenes. “Apesar da pirataria ser forte, muita gente quer qualidade. É o que eu sempre falo: a pessoa gasta R$ 4 mil com televisão, DVD, home theater, e jamais vai querer quebrar algum desses equipamentos por causa de uma locação de R$ 5, R$ 6”. “A cada ano o movimento aumenta realmente. E a chegada do blu-ray incrementa isso. Muitos clientes já procuram esse formato”. “Cada segmento tem seus altos e baixos. O pornô sai bem, mas não tanto quanto os lançamentos. Não dá para comparar”. PEDRO MACENA RIBEIRO, gerente da 100% Vídeo

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Reportagem sobre as locadores remanescentes em Maceió.

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B | QUINTA-FEIRA, 21 DE JANEIRO DE 2010 |

Gazeta de Alagoas

Inaugurada em 2006, a 100% Vídeo possui cerca de 25 mil clientes

Gazeta de Alagoas

SERVIÇO

CM VÍDEO

Endereço: av. Fernandes

Lima, 1785, Farol

Funcionamento: de segunda a

sábado, das 10h às 22h

Informações: 3241-0500

100% VÍDEO

Endereço: av. Deputado José

Lages, 729, Ponta Verde

Funcionamento: de segunda a

sábado, das 10h às 23h

Informações: 3327-5795

O QUE VOCÊ ENCONTRA NAS LOCADORAS DA CIDADE

Drástica, a redução pode ser notada nas ruas: se há seis anos eram cerca de 90 as videolocadoras em atividade em Maceió, hoje elas não

chegam a uma dezena. Em tempos de download gratuito, popularização da TV por assinatura e pirataria, a consequência não poderia ser

outra. Mas alguns estabelecimentos parecem ter encontrado formas de sobreviver nesse terreno ‘movediço’. A Gazeta foi aos dois maiores

videoclubes da cidade para saber como anda o negócio – e se deparou com algumas curiosidades. Que tal conferir?

| RAMIRO RIBEIRO Repórter

Quem gosta entende perfeita-mente. Passar algumas horas “perdido” entre as prateleiras de uma videolocadora bacana faz parte do ritual cinéfilo de mui-ta gente que na hora de relaxar prefere assistir a um bom filme no conforto de casa. É prazeroso encontrar um título que há mui-to se procurava ou mesmo reen-contrar um que já faz parte da nossa memória afetiva. Sem con-tar a chance de se inteirar das úl-timas novidades e trocar infor-mações com outros membros da “congregação”.

Em Maceió, os filiados dos vi-deoclubes têm tido dificuldade para satisfazer essas – e outras – necessidades. A década que acaba de terminar foi particular-mente difícil para as locadoras da cidade, e ao longo desse perío-do a capital sofreu uma redução drástica no número de estabele-cimentos do gênero. Se com o bo-om do DVD, há seis anos, a quan-

tidade de lojas abertas girava em torno de 90, hoje esse total não chega a dez. Motivos que justifi-quem esse cenário não faltam: o download gratuito via internet, a popularização da TV por assi-natura e a pirataria, o principal vilão segundo os lojistas.

Mas, ao contrário do que uma rápida visita aos camelôs da ci-dade pode sugerir, ainda há es-perança para o setor. Curiosa-mente, as duas “sobreviventes” no segmento dos grandes vide-oclubes sintonizam seus discur-sos quando o assunto é o que es-perar de 2010. Tanto na vetera-na CM Vídeo, há 16 anos sedi-ada no bairro do Farol, quanto na 100% Vídeo, aberta na Pon-ta Verde em 2006, a crença apon-ta para um arrefecimento do co-mércio de cópias ilegais, o que corresponderia a um incremen-to nas locações. Na CM Vídeo a curva, que já foi descendente, es-tacionou.

“Caiu muito em 2007 e 2008. Em 2009 deu uma estabilizada e em 2010 a gente espera que isso

As coleções de atores e di-retores ‘cult’ são alguns dos atrativos encontrados nas prateleiras das duas maio-res videolocadoras de Ma-ceió. Sim, há muito mais por lá, mas nem por isso você deve deixar de conferir nos-sas dicas.

CM Vídeo ›› Wim Wenders ›› Eric Rohmer ›› Rainer Werner

Fassbinder ›› Akira Kurosawa ›› Jacques Tati ›› Harold Lloyd ›› Rogério Sganzerla ›› Pier Paolo Pasolini ›› Luchino Visconti

100% Vídeo ›› Federico Fellini ›› Paolo e Vittorio Taviani ›› Luis Buñuel ›› Os últimos lançamentos

do “cinemão americano” ›› Animações do

estúdio Pixar ›› Filmes e jogos no

formato blu-ray

FRASES

“Já chegamos a comprar 50, 60, até 70 filmes por mês, sem falar dos pornôs. Hoje, num mês movimentado, compramos 30”. “Locadora que não trabalha com pornô não dura muito. Sempre tivemos e fomos referência no pornô, em quantidade de filmes”. “Antigamente tínhamos o quê? Cerca de 90 locadoras oficiais. Hoje temos cinco, seis que ainda estão com a bandeira levantada”. “Na realidade, nosso grande vilão hoje se chama download grátis”. CARLISTENES PEDRO DO CARMO, proprietário da CM Vídeo

O gênero do pornô/eróti-co sempre foi responsável por parte generosa do lucro das videolocadoras, arregi-mentando um público fiel – que não foi embora com o advento das novas sedu-ções tecnológicas. Na CM Vídeo esse cenário é mui-to bem definido: “Respon-de por 50% do nosso movi-mento. A clientela do gêne-ro continua fiel, não é co-mo quem procura os lança-mentos e some com a pira-taria. São sempre os mes-mos. E notamos que o fluxo de novos clientes aumen-tou em 2009”.

Mas se por um lado um horizonte diferenciado co-meçou a surgir no setor, por outro alguns proble-mas continuam a apare-cer ou mesmo permane-cem. Além do redimensio-namento do público assí-

duo, a relação com as distri-buidoras não é das melho-res, em especial após o de-saparecimento de uma fi-gura-chave nessa engrena-gem: o representante dos distribuidores. Atualmen-te, uma empresa de Forta-leza faz a intermediação e concentra a venda de tí-tulos para as locadoras do Nordeste. Como uma bo-la de neve, a ausência do público levou à diminuição da compra de novos filmes, que extinguiu o papel do re-presentante e pôs a venda nas mãos de poucos empre-sários, que monopolizam o mercado.

Apesar das adversida-des, os responsáveis pelos dois maiores videoclubes da capital mantêm a con-fiança na recuperação gra-dual do setor. É esperar pa-ra conferir. |RR

Público do pornô manteve-se fiel

AS SOBREVIVENTES

Robson Lima

No Farol há 16 anos, a CM Vídeo é referência para cinéfilos

Ricardo Lêdo/Arquivo GA

se mantenha”, afirma o propri-etário, Carlistenes Pedro do Car-mo. Para ele, a pirataria passa por um mau momento: “O que aconteceu com as videolocado-ras também afetou a pirataria. Houve o estouro geral, quando você via vários vendedores na rua. Hoje não há mais tantos as-sim”. Fábio Ribeiro Macena, ge-rente da 100% Vídeo, concorda com a afirmação. “As coisas não acontecem por acaso: hoje a pi-rataria está tão fraca que as pes-soas que antes compravam estão deixando de comprar, em virtu-de da péssima qualidade”.

A loja instalada na Ponta Ver-de possui 25 mil clientes cadas-trados, que procuram principal-mente os últimos lançamentos e os grandes blockbusters, respon-sáveis pela maior fatia das lo-cações. Outros títulos bastante procurados são aqueles disponí-veis no formato blu-ray, de al-ta definição e com maior capa-cidade de armazenamento. “Pre-zamos o atendimento, para que o cliente saia sempre satisfeito. Afinal, é uma forma de lazer. A pessoa vem aqui, pega um filme para ver em casa com a família, e não quer se preocupar com o trabalho nem com as contas a pagar. É o momento de relaxar”, afirma Fábio.

Já a CM Vídeo é dona de uma respeitável reputação entre os apreciadores do chamado cine-ma de arte. Aos poucos, com seu acervo a loja foi se especi-alizando em atrair quem procu-rava por filmes asiáticos, euro-peus e clássicos norte-america-nos das décadas de 30 a 60. “Sem-pre ‘focamos’ nesse tipo de pú-blico, os frequentadores da Ses-são de Arte do Maceió Shopping e do Cine Sesi Pajuçara. Direcio-namos nossos investimentos pa-ra quem frequenta mais a loja, sabemos o que eles preferem. Acho que aqui em Alagoas só nós temos um acervo desses. Hoje não daria mais para fazer um in-vestimento desse tipo, começar do zero”, avalia Carlistenes.

“Apesar da pirataria ser forte, muita gente quer qualidade. É o que eu sempre falo: a pessoa gasta R$ 4 mil com televisão, DVD, home theater, e jamais vai querer quebrar algum desses equipamentos por causa de uma locação de R$ 5, R$ 6”. “A cada ano o movimento aumenta realmente. E a chegada do blu-ray incrementa isso. Muitos clientes já procuram esse formato”. “Cada segmento tem seus altos e baixos. O pornô sai bem, mas não tanto quanto os lançamentos. Não dá para comparar”. PEDRO MACENA RIBEIRO, gerente da 100% Vídeo