As tatuagens e o mercado de trabalho

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20 de Fevereiro, 2013 Autor: Teresa Batista | tbbatista Artigo escrito para a Revista Complexo Magazine | Saúde: Bem-estar e Nutrição Website pessoal: http://tbbatista.pt As tatuagens e o mercado de trabalho Trata-se de preconceito, intolerância ou de manter a imagem institucional? Quais as razões que levam uma empresa a pôr em questão as tatuagens de um candidato? As tatuagens são cada vez mais aceites socialmente e já muitas pessoas se renderam a esta arte. Por essa razão, estão a tornar-se cada vez mais vistas entre os jovens trabalhadores. Podemos encontrar pessoas com tatuagens a trabalhar em variadíssimas indústrias e a desempenhar diversas funções, incluindo a de chefes executivos. Então, o que deve fazer a pessoa que contrata? Deve a arte das tatuagens ser vista como um problema? Será que uma tatuagem visível diz algo sobre o candidato que seja relevante para o seu trabalho?

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20 de Fevereiro, 2013

Autor: Teresa Batista | tbbatista Artigo escrito para a Revista Complexo Magazine | Saúde: Bem-estar e Nutrição Website pessoal: http://tbbatista.pt

As tatuagens e o mercado de trabalho

Trata-se de preconceito, intolerância ou de manter a imagem institucional?

Quais as razões que levam uma empresa a pôr em questão as tatuagens de um

candidato?

As tatuagens são cada vez mais aceites socialmente e já muitas pessoas se renderam a esta arte. Por

essa razão, estão a tornar-se cada vez mais vistas entre os jovens trabalhadores. Podemos encontrar

pessoas com tatuagens a trabalhar em variadíssimas indústrias e a desempenhar diversas funções,

incluindo a de chefes executivos. Então, o que deve fazer a pessoa que contrata? Deve a arte das

tatuagens ser vista como um problema? Será que uma tatuagem visível diz algo sobre o candidato que

seja relevante para o seu trabalho?

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A polémica em torno deste assunto tem vindo a crescer, visto que, para muitas empresas, a imagem dos

seus colaboradores é fundamental, pois são eles que também contribuem para a boa (ou má) imagem da

instituição. Muitas optam por não recrutar pessoas tatuadas por acreditarem que estas passarão uma

imagem agressiva, desleixada e pouco credível.

Um estudo realizado pelo Employment Office, especialistas na área do recrutamento, revelou que 60% dos

empregadores consideram inaceitável que os seus colaboradores apresentem tatuagens visíveis enquanto

estão a trabalhar e 64% afirmam que as tatuagens deveriam ser tapadas para uma entrevista de emprego.

Há, no entanto, empresas que não põem entraves aos seus candidatos por estes serem tatuados,

acreditando que a pessoa é livre de fazer com o seu corpo o que quiser, pois apenas lhes interessa que

seja um bom profissional. Estas empresas defendem ainda que existem pessoas tatuadas com muito boa

disposição e caráter e pessoas sem tatuagens sem competência alguma.

Apesar de haver quem afirme nunca ter sofrido qualquer tipo de descriminação devido às suas tatuagens,

muitos são os que se queixam, tendo, inclusive, sido desclassificados de processos de seleção.

Com o aumento do número de pessoas a aderir às tatuagens, muitas empresas vêem-se forçadas a rever

as suas políticas de imagem pessoal, de forma a criar guias de orientação para funcionários com tatuagens

e, geralmente, abrem-se exceções para tatuagens feitas por razões religiosas ou culturais, mas é o

empregador quem tem a palavra final quanto à aceitação ou não de tatuagens visíveis no local de trabalho.

O diretor do Employment Office, Tudor Marsden-Huggins, assegura que a política em relação à contratação

de pessoas com tatuagens varia bastante consoante a indústria da empresa e a ocupação do trabalhador.

Marsden-Huggins afirma que empresas ligadas a áreas financeiras ou ao apoio ao cliente tendem a ser

mais conservadoras e que nas indústrias criativas as tatuagens são mais bem aceites, pois a valorização

da autoexpressão sobrepõe-se a uma aparência profissional rigorosa.

Marsden-Huggins aconselha os vários empregadores a terem uma mente mais aberta relativamente às

tatuagens visíveis e a não colocarem, logo à partida, um excelente candidato de parte devido à visibilidade

da sua arte corporal.

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O diretor do Employment Office aconselha ainda “os empregadores devem questionar-se sobre vários

assuntos: A tatuagem é ofensiva? Vai impedir o candidato de realizar o seu trabalho? Como será um

trabalhador com tatuagens visto pelos seus clientes? Vai afetar o negócio?”, acrescentando que “A maioria

dos clientes do mercado profissional dos dias de hoje, na maioria das áreas de negócio, são baby boomers.

São eles que têm o dinheiro a gastar durante a próxima década e, consequentemente, os empregadores

devem fazer as suas escolhas de recrutamento de forma a satisfazer as visões desses seus clientes, mais

do que as suas próprias”.

Mas afinal, as pessoas com tatuagens devem ser tratadas de modo diferente? Como já referido

anteriormente, está em causa o tipo de tatuagem e o facto de esta poder ou não representar um problema

para o empregador. A legislação ainda parece apoiar as políticas relacionadas com dress code e imagem,

dando flexibilidade às empresas para exigir que os seus colaboradores se apresentem de forma consistente

com a imagem da instituição. Contudo, isso não significa que seja correto excluir todas as tatuagens.

Por exemplo, no caso de uma instituição bancária que recruta um bom assistente administrativo, que não

tem qualquer contacto com clientes e cujas interações são estritamente internas, haverá problema se, um

dia, essa pessoa chegar ao trabalho com uma estrela tatuada debaixo do olho? A resposta a isto, em parte,

depende da cultura organizacional do banco, do modo como encara as tatuagens e de quão complicado é

recrutar e manter bons assistentes administrativos. Os bancos certamente que não apreciam tatuagens

faciais, mas também pode não valer a pena perder um bom colaborador ou não conseguir manter um novo

por ter regras que proíbam qualquer tatuagem. Por outro lado, caso a tatuagem fosse feita por um

colaborador em contacto regular com os clientes, seria compreensível a preocupação da instituição.

É importante que a empresa se foque

no seu negócio e que haja a

consciência de que as políticas que

proíbam tatuagens não devem refletir

julgamentos sobre tatuagens ou

pessoas que as tenham. Na verdade,

muitos empregadores ficariam

surpreendidos com a quantidade de

trabalhadores que possuem tatuagens,

limitando-se a mantê-las tapadas no

local de trabalho. É, de facto,

inapropriado que se façam suposições

negativas sobre o que as tatuagens

revelam das pessoas que as fazem.

A empresa deve acordar com os

Recursos Humanos quais as políticas

de dress codee imagem dos seus

funcionários – políticas que sejam

razoáveis e que possam ser seguramente implementadas. Deve também falar-se com os Recursos

Humanos e/ou informar-se a nível legislativo antes de pedir a um colaborador que tape a sua tatuagem, a

não ser que seja claro que se trate de uma tatuagem sem qualquer significado religioso e que, ao lhe pedir

isso, está a ir ao encontro das regras da empresa. Lembre-se que fazer especulações sobre as qualificações

das pessoas por terem tatuagens, não apenas é infundado, como pode resultar em queixas de

discriminação contra a sua empresa.

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O assunto é, sem dúvida, delicado e, apesar de as tatuagens serem cada vez mais aceites, é aconselhável

que os candidatos tenham certos pormenores em conta ao concorrer a uma vaga de emprego:

- Observar o perfil da empresa e, caso seja muito conservadora, cobrir as tatuagens, pois há que ter

consciência que, caso não o faça, poderá ser um ponto negativo para a sua contratação;

- Mesmo que a empresa não seja muito conservadora, convém não exagerar – use o bom senso.

Marsden-Huggins defende a importância do candidato ser responsável pelas suas escolhas e que deve ser

realista quanto ao facto de que os empregadores, provavelmente, não ficarão agradados com as suas

tatuagens, afirmando que “os candidatos devem ter consciência de que as tatuagens são um compromisso

para toda a vida. É importante considerar seriamente qual a carreira que se quer seguir e em que área e

avaliar se o facto de ter tatuagens visíveis irá afetar as oportunidades disponíveis. Se decidir que, mesmo

assim, quer uma tatuagem grande e visível, deverá procurar opções para as tapar”.

Em suma, é fundamental que qualquer pessoa, ao fazer uma tatuagem, esteja certa de que realmente a

quer, que avalie o sítio do corpo onde a irá fazer e se esta poderá ser facilmente escondida no futuro, caso

desempenhe funções que não permitam tatuagens visíveis. Por outro lado, também as empresas devem

manter uma mente mais aberta, não julgar a personalidade e as qualidades de um candidato com base no

facto deste ter ou não tatuagens e ter consciência de que, muitas vezes, perder um bom funcionário por se

decidir que é proibido tatuagens visíveis na empresa nem sempre é a atitude mais acertada.

De seguida, e para quem é amante desta arte, apresentamos os melhores locais do corpo para se tatuar

sem que se dê conta no local de trabalho. Os locais do corpo menos bem vistos, segundo profissionais de

RH, encontram-se a vermelho. A imagem abaixo teve como base um estudo realizado a 39 diretores de RH

de diferentes empresas e áreas de atuação.

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Partilhe connosco a sua opinião. Concorda que as empresas proíbam completamente o recrutamento de

profissionais com tatuagens? Confiaria, caso fosse atendido por um funcionário que tivesse

tatuagens visíveis?

Fontes:

Employment Office – “Don’t let tattoos permanently mark your employment record”

Yngrid Paixão – “A tatuagem e o mercado de trabalho”

Barrie Gross – “Tattoos in the Workplace: What’s an Employer to Do?”

Bog Mais Estudo – “Tatuagem no trabalho”

I DO NOT own any of the above pictures.