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A m i g o s d o Z i p p y Boletim 1 Outubro/2012 ASEC promove palestra com idealizador do Programa Amigos do Zippy Na tarde de quarta-feira (17/10/2012), a Associação pela Saúde Emocio- nal de Crianças (ASEC) promoveu palestra com Brian L. Mishara, PhD pela Universidade de Quebec, em Montreal, e idealizador do Programa Amigos do Zippy (AZ), presente em 41 cidades brasileiras. O evento no Teatro Alfredo Mesquita, na zona norte de São Paulo (SP), reuniu cerca de 180 pessoas na plateia, entre coordenadores, monitores, parceiros e financiadores da insti- tuição. Contou também com a presença de Maria Júlia Kovács, docente da Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), que coordenou duas avaliações independentes sobre o impacto desta iniciativa em crianças participantes no país. Foi a primeira vez que Mishara — diretor do Centro de Pesquisa e Interven- ção em Suicídio e Eutanásia da Universidade de Quebec — esteve no Brasil para dialogar com a equipe local sobre as bases conceituais deste programa internacional, pelo qual já passaram 800 mil crianças do mundo e que é comandado pela Partnership for Children, organiza- ção sediada na Inglaterra. “Este encontro é especial pela oportunidade de compartilharmos conhecimentos e reafirmamos nosso compromisso de auxiliar as crianças a serem capazes de superar as dificuldades ao longo da vida”, destacou na abertura Tania Paris, presidente da ASEC, entidade responsável, desde 2004, pela realização e expansão do Amigos do Zippy no Brasil. Na sequência, foi exibido um vídeo com depoimentos de professores, coordenadores, pais e crianças que participaram do programa anos atrás. Eles destacaram a permanência das habilidades desenvolvidas pelo Amigos do Zippy, expressas no cotidiano dessas crianças que se diferenciam das não “Zippadas” pela capacidade de enfrentarem problemas com mais equilí- brio, pela facilidade de construírem estratégias para lidar com situações estressantes, pela naturalidade em oferecer ajuda aos amigos e até pelo melhor desempenho acadêmico. Promoção da saúde emocional O professor canadense iniciou sua palestra em seguida, elogiando o dinamismo do trabalho da equipe brasileira. Intitulada A teoria e a ciência por trás do Amigos do Zippy e o desenvolvimento de um novo programa para crianças de 9 a 12 anos, a exposição foi dividida em três momentos: base teórica do AZ; principais resultados; e o novo programa focado em crianças maiores, o qual ainda se encontra em fase de desenvolvimento. Mishara ressaltou que saúde não é só ausência de doença, mas é promover o bem-estar físico, social e mental. A partir deste princípio, o AZ situa-se na área de promoção da saúde mental e ancora-se no conceito de ‘coping’ (lidar com as dificuldades). A proposta é que, por meio das atividades na escola, conduzidas por um professor capacitado para o programa, as crianças am- pliem seu leque de opções de enfrentamento de problemas. Para isso, elas aprendem a identificar e a expressar seus sentimen- tos, a refletir sobre cada questão e, assim, tentar melhorar ou mudar uma situação, sem prejudicar outros nem a si mesmos. “Crianças com essas habilidades conseguem enfrentar melhor as adversidades durante a adolescência e a vida adulta, pois desenvolvem suas próprias estratégias. Estudos com crianças ‘Zippadas’ demonstram como são mais felizes e adaptadas. E os efeitos do programa também atingem o professor”, enfatizou o psicólogo. Realizada em seis países com mais de 300 docentes, a pesquisa revela que 80% deles sentem melhora no clima da sala de aula, tendo mais disposição para acolher a opinião das crianças (95%) e mais repertório para ajudá-los (93%). Atualmente Mishara e sua equipe dedicam-se ao desenvolvimento de um programa voltado a crianças maiores. Com auxílio de verbas do governo canadense, há anos o time estuda temas que fortaleçam crianças para melhor lidarem com os proble- mas típicos da entrada na adolescência. Já foi feito um piloto com 269 crianças daquele país, e um novo será realizado. “Agora, entraremos na fase de análise e reajuste do programa. Só vamos aplicá-lo após validação e comprovação científica”, explicou. Em seguida, os presentes puderam tirar dúvidas com o pesquisador. Ele adiantou que está em curso, pela Partnership for Chil- dren, uma nova revisão do material do AZ, e todos que quiserem podem enviar sugestões. Gisele Orsi Gobbi, professora do segundo ano no Ensino Fundamental I, do Liceu Santa Cruz, em São Paulo (SP), comentou as novidades. “Sou entusiasta do AZ

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Boletim 1 Outubro/2012

ASEC promove palestra com idealizador do Programa Amigos do ZippyNa tarde de quarta-feira (17/10/2012), a Associação pela Saúde Emocio-nal de Crianças (ASEC) promoveu palestra com Brian L. Mishara, PhD pela Universidade de Quebec, em Montreal, e idealizador do Programa Amigos do Zippy (AZ), presente em 41 cidades brasileiras. O evento no Teatro Alfredo Mesquita, na zona norte de São Paulo (SP), reuniu cerca de 180 pessoas na plateia, entre coordenadores, monitores, parceiros e financiadores da insti-tuição. Contou também com a presença de Maria Júlia Kovács, docente da Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), que coordenou duas avaliações independentes sobre o impacto desta iniciativa em crianças participantes no país.

Foi a primeira vez que Mishara — diretor do Centro de Pesquisa e Interven-ção em Suicídio e Eutanásia da Universidade de Quebec — esteve no Brasil para dialogar com a equipe local sobre as bases conceituais deste programa internacional, pelo qual já passaram 800 mil crianças do mundo e que é comandado pela Partnership for Children, organiza-ção sediada na Inglaterra. “Este encontro é especial pela oportunidade de compartilharmos conhecimentos e reafirmamos nosso compromisso de auxiliar as crianças a serem capazes de superar as dificuldades ao longo da vida”, destacou na abertura Tania Paris, presidente da ASEC, entidade responsável, desde 2004, pela realização e expansão do Amigos do Zippy no Brasil.

Na sequência, foi exibido um vídeo com depoimentos de professores, coordenadores, pais e crianças que participaram do programa anos atrás. Eles destacaram a permanência das habilidades desenvolvidas pelo Amigos do Zippy, expressas no cotidiano dessas crianças que se diferenciam das não “Zippadas” pela capacidade de enfrentarem problemas com mais equilí-brio, pela facilidade de construírem estratégias para lidar com situações estressantes, pela naturalidade em oferecer ajuda aos amigos e até pelo melhor desempenho acadêmico.

Promoção da saúde emocionalO professor canadense iniciou sua palestra em seguida, elogiando o dinamismo do trabalho da equipe brasileira. Intitulada A teoria e a ciência por trás do Amigos do Zippy e o desenvolvimento de um novo programa para crianças de 9 a 12 anos, a exposição foi dividida em três momentos: base teórica do AZ; principais resultados; e o novo programa focado em crianças maiores, o qual ainda se encontra em fase de desenvolvimento.

Mishara ressaltou que saúde não é só ausência de doença, mas é promover o bem-estar físico, social e mental. A partir deste princípio, o AZ situa-se na área de promoção da saúde mental e ancora-se no conceito de ‘coping’ (lidar com as dificuldades). A proposta é que, por meio das atividades na escola, conduzidas por um professor capacitado para o programa, as crianças am-pliem seu leque de opções de enfrentamento de problemas. Para isso, elas aprendem a identificar e a expressar seus sentimen-tos, a refletir sobre cada questão e, assim, tentar melhorar ou mudar uma situação, sem prejudicar outros nem a si mesmos.

“Crianças com essas habilidades conseguem enfrentar melhor as adversidades durante a adolescência e a vida adulta, pois desenvolvem suas próprias estratégias. Estudos com crianças ‘Zippadas’ demonstram como são mais felizes e adaptadas. E os efeitos do programa também atingem o professor”, enfatizou o psicólogo. Realizada em seis países com mais de 300 docentes, a pesquisa revela que 80% deles sentem melhora no clima da sala de aula, tendo mais disposição para acolher a opinião das crianças (95%) e mais repertório para ajudá-los (93%).

Atualmente Mishara e sua equipe dedicam-se ao desenvolvimento de um programa voltado a crianças maiores. Com auxílio de verbas do governo canadense, há anos o time estuda temas que fortaleçam crianças para melhor lidarem com os proble-mas típicos da entrada na adolescência. Já foi feito um piloto com 269 crianças daquele país, e um novo será realizado. “Agora, entraremos na fase de análise e reajuste do programa. Só vamos aplicá-lo após validação e comprovação científica”, explicou.

Em seguida, os presentes puderam tirar dúvidas com o pesquisador. Ele adiantou que está em curso, pela Partnership for Chil-dren, uma nova revisão do material do AZ, e todos que quiserem podem enviar sugestões. Gisele Orsi Gobbi, professora do segundo ano no Ensino Fundamental I, do Liceu Santa Cruz, em São Paulo (SP), comentou as novidades. “Sou entusiasta do AZ

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e participo desde o piloto em 2004. É muito bom saber que ele está criando um programa para os mais velhos, porque é tudo o que nós queríamos. Assim poderemos dar continuidade ao trabalho preparando também os maiores.”

Confiança no Programa Amigos do ZippyDe acordo com Maria Teresinha Del Cistia, Secretária da Educação de Sorocaba (SP), onde o AZ é oferecido às crianças de 6 e 7 anos das redes municipal e estadual de ensino, a palestra foi um momento muito rico. “Ele mostrou o rigor científico no qual o programa está baseado. Foram várias pesquisas e testes para comprovação da sua eficácia antes da implementação.”

Para Marlete Tolio Comassetto, coordenadora pedagógica dos anos iniciais do Ensino Fundamental da Secretaria de Educação de Brusque (SC), o cuidado na elaboração do programa e os resultados expostos pelo professor dão confiança a quem adota o Amigos do Zippy. “Essa palestra reforçou nossa crença no projeto, sedimentando nossos conhecimentos e nossa visão sobre a importância dele para nossos alunos.”

Ambas as prefeituras têm parceria com a ASEC em outras duas iniciativas para saúde emocional das crianças: Amigos do Maçã, aplicado no ano seguinte ao AZ com o propósito de consolidar e ampliar as habilidades emocionais já desenvolvidas, e o Ami-gos do Zippy em Casa (AZC), dirigido aos pais, para aprendizado dos conceitos básicos do programa principal.

“Cada um dos que estiveram aqui hoje, seja parceiro ou equipe, é um ‘irmão de alma’ da ASEC porque partilha conosco o mes-mo ideal de beneficiar crianças pela educação emocional e porque torna possível que elas de fato desenvolvam habilidades emocionais e sociais”, finalizou Tania Paris, presidente da ASEC.

Entrevista com Brian Mishara, PhD canadense que concebeu o programaBrian Mishara é professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Quebec, em Montreal, no Canadá, diretor do Centro para Pesquisa e Inter-venção em Suicídio e Eutanásia (Crise) desta universidade e co-fundador do Associação de Prevenção ao Suicídio de Quebec. É também o idealizador do Programa Amigos do Zippy (AZ), que já cuidou, em 28 nações, da saúde emo-cional de 800 mil crianças. Coordenado internacionalmente pela Partnership for Children, o AZ é executado no Brasil pela ASEC e, de 2004 a 2012, já atingiu mais de 159 mil crianças, por meio de parcerias com prefeituras, escolas parti-culares e instituições.

O pesquisador começou a pensar em uma metodologia que contribuísse para o bem-estar emocional de crianças quando realizava estudos acerca do sui-cídio, assunto sobre o qual tem livros publicados. Foi na década de 1990 que Mishara observou a importância do desenvolvimento de habilidades, já na in-fância, para evitar comportamentos autodestrutivos na adolescência e na vida adulta. Após essa constatação e com patrocínio inicial do laboratório GlaxoSmithKline, o psicólogo e sua equipe multidisciplinar mundial desenharam, aplicaram e avaliaram os primeiros pilotos do AZ, na Dinamarca e na Lituânia, depois replicados globalmente. De uma abordagem inicial de prevenção, o programa acabou evoluindo para um conceito mais amplo, de promoção da saúde mental como um todo.

Na entrevista a seguir, realizada durante a visita de Brian Mishara a São Paulo (SP), em 17 de outubro de 2012, ele discorre sobre os benefícios e as consequências do programa e fala sobre os aspectos da aplicação do Brasil. Confira:

Por que investir na saúde emocional de crianças tão pequenas?Quando crianças aprendem a lidar com as dificuldades, elas serão mais aptas, na adolescência e na vida adulta, a en-frentar os problemas e as crises. A proposta é que identifi-quem suas emoções e adquiram habilidades para melhorar ou solucionar uma situação estressante. Se elas possuem mais ferramentas emocionais para resolver os problemas, terão mais chances de sair deles.

Quais são os principais benefícios do Programa Amigos do Zippy?O AZ é um programa com visão de longo prazo, para que a criança adquira habilidades que usará na vida toda, mas ele já gera resultados logo após um ano de aplicação. As crianças ‘Zippadas’ conseguem expressar seus sentimentos, pedir e oferecer ajuda aos outros e atuar bem em grupo. Na Lituânia, uma pesquisa revelou que crianças ‘Zippadas’ na pré-escola tinham mais amigos do que aquelas não ‘Zippadas’ e estavam bem adaptadas à mudança para a nova escola para cursarem a Educação Básica. Outros

ganhos registrados em estudo com crianças de Quebec foram mais capacidade de cooperação e o desenvolvi-mento de autonomia. Há pesquisas em curso na Noruega que poderão dar novas contribuições, e também estamos tentando fazer mais estudos observacionais para ver como as crianças se saem.

Qual é o impacto do programa nos professores?Um levantamento feito pela Partnership, com mais de 300 professores de 6 países, observou que os docentes ad-quirem uma linguagem mais adequada para lidar com as dificuldades dos alunos e também se sentem professores melhores, por auxiliar as crianças em seus conflitos e con-seguir escutá-las com mais qualidade. A vida deles na sala de aula fica mais fácil. Com o programa, os professores são encorajados a mudar de postura. Nas sessões do AZ, eles não são os transmissores do conhecimento. Ao contrário, cabe a eles estimular as crianças a encontrarem as respos-tas, para que elas possam ampliar o conjunto de estratégias para lidar com os problemas.

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Quais são os desafios da aplicação do programa em dife-rentes países e culturas?Os desafios dependem muito de cada cultura. Mas o primeiro deles, independentemente do país, é convencer a escola a aplicar a programa, porque a unidade de ensino precisa ceder um tempo que seria utilizado no conteúdo curricular para as atividades do AZ em benefício da saúde emocional. Contudo, vencida a barreira inicial, os resul-tados aparecem, e não é difícil convencê-la a manter o programa. O segundo desafio é a orientação e a capacita-ção dos docentes. Eles precisam compreender que não se trata de falar o que é certo ou errado para a criança, mas de encorajá-la a avaliar por si própria se uma estratégia é positiva ou não diante de uma dificuldade.

Além da formação do professor, há outro cuidado essencial na implantação?Algo muito importante a se considerar neste momento é a garantia do cumprimento integral da proposta do progra-ma, pois as atividades previstas não podem ser mudadas. Infelizmente, alguns professores leem o material e resolvem

contar as histórias com suas próprias palavras, na tentativa de fazer o melhor para crianças. Mas pode haver distorções. Por isso, é fundamental seguir à risca aquilo que foi esta-belecido, para os que os resultados possam ser atingidos, conforme planejado.

Qual a sua avaliação sobre a aplicação do programa no Brasil?O Brasil é o país que beneficia mais crianças com o AZ. Esse sucesso deve-se à consciência dos parceiros sobre como o programa é adequado ao ambiente escolar e ao fato de os professores entenderem que o conteúdo do projeto deve ser reforçado durante as outras aulas, ou seja, não somen-te ser trabalho durante o programa. Em outros países, algumas vezes, as lições aprendidas durante a sessão do AZ são abandonadas por completo nas aulas curriculares. Outro fator positivo do contexto brasileiro é o envolvimen-to comunitário: os pais e outros atores sociais contribuem para a efetividade da iniciativa. Isso falta em outras nações. Espero que o dinamismo brasileiro permaneça, para que mais crianças sejam educadas emocionalmente.

Sorocaba investe desde 2006 na educação emocional de 50 mil criançasSorocaba, no interior de São Paulo, foi a primeira cidade do mundo a im-plantar o Programa Amigos do Zippy (AZ) como política pública para todas as crianças da faixa de 6 a 7 anos de idade das redes municipal e estadual de ensino. Desde 2006, já participaram da iniciativa cerca de 50 mil alunos, de 171 unidades de ensino, e o número de professores capacitados chegou a mais de 1.500. O pioneirismo do município também ocorreu ao apostar em 2008 nos programas Amigos do Maçã, sequência do AZ, e no Amigos do Zippy em Casa (AZC), voltado aos pais das crianças.

“Se o emocional é fundamental na formação de uma pessoa, para ter suces-so, ser feliz, eu não podia deixar de oferecer isso às nossas crianças. Estamos ajudando a formar uma geração muito mais capaz, mais feliz”, disse o prefeito Vitor Lippi sobre a decisão de aplicar e manter o programa em duas gestões.

O investimento em saúde emocional teve reflexos na melhoria do aprendizado: em 2005, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do município era de 4.9 para os anos iniciais e, em 2007, era de 4.8. Já em 2009, saltou para 5.9 e, em 2011, a rede municipal obteve média 6.0, ultrapassando a meta nacional de 5.0.

Segundo Maria Teresinha Del Cistia, Secretária da Educação de Sorocaba, a continuidade da aplicação da iniciativa de 2006 até 2012, somada a uma série de programas da Prefeitura resultou na melhoria do desempenho de Sorocaba no índice. “Acre-ditamos que, quando as crianças resolvem suas questões emocionais, elas vivem e convivem melhor e consequentemente conseguem aprender mais. O Amigos do Zippy entra nesse nosso conjunto de iniciativas que convergem para a melhoria do aprendizado das crianças”, explicou.

Transformação coletivaDe acordo com a secretária, os professores que aplicam o AZ são impactados, pois relatam à coordenação que passam a compreender melhor as crianças e se tornam mais capazes de lidar com as dificuldades na sala de aula. Além disso, sentem-se transformados como profissionais e pessoas. As crianças, por sua vez, ao expressarem seus sentimentos, aprimoram a comuni-cação e o relacionamento com colegas, professores e pais.

Mayara Santos Ribeiro, agora com 13 anos, foi uma criança “Zippada” em 2006 nas primeiras turmas do programa em Soroca-ba. Da experiência, tirou muitas lições, tais como a habilidade de autorreflexão e a ajuda aos amigos para auxiliá-los a resol-ver conflitos. “Comecei a escrever em um caderno os acontecimentos do dia a dia, avaliando o que eu tinha de fazer melhor. Descobri quantas escolhas diferentes precisamos realizar para realmente crescermos”, relata a adolescente.

Por acreditar nos ganhos de longo prazo proporcionados pelo AZ, a administração pública de Sorocaba resolveu, a partir de 2008, apostar no Amigos do Maçã e no AZC. Em quatro anos, foram atingidos 17.700 alunos e 3 mil pais, respectivamente, nesses dois programas, fazendo com que os benefícios da educação emocional chegassem às crianças mais velhas e a suas famílias. “Esperamos muito mesmo que o novo prefeito continue com essa política pública na próxima gestão a partir de janei-ro”, enfatizou Maria Teresinha.

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Professoras “Zippadas” mudam atitudes dentro e fora da salaEm uma das salas dos anos iniciais da Escola Ondina Rossi de Castilho, de Andradina (SP), quando um aluno reclamava para a professora Emeline Souza, 25 anos, da perda da sua caneta preferida, a resposta era: “Quem manda deixar seu material jogado”. “Atualmente, entendo que isso é significativo para ele, e procuramos, juntos, encontrar uma solução. É um exemplo pequeno, mas mostra a mudança de postura e a autorreflexão que o Programa Amigo do Zippy proporcionou à minha vida”.

Fernanda Cristina Fonseca Simões, 32 anos, orientadora educacional de projeto no contraturno escolar do Salesianos São Carlos, também no interior paulista, relata que, após a capacitação e a implantação do programa no trabalho, passou a pensar sobre sua prática. Trocou o grito, no momento de crise com os alunos, pela respiração profunda. “É preciso se transformar para aplicar o programa. Vejo que todas as professoras do projeto acabaram mudando um pouco”.

Sua colega Nathalia Lastore, 26 anos, concorda com a afirmação. “O AZ não é para ser transmitido, tem de ser vivido em todos os ambientes pelo professor. Só assim as crianças vão recepcioná-lo com sucesso”. Em casa, ao cuidar dos filhos de 5 e 3 anos de idade, ela já não perde mais o controle. Com mais calma, conseguiu fazer do ciúme da filha mais velha um zelo pelo menor.

As professoras catarinenses Roberta Mosca, 37 anos, e Vera Lúcia Machado, 44 anos, também sentiram melhoria na relação com os filhos. Orgulhosa, Roberta conta que “Zippou” o filho de 12 anos, um garoto fechado, hoje aberto para falar sobre suas dificuldades. “Eu também não fico mais nervosa diante de um problema. Não reajo de modo explosivo. Por tudo isso, nosso relacionamento mudou radicalmente”, conta a docente da Escola Municipal Alto Luis Alves, de Massaranduba (SC).

Já Vera Lúcia, professora da Escola Cristina Marcato, da Prefeitura de Jaraguá do Sul (SC), teve seu progresso reconhecido pela filha de 12 anos. “Agora, a mãe está mais perto de mim”, recorda o elogio da garota. Segundo ela, a menina estava feliz porque a mãe passou a ter conversas olho no olho com os filhos na mesa da cozinha, já que antes o diálogo era disperso e desatento no meio das atividades domésticas. “O principal ensinamento do Zippy foi sobre a importância de escutar o outro. Não é per-da de aula, nem de tempo”, declara.

As lições do AZ contribuíram ainda com a vida pessoal e profissional de Maria Esther de Souza Horner, 54 anos, docente na Escola Augusta Knorring, de Brusque (SC). Quando começou a formação em 2010, vivenciava um período de muito sofrimento devido à doença e ao óbito do marido. “Ao fazer as atividades com as crianças, acabei pensando e tentando superar meus con-flitos e desespero. Mais fortalecida, pude trabalhar de modo consistente os conteúdos curriculares e as emoções dos alunos”.

Embora de cidades distantes, há algo que aproxima essas seis docentes, além da experiência positiva com o programa: é a in-tenção de que o AZ permaneça em suas escolas. “Neste ano estou ‘Zippando’ 30 crianças, mas espero plantar essa sementinha em muitas outras”, expressa a professora Roberta o desejo das professoras.

Lições do Amigos do Zippy transformam lares de Igrejinha (RS)Na casa da família Lima, em Igrejinha (RS), até 2011, era comum em toda noite o pai José Carlos chegar do trabalho e encon-trar o filho João, 7 anos, entretido com os brinquedos. O menino só ia correndo para os braços do pai, se houvesse quebrado um carrinho ou um dos seus bonecos, para buscar com ele uma solução, e, geralmente, estava impaciente e nervoso, com as mãos trêmulas.

Hoje a cena é um pouco diferente. “Assim que entro pela porta, João vem ao meu encontro, dá um beijo e diz: ‘Te amo, pai’. Está todo amoroso. Brincamos que ele virou beijoqueiro. Depois fala, com calma, como foi o dia na escola e suas atividades. Até quando está triste, já expressa o que o incomoda”, relata José Carlos.

Em outro lar da mesma cidade gaúcha, uma mãe nota mudança semelhante no filho de 7 anos. “Guilherme anda mais comu-nicativo. Quando volta da escola, está cheio de novidades. A mais recente foi a visita ao cemitério com a turma. Temos conver-sado bastante, inclusive sobre morte. Estamos mais próximos nos últimos tempos”, conta a mãe Queli Carine Catarino Bishoff.

Os dois garotos participam do Programa Amigos do Zippy na Escola Municipal Vila Nova, parceira da ASEC. Na sala de aula, além das lições de língua portuguesa e matemática, os alunos estão aprendendo, de forma lúdica, com brincadeiras e histó-rias do inseto Zippy e seus amigos, como lidar com os próprios sentimentos. “Guilherme sempre comenta o que fazem na aula do Zippy. Ele é hiperativo e tem dificuldade de concentração, então estou impressionada sobre como essas lições não passam despercebidas para ele”, destaca Queli.

Para José Carlos, o AZ não alterou só o comportamento do filho, mas também envolveu toda família em um ciclo positivo de transformação. Diminuíram os conflitos e a gritaria entre a mãe e João, e a esposa está mais paciente com o garoto. As brigas entre os irmãos também foram reduzidas, e as irmãs de João, de 20 e 23 anos, sentem o menino mais carinhoso com elas. “O programa ajuda a colocar os pais na linha. Na correria do dia a dia, às vezes não damos a devida atenção aos filhos. O maior en-sinamento do Zippy é fazer com que olhemos mais para nossas crianças para que elas se abram conosco”, resumiu o pai de João.

Reportagem e edição: P&B Comunicação (www.pbcomunica.com.br)Fotos: Lilian Casare