ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

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11 INTRODUÇÃO As afecções osteoarticulares congênitas, hereditárias e do desenvolvimento são comuns na rotina clínica e radiológica em cães. Para o diagnóstico destas afecções, é importante o conhecimento da anatomia do sistema musculoesquelético e da epidemiologia de cada doença, pois os sinais clínicos e os dados de anamnese são relativamente inespecíficos, além da etiologia, muitas vezes, ser desconhecida ou multifatorial. É neste ponto que a imaginologia entra como um suporte diagnóstico, fornecendo subsídios ao médico veterinário para a instauração de um esquema terapêutico adequado para cada caso. O diagnóstico dessas afecções é importante para o controle dos cruzamentos em cinofilia, seja por parte de veterinários ou de criadores. Algumas dessas alterações não comprometem o animal como futuro reprodutor, consistindo apenas em achados radiográficos ocasionais, ou deformidades e anomalias sem demais conseqüências clínicas. Esta monografia tem por objetivo fazer uma síntese dos aspectos radiográficos das principais afecções osteoarticulares em cães com esqueleto imaturo. O enfoque adotado foi exclusivamente radiográfico, porém, nas doenças de maior relevância e freqüência, como a osteocondrose/osteocondrite dissecante, displasia do cotovelo, necrose asséptica da cabeça do fêmur, panosteíte, displasia coxofemoral e síndrome de Wobbler, foi feita uma breve revisão bibliográfica.

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INTRODUÇÃO

As afecções osteoarticulares congênitas, hereditárias e do

desenvolvimento são comuns na rotina clínica e radiológica em cães.

Para o diagnóstico destas afecções, é importante o conhecimento da

anatomia do sistema musculoesquelético e da epidemiologia de cada doença,

pois os sinais clínicos e os dados de anamnese são relativamente inespecíficos,

além da etiologia, muitas vezes, ser desconhecida ou multifatorial. É neste

ponto que a imaginologia entra como um suporte diagnóstico, fornecendo

subsídios ao médico veterinário para a instauração de um esquema terapêutico

adequado para cada caso.

O diagnóstico dessas afecções é importante para o controle dos

cruzamentos em cinofilia, seja por parte de veterinários ou de criadores.

Algumas dessas alterações não comprometem o animal como futuro

reprodutor, consistindo apenas em achados radiográficos ocasionais, ou

deformidades e anomalias sem demais conseqüências clínicas.

Esta monografia tem por objetivo fazer uma síntese dos aspectos

radiográficos das principais afecções osteoarticulares em cães com esqueleto

imaturo. O enfoque adotado foi exclusivamente radiográfico, porém, nas

doenças de maior relevância e freqüência, como a osteocondrose/osteocondrite

dissecante, displasia do cotovelo, necrose asséptica da cabeça do fêmur,

panosteíte, displasia coxofemoral e síndrome de Wobbler, foi feita uma breve

revisão bibliográfica.

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ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

OSTEOARTICULARES CONGÊNITAS, HEREDITÁRIAS E DO

DESENVOLVIMENTO EM CÃES COM ESQUELETO IMATURO

1. Morfofisiologia Osteoarticular

Para entender de maneira mais clara as alterações osteoarticulares e suas

implicações para o animal, algumas noções elementares da morfofisiologia das

estruturas acometidas devem ser lembradas.

O tecido ósseo desempenha importantes funções no organismo, como

armazenamento de minerais, hematopoiese, locomoção (sistema de alavancas

com músculos e articulações), proteção e sustentação dos sistemas corporais

(Johnson e Watson, 2004).

As células constituintes do sistema esquelético são os osteoblastos,

osteócitos e osteoclastos. Os osteoblastos sintetizam a matriz colagenosa,

diferenciando-se em osteócitos, após a mineralização. Os osteoclastos são

responsáveis pelo remodelamento ósseo (Johnson e Watson, 2004).

Macroscopicamente, os ossos são divididos em longos ou chatos. Os

ossos longos, por sua vez, são divididos em três regiões: epífise, metáfise e

diáfise. A epífise é constituída por osso esponjoso, caracterizado pela presença

de trabéculas ósseas e pela medula óssea. A diáfise é constituída pelo canal

medular e por osso compacto (caracterizado pela presença dos canais de

Havers e de Volkmann). Na região metaepifisária há a cartilagem epifisal,

placa fisária, fise ou placa de crescimento, responsável pelo crescimento

longitudinal do osso. As epífises são revestidas pela cartilagem articular.

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Internamente o osso é revestido pelo endósteo e externamente pelo periósteo.

A Figura 1 mostra a estrutura anatômica e histológica de um osso normal.

Figura 1. Anatomia e histologia de um osso longo normal (Johnson e Watson, 2004).

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Como citado por Johnson e Watson (2004), o crescimento ósseo ocorre

principalmente por ossificação endocondral (Figura 2); porém, de forma

secundária, há também crescimento aposicional. O metabolismo ósseo é

regulado por hormônios, como paratormônio, calcitonina e vitamina D,

envolvendo principalmente a biodinâmica de minerais como cálcio e fósforo.

Figura 2. Esquema de ossificação endocondral (Johnson e Watson, 2004).

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2. Osteocondrose e Osteocondrite Dissecante

2.1. Definição

Caracteriza-se por um distúrbio na ossificação endocondral, levando à

retenção de núcleos cartilaginosos nas áreas de crescimento fisária e

metafisária (Pedersen et al, 2004).

2.2. Etiologia

A osteocondrose tem sido estudada há mais de 60 anos e as causas são

hipotéticas. São elas: anormalidades hereditárias da ossificação, nutrição e

suplementação excessivas (Pedersen et al, 2004). Verificou-se em um estudo

retrospectivo realizado por Selmi et al (2004), que 80,6% dos animais

acometidos recebiam suplementação energética, protéica e/ou mineral à ração,

reforçando uma possível etiologia nutricional ao processo.

2.3. Fisiopatogenia

Acredita-se que o fator fundamental para o início das lesões seja uma

isquemia local, como sugerido por Pedersen et al (2004).

O principal mecanismo envolvido baseia-se no retardo da ossificação

endocondral e retenção da cartilagem, afetando as áreas da placa de

crescimento (Lenehan e Van Sickle, 2004). Essa cartilagem continua a crescer,

tornando-se espessada e enfraquecida. O estresse mecânico na articulação

pode resultar em fissuras na cartilagem, que podem formar um retalho (flap)

cartilaginoso. O flap pode se soltar e ficar livre no espaço articular. Quando

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ocorre a formação de um flap ou quando este se solta, a condição é

denominada osteocondrite dissecante (Schwarz, 2003b).

2.4. Epidemiologia

A doença tem sido descrita em caninos, eqüinos, suínos, galinhas, perus,

bovinos e seres humanos (Lenehan e Van Sickle, 2004).

As raças com predisposição genética são Afghanhound, American

Staffordshire Terrier, Beagle, Border Collie, Boxer, Bull Terrier, Chow-Chow,

Cocker Spaniel, Dálmata, Doberman Pinscher, Dogue Alemão, Golden

Retriever, Greyhound, Husky Siberiano, Mastiff, Newfoundlands, Old English

Sheepdog, Pastor Australiano, Pastor Bernesiano, Pointer Alemão, Pointer

Inglês, Poodle (miniatura e standard), Retriever do Labrador, Rhodesian

Ridgeback, Rottweiler, Samoieda, São Bernardo, Schnauzer (gigante),

Scottish Terrier, Setter Inglês, Setter Irlandês e Springer Spaniel (Pedersen et

al, 2004).

Em geral, os machos são mais acometidos que as fêmeas. Os sinais

clínicos podem iniciar entre quatro e dez meses de idade (Lenehan e Van

Sickle, 2004).

Os fatores de risco são dietas com níveis de cálcio superiores aos

recomendados e raças com rápido crescimento e ganho de peso (Richardson e

Zicker, 2004).

O índice de herdabilidade depende da raça e varia entre 0,25 e 0,45. A

expressão é determinada por uma interação entre fatores genéticos e

ambientais (Schwarz, 2003b).

As articulações mais comumente afetadas são escapuloumeral,

tibiotársica, femurotibiopatelar e umeroradioulnar, com incidências de 75,9%;

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16,1%; 4,4% e 3,6%, respectivamente. Já as articulações coxofemoral,

sacroilíaca e intervertebral raramente são afetadas (Neâas et al, 2004).

2.5. Anamnese e exame físico

Conforme Pedersen et al (2004), os achados de anamnese e exame físico

são:

• claudicação, que piora com o exercício;

• dor à palpação, flexão, extensão e rotação da articulação;

• efusão articular (o contato do líquido sinovial com o osso subcondral

é um processo extremamente doloroso);

• atrofia muscular;

• crepitação ao se movimentar a articulação.

Se um pedaço da cartilagem fragmentada entrar na bainha tendínea, pode

ocorrer tenossinovite grave e dolorosa (Pedersen et al, 2004).

Schwarz (2003b) cita que aproximadamente 50% dos animais são

acometidos bilateralmente, o que pode levar à alteração da marcha.

2.6. Sinais radiográficos

As radiografias para diagnóstico de osteocondrose e osteocondrite

dissecante devem ser realizadas em flexão e extensão, nas projeções

craniocaudal, dorsopalmar/dorsoplantar e mediolateral. Radiografias com

projeções oblíquas também são úteis para o diagnóstico.

Os sinais radiográficos são áreas de radioluscência na superfície óssea,

irregularidade do osso subcondral, esclerose óssea da região ao redor da lesão,

calcificação do flap cartilaginoso ou da cartilagem livre no espaço articular e

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sinais de doença articular degenerativa secundária, como osteofitose (Burk e

Ackerman, 1996a; Konde, 1998).

A técnica de radiografia articular contrastada positiva, ou artrografia, é

útil para visibilizar flaps não mineralizados, fissuras e espessamento de

cartilagem (Unruh, 1999). Também são indicadas artroscopia (diagnóstica e

terapêutica), tomografia computadorizada e ressonância magnética. Schwarz

(2003b) aponta, também, a tomografia computadorizada e a ressonância

magnética para diagnosticar as lesões subcondrais.

A Figura 3 mostra uma radiografia convencional na posição mediolateral

de osteocondrose na articulação escapuloumeral e a Figura 4 mostra a mesma

região, porém utilizando a técnica da artrografia.

Figura 3. Osteocondrose escapuloumeral (radio- grafia convencional) (Konde, 1998).

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Figura 4. Osteocondrose escapuloumeral (artrografia) (Konde, 1998).

2.7. Diagnósticos diferenciais

Os principais diagnósticos diferenciais são fraturas intra-articulares,

displasia do cotovelo e panosteíte (Pedersen et al, 2004).

2.8. Tratamento

Como opções terapêuticas tem-se repouso, uso de antiinflamátórios não-

esteroidais (corticosteróides são contra-indicados devido às placas fisárias

ainda estarem abertas), uso de compressas frias, uso de condroprotetores,

curetagem cirúrgica com remoção dos fragmentos livres. A curetagem

cirúrgica pode ser realizada através da cirurgia convencional ou por meio de

cirurgia artroscópica. Schwarz (2003b) cita que, após a cirurgia, o defeito na

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cartilagem articular é preenchido por tecido de granulação, que posteriormente

se diferencia em fibrocartilagem.

Em um experimento conduzido por Melo et al (2003) com

condroprotetores, observou-se melhor resultado clínico com o uso do

hialuronato de sódio em comparação com o emprego do sulfato de

condroitina.

É interessante que se corrija a dieta do animal, que se estabeleça um

controle do peso do animal e que os cruzamentos dos pacientes com sinais

radiográficos compatíveis com a doença sejam desaconselhados (Sturion et al,

2004b).

3. Displasia do Cotovelo

3.1. Definição

A displasia do cotovelo é o nome dado ao grupo de anomalias do

desenvolvimento que levam à malformação e degeneração da articulação do

cotovelo. São elas: não-união do processo ancôneo, fragmentação do processo

coronóide medial e osteocondrose do côndilo umeral medial (Pedersen et al,

2004).

3.2. Etiologia

Segundo Schwarz (2003a), a displasia do cotovelo possui causas

genéticas, nutricionais e incongruência, mas estas não se encontram totalmente

esclarecidas.

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3.3. Fisiopatogenia

O processo ancôneo em algumas raças possui um centro de ossificação

separado e se une com a ulna por volta dos cinco meses de idade (Lenehan e

Jackson, 2003). Quando isso não ocorre, observa-se uma linha de clivagem na

fise do processo ancôneo, separando-o da ulna (Seuliner et al, 1996).

A fragmentação do processo coronóide medial é uma manifestação de

osteocondrose do processo coronóide medial. O processo coronóide medial

não possui um centro de ossificação em separado (Lenehan e Jackson, 2003).

A osteocondrose do côndilo umeral medial é resultado de um distúrbio

na ossificação endocondral (Pedersen et al, 2004).

De acordo com estudos sobre a doença conduzidos por Pedersen et al

(2004), estas três lesões são resultantes de uma falha no desenvolvimento da

incisura troclear da ulna, gerando incongruência da articulação

umeroradioulnar.

3.4. Epidemiologia

As raças com predisposição genética são Afghanhound, Basset Hound,

Buldogue Francês, Chow-Chow, Collie, Dogue Alemão, Mastiff,

Newfoudlands, Pastor Alemão, Pastor Bernesiano, Pointer, Retriever do

Labrador, Rottweiler, São Bernardo, Teckel, Terranova e Weimaraner

(Schwarz, 2003a).

Os machos geralmente são mais afetados que as fêmeas. Os sinais

clínicos podem se manifestar dos quatro aos dezoito meses de idade (Lipowitz,

2004).

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Os fatores de risco relacionam-se com raças que apresentam rápido

crescimento e ganho de peso e animais que recebem suplementação dietética

(Osteochondrosis, 2004).

O índice de herdabilidade depende da raça e varia de 0,25 a 0,45

(Schwarz, 2003a).

Em 30% dos casos, o acometimento pode ser bilateral (Lipowitz, 2004).

3.5. Anamnese e exame físico

Segundo Schwarz (2003a), os achados de anamnese e exame físico são:

• claudicação, persistente ou intermitente e que pode piorar quando o

animal se exercita;

• dor à manipulação da articulação;

• efusão articular;

• crepitação à manipulação da articulação umeroradioulnar;

• resistência ao movimento da articulação umeroradioulnar;

• atrofia muscular.

3.6. Sinais radiográficos

As radiografias para diagnóstico de displasia do cotovelo devem ser

realizadas em flexão e em extensão, nas projeções craniocaudal ou

caudocranial, e mediolateral ou lateromedial. Radiografias com projeções

oblíquas também são úteis para o diagnóstico. É interessante realizar

radiografias bilaterais, de forma que estruturas pares sejam sempre

comparadas.

Os sinais radiográficos são:

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• não-união do processo ancôneo: linha radioluscente entre o processo

ancôneo e o restante da ulna, podendo ocorrer subluxação umeroulnar

e sinais de doença articular degenerativa secundária (como osteofitose

e esclerose) (Burk e Ackerman, 1996a);

• fragmentação do processo coronóide medial: o processo coronóide

medial nem sempre é visibilizado, assim como a sua fragmentação.

Ele pode estar cartilaginoso ou ossificado. Observa-se então

proliferação óssea, esclerose do osso subcondral e edema articular,

caracterizando a doença articular degenerativa secundária à

fragmentação do processo coronóide medial (Konde, 1998);

• osteocondrose do côndilo umeral medial: basicamente são as mesmas

alterações descritas no tópico Osteocondrose e Osteocondrite

Dissecante.

O International Elbow Working Group (IEWG – Grupo Internacional de

Trabalho em Cotovelo) usa uma classificação radiográfica da displasia do

cotovelo em graus I, II e III, porém tal proposta não possui aplicação rotineira

em Medicina Veterinária (Gahring, 2004).

Selmi et al (2001) sugerem outros recursos em diagnóstico por imagem,

como a artroscopia, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética.

As Figuras 5 e 6 mostram radiografias de não-união do processo

ancôneo, no posicionamento mediolateral.

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Figura 5. Não-união do processo ancôneo (displasia do

cotovelo) (Burk e Ackerman, 1996a).

Figura 6. Não-união do processo ancôneo (displasia do cotovelo) (Burk e Ackerman, 1996a).

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As Figuras 7 e 8 ilustram a fragmentação do processo coronóide medial, na posição craniocaudal.

Figura 7. Fragmentação do processo coro-nóide medial (displasia do cotovelo) (Burk e Ackerman, 1996a).

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Figura 8. Fragmentação do processo coro-nóide medial (displasia do cotovelo) (Burk e Ackerman, 1996a).

3.7. Diagnósticos diferenciais

Os principais diagnósticos diferenciais são fraturas articulares, artrite,

panosteíte, avulsão ou calcificação dos músculos flexores e sarcoma de células

sinoviais (Schwarz, 2003a).

3.8. Tratamento

Como citado por Lenehan e Jackson (2003), as opções terapêuticas são

repouso, uso de compressas frias, uso de antiinflamatórios não-esteróidais, uso

de condroprotetores e intervenção cirúrgica (remoção do processo coronóide

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medial fragmentado e curetagem com remoção de fragmentos, no caso de

osteocondrose do côndilo umeral medial).

A fixação do processo ancôneo não-unido é controversa porque ocorre

também malformação da tróclea, requerendo então a realização conjunta de

osteotomia ulnar na incisura troclear. Já no caso de fragmentação do processo

coronóide medial, o único estudo controlado sobre tratamento cirúrgico

mostrou resultados melhores nos animais submetidos ao tratamento clínico

(Meyer-Lindenberg et al, 2002).

Outras recomendações importantes para o paciente doente são correção

da dieta, estabelecimento de um programa de controle de peso e desaconselhar

os cruzamentos (Lenehan e Jackson, 2003).

4. Necrose Asséptica da Cabeça do Fêmur

4.1. Sinônimos

Doença de Legg-Calvé-Perthes/Calvé-Legg-Perthes, coxa plana, coxa

magna, necrose avascular da cabeça femoral, necrose epifisária asséptica da

extremidade proximal do fêmur e osteocondrite juvenil (Olmstead, 2003).

4.2. Definição

A doença foi descrita pela primeira vez em 1909, por Waldenstrom,

como tuberculose da articulação coxofemoral em seres humanos. Em

Medicina Veterinária, foi descrita pela primeira vez em 1935 por Tutt

(Nunamaker, 2004).

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A doença caracteriza-se por degeneração da cabeça e colo femorais,

levando a um colapso da articulação coxofemoral e osteoartrose (Nunamaker,

2004).

4.3. Etiologia

A etiologia é indeterminada. Acredita-se que ocorra um tamponamento

dos vasos subsinoviais intracapsulares, ramos da artéria circunflexa femoral e

da artéria glútea (Novo, 2004).

Linjunggren, em 1967, sugeriu uma causa endócrina (altos níveis de

testosterona ou estrógeno) relacionada à maturidade sexual precoce, porém

não se conseguiu confirmar essa hipótese em estudos posteriores (Novo,

2004).

4.4. Fisiopatogenia

Legg sugeriu que a fisiopatogenia estava relacionada a uma alteração no

suprimento sanguíneo; Calvé sugeriu que a enfermidade estava relacionada a

riquétsias e Perthes relacionou-a à artrite infecciosa. Dessa forma, Spicer

(1936), Schnelle (1937) e Moltzen-Nielsen (1939) denominaram a moléstia

como doença de Legg-Calvé-Perthes (Nunamaker, 2004).

Sabe-se que ocorre isquemia da cabeça femoral, levando a necrose

subcondral, deformação da cabeça e colo femorais, afilamento e fissuras na

cartilagem articular. Após esses eventos, ocorre uma revascularização para

remover o tecido ósseo necrótico e reparar o defeito ósseo e articular

(Carpenter, 2003a).

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4.5. Epidemiologia

A doença foi descrita em caninos e seres humanos. As raças com

predisposição genética são Cairn Terrier, Lakeland Terrier, Pequinês,

Pinscher, Poodle (toy), Terrier de Manchester, West Highland White Terrier e

Yorkshire Terrier (Pedersen et al, 2004).

Os machos geralmente são mais acometidos que as fêmeas, assim como

geralmente são mais afetados cães com até 12 quilos de peso. Nunamaker

(2004) relata que os sinais clínicos podem se manifestar entre três e treze

meses de idade, com maior incidência entre cinco e oito meses.

4.6. Anamnese e exame físico

Os achados de anamnese e exame físico, conforme Olmstead (2003),

são:

• claudicação intermitente;

• dor à manipulação da pelve;

• crepitação à movimentação da articulação coxofemoral;

• atrofia da musculatura da coxa;

• encurtamento da perna acometida;

• efusão articular.

Os sinais podem ser bilaterais em aproximadamente 15% dos casos

(Olmstead, 2003).

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4.7. Sinais radiográficos

As radiografias da articulação coxofemoral devem ser realizadas no

posicionamento ventrodorsal. Os sinais radiográficos são deformidade e

irregularidade de cabeça e colo femorais, depressões radioluscentes no osso

subcondral da cabeça femoral, diminuição da radiopacidade de epífise e

metáfise femorais, subluxação coxofemoral, fragmentação de cabeça femoral,

fraturas patológicas (secundárias) e sinais de doença articular degenerativa

secundária (principalmente osteofitose em colo femoral) (Burk e Ackerman,

1996a). A Figura 9 mostra uma radiografia de necrose asséptica da cabeça

femoral, no posicionamento ventrodorsal.

Figura 9. Necrose asséptica da cabeça femoral

(Konde, 1998).

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Apesar da afecção poder ocorrer bilateralmente, os sinais radiográficos

podem não se apresentar simultaneamente (Konde, 1998). Uma alternativa

para o diagnóstico é o uso da ressonância magnética com contraste (Nadel et

al, 1992).

4.8. Diagnósticos diferenciais

O diagnóstico diferencial para animais jovens é a luxação patelar medial

e para animais senis é a ruptura de ligamento cruzado cranial (Carpenter,

2003a).

4.9. Tratamento

Como opções terapêuticas tem-se o uso de antiinflamatórios não-

esteroidais, fisioterapia, uso de compressas frias e cirurgia (excisão da cabeça

e do colo femorais). Há diversas formas de acessos cirúrgicos descritos na

literatura especializada. Para otimizar o pós-operatório, Matera et al (2003)

demonstraram que a irradiação com laser periarticular promoveu um rápido

retorno à função do membro.

É aconselhável evitar a obesidade nos animais acometidos e orientar a

não utilizar na reprodução os pacientes afetados (Sturion et al, 2004a).

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5. Panosteíte

5.1. Sinônimos

Panostósis, enostose, osteodistrofia fibrosa, osteomielite juvenil e

panosteíte eosinofílica (Pinto, 2002).

5.2. Definição

A panosteíte é uma condição dolorosa e autolimitante que acomete os

ossos longos de cães jovens, sendo caracterizada principalmente por

claudicação (Carpenter, 2003b).

A enfermidade foi descrita na literatura veterinária pela primeira vez em

1951, na Europa, por Gratz e Bauman, como osteomielite crônica. Em 1960,

foi descrita nos Estados Unidos e acreditava-se que havia um agente

infeccioso envolvido (Lenehan et al, 2004).

5.3. Etiologia

A etiologia da panosteíte é desconhecida. Podem estar envolvidas

predisposição genética (na raça Pastor Alemão), hemofilia, infecção

bacteriana, anormalidade vascular, enfermidade metabólica, doenças da

hipersensibilidade, hiperestrogenismo, endoparasitismo, infecção viral (como

o vírus da cinomose) e estresse (Johnson e Watson, 2004).

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5.4. Fisiopatogenia

A doença é caracterizada por degeneração dos adipócitos da medula

óssea, seguida por uma proliferação de células estromais, ossificação

intramembranosa, remoção de osso trabecular medular e, finalmente,

regeneração da medula óssea adiposa (Lenehan et al, 2004).

5.5. Epidemiologia

Segundo Lenehan et al (2004), a panosteíte foi descrita nas seguintes

raças caninas: Airedale Terrier, Basset Hound, Doberman Pinscher, Dogue

Alemão, Golden Retriever, Pastor Alemão, Pointer, Retriever do Labrador,

Samoieda, São Bernardo, Schnauzer (miniatura), Scottish Terrier e Setter

Irlandês.

Dois terços dos animais acometidos são machos. Os sinais clínicos

geralmente se manifestam entre dois meses e cinco anos de idade, com maior

ocorrência entre cinco e dezoito meses. Em cadelas o primeiro episódio de

manifestação da doença pode estar relacionado ao primeiro estro (Johnson e

Watson, 2004).

Os ossos mais comumente acometidos são: ulna (42% dos casos), rádio

(25%), úmero (14%), fêmur (11%) e tíbia (8%). Raramente, são acometidos

íleo e metatarsos (Lenehan et al, 2004).

5.6. Anamnese e exame físico

Os achados de anamnese e exame físico, segundo Roush (2003), são os

seguintes:

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• claudicação, que pode ser contínua ou intermitente. Os episódios de

claudicação podem ocorrer em membros alternados;

• depressão moderada;

• inapetência;

• perda de peso;

• febre;

• dor à palpação profunda da região correspondente à diáfise óssea;

• atrofia muscular.

5.7. Achados laboratoriais

Como achado laboratorial pode ocorrer eosinofilia, motivo pelo qual a

doença também é conhecida como panosteíte eosinofílica (Carpenter, 2003b).

5.8. Sinais radiográficos

As radiografias para diagnóstico de panosteíte podem ser realizadas nos

posicionamentos mediolateral ou lateromedial, craniocaudal ou caudocranial,

dorsopalmar ou palmodorsal, dorsoplantar ou plantodorsal. As lesões podem

ser isoladas ou afetar vários ossos simultaneamente (Johnson e Watson, 2004).

Em uma fase inicial da panosteíte observa-se uma acentuação da

trabeculação óssea. Em uma segunda fase, tem-se aumento da radiopacidade

medular (esta radiopacidade é descrita com um aspecto granular e nebuloso),

inicialmente ao redor do forame nutrício e depois ao longo de todo o canal

medular; há também reação periosteal contínua, linear e uniforme. Já em um

estágio mais avançado, ocorre resolução da radiopacidade (alguns ossos

apresentam espessamento residual medular e de trabéculas ósseas e

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deformidade cortical) e remodelação óssea (Konde, 1998). A panosteíte sob a

forma radiográfica pode ser visibilizada na Figura 10, em fêmur, no

posicionamento mediolateral.

Figura 10. Panosteíte em fêmur (Konde, 1998).

5.9. Diagnósticos diferenciais

Os diagnósticos diferenciais são osteocondrose/osteocondrite dissecante,

fragmentação do processo coronóide medial, não-união de processo ancôneo,

displasia coxofemoral, fraturas, injúrias a ligamentos, artrite imunomediada,

doença de Lyme, endocardite bacteriana, osteodistrofia hipertrófica, neoplasia

óssea e osteomielite hematógena (Johnson e Watson, 2004; Burk e Ackerman,

1996a).

Page 26: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

36

5.10. Tratamento

A panosteíte é autolimitante, resolvendo-se por volta dos 18 meses de

idade; pode ter um ciclo de duração de 90 a 190 dias. De acordo com Roush

(2003), os sinais radiográficos podem persistir por meses após a resolução

clínica.

De forma paliativa, pode-se instituir a terapia com antiinflamatórios não-

esteroidais. Procedimentos como antibioticoterapia, suplementação vitamínica

e mineral, mudanças na dieta e irradiação dos ossos afetados e das adrenais

têm sido tentados, porém com pouco sucesso (Carpenter, 2003b).

6. Displasia Coxofemoral

6.1. Definição

A displasia coxofemoral é uma doença multifatorial, caracterizada por

malformação e degeneração da articulação coxofemoral (McLaughlin, 2003).

6.2. Etiologia

A etiologia da doença envolve fatores genéticos, hormonais,

nutricionais, musculoesqueléticos e ambientais, como:

• herança genética: é poligênica e não segue as leis mendelianas;

• hiperestrogenismo materno: o estrógeno é antagonista do hormônio do

crescimento, levando a uma inibição da mitose de condrócitos,

comprometendo o crescimento ósseo e causando instabilidade

articular;

Page 27: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

37

• altos níveis de relaxina: causam um relaxamento dos tecidos

conectivos da pelve, levando à instabilidade articular;

• dietas de alta densidade: ricas em proteína, energia, cálcio e fósforo,

que por sua vez, aceleram o desenvolvimento ósseo em relação ao

crescimento dos tecidos moles adjacentes;

• escorbuto crônico subclínico (hipovitaminose C): a vitamina C

participa da síntese de componentes do colágeno dos tendões, dos

ligamentos e das cartilagens e sua deficiência compromete essas

estruturas articulares;

• índice de massa muscular pélvica (IMMP): quanto menor o IMMP,

maior a incidência de displasia coxofemoral (Tôrres, 2000).

6.3. Fisiopatogenia

Devido à malformação da articulação coxofemoral, ocorre incongruência

articular, resultando em forças e pressões anormais, ocorrendo uma sobrecarga

articular. A instabilidade articular ocorre à medida que o desenvolvimento e

maturação dos tecidos moles se atrasam em relação ao crescimento esquelético

(McLaughlin, 2003).

6.4. Epidemiologia

A doença foi descrita pela primeira vez por Schnelle, em 1930 (Souza e

Tudury, 2003). Há relatos em seres humanos, bovinos, eqüinos, gatos, coelhos

e cachorros-do-mato (Tôrres, 2000).

As raças com predisposição genética são Cão dos Pirineus, Fila

Brasileiro, Golden Retriever, Pastor Alemão, Retriever do Labrador,

Page 28: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

38

Rottweiler, São Bernardo e Setter Inglês. Não há diferença significativa no

acometimento de machos e fêmeas (Tôrres et al, 2003). Geralmente o

acometimento articular é bilateral, podendo ser unilateral em 11% dos casos

(Konde, 1998).

Os fatores de risco envolvem cães de grande porte, com crescimento

rápido e submetidos à superalimentação (McLaughlin, 2003).

6.5. Anamnese e exame físico

Na anamnese e no exame físico tem-se:

• aumento no índice de distração (afastamento da articulação

coxofemoral);

• claudicação, que piora após exercícios;

• sinal de Ortolani positivo (este sinal pode estar ausente em casos

crônicos, devido à fibrose na articulação);

• dificuldade do animal em se levantar;

• relutância em correr e saltar;

• dor;

• crepitação à manipulação da articulação;

• atrofia muscular nos membros pelvinos;

• hipertrofia de músculos do membro torácico (Tudury, 2004; Nogueira

et al, 2005).

6.6. Sinais radiográficos

O exame radiográfico deve ser feito na posição ventrodorsal, que é

aceita oficialmente desde 1961, com os membros posteriores bem estendidos e

Page 29: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

39

rotacionados internamente, de modo que a patela fique sobreposta

medianamente em relação ao plano sagital do fêmur. Os fêmures devem ficar

paralelos entre si e em relação à coluna vertebral, e a pelve deve estar

simétrica (Tôrres e Silva, 2001).

O tamanho do filme radiográfico deve ser suficiente para abranger a área

compreendida entre as asas dos íleos e as articulações femurotibiopatelares,

sendo que o feixe primário de raios X deve estar centrado entre as articulações

coxofemorais (Tôrres e Silva, 2001).

A posição ventrodorsal não permite visibilizar o deslocamento da cabeça

femoral e nem alterações da borda acetabular dorsal. Portanto, como apontado

por Souza e Tudury (2003), existem outras opções radiográficas, como:

• incidência lateral;

• “posicionamento em pata de rã” (também conhecida como frog leg

position, sendo um posicionamento interessante para se avaliar o

espaço articular);

• incidência para visibilizar subluxação dorsolateral da cabeça femoral;

• incidência para visibilizar a borda acetabular dorsal.

Para um correto posicionamento do paciente na mesa radiográfica,

utiliza-se anestesia geral ou sedação profunda. Como técnica auxiliar para

interpretação, pode-se utilizar o método de Norberg (Figura 11), o qual utiliza

uma escala de ângulos para se mensurar o grau de luxação articular (Tôrres e

Silva, 2001).

Page 30: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

40

Figura 11. Escala de Norberg (Tôrres e Silva, 2001).

Recomenda-se o exame radiográfico de rotina, para efeito de seleção e

controle reprodutivo, com a idade mínima de um ano nas raças de médio e

grande portes, e um ano e meio para as raças gigantes (Tôrres e Silva, 2001).

Segundo Tôrres e Silva (2001), a displasia coxofemoral pode receber

três classificações radiográficas, sendo:

1) classificação de acordo com a Orthopedic Foundation for Animals (OFA –

Fundação Ortopédica para Animais): em graus de 0 a IV;

2) classificação de Schnelle: em graus de 1 a 4;

3) classificação de acordo com a Federação Cinológica Internacional (FCI),

adotada pelo Colégio Brasileiro de Radiologia Veterinária (CBRV) e pela

Associação Brasileira de Radiologia Veterinária (ABRV): em categorias de A

a E ou HD1– a HD+++, que são descritas a seguir:

• categoria A (sem sinais de displasia ou HD-): cabeça do fêmur e

acetábulo congruentes, acetábulo craniolateral nítido e arredondado,

1 HD – Do inglês Hip Dysplasia, ou displasia coxofemoral.

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41

acompanhando o contorno da cabeça do fêmur, espaço articular

regular, ângulo de Norberg maior ou igual a 105°;

• categoria B (suspeito de displasia ou HD+/-): cabeça do fêmur e

acetábulo discretamente incongruentes e ângulo de Norberg maior ou

igual a 105°, ou cabeça do fêmur e acetábulo congruentes e ângulo de

Norberg menor que 105°;

• categoria C (displasia leve ou HD+): cabeça do fêmur e acetábulo

incongruentes, ângulo de Norberg entre 100° e 105°, aparecimento de

sinais de osteoartrose (osteofitose, esclerose óssea, deformidade da

cabeça femoral, rasamento de acetábulo, espessamento de colo

femoral e, menos freqüentemente, cisto subcondral);

• categoria D (displasia moderada ou HD++): incongruência nítida

entre cabeça do fêmur e acetábulo, com subluxação, ângulo de

Norberg entre 90° e 100°, sinais de osteoartrose evidentes;

• categoria E (displasia grave ou HD+++): subluxação ou luxação da

cabeça femoral, ângulo de Norberg menor que 90°, alterações de

osteoartrose bem evidentes.

A Figura 12 demostra uma radiografia de um cão com displasia

coxofemoral bilateral categoria E ou HD+++, na posição ventrodorsal.

Page 32: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

42

Figura 12. Displasia coxofemoral, categoria E em ambas as articulações (Burk e Ackerman, 1996a).

6.7. Diagnósticos diferenciais

Os principais diagnósticos diferenciais, segundo McLaughlin (2003), são

mielopatia degenerativa, instabilidade lombossacral, doença patelar bilateral,

panosteíte e poliartropatias.

Page 33: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

43

6.8. Tratamento

Como opções terapêuticas, Oliveira et al (2004) citam fisioterapia,

hidroterapia, uso de antinflamatórios não-esteroidais, uso de condroprotetores

e cirurgia. As técnicas cirúrgicas recomendadas são: osteotomia pélvica tripla,

artroplastia de excisão de cabeça e colo femorais, miectomia pectínea,

osteotomia intertrocantérica, substituição coxofemoral total, sinfiodese púbica

juvenil e desnervação articular.

Estatísticas citadas por Tôrres e Silva (2001) demostram que 70% dos

animais radiograficamente afetados não apresentam sinais clínicos e somente

30% necessitam de algum tipo de tratamento.

É interessante que se corrija a dieta do animal, instituindo um programa

de controle de peso, e que sejam desaconselhados os cruzamentos dos animais

afetados (McLaughlin, 2003).

7. Espondilomielopatia Cervical (Síndrome de Wobbler)

7.1. Sinônimos

Espondilomielopatia cervical caudal, síndrome do cambaleio,

instabilidade vertebral cervical, mielopatia estenótica vertebral cervical,

espondilopatia cervical (Luttgen, 2003).

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44

7.2. Definição

Caracteriza-se por uma compressão medular cervical devido a uma

malformação de estruturas ósseas e ligamentares, levando a instabilidade ou

discopatia crônicas (Wagner, 2003).

7.3. Etiologia

A síndrome de Wobbler possui etiologia indeterminada, mas está

relacionada com discopatia (degeneração ou instabilidade dos discos

intervertebrais cervicais), vértebras (malformação ou má-articulação das

vértebras cervicais) e ligamentos (degeneração ou hipertrofia das estruturas

ligamentares da coluna cervical) (Luttgen, 2003).

7.4. Fisiopatogenia

Wagner (2003) cita que a instabilidade articular leva a uma compressão

medular cervical, desencadeando a síndrome clínica.

7.5. Epidemiologia

A doença foi descrita em cães. As raças predispostas são Dobermann

Pinscher e Dogue Alemão. Ocorre também nas raças Basset Hound, Boxer,

Bull Mastiff, Dálmata, Old English Sheepdog, Pastor Alemão, Retriever do

Labrador, Rhodesian Ridgeback, Samoieda, São Bernardo e Weimaraner. Os

machos geralmente são mais acometidos que as fêmeas (Luttgen, 2003).

Page 35: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

45

As alterações relacionadas aos discos intervertebrais ocorrem,

geralmente, em cães acima de cinco anos de idade, enquanto as alterações

relacionadas às vértebras ocorrem, geralmente, em cães abaixo de dois anos de

idade (Luttgen, 2003).

Os fatores de risco relacionados são animais de rápido crescimento e

ganho de peso e superalimentação (Luttgen, 2003).

7.6. Anamnese e exame físico

O quadro clínico, segundo LeCouteur e Grandy (2004), pode ser agudo

ou crônico, progressivo ou não. Na anamnese e no exame físico tem-se:

• dor;

• dificuldade do animal em se levantar;

• atrofia muscular;

• desgaste das unhas;

• ataxia;

• tetraparesia espástica.

7.7. Sinais radiográficos

As radiografias para diagnóstico da síndrome de Wobbler devem ser

realizadas nas posições ventrodorsal ou dorsoventral e laterolateral da região

cervical.

Os sinais radiográficos são alteração no formato das vértebras cervicais,

estreitamento do espaço intervertebral cervical, subluxação de vértebras

cervicais, calcificação de disco intervertebral, osteofitose e esclerose vertebral.

Além da radiografia convencional, a mielografia também é indicada, assim

Page 36: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

46

como as radiografias em estresse (flexão, extensão, tração linear), para avaliar

as compressões estáticas e dinâmicas (Burk e Ackerman, 1996b; Walker,

1998).

A Figura 13 mostra radiografias contrastadas (mielografias) de um cão

com síndrome de Wobbler, posicionadas laterolateralmente.

Figura 13. Síndrome de Wobbler (mielografia), compressão medular entre C4 e C5 (LeCouteur e Grandy, 2004).

Page 37: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

47

7.8. Diagnósticos diferenciais

Os diagnósticos diferenciais incluem traumatismos, discoespondilite,

discopatia primária, neoplasias e inflamações da medula espinhal (Luttgen,

2003).

7.9. Tratamento

Como opções terapêuticas tem-se o repouso (em local acolchoado),

fisioterapia, uso de corticosteróides e cirurgia. Como opções cirúrgicas podem

ser citadas a laminectomia dorsal, a descompressão ventral e a tração contrária

vertebral (Wagner, 2003).

São recomendados o uso de coleiras peitorais, a restrição de exercícios e

a correção da dieta do animal (Wagner, 2003).

8. Condrodistrofia

8.1. Considerações

A condrodistrofia se caracteriza por deformidades angulares

osteoarticulares. É comum em raças como Basset Hound, Pequinês, Pug e

Teckel, e altamente indesejável no Malamute do Alasca e no Pastor Alemão.

A condrodistrofia predispõe à doença articular degenerativa (Pedersen, 2004).

Page 38: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

48

8.2. Sinais radiográficos

Os sinais radiográficos que caracterizam a condrodistrofia são as

deformidades angulares das articulações, em suas diversas apresentações

(Pedersen, 2004).

9. Distúrbios Metafisários da Placa de Crescimento

9.1. Considerações

Anormalidades da conformação dos membros podem resultar em danos

às fises dos animais jovens. Esses danos caracterizam-se por um atraso no

fechamento das placas de crescimento ou por uma interrupção do crescimento

ósseo (Johnson e Watson, 2004).

9.2. Sinais radiográficos

O sinal radiográfico basicamente se limita a uma linha radioluscente

metafisária, caracterizando a placa de crescimento aberta. É importante

comparar membros contralaterais (Johnson e Watson, 2004).

10. Osteopetrose

10.1. Considerações

A osteopetrose caracteriza-se por um defeito na reabsorção óssea, devido

à ausência de osteoclastos, uma diminuição no seu número ou uma

Page 39: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

49

incapacidade destes em reabsorver os ossos. Desse modo, ocorre um acúmulo

ósseo na diáfise. Esses ossos se tornam bastante frágeis, estando predispostos

a fraturas (Johnson e Watson, 2004).

10.2. Sinais radiográficos

Burk e Ackerman (1996a) cita como sinal radiográfico da osteopetrose a

esclerose medular, que apresenta aspecto radiográfico marmóreo densamente

homogêneo (Figura 14).

Figura 14. Osteopetrose em rádio e ulna (Johnson e Watson, 2004).

Page 40: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

50

11. Osteogênese Imperfeita

11.1. Considerações

A osteogênese imperfeita caracteriza-se por defeitos estruturais nas

fibrilas de colágeno. Com isso, os ossos se tornam mais frágeis e susceptíveis

a fraturas. Pode ocorrer também dentinogênese imperfeita, atraso no

crescimento e fraqueza (Johnson e Watson, 2004).

O principal motivo que leva os proprietários a procurarem o veterinário

são as fraturas múltiplas, com ou sem traumatismo prévio (Johnson e Watson,

2004).

11.2. Sinais radiográficos

Os sinais radiográficos da osteogênese imperfeita, de acordo com Burk e

Ackerman (1996a), são osteopenia generalizada, cortical diafisária adelgaçada

ou normal e fraturas múltiplas em vários estágios de união.

12. Retenção de Núcleos Cartilaginosos

12.1. Considerações

A retenção de núcleos cartilaginosos é um distúrbio no qual os

condrócitos hipertrofiados fisários não amadurecem e se acumulam em

colunas. A causa é desconhecida. As lesões geralmente são bilaterais e

assintomáticas (achado radiológico ocasional), mas podem causar atraso no

crescimento e deformidades ósseas (Johnson e Watson, 2004).

Page 41: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

51

12.2. Sinais radiográficos

Konde (1998) cita que a principal alteração encontrada na doença é a

presença de áreas radiotransparentes em formato de cone na metáfise ulnar

distal ou no côndilo femoral lateral.

A Figura 15 apresenta uma radiografia de retenção de núcleos

cartilaginosos, no posicionamento mediolateral.

Figura 15. Retenção de núcleos cartila-ginosos em ulna (Johnson e Watson, 2004).

Page 42: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

52

13. Osteopatia Craniomandibular

13.1. Considerações

A osteopatia craniomandibular caracteriza-se por proliferação óssea e

acomete principalmente cães jovens das raças Cairn Terrier, Scottish Terrier e

West Highland White Terrier. Myer (1998) sugere que o vírus da cinomose

pode estar envolvido na etiologia da doença.

A proliferação óssea ocorre nos ossos do crânio (bulas timpânicas, ossos

frontal, parietal e maxilar) e mandíbula, podendo causar tumefação articular,

ptialismo, dificuldade de preensão, dor ao abrir a boca e pirexia. Geralmente é

autolimitante, mas é preconizado o uso de antinflamatórios para alívio dos

sinais clínicos (Gonçalves et al, 2003).

13.2. Sinais radiográficos

Os achados radiográficos se concentram em proliferação óssea irregular

envolvendo mandíbula, bula timpânica e parte petrosa do osso temporal, como

citado por Johnson e Watson (2004).

A Figura 16 mostra uma peça anatômica com osteopatia

craniomandibular.

Page 43: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

53

Figura 16. Osteopatia craniomandibular (Johnson e Watson, 2004).

14. Exostoses Cartilaginosas Múltiplas

14.1 Considerações

As exostoses cartilaginosas múltiplas são protuberâncias que consistem

em osso esponjoso coberto por cartilagem hialina. A etiologia é desconhecida.

Além do esqueleto apendicular, podem acometer o esqueleto axial e as

cartilagens traqueais. Devem ser freqüentemente monitoradas, pois há risco de

transformação em condrossarcoma (Johnson e Watson, 2004).

Page 44: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

54

14.2. Sinais radiográficos

Como sinais radiográficos têm-se protuberâncias de tamanhos variáveis

com áreas radiopacas e radioluscentes no osso cortical (Figura 17). O osso

cortical pode não apresentar essas deformidades (Konde, 1998).

Figura 17. Exostoses cartilagi-nosas múltiplas (Hernández e Larrea, 1992).

15. Hemimelia

15.1. Considerações

Johnson e Watson (2004) caracterizam a hemimelia como ausência

completa ou parcial de um osso, prejudicando a função do membro e podendo

causar subluxação.

Page 45: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

55

15.2. Sinais radiográficos

Radiograficamente tem-se ausência completa ou parcial de um osso,

como pode ser visto na (Burk e Ackerman, 1996a).

16. Focomelia

16.1. Considerações

Caracteriza-se pela ausência de um segmento intercalado do membro.

Em casos graves pode haver apenas a pata com dedos rudimentares aderida ao

tronco. Ocorre deficiência funcional do membro e atrofia muscular (Johnson e

Watson, 2004).

16.2. Sinais radiográficos

Radiograficamente tem-se ausência de um segmento ósseo intercalado,

como citado por Johnson e Watson (2004).

17. Amelia

17.1. Considerações

Amelia é a ausência de um ou mais membros. A maioria dos animais

acometidos morre ou é submetida à eutanásia (Johnson e Watson, 2004).

Page 46: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

56

17.2. Sinais radiográficos

Caracteriza-se pela ausência de um ou mais membros (Johnson e

Watson, 2004).

18. Sindactilia

18.1. Considerações

Sindactilia é a fusão de dois ou mais dedos por uma união óssea ou de

tecido mole (Johnson e Watson, 2004).

18.2. Sinais radiográficos

Como sinal radiográfico tem-se a fusão de um ou mais dedos (Figura

18).

Page 47: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

57

Figura 18. Sindactilia (Johnson e Watson, 2004).

19. Polidactilia

19.1. Considerações

Caracteriza-se por dedos extranumerários, em geral no lado medial da

pata. Johnson e Watson (2004) reforçam que essa alteração não está associada

a sinais clínicos.

19.2. Sinais radiográficos

Como sinal radiográfico tem-se a presença de dedos extranumerários.

Page 48: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

58

20. Ectrodactilia

20.1. Considerações

É caracterizada pela fusão de metacarpos, produzindo uma fenda,

dividindo a pata em partes radial e ulnar. Pode resultar em um crescimento

ósseo assincrônico (Johnson e Watson, 2004).

20.2. Sinais radiográficos

Radiograficamente caracteriza-se pela presença de uma fenda entre os

metacarpos, contratura digital, aplasia digital, hipoplasia de metacarpo ou

fusão de metacarpos (Burk e Ackerman, 1996a), como demonstrado na Figura

19, em radiografias nos posicionamentos mediolateral e craniocaudal.

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59

Figura 19. Ectrodactilia (Johnson e Watson, 2004).

21. Hemiatrofia Segmentar

21.1. Considerações

Caracteriza-se por um encurtamento do membro devido a hipoplasia dos

ossos (Johnson e Watson, 2004).

21.2. Sinais radiográficos

Radiograficamente caracteriza-se pela presença de ossos menores e

malformados em relação ao membro contralateral.

Page 50: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

60

22. Ossificação Incompleta do Côndilo Umeral em Cães Spaniels

22.1. Considerações

A ossificação normal do côndilo umeral ocorre de 56 a 84 dias após o

nascimento. A ossificação incompleta do côndilo umeral pode estar associada

à fragmentação do processo coronóide medial da ulna e à doença articular

degenerativa (Konde, 1998).

22.2. Sinais radiográficos

Como apontado por Konde (1998), os sinais radiográficos são linha

radioluscente na área intercondilar umeral (se estendendo completa ou

parcialmente para a área fisária ou troclear) e reação periosteal lateral e caudal

ao côndilo umeral (Figura 20).

Page 51: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

61

Figura 20. Ossificação incom-pleta do côndilo umeral em cães Spaniels (Konde, 1998).

23. Anormalidades do Osso Sesamóide na Raça Rottweiler

23.1. Considerações

As anormalidades do sesamóide em Rottweilers geralmente não estão

associadas a sinais clínicos, sendo achado ocasional em exames radiográficos

(Burk e Ackerman, 1996a).

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62

23.2. Sinais radiográficos

Burk e Ackerman (1996a) aponta como sinal radiográfico o aumento da

radiopacidade dos sesamóides da articulação metacarpofalangeana dos dedos

II e IV.

24. Luxação Patelar

24.1. Considerações

A luxação patelar pode ser congênita ou adquirida. Ocorre geralmente

em cães de raças toy (Johnson e Watson, 2004)

24.2. Sinais radiográficos

Os sinais radiográficos são deslocamento patelar lateral ou medial,

desvio ósseo de fêmur e/ou tíbia, deslocamento da crista tibial e sinais de

doença articular degenerativa secundária (osteofitose e esclerose subcondral),

como lembrado por Burk e Ackerman (1996a). A luxação patelar, em

radiografias nos posicionamentos craniocaudal e mediolateral, está ilustrada

na Figura 21.

Page 53: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

63

Figura 21. Luxação patelar (Konde, 1998).

25. Vértebra Transicional

25.1. Considerações

Caracteriza-se por um alongamento do processo transverso vertebral,

geralmente em C7, T13, L7 ou S1. Esta condição normalmente é unilateral.

Podem ocorrer também alterações no número de vértebras e na forma dos

processos articulares vertebrais. Alguns autores sugerem uma correlação

positiva entre vértebra transicional e displasia coxofemoral ou síndrome da

cauda eqüina (LeCouteur e Grandy, 2004).

25.2. Sinais radiográficos

Como sinal radiográfico tem-se alongamento do processo transverso

vertebral, ficando semelhante a uma “costela” (Burk e Ackerman, 1996b). A

Page 54: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

64

Figura 22 mostra uma radiografia de vértebra transicional, no posicionamento

ventrodorsal.

Figura 22. Vértebra transicional (Hernán-dez e Larrea, 1992).

26. Hemivértebra

26.1. Considerações

Caracteriza-se por vértebras em formato de cunha. É mais comum em

cães braquicefálicos e de cauda “enrolada” (LeCouteur e Grandy, 2004).

Page 55: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES

65

26.2. Sinais radiográficos

Burk e Ackerman (1996b) cita como sinal radiográfico a ausência

parcial ou total do corpo vertebral.

27. Vértebra em Bloco

27.1. Considerações

Caracteriza-se pela fusão de corpos ou arcos vertebrais, ou mesmo de

processos espinhosos ou vértebras inteiras. O sacro é considerado uma

vértebra “normal” em bloco (LeCouteur e Grandy, 2004).

27.2. Sinais radiográficos

Caracteriza-se radiograficamente pela fusão de uma ou mais vértebras

adjacentes e espaço intervertebral ausente ou parcialmente visibilizado (Burk e

Ackerman, 1996b), como demonstrado na Figura 23, em uma radiografia na

posição laterolateral.

Figura 23. Vértebra em bloco (Burk e Ackerman, 1996b).

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66

28. Cifose e Escoliose

28.1. Considerações

Cifose é um arqueamento dorsal da coluna vertebral, enquanto escoliose

é um arqueamento lateral (LeCouteur e Grandy, 2004).

28.2. Sinais radiográficos

Caracterizam-se radiograficamente por deformidades do corpo vertebral

e das facetas articulares vertebrais, resultando no arqueamento da coluna em

cifose ou em escoliose (Burk e Ackerman, 1996b). A Figura 24 ilustra uma

radiografia de paciente com escoliose, no posicionamento ventrodorsal.

Figura 24. Escoliose (LeCou-teur e Grandy, 2004).

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29. Subluxação Atlantoaxial

29.1. Considerações

Caracteriza-se por subluxação, instabilidade ou malformação da

articulação atlantoaxial, sendo que a flexão da articulação pode resultar em

compressão da medula espinhal. Podem estar associadas também agenesia ou

hipoplasia do dente do áxis, desunião do dente com o áxis, ausência do

ligamento transverso do atlas e angulação dorsal do processo odontóide

(LeCouteur e Grandy, 2004).

LeCouteur e Grandy (2004) descrevem como sinais clínicos observados

tetraparesia, dor cervical discreta e, em casos mais graves, paralisia

respiratória.

29.2. Sinais radiográficos

Como achado radiográfico tem-se aumento da distância entre o arco

dorsal de C1 (atlas) e o processo transverso de C2 (áxis) (Burk e Ackerman,

1996b). A Figura 25 ilustra radiografias de subluxação atlantoaxial, ambas na

posição laterolateral.

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Figura 25. Subluxação atlantoaxial (Burk e Ackerman, 1996b).

30. Espinha Bífida

30.1. Considerações

A espinha bífida apresenta etiologia idiopática. Constitui uma falha na

fusão dos arcos vertebrais, com ou sem protrusão ou displasia da medula

espinhal e das meninges (LeCouteur e Grandy, 2004). Geralmente é um

achado radiográfico ocasional, mas pode resultar em sinais clínicos de

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mielopatia. LeCouteur e Grandy (2004) citam que essa alteração é mais

comum na coluna lombar.

30.2. Sinais radiográficos

Burk e Ackerman (1996b) caracteriza radiograficamente a espinha bífida

pela não-união do arco dorsal na linha média vertebral (Figura 26).

Figura 26. Espinha bífida (Burk e Ackerman, 1996b).

31. Displasia Esquelética (Osteocondrodisplasia)

31.1. Considerações

A osteocondrodisplasia corresponde a um grupo de condições de

desenvolvimento ósseo e/ou cartilaginoso anormal, resultando em

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deformidades (Johnson e Watson, 2004). São elas, segundo Burk e Ackerman

(1996a) e Johnson e Watson (2004):

• condrodisplasia do Elkhound Norueguês, do Grande Pirineus e do

Malamute do Alasca;

• displasia epifisária múltipla do Beagle e do Poodle (miniatura);

• displasia oftalmoesquelética do Retriever do Labrador e do Samoieda;

• encondrodistrofia do Pointer Inglês;

• encondromatose múltipla do Poodle (miniatura);

• hipocondroplasia do Setter Inglês;

• osteocondrodisplasia do Bull Terrier;

• pseudo-acondroplasia (osteocondrodisplasia) do Deerhound Escocês e

do Poodle (miniatura).

31.2. Sinais radiográficos

Os sinais radiográficos, segundo Burk e Ackerman (1996a) e Johnson e

Watson (2004), são:

• condrodisplasia do Elkhound Norueguês, do Grande Pirineus e do

Malamute do Alasca: caracteriza-se por corpo e membros encurtados,

metáfises achatadas e proeminentes para fora, vértebras mal

ossificadas e irregulares;

• displasia Epifisária Múltipla do Beagle e do Poodle (miniatura):

caracteriza-se por membros curtos, cifose, mineralização pontilhada

das epífises, vértebras curtas e quadris displásicos;

• displasia oftalmoesquelética do Retriever do Labrador e do Samoieda:

caracteriza-se por membros encurtados, ossos encurtados e

malformados e quadris displásicos;

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71

• encondrodistrofia do Pointer Inglês: caracteriza-se por membros

curtos e encurvados, placas de crescimento largas e irregulares;

• encondromatose múltipla do Poodle (miniatura): caracteriza-se por

membros encurvados, fraturas de colo femoral, áreas

radiotransparentes em metáfise e diáfise, diáfise deformada e ausência

de esterno;

• hipocondroplasia do Setter Inglês: caracteriza-se por membros e

coluna curtos, rádio, ulna e carpo encurvados;

• osteocondrodisplasia do Bull Terrier: caracteriza-se por focos não-

ossificados em colo femoral e metáfise de ossos longos, deformidades

ósseas e fraturas de colo femoral;

• pseudo-acondroplasia (osteocondrodisplasia) do Deerhound Escocês e

do Poodle (miniatura): caracteriza-se por membros curtos e

encurvados, cifose, ossificação irregular e tardia.

A Figura 27 mostra radiografias de condrodisplasia do Malamute do

Alasca, no posicionamento mediolateral e a Figura 28 apresenta radiografias

de displasia oftalmoesquelética do Retriever do Labrador, no posicionamento

mediolateral.

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Figura 27. Condrodisplasia em cão da raça Malamute do Alasca (Burk e Ackerman, 1996a).

Figura 28. Displasia oftalmoesquelética em cão da raça Retriever do Labrador (Johnson e Watson, 2004).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento osteoarticular normal nos cães se completa em torno

de 12 a 18 meses de idade, podendo chegar, em algumas raças, até a faixa

etária de 24 meses. As afecções do esqueleto jovem vão comprometer os cães

geralmente nessa faixa etária e seu diagnóstico precoce se torna importante

para maior sucesso terapêutico e interrupção da transmissibilidade genética.

O diagnóstico das alterações se faz essencialmente pelo uso de técnicas

de imaginologia, permitindo ao médico veterinário realizar o diferencial entre

elas, desde que o mesmo tenha conhecimento dos sinais radiográficos

específicos de cada afecção.