ASPECTOS SISTEMÁTICOS E BIONÔMICOS DOS QUIRÓPTEROS...

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MARCELO RODRIGUES NOGUEIRA ASPECTOS SISTEMÁTICOS E BIONÔMICOS DOS QUIRÓPTEROS DA REGIÃO DE JAÍBA, NORTE DE MINAS GERAIS Rio de Janeiro 1998

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MARCELO RODRIGUES NOGUEIRA

ASPECTOS SISTEMÁTICOS E BIONÔMICOS DOS QUIRÓPTEROS DA REGIÃO DE JAÍBA,

NORTE DE MINAS GERAIS

Rio de Janeiro

1998

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE BIOLOGIA

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL

ASPECTOS SISTEMÁTICOS E BIONÔMICOS DOS QUIRÓPTEROS DA REGIÃO DE JAÍBA,

NORTE DE MINAS GERAIS

MARCELO RODRIGUES NOGUEIRA

ORIENTADOR: PROF. DR. ADRIANO LÚCIO PERACCHI

Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências Biológicas, área de concentração em Biologia Animal. Seropédica, Rio de Janeiro Junho - 1998

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ASPECTOS SISTEMÁTICOS E BIONÔMICOS DOS QUIRÓPTEROS DA

REGIÃO DE JAÍBA, NORTE DE MINAS GERAIS

MARCELO RODRIGUES NOGUEIRA

Aprovado em:________________________

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Prof. Dr. Adriano Lúcio Peracchi - Presidente Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ____________________________________________

Prof. Dr. Eugênio Izecksohn Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ____________________________________________

Prof.a Dra. Helena de Godoy Bergallo Universidade do Estado do Rio de Janeiro

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“O homem nasceu para aprender,

aprender tanto quanto a vida lhe permita.”

João Guimarães Rosa

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À memória de meu pai,

que ilumina e firma meu caminho;

e à minha mãe,

que nunca deixou de apoiar

e incentivar meu trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Sou profundamente grato ao Prof. ADRIANO LÚCIO PERACCHI, não só por sua

orientação segura, como por todas as facilidades proporcionadas para execução desta

tese, e principalmente pela confiança que espero ter retribuído ao longo desses já

passados três anos de convivência produtiva. Da mesma forma, expresso aqui minha

gratidão a outras pessoas cuja participação foi essencial para realização deste trabalho.

Ao amigo e “companheiro de laboratório” ANDRÉ POL, que tendo tido

oportunidade de desenvolver pesquisas na região de Jaíba, contribuiu de várias formas

para o presente estudo, seja através de suas observações de campo, seja pelos espécimes

colecionados e dados meteorológicos (obtidos junto à Estação Agroclimática de

Mocambinho) que me foram postos à disposição, ou mesmo pelo precioso material

fotográfico gentilmente cedido e que ilustra a presente dissertação.

Ao amigo FERNANDO MARTINS COSTA, biólogo com quem trabalhei no projeto

Jaíba, e ao mateiro UELDO DOS SANTOS, o “BAIANO”, pelo valoroso auxílio que

prestaram durante as atividades de campo.

Ao guarda florestal MARCOS ANTÔNIO DA COSTA, responsável pela Reserva

Biológica de Jaíba e que também colaborou em diversas coletas.

À SYTEC 3 ENGENHARIA E CONTROLE DE CORROSÃO LTDA., que na qualidade

de gestora dos serviços de Monitoramento, Deslocamento e Salvamento da Fauna do

Projeto Jaíba, mantido pela CODEVASF, tornou possível o acesso a esta importante

região.

Ao amigo ANDRÉ MARIZ DA SILVA, apreciador e estudioso dos quirópteros, que

ainda no início dos meus trabalhos de campo na região de Jaíba demonstrou-me a

técnica de extração (via oral) do crânio dos morcegos.

Ao amigo e “companheiro de laboratório” BENEDITO DAS NEVES COSTA, o

“ALEMÃO”, pelo auxílio na preparação dos crânios dos morcegos.

À especialista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro MARLI PIRES MORIM DE

LIMA pela identificação de Calliandra sp..

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Ao grande amigo RODRIGO MEIRELES DE PINILLA, pela reconstrução gráfica e

adaptação do mapa que caracteriza a região de Jaíba, e pelas adaptações introduzidas no

mapa referente aos limites das caatingas.

Ao técnico da Biblioteca do Museu Nacional do Rio de Janeiro, ANTÔNIO

CARLOS GOMES LIMA, pela amizade e solicitude com que sempre me auxiliou na busca

dos artigos científicos e outros afins.

Aos colegas e professores do Curso de Pós-graduação em Biologia Animal, pela

convivência agradável e sempre construtiva.

E por fim, um agradecimento especial à minha companheira de todas as horas,

CAROLINA PARREIRAS HORTA ROCHA, que colaborou de diversas maneiras para que este

trabalho se concretizasse, tendo participado não só das atividades de campo, como de

toda a elaboração do documento final.

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SUMÁRIO

Lista de Figuras .............................................................................................. x Lista de Tabelas ............................................................................................. xi Resumo........................................................................................................ xiii Abstract ....................................................................................................... xiv

1. Introdução..................................................................................................... 1 2. Área de Estudo

2.1. Localização ......................................................................................... 4 2.2. Geomorfologia ................................................................................... 4 2.3. Clima .................................................................................................. 6 2.4. Vegetação ......................................................................................... 12

3. Material e Métodos .................................................................................... 15 4. Resultados e Discussão

• Rhynchonycteris naso ........................................................................ 23 • Peropteryx macrotis .......................................................................... 30 • Peropteryx kappleri ........................................................................... 34 • Noctilio albiventris ............................................................................ 36 • Noctilio leporinus .............................................................................. 42 • Micronycteris sanborni ..................................................................... 44 • Tonatia bidens ................................................................................... 49 • Tonatia saurophila ............................................................................ 53 • Phyllostomus discolor ....................................................................... 56 • Phyllostomus hastatus ....................................................................... 59 • Lonchophylla mordax........................................................................ 62 • Glossophaga soricina ....................................................................... 66 • Carollia perspicillata ........................................................................ 71 • Sturnira lilium ................................................................................... 77 • Uroderma magnirostrum .................................................................. 80 • Platyrrhinus lineatus ......................................................................... 83 • Artibeus lituratus ............................................................................... 86 • Artibeus planirostris ......................................................................... 89 • Desmodus rotundus ........................................................................... 94 • Diphylla ecaudata ........................................................................... 101 • Myotis nigricans .............................................................................. 104 • Eptesicus furinalis ........................................................................... 108 • Molossops planirostris .................................................................... 111 • Molossus ater .................................................................................. 115 • Molossus molossus .......................................................................... 122 • Nyctinomops laticaudatus ............................................................... 125

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5. Discussão Geral 5.1. Distribuição Geográfica ................................................................. 128 5.2. Morfometria ................................................................................... 129 5.3. Hábitos Gerais ................................................................................ 132 5.4. Reprodução ..................................................................................... 138

6. Conclusões................................................................................................. 141 7. Anexo

7.1. Conservação ................................................................................... 143

8. Referências Bibliográficas ....................................................................... 148

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LISTA DE FIGURAS

1. Localização da região de Jaíba ........................................................................... 5 2. Médias mensais de temperatura e precipitação: 1984-1994 ............................... 7 3. Médias mensais de temperatura e precipitação: 1994-1995 ............................... 8 4. Área geral do domínio das caatingas .................................................................. 9 5. Mapa de isoietas anuais .................................................................................... 10 6. Mapa de índice xerotérmico ............................................................................. 11 7. Afloramento calcário do Morro Solto .............................................................. 18 8. Dreno Jaíba ....................................................................................................... 19 9. Reserva Biológica de Jaíba ............................................................................... 19 10. Campus Avançado de Monitoramento ............................................................. 20 11. Bebedouro de gado da Fazenda Solagro .......................................................... 20 12. Distribuição horária da ocupação de abrigo por R. naso e N. albiventris ........ 27 13. Colônia de R. naso abrigada sob ponte ............................................................ 28 14. P. kappleri em cavidade calcária ...................................................................... 35 15. N. albiventris da região de Jaíba ...................................................................... 41 16. Colônia de N. albiventris abrigada em ponte ................................................... 41 17. M. sanborni da região de Jaíba e M. minuta do Rio de Janeiro ....................... 48 18. T. saurophila do estado do Acre ...................................................................... 55 19. Horário de atividade de P. discolor .................................................................. 58 20. L. mordax da região de Jaíba ............................................................................ 64 21. Horário de atividade de G. soricina ................................................................. 69 22. Horário de atividade de C. perspicillata .......................................................... 76 23. U. magnirostrum do estado do Acre ................................................................ 81 24. Horário de atividade de A. planirostris ............................................................ 92 25. Espécime de D. rotundus em cavidade calcária ............................................... 98 26. Colônia de D. rotundus em cavidade calcária .................................................. 98 27. Horário de atividade de D. rotundus ................................................................ 99 28. M. nigricans e E. furinalis da região de Jaíba ................................................ 106 29. M. planirostris da região de Jaíba .................................................................. 114 30. Horário de atividade de M. ater ...................................................................... 119 31. M. molossus da região de Jaíba e do Rio de Janeiro ...................................... 124 32. Canal de irrigação ........................................................................................... 135 33. Afloramento calcário do Morro Solto: evidência de degradação ................... 145

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LISTA DE TABELAS

1. Análise morfométrica de R. naso ..................................................................... 24 2. Medidas de R. naso: América Central e do Sul, Suriname e região de Jaíba ... 25 3. Análise morfométrica de P. macrotis ............................................................... 31 4. Medida de P. macrotis: Guiana Francesa, Pernambuco, região de Jaíba, Espírito Santo e São Paulo ................................................................................ 32 5. Análise morfométrica de N. albiventris ........................................................... 37 6. Medidas de N. albiventris: Ilha de Marajó, região de Jaíba e São Paulo ......... 38 7. Análise morfométrica de M. sanborni com medidas da série tipo e de M. minuta .......................................................................................................... 46 8. Análise morfométrica de T. bidens................................................................... 50 9. Medidas de T. bidens da região de Jaíba, São Paulo e Paraguai ...................... 51 10. Medidas de T. saurophila da região de Jaíba, e de T. s. bakeri e T. s. maresi ........................................................................................................ 54 11. Análise morfométrica de P. discolor ................................................................ 57 12. Análise morfométrica de P. hastatus ............................................................... 60 13. Análise morfométrica de L. mordax ................................................................. 62 14. Medidas de L. mordax de Pernambuco e região de Jaíba................................. 63 15. Análise morfométrica de G. soricina ............................................................... 67 16. Medida de G. soricina da América do Norte, Nordeste do Brasil, região de Jaíba e São Paulo............................................................................... 68 17. Análise morfométrica de C. perspicillata ........................................................ 72 18. Medidas de C. perspicillata do Nordeste do Brasil, Região de Jaíba e São Paulo .......................................................................................................... 73 19. Análise morfométrica de S. lilium .................................................................... 78 20. Análise morfométrica de U. magnirostrum ...................................................... 80 21. Análise morfométrica de P. lineatus ................................................................ 83 22. Medidas de P. lineatus: Nordeste do Brasil, região de Jaíba, São Paulo e Uruguai ............................................................................................................. 84 23. Análise morfométrica de A. lituratus ............................................................... 86 24. Medidas de A. lituratus: Nordeste e Sul do Brasil, região de Jaíba e São Paulo .......................................................................................................... 87 25. Análise morfométrica de A. planirostris .......................................................... 89 26. Medidas de A. planirostris: Nordeste do Brasil, região de Jaíba, São Paulo e

Argentina .......................................................................................................... 91 27. Análise morfométrica de D. rotundus .............................................................. 95 28. Medidas de D. rotundus: Nordeste do Brasil, região de Jaíba e São Paulo ..... 96 29. Análise morfométrica de D. ecaudata ............................................................ 102 30. Medidas de D. ecaudata: Américas Central e do Sul, Pernambuco, região de Jaíba, Espírito Santo, São Paulo e Bolívia ................................................. 103 31. Medida de E. furinalis do Ceará e da região de Jaíba .................................... 109 32. Analise morfométrica de M. planirostris ....................................................... 112 33. Medidas de M. planirostris: Guiana, Nordeste do Brasil região de Jaíba, São Paulo e Paraguai....................................................................................... 113 34. Análise morfométrica de M. ater ................................................................... 116

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35. Medidas de M. ater: Suriname, região de Jaíba, Paraguai e Argentina .......... 117 36. Análise morfométrica de M. molossus ........................................................... 123 37. Medidas de N. laticaudatus: Pernambuco, região de Jaíba, São Paulo, Bolívia e Rio Grande do Sul ........................................................................................ 126 38. Distribuição das espécies por estação ............................................................ 133 39. Distribuição mensal de fêmeas em atividade reprodutiva .............................. 139

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RESUMO

Entre abril de 1994 e março de 1995 foi realizado um inventário da

quiropterofauna nas áreas sob influência do Projeto de Irrigação do Jaíba

(CODEVASF), norte do Estado de Minas Gerais. Os resultados deste estudo, abordando

aspectos sistemáticos e bionômicos das espécies levantadas, constituem a matéria da

presente dissertação. A amostragem nos diferentes ambientes que caracterizam esta

região, situada no extremo sul do domínio das caatingas, foi conduzida essencialmente

com o uso de redes de espera armadas ao nível do chão. Os 425 exemplares capturados

permitiram a identificação de 26 espécies, incluindo-se novos registros não só para

Minas Gerais como para o Sudeste brasileiro. Em 8 espécies encontrou-se evidências,

ainda em caráter preliminar, de uma variação clinal envolvendo o leste brasileiro, com

espécimes mais ao norte apresentando menores dimensões. Outras 2 espécies parecem

seguir um gradiente inverso. Dimorfismo sexual secundário estatisticamente significante

foi constatada em 50% ou mais dos caracteres analisados de 3 das 7 espécies

investigadas com este propósito.

A maioria das espécies amostradas evidenciou considerável capacidade

adaptativa frente às alterações antrópicas, podendo até se beneficiar das novas

condições. Algumas, entretanto, tiveram sua presença sempre associada a formações

florestais como é o caso das insetívoras catadoras. Os afloramentos calcários presentes

na região representam um tipo de hábitat aparentemente essencial para a manutenção da

riqueza de espécies registrada no presente estudo, fornecendo tipos específicos de abrigo

(fendas e cavidades naturais) e provavelmente alimento não disponíveis em outros

hábitats amostrados. Morcegos insetívoros foram predominantemente capturados nas

duas primeiras horas após o por do sol, enquanto não insetívoros tiveram registros de

captura mais distribuídos ao longo do período das coletas. Apesar da escassez de dados

referentes ao período de seca, uma esperada estacionalidade no padrão reprodutivo da

maioria das espécies foi corroborada pelo elevado número de fêmeas lactantes obtidas

no início e no final do período chuvoso.

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ABSTRACT

A survey of the chiropteran fauna was conducted between April 1994 and

May 1995 in the areas under influence of Projeto de Irrigação do Jaíba (CODEVASF),

located north of the state of Minas Gerais. Results of this work, involving systematic

and bionomic aspects of the species, constitute the subject of the present dissertation.

The sampling was done in the different environments found in this region, located in

the extreme south of the caatingas. It was conducted essentially with mist-nets set up at

ground level. 425 specimens were captured and 26 species identified, including new

records, not only for Minas Gerais, but also for the Brazilian southeast. In 8 species,

preliminary evidences of clinal variation involving eastern Brazil were found, with

northern specimens presenting smaller dimensions. Other 2 species seem to follow an

inverse gradient. The existence of a significant secondary sexual dimorphism was

verified in 50% or more of the analysed characters in 3 of the 7 species studied with this

purpose.

Most species sampled demonstrated considerable capacity of adaptation

when faced with antropic disturbance, being able to find ways to benefit from new

conditions. Some, however, were always found associated to forest formations, as in the

case of foliage gleaning insectivorous. The limestone outcrops occurring in this region

represent a type of habitat apparently essential for the maintenance of the richness of

species recorded in the present study, providing specific types of roosts (natural

crevices and cavities) and probably food, not available in other habitats sampled.

Insectivorous bats were captured predominantly in the first two hours after sunset,

while non-insectivorous bats had their records of capture more evenly distributed

throughout the sampling period. In spite of the scarcity of data concerning the dry

season, an expected sazonality in the reproductive pattern of most of the species was

corroborated by the high number of lactating females obtained at the beginning and at

the end of the rainy season.

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1 - INTRODUÇÃO

A quiropterofauna neotropical é a mais rica do mundo, apresentando uma

diversidade trófica e morfológica, bem como uma abundância numérica superior a de

qualquer outra região tropical (Findley, 1993). Wilson (1996) listou para esta província

zoogeográfica 266 espécies de morcegos que correspondem a cerca de 29% das 925

reconhecidas por Koopman (1993) em relação à ordem Chiroptera. De 1994 a 1997

foram descritas pelo menos 5 novas espécies não incluídas na lista proposta por Wilson

(1996): Micronycteris sanborni (Simmons, 1996); Anoura luismanueli (Molinari,

1994); Lasiurus ebenus (Fazzolari-Corrêa, 1994); Lasiurus atratus e Histiotus

humboldti (Handley, 1996). Dentre estas, duas (M. sanborni e L. ebenus) resultaram de

estudos conduzidos no Brasil, onde 139 espécies estão assinaladas (Aguiar & Taddei,

1995; Simmons, 1996)

Assim como já amplamente demonstrado em diversas áreas de florestas úmidas

neotropicais de terras baixas (cf. Voss & Emmons, 1996), morcegos parecem constituir,

também em biomas climaticamente mais secos, o principal contribuinte para diversidade

de mamíferos. Nos cerrados são conhecidas 80 espécies de morcegos que correspondem

a 42% dos mamíferos desse bioma e 60% dos quirópteros brasileiros (Marinho-Filho,

1996a). Willig & Mares (1989) apresentaram uma lista de mamíferos das caatingas que,

apesar de incompleta, como mencionado pelos autores, mostra situação similar a

observada nos cerrados, sendo morcegos responsáveis por 57,5% da mastofauna.

A pressão de seleção que resulta do impacto dos ambientes físicos e das

interações bióticas forma os padrões bionômicos, únicos em cada espécie e que

correspondem a uma combinação adaptativa de características populacionais (Odum,

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1988). Em linhas gerais, a bionomia de uma espécie corresponde a sua história de vida

(Odum, 1988), e apesar de geralmente associada apenas à estratégias reprodutivas,

assume aqui um significado mais amplo, abrangendo tanto aspectos bioecológicos

quanto comportamentais. Como mencionado anteriormente, a diversidade dos

quirópteros neotropicais não reflete-se apenas no número de espécies, representando tais

aspectos, um vasto campo de pesquisas.

Preferências de hábitat, estratégias de forrageio e hábitos alimentares, constituem

áreas essenciais no estudo da bionomia dos quirópteros, e que permanecem praticamente

desconhecidas para maioria das espécies (Willig et al., 1993; Fenton, 1997). Uma

melhor compreensão de tais áreas implicará não somente em significantes avanços no

estudo da ecologia de comunidades (Willig et al., 1993), como também na elucidação de

questões básicas referentes à elaboração de planos de conservação (Fenton, 1997). Não

obstante, para se assentar firmemente as bases que impulsionam análises ecológicas,

numéricas, evolutivas ou citogenéticas sobre um determinado grupo zoológico, torna-se

preponderante a clarificação de sua taxonomia e distribuição geográfica, um dos

principais fatores de desenvolvimento do seu conhecimento científico (Barquez, 1987).

Ao longo de trabalhos de campo conduzidos pelo autor em áreas sob influência

do Projeto de Irrigação do Jaíba (Codevasf), norte de Minas Gerais, procedeu-se um

inventário da quiropterofauna cujos resultados, abordando aspectos sistemáticos e

bionômicos das espécies, constituem a matéria da presente dissertação. Além da

ocorrência de afloramentos calcários, que lhe atribuem grande valor na conservação dos

quirópteros, esta região notabiliza-se ainda, no contexto dos estudos biogeográficos, por

estar situada no extremo sul do domínio das caatingas (Andrade-Lima, 1981) e bem

próximo à área de ocorrência dos cerrados (Magalhães, 1966). Dentre a complexidade

de fitofisionomias, que lá integram um verdadeiro mosaico, destacam-se as caatingas

arbóreas, consideradas de extrema raridade nos dias atuais (Andrade-Lima, 1981;

Fernandes & Bezerra, 1990).

Segundo Oliveira et al. (1994) a mastofauna dessa região é aparentemente

limítrofe na distribuição de diversas espécies e encontra-se extremamente mal

representada em coleções sendo desconhecida em sua maioria. Estes autores assinalaram

para a referida área 9 espécies de morcegos dentre as quais Eumops perotis, que figura

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como uma das três espécies de morcegos neotropicais ameaçados de extinção na

concepção de Wilson (1996).

Com o intuito de contribuir para o conhecimento da quiropterofauna nessa região

de notória importância sob os mais variados enfoques, pretendeu-se atingir aqui os

seguintes objetivos:

- Fornecer uma lista dos quirópteros com ocorrência na região de Jaíba.

- Apresentar dados morfométricos e bionômicos sobre as espécies, incluindo

informações a respeito do uso de hábitat, horário de atividade e reprodução.

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2 - ÁREA DE ESTUDO

2.1 - LOCALIZAÇÃO

A região de Jaíba aqui referida corresponde às áreas sob influência do Projeto de

Irrigação do Jaíba, que situa-se, em relação à divisão regional do Estado de Minas

Gerais, na zona do Alto-Médio São Francisco, extremo norte do Estado (Panoso et al.,

1976) (figura 1). Localizada entre os paralelos 14o33’ e 15o28’S, e os meridianos 43o29’

e 44o6’W, esta região, conhecida como “Mata da Jaíba”, limita-se a norte e a leste com

o rio Verde Grande, a oeste com o rio São Francisco, e ao sul com o córrego Escuro e

riacho Serraria (Panoso et al., 1976).

A maioria das áreas amostradas encontra-se nos arredores da localidade de

Mocambinho (ca. 15o05`S, 44o00`W), junto à margem direita do rio São Francisco, no

município de Jaíba. Coletas ocasionais foram realizadas ainda na Reserva Biológica de

Jaíba (ca. 15o05’S, 43o45’W), situada no município limítrofe de Matias Cardoso (ca.

14o50’S, 43o55’W) (figura 1).

2.2 - GEOMORFOLOGIA

Na vasta região da depressão formada pela bacia do médio rio São Francisco,

Mauro et al. (1982) identificaram três unidades geomorfológicas dentre as quais está o

Vão do São Francisco, onde situa-se a área aqui estudada. O relevo desta unidade

é caracterizado por extensos planos inclinados, modelados em grande parte, sobre

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Figura I: Localização da reglao Jaíba no Estado de Minas Gerais. Estações de cQleta situaram-se nos arredores da localidade de Mocambinho (I) e na Reserva Biológica de Jaíba (2). (Adaptado de Panoso el ai., 1976.)

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litologias do grupo Bambuí (Mauro et al., 1982). Datado do eo-Cambriano, este grupo

está representado na região de Jaíba por rochas argilo-siltosas associadas a calcários e

lentes de quartizito, mais restritamente arcósio, aflorando em todas as elevações entre

500 e 800m, e aparecendo também em pequenas depressões formando lagedos de rocha

nua. O calcário encontrado na área é normalmente cinza escuro, compacto,

microcristalino e as vezes oolítico (Bruno, 1976).

Além do grupo Bambuí, a coluna estatigráfica na região de Jaíba é ainda

composta pela Formação das vazantes, datada do Quaternário, e pelas Formações

Flúvio-lacustres, associadas ao Cenozóico superior (Bruno, 1976). Quanto à hidrografia

superficial, a área é bem servida de cursos d’água perenes, no que difere de regiões

semi-áridas típicas (Del Rey & DIJ, 1991). De maior importância, no presente estudo,

destacam-se o rio São Francisco e o riacho Mocambinho. Ligado à lagoa do Sossego,

marginal ao rio São Francisco, ocorre também um dreno natural, denominado riacho

Tapera ou Dreno Jaíba, que apresenta água quando há extravasamento do rio e da lagoa

(Del Rey & DIJ, 1991).

As cotas altimétricas variam de 440 a 445m no terraço do fluvial das margens do

São Francisco; de 450 até pouco mais de 500m no terraço elevado que cobre a maior

parte da área; atingindo 724m no ponto culminante que encontra-se na Serra Azul

(Panoso et al., 1976).

2.3 - CLIMA

Na classificação proposta por Nimer (1989) o clima da região de Jaíba é do tipo

semi-árido brando ou de transição, caracterizando-se principalmente pela ocorrência de

seis meses secos. Segundo dados fornecidos pela Estação Agroclimática de

Mocambinho - 83389 -EPAMIG/FEMO, a média do total anual de precipitação entre

janeiro de 1984 e dezembro de 1994 foi 832mm, sendo julho o mês com precipitação

média mais baixa (1,7mm) e dezembro o mês com a média mais elevada (236,9mm).

Para o mesmo período a temperatura média anual correspondeu a 26,6oC, notando-se em

julho a menor média mensal (24,5oC) e em outubro a mais elevada (28,4oC) (figura 2).

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Figura 2: Médias mensais de precipitação e temperatura correspondentes ao período de janeiro de 1984 a dezembro de 1994 na localidade de Mocambinho, município de Jaíba. Dados fornecidos pela Estação Agroclimática de Mocambinho.

Analisando-se especificamente o período de estudo, compreendido entre abril de

1994 e março de 1995, é notável uma redução no total anual da precipitação (427,5mm)

em relação ao observado na média dos últimos dez anos (832mm). No período

climaticamente seco que caracteriza a região (maio a outubro) houve uma total ausência

de chuvas, tendo fevereiro, mês com média mais elevada, apresentado precipitação de

139,4mm. A temperatura média anual foi 26,6oC e os meses de junho, com 24,8oC, e

outubro, com 29,8oC, corresponderam, respectivamente, aos de menor e maior

temperatura média (figura 3).

A região aqui estudada inclui-se no chamado “polígono das secas” (figura 4) e

está associada ao domínio das caatingas não só através da isoieta anual de 1000mm

(figura 5) como também do índice xerotérmico (100-150) (figura 6) (Andrade-Lima,

1981). Segundo Nimer (1989), o clima semi-árido brando está geralmente associado a

uma caatinga arbórea ou de transição.

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Figura 3: Médias mensais de precipitação e temperatura, correspondentes ao período de abril de 1994 a março de 1995, na localidade de Mocambinho, município de Jaíba. Dados fornecidos pela Estação Agroclimática de Mocambinho.

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Figura 4: Área geral do domínio das caatingas. A linha ponti lhada marca os limites do polígono das secas no qual se inclui a região de Jaíba (O) (Adaptado de Andrade-Lima, 1981 ).

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Figura 5: Mapa de isoietas anuais. O limite da área das caatingas corresponde, aproximadamente, a isoieta de iODO mm (Adaptado de Andrade-Lima, 1981; fonte primária: Nimer, 1972).

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Figura 6: Mapa de índice xeroténnico. A vegetação das caatingas ocupa, aproximadamente, a área delimitada pela linha i = 100-150 (Adaptado de Andrade-Lima, 1981).

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II.4 - VEGETAÇÃO

Considerando-se a distribuição dos grandes tipos vegetacionais brasileiros, a

maioria dos estudos consultados inclui a região de Jaíba no extremo sul do domínio das

caatingas e bem próximo a área de ocorrência dos cerrados (Eiten, 1972, 1983; Romariz,

1974; Ferri, 1980; Andrade-Lima, 1981; Fernandes & Bezerra, 1990; Rizzini, 1997),

razão pela qual apresenta elementos de ambos bem como elementos próprios em função

de particularidades ambientais (Del Rey & DIJ, 1991).

Veloso et al. (1991), entretanto, em sua classificação da vegetação brasileira

adaptada a um sistema universal enquadram a chamada “Mata da Jaíba”, como floresta

estacional decidual sub-montana, e destacando sua complexidade florística, citam a

presença de ecótipos savanícolas (dos cerrados) e florestais mesofanerófitos deciduais.

A dificuldade de se caracterizar esta região foi discutida ainda por (Silva & Assis, 1982)

que, dentro do Projeto Radam Brasil, a definiram como um ecótono entre a floresta

estacional decidual e a estepe (caatinga).

De acordo com Eiten (1972), a oeste da Bahia e noroeste de Minas Gerais

localiza-se a maior parte da borda entre os cerrados e as caatingas, e partindo-se de

Goiás em direção leste o clima vai ficando mais seco até alcançar uma amplitude de

precipitação em que ambos os tipos vegetacionais podem ocorrer, sendo o fator

determinante o tipo de rocha e o solo que esta produz. Esta faixa de transição está bem

documentada na região em torno de Januária (Azevedo, 1966; Magalhães, 1966), cidade

situada na margem esquerda do rio São Francisco a cerca de 60Km de Mocambinho

(figura 1). Lá, Azevedo (1966) constatou que o aparecimento dos cerrados está

estreitamente relacionado às áreas mais ricas em sílica, enquanto as caatingas têm sua

ocorrência associada ao calcário. Ainda em Januária, estudos conduzidos por Ratter et

al. (1978) chamam a atenção para a caatinga arbórea presente na região e que,

corroborando as observações de Azevedo (1966), encontra-se desenvolvida sobre solos

calcários.

Ao propor os limites da distribuição geográfica do domínio das caatingas,

Andrade-Lima (1981) enfatizou as dificuldades de estabelecer a linha sul, que envolve a

transição para um tipo arbóreo de cerrado - o cerradão, e a presença de uma floresta,

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considerada por alguns autores simplesmente como uma mata seca alta, mas que pelas

espécies, caducidade das folhas e ocorrência de árvores em “forma de garrafa”, foi

incluída dentre os 12 tipos de caatingas reconhecidos por este autor. Ainda segundo

Andrade-Lima (1981), esta forma arbórea de caatinga associada a solos derivados

principalmente de rochas calcárias do grupo Bambuí, tem em Tabebuia, Aspidosperma,

Astronium e Cavanillesia seus gêneros mais característicos, distribuindo-se ao norte de

Minas Gerais e centro-sul da Bahia.

As conclusões de Andrade-Lima (1981) encontram apoio no estudo de

Magalhães & Ferreira (1976) sobre a vegetação da região de Jaíba. De acordo com os

resultados apresentados por estes últimos autores, a referida área pode ser integrada à

faixa das caatingas não só pelas características fisionômicas que apresenta, como pela

ocorrência comum de espécies padronizadoras desta formação.

Além da proximidade com o domínio dos cerrados, outros fatores como a

presença marcante do rio São Francisco e coleções d’água a ele associadas, a ocorrência

de afloramentos calcários, e a influência antrópica, contribuem para a heterogeneidade

de fisionomias encontradas na região e que foram assim denominadas por Magalhães &

Ferreira (1976): Formação Florestal (Perenifólia, Sub-Caducifólia e Caducifolia);

Caatinga Hipoxerófila (= Caatinga Arbórea), Caatinga Hiperxerófila; Campos de Várzea

e Campos Antrópicos. Sobre os resultados de Magalhães & Ferreira (1976), Andrade-

Lima (1981) fez a seguinte consideração: “Ambas as florestas sub-descíduas e descíduas

descritas por estes autores incluem uma alta proporção de espécies genuínas da caatinga,

apesar da moderada secura da área permitir que algumas espécies mesofíticas cresçam

ao longo de um gradiente natural”.

Incluindo estudos botânicos e fitossociológicos, o relatório elaborado pela Del

Rey Engenharia e Distrito de Irrigação do Jaíba (1991) constitui o trabalho mais

aprofundado a que se teve acesso sobre áreas influenciadas pelo Projeto de Irrigação do

Jaíba. Caatinga Arbórea (mata xerófila caducifólia), Mata Estacional Sub-Caducifólia,

Cerradão, Carrasco e Campos do Dreno, constituem as formações descritas neste

relatório, onde é ressaltada a importância da vegetação de Jaíba, não só por sua

localização dentro do esquema fitogeográfico brasileiro (no limite sul das caatingas e

próximo aos cerrados), como também pela ocorrência das caatingas arbóreas, que

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acham-se amplamente distribuídas na região, e segundo Fernandes & Bezerra (1990) são

de extrema raridade nos dias atuais.

Em função da marcante sazonalidade na distribuição das chuvas, a vegetação da

região de Jaíba mostra-se adaptada a intensa seca que estende-se de maio a outubro,

através da caducifolia neste período, quando a monotonia acinzentada da paisagem (ver

figura 9) é quebrada por poucas espécies como o joazeiro (Ziziphus joazeiro), a

quixabeira (Bumelia sertorum) e a pitombeira (Talisia esculenta). Quando ocorrem as

primeiras chuvas, geralmente no final de outubro, os indivíduos rebrotam rapidamente e

a vegetação, em poucos dias, se cobre novamente de verde (Del Rey & DIJ, 1991).

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3 - MATERIAL E MÉTODOS

Os trabalhos de campo foram desenvolvidos entre abril de 1994 e março de

1995, dentro do programa de monitoramento faunístico mantido pela CODEVASF, em

áreas sob influência do Projeto de Irrigação do Jaíba - Etapa I. Com o intuito de se

amostrar a quiropterofauna nos diferentes ambientes encontrados na região, foram

estudadas 8 estações caracterizadas abaixo com base em Magalhães & Ferreira (1976) e

Del Rey & DIJ (1991):

1. Morro Solto - Com cotas altimétricas acima dos 500m, representa uma das

poucas elevações presentes na área em estudo. Trata-se de um afloramento de calcário

calcítrico do grupo do Bambuí (Bruno, 1976), bastante fraturado e erodido pelas chuvas,

tendo-se observado inúmeras fendas e cavidades de variadas dimensões. A vegetação

que ocupa afloramentos desse tipo é a Caatinga Hiperxerófila, com predominância de

cactáceas, bromeliáceas e veloziáceas. As espécies mais comuns são Opuntia inamoena

(quipá), Peireskia bahiensis, Melocactus sp. (coroa de frade), Pilocereus sp., Bromelia

lacinosa (macambira) e Neoglaziovia variegata (caroá). Formando densos

agrupamentos, observou-se também a freqüente ocorrência de Encholirium spectabile

(macambira-de-lageiro ou macambira-de-flecha). Andrade-Lima (1977), em estudo

detalhado sobre a flora das área erodidas de calcário Bambuí, em Bom Jesus da Lapa,

Bahia, cita além de cactáceas, bromeliáceas e euforbiáceas, a presença de Cecropia sp.

(embaúba) e Ficus sp. (gameleira), espécies mesófilas também observadas no Morro

Solto, e que desenvolvem-se em depressões mais profundas onde há acúmulo de água e

solo.

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A formação predominante ao redor do afloramento é a Floresta Caducifólia (=

Caatinga Arbórea sobre Dolinas), cujo estrato arbóreo caracteriza-se por espécies que

podem alcançar de 15 a 30m de altura, destacando-se a presença de Cavanillesia

arbórea (barriguda lisa), Schnopsis brasiliensis (braúna); Astronium urundeuva

(aroeira), Anadenanthera macrocarpa (angico), Cedrela fissilis (cedro), Cabralea

cangerana (cangerana), Bursera leptophoeus (imburana de cambão), Tabebuia sp.,

Aspidosperma pyrifolium e A. populifolium. Na figura 7 pode-se observar um trecho do

afloramento calcário do Morro Solto com os diferentes tipos de vegetação à ele

associados.

2. Dreno Jaíba - É uma depressão natural, também conhecida como riacho

Tapera, que surge em continuação à lagoa do Sossego. Inunda-se durante o período

chuvoso quando há extravasamento do rio São Francisco e da lagoa. Às suas margens

encontra-se a Floresta Sub-Caducifólia (figura 8), que apresenta dossel descontínuo e

estrato superior atingindo 19m de altura. As árvores altas mais comuns são: Astronium

urundeuva (aroeira); Schnopsis brasiliensis (braúna); Bombax sp. (embiruçu); Jatropha

urens; Cnidosculus marcgravii (cansanção); Tabebuia avellanedae (pau d’arco roxo);

Pterogyne nitens (carne de vaca); Enterolobium contortissiliquum e E. schomburgkii

(tamboril); Aspidosperma populifolium (peroba tambú); Cedrela fissilis (cedro).

Em estreitas faixas junto à Floresta Sub-Caducifólia ocorre o Cerradão, que

apresenta uma estratificação simples com árvores do andar superior atingindo 10m de

altura. Nesta formação ocorrem, dentre outras espécies, Astronium cf. fraxinifolium

(aroeira), Hymenaea sp. (jatobá), Aspidosperma sp. (pau de leite), Tabebuia caraiba

(pau d’arco amarelo) e Jacaranda sp. (jacaranda mimoso). Espécies de Bauhinia

encontram-se presentes no estrato arbustivo tanto da Floresta Sub-Caducifólia quanto do

Cerradão.

Cobrindo a área do dreno, que inunda-se durante a época chuvosa, encontra-se

uma formação denominada Campos do Dreno. É composta por inúmeras espécies

herbáceas das famílias Cyperaceae (Rhynchospora sp.), Compositae (Vernonia sp.),

Leguminosae (Bauhinia sp.; cf. Rhyncosia sp.), Solanaceae (Solanum americanum;

Solanum sp.), Onagraceae (Ludwigia sp.), Oxalidaceae (Oxalis sp.), entre outras que

formam um tapete herbáceo denso permanecendo verde o ano todo. Cabe ressaltar que

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ao longo do período de trabalho, o local onde foram realizadas as coletas manteve

considerável espelho d’água mesmo durante os meses de seca.

3. Reserva da Fazenda Yamada - Coberta também pela Floresta Sub-

Caducifólia onde notou-se ainda a presença de Ceiba sp. (barriguda de espinho) e

Cereus jamacaru (mandacaru).

4. Reserva Biológica de Jaíba - Abrange 6.358ha e caracteriza-se por uma

vegetação de transição entre a Floresta Caducifólia (= Caatinga Arbórea sobre Dolinas)

e a Caatinga Hipoxerófila (= Caatinga Arbórea) (figura 9). Este tipo de formação é

bastante freqüente em relação às demais presentes na região de Jaíba. Apresenta árvores

de alturas variadas entre 6 e 12m, irregularmente espaçadas e de fustes finos em relação

à suas alturas. O estrato arbustivo é variado em espécies, com numerosos cipós (ex.

Passiflora sp.), algumas cactáceas do gênero Cereus , bromeliáceas como o “caroá”

(Neoglaziovia variegata), e gramíneas. Das árvores de ocorrência comum destacam-se:

Jatropha urens (cansanção), Caesalpinia pyramidalis (catingueira), Acacia sp.

(angiquinho), Ceiba sp. (barriguda de espinho), Cassia excelsa (canjão), etc. Dentre os

arbustos podem ser citadas Cassia sericea, Bougainvillea glabra (três marias),

Cochlospermum insigne, Alamanda blanchetii, Croton sp. (velame), Mimosa sp.,

Stachytarphetta elatior, e Calliandra sp..

5. Riacho Mocambinho - Excetuando-se os rios São Francisco e Verde Grande,

este é o único curso d’água perene presente na região. Sua mata ciliar está incluída na

Formação Perenifólia, cujas árvores mais comuns são: Hymenaea martiana (jatobá da

vazante); Geoffroea spinascens (marizeiro); Triplaris pachau (pagéu); Pterogyne nitens

(carne de vaca); Zizyphus joazeiro (joazeiro); Mouriria sp. (cruili); Sapindus saponaria

(sabão de gentio); Genipa americana (jenipapo); Celtis sp. e Bumelia sertorum

(quixabeira). Dentre os arbustos destacam-se Cassia sp., Myrciaria sp., Mimosa sp. e

Solanum sp.

A vegetação em torno da mata ciliar no local de coleta, junto à confluência com

o rio São Francisco, é do tipo Campos de Várzea. Esta caracteriza-se por uma

fisionomia arbustiva - herbácea, sempre verde, muito devastada e modificada pela ação

antrópica. Alguns arbustos com ocorrência registrada incluem-se nos gêneros Cassia,

Solanum e Croton.

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6. CAM (Campus Avançado de Monitoramento) - Localiza-se nas

proximidades do rio São Francisco e sua cobertura vegetal está associada às formações

Campos de Várzea e Campos Antrópicos (figura 10). Esta última constitui-se de

arbustos, ervas e árvores esparsas, incluindo espécies invasoras e da flora regional.

Arbustos nativos dos gêneros Cassia, Solanum, Mimosa e Croton podem ser

encontrados. Observou-se também a presença de Hymenaea sp. Uatobá) e mais

freqüentemente de exemplares de Calliandra sp ..

7. Fazenda Solagro - Nessa localidade as coletas foram realizadas em um

bebedouro de gado que permaneceu com espelho d'água mesmo durante os meses

secos. A vegetação em tomo é do tipo Campos Antrópicos (figura 11).

8. Lote agrícola - Unidade básica na estrutura do Projeto de Irrigação do Jaíba,

e onde um dos principais produtos cultivados é a banana (Musa spp.). No lote onde

foram realizadas as coletas, além das plantações de banana, haviam ainda árvores

frutíferas como goiabeiras (Psidium guayava) e mangueiras (Mangifera indica).

Figura 7: Afloramento calcário do Morro Solto, reglaO de Jaíba, MG. Em primeiro plano observa-se a Caatinga Hiperxerófila, e ao fundo uma formação de Caatinga Arbórea.

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Figura 8: Floresta Sub-Caducifólia à margem de àrea alagada no Dreno Jaíba, MG.

Figura 9: Vista geral da Reserva Biológica de Jaíba, MG, durante o período de seca.

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Figura 10: Vegetação de Campos Antrópicos em tomo do CAM (Campus Avançado de Monitoramento), região de Jaíba, MG.

Figura 11: Bebedouro de gado na Fazenda Solagro, região de Jaíba, MG. (Foto: A. pol.)

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Os morcegos foram, em sua grande maioria, capturados com o auxílio de redes

de espera (mist nets) armadas logo antes do pôr do sol, em trilhas no interior ou borda

de áreas florestadas, junto à refúgios, coleções d’água, e recursos alimentares, além de

outros possíveis locais de vôo. O período em que as redes se mantiveram abertas variou,

no geral, entre 3 e 6 horas após o pôr do sol. Também foram efetuadas capturas manuais

em forros de residências no CAM e no núcleo urbano de Mocambinho, bem como em

uma cisterna abandonada na Reserva Biológica de Jaíba. O número de redes utilizadas à

cada coleta variou de 1 a 4 conforme as oportunidades oferecidas em cada local.

Excluindo-se as coletas diurnas, foram realizadas 32 sessões de captura, 10 das quais

destinadas à amostragem do afloramento calcário do Morro Solto, priorizado por sua já

relatada importância na conservação dos quirópteros.

Depois de retirados das redes os morcegos eram acondicionados em sacos de

pano, passando em seguida por uma triagem onde registrava-se o horário de captura, sua

identificação preliminar, tamanho do antebraço, sexo e condição reprodutiva. O

tamanho do antebraço, bem como o de todas as demais medidas somáticas e também

cranianas aqui apresentadas, foi obtido com o auxílio de um paquímetro com precisão

de 0,05mm. Como indicativos de atividade reprodutiva das fêmeas considerou-se a

ocorrência de gravidez (feto detectável por apalpação) e lactação (presença de leite). Em

relação aos machos, o posicionamento dos testículos (abdominal ou excrotado) não foi

considerado em face a sua já constatada imprecisão como indicador de atividade

reprodutiva (cf. Reis, 1980; Racey, 1988).

Na análise do padrão de atividade horária das espécies mais freqüentes procedeu-

se um nivelamento do esforço amostral, já que como mencionado anteriormente a

duração das coletas foi variável. Isto foi obtido incluindo-se nas análises apenas os

indivíduos capturados em coletas com similar período de exposição das redes, ou ainda

restringindo-se a incluir aqueles que resultaram do maior esforço comum às coletas em

que a espécie foi amostrada. Através de observação direta junto à abrigo diurno, os

hábitos gerais de R. naso e N. albiventris foram investigados mais detalhadamente,

tendo-se obtido a maioria das informações durante 4 noites (duas inteiras e duas

parciais) em outubro de 1994.

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Uma coleção representativa dos quirópteros da região, preparada com o intuito

de se obter uma identificação segura do material, subsidiou o estudo sistemático aqui

apresentado. Os exemplares foram sacrificados em recipiente contendo éter, sendo, em

sua maioria, fixados em formol 10% e preservados em álcool 70%. Alguns espécimens

foram taxidermizados. Este material foi incorporada à coleção A. L. Peracchi,

atualmente depositada no Instituto de Biologia da UFRRJ.

Para todas as espécies amostradas são apresentadas 10 medidas (antebraço e 9

cranianas) usuais na literatura abordando a sistemática dos quirópteros. Estas foram

tomadas como descrito por Williams et al. (1995), tendo-se adotado no decorrer do

texto as seguintes abreviações: An - antebraço; Ctc - comprimento total do crânio

(incluindo os incisivos); Ccb - comprimento côndilo-basal (excluindo os incisivos); Lz -

largura zigomática; Cpo - constrição pós-orbital; Lcx - largura da caixa craniana; Lmt -

largura mastóidea; C-M - comprimento da série de dentes maxilares; Lm - largura

externa do molares superiores; Lc - largura externa dos caninos superiores. Quando

pertinente, entretanto, medidas adicionais importantes na caracterização de grupos ou

espécies particulares, são fornecidas citando-se a referência adotada para efetivação das

mesmas.

Em função do dimorfismo sexual secundário, já conhecido para diversas

espécies, dados morfométricos são apresentados separadamente em relação à machos e

fêmeas. Em conformidade com o adotado por Willig (1983), considerou-se 3 espécimes

a amostra mínima para análises estatísticas. Quando se obteve pelo menos 3 exemplares

de cada sexo, além de se proceder uma análise descritiva dos dados aplicou-se o teste t

para verificar a ocorrência de dimorfismo sexual secundário significante nas espécies.

Todos os exemplares incluídos em tais análises foram considerados adultos, com base

no grau de ossificação das epífises. As medidas referentes aos espécimes, apresentadas

nas tabelas e ao longo do texto, encontram-se todas em mm. A dimensão apresentada

para os embriões corresponde ao maior comprimento dos mesmos em posição natural.

Na organização sistemática e nomenclatura das espécies adotou-se as

proposições de Koopman (1993), enquanto em relação à ordem de citação das mesmas

seguiu-se Cabrera (1958).

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4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Família Emballonuridae Gervais, 1856

Rhynchonycteris naso (Wied-Neuwied, 1820)

- Localidade tipo: Brasil, Bahia, Rio Mucuri.

- Distribuição: Leste de Oaxaca e Veracruz central (México) até o centro e leste do

Brasil, Peru, Bolívia, Guiana Francesa, Guiana, e Suriname; Trinidad (Koopman, 1993).

- Material examinado: 26 exemplares (7 machos e 19 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 17 exemplares (4 machos e 13 fêmeas). Machos:

ALP 6844 (11-IV-94); ALP 6918 (23-X-94); ALP 6931, 6933 (24-X-94). Fêmeas: ALP

6845, 6850 (11-IV-94); ALP 6919 (23-X-94); ALP 6924, 6925, 6927, 6929, 6930,

6934, 6935, 6936, 6937, 6938 (24-X-94).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para R. naso encontram-

se na tabela 1. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 6,42% (Cpo dos machos) e o

menor, 0,39% (Lz dos machos). As médias das medidas obtidas para machos e fêmeas

não apresentaram um padrão claro de variação associada ao sexo. Fêmeas foram, em

média maiores que os machos em 5 dos 10 caracteres examinados (An, Lz, Lcx, Lmt e

Lm), mas nível estatisticamente significante de dimorfismo sexual (P < 0,05) não foi

obtido em nenhum deles. Já os machos foram, em média, maiores que as fêmeas nos 5

caracteres restantes (Ctc, Ccb, Cpo, C-M e Lc), notando-se nível significante de

dimorfismo em apenas um (Lc). Contudo, quando em relação ao tamanho do antebraço

aumenta-se a amostragem dos machos através da inclusão de dados de indivíduos

mensurados e soltos, nota-se uma diferença entre as médias resultantes (N = 3, An -

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39,7; N = 6, An - 38,95) que amplia para um nível estatisticamente significante (P =

0,0195) a divergência entre machos e fêmeas em relação à este caracter. Tal fato indica

que a pequena amostragem utilizada em relação aos machos pode estar falseando os

resultados obtidos. De acordo com Sanborn (1937), fêmeas são, em média, maiores que

os machos tanto no tamanho do antebraço quanto em medidas cranianas.

Tabela 1: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Rhynchonycteris naso provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 3) Fêmeas (N = 9)

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) DP CV teste t

An 39,70 (38,0-40,8) 1,49 3,76 41,01 (39,15-43,1) 1,34 3,28 0,1849 Ctc 12,35 (12,3-12,4) 0,05 0,40 12,19 (11,75-12,5) 0,21 1,76 0,2543 Ccb 11,10 (11,0-11,2) 0,10 0,90 11,07 (10,7-11,35) 0,22 1,97 0,8076 Lz 7,33 (7,3-7,35) 0,03 0,39 7,36 (7,15-7,6) 0,15 2,08 0,8133 Cpo 2,70 (2,6-2,9) 0,17 6,42 2,59 (2,4-2,8) 0,14 5,36 0,2810 Lcx 6,27 (6,1-6,4) 0,15 2,44 6,44 (6,3-6,7) 0,13 2,03 0,0776 Lmt 6,63 (6,55-6,7) 0,08 1,15 6,69 (6,5-6,8) 0,11 1,60 0,3896 C-M 4,42 (4,4-4,45) 0,03 0,65 4,39 (4,3-4,5) 0,07 1,55 0,6047 Lm 4,58 (4,45-4,75) 0,15 3,33 4,64 (4,5-4,85) 0,13 2,77 0,5087 Lc 3,43 (3,3-3,5) 0,12 3,36 3,20 (3,0-3,4) 0,15 4,69 0,0352*

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; Valores de P menores que 0,05 (*) indicam existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.

Sanborn (1937) apresentou extremos de medidas de R. naso baseados em uma

coleção de 233 espécimes provenientes de diversas localidades ao longo da área de

distribuição da espécie, mas não inclui material do Sudeste brasileiro. Comparando-se

esses dados aos aqui obtidos nota-se que os exemplares do norte de Minas Gerais

apresentam dimensões, no geral, grandes para a espécie, algumas delas excedendo o

extremo superior apresentado por Sanborn (1937) (Ccb, Lz, Cpo, Lcx e Lm), ou ainda

não se sobrepondo às medidas por ele relatadas (Ctc). Observou-se também, que as

médias obtidas à partir de medidas de R. naso fornecidas por Husson (1962) para o

Suriname são consideravelmente menores que as reportadas aqui para a maioria dos

caracteres analisados (tabela 2). Infelizmente, a escassez de dados morfométricos

referentes à este embalonurídeo, principalmente em território brasileiro, não permite

uma interpretação acurada sobre um possível padrão de variação geográfica nesta

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espécie. Patterson (1992) mencionou extremos e médias das medidas de alguns

espécimes procedentes da Amazônia brasileira (Amazonas e Pará), tendo tratado

conjuntamente machos e fêmeas. Sobre este material foi possível constatar que, em

relação aos valores médios, tanto os machos quanto as fêmeas do norte de Minas Gerais

apresentaram medidas superiores. Outras dimensões, na maioria das vezes apenas

externas, de espécimes de R. naso procedentes do Brasil, foram relatadas por Lima

(1926), Vieira (1942) e Carter & Dolan (1978). Destes apenas Vieira (1942) discriminou

medidas (externas) de um espécime do Sudeste brasileiro (Espírito Santo) que

apresentava 37,0 de antebraço.

Tabela 2: Extremos de medidas de Rhynchonycteris naso fornecidas por Sanborn (1937) para diversas localidades das Américas Central e do Sul (AC/AS), e pelo presente estudo para região de Jaíba, MG; além de médias relatadas por Husson (1962) para o Suriname, e pelo presente estudo para Minas Gerais. Machos e Fêmeas Machos Fêmeas

Caracter AC/AS MG Suriname MG Suriname MG

An 35,3-40,7 38,0-43,1 37,9 39,70 38,6 41,01 Ctc 11,2-11,6 11,75-12,5 11,7 12,35 11,74 12,19 Ccb 10,0-11,2 10,7-11,35 10,4 11,10 10,36 11,07 Lz 6,7-7,3 7,15-7,6 6,93 7,33 7,04 7,36 Cpo 2,3-2,8 2,4-2,9 2,42 2,70 2,36 2,59 Lcx 5,7-6,5 6,1-6,7 6,02 6,27 6,14 6,44 Lmt 6,3-6,8 6,5-6,8 6,44 6,63 6,48 6,69 C-M 4,3-4,7 4,3-4,5 4,34 4,42 4,32 4,39 Lm 4,2-4,7 4,45-4,85 4,22 4,58 4,58 4,64 Lc 3,1-3,5 3,0-3,5 2,95 3,43 3,2 3,20

Tamanho das amostras: AC/AS - 233 M/F; MG - 12 M/F; Suriname - 5 M e 5 F; MG - 3 M e 9 F.

- Hábitos gerais: Duas colônias de R. naso, com cerca de 80 e 10 indivíduos,

respectivamente, foram encontradas sob ponte de madeira no riacho Mocambinho, onde

algumas observações sobre a espécie foram conduzidas (Nogueira & Pol, no prelo).

Nessa localidade, refúgios naturais foram vistos sendo explorados apenas de forma

secundária, quando, depois de perturbados, os morcegos partiam em grupo, voando

próximo a água, até um tronco de árvore situado na margem do riacho a cerca de 50m

da ponte. Outro tronco localizado a mesma distância e que pendia sobre o riacho na

margem oposta também era utilizado.

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A presença de R. naso em áreas sob considerável ação antrópica demonstra

certo grau de plasticidade dessa espécie frente as alterações ambientais. Abrigos

artificiais podem ser mais propícios do que os naturais já que, apesar da disponibilidade

de recursos providos pela mata ciliar, ambas as colônias observadas utilizavam uma

ponte como refúgio primário. Sabendo-se que o tamanho de colônias desta espécie na

Costa Rica variava entre 3 e 45 indivíduos (Bradbury & Vehrencamp, 1976) e no

México, em sua maioria, entre 10 e 25 (Dalquest, 1957), o número de cerca de 80

indivíduos aqui citado pode ser considerado elevado. Como constatado por Marques

(1985a) em relação à presença do frugívoro Carollia perspicillata (Phyllostomidae) em

bueiros, o tamanho do abrigo pode ser o fator determinante, já que em duas pontes

menores localizadas na mesma região, colônias de R. naso restringiram-se a cerca de 30

indivíduos (A. Pol, com. pess.). Como ocorre na maioria das espécies que ocupam

construções humanas e cavernas como refúgio (Lewis, 1995), as colônias de R. naso

mostraram-se fiéis ao abrigo (ponte), permanecendo nele durante todo período de

estudo.

Todos os exemplares de R. naso obtidos foram coletados em redes armadas

sobre o riacho Mocambinho nas imediações do abrigo já citado. Integrantes das

referidas colônias partiam para o forrageio cerca de 25min após o pôr do sol, retornando

em média 01:20h mais tarde. Tal regresso, entretanto, restringia-se a uma parcela

estimada em torno de 30 a 40% do total de morcegos observados, notando-se dentre

estes a presença de fêmeas que haviam deixado seus filhotes no abrigo. Por volta das

04:00h os exemplares de R. naso presentes na ponte saíam para um segundo forrageio e,

entre 05:00 e 05:10h, cerca de 20min antes do nascer do sol, retornavam juntamente

com os demais componentes das colônias.

Estes dados apontam um padrão bimodal de atividade com forrageios ao final

do crepúsculo e antes da alvorada. Estratégia similar foi observada, também no presente

estudo, em relação a duas colônias de N. albiventris, espécie predominantemente

insetívora (Hood & Pitocchelli, 1983) e que partilhava o abrigo com R. naso. Uma

sobreposição na atividade noturna dessas espécies pode ser evidenciado através da

figura 12 onde apresenta-se o número estimado de indivíduos, em cada uma delas, que

ocupavam a ponte ao longo do período de observação. O padrão bimodal aqui referido

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tem sido citado para outros morcegos que, a exemplo de R. naso, são exclusivamente

insetívoros (Anthony & Kunz, 1977; Marques, 1986; Chase et al., 1991), podendo

refletir uma maior abundância na disponibilidade de insetos, como sugerido por

Marques (1986).

020406080

100120140160180200220

17:00 19:00 21:00 23:00 1:00 3:00 5:00

Horas

Número de indivíduos

R. naso

N. albiventris

Figura 12: Número estimado de indivíduos de R. naso e de N. albiventris que partilhavam abrigo sob ponte no riacho Mocambinho, região de Jaíba, MG. Morcegos presentes às 17:00 e às 5:00h constituíam as colônias que ocupavam o local como abrigo diurno.

O retorno parcial dos integrantes das colônias de R. naso sugere a utilização de

abrigos secundários durante a noite, fato também observado por Dalquest (1957) no

México. O riacho Mocambinho, onde grupos de R. naso foram observados voando até

1,5m acima da superfície da água, e o rio São Francisco, para onde diversos exemplares

se dirigiam, por certo constituem áreas de forrageio desta espécie. Estes dados

corroboram as citações de Plumpton & Jones (1992) e Kalko (1995) dando conta de que

morcegos dessa espécie forrageiam quase exclusivamente sobre a água, caçando insetos

até cerca de 3m acima da superfície.

Na menor colônia os indivíduos apresentavam um padrão oval de distribuição

espacial, enquanto na estimada em 80 morcegos, além deste arranjo, formações lineares

e indivíduos isolados sem compor um aparente padrão foram também observados, o que

pode indicar a formação de subgrupos. A distância entre os indivíduos incluídos nos

agrupamentos variou, em média, de 1 a 15cm.

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pode indicar a formação de subgrupos. A distância entre os indivíduos incluídos nos

agrupamentos variou, em média, de 1 a 15cm.

As duas colônias de N. albiventris que coabitavam a ponte sobre o riacho

Mocambinho com R. naso, ocupavam cada uma um lado da ponte, de forma similar à

observada nesta última espécie. Notou-se, entretanto, que uma competição direta por

espaço é evitada, jà que enquanto R. naso abrigava-se sob as vigas de madeira (figura

13), tratando-se de espécie mais adaptada à luminosidade, N. albiventris ocupava as

frestas entre as vigas (figura 16) (mas veja também comentàrios sobre N. albiventris).

Figura 13: Colônia de Rhynchonycteris naso abrigada sob ponte de madeira na região de Jaiba, MG. (Foto: A. Pol.)

- Reprodução: Em observações realizadas no mês de outubro, quando as colônias de R.

naso atravessavam período reprodutivo, notou-se que as mães deixavam seus filhotes no

abrigo durante o forrageio. Alguns destes foram vistos em pequenos vôos de

aprendizado sempre junto à ponte. Ao retornar cada temea pousava ao lado de seu

filhote e tocando-lhe com o antebraço parecia dar-lhe um sinal para que ele se juntasse

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mãe erguia a parte anterior de seu corpo, aumentando o espaço entre ela e a superfície

do abrigo.

Notou-se a presença de uma colônia maternidade, composta por cerca de 9

indivíduos adultos, e que situava-se mais ao centro da ponte, isolada das demais

colônias posicionadas uma em cada lateral. Os riscos à manutenção da prole neste local,

onde a queda de um filhote diretamente sobre a água poderia ser fatal, parece não

constituir restrição para R. naso. A separação das fêmeas durante o período reprodutivo

foi mencionada anteriormente por Dalquest (1957) e Bradbury & Vehrencamp (1976),

destacando o primeiro autor que, em tal época, fêmeas com filhotes procuram abrigos

mais seguros como ocos de árvores. Contudo, constatou-se no presente estudo que, ao

contrário do observado por Dalquest (1957), as fêmeas podem permanecer com seus

filhotes no mesmo abrigo, utilizando local distinto e que pode ser, aparentemente, ainda

mais exposto que o da colônia principal.

Duas fêmeas grávidas coletadas em outubro apresentavam-se em final de

gestação. Fêmeas lactantes foram coletadas em abril (1) e outubro (5). Esses dados,

aliados ao fato de que fêmeas em atividade reprodutiva não foram observadas na região

estudada durante o período de seca (A. Pol, com. pess.), sugerem um padrão poliestro

bimodal, com nascimentos ocorrendo no início e ao final do período chuvoso. Esta

sazonalidade reprodutiva foi constatada também por Bradbury & Vehrencamp (1976) na

Costa Rica, verificando-se, entretanto, que em certas partes de sua distribuição R. naso

pode reproduzir-se ao longo de todo o ano (Plumpton & Jones, 1992). O caráter

assincrônico dos partos, característico nesta espécie (Bradbury & Vehrencamp, 1976),

também foi registrado no presente estudo através da constatação simultânea de uma

fêmea grávida e filhotes em diferentes estágios de desenvolvimento.

Uma fêmea em período final de gestação e mantida por algumas horas em saco

de pano até que pudesse ser solta após o fechamento das redes, abortou um filhote com

18,6mm de antebraço (43,5% do antebraço materno), o corpo já recoberto por pêlos de

coloração similar a dos adultos, e os tufos brancos no antebraço, característicos da

espécie, já presentes. Considerando-se que colônias desta espécie utilizam abrigos

expostos, como os aqui mencionados, e que a cor dos pêlos nos adultos propicia certo

grau de camuflagem protetora (Hill & Smith, 1984), as duas últimas características

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mencionadas anteriormente podem influenciar na sobrevivência dos filhotes, já que

estes permanecem no abrigo durante o forrageio dos adultos. Registros da predação, em

abrigo diurno, de R. naso por aves de rapina como Buteo magnirostris e Falco

rufigularis podem ser encontrados na literatura (cf. Husson, 1962).

Dois filhotes capturados manualmente no abrigo e que foram vistos executando

pequenos vôos de aprendizado sob a ponte mediam respectivamente 33,2 e 33,6mm de

antebraço. Segundo Plumpton & Jones (1992) filhotes de R. naso atingem o tamanho

adulto em cerca de 2 semanas, demonstrando um rápido desenvolvimento pós-natal

quando comparado, por exemplo, ao frugívoro Carollia perspicillata. Nesta última

espécie neonatos levam 6 semanas até que seus antebraços atinjam o tamanho adulto

(Fleming, 1988).

Apenas em uma ocasião capturou-se uma fêmea carregando seu filhote em vôo,

o que provavelmente deveu-se a perturbação provocada pela movimentação da coleta

junto ao abrigo. Davis (1970) referiu-se a diversos casos de transporte de filhotes

citados na literatura, como tendo sido ocasionados por distúrbio, não representando um

comportamento normal das espécies. Na região cárstica do Vale do Ribeira, São Paulo,

Trajano (1984) raramente coletou fêmeas carregando seus filhotes, constatando ainda,

através de observação direta em colônias do insetívoro P. macrotis (Emballonuridae),

que nesta espécie tal estratégia não é adotada.

Peropteryx macrotis (Wagner, 1843)

- Localidade tipo: Brasil, Mato Grosso.

- Distribuição: Guerrero e Yucatan (México) até o Peru, Paraguai, e sul/leste do Brasil;

Trinidad e Tobago; Ilha de Margarita (Venezuela); Aruba (Antilhas Holandesas);

Granada (Koopman, 1993).

- Material examinado: 10 exemplares (6 machos e 4 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 8 exemplares (5 machos e 3 fêmeas). Machos: ALP

6939 (25-X-94); ALP 6969 (20-II-95); ALP 6981, 6982, 6983 (1-III-95). Fêmeas: ALP

6858 (14-VI-94), ALP 6904 (14-X-94), ALP 6988 (1-III-95).

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- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para P. macrotis

encontram-se na tabela 3. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 7,44% (Cpo dos

machos) e o menor, 0,46% (Lcx dos machos). Todas as médias das medidas das fêmeas

foram superiores as dos machos, tendo-se verificado níveis significantes de dimorfismo

sexual (P < 0,05) em 7 dos 10 caracteres examinados (An, Ctc, Ccb, Lz, C-M, Lm e Lc).

Tabela 3: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Peropteryx macrotis provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 4) Fêmeas (N = 3)

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) DP CV p

An 38,50 (38-39,4) 0,62 1,62 41,97 (41,6-42,4) 0,40 0,96 0,0004* Ctc 13,10 (13-13,2) 0,12 0,88 14,00 (13,9-14,1) 0,10 0,71 0,0001* Ccb 12,03 (11,85-12,35) 0,22 1,84 12,92 (12,75-13,25) 0,29 2,23 0,0055* Lz 7,68 (7,45-7,9) 0,19 2,52 8,15 (7,9-8,35) 0,23 2,81 0,0307* Cpo 2,76 (2,5-2,95) 0,21 7,44 2,88 (2,8-2,95) 0,08 2,65 0,3855 Lcx 6,28 (6,1-6,6) 0,23 3,59 6,33 (6,3-6,35) 0,03 0,46 0,6817 Lmt 7,08 (6,85-7,35) 0,24 3,39 7,30 (7,25-7,35) 0,05 0,68 0,1787 C-M 5,00 (4,9-5,05) 0,07 1,41 5,33 (5,25-5,4) 0,08 1,43 0,0019* Lm 5,53 (5,3-5,75) 0,23 4,21 5,98 (5,9-6,05) 0,08 1,28 0,0236* Lc 3,04 (3-3,15) 0,07 2,47 3,45 (3,4-3,55) 0,09 2,51 0,0011*

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; Valores de P menores que 0,05 (*) indicam existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.

Os dados mais abrangentes disponíveis atualmente sobre a morfometria P.

macrotis, incluindo amostragens de diversas localidades ao longo de sua distribuição

geográfica, foram apresentados por Sanborn (1937). Das 3 subespécies por ele

reconhecidas, P. m. macrotis seria a única com ocorrência no continente Sul-americano,

tendo o referido autor examinado 187 espécimes correspondentes à esta forma, dentre os

quais alguns procedentes de Minas Gerais. À exceção do tamanho do antebraço das

fêmeas (41,6-42,4), cujas medidas foram ainda menores que o extremo inferior (43,5)

proposto por Sanborn (1937), todas as demais dimensões aqui obtidas concordam com

as fornecidas por este autor.

Comparando-se as médias das medidas aqui apresentadas com as reportadas por

Willig (1983) para uma coleção proveniente das caatingas de Pernambuco (15 machos e

7 fêmeas), nota-se, de forma mais evidente nos machos, que os espécimes do norte de

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Minas Gerais possuem dimensões menores que os do Nordeste. Tal tendência sobressai-

se ainda mais quando o cotejo é feito em relação a material da Guiana Francesa referido

por Brosset & Charles-Dominique (1990). Dimensões de 1 macho proveniente do

Estado de São Paulo e de 1 fêmea do Espírito Santo foram apresentadas,

respectivamente, por Vieira (1942) e por Ruschi (1951e). Em ambos os casos as

medidas apresentadas foram, em geral, superiores às obtidas para o material do norte de

Minas Gerais (tabela 4). Amostragens mais consistentes, principalmente nas áreas mais

ao sul da distribuição da espécie, são necessárias para averiguar se a diferenciação

observada deve-se ao acaso ou realmente reflete um padrão de variação geográfica.

O dimorfismo sexual secundário aqui observado, com fêmeas sendo maiores do

que machos, corrobora os resultados obtidos por Willig (1983) em sua análise

morfométrica sobre este embalonurídeo.

Tabela 4: Médias de medidas de Peropteryx macrotis apresentadas por Brosset & Charles-Dominique (1990) para a Guiana Francesa (GF), por Willig (1983) para Pernambuco (PE), e por este estudo para a região de Jaíba, MG; além de dimensões individuais fornecidas por Vieira (1942) para o Estado de São Paulo (SP), por Ruschi (1951e) para o Espírito Santo (ES), e também por Brosset & Charles-Dominique (1990) para a Guiana Francesa. Machos Fêmeas

Caracter GF PE MG SP GF PE MG ES

An 43 42,0 38,5 41,0 45,48 43,57 41,97 44,0 Ctc 14 13,75 13,1 16,0 14,68 13,99 14,0 15,5 Ccb - 12,74 12,03 - - 13,03 12,92 - Lz 7,9 8,15 7,68 9,0 8,52 8,31 8,15 8,5 Cpo 2,8 2,47 2,76 - 2,72 2,5 2,88 3,5 Lcx - 6,49 6,28 - - 6,49 6,33 - Lmt - 7,25 7,08 - - 7,27 7,3 - C-M 5,3 5,49 5,0 7,5 5,74 5,53 5,33 6,0 Lm 6 6,02 5,53 - 6,58 6,48 5,98 - Lc - 3,47 3,04 4 - 3,67 3,45 3,5

Tamanho das amostras: GF - 1 M e 5 F; PE - 15 M e 7 F; MG - 4 M e 3 F; SP - 1 M; ES - 1 F.

- Hábitos gerais: Espécie amostrada exclusivamente no afloramento de calcário do

Morro Solto. Indivíduos isolados e pequenos grupos de 2 a 5 morcegos foram

freqüentemente observados abrigando-se junto à entrada de cavidades em locais

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expostos a luminosidade mas protegidos da incidência direta dos raios solares. Em uma

ocasião registrou-se a presença de 2 exemplares, distantes cerca de 1,5m um do outro,

ocupando a entrada de uma cavidade onde D. rotundus formava colônia estimada em

150 indivíduos. Todos os espécimes foram capturados na 1a hora após o pôr do sol,

indicando atividade crepuscular já descrita para este insetívoro aéreo por Willig (1983) e

Trajano (1984).

Diversos autores tem mencionado a presença de P. macrotis junto à entrada de

cavidades (Ruschi, 1951e; Genoways et al., 1981; Myers et al., 1983; Trajano, 1984;

Bredt & Uieda, 1996), existindo ainda aqueles que referem-se a utilização de cavidades

bem iluminadas (Sanborn 1937; Goodwin & Greenhall, 1961). Outros tipos de abrigo

assinalados na literatura incluem fendas entre rochas (Sanborn, 1937; Genoways et al.,

1981; Peracchi & Albuquerque, 1986, Willig 1983), troncos ocos (Emmons, 1990) e

construções humanas, tais como túneis, bueiros (Willig, 1983; Emmons, 1990), forros

de igrejas (Goodwin & Greenhall, 1961), e telhados de prédios e casas (Bredt e Uieda,

1996). Colônias desta espécie têm sido encontradas tanto em área rural (Peracchi &

Albuquerque, 1986; Bredt & Uieda, 1996) como em meio urbano (Bredt & Uieda,

1996), o que demostra grande plasticidade comportamental frente às alterações

ambientais. É possível que na área aqui estudada sua ocorrência não esteja estritamente

associada aos afloramentos calcários.

Quanto ao tamanho das colônias, os pequenos grupos aqui observados parecem

ser uma característica da espécie, já que na grande maioria dos trabalhos consultados o

número de indivíduos mencionados variou 1 a 10 indivíduos (Goodwin & Greenhall,

1961; Peracchi & Albuquerque, 1986; Trajano, 1984; Willig, 1983; Brosset & Charles-

Dominique, 1990). A associação com D. rotundus foi constatada também por Coimbra

et al. (1982) e Trajano (1984), havendo ainda registros de coabitação com pelo menos

16 outras espécies (Ruschi, 1951e; Goodwin & Greenhall, 1961; Trajano, 1984;

Graham, 1987).

Vocalizações emitidas por um espécime, enquanto o mesmo era retirado da rede,

atraiu um co-específico que saiu de cavidade próxima e após sobrevoa-lo retornou ao

abrigo. Tais vocalizações, denominadas por Fenton et al. (1976) de “distress calls”

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são emitidas pelo animal quando este se encontra sob ameaça física, e já foram

registradas para, dentre outras espécies, P. kappleri (Monteiro-Filho et al., 1988). Para

esta última espécie, gritos de distress podem representar importante comunicação intra-

específica adaptada à defesa (Monteiro-Filho et al., 1988), o que deve se estender

também a P. macrotis.

- Reprodução: Nenhum dado foi obtido no presente estudo. No Vale do Ribeira,

Trajano (1984) encontrou fêmeas lactantes em dezembro, tendo sugerido para P.

macrotis um padrão reprodutivo monoestro sazonal, com pico de nascimentos entre o

fim da estação seca e início da chuvosa.

Peropteryx kappleri Peters, 1867

- Localidade tipo: Suriname.

- Distribuição: Sul de Veracruz (México) até o leste do Brasil, e Peru (Koopman,

1993).

- Material examinado: 1 exemplar (macho).

- Material incorporado à coleção: 1 exemplar (macho). ALP 6980 (1-III-95).

- Morfometria e comentários: Medidas selecionadas do exemplar obtido são:

antebraço, 48.7; comprimento total do crânio, 16.95; comprimento côndilo-basal, 15.5;

largura zigomática, 10.1; constrição pós-orbital, 3.25; largura da caixa craniana, 7.4;

largura mastóidea, 8,45; comprimento da série de dentes maxilares, 6.7; largura externa

dos molares superiores, 7.35; largura externa dos caninos superiores, 4.35. Todos os

valores registrados enquadram-se nas variações apresentadas por Sanborn (1937) em

relação aos respectivos caracteres. Os dados apresentados por este autor basearam-se

numa amostragem de 93 exemplares provenientes de distintas localidades das Américas

do Sul e Central, não tendo incluído, entretanto, material brasileiro. Vieira (1942)

forneceu medidas externas e cranianas de 2 fêmeas procedentes do Estados do Rio de

Janeiro e São Paulo, respectivamente, ambas com dimensões superiores às do macho

coletado em Jaíba.

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- Hábitos gerais: Espécie também amostrada apenas no afloramento de calcário do

Morro Solto (figura 14). Dois exemplares foram encontrados abrigando-se a cerca de

1,70m do solo na raiz oca de um Ficus sp. situado em depressão do afloramento.

Quando perturbados, ambos partiram para o interior de uma cavidade adjacente

pousando próximo a entrada e distantes cerca de O,5m um do outro. Com uma rede

disposta na entrada desta cavidade capturou-se, na 1 ª hora após o pôr do sol, o único

espécime de P. kappleri obtido.

,

. -Figura 14: Peropleryx kappleri em cavidade calcária no Morro Solto, região de Jaíba, MO. (Foto: A. PoI.)

Tais observações entram em acordo com os resultados alcançados por Bradbury

& Vehrencamp (1976) a partir de estudos conduzidos sobre esta espécie na Costa Rica.

Estes autores citam colônias variando entre 1 e 6 indivíduos, abrigadas em

concavidades situadas a cerca de 1m do chão nas raízes escoras de grandes árvores, e

também no interior de troncos caídos. Ainda segundo os referidos autores, morcegos

desta espécie apresentam contato corporal quando em repouso no abrigo, mas ao serem

perturbados separam-se imediatamente adotando um espaçamento entre eles de 3 a .

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5mm, típico de outros embalonurídeos estudados no mesmo local.

A captura na 1a hora após o pôr do sol por certo reflete os hábitos insetívoros

desta espécie que, provavelmente por forragear na sub-copa (Bradbury & Vehrencamp,

1976; Bonaccorso, 1979), tem se mantido ausente em extensos inventários que não

utilizaram redes suspensas (Willig, 1983; Reis & Peracchi, 1987; Peracchi &

Albuquerque, 1993; ver também Voss & Emmons, 1996). Segundo Bradbury &

Vehrencamp (1976), P. kappleri limita-se a forragear em áreas de floresta madura, não

tendo sido observado em bordas de mata, formações secundárias ou sobre a água, o que

pode indicar uma sensibilidade desta espécie a alterações de hábitat.

- Reprodução: Nenhum dado foi obtido para a região de Jaíba. Na Costa Rica,

Bradbury & Vehrencamp (1976) registraram nascimentos em maio e junho.

Família Noctilionidae Gray, 1821

Noctilio albiventris Desmarest, 1818

- Localidade tipo: Brasil, Bahia, Rio São Francisco.

- Distribuição: Sul do México até as Guianas, leste do Brasil, norte da Argentina, e

Peru (Koopman, 1993).

- Material examinado: 41 exemplares (23 machos e 18 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 14 exemplares (6 machos e 8 fêmeas). Machos:

ALP 6846, 6847, 6848 (11-IV-94); 6923, 6932 (24-X-94); 6997 (2-III-95). Fêmeas:

ALP 6920 (23-X-94); ALP 6921, 6922, 6926, 6928 (24-X-94); ALP 6962 (13-I-95);

ALP 6967 (16-I-95); ALP 6996 (2-III-95).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para N. albiventris

encontram-se na tabela 5. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 6,17% (Lmt dos

machos) e o menor, 0,70% (Ccb dos machos). Todas as médias das medidas dos machos

foram superiores as das fêmeas, tendo-se verificado níveis significantes de dimorfismo

sexual secundário (P < 0,05) em 5 dos 10 caracteres examinados (An, Ctc, Ccb, Lmt e

Lc).

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Tabela 5: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Noctilio albiventris provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 5) Fêmeas (N = 5)

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) DP CV P

An 59,98 (59-61,1) 0,95 1,59 58,03 (57,2-59,2) 0,82 1,40 0,0130* Ctc 19,36 (19,25-19,55) 0,14 0,74 18,66 (18,3-18,9) 0,26 1,40 0,0020* Ccb 18,08 (17,9-18,2) 0,13 0,70 17,53 (17,1-18,05) 0,36 2,06 0,0248* Lz 14,59 (14,2-15,1) 0,38 2,60 13,92 (13,25-14,5) 0,47 3,35 0,0543 Cpo 5,91 (5,8-6,25) 0,22 3,81 5,71 (5,55-5,85) 0,11 1,90 0,1164 Lcx 11,01 (10,75-1,25) 0,21 1,94 10,98 (10,6-11,4) 0,32 2,91 0,8671 Lmt 14,45 (13,65-15,6) 0,89 6,17 12,42 (12-13,2) 0,48 3,84 0,0031* C-M 7,33 (7,2-7,4) 0,09 1,18 7,13 (6,95-7,35) 0,15 2,14 0,0581 Lm 9,14 (8,95-9,45) 0,22 2,38 8,9 (8,65-9,2) 0,21 2,35 0,1401 Lc 6,99 (6,6-7,25) 0,29 4,11 6,35 (6,2-6,5) 0,12 1,93 0,0027*

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; Valores de P menores que 0,05 (*) indicam existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.

Uma extensa variação geográfica e não geográfica existe em N. albiventris

(Hood & Pitocchelli, 1983), tendo Davis (1976) reconhecido 4 subespécies. De acordo

com as áreas de distribuição fornecidas para cada uma delas pelo citado autor, o material

de Jaíba estaria associado a N. a. albiventris, forma típica a qual correspondem

espécimes do Estado de São Paulo analisados por Taddei et al. (1986). Contudo,

comparando-se as médias das dimensões aqui obtidas com as apresentadas por estes

autores, nota-se que os espécimes da norte de Minas Gerais são menores em todos os

caracteres analisados, tanto para machos quanto para fêmeas. Situação similar, porém

não tão evidente, é verificada quando confronta-se as médias das medidas dos

espécimes de Jaíba com as fornecidas por Davis (1976) para uma coleção obtida na Ilha

de Marajó. À exceção do tamanho do antebraço, as dimensões médias aqui citadas são,

no geral, também menores que as reportadas por este último autor (tabela 6).

Tais constatações vêm a corroborar as considerações expostas por Taddei et al.

(1986), que após examinar material proveniente de distintas localidades fizeram o

seguinte comentário: “Aparentemente, as populações de N. a. albiventris, que ocorrem

nas Guianas, Venezuela e ao longo do Rio Amazonas até a Ilha de Marajó, são mais

avantajadas, decrescendo em tamanho em direção ao sul da Estado do Pará (Rio

Tapajós, Rio Iriri) e em áreas do Nordeste brasileiro. Por outro lado, os dados

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disponíveis também sugerem que há um aumento gradual dos espécimes de populações

do Nordeste brasileiro, São Paulo e Paraguai.”.

Tabela 6: Médias de medidas de Noctilio albiventris apresentadas por Davis (1976) para a Ilha de Marajó (IM), pelo presente estudo para a região de Jaíba, MG, e por Taddei et al. (1986) para o Estado de São Paulo (SP).

Machos Fêmeas

Caracter IM MG SP IM MG SP

An 58,66 59,98 61,371 57,84 58,03 59,58 Ctc - 19,36 21,761 - 18,66 20,07 Ccb 18,76 18,08 19,05 18,07 17,53 18,01 Lz 14,92 14,59 15,20 14,20 13,92 14,212 Cpo - 5,91 6,05 - 5,71 5,89 Lcx 10,84 11,01 11,37 10,64 10,98 11,12 Lmt - 14,45 14,72 - 12,42 13,212 C-M 7,6 7,33 7,76 7,26 7,13 7,18 Lm 9,55 9,14 9,471 9,25 8,9 9,03 Lc - 6,99 7,081 - 6,35 6,32

Tamanho das amostras: IM - 10 M e 10 F; MG - 5 M e 5 F; SP - 20 M e 30 F (119 M, 229 F).

Com relação a variação individual, é digno de nota que entre os caracteres aqui

estudados, tanto nos machos quanto nas fêmeas, os mais altos valores de coeficiente de

variação (CV) foram obtidos na largura mastóidea, fato também verificado por Taddei et

al. (1986), nos espécimes de São Paulo, e, considerando-se os mesmos caracteres, por

Barquez (1987) na Argentina. A ocorrência de dimorfismo sexual secundário em N.

albiventris, corroborada no presente estudo onde machos foram maiores que as fêmeas,

foi assinalada tanto por Davis (1976) quanto por Taddei et al. (1986).

Constatou-se uma variação na coloração da pelagem dos indivíduos coletados,

tendo-se observado desde espécimes com o ventre pardo claro até alaranjado, esta

última fase mais freqüente (figura 15). Tal variação estendeu-se a ambos os sexos, e de

acordo com Hood & Pitocchelli (1983) ocorre não somente entre indivíduos como entre

populações de diferentes localidades geográficas.

- Hábitos gerais: Duas colônias de N. albiventris, cada uma com cerca de 8 indivíduos,

foram encontradas abrigando-se em ponte de madeira sobre o riacho Mocambinho.

Observações conduzidas neste local visando obter subsídios sobre os hábitos desta

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espécie (Nogueira e Pol, no prelo) permitiram evidenciar sua atividade noturna. Os

morcegos abandonavam o abrigo por volta de 25min após o pôr do sol e, cerca de 40min

mais tarde, um número de indivíduos bem superior ao que havia saído começava intensa

movimentação de chegada, o que durava em torno de 01:00h. Aproximadamente 200

indivíduos pousavam, um a um, ocupando frestas em um local não utilizado pelas duas

colônias que abrigavam-se na ponte durante o dia (figura 16). Grande quantidade de

fezes e urina se acumulava sob este pouso noturno. Entre 03:50 e 04:20h os exemplares

de N. albiventris abandonavam o local partindo quase todos em direção ao rio São

Francisco. Um pequeno grupo, entretanto, foi notado voando diretamente para uma

fresta do outro lado da ponte e lá permanecendo até o amanhecer, tratando-se de parte

de uma das colônias que usavam o local como refúgio diurno. Duas informações foram

obtidas a partir desta última observação: nem todos os indivíduos de N. albiventris

apresentam um segundo período de atividade; e, tendo os referidos morcegos saído de

um grande agrupamento, ficou evidenciado o contato corpórea entre indivíduos de

distintas colônias.

A dificuldade de se generalizar um padrão de atividade para N. albiventris foi

evidenciada também por Fenton et al. (1993), que através de radiotelemetria

constataram uma variação não só individual como de noite para noite na atividade dessa

espécie. Contudo, os resultados aqui obtidos permitem concluir que N. albiventris

apresenta de um a dois períodos de atividade e que ambos sobrepõem-se aos de R. naso

espécie de hábitos também insetívoros e que foi observada coabitando a ponte sobre o

riacho Mocambinho com este noctilionídeo. Na figura 12, incluída nos comentários

sobre R. naso, apresenta-se o número estimado de indivíduos, em cada espécie, que

ocupavam a ponte ao longo do período de observação, podendo tal sobreposição ser

evidenciada.

A utilização de abrigo noturno por N. albiventris pode, em primeira instância,

ser associada à digestão do alimento, já que indivíduos capturados logo após o forrageio

apresentavam seus abdomens dilatados, demonstrando ampla capacidade de ingestão e

consequentemente considerável aumento no peso. Contudo, levando-se em conta o

tamanho da ponte utilizada como abrigo e a quantidade de frestas disponíveis em outras

partes dessa ponte, questiona-se porque um número tão elevado (ca. de 200) de

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morcegos provenientes de distintas colônias se agrupariam todos no mesmo local,

ampliando ainda um potencial custo relativo à predação (cf. Fenton et al., 1994). A

termorregulação pode ser a resposta. Roverud & Chappell (1991) concluíram que

quando N. albiventris abriga-se em agrupamentos diminui consideravelmente seus

gastos energéticos reduzindo as taxas de perda de calor. Estes autores inferiram ainda

que tal hábito reduz o risco de predação, já que o tempo necessário para esta espécie

atingir a temperatura basal mínima de vôo é consideravelmente menor em agrupamentos

que em morcegos solitários.

À exceção de um exemplar obtido em rede armada sobre bebedouro de gado na

Fazenda Solagro, todos os demais espécimes examinados foram capturados em rede

armada junto à ponte do riacho Mocambinho. N. albiventris foi visto mais

freqüentemente voando sobre cursos d’água, tendo sido também observado nas

proximidades destes em áreas de várzea e curiosamente sobre uma rodovia asfaltada,

onde um exemplar foi acidentalmente atropelado. A utilização de construções humanas

como abrigo e o forrageio em hábitats modificados pela ação antrópica demonstram

considerável plasticidade comportamental desta espécie frente às alterações ambientais.

No Estado do Amapá, Peracchi et al. (1984) localizaram duas colônias de N. albiventris

abrigadas em forros de prédios locais, relatando inclusive coabitação com M. molossus e

M. ater.

Morcegos desta espécie pareciam restringir seus vôos até 1,5m acima da

superfície da água e também do solo. A visualização de suas atividades de forrageio foi

facilitada pela conspícua coloração alaranjada que caracterizava a maioria dos

indivíduos examinados (figura 15), sendo bem discernível de Noctilio leporinus por seu

menor porte. Durante observações realizadas no rio São Francisco, verificou-se que

diversos morcegos tocavam a superfície da água com certa regularidade. Este

comportamento pode ser explicado considerando-se que N. albiventris apresenta uma

estratégia de caça similar a de N. leporinus, utilizando chamados de ecolocação para

detectar presas disponíveis na superfície da água e capturando-as com as patas traseiras

(Suthers & Fattu, 1973; Brown et al., 1983). Insetos aquáticos são componentes já

reconhecidos na dieta de N. albiventris (Whitaker & Findley, 1980).

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Figura 15: Espécime de Noc/ilio albiventris procedente da região de Jaíba, MG. (Foto: A. Pol.)

Figura 16: Colônia de Noctilio albiventris abrigada entre as vigas de madeira em ponte sobre o riacho Mocambinho, região de Jaíba, MG.

Com relação a coabitação com R. naso, verificada na ponte sobre o riacho

Mocambinho, observou-se que a competição direta por espaço é evitada, já que

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formam a ponte (figura 16), os de R. naso permaneciam pousados sob estas vigas (figura

13). Contudo, mesmo sendo distintos os locais de repouso, N. albiventris ao pousar na

ponte não o faz diretamente nas frestas. Dessa forma, se todos os indivíduos que de

alguma forma (como abrigo diurno ou noturno) utilizavam a ponte, a ocupassem ao

mesmo tempo, a probabilidade de acidentes relacionados à sobreposição dos locais de

pouso e consequentemente a energia gasta para localizar pontos livres, seriam maiores.

Tal fator que elevaria os custos nessa interação, é entretanto consideravelmente reduzido

pelas diferentes estratégias empregadas por essas espécies no uso do abrigo. Como

pode-se notar na figura 12, a partilha temporal observada na ocupação da ponte,

utilizada primariamente como refúgio diurno por R. naso e noturno por N. albiventris,

evidencia a compatibilidade dessa associação interespecífica.

- Reprodução: Constatou-se a ocorrência de 3 fêmeas lactantes em abril e 2 em

outubro. Estes dados sugerem que na área de estudo N. albiventris apresenta um padrão

poliestro bimodal, com nascimentos ocorrendo no início e no final do período chuvoso.

Padrão similar foi sugerido por Marques (1985b) na região Amazônica, enquanto na

América Central essa espécie tem sido referida como monoestra (Anderson & Wimsatt,

1963; Hooper & Brown, 1968).

Durante observações realizadas em outubro junto às colônias no riacho

Mocambinho, um filhote de N. albiventris com o corpo ainda desprovido de pêlos e

antebraço medindo 27,40mm, foi encontrado agonizando na margem do riacho sob a

ponte, completamente envolvido por formigas “lava-pés” (Solenopsis sp.), o que

representa um custo para manutenção dos filhotes neste abrigo.

Noctilio leporinus (Linnaeus, 1758)

- Localidade tipo: Suriname.

- Distribuição: Sinaloa (México) até as Guianas, sul do Brasil, norte da Argentina, e

Peru; Trinidad; Pequenas e Grandes Antilhas; sul de Bahamas (Koopman, 1993).

Espécie de ampla distribuição em território brasileiro estando ausente apenas no

extremo sul do país (Koopman, 1982).

- Material examinado: 2 exemplares (machos).

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- Material incorporado à coleção: 1 exemplar (macho). ALP 6849 (11-IV-94).

- Morfometria e comentários: À seguir apresenta-se as medidas selecionadas do

exemplar incorporado à coleção: antebraço, 86.65; comprimento total do crânio, 26.9;

comprimento côndilo-basal, 24.6; largura zigomática, 19.9; constrição pós-orbital, 6.65;

largura da caixa craniana, 13.5; largura mastóidea, 17.3; comprimento da série de dentes

maxilares, 10.5; largura externa dos molares superiores, 12.75; largura externa dos

caninos superiores, 9.2.

Assim como na espécie co-genérica N. albiventris, uma variação geográfica em

relação ao tamanho dos espécimes também caracteriza N. leporinus (Davis, 1973;

Taddei et al., 1986). Analisando extenso material proveniente de diversas localidades

nas Américas do Sul e Central, Davis (1973) reconheceu a existência de 3 subespécies.

Formas por ele denominadas N. l. mastivus e N. l. rufescens distribuem-se,

respectivamente, nas porções mais ao norte e mais ao sul da área de ocorrência da

espécie, caracterizando-se ambas por um maior porte que o da forma distribuída ao

longo da Bacia Amazônica e Guianas (N. l. leporinus). Também de forma similar a N.

albiventris, constata-se em N. leporinus e existência de dimorfismo sexual secundário,

com machos sendo maiores que as fêmeas (Davis, 1973; Willig, 1983; Taddei et al.,

1986).

Willig (1983) referiu-se à amostragem por ele obtida nos Estados do Ceará e

Pernambuco como a mais robusta população de N. l. leporinus. Já material de São

Paulo, examinado por Taddei et al. (1986) foi associado a N. l. rufescens, forma que,

segundo a distribuição proposta por Davis (1973), ocorreria nas regiões Sul e Sudeste do

Brasil, estendendo-se até o sul de Minas. O reduzido material disponível não permite

obter-se um posicionamento conclusivo sobre a população do norte de Minas Gerais.

Considerando-se ainda a maior variação individual que caracteriza os machos (Davis,

1973; Willig, 1983; Taddei et al., 1986), verifica-se que as dimensões do exemplar

examinado podem ser associadas tanto às relativas aos espécimes de São Paulo quanto

aos do Nordeste.

- Hábitos gerais: Os 2 exemplares de N. leporinus foram obtidos com o auxílio de rede

armada sobre o riacho Mocambinho, tendo ambas as capturas ocorrido na 3a hora após o

pôr do sol. Neste mesmo local, um exemplar foi visto forrageando às 01:30h. A

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coloração alaranjada e o grande porte tornam conspícuos os morcegos desta espécie,

também observados em forrageio sobre o rio São Francisco, em canais de irrigação, e

em bebedouro de gado na Fazenda Solagro.

A presença de N. leporinus em tais hábitats justifica-se por seus hábitos

alimentares, tratando-se de espécie predominantemente insetívora aérea e piscívora

(Brooke, 1994). O forrageio em áreas modificadas pela ação antrópica, como aqui

observado, foi referido também por Peracchi & Albuquerque (1971) e Brooke (1994). A

versatilidade desta espécie em adaptar-se às modificações antrópicas pode ser ainda

evidenciada considerando-se a inclusão de baratas (Periplaneta americana) em sua

dieta, como mencionado por Peracchi & Albuquerque (1971). Tem sido freqüentemente

registrada utilizando ocos de árvores como abrigo (Hood & Jones, 1984), mas

construções humanas também podem ser empregadas (Goodwin & Greenhall, 1961;

Peracchi & Albuquerque, 1971; Willig, 1983).

Os canais de irrigação construídos na área do Projeto Jaíba, e sobre os quais

espécimes foram observados em forrageio, por certo favorecem a manutenção de N.

leporinus na região de estudo. O mesmo deve ocorrer em relação a R. naso e N.

albiventris, espécies que também apresentam certa plasticidade comportamental e

forrageiam sobre coleções d’água.

Reprodução: Nenhum dado foi obtido no presente estudo. Willig (1985)

constatou nas caatingas de Pernambuco um padrão reprodutivo do tipo monoestro

sazonal, com fêmeas lactantes aparecendo de novembro até abril (período chuvoso).

Família Phyllostomidae Gray, 1825

Subfamília Phyllostominae Gray, 1825

Micronycteris sanborni Simmons, 1996

- Localidade tipo: Brasil, Ceará, Crato.

- Distribuição: Conhecida apenas do nordeste do Brasil. Além da série tipo,

proveniente de duas localidades na região da Chapada do Araripe, Estados do Ceará e

Pernambuco (Simmons, 1996), uma segunda coleção desta espécie foi obtida na

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localidade de Senador Pompeu, também no Ceará (Peracchi, dados não publicados). Os

espécimes aqui obtidos representam, portanto, a terceira coleção disponível sobre está

espécie, que é pela primeira vez reportada para o Estado de Minas Gerais. Com o

presente registro amplia-se em cerca de 1000 Km o limite meridional de sua área de

ocorrência, que passa agora a incluir o Sudeste brasileiro.

- Material examinado: 4 exemplares (2 machos e 2 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 3 exemplares (1 macho e 2 fêmeas). Macho: ALP

6860 (14-VI-94). Fêmeas: ALP 6833 (07-IV-94); ALP 6859 (14-VI-94).

- Morfometria e comentários: Medidas dos caracteres usualmente empregados neste

trabalho acrescidas das de outros utilizados por Simmons (1996), e mensurados como

descrito por esta autora, encontram-se na tabela 7. Para facilitar as comparações, dados

de machos e fêmeas foram combinados, levando-se em conta que diferenças

consistentes de tamanho relacionadas ao sexo não são aparentes em nenhuma espécie do

subgênero Micronycteris (Simmons, 1996). Dentre as 6 variáveis externas analisadas, o

maior coeficiente de variação foi de 5,37% (Po) e o menor 1,26% (An). Considerando-

se as medidas cranianas o maior valor foi de 2,74% (Lmt e Lc) e o menor 0,19% (Ccb).

As dimensões médias aqui obtidas são, em sua maioria, superiores às referidas

para série tipo de M. sanborni, encontrando-se em posição intermediária entre estas e as

de M. minuta, também apresentadas por Simmons (1996) (tabela 7). Esta autora

constatou que muitas medidas de M. sanborni podem sobrepor-se aos extremos

inferiores das de outras espécies do gênero, principalmente em relação a M. minuta, com

a qual mais facilmente poderia ser confundida. De acordo com Simmons (1996),

entretanto, em 3 caracteres M. sanborni é distintamente menor que as demais espécies:

tamanho do polegar, comprimento côndilo-incisivo e comprimento da série de dentes

maxilares. O polegar dos exemplares de Jaíba são, em média (6.6), ainda menores que

os da série tipo (7.1). Já quanto aos outros dois caracteres citados, verificou-se valores

intermediários notadamente mais próximos aos propostos para M. sanborni do que para

M. minuta. Não obstante o reduzido número de espécimes que caracteriza as amostras

aqui comparadas, tal discrepância pode estar associada a uma variação geográfica em M.

sanborni. Com base em dados preliminares Ascorra et al. (1991) sugeriram um padrão

de variação geográfica para M. schmidtorum, tendo observado que espécimes da

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Guatemala apresentavam as maiores dimensões, sendo os procedentes da Costa Rica,

Panamá e Venezuela de tamanho intermediário, e os referentes ao Peru e Nordeste do

Brasil, os menores. Algumas espécies referidas no presente estudo, como N. albiventris

e A. planirostris, são consideravelmente maiores no Sudeste do Brasil que na região

Nordeste (ver comentários morfométricos sobre estas espécies).

Tabela 7: Medidas selecionadas de espécimes de Micronycteris sanborni provenientes da região de Jaíba, MG, associadas às fornecidas por Simmons (1996) para o série tipo desta espécie e para M. minuta. M. sanborni

(MG) M. sanborni

(série tipo) M. minuta

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) Méd. (Mín.-Máx.) N

An 34,73 (34,25-35,1) 0,44 1,26 33,6 (32,0-34,0) 35,4 (33,0-36,8) 33 Pé 9,30 (9,15-9,4) 0,13 1,42 8,7 (8,0-9,0) 11,8 (9,0-13,0) 35 Cl 8,77 (8,5-9,0) 0,25 2,87 - - - - Po 6,67 (6,25-7,0) 0,38 5,73 7,1 (7,0-7,3) 8,5 (7,7-9,1) 37 Or 17,10 (16,65-17,4) 0,39 2,28 20,2 (19,0-21,0) 21,1 (19,5-23,0) 23 Ti 14,75 (14,3-15) 0,39 2,65 13,1 (12,6-14,0) 14,3 (13,3-15,2) 12 Ctc 17,63 (17,4-17,9) 0,25 1,43 - - - - Ccb 15,52 (15,5-15,6) 0,03 0,19 - - - - Cci 15,68 (15,6-15,8) 0,1 0,66 15,16 (14,91-15,39) 16,64 (15,62-17,54) 39 Lz 8,18 (8,15-8,2) 0,03 0,35 8,02 (7,88-8,19)1 8,54 (8,02-9,0) 26 Cpo 4,10 (4-4,2) 0,1 2,44 3,92 (3,7-4,07) 4,12 (3,84-4,37) 43 Lcx 7,40 (7,35-7,45) 0,05 0,68 7,41 (7,32-7,48) 7,59 (7,23-8,04) 40 Lmt 8,35 (8,15-8,6) 0,23 2,74 - - - - C-M 6,07 (6,0-6,2) 0,12 1,9 5,76 (5,64-5,92) 6,65 (6,37-6,94) 45 Lm 5,53 (5,4-5,6) 0,12 2,09 - - - - Lc 2,78 (2,7-2,85) 0,08 2,74 - - - -

Tamanho das amostras: MG - 1M e 2 F; série tipo - 2 M e 4 F (1N = 5); M. minuta - 29 M e 38 F. Abreviações: Cl - calcâneo; Po - polegar; Or - orelha; Ti - tíbia

Alguns caracteres tidos por Simmons (1996) como diagnósticos de M. sanborni

mostraram-se controversos em relação à presente amostragem. Um bem definido espaço

entre o incisivo superior externo e o canino, atribuído a M. sanborni com base no

holótipo (ver fig. 3 in Simmons, 1996), não foi observado em nenhum dos exemplares

aqui examinados. Apesar de ter incluído este caracter em sua chave para identificação

das espécie de Micronycteris, Simmons (1996) menciona que nos parátipos há uma

variação na largura de tal espaço. De fato, examinando uma maior coleção de M.

sanborni procedente do Ceará, Peracchi (dados não publicados), notou considerável

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variação em relação a esta característica. Simmons (1996) menciona também uma

diástema entre o 1o e o 2o premolares superiores, que não ocorreria em M. minuta nem

em M. schmidtorum, e que também não foi encontrada nos espécimes de Jaíba. Segundo

Peracchi (dados não publicados), dentre 10 espécimes obtidos no Ceará, 3 apresentavam

esta diástema em ambos os lados da maxila, 1 só apresentava em um dos lados, e os

demais não exibiam esta característica em nenhum dos lados da maxila. Ao que parece a

presença e amplitude de tais diástemas na arcada dentária superior de M. sanborni está

sujeita à considerável variação intra-específica, o que dificulta sua aplicação na análise

diagnóstica da espécie.

Um caráter externo que tem sido freqüentemente empregado na distinção das

espécies de Micronycteris diz respeito à relação de tamanho entre o calcâneo e o pé

(Medellín et al., 1985; Genoways & Williams, 1986; Simmons, 1996). De acordo com

Simmons (1996), o tamanho do calcâneo é menor que o do pé em M. minuta, maior que

ele em M. schmidtorum, e aproximadamente do mesmo tamanho em M. sanborni.

Embora a referida autora não tenha quantificado esta “proximidade”, os espécimes de

Jaíba são seguramente associados a M. sanborni, como corroborado por dados não

publicados referentes à esta espécie e a M. minuta e que foram gentilmente cedidos por

A. L. Peracchi para melhor interpretação desta questão. De acordo com tais dados, a

dimensão média do calcâneo de M. sanborni (N = 24) é 0,7mm menor que a do pé,

enquanto em M. minuta (N = 9) esta diferença aumenta para 2,0mm. Nos espécimes de

Jaíba calcâneo e pé diferiram, em média, apenas 0,53mm.

Considerando-se a morfologia externa, entretanto, a mais evidente distinção

entre o material de M. sanborni obtido no norte de Minas Gerais e espécimes de M.

minuta que o autor teve oportunidade de colecionar no Estado Rio de Janeiro, reside na

cor da pelagem ventral (figura 17). Como relatado por Simmons (1996), M. sanborni

apresenta uma coloração verdadeiramente branca nesta região, e que estende-se

anteriormente sobre a garganta e o queixo. Embora M. minuta e M. schmidtorum

possuam uma coloração ventral pálida, o cinza claro ou o amarelado (observado em

espécimes de M. minuta do RJ) que geralmente caracterizam estas espécies, raramente

se aproximam do branco visto em M. sanborni (Simmons, 1996).

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anterionnente sobre a garganta e o queIXO. Embora M minuta e M schmidtorum

possuam uma coloração ventral pálida, o cinza claro ou o amarelado (observado em

espécimes de M minuta do RJ) que geralmente caracterizam estas espécies, raramente

se aproximam do branco visto em M sanborni (Simmons, 1996).

Figura 17: Espécimes de Micronycteris sanborni (esquerda), procedente da região de Jaíba, MG, e de Micronycteris minuta, do Rio de Janeiro. Note a coloração ventral branca que caracteriza a primeira espéCIe.

- Hábitos gerais: Todos os exemplares examinados foram capturados em redes annadas

sobre o afloramento calcário do Morro Solto. Quanto ao horário de captura, três

exemplares foram obtidos nas duas primeiras horas após o pôr do sol e um entre as duas

seguintes. Visando obter subsídios sobre seus hábitos alimentares manteve-se um

indivíduo cativo, em saco de pano, até a noite posterior a que ele havia sido coletado.

Nessa oportunidade lhe foram oferecidos três ortópteros, medindo 7mm de

comprimento cada, e duas mariposas (Lepidoptera), com cerca de 10mm, sendo todos

prontamente aceitos.

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Willig (1983) referiu-se aos exemplares por ele identificados como M. minuta, e

que em verdade incluem M. sanborni e M. schmidtorum (Simmons, 1996), como mais

freqüentemente capturados junto à lageiros e “serrotes”, hábitats que por suas

características mésicas podem ser associados ao encontrado no Morro Solto (ver

descrição em mat. e mét.). Evidencia-se dessa forma, a importância da manutenção dos

afloramentos calcários para preservação desta espécie na região de Jaíba, o que é ainda

ressaltado quando leva-se em conta os hábitos cavernícolas de outras espécies do

mesmo gênero (Pinto-da-Rocha, 1995) e que devem se estender a M. sanborni.

Nada se sabe sobre os hábitos alimentares desta espécie, sendo suas co-genéricas

reconhecidas como primariamente insetívoras, podendo complementar a dieta com

frutos (Ferrarezzi & Gimenez, 1996). Os dados aqui assinalados, incluindo as capturas

efetuadas no início da noite, sugerem, de fato, hábitos insetívoros para M. sanborni.

Espécies da subfamília Phyllostominae que, de forma similar a observada em morcegos

do gênero Micronycteris, alimentam-se predominantemente de insetos capturados na

folhagem (Ferrarezzi & Gimenez, 1996), foram consideradas por Fenton et al. (1992)

bons indicadores de qualidade de hábitat. Tal característica deve estender-se também a

M. sanborni, como corrobora-se no presente estudo onde a mesma só foi amostrada em

área bem preservada.

- Reprodução: As 2 fêmeas capturadas, 1 em abril e 1 em junho, não apresentaram

evidências externas de atividade reprodutiva. Simmons (1996) mencionou 2 fêmeas

provenientes de Pernambuco que no mês de dezembro encontravam-se grávidas e

apresentando fetos bem desenvolvidos. Esta autora sugeriu que nascimentos ocorreriam

durante a estação chuvosa (novembro até abril) e que os filhotes seriam criados em

torno do início da próxima estação seca.

Tonatia bidens (Von Spix, 1823)

- Localidade tipo: Brasil, Bahia, Rio São Francisco.

- Distribuição: Até Williams et al. (1995) realizarem uma revisão no complexo T.

bidens, constatando que duas formas estavam envolvidas (T. bidens e T. saurophila), a

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distribuição desta espécie estendia-se desde o México e Belize, até o norte da Argentina,

Paraguai e Brasil, incluindo ainda Trinidad (Koopman, 1993). Na concepção atual,

entretanto, a área de ocorrência de T. bidens limita-se ao leste e sul do Brasil, Paraguai,

e norte da Argentina (Williams et al., 1995).

- Material examinado: 7 exemplares (3 machos e 4 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 6 exemplares (2 machos e 4 fêmeas). Machos: ALP

6832 (06-IV-94); ALP 6843 (09-IV-94). Fêmeas: ALP 6837, 6838, 6839, 6842 (09-IV-

94).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie

encontram-se na tabela 8. Em relação às fêmeas, para as quais se realizou análise

estatística descritiva, notou-se que o maior coeficiente de variação (CV) foi de 3,04%

(Cpo), não havendo variação na largura mastóidea. Em 9 das 10 medidas estudadas a

média obtida para os machos foi superior a das fêmeas.

Tabela 8: Medidas selecionadas de espécimes de Tonatia bidens procedentes da região de Jaíba, MG, com análise estatística descritiva para as dimensões das fêmeas.

Machos (N = 2) Fêmeas (N = 3)

Caracter Média (Mín.-Max.) Média (Mín.-Máx.) DP CV

An 58,33 (58,15-58,5) 56,50 (56,15-57,2) 0,61 1,07 Ctc 28,23 (28,2-28,25) 27,70 (27,5-27,85) 0,18 0,65 Ccb 24,30 (24,3-24,3) 23,82 (23,7-24,05) 0,20 0,85 Lz 13,33 (13,15-13,5) 13,18 (13,05-13,35) 0,15 1,16 Cpo 6,13 (6,0-6,25) 5,78 (5,6-5,95) 0,18 3,04 Lcx 10,75 (10,75-10,75) 10,50 (10,35-10,6) 0,13 1,26 Lmt 12,93 (12,9-12,95) 12,80 (12,8-12,8) 0,00 0,00 C-M 9,83 (9,75-9,9) 9,58 (9,45-9,75) 0,15 1,59 Lm 8,63 (8,6-8,65) 8,63 (8,45-8,9) 0,24 2,74 Lc 5,88 (5,85-5,9) 5,87 (5,7-6,0) 0,15 2,60

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.

As dimensões aqui referidas para T. bidens concordam bem com as apresentadas

por Williams et al. (1995) a partir de 63 espécimes provenientes de diversas localidades

ao longo da área de ocorrência da espécie. Já quando a comparação é feita com os dados

médios fornecidos por Fazzolari-Corrêa (1995) para exemplares do Estado de

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São Paulo, nota-se uma considerável discrepância nas dimensões do antebraço,

comprimento total do crânio, e largura zigomática, maiores nos espécimes do norte de

Minas Gerais. Medidas do antebraço e comprimento total do crânio apresentadas por

Vieira (1942), para uma fêmea também do Estado de São Paulo, acompanharam a

tendência verificada em relação aos espécimes mencionados por Fazzolari-Corrêa

(1995), sendo consideravelmente menores que as aqui referidas. Já as medidas relatadas

por Myers & Wetzel (1983) para um macho procedente do Paraguai são, no geral,

próximas às encontradas no material de Jaíba (tabela 9).

Os dados morfométricos aqui obtidos para T. bidens corroboram a ocorrência de

dimorfismo sexual secundário (machos > fêmeas) relatado para esta espécie por

Williams et al. (1995). Infelizmente, o pequeno número de exemplares em que se

baseiam as poucas amostragens disponíveis ao longo de sua distribuição, aliado ao

tratamento mesclado dos dados de machos e fêmeas, como conduzido por Barquez

(1987), impedem uma análise mais consistente sobre uma possível variação geográfica

em T. bidens.

Tabela 9: Médias de medidas selecionadas de Tonatia bidens referentes à região de Jaíba, MG, (presente estudo) e ao Estado de São Paulo1 (Fazzolari-Corrêa, 1995), associadas às medidas de um exemplar também do Estado de São Paulo2 (Vieira, 1942) e de outro do Paraguai (Myers & Wetzel, 1983).

Machos Fêmeas

Caracter MG SP1 Paraguai

MG SP1 SP2

An 58,33 53,85 57,1 56,50 53,95 50,0 Ctc 28,23 26,87 28,2 27,70 26,85 25,5 Ccb 24,30 - 24,4 23,82 - - Lz 13,33 12,92 13,5 13,18 12,5 13,0 Cpo 6,13 6,1 6,0 5,78 5,85 6,0 Lcx 10,75 11,4 - 10,50 11,1 - Lmt 12,93 - 13,2 12,80 - - C-M 9,83 - 10,0 9,58 - 9,5 Lm 8,63 - 8,5 8,63 - - Lc 5,88 - 6,1 5,87 - -

Tamanho das amostras: MG - 2M e 3 F; SP1 - 4M e 7F; SP2 - 1F; Paraguai - 1M.

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- Hábitos gerais: Desta espécie foram examinados 7 exemplares, todos obtidos em

redes armadas sobre o afloramento calcário do Morro Solto. Quatro espécimes foram

capturados nas duas primeiras horas após o pôr do sol e os demais nas duas seguintes.

Alguns itens alimentares foram oferecidos a espécimes de T. bidens. Ortópteros,

medindo entre 1 e 5cm de comprimento, e coleópteros, variando entre 0,5 e 2cm, foram

prontamente aceitos.

Willig (1983) considerou T. bidens uma espécie rara em sua amostragem nas

caatingas de Pernambuco, onde apenas 2 espécimes foram coletados (um terceiro por ele

referido sob este nome trata-se de T. saurophila). Segundo este autor ambas as espécies

foram amostradas apenas nos chamados “serrotes”, hábitats descritos como pequenas

montanhas que apresentam em suas inclinações uma vegetação de caatinga alta,

possuindo ainda condições mésicas não comumente observadas nas caatingas. Tais

hábitats assemelham-se, sob certos aspectos, ao observado no Morro Solto (ver

descrição em material e métodos), o que aliado ao fato de T. bidens tratar-se de espécie

com hábitos cavernícolas (Pinto-da-Rocha, 1995), demonstra a importância dos

afloramentos calcários para sua preservação na área aqui estudada.

Além de apresentar hábitos insetívoros e frugívoros já referidos na literatura

(Myers & Wetzel, 1983), morcegos desta espécie podem alimentar-se também de

pequenas aves (Barquez, 1987; Martuscelli, 1995). Contudo, de forma semelhante à

observada em Micronycteris spp., morcegos do gênero Tonatia alimentam-se

predominantemente de insetos capturados na folhagem (Ferrarezzi & Gimenez, 1996),

podendo ser considerados bons indicadores de qualidade de hábitat como corrobora-se

no presente estudo em relação a T. bidens, amostrada apenas em associação à formação

florestal.

Reprodução: Nenhuma das 4 fêmeas, todas obtidas em abril, apresentava sinais

externos de atividade reprodutiva. No Estado do Rio de janeiro, uma fêmea grávida em

estágio inicial de gestação foi capturada em setembro, indicando nascimento durante

período mais chuvoso do ano (obser. pess.).

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Tonatia saurophila Koopman e Williams, 1951

- Localidade tipo: Jamaica, St. Elizabeth Parish, Wallingford Roadside Cave.

- Distribuição: Sul do México até o Peru e nordeste do Brasil. Na Jamaica é conhecida

apenas por registros fósseis (Williams et al., 1995), enquanto no Brasil restringe-se às

regiões Norte e Nordeste (Williams et al., 1995). Este, portanto, é o primeiro registro

assinalado para o Estado de Minas Gerais, ampliando-se em cerca de 1000 Km o limite

meridional de sua distribuição em território brasileiro, que passa agora a incluir a região

Sudeste.

- Material examinado: 2 exemplares (fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 2 exemplares (fêmeas). ALP 6854 (03-V-94); ALP

6855 (05-V-94).

- Morfometria e comentários: Medidas selecionadas das 2 fêmeas obtidas, seguidas

pela média das dimensões, são como se segue: antebraço, 56.8, 59.9 (58.35);

comprimento total do crânio, 28.8, 28.85 (28.83); comprimento côndilo-basal, 24.35,

25.1 (24.73); largura zigomática, 14.35, 14.55 (14.45); constrição pós-orbital, 5.3, 5.4

(5.35); largura da caixa craniana, 10.6, 10.85 (10.73); largura mastóidea, 12.95, 13.40

(13.18); comprimento da série de dentes maxilares, 9.5, 9.95 (9.73); largura externa dos

molares superiores, 8.5, 8.9 (8.7); largura externa dos caninos superiores, 5.95, 5.95

(5.95).

Williams et al. (1995) reconheceram duas subespécies viventes para T.

saurophila: T. s. bakeri, com ocorrência na América Central e noroeste da América do

Sul, e T. s. maresi, distribuída pela Venezuela, Guianas, Norte e Nordeste (Exu,

Pernambuco) do Brasil, Colômbia, Equador e Peru. Segundo estes autores, a primeira

delas é distintamente maior que a segunda nas dimensões médias dos caracteres também

empregados no presente estudo. Apesar do reduzido número de espécimes disponíveis

não permitir um posicionamento seguro quanto as características morfométricas da

população do norte de Minas Gerais, foi possível notar que uma da fêmeas examinadas

apresentou o antebraço e três medidas cranianas (comprimento côndilo-basal, largura

mastóidea, comprimento da série de dentes maxilares) consideravelmente maiores que

as descritas para T. s. maresi, enquadrando-se melhor nas referentes a T. s. bakeri

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(tabela 10), que geograficamente encontra-se mais distante. Tal fato demonstra que

maiores amostragens, provenientes principalmente de áreas mais ao sul da distribuição

da espécie, são necessárias para uma melhor compreensão de sua variação geográfica.

Tabela 10: Medidas selecionadas de uma fêmea de Tonatia saurophila provenientes da região de Jaíba, MG, associadas às médias e extremos fornecidos por Williams et al. (1995) para fêmeas de Tonatia s. bakeri e Tonatia s. maresi.

Caracter T. saurophila (MG) T. s. bakeri T. s. maresi

An 59,9 58,2 (55,6-61,0) 55,6 (52,4-58,0) Ctc 28,85 28,9 (27,6-30,5) 27,8 (26,6-29,1) Ccb 25,1 24,7 (23,3-26,2) 23,5 (22,6-24,6) Lz 14,55 14,1 (13,3-15,1) 13,8 (13,0-14,4) Cpo 5,4 5,5 (5,3-5,8) 5,4 (5,1-5,6) Lcx 10,85 10,7 (10,4-11,3) 10,4 (10,0-11,0) Lmt 13,4 13,1 (12,4-13,7) 12,6 (12,2-13,1) C-M 9,95 9,8 (9,4-10,2) 9,3 (9,0-9,7) Lm 8,9 8,8 (8,3-9,3) 8,5 (8,0-9,0) Lc 5,95 5,6 (5,2-6,1) 5,5 (5,0-5,9)

Tamanho da amostra: T. s. bakeri - An, Cpo e Lcx = 21 espécimes, as demais 22; T. s. maresi - An = 35, Ctc = 43, Ccb/Cpo/Lcx/Lmt = 44, Lz/C-M/Lm/Lc = 46.

Importantes caracteres dentários e cranianos de T. saurophila e que, de acordo

com Williams et al. (1995), permitem sua distinção de T. bidens, foram igualmente

observados nos exemplares do norte de Minas Gerais. Estes referem-se ao espaço que

separa a base dos caninos inferiores, maior em T. saurophila que em T. bidens; a

presença de um processo secundário no mastóideo, que obscurece parcialmente a bula

auditiva em T. saurophila e que está ausente em T. bidens; e ao tamanho do segundo

premolar inferior, mais desenvolvido em T. saurophila, sendo apenas levemente

recoberto pela cíngula do premolar inferior adjacente.

Quanto a morfologia externa e coloração, os espécimes de T. saurophila aqui

estudados concordam bem com a descrição apresentada por Williams et al. (1995). A

listra branca no topo da cabeça, entre as orelhas, característica nessa espécie (Williams

et al., 1995), encontrava-se presente em ambos os exemplares (figura 18). Contudo, a

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respeito de sua possível utilização, em campo, como caracter diagnóstico para

separação frente a exemplares de T. bidens, cabe ressaltar que em um espécime de T.

saurophila coletado na mesma região por A. Pol, a referida listra mostrava-se

praticamente indistinta.

Figura 18: Espécime de Tonatio saurophila procedente do Estado do Acre. Note a listra .branca presente no topo da cabeça, também observada em exemplares de Jaíba, MO. (Foto: A. Po!.)

- Hábitos gerais: Ambos os espécimes aqui assinalados foram capturados durante a 1 ª hora após o pôr do sol, na Reserva Biológica de Jaíba. Enquanto um deles foi

colecionado em rede armada no interior da mata, o outro foi obtido sobre uma poça de

água acumulada pela chuva, na estrada que margeia a Reserva.

Na caatingas de Pernambuco, Willig (1983) obteve apenas um exemplar de T.

saurophila (reportado sob o nome de T. bidens) capturado na formação por ele

denominada "serrote". Como mencionado nos comentários sobre a espécie co-genérica,

estas pequenas montanhas apresentam em suas inclinações uma vegetação de caatinga

alta, provavelmente similar à observada na Reserva Biológica de Jaíba. Assim como M

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sanborni e T. bidens, T. saurophila também tem sua ocorrência associada a áreas

florestadas, tratando-se de espécie indicadora de qualidade de hábitat, como corrobora-

se no presente estudo.

O período de atividade indicado pelo horário de captura dos exemplares aqui

mencionados, aliado ao fato de um deles ter sido obtido sobre coleção d’água,

juntamente com 1 vespertilionídeo (E. furinalis) e 3 molossídeos (M. planirostris, M.

ater e M. molossus), sugere hábitos insetívoros já mencionados para esta espécie (sob o

nome de T. bidens) em outras regiões (Humphrey et al., 1983; Reis & Peracchi, 1987).

A dieta à base de insetos é rica em proteínas mas pobre em líquidos, o que leva

morcegos deste hábito alimentar a visitarem freqüentemente os recursos hídricos

disponíveis.

- Reprodução: As duas fêmeas obtidas em abril não apresentavam sinais de atividade

reprodutiva. Com base em registros efetuados em Honduras, Wilson (1979) sugeriu um

padrão poliestro bimodal para esta espécie, a qual se referiu como T. bidens.

Phyllostomus discolor Wagner, 1843

- Localidade tipo: Brasil, Mato Grosso, Cuiabá.

- Distribuição: Oaxaca e Veracruz (México) até as Guianas, sudeste do Brasil,

Paraguai, norte da Argentina e Peru; Trinidad; Ilha de Margarita (Venezuela)

(Koopman, 1993).

- Material examinado: 31 exemplares (5 machos e 26 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 4 exemplares (1 macho e 3 fêmeas). Macho: ALP

6827 (05-IV-94). Fêmeas: ALP 6852, 6853 (30-IV-94); 6965 (13-I-95).

- Análise morfológica e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie

encontram-se na tabela 11. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 3,09% (Cpo) e o

menor, 0,20% (Lmt). Em geral, as medidas aqui apresentadas concordam com as

fornecidas por Taddei (1975a) para fêmeas do Estado de São Paulo, notando-se o

mesmo em relação à material de Nordeste reportado por Willig (1983).

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Tabela 11: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de espécimes de Phyllostomus discolor provenientes da região de Jaíba, MG.

Fêmeas (N = 3) Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV

An 59,42 (58,75-60,7) 1,11 1,87 Ctc 29,42 (28,95-29,9) 0,48 1,62 Ccb 26,20 (25,8-26,55) 0,38 1,44 Lz 15,33 (15,05-15,5) 0,25 1,61 Cpo 6,53 (6,3-6,65) 0,20 3,09 Lcx 12,25 (12-12,4) 0,22 1,78 Lmt 14,48 (14,45-14,5) 0,03 0,20 C-M 9,22 (9-9,4) 0,20 2,19 Lm 9,75 (9,5-10) 0,25 2,56 Lc 6,65 (6,6-6,7) 0,05 0,75

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.

- Hábitos Gerais: À exceção de um espécime capturado em rede armada sobre

bebedouro de gado na Fazenda Solagro, todos os demais exemplares de P. discolor

foram obtidos ao redor do CAM, em redes dispostas próximo a arbustos floridos de

Calliandra sp. (Leguminosae, Mimosoideae). Por diversas ocasiões observou-se

morcegos desta espécie forrageando em grupos estimados entre 8 e 10 indivíduos, que

freqüentemente emitiam intensas vocalizações. Ao abordar a flor, P. discolor parecia

pousar sobre ela permanecendo assim por cerca de 2 segundos. Na maioria dos

exemplares capturados notou-se a presença de pólen no rostro e principalmente na face

ventral do patágio. Glossophaga soricina e provavelmente Lonchophylla mordax

também utilizam este recurso alimentar que pareceu freqüente em áreas de vegetação

degradada.

Todas as capturas ocorreram a partir da 2a hora após o pôr do sol, e continuaram

até o final das coletas, tendo-se notado um pico na 3a hora (figura 19). Como constatado

por Ramirez et al. (1984), a atividade de P. discolor pode estar diretamente relacionada

ao horário de produção e a concentração do néctar das flores nas quais esta espécie está

se alimentando. Isto deve ser particularmente verdadeiro em relação ao grupo aqui

estudado, já que todas as capturas foram efetuadas junto a arbustos floridos de

Calliandra sp..

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0

10

20

30

40

50

1:00 2:00 3:00 4:00 5:00 6:00

Horas após o pôr do sol

% de captura

P. discolor

Figura 19: Horário de atividade de Phyllostomus discolor com base nas capturas em rede efetuadas na região de Jaíba, MG.

P. discolor pode alimentar-se de insetos, pólen, néctar, partes vegetativas das

flores e pequenos vertebrados (Gardner, 1977; Uieda & Hayashi, 1996), devendo,

portanto, ser considerada onívora como sugeriram Reis (1981) e Willig (1983). Além de

sua importância na dispersão de sementes (Reis & Peracchi, 1987), diversos autores têm

constatado a participação desta espécie como polinizadora (Carvalho, 1960, 1961;

Heithaus et al., 1974, 1975; Sazima & Sazima, 1977; Willig, 1983; Ramirez et al.,

1984; Willig et al., 1993).

O forrageio em grupo aqui relatado também encontra-se bem documentado

(Carvalho, 1960; Heithaus et al., 1974, 1975; Sazima & Sazima, 1977), e segundo

Sazima & Sazima (1977) está diretamente associado a quantidade de alimento

disponível. Apesar dos arbustos de Calliandra sp. apresentarem um número

relativamente baixo de flores a cada noite, a alta freqüência com que estes eram

encontrados na vegetação que cerca o CAM, provavelmente favorece a estratégia de

forrageio observada. As intensas vocalizações emitidas em vôo, também observadas por

Heithaus et al. (1974) e Sazima & Sazima (1977), indicam que morcegos desta espécie

podem interagir socialmente, como sugerido pelos referidos autores. Considerando-se

que a formação de haréns é uma característica de P. discolor (Fenton & Kunz, 1977), a

razão sexual obtida nas capturas realizadas junto aos arbustos de Calliandra sp.

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(ca. 6/1) pode refletir uma extensão de tais grupos sociais durante as atividades de

forrageio.

Morcegos do gênero Phyllostomus podem utilizar vários tipos de abrigos, como

cavernas, ocos de árvores, bueiros e edificações (Nowak, 1994). Esta flexibilidade,

aliada à diversidade de hábitos alimentares, e à capacidade de forragear em hábitats

alterados como os aqui mencionados, e inclusive em meio urbano (Sazima & Sazima,

1977), conferem a P. discolor uma considerável flexibilidade ecológica. Embora não

tenha sido amostrada em lote agrícola, é provável que o cultivo em larga escala de Musa

spp. favoreça a presença desta espécie na região estudada. Willig (1983) constatou que

em áreas de caatinga, em Pernambuco, exemplares de P. discolor estiveram em sua

maioria restritos à pomares de bananeiras e mangueiras.

Reprodução: Dentre as 26 fêmeas capturadas, encontrou-se 15 lactantes em abril e 2

em maio, e 1 grávida também em maio. Na Amazônia, Reis (1981) assinalou fêmeas

lactantes em março, junho e agosto, sugerindo que P. discolor não apresenta um ciclo

reprodutivo definido. Apesar de não permitirem uma análise conclusiva, os dados aqui

referidos indicam nascimentos ao final do período chuvoso, como se notou na maioria

das espécies estudadas. Arbustos de Calliandra sp., observados em floração de fevereiro

até pelo menos o início de maio, por certo constituem um importante recurso alimentar

para as fêmeas em reprodução.

Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767)

- Localidade tipo: Suriname.

- Distribuição: Honduras até Guianas, leste do Brasil, Paraguai, norte da Argentina, e

Peru; Trinidad e Tobago; Ilha de Margarita (Venezuela); Bolívia (Koopman, 1993).

- Material examinado: 5 exemplares (4 machos e 1 fêmea).

- Material incorporado à coleção: 3 exemplares (2 machos e 1 fêmea). Machos: ALP

6866, 6869 (16-VI-94). Fêmea: ALP 6900 (13-X-94).

Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie

encontram-se na tabela 12. Considerando-se as dimensões médias fornecidas por Willig

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(1983) para material do Nordeste, e por Taddei (1975a) para espécimes do Estado de

São Paulo (no geral maiores que os do Nordeste), nenhuma tendência mais clara foi

observada nas medidas aqui relatadas, havendo tanto valores intermediários quanto mais

próximos aos de uma região ou de outra. Taddei (1975a) e Willig (1983) verificaram a

ocorrência de dimorfismo sexual secundário, com machos sendo maiores que as fêmeas.

Apesar da reduzida amostragem, os presentes dados corroboram este fato.

Tabela 12: Medidas selecionadas de espécimes de Phyllostomus hastatus provenientes da região de Jaíba, MG.

Machos (N = 2) Fêmea

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) (N = 1)

Ab 83,75 (83-84,5) 81 Ctc 38,88 (38,45-39,3) 37 Ccb 33,18 (33,15-33,2) 31 Lz 20,80 (20,7-20,9) 20 Cpo 7,48 (7,4-7,55) 7,1 Lcx 13,88 (13,85-13,9) 14 Lmt 19,85 (19,8-19,9) 18 C-M 13,00 (12,85-13,15) 12 Lm 13,28 (13,2-13,35) 13 Lc 9,25 (9,2-9,3) 8,5

N = tamanho da amostra.

- Hábitos gerais: Dos 5 exemplares obtidos, 3 foram capturados em lote agrícola, junto

a plantações de Musa spp., 1 no CAM, e 1 no Dreno Jaíba, em rede armada na borda da

mata. Todas as capturas se procederam entre 21:00 e 24:00h, o que concorda com a

citação de Emmons (1990) dando conta de que P. hastatus só sai para forragear quando

o céu já está escuro. Por outro lado, Reis (1981) mencionou que tanto em capoeiras

quanto em matas primárias, na região amazônica, morcegos desta espécie foram

capturados apenas entre 18:15 e 19:45h.

Um indivíduo mantido cativo em gaiola por 13 dias, foi alimentado à base de

frutas e pequenos vertebrados. Diversas rãs (Leptodactylus ocellatus) e um calango

(Tropidurus aff. torquatus) foram prontamente aceitos por P. hastatus, notando-se que

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na maioria das vezes a cabeça e os membros das presas eram desprezados. Extensa

bibliografia sobre os hábitos alimentares desta espécie foi sumariada por Gardner

(1977), que a considerou onívora. Em condições de cativeiro, Taddei (1973) relatou

predação de pequenos roedores, pássaros e morcegos.

Quanto à utilização de abrigos, diversificação nos hábitos alimentares e

versatilidade em relação a áreas de forrageio, esta espécie assemelha-se muito a P.

discolor, citada anteriormente. Goodwin & Greenhall (1961) relataram P hastatus

abrigando-se em cavernas, ocos de árvores, edificações abandonadas e ainda entre

folhas de palmeiras. A utilização de cupinzeiros (Tuttle, 1970; Reis & Peracchi, 1987) e

do forro de uma igreja em área urbana (Peracchi et al., 1984) também já foram

relatadas. Tutlle (1970) mencionou ter, com freqüência, coletado morcegos desta

espécie em torno de vilas, mais especialmente próximo a áreas onde haviam bananas

cultivadas. Como pode-se concluir, P. hastatus adapta-se bem às alterações ambientais

provocadas pela ação antrópica, o que se reflete na variedade de hábitats em que foi

amostrada no presente estudo. As plantações de Musa spp., largamente exploradas no

Projeto Jaíba, por certo favorecem o incremento na população desta espécie na área,

como já evidenciado pelo maior número de capturas no lote agrícola.

Reprodução: Uma fêmea lactante foi capturada em outubro, início da estação chuvosa.

Dados sumariados por Wilson (1979) levaram-no a crer que a estratégia reprodutiva de

P. hastatus varia geograficamente, tendo observado registros que suportam tanto a

monoestria quanto a poliestria. Na região Amazônica, Reis (1981) encontrou fêmeas

grávidas em abril, setembro, outubro e novembro, sugerindo padrão poliéstrico. Taddei

(1973, 1976) não dispôs de amostragem suficiente para concluir sobre a estratégia

reprodutiva de P. hastatus em São Paulo, tendo capturado fêmeas grávidas em

setembro, outubro e novembro. Considerando-se o dado aqui obtido e os aos referidos

registros demonstrando atividade reprodutiva associada à períodos de maior

pluviosidade, pode-se esperar que, na região de Jaíba, um caráter sazonal também

caracterize a reprodução nesta espécie.

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Subfamília Lonchophyllinae Griffiths, 1982

Lonchophylla mordax Thomas, 1903

- Localidade tipo: Brasil, Bahia, Lamarão.

- Distribuição: Costa Rica até o Equador, leste do Brasil, talvez Peru e Bolívia

(Koopman, 1993). Até pouco tempo a ocorrência desta espécie em território brasileiro

parecia estar restrita a região Nordeste (cf. Taddei et al., 1988). Recentemente,

entretanto, L mordax teve sua presença confirmada para o Sudeste brasileiro através de

citação feita para o Estado do Espírito Santo por Pedro & Passos (1995). Como

mencionado por estes autores, são poucos os registros deste nectarívoro no Brasil, sendo

assinala pela primeira vez sua ocorrência em Minas Gerais.

- Material examinado: 18 exemplares (9 machos e 9 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 4 exemplares (3 machos e 1 fêmea). Machos: ALP

6841 (09-IV-94); ALP 6908, 6909 (14-X-94). Fêmea: ALP 6840 (09-IV-94).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para L. mordax

encontram-se na tabela 13. Em relação aos machos, para os quais se realizou análise

estatística descritiva, o maior coeficiente de variação obtido foi 3,73% (An) e o menor

0,58% (Lm).

Tabela 13: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de 3 machos de Lonchophylla mordax, e dados relativos a 1 fêmea da mesma espécie, todos provenientes da região de Jaíba, MG.

Machos (N = 3) Fêmea

Caracter Méd. (Mín.-Max.) DP CV (N = 1)

An 36,73 (35,15-37,55) 1,37 3,73 34,1 Ctc 22,67 (22,2-22,9) 0,40 1,78 22,7 Ccb 21,08 (20,25-21,65) 0,74 3,50 20,95 Lz 8,90 (8,8-9) 0,10 1,12 8,9 Cpo 4,22 (4,15-4,3) 0,08 1,81 4,3 Lcx 8,45 (8,4-8,55) 0,09 1,02 8,6 Lmt 9,10 (8,9-9,3) 0,20 2,20 9,1 C-M 7,67 (7,6-7,8) 0,12 1,51 7,65 Lm 5,02 (5-5,05) 0,03 0,58 5,2 Lc 3,67 (3,65-3,7) 0,03 0,79 3,6

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.

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Comparando-se as dimensões aqui apresentadas às médias fornecidas por Willig

(1983) a partir de consistente coleção (37 machos e 35 fêmeas) procedente das caatingas

de Pernambuco, nota-se que em relação as medidas ântero-posteriores do crânio os

espécimes de Jaíba tendem a exibir menores valores. Infelizmente o número de

espécimes disponíveis é muito pequeno, não permitindo uma análise mais consistente

(tabela 14). Além dos dados reportados por Willig (1983), poucos registros assinalam

medidas de L. mordax no Brasil (ver Swanepoel & Genoways, 1979), todos eles

referentes à material do Nordeste. Somente Ruschi (1953a) menciona um espécime do

Sudeste (ES). Este apresenta dimensões, no geral, ainda superiores as do material

reportado por Willig (1983), mas seu estado taxonômico permanece duvidoso, já que tal

espécime apresentava um dos arcos zigomáticos completos, divergindo da diagnose

genérica a qual o próprio Ruschi (1953a) fez referência. Este aspecto foi ressaltado em

publicação posterior por Pine & Ruschi (1976).

Tabela 14: Médias ou dimensões individuais de medidas selecionadas de Lonchophylla mordax apresentadas por Willig (1983) para Pernambuco, e pelo presente estudo para região de Jaíba, MG.

Machos Fêmeas

Caracter PE MG PE MG

An 34,65 36,73 35,15 34,1 Ctc 22,58 21,161 22,59 22,7 Ccb 21,33 21,08 21,36 20,95 Cpo 4,22 4,22 4,3 4,3 Lcx 8,39 8,45 8,31 8,6 Lmt 9.08 9,10 9.01 9,1 C-M 7,75 7,67 7,81 7,65 Lm 5,10 5,02 5,14 5,2 Lc 3,71 3,67 3,56 3,6

Tamanho das amostras: PE - 37 M e 35 F; MG - 3 M e 1 F. (1incisivo excluído para padronizar com Willig, 1983).

Coletados em simpatria com G. soricina, espécimes de L. mordax foram

facilmente separados desta espécie, em campo, por características externas já

mencionadas por Vieira (1942) e Ruschi (1953a): focinho mais estreito e alongado,

além de coloração dorsal pardo cinamomo e ventral pardo muito claro (figura 20).

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Figura 20: Espécime de Lonchophy/la mordax procedente da região de Jaíba, MG. (Foto: A. Pol.)

- Hábitos gerais: Dos 18 exemplares obtidos desta espécie, 17 foram amostrados no

afloramento calcário do Morro Solto e um no CAM. À exceção de um espécime

capturado na 1 ª hora após o pôr do sol, todos os demais foram obtidos entre 21:00 e

24 :OOh, sugerindo atividade predominantemente noturna.

Aspectos bionômicos de L. morda.~ são praticamente desconhecidos. Willig

(1983) a incluiu na guilda dos nectarívoros. Howell & Burch (1974) reportaram, para

espécimes da Costa Rica, a utilização de néctar e pólen, provenientes inclusive de

Musa. Insetos da ordem Lepidoptera constituíram outro item citado por estes autores.

Alguns expressivos dados referidos para esta espécie foram publicados por Ruschi

(1953a), ressaltando-se, entretanto, que tais informações devem ser consideradas com

reservas em face a problemática na identificação da espécie, já abordada anteriormente.

Segundo este autor, L. mordax apresenta hábitos crepusculares e noturnos, como

também observado no presente estudo, e forma colônias puras com cinco a dez

indivíduos que abrigam-se em cavernas e folhagens de palmeiras, ou ainda em grutas,

bueiros e ocos de árvores, coabitando com diversas outras espécies. Além dos itens

alimentares já referidos, Ruschi (1953a) acrescentou ainda a utilização de frutas

suculentas. O uso de cavidades como abrigo foi confirmado por Sazima et ai. (1989)

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comunicação pessoal de D. Guerra e J. S. Marinho-Filho, tendo ressaltado os primeiros

autores a exploração sazonal deste recurso nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil.

Willig (1983) verificou que L. mordax é uma espécie comum nas caatingas de

Pernambuco, especialmente próximo aos “serrotes”. A preferência por este tipo de

hábitat foi também constatada na região de Jaíba, onde com freqüência capturou-se este

nectarívoro junto ao afloramento calcário do Morro Solto. Como já mencionado, esta

formação apresenta certa similaridade com as pequenas serras (“serrotes”) descritas por

Willig (1983). A bromeliácea Encholirium spectabile (macambira-de-lajeiro ou

macambira-de-flecha), uma das plantas mais características das caatingas, onde surge

geralmente associada a afloramentos rochosos (Andrade-Lima, 1989), foi observada no

Morro Solto formando densos agrupamentos, e provavelmente deve constituir

abundante recurso alimentar para L. mordax. Morcegos nectarívoros da espécie co-

genérica L. bokermanni, endêmica do sudeste brasileiro, são conhecidos por visitar as

inflorescências de Encholirium glaziovii nos campos rupestres da Serra do Cipó (Sazima

et al., 1989).

A presença de L. mordax na vegetação já alterada que caracteriza a área do

CAM, demonstra alguma plasticidade comportamental desta espécie. Um morcego com

coloração ventral muito clara, bem distinta da observada em exemplares simpátricos de

G. soricina, e que acredito tratar-se de um L. mordax, foi observado visitando flores de

Calliandra sp.. Comumente observados não só na vegetação que cerca o CAM, como

em outras áreas de vegetação degradada, e inclusive na beira de estradas, arbustos desta

leguminosa foram utilizados ainda por P. discolor e G. soricina. Diferente destas duas

espécies, entretanto, L. mordax foi espécie rara na amostragem realizada no CAM, não

evidenciando a mesma flexibilidade ecológica.

Reprodução: Registrou-se 1 fêmea grávida e 6 lactantes em abril. Os únicos dados

reprodutivos encontrados sobre está espécie foram os mencionados por Wilson (1979).

Referindo-se a Lonchophylla concava (= L. mordax concava) este autor reportou que,

apesar dos poucos registros disponíveis, estes haviam sido feitos em períodos

suficientemente distintos do ano para supor a ocorrência de mais de um pico de

nascimentos por ano (poliestria). A atividade reprodutiva aqui evidenciada ao final do

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período chuvoso pode estar relacionada a um padrão de poliestria bimodal sazonal, já

constatado para morcegos nectarívoros, em áreas de caatinga, por Willig (1985).

Subfamília Glossophaginae Bonaparte, 1845

Glossophaga soricina (Pallas, 1766)

- Localidade tipo: Suriname.

- Distribuição: Tamaulipas, Sonora e Ilhas Três Marias (México) até Guianas, sudeste

do Brasil, norte da Argentina e Peru; Ilha de Margarita (Venezuela); Trinidad; Granada

(Pequenas Antilhas); Jamaica; talvez Bahamas (Koopman, 1993).

- Material examinado: 27 exemplares (15 machos e 12 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 18 exemplares (9 machos e 9 fêmeas). Machos:

ALP 6870 (26-VIII-94); ALP 6881 (10-X-94); ALP 6886, 6888, 6890 (11-X-94); ALP

6902 (13-X-94); ALP 6905 (14-X-94); ALP 6960 (12-I-95); ALP 6984 (01-III-95).

Fêmeas: ALP 6891, 6895 (11-X-94); ALP 6940 (25-X-94); ALP 6968 (20-II-95); ALP

6985, 6986, 6987, 6998, 6999 (01-III-95).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie

encontram-se na tabela 15. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 4,43% (Lc dos

machos) e o menor, 1,03% (Cpo das fêmeas). As dimensões médias observadas em

relação às fêmeas foram, no geral, superiores às dos machos, mas nível significante de

dimorfismo sexual (P < 0,05) foi verificado em apenas uma (Lcx).

Alvarez et al. (1991) reconheceram 5 subespécies para G. soricina: G. s.

antillarum, restrita a Jamaica; G. s. handleyi, encontrada desde o leste e oeste do

México (excluindo a maioria do Platô Mexicano) seguindo pela América Central até o

noroeste da América do Sul; G. s. mutica, restrita as Ilhas Três Marias; G. s. soricina,

ocupando a maior parte da distribuição da espécie na América do Sul à leste dos Andes,

incluindo Trinidad e Ilha de Margarita; G. s. valens, ocorrendo à oeste do Andes nas

partes ocidentais do Equador e Peru. Uma análise mais aprofundada à respeito da

adoção deste procedimento foi apresentada por Webster (1993) em abrangente estudo

sobre a sistemática e evolução do gênero Glossophaga. De acordo com este autor, as

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formas insularis (G. s. antillarum e G. s. mutica) destacam-se por suas maiores

dimensões, G. s. handleyi apresenta tamanho moderado tanto externamente quanto nas

dimensões cranianas, G. s. soricina é a menor forma em ambos os critérios, possuindo

pelagem de coloração escura, e G. s. valens caracteriza-se por um grande tamanho e pela

coloração pálida da pelagem. Webster (1993) admitiu ainda uma intergradação entre G.

s. soricina e G. s. handleyi ao longo do Vale do Rio Madalena, na Colômbia.

Tabela 15: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Glossophaga soricina provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 9) Fêmeas (N = 7)

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) DP CV P

An 35,38 (33,7-36,45) 0,90 2,55 35,88 (34,5-36,9) 0,91 2,55 0,2919 Ctc 20,64 (19,95-21,2) 0,47 2,26 20,89 (20,5-21,1) 0,22 1,04 0,2288 Ccb 19,33 (18,6-19,8) 0,40 2,06 19,61 (19,25-20,15) 0,33 1,68 0,1469 Lz 9,20 (8,85-9,6) 0,22 2,38 9,29 (8,95-9,65) 0,25 2,67 0,4891 Cpo 4,73 (4,5-5) 0,13 2,84 4,73 (4,65-4,8) 0,05 1,03 0,9307 Lcx 8,58 (8,35-8,75) 0,13 1,51 8,75 (8,45-8,95) 0,17 1,92 0,0418* Lmt 8,81 (8,5-9,15) 0,23 2,64 8,91 (8,7-9,1) 0,13 1,51 0,3159 C-M 7,09 (6,8-7,35) 0,21 2,98 7,23 (7,1-7,4) 0,10 1,44 0,1869 Lm 5,42 (5,2-5,6) 0,11 2,12 5,43 (5,1-5,8) 0,22 4,04 0,9413 Lc 3,94 (3,7-4,2) 0,17 4,43 3,97 (3,7-4,15) 0,16 3,90 0,7040

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; Valores de P menores que 0,05 (*) indicam a existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.

Analisando-se os dados médios aqui obtidos, juntamente com os fornecidos por

Taddei (1975b) para o Estado de São Paulo, e por Willig (1983) para o Nordeste do

Brasil, parece discernível uma variação clinal envolvendo o leste brasileiro. Como

evidenciado principalmente pelas medidas ântero-posteriores do crânio, os espécimes

tendem a decrescer de tamanho em direção norte. As médias das medidas de material

procedente do Amazonas, mencionadas por Webster (1993), são ainda menores que as

da região Nordeste (tabela 16). Uma análise mais aprofundada sobre a morfometria de

G. soricina na extensa área correspondente à distribuição da forma típica (maior parte

da América do Sul à leste dos Andes), pode evidenciar a ocorrência de padrões de

variação não abordados no abrangente estudo de Webster (1993).

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Existência de dimorfismo sexual secundário estatisticamente significante em G.

soricina foi constatada por Taddei (1975b), Willig (1983) e Webster (1993). De acordo

com análise apresentada por este último autor, fêmeas são, em média, geralmente

maiores que os machos nas medidas ântero-posteriores do crânio, verificando-se o

contrário em relação as medidas de largura do crânio. No presente estudo notou-se que

além da diferença constatada nas 3 variáveis relacionada ao comprimento do crânio

(Ctc, Ccb e C-M), as dimensões médias das fêmeas foram também superiores as dos

machos em 3 (Lz, Lcx e Lmt) dos 6 caracteres enfocando a largura do crânio, 1 deles

inclusive com diferença estatisticamente significante.

Tabela 16: Médias de medidas selecionadas de Glossophaga soricina apresentadas por Webster (1993) para o Estado do Amazonas, por Willig (1983) para o Ceará (cerrado) e Pernambuco (caatinga), por este estudo para a região de Jaíba, MG, e por Taddei (1975b) para o Estado de São Paulo. Machos Fêmeas

Caracter AM CE PE MG SP AM CE PE MG SP

An 34,08 35,05 35,15 35,38 35,39 35,09 35,75 36,10 35,88 35,90

Ctc 20,19 20,29 20,45 20,64 20,58 20,26 20,53 20,54 20,89 20,62

Ccb 18,59 19,09 19,15 19,33 19,38 18,66 19,23 19,30 19,61 19,52

Lz 8,94 9,22 9,17 9,20 9,38 8,96 9,20 9,17 9,29 9,20

Cpo 3,95 4,63 4,58 4,73 4,70 3,97 4,69 4,60 4,73 4,72

Lcx 8,41 8,56 8,64 8,58 8,72 8,36 8,72 8,64 8,75 8,60

Lmt 8,72 8,81 8,77 8,81 9,00 8,72 8,91 8,90 8,91 8,88

C-M 6,85 6,97 6,99 7,09 7,10 6,97 7,04 7,04 7,23 7,24

Lm 5,19 5,34 5,33 5,42 5,40 5,32 5,33 5,33 5,43 5,42

Lc - 3,93 3,96 3,94 3,81 - 3,94 3,87 3,97 3,74

Tamanho das amostras: AM - variou entre 16/20 M e 18/22 F; CE - 20 M e 20 F; PE - 20 M e 20 F; MG - 9 M e 7 F; SP - An, 59 M e 47 F / crânio, 20 M e 20 F.

- Hábitos gerais: Uma das espécies mais comuns na região. Dos 27 exemplares

amostrados, 16 foram capturados no afloramento calcário do Morro Solto, 5 em lote

agrícola, 4 no CAM, 1 na Fazenda Yamada, e 1 no Dreno Jaíba. Duas colônias puras de

G. soricina foram encontradas em pequenas cavidades no afloramento calcário do

Morro Solto, ambas com cerca de 6 indivíduos. Em outra cavidade, neste mesmo local,

observou-se um espécime coabitando com 3 exemplares de P. lineatus. Apesar deste

glossofagíneo não ter sido amostrado em rede na Reserva Biológica de Jaíba, uma

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colônia com cerca de 8 indivíduos foi registrada abrigando-se em sótão de residência

(casa do guarda florestal) nesta localidade.

Todos os 4 exemplares obtidos no CAM foram capturados em rede disposta

junto à arbusto de Calliandra sp. em floração, tendo-se observado abundante quantidade

de pólen distribuído na face ventral das asas de dois deles, o que indicou a utilização

desta leguminosa como recurso alimentar. P. discolor e provavelmente L. mordax

também visitam as flores de Calliandra sp., arbusto freqüente em áreas de vegetação

alterada sendo comumente observado na beira de estradas. Quanto ao horário de

atividade, notou-se uma concentração das capturas ao longo das 3 primeiras horas após

o pôr do sol, como pode ser evidenciado através da figura 21.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1:00 2:00 3:00 4:00 5:00

Horas após o pôr do sol

% de captura

G. soricina

Figura 21: Horário de atividade de Glossophaga soricina com base nas capturas em rede efetuadas na região de Jaíba, MG.

Morcegos do gênero Glossophaga apresentam a dieta menos especializada

dentre os nectarívoros da subfamília Glossophaginae (Emmons, 1990). De acordo com

dados compilados por Gardner (1977), G. soricina pode consumir insetos, frutas, pólen,

néctar e partes florais, assumindo portanto um caráter onívoro (Fleming et al., 1972;

Barquez et al., 1993). Suas preferências alimentares parecem variar geograficamente

(Alvarez et al., 1991), e a flutuação sazonal dos recursos alimentares influencia

diretamente na composição de sua dieta (Webster, 1993). Uma vasta bibliografia

abordando os hábitos nectarívoros desta espécie, e que enfatizam sua importante

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participação na polinização de diversas espécies de vegetais, encontra-se disponível

(Carvalho, 1960; Gardner, 1977; Sazima et al., 1982; Lemke, 1984, 1985; Ramirez et

al., 1984; Silva et al., 1997).

A mesma versatilidade apresentada por G. soricina em relação à utilização de

recursos alimentares, pode ser constatada quanto à exploração de abrigos diurnos.

Taddei (1973) classificou esta espécie no Norte-Ocidental do Estado de São Paulo como

predominantemente antropófila, tendo colecionado indivíduos em construções habitadas

ou não, nos sótãos, porões e outras dependências, com luminosidade reduzida; cisternas;

tonéis abandonados; sob pontes; e em tubos de escoamento de água sob rodovias.

Outros tipos de refúgio também utilizados incluem cavernas, túneis, bueiros, minas

abandonadas, e árvores e troncos ocos (Barquez et al., 1993; Webster, 1993). Mais de

30 espécies de morcegos têm sido registradas em coabitação com G. soricina (Webster,

1993).

A grande capacidade adaptativa que G. soricina apresenta frente às alterações

antrópicas tem sido referida por diversos autores (Reis, 1981; Sazima et al., 1982;

Lemke, 1985) e pôde ser evidenciada no presente estudo onde a espécie foi amostrada

em variados tipos de hábitats. A utilização de uma construção humana como abrigo na

área da Reserva Biológica de Jaíba retrata bem os hábitos antropófilos que, como

relatado por Taddei (1973), caracterizam este glossofagíneo. Gardner (1977) e Lemke

(1984, 1985) já haviam mencionado a participação de Calliandra na dieta de G.

soricina. Lemke (1985) observou que ao visitar Calliandra laxa os morcegos ingeriam

as anteras, não contribuindo para a polinização da espécie.

Ainda sobre os hábitos alimentares de G. soricina, destaca-se que a introdução

em larga escala do cultivo de Musa spp. na região ora em estudo, tende a favorecer uma

elevação na abundância desta espécie, já que os recursos florais das bananeiras

constituem mais um item reconhecido em sua dieta (Taddei, 1973; Gardner, 1977).

Quanto ao período de atividade, LaVal (1970) verificou um padrão bimodal, com picos

de captura na 1a hora após o crepúsculo e antes da alvorada. Já Ramírez-Pulido &

Armella (1987) constataram no México um pico de atividade na 3a hora após o pôr do

sol. Ambos os estudos divergem dos resultados aqui obtidos, onde uma concentração

das capturas estendeu-se ao longo das três primeiras horas de coleta.

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- Reprodução: No presente estudo amostrou-se uma fêmea grávida em abril e uma

lactante em março, ambos os meses associados ao período chuvoso. De acordo com

dados compilados por Alvarez et al. (1991), o padrão reprodutivo de G. soricina é

variável geograficamente, havendo registros de poliestria assazonal e de poliestria

bimodal. Wilson (1979) também concluiu que esta espécie pode incluir-se em uma ou

outra categoria dependendo da localidade. Em áreas de caatinga e cerrado no Nordeste

do Brasil, Willig (1983) a caracterizou como poliestra bimodal sazonal, padrão que

possivelmente rege a reprodução de G. soricina na região de Jaíba.

A fêmea lactante mencionada anteriormente e que foi obtida em rede armada

junto à saída de uma cavidade no Morro Solto, carregava seu filhote no momento da

captura. Em estudo conduzido sobre a quiropterofauna de uma região cárstica do Estado

de São Paulo, Trajano (1984) relatou ser bastante rara a captura de indivíduos saindo do

abrigo com o filhote agarrado. De fato, ao longo dos trabalhos de campo na região de

Jaíba, apenas este caso e o relatado anteriormente sobre R. naso foram registrados.

Segundo Trajano (1984) a permanência dos filhotes no abrigo pode ser de alto valor

adaptativo, já que poupa às mães o gasto energético conseqüente do acréscimo de peso

durante o vôo, e constitui uma estratégia de proteção do jovem contra predadores e

condições ambientais externas adversas.

Subfamília Carolliinae Miller, 1924

Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758)

- Localidade tipo: Suriname.

- Distribuição: Oaxaca, Veracruz, e Península de Yucatan (México) até Peru, Bolívia,

Paraguai, sudeste do Brasil e Guianas; Trinidad e Tobago; Granada (Pequenas

Antilhas); talvez Jamaica, norte das Grandes Antilhas (Koopman, 1993).

- Material examinado: 38 exemplares (20 machos e 18 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 17 exemplares (6 machos e 11 fêmeas). Machos:

ALP 6865 (16-VI-94); ALP 6880, 6882 (10-X-94); ALP 6889 (11-X-94); ALP 6972

(20-II-95); ALP 6994 (01-III-95). Fêmeas: ALP 6828 (06-IV-94); ALP 6883, 6884 (10-

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X-94); ALP 6907 (14-X-94); ALP 6950, 6951 (14-XI-94); ALP 6961 (12-I-95); ALP

6989, 6991, 6993, 6995 (01-III-95).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie

encontram-se na tabela 17. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 4,12% (Lcx das

fêmeas) e o menor, 0,43% (An dos machos). Em 8 das 10 medidas estudadas a média

obtida para os machos foi superior a das fêmeas, mas nível significante de dimorfismo

sexual (P < 0,05) foi verificado apenas em uma (Lz).

Tabela 17: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Carollia perspicillata provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 4) Fêmeas (N = 4)

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx). DP CV P

An 43,74 (43,55-43,9) 0,19 0,43 42,51 (40,55-44,0) 1,44 3,38 0,1416 Ctc 23,24 (23,05-23,4) 0,15 0,64 22,99 (22,5-23,35) 0,41 1,78 0,2945 Ccb 20,98 (20,85-21,1) 0,10 0,50 20,71 (20,2-21,0) 0,36 1,72 0,2075 Lz 11,74 (11,55-12,0) 0,21 1,75 11,06 (10,8-11,3) 0,21 1,93 0,0039* Cpo 5,63 (5,5-5,75) 0,10 1,85 5,66 (5,5-5,8) 0,12 2,21 0,6610 Lcx 9,83 (9,7-10,0) 0,13 1,28 9,36 (8,9-9,75) 0,39 4,12 0,0629 Lmt 11,44 (11,2-11,6) 0,17 1,49 11,16 (10,8-11,6) 0,34 3,09 0,2026 C-M3 7,79 (7,7-7,9) 0,09 1,10 7,81 (7,7-8,0) 0,13 1,68 0,7606 Lm 8,24 (7,95-8,6) 0,28 3,41 8,18 (7,9-8,55) 0,31 3,75 0,7740 Lc 5,36 (5,2-5,55) 0,15 2,78 5,16 (5,0-5,4) 0,17 3,30 0,1277

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; Valores de P menores que 0,05 (*) indicam existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.

Ainda que com certas reservas, Pine (1972) considerou a ocorrência de 3

subespécies para C. perspicillata: C. p. azteca (norte e oeste da Bacia Amazônica), C. p.

perspicillata (Bacia Amazônica) e C. p. tricolor (vale do Rio Paraná). Aliado a outros

caracteres, o maior tamanho da primeira em relação ao da segunda, e o desta comparado

ao da terceira, constituiriam critérios para diferenciação (Pine, 1972). McLellan (1984),

entretanto, realizando análise morfométrica craniana nos mesmos exemplares

examinados por Pine (1972), não encontrou sustentação para tal procedimento. Apesar

de ter constatado uma distinção entre as amostras do México e Honduras quando estas

foram confrontadas às provenientes do Peru, Bolívia e Paraguai, McLellan (1984) notou

que amostras de regiões situadas entre estes extremos apresentavam medidas

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intermediárias, formando um contínuo. Análise comparativas conduzidas por esta autora

em amostras relativas às áreas das citadas subespécies não demonstraram uma clara

distinção entre as formas.

Considerando-se o leste brasileiro, é possível notar que as médias das medidas

apresentadas por Willig (1983) para material do Nordeste, são, em sua maioria,

superiores às fornecidas por Taddei (1975b) e Fazzolari-Corrêa (1995) para espécimes

do Estado de São Paulo. Já as médias obtidas a partir da presente amostragem são

superiores tanto às referidas por Willig (1983) quanto por Taddei (1975b) e Fazzolari-

Corrêa (1995) (tabela 18), sendo ainda maiores que as apresentadas por Pine (1972) para

material da Amazônia brasileira. Tal fato pode estar relacionado ao reduzido tamanho

da amostra aqui estudada. Quando, em relação ao tamanho do antebraço, incluiu-se as

medidas obtidas a partir dos espécimes soltos, aumentando o número de indivíduos

analisados de 4 machos para 19, e 4 fêmeas para 13, obtêm-se, respectivamente, 42,65 e

42,81mm, resultados bem próximos aos do Nordeste e superiores aos de São Paulo. Sob

este enfoque, o material do norte de Minas Gerais suporta a variação clinal referida para

C. perspicillata por McLellan (1984).

Tabela 18: Médias de medidas selecionadas de Carollia perspicillata fornecidas por Willig (1983) para o Nordeste do Brasil (CE e PE), pelo presente estudo para a região de Jaíba, MG, e por Taddei (1975b)1e Fazzolari-Corrêa (1995)2 para o Estado de São Paulo (SP). Machos Fêmeas M/F Caracter CE PE MG

MMG SP1 CE PE MG SP1 SP2

An 42,25 42,7 43,74 41,18 42,7 42,95 42,51 41,77 39,53 Ctc 22,1 22,26 23,24 21,77 21,77 22,0 22,99 21,71 21,87 Ccb 20,05 20,23 20,98 19,86 19,81 20,03 20,71 19,78 - Lz - - 11,74 11,09 - - 11,06 10,93 - Cpo 5,63 5,68 5,63 5,53 5,51 5,55 5,66 5,45 5,4 Lcx 9,75 9,75 9,83 9,60 9,73 9,65 9,36 9,54 9,6 Lmt 10,97 10,87 11,44 11,1 10,83 10,86 11,16 10,78 - C-M 7,53 7,61 7,79 7,21 7,47 7,54 7,81 7,13 7,20 Lm 7,95 - 8,24 7,99 7,89 8,07 8,18 7,95 - Lc 5,17 5,30 5,36 4,87 4,98 5,03 5,16 4,74 -

Tamanho das amostras: CE - 20 M e 20 F; PE - 20 M e 20 F; MG - 4 M e 4 F; SP1 - An, 30 M e 30 F / crânio, 15 M e 15 F; SP2 - 10 M e 7 F.

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Dimorfismo sexual em C. perspicillata é geograficamente variável (Cloutier &

Thomas, 1992). Na Colômbia, Tamsitt & Valdivieso (1963) verificaram que machos e

fêmeas não diferiam em tamanho, ao passo que em espécimes do Nordeste e de São

Paulo examinandos, respectivamente, por Willig (1983) e Taddei (1975b), machos

geralmente apresentaram maiores médias para as dimensões craniais. Enquanto na

amostragem de Willig (1983) 6 dos 15 caracteres analisados foram significantemente

maiores nos machos (comprimento total do crânio, comprimento côndilo-basal,

constrição pós-orbital, largura rostral, largura externa dos caninos superiores, e

comprimento do processo coronóide), os resultados de Taddei (1975b) apontaram

apenas um caracter estatisticamente significante (largura mastóidea). Os dados obtidos

para a região de Jaíba corroboram uma possível generalização de tal tendência (M > F)

para o leste brasileiro.

Desde que Pine (1972) reconheceu Carollia brevicauda como uma espécie

distinta, alguns autores têm mencionado a dificuldade de separa-la de C. perspicillata

(Koopman, 1978; Barquez, 1987). Segundo Koopman (1978), nenhum dos caracteres

propostos por Pine (1972) são completamente diagnósticos. Já Barquez (1987) vai mais

além, acreditando que características como cíngulos dos caninos da mandíbula

ocultando ou não os incisivos externos, e série de dentes superiores formando ou não

uma fileira reta, são conseqüências de variações intra-específicas ou intra-populacionais,

mas não interespecíficas. Husson (1978) relatou não ter obtido êxito ao utilizar a revisão

de Pine (1972) em material do Suriname. Por outro lado, nas Guianas Brosset &

Charles-Dominique (1990) não encontraram problemas em diferenciar as duas espécies

com base nos critérios propostos pelo referido autor, e McLellan (1984) facilmente as

separou utilizando análises de variação canônica. A possibilidade de convergência de

caracteres ou hibridização entre C. perspicillata e C. brevicauda tem sido considerada

(Pine, 1972; McLellan, 1984).

Adotando-se as proposições de Koopman (1993) em considerar válidos os dois

táxons, nota-se que estes ocorrem em ampla área de simpatria. Um único espécime de

C. brevicauda, em adição ao mais comum C. perspicillata, foi assinalado para as

caatingas de Pernambuco por Willig & Mares (1989). Com relação ao sudeste brasileiro,

registros de C. brevicauda restringem-se ao Estado do Espírito Santo, onde situa-se a

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localidade tipo e onde Peracchi & Albuquerque (1993) constataram simpatria com C.

perspicillata.

Com referência a utilização dos critérios propostos por Pine (1972) na

identificação do material aqui analisado, observou-se que dentre os 8 espécimes

incorporados à coleção, 5 apresentavam os incisivos externos totalmente obscurecidos

pelos cíngulos do caninos da mandíbula, e 3 possuíam os mesmos dentes apenas

parcialmente obscurecidos. Fazzolari-Corrêa (1995) também notou variação neste

caracter em material referido à C. perspicillata proveniente do Estado de São Paulo. De

acordo com Pine (1972), entretanto, em C. brevicauda os incisivos externos são

facilmente visíveis quando vistos de cima, o que não se observou em nenhum dos

exemplares. As séries de dentes maxilares mostraram-se relativamente retas em todos os

espécimes, não apresentando o abaulamento para o lado lingual como esquematizado

por Pine (1972) em relação a C. brevicauda.

Não obstante a tais características, os dados morfométricos obtidos, de

dimensões elevadas até mesmo para C. perspicillata, não deixam dúvidas quanto a

identificação do material. Dentre os caracteres considerados úteis por McLellan (1984)

na diferenciação das espécies de Carollia, está o comprimento da série de dentes

maxilares. Os valores médios encontrados no presente estudo tanto para machos (7,79)

quanto para fêmeas (7,81) são bem maiores que o apresentado por esta autora para C.

brevicauda (6,95) e ainda superiores ao proposto para C. perspicillata (7,53).

- Hábitos gerais: Espécie amplamente distribuída na área de estudo ocorrendo em quase

todos os tipos de hábitats. Os espécimes foram amostrados no afloramento calcário do

Morro Solto (27), no CAM (2), Fazenda Solagro (2), Fazenda Yamada (4), Reserva

Biológica de Jaíba (1), e em lote agrícola (2). Uma pequena colônia composta por 3

indivíduos foi encontrada em cisterna abandonada na sede da Reserva Biológica de

Jaíba. As capturas concentraram-se a partir da 2a hora após o pôr do sol, entendendo-se

até o final das coletas (figura 22).

C. perspicillata é um dos morcegos neotropicais mais bem estudados (Fleming,

1988). Tem sido mais comumente registrado abrigando-se em cavernas, ocos de árvores,

túneis, e bueiros; e menos freqüentemente entre rochas, sob folhas, e em residências

(Cloutier & Thomas, 1992). Ruschi (1953a) mencionou colônia abrigada na

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05

1015202530354045

1:00 2:00 3:00 4:00 5:00

Horas após o pôr do sol

% de captura

C. perspicillata

Figura 22: Horário de atividade de Carollia perspicillata com base nas capturas em rede efetuadas na região de Jaíba, MG.

folhagem de uma amendoeira (Terminalia cattapa), e Starrett & de la Torre (1964 apud

Pine, 1972) reportaram dois exemplares capturados sob folhas de bananeiras. Ainda

Taddei (1973), encontrou morcegos desta espécie em tubos para escoamento de água

sob rodovia; sob pontes; em tonéis abandonados; suspensos em raízes que afloravam

em barrancas de rio; e em cisternas abandonadas, como também assinalado no presente

estudo.

Apresentando uma dieta generalista, C. perspicillata tem sido observada

alimentando-se de mais de 50 espécies de frutas e 11 de néctar/pólen, podendo ainda

investir em insetos (Fleming, 1988). Na região de Manaus, Reis (1981) encontrou

indícios da utilização de 28 espécies de vegetais por este morcego, destacando sua

importância como dispersor de sementes e polinizador. Segundo Fleming (1988), a

ampla disseminação de sementes de plantas pioneiras por C. perspicillata é um

elemento crucial no processo de sucessão secundária em áreas florestadas. Ainda de

acordo com este autor, a razão de colonização em clareiras por plantas pioneiras seria

muito menor se este quiróptero fosse removido dos hábitats onde ocorre.

Quanto ao padrão de atividade, diversos estudos têm demonstrado que espécimes

de C. perspicillata permanecem ativos ao longo de toda noite (Reis, 1981; Fleming,

1988; Marinho-Filho & Sazima, 1989). Os dados aqui obtidos, limitados a 1a metade da

noite, corroboram, pelo menos em parte, este padrão (figura 22).

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A grande capacidade adaptativa da espécie em tela pode ser realçada

mencionando-se as observações de Brosset & Charles-Dominique (1990), que na

Guiana Francesa amostraram indivíduos em florestas primárias e secundárias, borda de

estradas, pastos, áreas cultivadas, e locais arborizados em área urbana. Segundo estes

autores, C. perspicillata parece encontrar seu ótimo de densidade populacional em

hábitats modificados. No presente estudo ficou evidenciada a versatilidade desta espécie

em explorar diferentes tipos de hábitats, mas o esforço diferencial de amostragem entre

hábitats preservados e alterados não permite inferir sobre um possível aumento

populacional nas áreas degradadas. O elevado número de capturas obtido no

afloramento calcário no Morro Solto por certo deve-se, não só ao fato da área constituir

um sítio de refúgios, como também ao maior esforço amostral nela aplicado.

- Reprodução: Encontrou-se 1 fêmea lactante em março, 1 em abril e 1 em outubro.

Dados sumariados por Wilson (1979) suportam, em relação a C. perspicillata, a

contenção do padrão poliéstrico bimodal sazonal, inicialmente proposto por Fleming

(1973) a partir de espécimes estudados no Panamá. O mesmo padrão foi assinalado para

região Amazônica por Reis (1981) e Marques (1985b), e para áreas de caatinga e

cerrado, no Nordeste, por Willig (1985). Na região Sudeste, registros de fêmeas

lactantes nos meses de janeiro fevereiro, março, outubro e novembro, efetuados por

Taddei (1973) também sugerem esta estratégia reprodutiva. Os dados aqui obtidos,

apesar de não conclusivos, parecem acompanhar o padrão poliéstrico bimodal sazonal,

indicando nascimentos no início e ao final do período chuvoso.

Subfamília Stenodermatinae Gervais, 1856

Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810)

- Localidade tipo: Paraguai, Assunção.

- Distribuição: Pequenas Antilhas, Sonora e Tamaulipas (México) até o norte da

Argentina, Uruguai, e leste do Brasil; Trinidad e Tobago; talvez Jamaica (Koopman,

1993).

- Material examinado: 6 exemplares (5 machos e 1 fêmea).

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- Material incorporado à coleção: 6 exemplares (5 machos e 1 fêmea). Machos: ALP

6885 (10-X-94); ALP 6910 (20-X-94); ALP 6952, 6953 (14-XI-94); 6975 (21-II-95).

Fêmea: ALP 6899 (13-X-94).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para os morcegos desta

espécie encontram-se na tabela 19. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 4,45%

(C-M) e o menor, 0,45% (Ctc). As dimensões médias de S. lilium aqui reportadas não

demonstraram nenhum padrão mais evidente de diferenciação em relação às fornecidas

por Taddei (1975b) e Willig (1983), para coleções de machos desta espécie

provenientes, respectivamente, do Estado de São Paulo e do Nordeste do Brasil.

Tabela 19: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de exemplares de Sturnira lilium provenientes da região de Jaíba, MG.

Machos (N = 4) Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV

An 42,91 (42,0-43,7) 0,70 1,63 Ctc 23,01 (22,9-23,1) 0,10 0,45 Ccb 20,68 (20,4-21) 0,25 1,21 Lz 14,33 (13,8-14,7) 0,39 2,70 Cpo 6,00 (5,9-6,15) 0,11 1,80 Lcx 10,34 (10,2-10,5) 0,13 1,21 Lmt 12,60 (12,45-12,9) 0,20 1,62 C-M 6,55 (6,3-6,85) 0,29 4,45 Lm 8,24 (8-8,35) 0,16 1,94 Lc 6,46 (6,4-6,6) 0,09 1,46

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.

- Hábitos gerais: Dos 6 exemplares obtidos, 3 foram capturados no Dreno Jaíba, 2 em

rede armada sobre bebedouro de gado na Fazenda Solagro, e 1 em trilha no interior de

mata na Fazenda Yamada. Horários de captura foram assinalados apenas para 4

espécimes, correspondendo em 2 deles a 2a hora após o pôr do sol, e nos demais às

22:00 e às 23:30h, respectivamente. Apesar das coletas não terem se estendido após as

24:00h, estes dados demonstram atividade na primeira metade da noite, período em que

na Serra do Japi, São Paulo, Marinho-Filho & Sazima (1989) constataram que S. lilium

concentra seu forrageio.

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Espécie de hábito alimentar predominantemente frugívoro (Gardner, 1977), S.

lilium foi considerada incomum, por Willig (1983), tanto em áreas de caatinga como de

cerrado edáfico no Nordeste do Brasil. Apesar da mesma situação ter sido verificada por

Teixeira & Peracchi (1996), em área de mata atlântica no Estado do Rio de Janeiro, a

abundância desta espécie parece variar localmente, já que diversos outros estudos

relatam altas taxas de captura (Reis, 1981; Peracchi & Albuquerque, 1993; Reis et al.,

1993; Reis et al., 1996). Na presente amostragem S. lilium também constituiu morcego

pouco freqüente, apesar de ocorrer em diferentes tipos de hábitats, inclusive áreas

degradadas como as que cercam o bebedouro de gado na Fazenda Solagro.

Além de sua versatilidade em relação a áreas de forrageio, como aqui constatado,

S. lilium mostra-se flexível também ao explorar abrigos diurnos, tendo sido registrada

em diversos tipos de estruturas tanto naturais quanto construídas pelo homem (Gannon

et al., 1989). Em função de seus hábitos frugívoros, este quiróptero tem importante

papel na dispersão de sementes de vegetais nativos das matas onde ocorre (Reis &

Peracchi, 1987; Iudica & Bonaccorso, 1997), podendo entretanto, também utilizar

espécies introduzidas como recurso alimentar (Taddei, 1973). Tais características

evidenciam a capacidade adaptativa desta espécie frente às alterações ambientais

provocadas pela ação antrópica. Jones & Phillips (1976) encontraram S. lilium em

plantações de banana, hábitats pouco amostrados no presente estudo e que também

devem ser explorados por esta espécie.

Reprodução: Uma fêmea lactante foi coletada em outubro. Wilson (1979) sugeriu um

padrão poliestro bimodal para S. lilium, o que foi corroborado por Fazzolari-Corrêa

(1995) no Estado de São Paulo. Em área de cerrado no Estado de Minas Gerais, Pedro

(1992) encontrou fêmeas lactantes em novembro, janeiro, fevereiro, e abril, o que

também indica a poliestria, associada ao período de maior pluviosidade. Na região de

Jaíba esta espécie deve apresentar o mesmo padrão, como sugere a presença de uma

fêmea lactante no início da estação chuvosa. Em áreas de caatinga no Nordeste outros

morcegos frugívoros exibiram a poliestria bimodal associada a tal período (Willig,

1985).

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Uroderma magnirostrum Davis, 1968

- Localidade tipo: Honduras, Valle, 10Km leste de San Lorenzo.

- Distribuição: Michoacan (México) até Venezuela, Peru, Bolívia e Brasil (Koopman,

1993). Esta espécie era conhecida no Brasil apenas da região Amazônica e Nordeste

(Willig, 1983), até que teve sua distribuição consideravelmente ampliada por Peracchi

& Albuquerque (1993) a partir de espécimes coletados no Estado do Espírito Santo. A

presente amostragem constitui a segunda obtida para a região Sudeste e o primeiro

registro da espécie no Estado de Minas Gerais.

- Material examinado: 4 exemplares (3 machos e 1 fêmea).

- Material incorporado à coleção: 3 exemplares (2 machos e 1 fêmea). Machos: ALP

6831 (06-IV-94); 6834 (07-IV-94). Fêmea: ALP 6835 (07-IV-94).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie

encontram-se na tabela 20. Davis (1968) baseou a descrição original de U.

magnirostrum em 82 espécimes provenientes de distintas localidades das Américas do

Sul e Central, incluindo o Brasil (Estado do Pará), mas encontrou pouca evidência de

variação geográfica. De acordo com Jones & Carter (1976) trata-se de espécie

monotípica.

Tabela 20: Medidas selecionadas de exemplares de Uroderma magnirostrum provenientes da região de Jaíba, MG.

Machos (N = 2) Fêmea

Caracter Méd. (Mín.-Máx). (N = 1)

An 42,00 (41,6-42,4) 44,35 Ctc 23,13 (23,05-23,2) 23,05 Ccb 21,38 (21,15-21,6) 21,6 Lz 12,73 (12,7-12,75) 12,2 Cpo 5,68 (5,65-5,7) 5,5 Lcx 9,35 (9,1-9,6) 9 Lmt 10,93 (10,75-11,1) 10,7 C-M 8,25 (8,2-8,3) 8,4 Lm 8,83 (8,8-8,85) 9,15 Lc 5,70 (5,65-5,75) 5,8

N = tamanho da amostra.

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Além das medidas apresentadas por Davis (1968), são escassos os dados

disponíveis sobre a morfometria deste quiróptero na literatura. Dimensões relativas a

pequeno número de exemplares podem ser encontradas nos trabalhos de Swanepoel &

Genoways (1979), Taddei & Reis (1980), Willig (1983) e Taddei et ai. (1990), estes três

últimos referindo-se, respectivamente, a material do Estado de Roraima, do Nordeste do

Brasil, e da Amazônia ocidental (Estado do Acre). Anderson (1997) forneceu extremos

de medidas combinadas de 6 machos e 6 fêmeas procedentes da Bolívia.

Em linhas gerais, as dimensões aqui apresentadas concordam com as fornecidas

pelos citados autores, não tendo-se evidenciado nenhuma tendência divergente mais

clara. Em dois dos caracteres externos (antebraço e 3º metacarpo) utilizados por Davis

(1968), nota-se uma tendência ao dimorfismo sexual que é corroborada no presente

estudo pelo menos em relação ao tamanho do antebraço que acompanha a variação de

36.0-43.8 para machos, e 41.0-46.6 para remeas, apresentada pelo referido autor.

Quanto à pelagem, os espécimes obtidos mostraram-se bem similares a outros

capturados pelo autor na Amazônia Ocidental (Acre), com listras faciais quase

indistintas e coloração geral pardo clara (figura 23).

Figura 23: Espécime de Uroderma magniroslrum procedente do Estado do Acre. Os exemplares obtidos na região de Jaíba, MO, apresentaram a mesma coloração pardo clara com listras faciais quase indistintas.

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- Hábitos gerais: Os 4 espécimes obtidos foram capturados em redes armadas sobre o

afloramento calcário do Morro Solto. Horário de captura, assinalado apenas para 2

exemplares, demonstrou atividade na 2a e 3a hora após o pôr do sol.

Muito pouco se sabe sobre a bionomia de U. magnirostrum. Gardner (1977)

referiu-se a esta espécie como basicamente frugívora, suspeita confirmada por Reis &

Peracchi (1987) que constataram a presença de sementes de embaúba (Cecropia

palmata) nas fezes de um exemplar proveniente da região Amazônica. Mais

recentemente Muñoz-Saba et al. (1997) reportaram, a partir de estudos na Colômbia,

uma dieta composta por 83% de frutos, 9% de néctar-pólen e 8% de insetos. Sobre a

utilização de hábitat, Reis & Peracchi (1987) mencionam ter amostrado U.

magnirostrum apenas em áreas de capoeira, tendo Reis (1981) associado tal fato à

grande concentração de embaúbas neste tipo de hábitat. Apesar de no presente estudo

não ter-se analisado material fecal das espécie encontradas, o mesmo raciocínio poderia

justificar a presença desta espécie no afloramento calcário do Morro Solto, onde

Cecropia spp. foi freqüentemente observada.

Tanto Reis (1981) quanto Willig (1983) consideraram U. magnirostrum uma

espécie rara dentro de suas amostragens, o que é corroborado pelo pequeno número de

exemplares aqui capturados. Na Colômbia, entretanto, Sánchez-Palomino et al. (1993)

consideraram este filostomídeo comum (abundância relativa > que 5%) em uma das

quatro amostragens por eles realizadas, estando ausente nas demais. De acordo com

Muñoz-Saba et al. (1997), a abundância de U. magnirostrum em uma dada área está

associada à flutuação sazonal dos recursos alimentares por ela explorados.

- Reprodução: Uma fêmea obtida em abril, final do período chuvoso, encontrava-se

lactante. Um padrão poliestro bimodal foi inicialmente sugerido para U. magnirostrum

por Wilson (1979), suspeita posteriormente confirmada por Marques (1985b), pelo

menos em relação a espécimes da região Amazônica. Neste último estudo, a autora teve

oportunidade de examinar fêmeas grávidas e lactantes simultaneamente, tendo

assinalado a ocorrência do estro pós-parto. O dado aqui obtido, apesar de não

conclusivo, dá indício que na região de Jaíba o mesmo padrão reprodutivo pode

caracterizar a espécie em questão.

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Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, 1810)

- Localidade tipo: Paraguai, Assunção.

- Distribuição: Colômbia até o Peru, Bolívia, Uruguai, norte da Argentina, sul e leste

do Brasil; Guiana Francesa; Suriname (Koopman, 1993).

- Material examinado: 25 exemplares (14 machos e 11 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 8 exemplares (8 machos). ALP 6829, 6830 (06-IV-

94); ALP 6871 (26-VIII-94); ALP 6894 (11-X-94); ALP 6903 (14-X-94); ALP 6954,

6955 (14-XI-94); ALP 6971 (20-II-95).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para os exemplares desta

espécie encontram-se na tabela 21. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 4,15%

(An) e o menor, 1,60% (Lcx).

Tabela 21: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de exemplares de Platyrrhinus lineatus provenientes da região de Jaíba, MG.

Machos (N = 8 )

Caracter Méd. (Mín.-Máx). DP CV

An 46,03 (42,5-49,35) 1,91 4,15 Ctc 24,74 (23,85-25,7) 0,59 2,39 Ccb 22,03 (21,1-22,75) 0,54 2,47 Lz 14,34 (13,75-14,95) 0,34 2,35 Cpo 6,13 (5,9-6,4) 0,15 2,43 Lcx 10,49 (10,2-10,75) 0,17 1,60 Lmt 12,19 (11,8-12,55) 0,22 1,79 C-M 8,72 (8,35-9,2) 0,31 3,56 Lm 10,11 (9,6-10,5) 0,32 3,20 Lc 6,03 (5,6-6,3) 0,24 3,97

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.

As médias das medidas aqui apresentadas concordam, em sua maioria, com as

fornecidas por Taddei (1979) e Willig (1983), para coleções de machos desta espécie

provenientes, respectivamente, do Estado de São Paulo e do Nordeste do Brasil. Notou-

se, contudo, que em relação às medidas ântero-posteriores do crânio, espécimes

relativos ao Sudeste brasileiro (MG e SP) tendem a apresentar maiores dimensões

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(tabela 22). Uma possível variação geográfica clinal é corroborada por dados

morfométricos reportados por González & Vallejo (1980) para espécimes do Uruguai

que são, em média, consideravelmente maiores que os representantes brasileiros de P.

lineatus. Rouk & Carter (1972) já haviam mencionado que exemplares de áreas mais ao

sul da distribuição da espécie são maiores, decrescendo em direção ao norte.

Tabela 22: Médias de medidas selecionadas de machos de Platyrrhinus lineatus fornecidas por Willig (1983) para Pernambuco e Ceará, pelo presente estudo para região de Jaíba, MG, por Taddei (1979) para o Estado de São Paulo, e por González & Vallejo (1980) para o Uruguai.

Caracter PE CE MG SP Uruguai

An 47,20 46,0 46,03 46,46 46,9 Ctc 24,32 24,38 24,74 24,69 25,14 Ccb 21,90 21,83 22,03 22,31 22,74 Lz 14,32 14,25 14,34 14,32 14,68 Cpo 6,26 6,23 6,13 6,27 6,42 Lcx 10,51 10,56 10,49 10,57 12,28 Lmt 12,12 12,21 12,19 12,23 - C-M 8,59 8,76 8,72 8,85 8,92 Lm 10,19 10,17 10,11 10,16 - Lc 6,05 6,09 6,03 6,06 -

Tamanho das amostras: PE - 20; CE - 20; MG - 8; SP - An = 40, craniais = 15; Uruguai - 5.

Espécie de porte pouco menor que P. lineatus, e com diversas medidas

sobrepondo-se as deste, Platyrrhinus recifinus tem tido sua validade taxonômica

questionada por diversos autores (Rouk & Carter, 1972; Jones & Carter, 1976; Honacki

et al., 1982). Contudo, dispondo de farto material proveniente do Estado do Espírito

Santo, Peracchi & Albuquerque (1993) reconheceram as duas espécies como válidas,

procedimento também adotado por Koopman (1993). Todos os exemplares aqui

examinados apresentaram os incisivos inferiores bilobados, característica que segundo

Willig & Hollander (1987), diferenciaria P. lineatus de P. recifinus, já que nesta última

os incisivos inferiores são trilobados. Quanto ao tamanho do antebraço, apenas um

espécime apresentou medida entre 41.0 e 43.0mm (42.5), extremos apresentados por

Sanborn (1955) e que caracterizariam P. recifinus. Todos os demais exemplares tiveram

antebraço entre 45.1 e 49.35mm. Apesar de Sanborn (1955) não ter considerado o

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tamanho dos incisivos superiores (pequenos e separados) como um caracter diagnóstico

confiável para o reconhecimento de P. recifinus frente a P. lineatus, é digno de nota que

na presente amostragem todos os exemplares apresentaram incisivos superiores internos

em contato e consideravelmente maiores que os externos.

- Hábitos gerais: Dos 25 exemplares obtidos desta espécie, 22 foram colecionados em

redes armadas sobre o afloramento calcário do Morro Solto, 2 em bebedouro de gado na

Fazenda Solagro, e 1 em lote agrícola. As captura estenderam-se desde a 1a hora após o

pôr do sol até o término das coletas. No Morro solto, uma pequena colônia desta

espécie, composta por 3 exemplares, foi encontrada em cavidade de pouca profundidade

onde também observou-se 1 exemplar de G. soricina.

Colônias de P. lineatus tem sido registradas abrigando-se em cavernas (Trajano,

1984; Campanhã & Fowler, 1993), sob folhas de palmeiras (Peracchi & Albuquerque,

1971) e bananeiras (obser. pess.), na copa de árvores tais como mangueiras (Nowak,

1994; Bredt & Uieda, 1996), e em construções humanas (Sanborn, 1955; Marinho-

Filho, 1992). Segundo Trajano (1995), esta espécie é regularmente encontrada em

cavernas de regiões cársticas, onde forma pequenas colônias, o que é corroborado pelo

observado no presente estudo. Trata-se de morcego basicamente frugívoro, podendo

também utilizar insetos, néctar e partes florais (Gardner, 1977; Sazima & Sazima,

1975). Plantações de árvores frutíferas e espécies utilizadas no paisagismo urbano, lhe

garantem abundante recurso alimentar explorado, respectivamente, em áreas rurais e em

ambiente urbano (Bredt & Uieda, 1996).

Os diversos tipos de hábitats em que esta espécie foi encontrada na região de

Jaíba demonstra sua flexibilidade frente as alterações antrópicas. Provavelmente, as

plantações de banana, introduzidas em larga escala nos lotes de irrigação, estão

favorecendo a manutenção das populações de P. lineatus.

- Reprodução: Foi coletada 1 fêmea lactante em abril, final do período chuvoso.

Dispondo de consistente amostragem em áreas de cerrado e caatinga no nordeste do

Brasil, Willig (1983) definiu para este filostomídeo um padrão poliéstrico bimodal. Tal

estratégia é também sustentado pelos dados de Peracchi & Albuquerque (1971) e Taddei

(1976), fornecidos, respectivamente, para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Este

último autor constatou a ocorrência do estro pós-parto em P. lineatus.

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Artibeus lituratus (Olfers, 1818)

- Localidade tipo: Paraguai, Assunção.

- Distribuição: Sinaloa e Tamaulipas (México) até o sul do Brasil, norte da Argentina, e

Bolívia; Trinidad e Tobago; Sul das Pequenas Antilhas; Ilhas Três Marias (Koopman,

1993).

- Material examinado: 11 exemplares (9 machos e 2 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 3 exemplares (2 machos e 1 fêmea). Machos: ALP

6862, 6868 (16-VI-94). Fêmea: ALP 6864 (16-VI-94).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie

encontram-se na tabela 23.

Tabela 23: Medidas selecionadas de exemplares de Artibeus lituratus provenientes da região de Jaíba, MG.

Machos (N = 2) Fêmea

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) (N = 1)

An 69,75 (68,3-71,2) 72,9 Ctc 31,60 (31-32,2) 32,4 Ccb 28,25 (27,5-29) 28,35 Lz 19,20 (18,6-19,8) 19,5 Cpo 6,60 (6,2-7) 7,2 Lcx 13,00 (12,85-13,15) 12,45 Lmt 16,75 (16,3-17,2) 17,45 C-M 11,55 (11,55-11,55) 11,2 Lm 14,20 (13,95-14,45) 13,7 Lc 9,15 (9,1-9,2) 8,65

N = tamanho da amostra.

Analisando-se comparativamente as dimensões aqui reportadas e os dados

médios fornecidos por Taddei (1979) para material do Estado de São Paulo, e por Willig

(1983), que dispôs de coleção proveniente de áreas de caatinga e cerrado no Nordeste do

Brasil, nota-se uma situação similar à observada em P. lineatus. Embora concordando

em relação à maioria dos caracteres estudados, espécimes da região Sudeste parecem

tender a apresentar as medidas ântero-posteriores do crânio, em média, maiores que as

dos exemplares do Nordeste. Nos dados dos machos reportados na tabela 24, isto pode

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ser evidenciado através da comprimento côndilo-basal e do comprimento da série de

dentes maxilares, tendo-se ainda incluído médias fornecidas por Althoff (1996) para

medidas de espécimes da região Sul do Brasil e que parecem corroborar uma variação

clinal. Os machos coletados em Jaíba apresentaram ainda medidas excepcionalmente

grandes de largura externa do molares e largura externa do caninos, não acompanhando

nenhuma tendência clinal com respeito aos dados de Taddei (1979) e Willig (1983),

sendo, provavelmente, resultado da pequena amostragem aqui disponível.

Tabela 24: Médias de medidas selecionadas de machos de Artibeus lituratus fornecidas por Willig (1983) para Pernambuco e Ceará, pelo presente estudo para região de Jaíba, MG, por Taddei (1979) para o Estado de São Paulo, e por Althoff (1996) para diversas localidades dos Estados do Paraná e Santa Catarina.

An PE CE MG SP PR/SC

An 70,60 69,75 69,75 70,53 70,931 Ctc 31,30 30,87 31,60 31,31 31,69 Ccb 27,87 27,33 28,25 28,10 28,50 Lz 19,07 18,66 19,20 18,96 19,38 Cpo 6,73 6,72 6,60 6,71 6,76 Lcx 13,36 13,48 13,00 13,63 13,712 Lmt 16,82 16,62 16,75 16,84 17,04 C-M 10,99 10,92 11,55 11,3 11,26 Lm 13,75 13,57 14,20 13,53 13,842 Lc 8,83 8,81 9,15 8,89 8,99

Tamanho das amostras: PE - 20; CE - 20; MG - 2; SP - An = 40, cranianas = 15; PR/SC - 94 (1,2somente espécimes de Blumenau; 119, 220).

- Hábitos gerais: À exceção de um espécime capturado em rede armada sobre o

afloramento calcário do Morro Solto, todos os demais exemplares foram obtidos em lote

agrícola. As capturas estenderam-se desde a 1a hora após o pôr do sol até o término das

coletas, o que corrobora, pelo menos em parte, observações citadas na literatura

indicando atividade desde o crepúsculo até o final da noite (Muller & Reis, 1992;

Sazima et al., 1994).

A. lituratus é o filostomídeo que apresenta a maior plasticidade comportamental,

havendo diversos relatos de sua presença em ambientes urbanos onde, com eficiência,

explora os recursos de abrigo e alimentação oferecidos inadvertidamente pelo homem

(Taddei, 1969, 1973; Sazima et al., 1994; Bredt & Uieda, 1996). Colônias desta espécie

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têm sido observadas em cavernas (Trajano, 1984); construções humanas (obser. pess.);

na face ventral das folhas de bananeiras; em cipós, protegidos pela folhagem, no interior

de capões de mata (Taddei, 1973); e principalmente na copa de palmeiras e árvores

frondosas, tais como mangueiras, amendoeiras e figueiras (Ruschi, 1953b; Peracchi &

Albuquerque, 1971; Taddei, 1973).

Segundo Barquez (1987), pelo menos 67 espécies diferentes de plantas estão

incluídas na dieta deste quiróptero, que além de utilizar uma variedade de recursos

vegetais (frutos, flores e folhas), pode também alimentar-se de insetos (Gardner, 1977).

Nos comentários sobre os hábitos de A. planirostris apresenta-se uma lista de plantas,

fornecida por Taddei (1973), que na região Norte-Ocidental do Estado de São Paulo

servem de alimento também para A. lituratus. É considerada espécie de grande

importância na dispersão de sementes (Reis, 1981). Contudo, por tratar-se de morcego

oportunista, sua abundância relativa tende a crescer em áreas mais degradadas (Muller

& Reis, 1992), havendo relatos de sérios danos a fruticultura (Goodwin & Greenhall,

1961; Taddei, 1988).

Na área aqui estudada também constatou-se uma maior abundância de A.

lituratus em área degradada (lote agrícola), sendo esta uma espécie rara no afloramento

calcário do Morro Solto. Em relação a um possível efeito negativo sobre a produção

local de frutas, faz-se necessário esclarecer que, como mencionado por Morton (1989),

morcegos geralmente comem apenas frutas maduras, e a maioria das colheitas

comerciais é feita com os frutos verdes. Ainda segundo a referida autora, ao comer a

fruta que pode madurar prematuramente, os morcegos eliminam o alimento de insetos

que causam danos às plantas.

- Reprodução: Duas fêmeas coletadas em junho não apresentavam sinais externos de

atividade reprodutiva. É provável que na região aqui estudada A. lituratus enquadre-se

no padrão poliéstrico bimodal sazonal, o mesmo registrado para esta espécie por Willig

(1985) em áreas de cerrado e caatinga no Nordeste, e por Reis (1989) no Estado do Rio

de Janeiro.

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Artibeus planirostris (Spix, 1823)

- Localidade tipo: Brasil, Bahia, Salvador.

- Distribuição: Colombia e Venezuela até o norte da Argentina e leste do Brasil

(Koopman, 1993).

- Material examinado: 37 exemplares (28 machos e 9 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 13 exemplares (9 machos e 4 fêmeas). Machos:

ALP 6879 (10-X-94); ALP 6892, 6893 (11-X-94); ALP 6906 (14-X-94); ALP 6957,

6958 (14-XI-94); ALP 6976, 6979 (28-02-95); ALP 6990 (01-III-95). Fêmeas: ALP

6861, 6863 (16-VI-94); ALP 6887 (11-X-94); ALP 6956 (14-XI-94).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie

encontram-se na tabela 25. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 3,20% (Lmt das

fêmeas) e o menor, 1,00% (Ctc das fêmeas). Dimensões médias de machos e fêmeas, em

sua maioria apresentaram-se muito próximas, não tendo-se verificado nível significante

de dimorfismo sexual (P < 0,05) em nenhum dos caracteres examinados.

Tabela 25: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Artibeus planirostris provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 9) Fêmeas (N = 4)

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) DP CV P

An 60,01 (57,85-62,1) 1,46 2,44 60,49 (60-61,6) 0,76 1,26 0,5528 Ctc 27,95 (27,2-28,55) 0,47 1,67 27,93 (27,55-28,2) 0,28 1,00 0,9234 Ccb 25,08 (24,05-25,7) 0,53 2,11 24,99 (24,3-25,4) 0,49 1,95 0,7772 Lz 17,17 (16,5-17,6) 0,36 2,12 17,08 (16,85-17,65) 0,39 2,26 0,6706 Cpo 7,13 (6,7-7,45) 0,21 2,94 7,11 (6,9-7,25) 0,15 2,18 0,8991 Lcx 12,23 (11,7-12,7) 0,32 2,65 12,13 (12-12,3) 0,15 1,24 0,5637 Lmt 15,14 (14,55-15,85) 0,43 2,84 14,91 (14,4-15,55) 0,48 3,20 0,4140 C-M 10,13 (9,95-10,4) 0,16 1,62 10,14 (10-10,3) 0,14 1,36 0,9656 Lm 12,37 (11,95-12,75) 0,28 2,28 12,29 (12,0-12,65) 0,26 2,08 0,6413 Lc 7,94 (7,5-8,25 0,22 2,80 7,88 (7,75-7,95) 0,09 1,10 0,5957

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; valores de P menores que 0,05 indicariam existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.

Como mencionado por Barquez (1987), a taxonomia das espécies do gênero

Artibeus na América do Sul é bastante complexa e permanece ainda não resolvida. Os

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diferentes critérios utilizados pelos investigadores, e o pouco conhecimento sobre as

variações individuais e populacionais das diferentes espécies, além da discussão sobre

alguns caracteres como a presença ou ausência do 3o molar superior reduzido, são

fatores citados pelo referido autor e que contribuem para manutenção desta situação. A

questão aqui pertinente diz respeito ao reconhecimento, sob estado específico ou não, de

A. planirostris. Em contraposição ao proposto por Handley (1987), que considerou A.

planirostris uma subespécie de A. jamaicensis, optou-se no presente estudo por seguir o

mesmo posicionamento adotado por Barquez (1987), Willig & Mares (1989), Taddei et

al. (1990), Koopman (1993) e Lim & Wilson (1993), mantendo as duas espécies

separadas.

Uma sucinta compilação sobre as publicações envolvendo a problemática da

validade específica de A. planirostris foi apresentada por Taddei et al. (1990). Segundo

estes autores, a referida espécie caracteriza-se por uma extensa variação ao longo de sua

área de ocorrência, e parece apresentar um padrão de diferenciação semelhante ao

observado no insetívoro N. albiventris, já discutido anteriormente. Dentre os subsídios

utilizados por Taddei et al. (1990) para sugerir tal padrão, destacam-se a ocorrência de

populações com dimensões bem avantajadas, em grande parte superpostas as de A.

lituratus, particularmente no oeste da Bacia Amazônica; e em relação ao leste brasileiro,

populações da região Nordeste, citadas por Willig (1983), com medidas

consideravelmente menores que as obtidas por Taddei (1979) para material procedente

de São Paulo.

Como demostrado na tabela 26, os dados aqui obtidos parecem corroborar as

proposições de Taddei et al. (1990), principalmente em relação ao tamanho do

antebraço e nas medidas ântero-posteriores do crânio (Ctc, Ccb e C-M), tendo-se

constatado dimensões médias intermediárias entre as apresentadas por Willig (1983)* e

Taddei (1979). Acrescentou-se na referida tabela dados médios fornecidos por Barquez

(1987) para A. planirostris da Argentina, e como pode-se perceber, estes são

consideravelmente superiores aos referidos por Taddei (1979) para São Paulo, dando

continuidade ao gradiente que decresce partindo-se em direção ao nordeste brasileiro.

* Espécimes do Nordeste referidos por Willig (1983) como A. jamaicensis representam, de fato, A. planirostris (Willig & Mares, 1989).

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Tanto Taddei (1979) quanto Willig (1983) realizaram análises estatísticas

visando constatar a possível ocorrência de dimorfismo sexual secundário em A.

planirostris. O primeiro encontrou níveis significantes de dimorfismo em 5 das 17

medidas externas avaliadas, mas apenas em 1 das 15 cranianas, sendo em todos os casos

fêmeas maiores que os machos. Já Willig (1983) não encontrou diferença sexual

aparente em relação as variáveis morfométricas externas, tendo constatado, entretanto,

que os machos foram, em média, maiores que as fêmeas em 11 dos 16 caracteres

cranianos examinados e significantemente distintos em 5. A divergência entre estes

resultados e o aqui obtido, onde nenhum dimorfismo sexual secundário foi evidenciado,

poderia ser associada à reduzida amostragem de que se dispôs no presente estudo.

Contudo, considerando-se o consistente material analisado por estes autores e a

divergência também verificada entre seus dados, é possível que o dimorfismo sexual

secundário nesta espécie seja geograficamente variável, como observa-se em C.

perspicillata (Cloutier & Thomas, 1992).

Tabela 26: Médias de medidas selecionadas de espécimes de Artibeus planirostris provenientes da região de Jaíba, MG, associadas às fornecidas por Taddei (1979), Willig (1983) e Barquez (1987) para exemplares, respectivamente, do Estados de São Paulo, do Ceará e de Pernambuco, e da Argentina. Machos Fêmeas M/F Caracter CE PE MG SP CE PE MG SP Argent. An 57,40 58,95 60,01 63,12 57,20 59,45 60,49 63,75 65,7 Ctc 27,30 27,68 27,95 28,99 26,96 27,61 27,93 29,28 30,2 Ccb 24,17 24,41 25,08 26,11 23,91 24,37 24,99 26,31 27,2 Lz 16,87 17,20 17,17 17,95 16,62 17,07 17,08 18,09 19,1 Cpo 6,99 6,99 7,13 7,21 6,82 6,92 7,11 7,25 7,4 Lcx 12,26 12,28 12,23 12,88 12,07 12,27 12,13 12,95 13,5 Lmt 14,95 15,08 15,14 15,61 14,60 14,90 14,91 15,69 16,3 C-M 9,91 9,83 10,13 10,41 9,60 9,78 10,14 10,43 11,0 Lm 12,38 12,44 12,37 12,8 11,99 12,34 12,29 12,83 12,9 Lc 7,94 7,95 7,94 8,35 7,53 7,98 7,88 8,43 8,9

Tamanho das amostras: Ceará - 20 M e 20 F; Pernambuco - 20 M e 20 F; MG - 9 M e 4 F; SP - An, 30 M e 30 F / crânio, 15 M e 15 F; Argentina - entre 33 e 43 indivíduos.

Dentre os caracteres qualitativos observados nos 13 espécimes do norte de

Minas Gerais que foram incorporados à coleção, destaca-se a presença constante do 3o

molar superior reduzido, e da borda inferior da folha nasal com a margem anterior livre

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no centro (espécimes em álcool). As mesmas características foram observadas por

Taddei (1979) em material de São Paulo, tendo relatado este autor que o 3o molar

superior encontrava-se presente em todos os 147 exemplares por ele examinados.

Segundo Barquez (1987), em espécimes da Argentina este caracter geralmente se faz

presente, mas pode não ocorrer. Sobre a borda inferior da folha nasal, fusionada

centralmente ou não ao lábio superior, este autor não faz nenhum comentário

específico, indiretamente sugerindo que seria similar à observada em A. lituratus que

foi descrita como livre. Outras características observada por Barquez (1987) em relação

a A. planirostris, e também verificadas nos exemplares aqui examinados, dizem

respeito à coloração dorsal pardo acinzentada e ventre marrom claro, as listras faciais

apenas marcadas, ou ausentes, e a escassez de pêlos sobre o uropatágio. Não foi

encontrada, entretanto, a mancha branca na ponta das asas, também mencionada por

este autor.

- Hábitos gerais: Espécie freqüente na região, ocorrendo no afloramento calcário do

Morro Solto, Fazenda Yamada, CAM, Fazenda Solagro e em lote agrícola. Apesar do

esforço amostral diferenciado, merece destaque a elevada abundância de A. planirostris

constatada junto ao afloramento calcário, onde obteve-se cerca de 67% dos indivíduos

amostrados. Observou-se atividade desde a 1a hora após o pôr do sol, estendendo-se

durante todo o período de coleta (figura 24).

0

5

10

15

20

25

30

1:00 2:00 3:00 4:00 5:00

Horas após o pôr do sol

% de captura

A. planirostris

Figura 24: Horário de atividade de A. planirostris com base nas capturas em rede efetuadas na região de Jaíba, MG.

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Como ressaltado por Willig et al. (1993) a problemática envolvendo o

reconhecimento à nível específico de A. planirostris ou sua inclusão em A. jamaicensis,

provoca certa confusão quanto ao levantamento de dados bionômicos. Os dados obtidos

por estes autores em áreas de cerrado edáfico no Nordeste do Brasil, demonstraram que

A. planirostris apresenta uma dieta predominantemente frugívora, com uma mínima

participação de insetos. Nestas áreas frutos de Vismia foram responsáveis pelo maior

volume de sua dieta (predominância de 80%). No Estado de São Paulo, Taddei (1973)

faz referência à similaridade entre os hábitos alimentares desta espécie e do também

frugívoro A. lituratus. A lista de plantas apresentada por este autor e que diz respeito a

ambas as espécies inclui: mangueiras (Mangifera indica), mamoeiros (Carica papaya),

amendoeiras (Terminalia catappa), abacateiros (Persea americana), embaúbas

(Cecropia sp.), amoreiras silvestres (Chlorophora tinctoria), figueiras silvestres (Ficus

enormis e Ficus sp.), jabuticabeiras (Myrciaria cauliflora), goiabeiras (Psidium

guajava), jambeiros (Syzygium jambos), pereiras (Pyrus communis) e jaborandis falsos

(Piper aduncum). Com relação a utilização de abrigos registros indicam tratar-se de

espécie fitófila (Taddei, 1973; Barquez et al., 1993). Taddei (1973) relatou espécimes

suspensos em cipós, em ramos entre folhas de café (Coffea arabica), e em bambusal.

A presença de A. planirostris em diversos tipos de hábitats, como constatado no

presente estudo, demonstra considerável capacidade de se adaptar às alterações

antrópicas, o que por certo é facilitado por sua versatilidade em explorar recursos

alimentares tanto nativos quanto exóticos, como evidenciado por Taddei (1973). Soma-

se a isso a presença, em áreas alteradas, de árvores frutíferas ou com finalidade

paisagística, que podem constituir alternativas de abrigo para esta espécie. Sua elevada

abundância, observada junto ao afloramento calcário do Morro Solto, pode estar

associada a alta freqüência com que encontrou-se Ficus sp. e Cecropia sp. nesta

localidade, já que, como sugerido por Fleming (1986), Artibeus spp. parecem alimentar-

se seletivamente dos frutos de espécies destes gêneros. A utilização de cavidades como

abrigo pode ser outro fator a favorecer a presença de A. planirostris neste tipo de

hábitat. A. jamaicensis e Artibeus fimbriatus, espécies morfologicamente similares a A.

planirostris, têm sido registradas em cavernas (Goodwin & Greenhall, 1961; Trajano,

1995), a última delas com regularidade (Trajano, 1995).

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- Reprodução: Dentre o material examinado encontrou-se 1 fêmea lactante em outubro

e 1 em novembro. Referindo-se sob o nome de A. jamaicensis, Willig (1985) reportou

para espécimes de áreas de caatinga e cerrado edáfico no Nordeste do Brasil, um padrão

reprodutivo poliéstrico bimodal sazonal. Este autor constatou dois picos de lactação, o

primeiro de outubro a dezembro, e o segundo entre janeiro e março. Um padrão similar

é sugerido pelos dados obtidos por Taddei (1973, 1976) no Estado de São Paulo, tendo

este autor verificado a ocorrência de estro pós-parto. Apesar da limitada amostragem

aqui disponível não permite análises conclusivas, o registro de fêmeas lactantes no

início do período chuvoso pode indicar uma estacionalidade reprodutiva, tal como

evidenciado nos estudos citados.

Subfamília Desmodontinae Bonaparte, 1845

Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810)

- Localidade tipo: Paraguai, Assunção.

- Distribuição: Uruguai, norte da Argentina, e norte do Chile até Sonora, Nuevo Leon e

Tamaulipas (México); Ilha de Margarita (Venezuela); Trinidad (Koopman, 1993).

- Material examinado: 59 exemplares (43 machos e 16 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 4 exemplares (3 machos e 1 fêmea). Machos: ALP

6872 (26-VIII-94); ALP 6941 (25-X-94); ALP 6970 (20-II-95). Fêmea: ALP 6973 (20-

II-95).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie

encontram-se na tabela 27. Em relação aos machos, para as quais se realizou análise

estatística descritiva, o maior coeficiente de variação (CV) foi de 4,93% (Lm) e o

menor, 0,83% (Lz). Incluindo-se as medidas de antebraço obtidas a partir dos espécimes

que foram soltos após a triagem, tem-se as seguintes médias e extremos relativos a este

caracter: machos (N = 26), 61.2 (58.6-63.7); fêmeas (N = 9), 64.59 (62.6-66.35).

Osgood (1912 apud Vieira, 1942) constatou notável diferença de tamanho entre

exemplares procedentes do Paraguai, correspondentes a forma típica e que apresentavam

antebraço variando de 60 a 64mm, e espécimes do México e América Central, onde este

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mesmo caracter atingia no máximo 55mm. Esta diferença, aliada a outras verificadas na

coloração e no crânio, levou este autor a propor a separação da forma respectiva ao

México e América Central em uma subespécie distinta: D. r. murinus. Jones & Carter

(1976) consideraram provável a ocorrência destas duas subespécies, estabelecendo que a

área de ocorrência da forma típica iria do sul da América do Sul ao norte do Andes até o

Equador, e de D. r. murinus do segmento norte-americano da distribuição da espécie até

a Bacia Amazônica. Barquez (1987), entretanto, questionou a validade desta separação

considerando pouca claras as diferenças entre as duas formas.

Tabela 27: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de machos de Desmodus rotundus e dados correspondentes a uma fêmea da mesma espécie, todos provenientes da região de Jaíba, MG.

Machos (N = 3) Fêmea

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV (N = 1)

An 62,18 (61,65-63,2) 0,88 1,42 66,35 Ctc 25,42 (25,2-25,8) 0,33 1,31 25,75 Ccb 22,22 (21,95-22,5) 0,28 1,24 22,5 Lz 12,58 (12,5-12,7) 0,10 0,83 12,5 Cpo 5,68 (5,55-5,8) 0,13 2,21 5,65 Lcx 12,43 (12,25-12,7) 0,24 1,90 12,2 Lmt 12,73 (12,6-12,9) 0,15 1,20 12,7 C-M 3,68 (3,5-3,8) 0,16 4,36 3,6 Lm 7,10 (6,75-7,45) 0,35 4,93 6,5 Lc 6,48 (6,45-6,55) 0,06 0,89 6,3

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.

À revelia desta discussão sobre o reconhecimento ou não de subespécies, tais

dados sugerem a ocorrência de variação geográfica em D. rotundus, como constatado

por Myers & Wetzel (1983) em material do Paraguai e Bolívia. Alguns fatores,

entretanto, dificultam as análises comparativas visando uma melhor compreensão de tal

aspecto. Em importantes referências abordando a morfometria de populações de áreas

mais ao sul da distribuição da espécie (Myers & Wetzel, 1983; Barquez, 1987;

Anderson, 1997), medidas de machos e fêmeas foram combinadas, o que em face ao

dimorfismo sexual secundário (fêmeas > machos) já relatado por alguns autores

(Husson, 1962; Greenhall et al., 1983; Willig, 1983), limita a utilização desses dados.

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Em outros trabalhos, também referentes à porção meridional da área de ocorrência de D.

rotundus, e onde machos e fêmeas foram separados, as medidas apresentadas basearam-

se em reduzido número de exemplares (Vieira, 1942; Ruschi, 1951a; Fazzolari-Corrêa,

1995).

Apesar do número amostral utilizado no presente estudo não permitir uma

análise mais acurada, notou-se que as dimensões médias obtidas para os machos são, em

sua maioria, superiores as reportadas por Willig (1983) em relação a exemplares do

mesmo sexo procedentes de áreas de caatinga e cerrado nos Estado de Pernambuco e

Ceará, respectivamente, estando mais próximas às referidas por Fazzolari-Corrêa (1995)

com base em material de São Paulo (tabela 28).

Tabela 28: Médias de medidas selecionadas de espécimes de Desmodus rotundus provenientes da região de Jaíba, MG, associadas às fornecidas por Willig (1983) e Fazzolari-Corrêa (1995) para exemplares, respectivamente, dos Estados do Ceará e Pernambuco, e de São Paulo.

Machos

Caracter CE PE MG SP

An 60,6 60,3 61,21 61,12 Ctc 23,8 23,89 25,42 25,48 Ccb 21,66 21,5 22,22 - Lz 12,62 12,36 12,58 12,22 Cpo 5,34 5,37 5,68 5,74 Lcx 12,6 12,44 12,43 12,46 Lmt 12,76 12,73 12,73 - C-M 3,42 3,42 3,68 3,5 Lm 6,76 6,74 7,10 - Lc 6,22 6,13 6,48 -

Tamanho das amostras: Ceará - 5; Pernambuco - 20; MG - 3 (126); SP - 5.

Contudo, a possível ocorrência de variação microgeográfica em D. rotundus,

como sugerido por Willig (1983), pode constituir mais um fator a dificultar as análises

morfométricas nesta espécie. Considerando-se o tamanho do antebraço para o qual se

obteve dados mais consistentes no presente estudo, é possível constatar que, em média,

as fêmeas procedentes de Jaíba (64,59; N = 9) são maiores que as referidas por Willig

(1983) sobre espécimes de Pernambuco (63,55; N = 20) e menores que as citadas pelo

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mesmo autor para o Ceará (65,57; N = 7). Os dados obtidos no presente estudo

corroboram a ocorrência de dimorfismo sexual secundário nesta espécie.

- Hábitos gerais: Espécie amostrada exclusivamente no afloramento calcário do Morro

Solto onde constituiu o quiróptero mais freqüentemente capturado. Uma colônia com

cerca de 150 indivíduos foi observada ocupando cavidade (figuras 25 e 26) onde grande

quantidade de fezes, indicando uso prolongado do local, se fazia presente. Logo na

entrada desta mesma cavidade notou-se a presença de P. macrotis. Registrou-se ainda

um exemplar de D. rotundus refugiando-se isolado em uma fenda.

Segundo dados compilados por Nowak (1994), morcegos desta espécie podem

abrigar-se sozinhos, em pequenos grupos, ou em colônias de mais de 2.000 indivíduos,

encontrando-se na maioria dos casos de 20 a 100 morcegos. Nowak (1994) levantou

ainda, que colônias com mais de 50 indivíduos apresentam grupos sociais estáveis,

compostos pelo macho dominante, 8 a 20 fêmeas adultas e suas crias. Em contrapartida

são formadas colônias satélites compostas basicamente por machos solteiros (Lord et

al., 1976). A alta proporção de machos amostrados no presente estudo (ca. 73%) pode

estar relacionada à presença de colônias satélites no sítio de capturas.

Tendo em vista que três das quatro coletas em que esta espécie foi amostrada

estenderam-se apenas até a 3a hora após o pôr do sol, restringiu-se análise da atividade

horária a este período. O resultado obtido, referente aos dados de 24 exemplares,

demonstrou um pico de capturas durante a 2a hora após o pôr do sol (figura 27), tal

como constatado por Marinho-Filho & Sazima (1989) no Estado de São Paulo. A

lunarfobia, amplamente documentada em D. rotundus (cf. Uieda, 1992), foi também

evidenciada no presente estudo. Durante coleta realizada em noite de lua cheia no

afloramento calcário do Morro Solto, não foi capturado nenhum exemplar desta espécie,

freqüente no local em outras ocasiões.

Considerando-se a ocorrência de refúgios diurnos conhecidos nas proximidades

do local onde as redes foram dispostas, é provável que o pico de capturas constatado na

2a hora após o pôr do sol esteja refletindo a saída dos morcegos de seus abrigos. Esta

suposição é corroborada pelas observações de Uieda (1992), que estudando a atividade

alimentar de D. rotundus, verificou que na primeira metade da noite este hematófago foi

mais freqüentemente observado junto às suas presas entre 21:00 e 23:00h.

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Figura 25: Espécime de Desmodus rotundus abrigado em fenda de cavidade no afloramento calcário do Morro Solto, região de Jaíba, MG. (Foto: A. Pol.)

Figura 26: Colônia de Desmodus rolundus abrigada em cavidade no afloramento calcário do Morro Solto, região de Jaíba, MG. (Foto: A. PoL)

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0

10

20

30

40

50

60

70

1:00 2:00 3:00

Horas após o pôr do sol

% de captura

D. rotundus

Figura 27: Horário de atividade de Desmodus rotundus com base nas capturas em rede efetuadas na região de Jaíba, MG.

Dentre as três espécies viventes de morcegos hematófagos, D. rotundus é a mais

comum e amplamente distribuída (Hill & Smith, 1984), sendo também a mais bem

estudada, principalmente devido ao seu papel como transmissora da raiva dos

herbívoros na América Latina (Uieda, 1992). Como constatado por Taddei et al. (1991)

no Estado de São Paulo, a exploração de abrigos diurnos por esta espécie é do tipo

oportunista, tratando-se de morcego com alta versatilidade para ocupação de abrigos

artificiais. Dos 113 refúgios diurnos registrados por estes autores, 75,2% eram

representados por estruturas artificiais (casas abandonadas no campo, pontes, fornos de

carvão, poços abandonados e bueiros sob rodovias), sendo apenas 24,8% naturais. Sob

esta última condição, os abrigos preferencialmente utilizados são as cavernas, e menos

freqüentemente ocos de árvores (Taddei, 1988; Brown, 1994).

A alta versatilidade, apresentada por D. rotundus na exploração de abrigos, pode

ser notada também em relação a utilização de recursos alimentares. Embora a

preferência por determinados itens possa variar de local para local, estudos conduzidos

em diferentes áreas ao longo da distribuição da espécie têm demonstrado que as presas

seletivamente utilizadas, em ordem decrescente de freqüência, são: bovinos e eqüinos,

cabras, porcos, aves domésticas, ovelhas, cachorros e o homem (Goodwin & Greenhall,

1961). A grande maioria das vítimas, entretanto, é representada pelo gado bovino e

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eqüino (Taddei et al., 1991; Brown, 1994), que após ser introduzido no Novo Mundo,

durante a colonização Européia, passou a constituir abundante alimento para esta

espécie induzindo um drástico crescimento em suas populações (Hill & Smith, 1984).

Em função de sua grande capacidade adaptativa que lhe permitiu explorar

eficientemente os novos recursos oferecidos em decorrência de alterações antrópicas

(Taddei, 1988), D. rotundus tem sido encontrado mais comumente em ambientes

perturbados do que em áreas de mata primária (cf. Brown, 1994). Fenton et al. (1992)

argumentaram, inclusive, a possível utilização desta espécie como indicadora de

disrupção de hábitat. Apesar de mais freqüente em áreas rurais, D. rotundus tem sido

registrada também em ambiente urbano onde exibe diversas mudanças comportamentais

que reiteram sua notável flexibilidade (Uieda, 1995).

Além de condições climáticas não apropriadas, alterações ambientais que

impliquem na redução da disponibilidade de refúgios e alimento, são fatores que podem

ocasionar deslocamentos dos morcegos vampiros e uma concentração de populações em

áreas mais favoráveis (Taddei et al., 1991). Tal concentração, entretanto, pode ter sérias

implicações na epidemiologia da raiva, já que em determinadas áreas um possível

desequilíbrio pode levar não só à competição por abrigos, locais de pouso e alimento,

como à interações agonísticas aumentando assim a probabilidade de contato entre

morcegos sadios e doentes (Taddei et al., 1991).

Com relação a região de Jaíba, a alta freqüência com que D. rotundus foi

amostrado no afloramento calcário do Morro Solto, por certo decorre do fato de que tal

local constitui um sítio de abrigos para esta espécie. Em vista do já exposto sobre as

possíveis conseqüências de uma redução na disponibilidade de abrigos, ressalta-se mais

uma vez a importância da preservação do referido afloramento, bem como de outros

existentes na região e que devem apresentar uma situação similar. O impacto negativo

do desmatamento sobre as populações de mamíferos silvestres de maior porte (presas

potenciais de D. rotundus), e a possível remoção de rebanhos existentes em áreas

periféricas, são outros fatores que devem ser considerados na região em questão.

O conhecimento da localização de abrigos utilizados por colônias estáveis como

a aqui relatada e o monitoramento destas, constituem subsídios valiosos no caso de se

mostrar necessária a adoção de medidas profiláticas que podem incluir até mesmo o

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controle populacional de D. rotundus. Apesar de no presente estudo ter-se constatado

sua coabitação apenas com P. macrotis, este hematófago é conhecido por partilhar

abrigos com diversas outras espécies de morcegos (Goodwin & Greenhall, 1961;

Trajano, 1985). As associações interespecíficas propiciam condições para a infecção de

morcegos não hematófagos pelo vírus rábico (Taddei et al., 1991), sendo conhecidas

pelo menos 64 espécies, sem incluir os vampiros, que o contraíram (Constantine, 1988).

Mesmo sendo muito rara, a contaminação por morcegos não hematófagos, que pode ser

direta (através de mordida) ou indireta (através de aerosol) (Hill & Smith, 1984), não

pode ser desconsiderada.

Os diversos aspectos envolvendo a presença de D. rotundus nas áreas sob

influência do Projeto de Irrigação do Jaíba são bastante complexos, não sendo possível

aqui trata-los de maneira aprofundada. É oportuno destacar, entretanto, que nos

trabalhos de monitoramento ambiental conduzidos na região, uma especial atenção deve

ser dada a esta espécie em vista de seu importante papel na transmissão do vírus rábico,

não só para mamíferos silvestres e domésticos, como para o próprio homem.

- Reprodução: Dentre o material examinado encontrou-se 2 fêmeas grávidas e 1

lactante em abril, e 1 lactante em fevereiro. Wilson (1979) compilou extensa

bibliografia disponível sobre a reprodução de D. rotundus, concluindo tratar-se de

espécie poliéstrica contínua. Este mesmo padrão foi constatado por Willig (1985) em

áreas de caatinga no nordeste do Brasil, onde fêmeas grávidas, lactantes, e

simultaneamente grávidas e lactantes, ocorreram em todos os meses do ano. O caráter

acíclico e contínuo na reprodução deste hematófago esta associado ao fato de que seu

alimento não apresenta flutuação sazonal (Wilson, 1979; Taddei, 1980; Willig, 1985).

Diphylla ecaudata Spix, 1823

- Localidade tipo: Brasil, Bahia, Rio São Francisco.

- Distribuição: Sul do Texas (EUA) até a Venezuela, Peru, Bolívia e leste do Brasil

(Koopman, 1993).

- Material examinado: 7 exemplares (6 machos e 1 fêmea).

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- Material incorporado à coleção: 5 exemplares (4 machos e 1 fêmea). Machos: ALP

6867 (16-VI-94); ALP 6977, 6978 (28-II-95); ALP 6992 (01-III-95). Fêmea: ALP 6836

(09-IV-94).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie

encontram-se na tabela 29. Em relação aos machos, para as quais se realizou análise

estatística descritiva, o maior coeficiente de variação (CV) foi de 3,66% (C-M) e o

menor, 0,88% (Lc).

Tabela 29: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de 4 machos de Diphylla. ecaudata e dados correspondentes a 1 fêmea da mesma espécie, todos provenientes da região de Jaíba, MG.

Macho (N = 4) Fêmea

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV (N = 1)

An 53,55 (52,75-54,7) 0,82 1,53 55,6 Ctc 22,75 (22,4-23) 0,26 1,16 23,05 Ccb 19,95 (19,45-20,35) 0,41 2,04 20,25 Lz 12,69 (12,4-12,95) 0,24 1,89 13,15 Cpo 6,64 (6,35-6,9) 0,23 3,45 6,95 Lcx 11,11 (10,85-11,4) 0,24 2,15 11,45 Lmt 11,83 (11,55-12,2) 0,29 2,45 12,2 C-M 3,41 (3,25-3,55) 0,12 3,66 3,65 Lm 6,03 (5,85-6,3) 0,19 3,21 6,2 Lc 5,44 (5,4-5,5) 0,05 0,88 5,5

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.

Com base em distinções no tamanho do antebraço e comprimento do crânio,

Ojasti & Linares (1971) reconheceram duas subespécies para D. ecaudata. Este

procedimento foi posteriormente adotado por Jones & Carter (1976) que situaram como

distribuição da forma típica a América do Sul e leste do Panamá, e em relação a D. e.

centralis o oeste do Panamá até o Texas. De acordo com Hall (1981), entretanto, estas

duas formas são indistinguíveis. Uma revisão dos dados morfométricos disponíveis na

literatura foi apresentada por Swanepoel & Genoways (1979), sendo notável o reduzido

número de exemplares em que se baseou a grande maioria dos relatos, quase sempre

referentes a América Central ou ao norte da América do Sul. Willig (1983) forneceu

medidas de 4 exemplares (2 machos e 2 fêmeas) provenientes da caatinga

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pernambucana e enfatizou que estas eram, em média, menores que as relatadas por

Swanepoel & Genoways (1979) para material das Américas do Norte e Central.

Em relação aos dados aqui apresentados, nota-se que tanto as dimensões médias

obtidas para os machos, quanto as medidas da fêmea, são superiores às mencionadas por

Willig (1983), estando mais próximas das referidas por Swanepoel & Genoways (1979).

Medidas de espécimes procedentes de áreas mais ao sul da distribuição da espécie,

como Espírito Santo (Ruschi, 1951b) e São Paulo (Vieira, 1942), são ainda maiores que

as encontradas nos exemplares do norte de Minas Gerais (tabela 30).

Tabela 30: Dimensões médias de espécimes de Diphylla. ecaudata provenientes das Américas do Norte e Central (AN/AC) (Swanepoel & Genoways, 1979), Pernambuco (PE) (Willig, 1983), e Minas Gerais (MG) (presente estudo), associadas às medidas de exemplares do Espírito Santo (ES) (Ruschi, 1951b) e São Paulo (SP) (Vieira, 1942). Machos Fêmeas

Caracter AN/AC PE MG ES SP AN/AC PE MG

An 55,05 - 53,55 52 49 55,23 - 55,6 Ctc 23,38 21 22,75 24 23 23,50 21,15 23,05 Ccb 20,18 18,45 19,95 - - 20,05 18,85 20,25 Lz 12,90 11,9 12,69 12,5 13 12,88 11,9 13,15 Cpo 7,33 6,5 6,64 7 7,5 7,35 6,5 6,95 Lcx 11,50 - 11,11 - - 11,55 - 11,45 C-M 3,53 2,95 3,41 5 4,5 3,48 2,95 3,65 Lm 5,93 5,05 6,03 - - 6,05 5 6,2 Lc - - 5,44 - 4 - - 5,5

Tamanho das amostras: AN/AC - 4 M e 4 F; PE - 2 M e 2 F; MG - 4 M e 1 F; ES - 1 M; SP - 1 M.

Infelizmente todos os registros levantados na literatura abordando a morfometria

de D. ecaudata, na porção meridional de sua área de ocorrência, baseiam-se em poucos,

senão em apenas um espécime, o que impossibilita uma análise consistente da variação

geográfica nesta espécie, que pode incluir uma tendência clinal com respeito ao leste

brasileiro.

- Hábitos gerais: Dos 6 exemplares de D. ecaudata capturados, 5 foram obtidos no

afloramento calcário do Morro Solto, e 1 em lote agrícola. Este último foi colecionado

em rede disposta junto à árvore utilizada como poleiro por Numida meleagris (galinha

d’angola), local em que se constatou evidências da atividade de hematófagos. Dois

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exemplares foram capturados na 3a hora após o pôr do sol, 2 na 4a, 1 na 5a e 2 na 6a. De

acordo com Uieda (1992) a atividade alimentar de D. ecaudata ocorre, de modo geral,

no período mais escuro da noite, sendo diretamente influenciada pelo ciclo lunar. Este

autor mencionou que, ocasionalmente, a atividade deste hematófago iniciava-se quando

a lua encontrava-se próxima do horizonte. No presente estudo, tal situação foi observada

em relação ao espécime obtido junto às galinhas d’angola. As redes ao redor da árvore

encontravam-se abertas desde o pôr do sol, e o morcego só foi capturado às 23:55h,

5min. antes da lua crescente começar a desaparecer no horizonte.

Em relação aos hábitos alimentares, D. ecaudata é provavelmente o mais

especializado dos morcegos hematófagos (Greenhall et al., 1984; Uieda, 1994),

explorando basicamente o sangue de aves (cf. Gardner, 1977; Brown, 1994). Segundo

dados compilados por Greenhall et al. (1984), esta espécie é encontrada quase

exclusivamente em cavernas e minas, sendo raramente observada em ocos de árvores.

Sua presença no afloramento calcário do Morro Solto reflete, por certo, a ocorrência de

refúgios nesta localidade, tendo-se obtido alguns espécimes em rede disposta junto a

saída de uma cavidade. Em reunião cujos resultados foram publicados por Aguiar &

Taddei (1995), e onde foi discutida a conservação dos quirópteros brasileiros,

estabeleceu-se que em face às suas baixas densidades e à sua especialização em aves

como recurso alimentar, D. ecaudata não tem papel relevante na transmissão da raiva e,

portanto, não deve ter suas populações controladas.

- Reprodução: A única fêmea obtida, coletada em abril, não apresentou sinais de

atividade reprodutiva. Analisando os escassos dados disponíveis na literatura, Greenhall

et al. (1984) apontaram um padrão poliéstrico assazonal para a espécie em tela.

Família Vespertilionidae Gray, 1821

Subfamília Vespertilioninae Gray, 1821

Myotis nigricans (Schinz, 1821)

- Localidade tipo: Brasil, Espírito Santo, entre os rios Itapemirin e Iconha.

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- Distribuição: Nayarit e Tamaulipas (México) até o Peru, norte da Argentina e sul do

Brasil; Trinidad e Tobago; Granada (Pequenas Antilhas) (Koopman, 1993).

- Material examinado: 4 exemplares (2 machos e 2 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 2 exemplares (machos). ALP 6901 (13-X-94); ALP

6974 (21-II-95).

- Morfometria e comentários: Apresenta-se a seguir as medidas selecionadas dos

exemplares incorporados à coleção: antebraço, 35.0, 34.1; comprimento total do crânio,

14.15, 14.15; comprimento côndilo-basal, 13.2, 13.2; largura zigomática, 8.5, -;

constrição pós-orbital, 3.4, 3.5; largura da caixa craniana, 6.55, 6.8; largura mastóidea,

7.2, 7.2; comprimento da série de dentes maxilares, 5.3, 5.4; largura externa dos molares

superiores, 5.6, 5.45; largura externa dos caninos superiores, 3.45, 3.4.

M. nigricans é uma espécie altamente variável tanto nos caracteres externos

quanto nos cranianos (LaVal, 1973; Barquez, 1987). Em face a grande variabilidade

constatada em espécimes argentinos, Barquez et al. (1993) mencionaram que esta

espécie poderia ser confundida com várias outras do mesmo gênero, o que foi enfatizado

em relação a M. riparia (= M. riparius, cf. Woodman, 1993). De fato, uma coleção de

Myotis proveniente de áreas de cerrado e caatinga do nordeste do Brasil, inicialmente

referida por Mares et al. (1981) e Willig (1983) como M. nigricans, tratava-se, em

verdade, de M. riparia (Willig & Mares, 1989).

Utilizando a descrição apresentada por LaVal (1973) e os caracteres diagnósticos

propostos por Wilson & LaVal (1974), associou-se o material de Jaíba a M. nigricans,

cabendo, entretanto, algumas ressalvas. Apesar da similaridade em relação ao aspecto

externo, apenas os exemplares dos quais se apresenta as medidas selecionadas tiveram

sua morfologia geral examinada, admitindo-se a possibilidade de outra forma estar

envolvida dentro da presente amostragem. Com relação aos espécimes analisados,

notou-se a presença de uma crista sagital pouco desenvolvida, caracter que mesmo

pouco pronunciado não tem sido referido para esta espécie (Wilson & LaVal, 1974;

Barquez et al., 1993; Fazzolari-Corrêa, 1995). Segundo LaVal (1973), entretanto, uma

crista sagital baixa e estreita pode ocorrer em M. nigricans.

Uma importante característica dentária, inicialmente proposta por LaVal (1973),

e que somada a outros caracteres tem sido utilizada com sucesso por alguns autores na

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separação de M nigricans eM riparius, diz respeito ao posicionamento do 2Q premolar

superior em relação à série de dentes na qual està inserido. Na primeira espécie, e tal

como foi observado nos dois exemplares aqui estudados, os premolares formam uma

fileira, enquanto na outra, o 2Q premo lar, além de reduzido, està deslocado para o lado

lingual da arcada dentària (Barquez, 1987; Brosset & Charles-Dominique, 1990;

González & Fabián, 1995). Todos os espécimes obtidos na região de Jaíba

apresentavam o pêlo sedoso, característica normalmente encontrada em M nigricans e

que contrasta com o aspecto enovelado, comum em M riparius (LaVai, 1973). Uma

coloração ventral pálida, ocasionada pela porção distai amarelada dos pêlos, foi

observada em todos estes exemplares, tendo sido constatada também nos espécimes de

E. furinalis obtidos na mesma região (figura 28).

Figura 28: Espécimes de Myotis nigricans (direita) e Eptesicus furinalis procedentes da região de Jaíba, MO. Note a coloração ventral pálida ocasionada, em ambas as espécies, pela porção distal amarelada dos pêlos.

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- Hábitos gerais: Dois exemplares foram obtidos em rede armada sobre bebedouro de

gado na Fazenda Solagro, 1 sobre pequeno lago no Dreno Jaíba, e 1, nesta mesma

localidade, em clareira junto à borda da mata. Dentre os 3 espécimes dos quais se

registrou o horário de captura, 1 foi obtido na 1a hora após o pôr do sol, 1 na 2a, e 1 na

5a hora.

Classificada por Findley (1993) como espécie insetívora aérea de clareiras e

florestas, M. nigricans adapta-se bem às alterações antrópicas sendo freqüentemente

encontrada em hábitats modificados (Wilson, 1971; Myers, 1977; Mok & Lacey, 1980;

Brosset & Charles-Dominique, 1990), inclusive em meio urbano (Mok & Lacey, 1980;

Esberard et al., 1994). Em relação à utilização de abrigos, Barquez et al. (1993)

mencionaram que esta espécie, em geral, apresenta preferência por estruturas

construídas pelo homem, tais como pontes, bueiros, e telhados de residências. Seus

hábitos antropófilos encontram-se amplamente documentados na literatura (Goodwin &

Greenhall, 1961; Peracchi & Albuquerque, 1971; Wilson, 1971; Myers, 1977; Esberard

et al., 1994; Mares et al., 1995). M. nigricans é citado ainda como o mais freqüente

vespertilionídeo encontrado em cavernas brasileiras (Trajano, 1995), podendo abrigar-se

também em ocos de árvores (Goodwin & Greenhall, 1961), sob a casca de árvores

(Barquez et al., 1993), e em folhas secas e pendentes de palmeiras (Reis & Peracchi,

1987).

Por certo a presença deste quiróptero em apenas duas das estações aqui

estudadas não reflete sua real distribuição na área em apreço. Tal fato provavelmente

relaciona-se ao atrativo (coleção d’água) utilizado nestes locais e que não foi explorado

na maioria dos outros pontos amostrados. Sabe-se que M. nigricans pode forragear em

estratos relativamente altos (Bonaccorso, 1979; Marinho-Filho, 1992), o que aliado a

um eficiente sistema de ecolocação, dificulta sua captura em redes (Marinho-Filho,

1992). Os dados sobre horário de atividade aqui fornecidos concordam com os

constantes na literatura. Ruschi (1951c) mencionou hábitos crepusculares e noturnos

para esta espécie, de forma similar ao referido por Sekiama (1996).

- Reprodução: Uma fêmea coletada em janeiro e outra obtida em novembro

encontravam-se aparentemente inativas. Estudos conduzidos tanto no Panamá (Wilson

& Findley, 1970) quanto no Paraguai (Myers, 1977) demonstraram que, em M.

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nigricans, nascimentos podem ocorrer continuamente durante a maior parte do ano, com

um período de 2 a 3 meses em que a atividade reprodutiva é reduzida ou nula. Em

ambos os trabalhos fêmeas foram registradas parindo cerca de três vezes por ano, e o

curto período de inatividade ou atividade reduzida foi associado à sazonalidade na

disponibilidade do alimento (insetos).

Eptesicus furinalis (d’Orbigny, 1847)

- Localidade tipo: Argentina, Corrientes.

- Distribuição: Norte da Argentina, Brasil, e Guianas até Jalisco e Tamaulipas (México)

(Koopman, 1993).

- Material examinado: 2 exemplares (1 macho e 1 fêmea)

- Material incorporado à coleção: 1 exemplar (fêmea) e o crânio parcialmente

quebrado de um macho. Fêmea: ALP 6857 (05-V-94). Macho: ALP 6824 (20-X-94).

- Morfometria e comentários: Apresenta-se a seguir as medidas da fêmea incorporada

à coleção: antebraço, 39.0; comprimento total do crânio, 15.9; comprimento côndilo-

basal, 15.2; largura zigomática, 11.1; constrição pós-orbital, 3.85; largura da caixa

craniana, 7.15; largura mastóidea, 8.35; comprimento da série de dentes maxilares, 5.9;

largura externa dos molares superiores, 6.6; largura externa dos caninos superiores,

4.95. Outras importantes medidas, tomadas com base em Williams (1978), dizem

respeito ao comprimento do 3o metacarpo - 36.0; comprimento da mandíbula - 12.3; e

comprimento da série de dentes mandibulares - 6.5.

De acordo com Davis (1966), espécimes de E. furinalis podem ser identificados

através das seguintes característica tomadas em conjunto: comprimento da série de

dentes maxilares normalmente menor que 6.0 (5.4-6.0), 3o metacarpo normalmente em

torno de 36.5 (34.3-39.0), antebraço normalmente em torno de 38.0 (37.0-41.0) e

comprimento do crânio normalmente menor que 16.5 (15.0-17.1). Mies et al. (1996)

mencionaram ainda que formas de E. furinalis provenientes de terras baixas do Brasil,

Paraguai, Bolívia e Argentina, podem facilmente ser separadas de outros Eptesicus pela

combinação do comprimento da mandíbula (10.9-12.4) e comprimento da série de

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dentes mandibulares (5.5-6.7). Como pode-se notar, todos os valores obtidos para a

fêmea aqui examinada concordam com os citados acima permitindo enquadra-la no

referido táxon.

O segundo espécime obtido é aqui também associado a E. furinalis com base no

tamanho do antebraço (37.2), em duas dimensões ainda mensuráveis do crânio

parcialmente quebrado (constrição pós-orbital, 3.8; largura externa dos caninos

superiores, 4.7), e na similaridade morfológica (coloração da pelagem, forma do crânio

e tamanho dos molares) em relação à fêmea.

Sete subespécies são atualmente reconhecidas para E. furinalis (Mies et al.,

1996). Dentro do proposto por Davis (1966), o material da região de Jaíba poderia ser

associado à forma típica, cuja área de ocorrência abrange o sudeste brasileiro. Esta tem

dimensões levemente menores e coloração mais escura que E. f. chapmani, forma

distribuída nas baixas inclinações dos Andes bolivianos, região Amazônica e Nordeste

do Brasil (Williams, 1978; Mies et al., 1996). Embora só disponha-se das medidas de 1

fêmea, não sendo possível uma análise conclusiva, notou-se que o referido espécime

apresentou algumas dimensões cranianas consideravelmente superiores às médias

fornecidas por Willig (1983) para material do Ceará reconhecido como E. f. chapmani

(tabela 31).

Tabela 31: Médias de medidas selecionadas de fêmeas de Eptesicus furinalis reportadas por Willig (1983) para o Ceará, e dimensões da fêmea referida no presente estudo. Caracter CE1 MG

An 40,13 39 Ctc 14,84 15,9 Ccb 14,39 15,2 Lz 10,56 11,1 Cpo 3,64 3,85 Lcx 7,25 7,15 Lmt 8,35 8,35 C-M 5,65 5,9 Lm 6,51 6,6 Lc 4,8 4,95 1N = 14.

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Quanto à pelagem, os dois exemplares referidos no presente estudo

apresentavam uma coloração ventral pálida, ocasionada pela porção distal amarelada

(bem clara) dos pêlos (figura 28). Como relatado por Mies et al. (1996), entretanto, este

é um caracter que pode variar tanto entre subespécies quanto sazonalmente, e ainda de

um hábitat para outro.

- Hábitos gerais: Ambos os espécimes de E. furinalis amostrados no presente estudo

foram capturados em redes armadas sobre coleções d’água. Um deles foi obtido em

pequena poça de água acumulada pela chuva, na estrada que cerca a Reserva Biológica

de Jaíba. Na mesma rede foram amostradas ainda outras 4 espécies de hábitos

insetívoros (T. saurophila, M. planirostris, M. ater e M. molossus). O segundo exemplar

foi colecionado em um lago, também com reduzidas dimensões, e situado no Dreno

Jaíba. Com relação ao horário de atividade, as duas capturas foram realizadas na 2a hora

após o pôr do sol.

E. furinalis é uma espécie insetívora aérea (Willig, 1983) e de acordo com dados

compilados por Mies et al. (1996) pode abrigar-se sob a cascas de árvores, em ocos de

troncos ou árvores, cavernas, e diversos locais envolvendo construções humanas, tais

como telhados, sótãos, dentro de paredes ou pavimentos, e atrás de persianas de janelas.

Myers (1977) reportou uma pequena colônia utilizando o espaço entre duas vigas de um

alpendre. Como já citado em relação a M. nigricans, coleções d’água constituem

importante recurso para amostragem de E. furinalis (Mies et al., 1996). Piscinas e

bebedouros artificiais para gado foram citados por Myers (1977) como locais confiáveis

para captura de morcegos desta espécie no Paraguai. Mares et al. (1995) mencionaram

ainda a utilização de canais de irrigação.

Apesar de no presente estudo E. furinalis ter sido assinalada apenas em locais

associados à áreas florestadas, diversos estudos têm evidenciado sua ocorrência em

hábitats modificados (Mies et al., 1996), o que aliado a versatilidade já mencionada em

relação à utilização de abrigos, demonstra certo grau de plasticidade desta espécie frente

às alterações ambientais decorrentes da ação humana. O horário de atividade aqui

registrado acompanha o já verificado em outras localidades indicando forrageios durante

o crepúsculo e início da noite (Mies et al., 1996), o que deve-se, provavelmente, aos

hábitos insetívoros de E. furinalis.

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- Reprodução: A fêmea coletada em outubro encontrava-se lactante. Mies et al. (1996)

compilaram os dados disponíveis sobre a reprodução de E. furinalis, mas nenhum

registro proveniente do Brasil foi citado. No mais completo estudo reprodutivo sobre

esta espécie, conduzido no Paraguai, Myers (1977) constatou que nascimentos ocorrem

no final de outubro e em novembro, havendo um estro pós-parto e novos nascimentos

em janeiro. A ausência de partos durante o inverno foi relacionada pelo referido autor à

escassez de alimento (insetos) que caracterizaria este período. Os dados de Myers

(1977) claramente sugerem um padrão poliéstrico bimodal sazonal, o mesmo que pode

caracterizar a espécie na região de Jaíba, já que 1 fêmea lactante foi amostrada no início

da estação chuvosa.

Família Molossidae Gervais, 1856

Molossops planirostris (Peters, 1865)

- Localidade tipo: Guiana Francesa, Cayenne.

- Distribuição: Panamá até o Peru, norte da Argentina, Paraguai, Brasil e Suriname

(Koopman, 1993).

- Material examinado: 6 exemplares (4 machos e 2 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 5 exemplares (3 machos e 2 fêmeas). Machos: ALP

6856 (05-V-94); ALP 6948, 6949 (14-XI-94). Fêmea: ALP 6897 (13-X-94); ALP 6947

(14-XI-94).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie

encontram-se na tabela 32. Na análise estatística descritiva realizada para os machos

constatou-se um maior coeficiente de variação (CV) em relação à largura mastóidea

(7,18%), com o menor valor associado à largura zigomática (0,65%). À exceção das

médias das medidas obtidas para a constrição pós-orbital e largura externa dos molares

superiores, todas as demais foram maiores nos machos do que nas fêmeas.

De forma geral, as médias das medidas aqui reportadas, tanto para machos

quanto para fêmeas, são consideravelmente superiores às referidas por Vizzoto &

Taddei (1976) para uma coleção do Estado de São Paulo, apresentando uma maior

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afinidade com as de espécimes obtidos por Willig (1983) nas caatingas de Pernambuco.

Quando o cotejo é feito em relação à material do Paraguai, analisado por Myers &

Wetzel (1983), uma notável diferença pode ser verificada em relação ao comprimento

total do crânio e ao comprimento côndilo-basal, ambos com dimensões médias mais

elevadas nos exemplares de Jaíba. Por outro lado, valores fornecidos por Husson (1962),

Williams & Genoways (1980), Brosset & Charles-Dominique (1990) e Patterson (1992)

para medidas de espécimes de M. planirostris procedentes de áreas mais ao norte da

América do Sul, respectivamente, Guiana, Venezuela/Amazônia brasileira (dados

médios), Guiana Francesa e Estado do Amazonas, tendem a ser superiores aos aqui

obtidos (tabela 33).

Tabela 32: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de 3 machos de Molossops planirostris, e dados correspondentes a 2 fêmeas da mesma espécie, todos provenientes da região de Jaíba, MG.

Machos (N=3) Fêmeas (N=2)

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.)

An 31,93 (29,9-33,1) 1,77 5,53 31,63 (31,45-31,8) Ctc 16,67 (16,45-16,8) 0,19 1,14 15,83 (15,7-15,95) Ccb 15,70 (15,45-16) 0,28 1,77 15,05 (15,05-15,05) Lz 10,95 (10,9-11) 0,07 0,65 10,53 (10,5-10,55) Cpo 4,20 (4,15-4,25) 0,05 1,19 4,43 (4,3-4,55) Lcx 7,92 (7,75-8,2) 0,25 3,12 7,90 (7,8-8) Lmt 10,33 (9,7-11,15) 0,74 7,18 10,08 (9,9-10,25) C-M 6,22 (6,1-6,45) 0,20 3,25 6,05 (5,9-6,2) Lm 7,45 (7,4-7,5) 0,05 0,67 7,45 (7,4-7,5) Lc 4,68 (4,6-4,8) 0,10 2,22 4,33 (4,25-4,4)

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.

Com uma notável exceção para o trabalho de Vizzoto & Taddei (1976), todos os

demais estudos mencionados relatando dados morfométricos sobre M. planirostris, aos

quais ainda se juntam os de Barquez (1987) e Anderson (1997), restringiram-se a

poucos indivíduos, o que por certo vem dificultando a análise de um possível padrão de

variação geográfica nesta espécie. Acrescenta-se ainda a necessidade de se amostrar

consistentemente os dois sexos, já que o dimorfismo sexual secundário, também

sugerido pelos dados aqui apresentados, foi estatisticamente constatado por Vizzoto &

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Taddei (1976), tanto em caracteres externos como em cranianos.

Tabela 33: Médias de medidas selecionadas de Molossops planirostris apresentadas por Willig (1983) para Pernambuco (PE), pelo presente estudo para a região de Jaíba (MG), por Vizzoto e Taddei (1976) para o Estado de são Paulo (SP), e por Myers & Wetzel (1983) para o Paraguai; além de medidas individuais fornecidas por Husson (1962) para espécimes da Guiana. Machos Fêmeas

Caracter Guiana PE MG Parag. SP GB PE MG Parag. SP

An 32,5 - 31,93 31,9 31,6 32 - 31,63 30,8 30,7 Ctc 17,0 16,1 16,67 15,8 15,36 15,6 15,25 15,83 15,0 14,51 Ccb 16,2 15,8 15,70 15,2 14,92 15,3 14,95 15,05 14,6 13,92 Lz 11,6 11,2 10,95 10,5 10,37 10,7 10,9 10,53 10,3 9,95 Cpo 4,3 4,3 4,20 4,2 4,09 4,4 4,15 4,43 4,2 3,97 Lcx 8,7 7,8 7,92 - 7,78 8,3 7,65 7,90 - 7,62 Lmt 11,7 - 10,33 10,3 10,01 10,3 - 10,08 9,9 9,43 C-M 6,6 6,5 6,22 6,2 5,87 6,1 6,15 6,05 5,8 5,47 Lm 7,7 7,7 7,45 7,4 7,07 7,3 7,7 7,45 7,2 6,85 Lc 5,0 - 4,68 4,7 4,54 4,2 - 4,33 4,1 4,15

Tamanho das amostras: GB - 1 M e 1 F; PE - 1 M e 2 F; MG - 3 M e 2 F; Paraguai - 4 M e 5 F; SP - 15 M e 15 F.

A posição sistemática de M. planirostris é alvo de controvérsias, tendo Barquez

(1987) a incluído juntamente com M. paranus e M. abrasus no gênero Cynomops.

Considerando-se as proposições de Koopman (1993), entretanto, a referida espécie é

mantida no gênero Molossops, e M. paranus reconhecida com sua subespécie.

Adotando-se este último arranjo, M. planirostris poderia mais facilmente ser confundida

com M. temminckii, já que além de ocorrerem em simpatria, estas formas apresentam

semelhanças tanto no aspecto geral, como nas dimensões e hábitos (Vizzoto & Taddei,

1976). Características de M. planirostris observadas nos espécimes aqui examinados e

que, de acordo com Vizzoto & Taddei (1976) permitem diferencia-la de M. temminckii

são: região ventral, geralmente, muito clara (figura 29); orelhas mais largas, com as

extremidades mais arredondadas e distância de aproximadamente 2,5mm entre os

pontos de origem da margem interna; asas mais longas e estreitas, com comprimento da

2a falange do 4o dedo de 3,5 a 4,5mm, e comprimento da 2a falange do 5o dedo de 3,0 a

3,5mm; quatro incisivos inferiores. Notou-se, entretanto, que um dos exemplares

apresentava apenas dois incisivos inferiores, fato relatado por Williams & Genoways

(1980) como passível de ocorrência, mesmo que em poucos indivíduos.

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Figura 29: Espécime de Molossops planirostris procedente da região de Jaíba, MG. Note a coloração ventral bem esbranquiçada que caracteriza a espécie.

- Hábitos gerais: Todos os exemplares desta espécie foram capturados em redes

armadas sobre coleções d'água. Quatro foram obtidos sobre bebedouro de gado na

Fazenda Solagro, um em pequena poça de água acumulada pela chuva na estrada que

margeia a Reserva Biológica de Jaíba, e um junto à área alagada no Dreno Jaíba.

Horário de captura foi assinalado apenas para dois espécimes, tendo um sido obtido na

I ª hora após o pôr do sol e um na 2ª, o que por certo reflete os hábitos insetívoros desta

espécie.

M planirostris é uma espécie insetívora aérea (WiIlig, 1983) que abriga-se em

ocos de árvores, de estacas de cercas e de postes de iluminação (Vizotto & Taddei,

1976). Pode utilizar também forros de residências e prédios, já tendo sido encontrada

em área urbana (Vizotto & Taddei, 1976; Mok & Lacey, 1980). Diferente de outros

molossídeos como M molossus e M ater, mais freqüentemente amostrados neste tipo

de ambiente e onde podem causar sérios percalços ao homem (cf Greenhall, 1982), M

planirostris parece ser naturalmente mais rara. À exceção dos dados fornecidos por

Vizotto & Taddei (1976), muito pouco se conhece sobre sua biologia.

McNab & Morrison (1963) mencionaram um único exemplar encontrado em

residência ao sul de Ilhéus, Estado da Bahia. Nas caatingas de Pernambuco Willig

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sua amostragem. O mesmo status lhe foi atribuído por Barquez et al. (1993), na

Argentina, onde segundo estes autores, refúgios são desconhecidos. De acordo com

Anderson (1997), nenhum detalhado dado boliviano sobre hábitat, hábitos,

comportamento, alimentação ou reprodução desta espécie encontra-se disponível. O

único exemplar referido para a Guiana Francesa por Brosset & Charles-Dominique

(1990) foi capturado em rede, a 25m de altura, numa clareira em mata primária.

É provável que na área do Projeto Jaíba este quiróptero encontre-se mais bem

distribuído, o que poderá ser verificado aplicando-se um maior esforço de amostragem

sobre coleções d’água que mostraram-se bastante eficientes no presente estudo. A

ocorrência tanto em associação à áreas florestadas quanto a pastagens, confirma a

capacidade, já bem evidenciada por Vizotto & Taddei (1976), deste quiróptero adaptar-

se às alterações antrópicas. A atividade crepuscular aqui mencionada foi constatada

também por Vizotto & Taddei (1976). Segundo estes autores, entretanto, após

retornarem ao abrigo e lá permanecerem por algum tempo, os morcegos se lançavam em

novos vôos para se alimentarem também durante a noite.

- Reprodução: Uma fêmea aparentemente inativa foi capturada em outubro, enquanto

outra obtida em novembro encontrava-se grávida, com embrião medindo 16,55mm de

comprimento. Este registro corrobora as observações de Vizotto & Taddei (1976) que

constataram nascimentos em meados da estação chuvosa no Estado de São Paulo. Os

referidos autores sugeriram um padrão monoéstrico sazonal para M. planirostris.

Molossus ater E. Geoffroy, 1805

- Localidade tipo: Guiana Francesa, Cayenne.

- Distribuição: Tamaulipas e Sinaloa (México) até o Peru, norte da Argentina, Brasil e

Guianas; Trinidad (Koopman, 1993).

- Material examinado: 40 exemplares (18 machos e 22 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 22 exemplares (8 machos e 14 fêmeas). Machos:

ALP 6826 (05-IV-94); ALP 6875 (06-X-94); ALP 6896, 6898 (13-X-94); ALP 6913

(21-X-94); ALP 6942, 6943 (14-XI-94); ALP 6959 (10-I-95). Fêmeas: ALP 6874, 6877,

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6878 (06-X-94); ALP 6911, 6912, 6914, 6915, 6917 (21-X-94); ALP 6944, 6945, 6946

(14-XI-94); ALP 6963, 6964, 6966 (13-I-95).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie

encontram-se na tabela 34. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 4,79% (Cpo dos

machos) e o menor, 1,41% (Ccb das fêmeas). Todas as médias das medidas dos machos

foram superiores as das fêmeas, tendo-se verificado níveis significantes de dimorfismo

sexual (P < 0,05) em 9 dos 10 caracteres examinados (An, Ctc, Ccb, Lz, Lcx, Lmt, C-M,

Lm e Lc).

Tabela 34: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Molossus ater provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 5) Fêmeas (N = 12)

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) DP CV P

An 46,12 (44,9-46,8) 0,76 1,65 44,96 (43,55-47,2) 0,97 2,16 0,0317* Ctc 20,58 (19,85-21,35) 0,54 2,60 19,60 (19,05-20,4) 0,35 1,81 0,0004* Ccb 18,74 (18,1-19,5) 0,51 2,70 17,90 (17,45-18,45) 0,25 1,41 0,0003* Lz 13,25 (12,8-13,5) 0,27 2,07 12,51 (12,2-13,15) 0,27 2,13 0,0001* Cpo 4,3 (4,05-4,55) 0,21 4,79 4,28 (4,1-4,55) 0,14 3,31 0,8490 Lcx 10,33 (10-10,55) 0,23 2,21 10,07 (9,8-10,5) 0,18 1,79 0,0222* Lmt 12,8 (12,05-13,35) 0,52 4,08 12,26 (11,9-13,5) 0,44 3,60 0,0461* C-M3 7,56 (7,3-7,8) 0,19 2,58 7,22 (7-7,5) 0,14 1,97 0,0010* Lm 9,45 (8,9-9,75) 0,32 3,41 9,05 (8,5-9,7) 0,30 3,31 0,0253* Lc 5,59 (5,45-5,8) 0,13 2,32 5,19 (4,95-5,6) 0,17 3,36 0,0004*

N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; Valores de P menores que 0,05 (*) indicam existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.

As dimensões médias aqui referidas, tanto para os machos quanto para as

fêmeas, são consideravelmente menores que as relatadas por Husson (1962) para

espécimes do Suriname, e também que as descritas por Myers & Wetzel (1983) a partir

de material procedente do Paraguai (tabela 35). Ao compararem exemplares de M. ater

da Bolívia com espécimes do Paraguai, Myers & Wetzel (1983) verificaram que estes

últimos apresentavam dimensões notavelmente maiores e que concordavam, por outro

lado, com as de espécimes brasileiros coletados ao sudeste de Minas Gerais e em Mato

Grosso. Infelizmente os dados referentes à estas localidades não foram fornecidos pelos

citados autores, o que somado aos poucos registros morfométricos encontrados na

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literatura, principalmente em relação ao território brasileiro, dificulta a compreensão de

um possível padrão de variação geográfica nesta espécie, até mesmo para o leste do

Brasil. A maioria dos estudos levantados basearam-se em poucos indivíduos (Vieira,

1942; Goodwin & Greenhall, 1961; Husson, 1962; Myers & Wetzel, 1983; Brosset &

Charles-Dominique, 1990; Anderson, 1997, sob o nome M. rufus), ou mesmo em

apenas um (Ruschi, 1951d). Em estudo sobre a sistemática do gênero Molossus, Dolan

(1989) enfatizou a escassez de material representativo da América do Sul, tendo

restringido suas análises a América Central.

Tabela 35: Médias de medidas selecionadas de espécimes de M. ater provenientes do Suriname (Husson, 1962), da região de Jaíba, MG (presente estudo), e do Paraguai (Myers & Wetzel, 1983).

Machos Fêmeas

Caracter Suriname MG Paraguai Suriname MG Paraguai

An 50,7 46,12 49,7 48,6 44,96 47,8 Ctc 22,56 20,58 22,2 20,7 19,6 20,7 Ccb 20,28 18,74 20,1 18,96 17,9 19,0 Lz 13,96 13,25 14,2 12,92 12,51 13,4 Cpo 4,18 4,3 4,4 4,06 4,28 4,3 Lcx 10,82 10,33 - 10,26 10,07 - Lmt 13,76 12,8 13,7 12,44 12,26 12,9 C-M3 8,26 7,56 8,4 7,88 7,22 8,0 Lm 9,88 9,45 9,9 9,52 9,05 9,5 Lc 5,96 5,59 6,2 5,42 5,19 5,6

Tamanho das amostras: Suriname - 5 M e 5 F; MG - 5 M e 12 F; Paraguai - 4 M e 3 F.

O dimorfismo sexual secundário aqui constatado, com machos sendo maiores

que as fêmeas, foi relatado para espécimes do Paraguai por Myers & Wetzel (1983), e

pode ser também evidenciado através das dimensões médias de exemplares do Suriname

referidos por Husson (1962) (Tabela 35). Segundo Freeman (1981), esta é uma

tendência comum em molossídeos, constituindo o tratamento mesclado dos dados

morfométricos, como conduzido por Barquez (1987), outro fator limitante na análise da

variação geográfica desta espécie, haja visto a significante coleção de material argentino

examinado por este autor. Patterson (1992) fez referência à morfometria de considerável

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número de espécimes de M. ater (sob o nome M. rufus) provenientes da Amazônia

brasileira, mas também combinou os dados de machos e fêmeas.

Miller (1913) mencionou a ocorrência de duas fases de cores em M. ater, uma

enegrecida, aparentemente rara, e outra avermelhada, mais comum. No Suriname,

Husson (1962) constatou situação inversa, fato também observado no presente estudo

onde a grande maioria dos espécimes coletados apresentavam coloração enegrecida. De

acordo com Dolan (1989), entretanto, esta espécie não é verdadeiramente dicromática,

já que há uma distinta progressão do preto para o avermelhado, provavelmente

associada a uma degradação dos pigmentos medulares melanísticos.

- Hábitos gerais: Espécie comum na região tendo sido amostrada sobre bebedouro de

gado na Fazenda Solagro, em pequena poça de água acumulada pela chuva na estrada

que margeia a Reserva Biológica de Jaíba, junto à área alagada no Dreno Jaíba, próximo

à residências na área do CAM, e em forro de residência tanto na área do CAM como em

Mocambinho. Em duas ocasiões obteve-se dados que sugerem a formação de haréns em

M. ater, pelo menos durante o período de reprodução da espécie. Na primeira delas

logrou-se capturar 1 macho com saco glandular bem desenvolvido e 6 fêmeas

sexualmente ativas, logo em que estes saíam do abrigo (forro) para se alimentar. Na

segunda, através de captura manual em forro, amostrou-se 1 macho também com saco

glandular desenvolvido e 4 fêmeas das quais 3 apresentavam sinais de atividade sexual.

Nestes dois forros M. ater coabitava com M. molossus.

A atividade crepuscular de M. ater foi claramente evidenciada em coleta

realizada junto à saída de um abrigo em forro de residência. O pôr do sol foi registrado

às 17:55h, tendo-se capturado o primeiro espécime às 17:58h e os 6 demais à intervalos

regulares entre 18:00 e 18:15h. Nos 15min seguintes nenhum outro morcego saiu do

abrigo pelo acesso observado e a rede foi fechada. Registros de horário de captura

referentes às 3 primeiras horas de coleta em locais próximos a residências e sobre

coleções d’água, sugerem um decréscimo na atividade da espécie à partir de uma maior

concentração na 1a hora após o pôr do sol (Figura 30). Estes dados parecem concordar

com os obtidos por Marques (1986), que estudando M. ater na cidade de Manaus

constatou a ocorrência de dois picos de atividade: um principal restrito às primeiras

horas após o crepúsculo, seguido por um período de pouca ou nenhuma atividade fora

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do abrigo, e outro durante a alvorada. Resultado similar foi obtido também por Brown

(1968) na Costa Rica.

0

10

20

30

40

50

1:00 2:00 3:00

Horas após o pôr do sol

% de captura

M. ater

Figura 30: Horário de atividade de Molossus ater com base nas capturas em rede efetuadas na região de Jaíba, MG.

M. ater é uma espécie insetívora aérea (Willig, 1983) que pode abrigar-se em

folhas de palmeiras (Goodwin & Greenhall, 1961), frestas e ocos de árvores (Ruschi,

1951d; Goodwin & Greenhall, 1961; Myers & Wetzel, 1983), e principalmente em

forros de residências ou outras construções humanas como encontra-se amplamente

documentado (Ruschi, 1951d; Goodwin & Greenhall, 1961; Peracchi & Albuquerque,

1971; Myers & Wetzel, 1983; Peracchi et al., 1984; Reis & Peracchi, 1987). Nesta

última circunstância tem sido relatada como freqüente sua coabitação com M. molossus

(Goodwin & Greenhall, 1961; Reis & Peracchi, 1987), fato também observado no

presente estudo. Segundo Nowak (1994), morcegos do gênero Molossus podem

refugiar-se em grupos de até centenas de indivíduos, e machos e fêmeas adultos de M.

ater podem segregar e viver separados mesmo dentro do mesmo refúgio. Registros na

literatura sobre a possível formação de haréns nesta espécie não foram encontrados.

Não obstante a freqüente presença em construções humanas de algumas espécies

das famílias Noctilionidae, Phyllostomidae e Vespertilionidae, são os representantes de

Molossidae que mais comumente exploram estes locais como abrigo (Taddei, 1988).

Registros em diferentes localidades apontam os morcegos do gênero Molossus (M. ater

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e/ou M. molossus) como os principais ocupantes de forros em áreas urbanizadas

(Goodwin & Greenhall, 1961; Mok & Lacey, 1980; Reis, 1981; Brosset et al., 1996;

Silva et al., 1996). Considerando-se que esta vizinhança entre homens e morcegos pode

acarretar certos problemas, envolvendo inclusive questões de saúde pública, algumas

observações válidas também para os demais insetívoros que se abrigam em residências

se fazem necessárias.

Certos inconvenientes como barulho e acúmulo de fezes e urina provocando

forte odor, podem levar certas pessoas a tentarem “se livrar” dos morcegos e

inadvertidamente ocasionarem problemas para si próprias e para o meio ambiente.

Apesar de incomum, o fungo Histoplasma capsulatum pode ocasionalmente ser

encontrado em fezes de morcegos acumuladas em forros quentes e secos (Tuttle, 1988).

Dependendo da pessoa e da quantidade de esporos inalados a histoplasmose pode ser

fatal (Constantine, 1988), sendo imprescindível a utilização de uma proteção adequada

das vias respiratórias ao se entrar em um forro pouco ventilado e com fezes acumuladas.

A única forma eficiente de se manter os morcegos afastados das residências é vedar-lhes

os possíveis acessos antes da ocupação do local. O manejo de colônias já instaladas

deve ser conduzido por pessoal qualificado, podendo envolver a captura direta dos

espécimes ou a vedação dos acessos em período oportuno para evitar que adultos ou

filhotes sejam isolados no interior da edificação.

O uso de produtos tóxicos para eliminar morcegos de residências não é

recomendado, pois além de ineficaz, pode trazer sérias conseqüências como uma

redução na resistência natural destes mamíferos à infecções virais aumentando a

probabilidade deles contraírem raiva (Tuttle, 1988). Burns & Farinacci (1955 apud

Uieda et al. 1995) relataram um caso de típico de surto de raiva em uma colônia de

Tadarida brasiliensis (Molossidae) e que estava diretamente associado a aplicação

intensiva de DDT. Segundo Uieda et al. (1995), é possível que nesta situação o

inseticida tenha provocado um estresse na colônia e indivíduos que albergavam o vírus

da raiva sem sintomas aparentes passaram a manifestar a doença. De maneira geral,

venenos utilizados junto à colônias de morcegos acabam por aumentar

significantemente o contato destes com o homem e com animais domésticos, já que

espécimes doentes ou moribundos caem no chão e podem ficar ativos por dias (Tuttle,

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1988). Uma maneira simples de evitar problemas é jamais tocar os morcegos com as

mãos, principalmente se estes estiverem apresentando comportamento atípico como

aparecerem em locais expostos e durante o dia (cf. Uieda et al., 1995).

Morcegos insetívoros como M. ater são de extrema importância para o equilíbrio

ecológico, pois atuam no controle de insetos noturnos (um único morcego pode capturar

até 600 em apenas 1 hora), incluindo alguns considerados pestes para agricultura

(Tuttle, 1988). O desequilíbrio que resultaria de um declínio nas populações destes

morcegos certamente traria conseqüências desastrosas para o meio ambiente como uma

possível superabundância de insetos (Goodwin & Greenhall, 1961). Tendo em vista tais

considerações, recomenda-se à equipe responsável pelas questões faunísticas ligadas ao

Projeto Jaíba, que esclareça as comunidades locais sobre como proceder frente a

presença dos morcegos, enfatizando ainda a importância de sua preservação. Os

pequenos núcleos habitacionais existentes ao longo da área do projeto, e dentre os quais

se destaca Mocambinho, devem abrigar numerosas colônias de M. ater e de outros

molossídeos, devendo constituir o alvo desta campanha.

A presença desta espécie em associação à diversos tipos de hábitats, como

constatado na região em apreço, demonstra sua grande flexibilidade ecológica. Tanto em

relação às coletas realizadas em forros e proximidades de residências, como nas

conduzidas sobre coleções d’água em áreas de pastagens ou associadas à formações

florestais, foi notável a maior freqüência com que se amostrou M. ater em comparação a

M. molossus. A abundância local destas espécies parece variar regionalmente. Na

Amazônia ambas as têm sido referidas como freqüentes (Mok & Lacey, 1980; Reis,

1981). Já em áreas de cerrado (Ceará) e caatinga (Pernambuco) no Nordeste do Brasil,

enquanto M. ater esteve aparentemente ausente da primeira mostrando-se rara na

segunda, M. molossus foi espécie comum nos dois ambientes (Willig, 1983).

- Reprodução: Fêmeas grávidas foram capturadas em outubro (9) e novembro (2), e

lactantes em janeiro (5) e maio (1). Estes dados podem indicar que, na região em apreço,

M. ater apresente um padrão reprodutivo do tipo poliéstrico sazonal, tal como referido

para esta espécie por Marques (1986) na região Amazônica. Contudo, caso se verifique

que estes dados estejam refletindo picos únicos e distintos de gravidez e de lactação,

com ausência de gravidez e lactação simultâneas na metade do pico de gravidez, esta

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espécie enquadraria-se no padrão monoestro sazonal caracterizado por Willig (1985).

Embriões de 5 fêmeas coletadas no mesmo abrigo ao final de outubro mediam (em

mm), respectivamente, 17.0, 18.85, 20.1, 20.6 e 20.8, indicando uma certa sincronização

de gravidez também observada por Marques (1986).

Molossus molossus (Pallas, 1766)

- Localidade tipo: França, Martinica (Pequenas Antilhas).

- Distribuição: Sinaloa e Coahuila (México) até o Peru, norte da Argentina, Uruguai,

Brasil e Guianas; Pequenas e Grandes Antilhas, Ilha de Margarita (Venezuela); Curaçao

e Bonaire (Antilhas Holandesas); Trinidad e Tobago (Koopman, 1993).

- Material examinado: 11 exemplares (7 machos e 4 fêmeas).

- Material incorporado à coleção: 3 exemplares (2 machos e 1 fêmea). Machos: ALP

6876 (06-X-94); ALP 6916 (21-X-94). Fêmea: ALP 6873 (06-X-94).

- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para M. molossus

encontram-se na tabela 36. As dimensões verificadas nos machos foram

consideravelmente maiores que as referidas para as fêmeas, o que por certo reflete a

ocorrência de dimorfismo sexual secundário já referido para esta espécie por Myers &

Wetzel (1983) e por Willig (1983).

Utilizando análises multivariadas, Dolan (1989) identificou quatro maiores

agrupamentos dentre as populações de M. molossus por ela estudadas: um incluindo os

morcegos extremamente pequenos da Venezuela; outro com espécimes um pouco

maiores das Pequenas Antilhas; outro referente às populações de indivíduos com

tamanho médio, procedentes da América Central; e um último, caracterizado por

morcegos maiores, que foi associado ao continente sul-americano mas apenas com base

em material do Equador e Peru. De acordo com Myers & Wetzel (1983), populações do

Paraguai e Bolívia também apresentam variação geográfica, sendo espécimes deste

último país em média maiores que os do primeiro. M. molossus pode, ainda, estar sujeita

à variação microgeográfica, como estatisticamente verificado por Willig (1983) em

áreas de caatinga e cerrado no Nordeste do Brasil.

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Tabela 36: Medidas selecionadas de exemplares de Molossus molossus provenientes da região de Jaíba, MG.

Machos(N=2) Fêmea

Caracter Méd. (Mín.-Máx.) (N=1)

An 39,83 (39,15-40,5) 36,9 Ctc 16,90 (16,8-17) 16,1 Ccb 15,78 (15,75-15,8) 14,95 Lz 10,73 (10,65-10,8) 10,65 Cpo 3,80 (3,7-3,9) 3,75 Lcx 9,08 (8,95-9,2) 8,9 Lmt 10,58 (10,3-10,85) 10,15 C-M 6,15 (6,05-6,25) 6,1 Lm 7,65 (7,4-7,9) 7,9 Lc 4,50 (4,45-4,55) 4,1

N = tamanho da amostra.

À exceção dos dados fornecidos por Willig (1983), o conhecimento sobre a

morfometria de M. molossus em território brasileiro restringe-se à escassos relatos

baseados em poucos espécimes obtidos em localidades esparsas (Lima, 1926; Vieira,

1942; Taddei & Reis, 1980; Mares et al., 1989; Patterson, 1992). Uma comparação das

dimensões aqui referidas com as propostas por Willig (1983) não demonstra, em

primeira vista, nenhuma tendência divergente mais clara, devendo-se levar em conta

obviamente, o reduzido material disponível do norte de Minas Gerais e que impede uma

análise mais acurada. Os valores aqui obtidos mostraram-se ainda bem próximos às

médias de medidas reportadas por Myers & Wetzel (1983) para extensa coleção de M.

molossus procedente do Paraguai.

Quanto à pelagem, os exemplares analisados no presente estudo apresentaram

uma coloração distintamente mais clara que a encontrada em espécimes, por exemplo,

do Estado do Rio de Janeiro (figura 31). Esta variação cromática pode estar relacionada

ao clima semi-árido que caracteriza a região de Jaíba. Myers & Wetzel (1983)

constataram que diversas espécies do Chaco paraguaio, incluindo M. molossus,

apresentavam uma cor mais clara que a observada em populações co-específicas

contíguas de áreas adjacentes mais mésicas. De acordo com estes autores tal variação já

era esperada em se tratando de ambientes áridos.

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Figura 31: Espécimes de Molossus molossus procedentes da região de Jaíba, MG (esquerda) e do Estado do Rio de Janeiro. Note a variação na cor da pelagem.

- Hábitos gerais: Dos 1i exemplares amostrados, três foram obtidos sobre pequena

poça de água acumulada pela chuva na estrada que margeia a Reserva Biológica de

Jaíba, três nas proximidades de residências na área do CAM, um em forro de residência

também nesta estação, e três em forro de residência na localidade de Mocambinho

(captura manual). Um último espécime foi capturado manualmente em local incomum:

encontrava-se abrigado em um pequeno barco metálico já a bastante tempo sem uso e

que permanecia guardado em cômodo pouco movimentado da sede do CAM. Neste

local não havia laje e o acesso externo ao cômodo era direto. Aparentemente tratava-se

de indivíduo sadio, e após ter sido triado e marcado com pequenos furos na asa

(procedimento excepcional) foi solto, sendo recapturado em rede oito dias depois nas

imediaçôes do mesmo local. Em dois forros estudados M molossus coabitava com M

ater, fato relatado como freqüente na literatura (Goodwin & Greenhall, 1961; Reis &

Peracchi, 1987).

Quanto ao horário de captura, um espécime foi coletado ao sair do refúgio

15min após o pôr do sol, indicando atividade crepuscular. Outros indivíduos, obtidos

sobre coleção d'água ou nas proximidades de residências, foram capturados na Iª (1), 2'

(I), 3ª (I) e 5ª hora após o pôr do sol (2), sugerindo também atividade noturna. De

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com Marques (1986), o ciclo de atividade de M. molossus é similar ao de M. ater, com

ocorrência de dois picos de atividade: um principal restrito às primeiras horas após o

crepúsculo, seguido por um período de pouca ou nenhuma atividade fora do abrigo, e

outro durante a alvorada. Provavelmente o mesmo padrão deve caracterizar este

molossídeo na área aqui estudada, mas a amostragem foi muito pequena para evidenciar

picos de atividade.

M. molossus é espécie insetívora aérea (Willig, 1983) e tem sido registrada

abrigando-se em ocos de árvores, frestas em rochas, cavernas, túneis, bueiros, pontes, e

residências (Barquez et al., 1993). Os diferentes tipos de hábitats em que foi amostrada

na região de Jaíba, incluindo tanto áreas preservadas (RBJ) quanto ambientes antrópicos

(CAM e Mocambinho), demonstra a grande flexibilidade ecológica que a caracteriza.

Nos comentários apresentados anteriormente sobre os hábitos gerais de M. ater são

feitas algumas considerações sobre a elevada abundância com que esta e M. molossus

podem ser encontradas em meio urbano e os problemas decorrentes da utilização de

forros de residências como abrigo.

- Reprodução: Uma fêmea grávida, com embrião medindo 16,8mm, foi registrada em

outubro. Resultados obtidos por Fabián & Marques (1989) no Ceará, sugerem a

ocorrência de um padrão reprodutivo poliéstrico sazonal em M. molossus, com períodos

de nascimento coincidindo com a época das chuvas. O único dado reprodutivo obtido no

presente estudo também apontou nascimento no período chuvoso.

Nyctinomops laticaudatus (E. Geoffroy, 1805)

- Localidade tipo: Paraguai, Assunção.

- Distribuição: Tamaulipas e Jalisco (México) até o noroeste do Peru, norte da

Argentina, e Brasil; Trinidad; Cuba (Koopman, 1993). Espécie amplamente distribuída

em território brasileiro permanecendo ausente apenas no extremo oeste da região

Amazônica, e na maior parte do Rio Grande do Sul (Silva & Souza, 1980; Koopman,

1982).

- Material examinado: 1 exemplar (macho).

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- Material incorporado à coleção: 1 exemplar (macho). ALP 6825 (05-IV-94).

- Morfometria e comentários: Medidas selecionadas do único exemplar obtido

encontram-se na tabela 37, onde também relaciona-se as dimensões apresentadas por

Willig (1983) para um indivíduo procedente das caatingas de Pernambuco, e médias de

medidas fornecidas por Zortéa & Taddei (1995), Vaccaro (1990) e Silva & Souza

(1980) para material, respectivamente, do Estado de São Paulo, do extremo sul da

Bolívia, e do Rio Grande do Sul. Como mais claramente evidenciado pelas medidas

ântero-posteriores do crânio (Ctc, Ccb e C-M), o espécime de Jaíba parece incluir-se em

um gradiente de variação morfométrica, apresentando dimensões maiores que as do

espécime procedente do Nordeste e menores que as médias mencionadas para as

coleções de áreas mais ao sul da distribuição da espécie.

Tabela 37: Medidas selecionadas de machos de Nyctinomops laticaudatus fornecidas pelo presente estudo para a região de Jaíba, MG, e por Willig (1983) para Pernambuco (PE), além de dimensões médias referentes à material do Estado de São Paulo (SP) (Zortéa & Taddei (1995), Bolívia (Vaccaro, 1990) e Rio Grande do Sul (RS) (Silva & Souza, 1980).

Caracter PE MG SP Bolívia RS

An - 43,8 44,68 45,89 47,51 Ctc 15,7 17,9 18,32 18,23 19,15 Ccb 14,9 16,1 16,89 17,08 - Lz 9,3 10,65 10,33 10,3 11,05 Cpo 3,3 4,15 3,62 3,74 3,95 Lcx 8,0 8,8 8,78 8,78 - Lmt - 10,2 10,05 10,17 - C-M 6,1 6,45 6,65 6,72 - Lm 6,6 7,4 7,34 7,33 7,9 Lc - 4,05 - 4,1 -

Tamanho das amostras: PE - 1; MG - 1; SP - 4; Bolívia - 14; RS - 2 (1N = 1).

Apesar do reduzido número de exemplares que caracteriza as amostragens

citadas, fator que limita uma análise mais consistente, nota-se que as constatações aqui

levantadas acompanham o padrão de variação geográfica do tipo clinal bipolar, proposto

para N. laticaudatus por Silva-Taboada & Koopman (1964). Segundo estes autores,

espécimes situados nos extremos da área de distribuição da espécie têm maiores

dimensões, havendo um decréscimo em direção a região Amazônica onde ocorreria a

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menor forma, Tadarida laticaudata europs (= N. l. europs). Como evidenciado por

Zortéa & Taddei (1995), entretanto, medidas apresentadas por Brosset & Charles-

Dominique (1990) para 2 espécimes procedentes da Guiana Francesa são bem similares

as do material do Estado de São Paulo, não se enquadrando na variação clinal referida

anteriormente.

- Hábitos gerais: O único exemplar obtido foi capturado na 1a hora após o pôr do sol,

em rede armada junto a sede do CAM. Em condições naturais, N. laticaudatus tem sido

freqüentemente registrado abrigando-se em frestas entre rochas (Goodwin & Greenhall,

1961; Silva & Souza, 1980; Vaccaro, 1990), mas na falta deste tipo de refúgio pode se

beneficiar de construções humanas (Brosset & Charles-Dominique, 1990; Jones et al.,

1973). Molossídeos, em geral, caçam os insetos de que se alimentam a grandes altitudes,

razão pela qual torna-se difícil amostra-los com o uso de “mist-nets” (Brosset et al.,

1996). O espécime aqui referido provavelmente abrigava-se no forro da sede do CAM,

devendo ter sido capturado ao sair para o forrageio, como também indicado pelo fato de

ter caído na rede pouco depois do pôr do sol.

Como os demais molossídeos mencionados, N. laticaudatus adapta-se bem às

alterações antrópicas, encontrando abrigo e alimento até mesmo em meio urbano (Bredt

& Uieda, 1996).

- Reprodução: Nenhum dado foi obtido no presente estudo e raras são as citações na

literatura. Em Yucatan, México, fêmeas grávidas foram coletadas em abril e maio,

enquanto uma lactante foi encontrada em agosto (Jones et al., 1973). Fêmeas capturada

em julho na fronteira da Bolívia com a Argentina foram reportadas por Vaccaro (1990)

como inativas.

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5 - DISCUSSÃO GERAL

5.1 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

Face a sua grande vagilidade, morcegos são, em geral, animais com ampla

distribuição geográfica e níveis relativamente baixos de endemismo quando comparados

a outros grupos de mamíferos ou animais terrestres (Marinho-Filho, 1996b). Como era

de se esperar, a maioria das espécies encontradas na região de Jaíba tem ampla área de

ocorrência nos Neotrópicos. Alguns registros, entretanto, são de grande importância

sendo aqui destacados. A mais significativa contribuição do presente estudo refere-se ao

registro para o Sudeste brasileiro de M. sanborni, espécie recentemente descrita e

apenas conhecida de poucas localidades na região Nordeste do Brasil. Considerando-se

os limites propostos Andrade-Lima (1981) para o domínio das caatingas, este

representa, a luz do conhecimento atual, o único quiróptero endêmico ao referido bioma.

De forma similar a M. sanborni, outro importante registro com extensão de

distribuição em cerca de 1000km na direção sul refere-se a T. saurophila, também

assinalada pela primeira vez para o Sudeste brasileiro que passa agora a constituir o

limite meridional das áreas de ocorrência destas espécies. Merecem destaque ainda os

registros de L. mordax e U. magnirostrum, ambas desconhecidas para o Estado de

Minas Gerais e apenas assinaladas para a região Sudeste através de citações isoladas.

A lista de quirópteros aqui apresentada, constando de 26 espécies, adiciona 6

novos morcegos à lista proposta por Willig & Mares (1989) sobre os mamíferos das

caatingas: R. naso, P. kappleri, N. albiventris, M. nigricans e M. planirostris. Não

incluiu-se M. sanborni, T. bidens e T. saurophila porque estas espécies foram revisadas

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e estabelecidas com base no material reportado pelos referidos autores. Já com relação

aos cerrados, nota-se na abrangente lista proposta por Marinho-Filho (1996) as

ausências de M. sanborni, T. saurophila e L. mordax. Comparando a quiropterofauna de

áreas de cerrado edáfico e caatinga no Nordeste do Brasil, Willig (1983) considerou a

ausência de L. mordax no cerrado, a mais obvia diferença entre os biomas no relativo

aos nectarívoros. É possível que a região de Jaíba represente uma área de borda na

distribuição desta espécie, pelo menos a sudoeste de sua área de ocorrência, já que a

sudeste (Estado do Espírito Santo) ela encontra-se seguramente assinalada em trecho de

Mata Atlântica (Pedro & Passos, 1995). Sobre as duas primeiras cabe ressaltar que por

terem sido apenas recentemente descritas (ou redescritas no caso de T. saurophila), é

possível que espécimes representativos de regiões ainda não incluídas em suas

distribuições permaneçam erroneamente identificados em coleções, ou mesmo que

novos registros como o aqui reportado estejam em vias de publicação.

5.2 - MORFOMETRIA

O conhecimento atual sobre a morfometria dos quirópteros brasileiros é

extremamente restrito, sendo quase todos os registros disponíveis limitados a poucos

exemplares e envolvendo localidades esparsas. Dentre algumas notáveis exceções

destacam-se os trabalhos de Taddei (1975a, 1975b, 1979), sobre os filostomídeos do

Norte-Ocidental de São Paulo, e de Willig (1983) sobre os quirópteros de áreas de

caatinga e cerrado edáfico no Nordeste do Brasil. Dentro do esquema zoogeográfico

proposto por Koopman (1982), ambas as regiões incluem-se na província atlântica, que

abrange a maior parte do leste brasileiro. Sob este enfoque, a região de Jaíba, situada ao

norte de Minas Gerais, representa área de grande importância, já que interpõe-se as duas

anteriormente citadas permitindo uma interpretação mais consistente sobre os padrões

de variação geográfica neste eixo norte-sul.

Infelizmente, a coleção de quirópteros aqui reportada visou inicialmente apenas

a identificação do material obtido, sendo a amostragem disponível da grande maioria

das espécies obviamente insuficiente para uma análise acurada sobre as características

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morfométricas das populações em questão. Contudo, através de comparações dos dados

aqui obtidos com os disponíveis na literatura foi possível chegar a algumas constatações

que, de fato, podem refletir padrões de variação geográfica. Das 18 espécies que, de

forma preliminar, evidenciaram variação morfométrica em relação a outras regiões, 8

parecem incluir-se em uma variação clinal com respeito ao leste brasileiro, tendo-se

notado que populações mais ao norte apresentaram menores dimensões. Neste contexto

pode-se destacar N. albiventris e A. planirostris, espécies cujas dimensões médias

obtidas permitiram corroborar padrões de variação geográfica já postulados na literatura

(cf. Taddei et al., 1986; Taddei et al., 1990). As demais espécies aparentemente

envolvidas neste mesmo padrão são: G. soricina, P. lineatus, A. lituratus, D. rotundus,

D. ecaudata e N. laticaudatus. Indícios de uma progressão inversa, com espécimes

decrescendo de tamanho em direção sul, foram obtidos para C. perspicillata e M.

planirostris. Em 4 espécies aqui estudadas (L. mordax, G. soricina, P. lineatus e A.

lituratus) a variação morfológica foi mais evidente nas medidas ântero-posteriores do

crânio (Ctc, Ccb e C-M).

Considerando-se a influência que o ambiente pode exercer sobre as

características fenotípicas de uma população (Reig, 1992), a presença de um clima semi-

árido de transição na região de Jaíba, intermediário ao semi-árido propriamente dito que

associa-se a região Nordeste, e ao semi-úmido que caracteriza a maior parte do Sudeste

(Nimer, 1989), pode contribuir para a existência de uma variação clinal. Myers &

Wetzel (1983) constataram que a maioria das espécies de morcegos encontradas na

porção árida do Chaco paraguaio apresentaram dimensões menores que as observadas

nas mesmas espécies em regiões limítrofes de clima mais mésico.

Não obstante à dificuldade de se compreender os padrões de variação geográfica

na morfologia dos quirópteros neotropicais, face à escassez de dados disponíveis para a

maioria das espécies, encontrar a explicação para tais variações também constitui tarefa

bastante complexa. Em trabalho detalhado sobre a morfometria das espécies do gênero

Carollia, McLellan (1984) considerou algumas hipóteses correntes na literatura para

justificar as tendências de variação latitudinal detectadas. Esta autora mencionou, além

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da regra de Bergman*, que não se adequou ao padrão observado em Carollia, outras

teorias associadas à competição por recursos (áreas com maior diversidade de espécies

favoreceriam formas menores que poderiam ocupar nichos mais especializados) ou à

distribuição das espécies utilizadas como alimento, que em conjunto lhe pareceram mais

prováveis. Tais teorias, entretanto, pressupõem um conhecimento tanto autoecológico

como da estrutura das comunidades de quirópteros, que não encontra-se bem assentado.

Ao conduzirem estudo preliminar sobre a diversidade de mamíferos nas florestas

úmidas neotropicais, Voss & Emmons (1996) enfatizaram a dificuldade de se comparar

confiavelmente distintas regiões, o que foi atribuído, dentre outros aspectos, ao caráter

incompleto e metodologicamente diferenciado dos inventários existentes.

A ocorrência de dimorfismo sexual secundário foi verificada em 6 das 7 espécies

para as quais se realizou o teste comparativo (teste t). Somente A. planirostris não

apresentou diferença significante em nenhum dos caracteres aqui analisados. Em R.

naso G. soricina e C. perspicillata apenas 1 caracter foi significantemente distinto entre

machos e fêmeas, ao passo que em P. macrotis, N. albiventris e M. ater, 5 ou mais

caracteres demonstraram a ocorrência de dimorfismo sexual. Excetuando-se por G.

soricina e A. planirostris os demais resultados obtidos parecem se ajustar às tendências

já relatadas na literatura, algumas delas já bem determinadas com base estatística. No

caso de G. soricina a ocorrência de dimorfismo sexual secundário encontra-se

amplamente documentada (Taddei, 1975b; Willig, 1983; Webster, 1993) e a restrição a

1 caracter, como observado no presente estudo onde a divergência observada pode estar

associada a reduzida amostragem disponível. Já sobre A. planirostris os dados mais

consistentes (Taddei, 1979; Willig, 1983) diferem em relação às características

sexualmente dimórficas (externas ou cranianas), e sem desconsiderar o pequeno número

de exemplares aqui examinados, levanta-se a possibilidade do dimorfismo sexual ser

geograficamente variável nesta espécie, como ocorre em C. perspicillata (Cloutier &

Thomas, 1992).

*Regra segundo a qual espécies de regiões mais frias (mais distantes do equador) tenderiam a apresentar maior tamanho corporal, já que reduzindo a área de superfície relativa do corpo aumentariam a eficiência na retenção de calor.

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5.3 - HÁBITOS GERAIS

A existência de hábitats adequados, que garantam disponibilidade de abrigos e

áreas de forrageio, é um fator essencial para conservação dos quirópteros, e como

poderia-se esperar de um grupo tão diverso, a destruição de tais hábitats afeta de

maneiras distintas as diferentes espécies (Fenton, 1992). Em “Workshop sobre a

Conservação dos Morcegos Brasileiros” (Aguiar & Taddei, 1995), especialistas de

diversas instituições elaboraram uma lista de espécies ameaçadas. Apesar de terem se

baseado essencialmente nos critérios estipulados pela IUCN (União Internacional para a

Conservação da Natureza), os referidos pesquisadores adotaram um critério específico

de avaliação: “plasticidade ambiental”. Este refere-se à capacidade de uma espécie

adaptar-se às alterações e impactos ambientais advindos da degradação ambiental

(poluição, fragmentação de hábitat, extração de madeiras ou outros recursos) ou da

destruição ambiental (grandes projetos de pecuária, agricultura ou reflorestamentos,

desmatamentos em geral, urbanização). Dada sua grande importância, procurou-se

enfatizar este aspecto no decorrer do presente estudo.

Na tabela 38 apresenta-se a lista de espécies encontradas em cada estação

amostrada. Considerando o esforço amostral diferenciado, estes dados não se prestam a

uma análise comparativa de riqueza de espécies entre as estações, mas parece correto

inferir que um maior número de espécies observado no Morro Solto, esteja de fato

associado a este tipo de hábitat. Willig (1983) atribuiu a riqueza de espécies

relativamente alta encontrada nas caatingas de Pernambuco, em parte à ocorrência de

numerosos “serrotes” que fornecem sítios de abrigos e refúgios mésicos durante os

períodos de seca. Como já mencionado no decorrer do texto, o Morro Solto e

certamente outras elevações presentes na região de Jaíba, apresentam afinidades com

estas pequenas serras mencionadas por Willig (1983). Pode-se destacar a presença da

caatinga arbórea (ou caatinga alta como citado pelo referido autor), que cobre a maior

parte do Morro Solto e seus arredores; e no afloramento calcário, a ocorrência de

numerosas cavidades e fendas, bem como de espécies mésicas como Ficus sp. e

Cecropia sp., cujos frutos certamente constituem importante recurso alimentar para os

frugívoros. Seis espécies foram amostradas exclusivamente no afloramento calcário do

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Morro Solto, incluindo-se algumas de valor especial para conservação na região como

M. sanborni e U. magnirostrum.

Tabela 38: Distribuição das espécies por estação amostrada na região de Jaíba, MG. Espécies MS DJ FY RBJ RM CAM FS LA

Rhynchonycteris naso X

Peropteryx macrotis X

Peropteryx kappleri X

Noctilio albiventris X X

Noctilio leporinus X X1

Micronycteris sanborni X

Tonatia bidens X

Tonatia saurophila X

Phyllostomus discolor X X

Phyllostomus hastatus X X X

Lonchophylla mordax X X

Glossophaga soricina X X X X X X

Carollia perspicillata X X X X X X

Sturnira lilium X X X

Uroderma magnirostrum X

Platyrrhinus lineatus X X X

Artibeus lituratus X X

Artibeus planirostris X X X X X

Desmodus rotundus X

Diphylla ecaudata X X

Myotis nigricans X X

Eptesicus furinalis X X

Molossops planirostris X X X

Molossus ater X X X X

Molossus molossus X X X

Nyctinomops laticaudatus X

Total de espécies 13 7 4 7 4 9 10 7

MS- Morro Solto; DJ- Dreno Jaíba; FY- Reserva da Fazenda Yamada; RBJ- Reserva Biológica de Jaíba; RM- Riacho Mocambinho; CAM- Campus Avançado de Monitoramento; FS- Fazenda Solagro; LA- Lote agrícola. (1registro visual).

A grande maioria das espécies registradas, entretanto, apresenta em maior ou

menor grau, alguma capacidade de adaptação frente às alterações ambientais que vem já

a décadas sendo implementadas na região de Jaíba. Das 26 espécies amostradas 19

(73%) estiveram presentes em hábitats já alterados pela ação antrópica, que na tabela 38

correspondem às estações Riacho Mocambinho, CAM, Fazenda Solagro e Lote

Agrícola. Dentre aquelas que apresentam ampla versatilidade quanto à acupação de

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abrigos e/ou utilização de recursos alimentares, G. soricina, C. perspicillata, A.

planirostris e M. ater, destacaram-se pela maior variedade de hábitats em que foram

registradas (50% ou mais das estações). Mesmo algumas que apresentaram distribuição

restrita, como P. macrotis e D. rotundus, exibem considerável capacidade adaptativa,

como já documentado na literatura, principalmente em relação a D. rotundus (Taddei et

al., 1991).

No presente estudo, a utilização de coleções d’água como pontos de amostragem

constituiu artifício essencial para o levantamento das espécies insetívoras aéreas, em

especial das famílias Vespertilionidae e Molossidae. Isto pode ser evidenciado na tabela

38, considerando-se que recursos hídricos estavam presentes nas estações Dreno Jaíba,

Reserva Biológica de Jaíba, Riacho Mocambinho e Fazenda Solagro, justamente aquelas

onde se obteve-se os números mais elevados de espécies insetívoras. Naquelas em que

não se explorou este tipo de atrativo a amostragem foi falseada, com notável exceção

para o CAM, onde a captura em rede dos molossídeos deveu-se à proximidade de

residências utilizadas como abrigo por estes morcegos. Constatou-se ainda uma maior

riqueza de espécies insetívoras aéreas nas locais onde a coleção d’água amostrada

encontrava-se associada a formações florestais (Dreno Jaíba e Reserva Biológica de

Jaíba).

Morcegos insetívoros como M. nigricans e E. furinalis costumam forragear em

clareiras ao nível da copa das árvores (Findley, 1993), e molossídeos ainda acima delas

(Findley, 1993; Brosset et al., 1996), o que torna ineficiente sua amostragem com redes

armadas ao nível do chão. Aproveitar-se do momento em que eles descem para beber

em coleções d’água ou explorar a proximidade de seus abrigos constituem boas

alternativas de captura (Voss & Emmons, 1996), como também evidenciado no presente

estudo. Em trabalho sobre os quirópteros do Chaco Boreal, no Paraguai, Myers &

Wetzel (1983) enfatizaram a alta produtividade obtida em coletas realizadas sobre

bebedouros de gado e em alagados nas beiras de estradas, chegando até a sugerir que

estas coleções d’água, resultantes da ação antrópica, teriam permitido uma recente

invasão de hábitats áridos por algumas espécies de morcegos.

Apesar dos insetívoros R. naso e N. albiventris, e do piscívoro N. leporinus

terem sido capturados exclusivamente no riacho Mocambinho e no bebedouro de gado

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na Fazenda Solagro (situado próximo ao rio São Francisco) sua distribuição na área

aqui estudada deve estender-se além das proximidades dos cursos d'água naturais. Com

suas atividades de forrageio associadas à tais recursos, e apresentando considerável

plasticidade comportamental, estas espécies estão, aparentemente, sendo beneficiadas

pela introdução dos canais de irrigação (figura 32), que acabam por ampliar a

disponibilidade de cursos d'água perenes presentes na região. Evidências disto foram

obtidas em relação a N. leporinus, observada forrageando sobre um canal em gleba não

amostrada no presente estudo e que situava-se a considerável distância dos recursos

hídricos naturais mais significativos, como o riacho Mocambinho e rio São Francisco

com suas lagoas marginais. A. Pol (com. pess.) obteve informações adicionais sobre

este aspecto, tendo encontrado colônias de R. naso e N. leporinus abrigadas em pontes

de concreto sobre canais de irrigação, destacando-se que o referido embalonurídeo

encontrava-se bem afastada dos cursos d'água naturais.

Figura 32: Canal de irrigação na região de Jaíba, MO. (Foto: A. Pol.)

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Uma avaliação preliminar do impacto causado pela substituição da cobertura

vegetal natural da região de Jaíba, pelo agrossistema onde o principal produto cultivado

é a banana (Musa spp.), pode ser conduzida considerando-se os dados obtidos na

amostragem do lote agrícola (tabela 38). Neste, à exceção de D. ecaudata, apenas

espécies de hábitos generalistas e de grande plasticidade comportamental foram

amostradas. Tratando-se de morcego exigente em relação ao uso de abrigos, a presença

do referido hematófago esteve associada estritamente à criação de aves domésticas no

local, já que o sangue de aves constitui seu alimento preferencial (Greenhall et al., 1984;

Uieda, 1994). Quanto as demais, o que nota-se até mesmo é o incremento na abundância

relativa de certas espécies. Como exemplo pode-se citar A. lituratus, quiróptero

aparentemente raro na amostragem realizada no Morro Solto (1 indivíduo) e que

constituiu a espécies mais freqüentemente capturada no lote agrícola (10 indivíduos).

Cabe destacar ainda que o esforço amostral dedicado à primeira estação citada foi bem

superior ao da segunda. Os lotes agrícolas onde além do cultivo de banana

freqüentemente encontra-se árvores frutíferas nativas e introduzidas, representa para as

espécies mais adaptadas fonte de abrigo e alimento que permitem a manutenção de suas

populações.

Situação inversa verifica-se em relação aos morcegos da subfamília

Phyllostominae, que excetuando-se pelos generalistas e ecologicamente flexíveis P.

discolor e P. hastatus, apresentam hábitos predominantemente insetívoros ou

carnívoros, apanhando suas presas em meio à folhagem (Ferrarezzi & Gimenez, 1996).

Segundo Fenton et al. (1992), a quase exclusiva restrição dos Phyllostominae à hábitats

não perturbados pode refletir justamente a disponibilidade de alimento. Ainda de acordo

com estes autores, embora a informação disponível em diversas regiões do mundo

apontem considerável flexibilidade de hábitat para muitas espécies, algumas apresentam

uma especificidade, o que pode também ser o caso dos Phyllostominae. Os dados

obtidos no presente estudo reforçam a utilização dos morcegos dessa subfamília como

indicadores de qualidade de hábitat, como proposto por Fenton et al. (1992). M.

sanborni, T. bidens e T. saurophila foram amostradas exclusivamente em associação a

áreas florestadas (Morro Solto e Reserva Biológica de Jaíba), que são vitais para

manutenção de suas populações.

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137

Os dados obtidos a partir do horário de captura das espécies corroboraram, em

sua grande maioria, tendências já amplamente documentadas na literatura. Em linhas

gerais, espécies insetívoras foram capturadas predominantemente nas duas primeiras

horas após o pôr do sol. Em relação a R. naso e N. albiventris, sobre as quais se investiu

particular esforço de observação, pode-se constatar um similar padrão bimodal de

atividade, com picos ao final do crepúsculo e antes da alvorada. As demais espécies,

frugívoras, nectarívoras, hematófagas, onívoras e ainda uma piscívora, tiveram suas

capturas mais distribuídas ao longo do período de coleta.

Sobre estes resultados pode-se fazer referência a alguns comentários feitos por

Brown (1968). De acordo com este autor, o pico de atividade no início da noite por parte

dos insetívoros é uma resposta adaptativa a um correspondente pico na disponibilidade

de insetos crepusculares e noturnos do quais eles se alimentam. Já espécies não

insetívoras, têm hábitos noturnos aparentemente mais generalizados, e se apresentam

algum pico de atividade, este estaria relacionada a um aspecto específico da biologia de

cada espécie. Como exemplo pode-se citar as evidências aqui obtidas em relação à

atividade dos hematófagos, consistentemente relacionada à influência lunar. Sob a total

escuridão estes morcegos, que exibiram lunarfobia, podem se aproximar de suas presas

sem serem notados, aumentando suas chances de obter sucesso na tomada do alimento.

Morcegos com hábitos nectarívoros, como P. discolor, podem ter sua atividade

influenciada pela produção e concentração do néctar dos vegetais que estão utilizando

como alimento (Ramirez et al., 1984), fator que poderia, pelo menos em parte, justificar

o pico de capturas observado neste filostomídeo no presente estudo.

Apesar de não ter constituído um dos objetivos deste trabalho, algumas

informações sobre os hábitos alimentares das espécies amostradas foram obtidas. O

néctar das flores de Calliandra sp., arbusto freqüentemente observado em áreas de

vegetação alterada como a que caracteriza os arredores do CAM, provavelmente

constitui importante recurso alimentar para G. soricina e P. discolor. Mais

especificamente esta última, da qual elevado número de fêmeas em reprodução

(grávidas e lactantes) foi capturado junto aos arbustos floridos. Dentre alguns subsídios

obtidos em cativeiro, merece destaque a aceitação por parte de M. sanborni, dos insetos

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oferecidos (ortópteros e lepidópteros). Dados bionômicos são praticamente

desconhecidos para esta espécie, que apenas recentemente foi descrita (Simmons, 1996).

5.4 - REPRODUÇÃO

O trabalhos conduzidos por Willig (1985) no Estado de Pernambuco, constituem

uma sólida base de informação sobre as estratégias reprodutivas de alguns quirópteros

das caatingas. Este autor constatou que, à semelhança do observado em outras regiões

mais mésicas, o período de reprodução das espécies está diretamente relacionado à

abundância dos recursos alimentares, que por sua vez correlacionam-se com a

precipitação (na maioria dos casos). Os três padrões verificados por Willig (1985) nos

morcegos das caatingas foram: monoestria sazonal (N. leporinus), poliestria bimodal

sazonal (G. soricina, C. perspicillata, P. lineatus, A. jamaicensis*) e poliestria

assincrônica (D. rotundus). Nas mesmas espécies, que foram também amostradas em

área de cerrado edáfico no Ceará, Willig (1985) constatou estratégias reprodutivas

similares, apesar das diferenças na previsibilidade e na quantidade total de chuvas que

caracteriza os dois biomas.

Na tabela 39 apresenta-se o número de fêmeas grávidas e lactantes registradas

em cada espécie ao longo dos meses de estudo, bem como o total de fêmeas capturadas

em cada um deles. Apesar do dados obtidos não permitirem uma análise mais

consistente sobre o padrão reprodutivo das espécies, já que as amostragens

concentraram-se durante o período chuvoso, algumas inferências podem ser feitas

levando-se também em conta informações disponíveis na literatura (Myers, 1977;

Wilson, 1979; Willig, 1985). Das 26 espécies amostradas, 16 (ca. de 61%) tiveram

atividade reprodutiva (gravidez e lactação) evidenciada no presente estudo, todas elas

durante o período chuvoso. Cabe destacar que os registros associados a maio foram

efetuados na primeira semana deste mês, estando portanto relacionados ao término das

chuvas que na média dos últimos dez anos estendeu-se até abril.

*De acordo com Willig & Mares (1989) morcegos referidos por Willig (1983, 1985) como A. jamaicensis representam, de fato, A. planirostris.

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À exceção de D. rotundus, cuja estratégia reprodutiva é sabidamente acíclica,

todas as demais espécies observadas em atividade devem, de fato, ter sua reprodução

restrita ou parcialmente restrita ao período chuvoso. A presença de fêmeas lactantes de

R. naso, N. albiventris, e C. perspicillata, em outubro e abril (início e final do período

chuvoso, respectivamente), sugere um padrão bimodal sazonal já assinalado para estas

espécies em outras regiões. Quanto a M. ater os dados obtidos abrem precedentes tanto

para a poliestria sazonal, que parece caracterizar as espécies neotropicais deste gênero

(Krutzsch & Crichton, 1985; Marques, 1986; Fabián & Marques, 1989), quanto para a

monoestria sazonal, assumindo-se neste último caso que os dados obtidos (fêmeas

grávidas em out./nov. e lactantes em jan./mai.) estejam refletindo picos únicos e

distintos de gravidez e de lactação.

Tabela 39: Distribuição mensal das fêmeas evidenciadas em atividade reprodutiva (grávidas/lactantes) capturadas na região de Jaíba, MG. Espécies abr mai jun ago out nov jan fev mar

Rhynchonycteris naso -/1 2/5

Noctilio albiventris -/3 -/2

Phyllostomus discolor -/15 1/2

Phyllostomus hastatus -/1

Lonchophylla mordax 1/6

Glossophaga soricina 1/- -/1

Carollia perspicillata -/1 -/1 -/1

Sturnira lilium -/1

Uroderma magnirostrum -/1

Platyrrhinus lineatus -/1

Artibeus planirostris -/1 -/1

Desmodus rotundus 2/1 -/1

Eptesicus furinalis -/1

Molossops planirostris 1/-

Molossus ater -/1 8/- 2/- -/5

Molossus molossus 1/-

Total 4/29 1/3 10/12 3/1 -/5 -/3

Total de fêmeas capturadas 86 8 7 1 38 8 11 4 6

Com relação à maioria das espécies cujos dados de lactação restringiram-se ao

início (ex: S. lilium, A. planirostris e E. furinalis) ou ao final (ex: U. magnirostrum e P.

lineatus) do período chuvoso, pode-se esperar a ocorrência de um padrão poliéstrico

bimodal, já bem documentado em outras regiões. De acordo com Wilson (1979), este

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padrão no qual se inclui a maior parte dos filostomídeos sobre os quais uma ampla base

de dados acha-se disponível, caracteriza-se por uma extensa estação reprodutiva, onde

ocorrem dois picos de nascimento associados ao período chuvoso, e em seguida uma

fase de inatividade que resulta em nenhum filhote sendo criado durante a estação seca,

quando há redução no alimento disponível.

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6 - CONCLUSÕES

• No presente estudo assinala-se para a região de Jaíba a presença de 26

espécies de morcegos dentre as quais incluem-se 2 que ainda não haviam sido

registradas para o Sudeste brasileiro (M. sanborni e T. saurophila) e outras 2 até

então desconhecidas para o Estado de Minas Gerais (L. mordax e U. magnirostrum).

• Comparando-se a lista de espécies aqui fornecida com as já existentes para

os biomas caatinga e cerrado, a mais conspícua diferença parece ser L. mordax,

nectarívoro presente na região de Jaíba e em outras áreas de caatinga e ausente nos

cerrados.

• 18 das 26 espécies amostradas apresentaram evidências de variação

geográfica pelo menos em parte dos caracteres morfológicos analisados.

Considerando-se o leste brasileiro, subsídios sobre a ocorrência de uma tendência

clinal, com espécimes mais ao norte apresentando menores dimensões, foram obtidos

para 8 espécies. Uma variação clinal inversa, com espécimes decrescendo de

tamanho em direção sul, parece caracterizar outras 2 espécies aqui abordadas.

• Dimorfismo sexual secundário em mais de 50% dos caracteres analisados

foi observado em P. macrotis (F > M), N. albiventris e M. ater (M > F). Já em A.

planirostris as médias de machos e fêmeas foram muito próximas entre si,

levantando-se a possibilidade da ocorrência de dimorfismo sexual secundário ser

geograficamente variável nesta espécie.

• A maioria das espécies registradas (73%) demonstrou considerável

capacidade adaptativa sendo encontrada em hábitats já alterados pela ação antrópica.

Em contrapartida, morcegos insetívoros catadores da subfamília Phyllostominae

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tiveram sua presença restrita às áreas em associação a formações florestadas,

corroborando sua importância como indicadores de qualidade de hábitat.

• Áreas de afloramento calcário, como a estudada no Morro Solto, constituem

hábitats de fundamental importância para a manutenção da quiropterofauna. Diversas

espécies podem ter sua presença na região de Jaíba, em direta dependência da

preservação deste tipo de hábitat que fornece condições específicas de abrigo (fendas

e cavidade naturais) e prováveis fontes de alimento não encontradas nos demais

locais aqui estudados.

• A substituição das áreas florestadas pelo agrossistema que caracteriza o

Projeto de Irrigação do Jaíba, leva a um aumento na abundância das espécies mais

adaptadas e/ou generalistas (ex: A. lituratus), ao que tudo indica, em detrimento da

diversidade local.

• O uso de coleções d’água como pontos de amostragem mostrou-se de

grande eficiência para a coleta de espécies insetívoras aéreas, o que parece ser uma

regra em regiões de clima mais seco. Os canais de irrigação, que ampliam a

disponibilidade de cursos d’água perenes na área aqui estudada, parecem estar

contribuindo para a manutenção e até dispersão das espécies que tem seu forrageio

ligado a coleções d’água, como R. naso, N. albiventris e N. leporinus.

• Quanto ao padrão de atividade, morcegos insetívoros foram

predominantemente capturados nas duas primeiras horas após o pôr do sol, enquanto

os não insetívoros tiveram suas capturas mais distribuídas ao longo das coletas. As

espécies hematófagas exibiram evidências de lunarfobia tendo a atividade

influenciada por este fator. Para R. naso e N. albiventris verificou-se a ocorrência de

um padrão bimodal de atividade com picos após o crepúsculo e antes da alvorada.

• Dados reprodutivos foram obtidos para 61% das espécies amostradas. Estes

sugerem um caráter estacional na reprodução da maioria das espécies, com

nascimentos ocorrendo no início e ao final do período chuvoso.

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7 - APÊNDICE

7.1 - CONSERVAÇÃO

Antes de tecer alguns comentários específicos sobre a conservação dos

quirópteros registrados na região de Jaíba, é pertinente abordar a crítica situação em que

se encontra o bioma caatinga, no qual esta área se insere. Em ensaio tratando dos limites

originais da Mata Atlântica no Nordeste do Brasil, Coimbra-Filho & Câmara (1996)

apresentam um resgate histórico das marcantes alterações ambientais pelas quais essa

região vem passando desde o descobrimento do país pelos europeus. Estes autores

defendem, através de argumentos consistentes, que ainda no século XVI o Nordeste

brasileiro era dominado por formações florestais, ocorrendo em sua porção interiorana

um conjunto vasto e contínuo formado pelas matas mesófilas ripárias e orográficas,

além das amplas caatingas arbóreas, que ligavam-se a ecossistemas adjacentes de outras

províncias fitogeográficas. Ainda segundo Coimbra-Filho & Câmara (1996), dessas

formações florestais restam apenas remanescentes secundários muito reduzidos, sendo o

atual esquema fitogeográfico do nordeste fruto sobretudo da ação antrópica exercida

continuamente durante séculos e sempre associada a desmatamentos e queimadas que

ainda hoje se processam. Estes dados corroboram o comentário de Fernandes & Bezerra

(1990) sobre a raridade em que se encontram as caatingas arbóreas atualmente.

Merece destaque também a referência feita por Coimbra-Filho & Câmara (1996)

ao caráter semi-árido de parte do nordeste, não como uma condição natural, mas como

resultado da contínua degradação ambiental já mencionada e que, segundo eles, se não

for revertida tornará realmente árida ou desértica grande parte da região Nordeste, como

já alertava o pioneiro estudo de Vasconcelos-Sobrinho (1982). Constata-se ainda que, à

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margem da precaríssima situação das matas nordestinas, apenas uma área

correspondente a 0,07% da região encontra-se destinada a proteção legal das matas

remanescentes (Coimbra-Filho & Câmara, 1996).

Estas informações evidenciam a situação de fragmentação em que se encontram

formações como a que se faz presente no norte de Minas Gerais. De acordo com Mori &

Boom (1981) as caatingas arbóreas estão em perigo de total eliminação no Estado da

Bahia, e tratos não perturbados podem ter desaparecido por completo. Não obstante, a

proximidade com o domínio dos cerrados, que acha-se representado na região de Jaíba

por sua formação arbórea, o cerradão, concede à área aqui estudada um caráter de

transição, fato que segundo Vanzolini (1986) já poderia, por si só, lhe atribuir elevado

valor teórico e prático, sendo mais um indicativo para sua conservação.

Segundo Fenton (1992), a crescente destruição dos hábitats naturais irá causar,

em um futuro próximo, a extinção de mais morcegos do que qualquer outro agente

isolado. Atualmente, 9 quirópteros encontram-se incluídos dentre as espécies da fauna

brasileira ameaçada de extinção (IBAMA, portaria 062 de 17/06/97). Esta lista foi

elaborada em recente “Workshop sobre a Conservação dos Quirópteros Brasileiros”

(Aguiar & Taddei, 1995) onde algumas sugestões para proteção das espécies foram

também propostas. Dentre estas, uma relaciona-se diretamente à questão já abordada

aqui, e diz respeito à “priorização da criação e estruturação de unidades de conservação

em regiões cársticas, que são áreas de ocorrência de cavidades naturais em rochas,

especialmente as calcárias”.

Os resultados obtidos no presente estudo não deixam margem a dúvidas sobre a

importância da preservação dos afloramentos calcários na região de Jaíba. Contudo,

nota-se que as áreas de conservação instituídas no local não abarcam estas formações. A

Reserva Biológica de Jaíba e a Reserva Legal, com respectivamente 63580 e 75000Km2,

apesar de apresentarem um tamanho razoável em face à reduzida área que caracteriza

em média os parques brasileiros (316Km2) (Redford & Robinson, 1991), não foram

planejadas levando-se em conta a importância deste tipo de hábitat. O que constata-se,

de fato, é a crescente degradação desses afloramentos através, principalmente, da

extração do calcário utilizado na produção de brita para pavimentação de estradas e

outras finalidades (figura 33). É urgente a regulamentação, por parte das autoridades

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por parte das autoridades competentes, de uma estratégia para proteção do relevo

cárstico e tratos florestais a ele associados na região de Jaíba.

Figura 33: Vista do afloramento calcário do Morro Solto, região de Jaíba, MG, onde pode ser evidenciada a exploração do calcário.

Apesar da dificuldade de se caracterizar o status das espécies de morcegos, face

a insuficiente informação disponível (Fenton, 1992), recentes abordagens como a já

citada para o território brasileiro têm surgido na literatura. Medellín (1994) assinalou

para o México a ocorrência de 16 espécies "frágeis", nove "ameaçadas", e três "em

perigo". Considerando a quiropterofauna Neotropical, Wilson (1996) reconheceu 60

espécies (25% do total de 266) como "potencialmente vulneráveis", e três como "em

perigo". Na mais recente lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção fornecida

pela ruCN em 1996, 36 quirópteros sul-americanos foram incluídos (cf Aguiar &

Taddei, 1996). Nesta última lista não observa-se a presença de nenhum dos quirópteros

amostrados na região de Jaíba, mas com relação as duas anteriores pode-se destacar R.

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ambas, Peropteryx spp. e T. bidens, espécies “frágeis” no México, e N. leporinus e L.

mordax, “potencialmente vulneráveis” na região Neotropical.

Como mencionado por Arita et al. (1997), embora espécies não reconheçam

bordas políticas, é também verdade que as decisões concernentes à sua conservação são

tomadas por países ou, da mesma forma, unidades federativas. Sobre este aspecto, o

Estado de Minas Gerais destaca-se no contexto nacional por já apresentar uma lista

própria e oficial da fauna ameaçada de extinção onde estão incluídas 3 espécies de

morcegos (Lins et al., 1997). No mesmo documento é apresentada ainda uma “Lista de

espécies presumivelmente ameaçadas de MG”, na qual mais 6 quirópteros são citados.

Apesar de tanto a nível nacional como em relação a Minas Gerais nenhuma das espécies

amostradas na região de Jaíba ser considerada ameaçada, ou mesmo presumivelmente

ameaçada, o presente estudo traz significante contribuição para uma posterior

reavaliação dessas listas.

Quando foi avaliado o status dos quirópteros brasileiros, M. sanborni ainda não

havia sido descrita, e mesmo considerando a ampliação em sua área de ocorrência

(presente estudo), trata-se de espécie com distribuição restrita, o que aliado a outros

critérios como ocorrência em hábitat que sofre pressão antrópica (bioma caatinga), e

dependência de áreas conservadas, constitui subsídio suficiente para que lhe seja

atribuído valor especial. Com respeito ao Estado de Minas Gerais, não apenas M.

sanborni merece ser destacada no contexto conservacionista. L. mordax e U.

magnirostrum, que até então não haviam sido registradas para o Estado, constituem

formas muito pouco conhecidas e aparentemente sensíveis a alterações ambientais,

devendo ter seu status cuidadosamente avaliado. Outra importante espécie levantada no

presente estudo é T. saurophila. Apesar de sua ampla área de ocorrência, trata-se de

espécie sensível a alterações de hábitat, e que pode ter no norte de Minas Gerais uma

zona de borda em sua distribuição meridional. Como apenas recentemente foi

reconhecida, é possível que mais dados surjam a curto prazo na literatura permitindo

uma avaliação mais acurada de sua situação não só em relação a Minas Gerais como no

Sudeste brasileiro, valendo o mesmo para M. sanborni.

Por fim, enfatiza-se que a despeito da capacidade adaptativa exibida por diversos

quirópteros, fato também evidenciado no presente estudo, é inquestionável o dano

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causado pelos desmatamentos na estrutura das comunidades desses mamíferos. Dados

analisados por Brosset et al. (1996), respectivos a 15 anos de pesquisas na Guiana

Francesa, retratam bem este aspecto. De acordo com estes autores, 48 das 75 espécies

registradas em matas primárias estiveram ausentes em grandes áreas que haviam sido

desmatadas. Esta redução a cerca de 1/3 na riqueza de espécies foi inversa ao efeito

observado no número de indivíduos, que em áreas perturbadas pode até quadruplicar.

Resultados semelhantes foram obtidos por Vaughan & Hill (1996) em estudo

comparativo da diversidade e abundância de morcegos em plantações de banana e áreas

florestadas.

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8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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