Aspectos teológicos da Encíclica "Laudato Sí" do Papa francisco ecologia
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ASPECTOS TEOLÓGIOS DA ENCÍCLICA
“LAUDATO SI” DO PAPA FRANCISCO
Sobre o cuidado da CASA COMUM
Antônio de Assis Ribeiro (Pe. Bira) - SDBFACULDADE SALESIANA DOM BOSCO
MANAUS, 24/11/2015
Aspectos teológicos da Encíclica “Laudato Sí”
Introdução
1. Cinco questões introdutórias2. Fortes ideias teológicas 3. A Sagrada Escritura4. A relação de Jesus com a natureza
5. Conclusão
INTRODUÇÃOA grande repercussão
mundial da encíclica “LaudatoSí” está vinculada a diversos motivos, como por exemplo:
Tema de interesse universal (humanidade), Linguagem clara e direta, Vem ao encontro de um drama sentido, Traz uma visão teológica sobre a
natureza.
I. CINCO QUESTÕES INTRODUTÓRIAS:
1. Falar de teologia não é somente falar sobre Deus... Teologia, mais que discorrer sobre Deus, é falar da nossa experiência de Fé e
como nos sentimos em relação à nossa identidade...
2. Não há na LS uma parte exclusivamente teológica, a sensibilidade teológica perpassa todo o documento ... Seu autor não é um cientista, nem um filósofo, nem um político, mas é um crente, um sacerdote, um bispo, um teólogo e pastor. É o papa!
3. A sensibilidade teológica vai muito além das fronteiras do cristianismo; a perspectiva teológica da LS é “judaico-cristã”. Há outras perspectivas teológicas possíveis: budismo, islamismo, hinduísmo, etc.
5. O conceito de “ecologia” é amplo, não se limita à relação com a natureza (fauna e flora), mas é essencialmente uma relação do ser humano com o seu universo de relações!
4. O texto da reflete e valoriza uma sensibilidade globalizada, ampla, profunda e pluridimensional: dados técnico-científicos, políticos, sociais, éticos, econômicos, culturais, religiosos...
A teologia prospecta e trata a natureza como “criatura divina”:
dignidade ... Deus é Pai também da natureza, então somos irmãos....
2. FORTES IDEIAS TEOLÓGICAS
Deus CRIOU e MANTÉM a natureza com toda a sua biodiversidade...
Deus também CONFIRMOU a
BONDADE DA SUA OBRA:
“E Deus viu que tudo era bom”. (cf. Gn 1,4.10.12.18.21.25).
A criação traz em si uma mensagem para a humanidade;
A natureza é sacramento (sinal) da manifestação de Deus, revelando sua grandeza, beleza, harmonia, bondade, providência, poder, sabedoria, ternura, amor... (Sab 13,5;Rm 1,20).
O “evangelhoda criação”: a natureza nos traz
uma mensagem divina!
A natureza dá gloria a Deus! A natureza é arte divina!
A natureza está no homem e o homem na natureza. O ser humano é natureza e sem ela não vive...
A natureza é Personificada: ela clama, chora, sofre, padece, é violentada, saqueada... pelo próprio irmão, o homem!
A NATUREZA não é tratada como uma “coisa sem vida”, não é uma criatura estática,
passiva, mas VIVA e que está em profunda
RELAÇÃO com o ser humano.
O ser humano, qual irmão dotado de razão, vontade, liberdade, capacidade de amar, deve cuidar, proteger a sua irmã, usufruir com sabedoria da suas riquezas.
A qualidade da relação do homem com a natureza foi determinada por Deus: o homem deve ser seu “senhor e
cuidador”. Por ela é responsável. “Javé Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden, para que o cultivasse e
guardasse” (Gn 2,15).
Essa relação violenta o plano de Deus, fonte e criador da natureza e do ser humano...
Infelizmente a irmã terra «geme e sofre de dores» (Rm 8,22) porque é saqueada,
abusada, violentada, possuída com agressividade, poluída, contaminada...
(LS, Cap. I).
«Um crime contra a natureza é um crime contra nós mesmos... É um pecado contra Deus” (LS,8).
Romper com a harmonia estabelecida por Deus é
pecado! (cf. Gn 3-4).
EM EXEMPLO: São Francisco de
Assis (LS,9-11)
um homem que fez a experiência da contemplação, da harmonia, da ternura, do cuidado, de fraternidade, de austeridade (essencialidade)....
ele vivenciou uma interação harmoniosa com a natureza e desenvolveu uma
grande sensibilidade para com os outros, sobretudo,
pobres e doentes.
Em Francisco temos um convite à “ecologia integral”:
3. A CRIAÇÃO NA SAGRADA ESCRITURA:
A Sagrada Escritura começa apresentando a natureza como criatura divina (cf. Gn 1,31), marcada pela bondade.
... ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26) ... com especial dignidade!
Sua missão primeira foi “cuidar e cultivar o jardim do paraíso” (cf. Gn 2,15).
A terra NÃO É PROPRIEDADE DOS HOMENS:«ao Senhor pertence a terra» (Sl 24,1),
“... a Ele pertence «a terra e tudo o que nela existe»(Dt 10, 14).
Por isso, Deus proíbe toda a pretensão de posse absoluta:
«Nenhuma terra será vendida definitivamente, porque a terra me pertence,
e vós sois apenas estrangeiros e meus
hóspedes» (Lv 25, 23);
A sensibilidade religiosa promoveu LEIS: «Se vires o jumento do teu irmão ou o seu boi
caídos no caminho, não te desvies deles, mas ajuda-os a levantarem-se. (...)
Se encontrares no caminho, em cima de uma árvore ou no chão, um ninho de pássaros com filhotes,
ou ovos cobertos pela mãe, não apanharás a mãe com a ninhada» (Dt 22,4.6).
o DESCANSO DO SÉTIMO DIA não é proposto só para o ser humano, mas também
para boi e o jumento (cf. Ex 23, 12).
A vida do homem está em profunda relação com os animais e plantas...
Onde há violência entre os homens, rompe-se a harmonia com a natureza.
A violência sobre a natureza é reflexão da violência dos homens entre si:
Caim mata Abel, seu irmão, e o solo onde o sangue foi derramado torna-se amaldiçoado e estéril
(cf. Gn 4,11-12); no livro do Êxodo a violência
da escravidão gera graves impactos sobre a natureza (cf. Ex 1-10).
CONCLUSÃO: A Bíblia não dá espaço para a um
antropocentrismo despótico, violento, que se desinteressa das outras criaturas...
Não podemos defender uma espiritualidade que esqueça Deus todo-poderoso e criador
(cf. LS,75).
A Sagrada Escritura nos convida à relações de fraternidade, humildade, responsabilidade, contemplação, cuidado, responsabilidade, misericórdia, ternura, respeito... para com a natureza!
4. A RELAÇÃO DE JESUS CRISTO COM A NATUREZA
Seu comportamento está em sintonia com a Tradição Bíblica... Fala do Criador!
Deus é Pai Providente (cf. Mt 11, 25; Mt 6, 26; Lc 12, 6). Ele admira a beleza da natureza com o seu dinamismo; Jesus em seus discursos falava dos passarinhos, dos peixes, das
ovelhas, raposas, galo, serpentes, cachorrinhos, galinha, porcos, lobo, flores, campos, árvores, semente, fenômenos da natureza (vento, mar)... serve-se de um burrinho (cf. SL, 96).
Contempla a natureza e convida à reflexão... «Levantai os olhos e vede os campos que estão
doirados para a ceifa» (Jo 4, 35). «O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que
um homem tomou e semeou no seu campo. É a menor de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior
planta do horto e transforma-se numa árvore» (Mt 13, 31-32);
4. JESUS E A NATUREZA
Jesus vivia em PLENA HARMONIA com a criação, mas era também senhor dela e por isso o povo se
maravilhava dizendo: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?» (Mt 8, 27).
Na multiplicação dos pães, promoveu a abundância, mas alertou seus discípulos para que nada se perdesse (cf. Lc9,17; Jo 6,13).
Jesus também falou do trabalho, uma atividade humana de profunda relação com a natureza. Ele era conhecido como o filho do carpinteiro e de filho de Maria (cf. Mc 6, 3). Mas também falou com trabalho do seu Pai (cf. Jo5,15-27).
4. JESUS E A NATUREZA
Porém, Jesus critica o consumismo e o acúmulo
egoísta, pois a essência do ser humano não está no
acúmulo de bens... (cf. Lc 9,25;
Lc 16,19-31).
2. Somos chamados à contemplação da
natureza... ela nos traz mensagens
divinas... fala de Deus...
3. A perspectiva fraternal da relação entre
homem e natureza pressupõe uma
profunda sensibilidade religiosa, teológica
(fé).
5. CONCLUSÃO:
1. Há uma profunda relação entre
Fé e Vida. A fé abraça a
totalidade das dimensões da
nossa existência, gera
responsabilidade, ressignifica
nossas relações...
4. A natureza tem valor em si mesma por ser
criatura divina, e não porque serve ao homem.
5. A caridade, a ternura, a misericórdia... não
devem ser vividas só na relação entre as
pessoas, mas também em relação à natureza
(animais).
6. A violência contra a natureza é reflexo da
violência entre os homens (egoísmo, ganância).
5. CONCLUSÃO
5. As dores da natureza falam
também de esperança pois a
criação toda será libertada
de toda maldade e haverá
uma nova terra e um novo
céu! (cf. Gl 8,19; Ap. 21,5).
«Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
especialmente o meu senhor irmão sol,
o qual faz o dia e por ele nos alumia.
Ele é belo e radiante com grande esplendor:
de Ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas,
que no céu formaste claras, preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento,
pelo ar, pela nuvem, pelo sereno e todo o tempo,
com o qual, às tuas criaturas dás o sustento.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água,
que é tão útil e humilde, preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo,
pelo qual iluminas a noite: ele é belo e alegre, vigoroso e
forte”
(Francisco de Assis - 1182- 1226)