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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO SUL PROJETO MEMORIAL DO LEGISLATIVO 51ª LEGISLATURA 2004 MESA DIRETORA Presidente: Dep. Vieira da Cunha (PDT)

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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO

RIO GRANDE DO SUL

PROJETO MEMORIAL DO LEGISLATIVO

51ª LEGISLATURA

2004

MESA DIRETORA

Presidente: Dep. Vieira da Cunha (PDT)

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Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul

Projeto: “MEMÓRIA PARLAMENTAR: História de vida

dos parlamentares gaúchos (1947-1966)”

Depoimento de

ARTUR BACHINI

Entrevistadores:

Ângela Flach Claudira Cardoso

Daniel Roberto Milke

Porto Alegre, 03/02/2005

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APRESENTAÇÃO

Projeto: “Memória Parlamentar: História de vida dos parlamentares gaúchos”

O referido projeto faz parte de um conjunto maior de projetos que visa a concretização

do Memorial do Legislativo. O desenvolvimento do projeto “Memória Parlamentar” está

buscando resgatar as trajetórias político-sociais dos Deputados Estaduais de todas as

agremiações partidárias, eleitos a partir de 1947 para a Assembléia Legislativa do Rio Grande

do Sul. As entrevistas dão ênfase no período de atuação do deputado na legislatura ou

legislaturas para as quais foi eleito, contribuindo para reconstituir a memória institucional da

Assembléia Legislativa do Estado, a qual representa um importante locus da democracia na

sociedade ocidental.

Apoiando-se em metodologia de História Oral, visa contribuir para a ampliação da

memória histórico-política do Rio Grande do Sul, pautando-se na recuperação de aspectos da

história política do Estado, a partir da memória de ex-lideranças que atuaram em agremiações

políticas diversas, como por exemplo PTB, PSD, PL, PDC, PRP, PSP, PCB, MTR, PSB,

UDN e PR1. Objetiva, ainda a criação de um acervo de História Oral no Solar dos Câmara da

Assembléia Legislativa do RS, disponibilizando-o ao público interessado.

O projeto está sendo realizado em parceria entre a Assembléia Legislativa do Rio

Grande do Sul e o Centro de Documentação sobre a AIB e o PRP (Entidade de caráter

apartidário voltada à preservação da memória histórico-cultural). Os responsáveis pela

execução do projeto, desde o levantamento bibliográfico de cada depoente até a realização das

entrevistas, são os historiadores Me. Ângela Flach, Doutoranda Claudira Cardoso e Me.

Daniel Roberto Milke.

1 A ordem colocada não representa critério de importância dos partidos.

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Projeto de Memória Oral da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul,

entrevista com o Senhor Artur Bachini nas dependências da Assembléia Legislativa, no dia 03

de fevereiro de 2005.

Depoimento de Artur Bachini

[início do lado A da fita 1]

- Sr. Bachini, boa tarde. Nós iniciamos a nossa entrevista lhe pedindo que o Sr.

mencione algumas informações pessoais suas, a sua data de nascimento, a cidade onde o Sr.

nasceu, nome dos seus pais, a sua formação, a sua profissão, o contexto da cidade em que o

Sr. nasceu. Essas informações pessoais inicialmente.

- Nasci no dia 18 de maio de 1917, na colônia Santo Antônio, então 5o Distrito do

município de Pelotas. Meus pais são Claudemiro Bachini e Berta Mielke Bachini. Fiz a minha

formação inicial no colégio Afonso Massot e depois estive um ano no Ginásio Gonzaga,

depois passei para o Ginásio Pelotense onde tirei o meu curso. Um das passagens marcantes

no ginásio é que eu consegui ser, no último ano do meu ginásio, presidente do nosso Centro

de Estudantes do Colégio Pelotense. Tenho para dizer que realmente era muito significativo

na época, porque o Colégio Pelotense tinha como rival o Ginásio Gonzaga e nós, além de

tudo, tínhamos uma rivalidade muito grande futebolística, e no ano de 1938, quando me

formei, além de minha presidência e de eu estar me formando, nós fomos campeões ginasiais.

Isso foi para nós o máximo! Então esse foi o meu período de ginásio. Depois eu vim tirar o

pré-jurídico em Porto Alegre, no ano de 1939 e 1940, no Júlio de Castilhos. Concluído o

curso aqui regressei a minha terra, cidade de Pelotas e fiz a faculdade de Direito. Fiz o

vestibular, consegui passar e fiz o meu curso de Direito, tendo me formado no dia 17 de

dezembro de 1945, na Faculdade de Direito de Pelotas. Procurei lá em Pelotas, desde logo...

no primeiro ano tive a felicidade e a sorte de ser convidado pelo então advogado Dr. Tancredo

Amaral Braga para trabalhar no escritório dele. Confesso que inicialmente eu fui só aprender,

mas passei todo o curso trabalhando no escritório dele e posso garantir que se eu não

correspondi tanto ao professor, o Dr. Tancredo, para mim, era o maior advogado da região,

como advogado. Eu sempre dizia que quando eu quisesse um advogado procuraria o Dr.

Tancredo Amaral Braga, mas se eu quisesse um parecerista eu procuraria o Dr. Bruno de

Mendonça Lima, que também foi o meu Diretor da Faculdade de Direito. Eu tenho

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lembranças maravilhosas desse grande amigo, desse grande professor, do grande orientador

que foi o Dr. Tancredo Amaral Braga.

Formado em 1945, como tinha dois filhos o Dr. Tancredo, um já formando-se comigo

que era o saudoso Desembargador Antônio Vilela do Amaral Braga e o outro, mais jovem,

Rui do Amaral Braga, eu não aceitei ficar diretamente no escritório, eu também já fiz o meu

escritório, mas sempre com vínculos muito diretos com o Dr. Tancredo. Todas as minhas

dúvidas ele as esclarecia e me dava verdadeiras aulas, então eu nunca tive dificuldade para

advogar. Assim comecei a advogar, mas como eu sempre gostava das minhas atividades, eu

tinha uma certa liderança não só estudantil, mas também uma liderança pela campanha do

Brigadeiro Eduardo Gomes. E até era muito interessante porque eu era o único udenista da

família, meu pai, Claudemiro Bachini, meu irmão Pedro Bachini Sobrinho, militavam no

PSD, mas cada um respeitava o ponto de vista do outro. E eu me mantive mais ou menos

naquela situação até que a UDN me convidou para eu ser candidato a vereador. Eu disse que

jamais eu iria ser candidato, porque eu não ia entrar em choque com os meus familiares. Mas

por uma dessas coisas da política, em 1947, cada distrito do município de Pelotas convidava

um líder para ser seu candidato a vereador. É dessas coisas que acontecem. No município de

Pelotas, como o meu pai e meu irmão não estavam tão interessados, não foram nenhum dos

dois convidados, o que aconteceu depois. E aí a UDN me cobrou “se você não queria entrar

em choque com seus familiares então nós agora vamos lhe cobrar. Agora é a oportunidade de

você concorrer pela UDN”. E eu disse: “eu tenho só uma coisa a fazer”. Isso praticamente na

véspera do encerramento. À noite eu fiquei sabendo disso, no dia seguinte, na noite eu “bati”

o telefone para o meu pai, que era pequeno comerciante. Mas tinha um detalhe: foi Juiz de

Paz durante trinta e cinco anos e tinha um relacionamento maravilhoso. “Bati” o telefone para

meu pai e disse: “eu preciso tomar uma decisão mas quero ouvi-lo”. E ele tinha uma

propriedade entre a cidade e a casa de comércio que ele tinha lá no interior. Marcamos para as

duas horas da tarde, lá nos encontramos, lá relatei a ele. “Como o Sr. não é candidato, como o

Pedrinho”, como chamávamos meu irmão, “também não é candidato, a UDN quer que eu

seja candidato, numa coligação que ela fez aqui em Pelotas”. E meu pai me perguntou:

“desejas ser candidato?” Eu digo: “se não há obstáculo, se não lhe cria problema, desejo”.

Tudo bem, nos abraçamos, como sempre, tínhamos muito entendimento, e eu voltei para

Pelotas. Às cinco horas terminava o prazo. Às quatro horas eu procurei o presidente da UDN,

Dr. Gomes da Silva. E ele disse: “teu pai vai te auxiliar na campanha?”, “isso eu não falei

com ele, só fui lá saber se ele não se opunha, ele não se opôs”. E me registrei.

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No meio da campanha, um líder do PSD chegou e convidou meu pai para ir a Pelotas

para falar com ele: “olha, estão dizendo aí que o Sr. está trabalhando para a UDN”. Disse

ele: “não, eu estou trabalhando para o meu filho. Agora, se houver qualquer obstáculo eu me

desligo do PSD”, “não, não o Sr. continua no PSD, mas trabalhe para seu filho”. Quero

dizer com muito orgulho que graças a meu pai e com um pouco da ajuda do meu irmão, eu

obtive 1.013 votos, num eleitorado de dezenove mil e poucos. Eu fui eleito o vereador mais

votado de Pelotas sem ter participado da campanha. Isso eu faço questão de ressaltar que eu a

devo ao prestígio e à liderança que tinha o meu falecido pai. Aí vim para a Câmara de

Vereadores, e na Câmara de Vereadores eu tive o prazer, até vamos dizer assim, uma

oportunidade ímpar de ter conhecido o Dr. Joaquim Monteiro da Cunha. Era um professor da

Faculdade de Agronomia, udenista, também eleito vereador, que deveria ser o líder da

bancada. Disse ele: “não, você que é jovem vai ser o líder”. E eu fui o líder da UDN na

Câmara de Vereadores, sou Vereador Constituinte da nossa Lei Orgânica de Pelotas. E lá me

mantive durante três anos, até que então a UDN entendeu que, eu fazia parte da Ala Moça da

UDN, que eu deveria ser candidato a deputado estadual. E me candidatei, tendo como base

Pelotas, São Lourenço e Arroio Grande, eu consegui me eleger deputado pela UDN em fins

de 1949, e tomei posse em 1o de janeiro.

- Eu queria voltar um pouquinho no tempo, queria que o Sr. nos falasse mais como

surgiu sua ligação com a UDN, porque o Sr. optou pela UDN, até porque já tinha em casa

outros familiares ligados ao PSD.

- Muito oportuna a pergunta. Aconteceu o seguinte: como eu tinha, aí eu posso até, já

retroagindo um pouquinho, contar uma história muito interessante. Eu sou natural do interior.

Acontece que quando eu vim estudar em 1930, 31, eu fui o primeiro a sair da zona colonial

para ir estudar em Pelotas, tanto é que esse assunto era comentadíssimo: “O filho do Bachini

está estudando em Pelotas!” Vocês que são jovens não podem imaginar as dificuldades que

nós tínhamos de ir. Para ter uma idéia: certa feita eu saí com meu pai, um tio e um amigo de

Pelotas, em um caminhão, saímos às seis horas da manhã e chegamos ao meio dia na cidade.

Almoçamos, meu pai que era comerciante, descarregou, carregou, saímos às duas horas

chegamos às dez da noite! Essas eram as dificuldades do nosso interior. Então quando eu vim

para a cidade, eu vim para outro ambiente. Tive sempre, mais ou menos, uma certa liderança

estudantil e o Brigadeiro Eduardo Gomes nos empolgava e como nós sempre respeitamos

muito em casa os pontos de vista de cada um, tanto é que estes dias ainda tive a oportunidade

de dizer, eu sou um ecumênico com oitenta e sete anos, há oitenta e sete anos, porque a minha

mãe era evangélica o meu pai era católico, nós fomos batizados na Igreja Católica, seguimos a

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Igreja Católica e a minha continuou sendo evangélica, mas com um detalhe, nós sempre a

acompanhávamos ao culto e ela nos acompanhava à Igreja Católica. Na época, vocês não

podem imaginar, como isso criava certos ambientes, mas nós nunca deixamos... porque

felizmente nossa família sempre foi muito unida e nós sempre nos respeitamos, aquilo que

fosse melhor para um, os outros respeitavam. E então, eu estando na cidade com os

estudantes, e o Brigadeiro com as suas máximas, com as suas frases, então isso nos

empolgava como jovens e meu pai nunca se opôs, meu irmão nunca teve uma restrição, como

eu não tive com eles. Por esta razão, apesar de eles serem do PSD eu me filiei à UDN e fiz

toda a minha campanha como udenista. E quando cheguei na Câmara, tem uma passagem

muito interessante, meu primeiro discurso foi usando uma expressão, “quero romper, abrir a

porteira entre colônia e cidade”, porque naquela havia uma diferença entre quem morava na

cidade e quem morava na colônia.

- Eu gostaria que o Sr. colocasse um pouco a questão da sua atuação na esfera

municipal como vereador, fazer um balanço rápido de como era estar atuando no poder

legislativo lá na esfera municipal e como este poder se relacionava com o Executivo,

rapidamente mencionando essa questão.

- O nosso candidato a prefeito na coligação que nós fizemos para a vereança não foi

vitorioso, foi o Dr. (Efinitti ??), vitorioso foi o Dr. Joaquim Duval.

- Como era o nome do candidato da UDN?

- De quem?

- O seu candidato na ocasião, como era o nome?

- O Dr. (Efinitti??), esse era da nossa coligação e pelo PSD, o Dr. Joaquim Duval que

foi o vitorioso. Mas nós sempre mantivemos muito espírito público e aquilo que fosse de

interesse do município nós sempre demos uma atenção especial e nunca tinha aquela

preocupação de fazer oposição sistemática não, o que era de interesse do município, tanto é

que as inaugurações que havia, o prefeito nos convidava e nós íamos. Agora, na Câmara cada

um defendia a sua orientação, os seus princípios sem problema nenhum. Não havia essa coisa

da oposição sistemática. Eu fui membro da Comissão de Constituição e Justiça, como já disse,

fui vereador constituinte e participei de todos os movimentos que havia na época. Me lembro

que certa feita houve uma greve em Pelotas. Conversando agora isso me veio à mente. Já

naquela época aconteciam essas coisas, e alguns desavisadamente estragaram um ou dois

bondes da época e nós fomos ao Mister, que representava a companhia estrangeira, e

começamos a conversar e dialogar com ele. E lembro que um colega, que era comunista, um

único, mas era comunista, começou a dizer: “não, não, nós vamos continuar nesse negócio e

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vamos insistir e vamos quebrar mais bondes.” E eu me lembro que ele disse com muita

propriedade: “quebrem, porque esse bondes são velhos e o município vai nos dar bondes

novos.” Nunca me esqueci desse detalhe. Então nós tivemos lá, nós éramos dezoito,

dezenove, ele era o único comunista.

- O Sr. lembra o nome dele?

- Lembro, o falecido Antônio Ferreira Martins, particularmente me dava muito bem com

ele, mas ele seguia a sua orientação. E até, antes que você me pergunte, descendo as

escadarias da prefeitura de Pelotas, onde funcionava nossa Câmara na época, numa tarde,

quatro e meia, cinco horas, descíamos os dois e eu disse: “Antônio, viste, hoje tu não fizeste

tuas intervenções e nós estamos saindo mais cedo”, porque via de regra nós saíamos seis e

meia, sete horas. Ele usou uma expressão muito interessante: “Bachini, não adianta, eu não

acredito em vocês eu estou sempre do outro lado.” [risos] Mas ele era uma única voz

destoante, mas com seu idealismo, que nós respeitávamos e não tinha problema nenhum,

sempre me dei muito bem com ele porque entendi sempre que adversário político não é

inimigo, é uma pessoa que tem uma idéia diferente da minha.

- O Sr. mencionava antes que na campanha para vereador o Sr. contou com o apoio do

seu pai, e depois na campanha para deputado estadual, como foi a campanha? Aí a coisa já

deve ter sido um pouco diferente, imagino.

- Não, já foi mais difícil, mas aí é que tem um detalhe. A primeira eleição minha, foi

como lhe disse, em três municípios base: Pelotas, São Lourenço e Arroio Grande. Em Pelotas

meu pai continuou, aqueles votos que eu havia adquirido para a vereança eu os adquiri para

deputado e mais alguns. Em São Lourenço eu devo dar destaque para os líderes, lá era o

presidente do nosso partido Bruno Born, mas quem assumiu, encampou minha campanha foi

o Sr. Nélson Hoffmann, que foi um correligionário de todas as horas, de todos os momentos e

que me mantinha uma votação expressiva, porque é preciso ver, a UDN era muito pequena.

Nós tínhamos sessenta mil votos na época, e eu consegui me eleger quatro vezes pela UDN.

Então lá em São Lourenço o Nélson Hoffmann e em Arroio Grande o meu grande líder lá foi

Edgar Dutra Lisboa. Esse homem era de um idealismo a toda prova, acompanhado do Dr.

Carricondi, e de mais uns correligionários que tínhamos lá. Esse homem era tão dedicado que,

certa feita, numa campanha política, naquele tempo se levava as chapas, esgotaram as chapas

ele mandou fazer as chapas, se faltava chapa para o governo do estado também ele fazia, quer

dizer, havia um entusiasmo e uma liderança muito grande no interior, que se empolgava com

as campanhas. Então nessa campanha eu fiz 2.292 votos. Na segunda eleição, ou seja na

minha primeira reeleição, eu já passei para 4.400 votos, mantendo esses três municípios e aí

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adicionei mais alguns, o que muita gente às vezes não compreende. Eu comecei a pegar um

voto aqui, dois votos ali, três votos ali, então eu poderia dizer que já tive votos em doze

municípios. Na terceira eleição, ou na minha segunda reeleição, eu tive votos em oitenta e

quatro municípios, também um, dois, três ali, mas sempre com a base firme. E na quarta eu

tive votos em cento e cinco municípios, também um, dois, três e sempre mantendo a base.

- Essa sua base que o Sr. comenta são eleitores da zona rural desses municípios em sua

maioria?

- Pois eu lhe diria que em Pelotas sim, porque meu pai era um pequeno comerciante que

residia no interior, então minha base era lá, mas também pelo fato de eu ter sido líder

estudantil eu também fiz alguns votos ou tive alguma projeção nas eleições. E depois da

primeira, para a segunda e assim sucessivamente. Por que? Porque na primeira eleição,

quando foi eleito o Gal. Dornelles, e eu só vou me permitir contar dois fatos. Um é que as

estradas da zona sul, na época, estavam intransitáveis. E em determinado momento, além das

estradas estarem muito ruins, porque não se tinha essa faixa daqui para Pelotas, e depois eu

também poderei contar isso já no segundo período. Então o que acontecia, nós enfrentávamos

estradas muito ruins e o aeroporto de Pelotas estava sendo protelado. Havia uma promessa de

asfaltar o aeroporto e não o faziam. Como eu era, tinha minha base eleitoral em Pelotas, eu

comecei a entrar muito em contato lá com o nosso jornal líder, o Diário Popular. Eu fiz muito

contato com eles lá, essa coisa toda, e eles também me davam cobertura porque também

tinham interesse. E, certa feita, em trinta e nove dias, o aeroporto de Pelotas ficou

praticamente quase trinta dias sem permitir que os aviões de lá decolassem. E aí eu fui a

Pelotas numa dessas vezes e aconteceu um fato muito interessante. Eu consegui que o

fotógrafo do Diário Popular, com concordância do diretor Clair (Rochefort????), fosse

comigo ao aeroporto. E lá então nós constatamos que estava um lamaçal. Eu até tirei umas

fotografias no meio do aeroporto com aquela lama e aquela coisa toda. Vim para a

Assembléia munido daquelas fotografias e fiz um violento discurso, não um só, contra as

estradas que estavam quase intransitáveis e principalmente o aeroporto que não permitia a

decolagem. Era então Secretário das Obras Públicas, o falecido Dr. Leonel de Moura Brizola,

que era meu colega na Assembléia. Nós éramos adversários mas sempre nos tratamos com

muito respeito, porque eu sempre digo: adversário não é inimigo. Quando viu o estardalhaço

que a imprensa fez, baseado em fotografias, resolveu amenizar, dizendo, o que eu respeito,

que no meio de tudo aquilo havia muita demagogia. Até o fato de eu ter tirado retrato no meio

do barro, essa coisa toda, o que eu compreendi. Além disso fez uma coisa que em política é

muito comum: criticou quem havia feito aquela denúncia e não citou o meu nome. Para que

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me projetar? Ele não queria me projetar. Então ficou a seguinte situação: eu que havia feito

uma denúncia e ele como Secretário das Obras Públicas e como deputado que era constituinte,

porque ele tinha começado em 1947, eu comecei em 1951, eu fiquei numa situação um pouco

difícil. E quando ele me contestou, e a imprensa então aí também deu guarida ao que ele tinha

feito. Eu cheguei na Assembléia, confesso, que cheguei entristecido, porque ficou a minha

palavra, de deputado recém eleito, e o Secretário das Obras Públicas, um deputado já antigo.

Mas, Deus é muito justo. Quando abro a minha caixa de correspondência vem da Associação

Comercial de Pelotas, vem um telegrama não só me felicitando mas me dando total apoio

porque eu havia declarado tudo que era verdadeiro lá no aeroporto. Bom, resultado, eles

tiveram de fazer um projeto de lei de vinte milhões e dois mil metros foram asfaltados para o

aeroporto de Pelotas.

- Ainda durante o período em que o Brizola era secretário?

- Sim! Eles tiveram de fazer esse movimento. Isso eu reputo, é uma coisa que eu fiz

muito... E quero dizer que aí nós precisamos sempre muito da imprensa. A imprensa de

Pelotas, falada e escrita, televisada não posso dizer, mas falada e escrita na época, deram

muita cobertura. Esse foi um fato que eu reputo assim dos mais interessantes. E no fim do

ano, em novembro, e aqui vem um detalhe que eu quero contar, nós, apesar de oposição,

estando no governo o PTB, era PTB na época, Dr. João Caruso, ia se comemorar a 1a Festa

Nacional do Trigo. Nós fomos convidados e nós fomos, aceitamos o convite e fomos num

avião para Erechim. Imagine isso em 1952, fim de 52, eu também já fui jovem! Eu ia com

muitas ilusões, porque em determinado momento na Assembléia, naquela época, eu era o

único solteiro. Então levei meu smoking para a Festa Nacional do Trigo e foi assim... Fui em

casa, a senhora minha mãe, que gostava muito dessas coisas, vibrava, arrumou tudo para que

eu fosse passar os três dias de Festa Nacional de Trigo vibrando como jovem, como jovem

deputado. Então eu iria lá. Eis que às vezes as coisas não acontecem como a gente deseja. Ali

na altura do Rio das Antas o avião jogava, era um Douglas, e num desses momentos o Dr.

Egídio Michaelsen, figura expressiva do mundo político, que também não gostava muito de

viajar de avião, vai fazer esse movimento para se recostar, e quando ele faz esse movimento

para se recostar ele sente um corpo estranho no dedo mínimo da mão direita, e pensa que é a

fivela do cinto, para meu azar, e azar dele também porque ele sofreu muito, não, era o gatilho

de um revólver. Detona o revólver e a bala me pega na altura do joelho. Imaginem só, um

avião jogando e todo mundo vai saber o que acontece lá, porque dentro de um avião... E vem

o (Carbone ??) ele era de Caxias, o comandante: “por amor de Deus cada um no seu lugar,

senão o avião não agüenta esse movimento.” Todos sentaram e eu realmente havia levado um

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tiro na perna. Foi aquela coisa. O comandante chegou e disse: “deputado, o Sr. quer dar a

volta?” E eu não sei porque, confiante em Deus, nos anjos da guarda e tudo isso, disse: “Não,

pode ir para Erechim”. Então rumamos para Erechim, só que chegando em Erechim eu não

fiquei ali onde desce todo mundo. Todo mundo notou que foi lá para um lugar especial para

eu descer e daí fui para o hospital. Hospital Santa Terezinha, em Erechim. Na época não

tinha, como vou dizer? Para tirar as fotos, está me faltando o termo agora.

- Raio X?

- Raio X! Mas tive um atendimento da melhor qualidade possível. Lá passei três noites,

sob os cuidados do Dr. Cabrera, que era um vereador do PTB, meu adversário! Mas foi de

uma dedicação fora do comum, assim passei eu três dias em Erechim para depois então

retornar a Porto Alegre e de Porto Alegre ir a Pelotas.

- Como foi a repercussão disso?

- Ah! Agora vou lhe contar. Em primeiro lugar, tenho de ressaltar aqui mas então com o

que há de mais sagrado de mim. Nesta hora me socorreu o falecido Dr. Guido Mondin que era

meu colega na Assembléia. Não era do meu partido era do PRP...

[fim do lado A da fita 1]

[início do lado B da fita 1]

- ... chego a Pelotas vou para a Santa Casa de Pelotas, no segundo ou terceiro dia vai me

visitar um líder também da UDN, Antônio Augusto Crespo, meu companheiro, me perguntou,

você veja como já naquela época as coisas eram caracterizadas: “como é deputado, está fora

de perigo?”, “felizmente fora de perigo”, “então bem feito, não tinha que ter ido naquele

avião do PTB”. [risos] Essas duas passagens desse ano, eu acho assim que caracterizam

muito bem o que foi a minha primeira legislatura. Na segunda legislatura nós tivemos um

trabalho muito grande, e aí eu quero ressaltar, já no governo do Dr. Ildo Meneghetti, foi

diretor do DAER o Dr. Parga Torres. Com o Dr. Parga Torres nós fizemos muitos contatos

com a zona sul, e eu posso dizer que ele foi assim de uma dedicação fora do comum, para

conseguir o asfaltamento de Porto Alegre até Pelotas. E eu que, as primeiras vezes, tinha

vindo aqui em terra de chão batido, posso dizer que o Dr. Parga Torres foi uma figura

exponencial nisso, naturalmente por determinação do Dr. Ildo Meneghetti, que foi um grande

governador naquela época.

Nós tivemos um trabalho muito bom, se trabalhou muito nesse sentido, e o Parga

Torres, já no meu segundo mandato, trabalhou muito nesse sentido, foi um grande trabalho

que ele fez para a zona sul, não só no asfaltamento mas também por uma coisa que muito

pouca gente é capaz que saiba, na questão da ponte sobre o Rio Guaíba. Em determinado

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momento faltavam 100 milhões para a conclusão da ponte sobre o Guaíba. O Dr. Parga

Torres, inteligentemente, vai, naquela época a Câmara dos Deputados era no Rio de Janeiro, e

convida a Comissão de Economia para vir ao Rio Grande do Sul, para que in loco eles vissem

o que era preciso para terminar a ponte. E o que é interessante é o seguinte: eles vieram,

ficaram três dias, com todas as homenagens que mereciam, e foram ver o que estava faltando.

E ao chegar no Rio, o discurso que decidiu os 100 milhões foi de um líder da UDN, lá da

Paraíba, advogando a necessidade de içar os 100 milhões para a conclusão da ponte.

- Qual era esse líder?

- Sei que ele era da Paraíba e da UDN mas agora no momento está me faltando o nome.

Lhe confesso que está me faltando o nome.

- Ainda na sua primeira legislatura, já no finalzinho, tem um episódio que repercutiu de

forma muito intensa que é o suicídio de Getúlio Vargas em agosto de 1954.

- Verdade.

- Eu gostaria que o Sr. comentasse um pouco, na Assembléia como repercutiu esse

fato?

- Não podem imaginar como se transformou Porto Alegre. Eu sei porque eu morava ali

na zona baixa e tomei conhecimento do assunto, e fiquei sabendo que o Diário de Notícias foi

empastelado e uma série de... o jornal libertador também foi, e foi um problema para botar em

ordem. Foi uma repercussão muito grande e aliás, se explica porque no Rio de Janeiro quando

isso aconteceu, todos sabem que, por exemplo, alguns que estavam contra o Dr. Getúlio

porque achavam que certas coisas não estavam certas, ficaram contagiados pelo inesperado e

também ficaram naquele grupo que estava a favor do Dr. Getúlio. Foi uma situação muito

difícil, nós vivemos, eu vivi na Assembléia outras ocasiões, mas essa não, essa pela

consternação, teve muita repercussão a morte dele, ele indiscutivelmente era um líder. Eu

sempre fui oposição, mas sempre o respeitei como um grande líder, e acho que foi um grande

homem, divergi das suas idéias, divergia da sua maneira de fazer política mas sempre o

respeitei. Então Porto Alegre realmente teve um choque muito grande com a morte do Dr.

Getúlio, tanto é que até hoje ainda repercute, não só a Carta Testamento, mas você vê que a

cada 19 de abril há sempre um movimento, e agora estão fazendo, ou vão fazer, não sei se

aqui, parece que em Porto Alegre, um monumento dele, essa coisa toda. Ou já fizeram, não,

fizeram em São Borja e vão fazer aqui do Dr. Leonel Brizola, muito justo.

- Essa confusão toda que rendeu o suicídio do Vargas aqui em Porto Alegre, rendeu

também uma tremenda discussão na Assembléia, e eu lembro de ter lido que os deputados de

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oposição acusavam o governo do Estado de ter se omitido de conter aqueles manifestantes

que depredaram os jornais...

- Eu acho que foi tão inesperado, tão inesperado que eu acho que não dava tempo,

porque você sabe, todo o movimento de massa, esse é o grande perigo das coisas é o

movimento de massa. Quando eu agora estive vendo aí esse acampamento, eu sempre digo

que isso é muito perigoso quando tem muita gente reunida assim, aparece um líder

revolucionário e empolga, realmente eu acho que o governo não foi omisso. O que eu acho

que houve foi o seguinte, o povo ficou consternado pela maneira como as coisas aconteceram.

- Ainda no ano de 54 ocorre a campanha para as eleições estaduais e é formada uma

coligação unindo UDN, PL, PSD, que é a chamada Frente Democrática. O que o Sr. lembra

desse período? Como se deu essa articulação para agrupar esses três partidos políticos?

- Nós felizmente conseguimos saber que isoladamente nós não conseguiríamos nada.

Como o líder inconteste do PSD aqui, que era o Cel. Walter Peracchi Barcelos, não

sintonizava muito com o PSD do centro e do norte, e nós tínhamos muitas semelhanças no

comportamento político. O Partido Libertador também era assim. E nós da UDN, que éramos

oposição, também nos unimos. Então fizemos a Frente Democrática. Houve um grande

movimento e foi quando nós elegemos a primeira vez o Dr. Ildo Meneghetti. E quando você

me fala isso eu sou obrigado a contar um fato que eu não devo omiti-lo porque eu acho muito

interessante. Nós três partidos, PSD, PL e UDN, ganhamos com o Dr. Ildo Meneghetti.

Quando veio a campanha do Cel. Peracchi, contra o Dr. Brizola, que ganhou a eleição com

esmagadora vitória, eu me lembro que na Casa velha, numa janela de cá, nos reunimos os três

partidos e eu advoguei que tudo deveria ser feito para que nós atraíssemos o PRP para nosso

grupo. Lembro-me muito bem que o então líder do PSD, Dr. Hélio Carlomagno, não

comungava da mesma convicção que eu tinha, e vendo que eu advogava com tanta força, com

tanta intensidade, com tanta convicção que deveríamos fazer tudo para atrair o PRP, até teria

dito: “mas Bachini eu já estou na dúvida se tu és udenista ou perrepista”. Eu disse: “não,

meu caro Hélio, é que eu conheço muito o interior e sei que cinqüenta ou sessenta mil votos

do PRP que iriam para lá, se vierem para cá não só diminuem cinqüenta ou sessenta mil lá,

mas acresce aqui, mas acresce muito mais, porque na hora que nós pudermos sair numa

campanha dizendo que nós com a Frente Democrática havíamos ganho e que agora nós

acrescentaríamos esse, aquele eleitorado flutuante, que não gosta de votar no perdedor, ele

gosta de votar no vencedor, virá conosco.” Infelizmente minha tese não vingou e o Dr.

Brizola conseguiu atrair o PRP e nos ganhou a eleição. E tanto eu tinha razão que, decorridos

quatro anos, nós de novo nos reunimos e aí então nós conseguimos compreender que

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precisávamos do PRP. E mais do que o PRP, o PSP, que era o partido do Adhemar. E aí então

fizemos uma coligação, que em última análise, foi de cinco partidos. E lembro que ali no

centro, quando discutíamos este assunto, era preciso assinar o protocolo e se não

assinássemos o protocolo naquele dia nós não iríamos conseguir fazer aquela coligação.

Debate daqui, debate dali, só tinha uma porta de saída. Eu vou lhes confessar uma coisa,

quando os líderes quiseram se retirar eu me levantei, sem que ninguém visse, fechei a porta, e

a porta só se abriu depois que todos assinaram. Porque se não assinasse naquele dia, naquela

noite, melhor, nós não teríamos feito aquela coligação que deu a segunda vitória para o Dr.

Ildo Meneghetti. Tenho bem presente que nisso eu atuei com espírito de união, porque não era

fácil pegar cinco agremiações e reuni-las. E graças a isso nós tivemos o segundo governo

também do Dr. Ildo Meneghetti, que foi um governo profícuo. Um homem muito capaz,

muito bom e que trouxe grandes vantagens para o Rio Grande do Sul.

- Queria perguntar se o Sr. lembra de alguma coisa referente à campanha da

nacionalização do petróleo, ali por 58. O Sr. lembra dessa discussão aqui na Assembléia?

- Eu não só lembro como tem uma passagem interessante sobre essa campanha do

petróleo, “o petróleo é nosso”, “o petróleo é isso”, “o petróleo é aquilo”... Eu sempre achei

que havia muito exagero, confesso que eu acho que certas lideranças aproveitam demais

slogans e conseguem empolgar os menos avisados demasiadamente. Nesse ínterim, a VARIG,

que já havia conseguido a linha para Nova Iorque, graças à Assembléia, porque o Dr. Berta,

Rubem Berta, que foi um grande gaúcho, um grande brasileiro que fez da VARIG essa

potência, que agora está um pouco com dificuldades, desde logo procurou fazer com que nós

deputados começássemos a viajar para ampliarmos nossos horizontes, tanto é que a VARIG

procurou dar oportunidade para todos os deputados. E nós, em boa hora, levando vinte e sete,

vinte e oito deputados, fomos ao Rio de Janeiro e conseguimos ir ao governante que nos

mandou para o Dr. Getúlio, que nos mandou... foi um pouco antes, nos mandou ao Ministro

da Viação, que na época tinha um nome que não tinha nada de mais, Homero [Maluf .?.? ] Ele

estava com dificuldade para dar concessão da VARIG para Nova Iorque, mas naquela idade,

eu era bem mais jovem, e às vezes a gente abusa um pouco da juventude, e quando ele

impunha certas dificuldades, dizendo que a VARIG ainda era muito jovem, eu me lembro que

eu disse a ele, e ele não gostou: “mas Sr. ministro V. Excia. está indo contra o Código Civil,

quando fala que a VARIG é muito jovem, mas a maioridade se atinge com vinte e um anos e

ela tem vinte e três.” Ele não gostou, mas concedeu. E tendo concedido, a VARIG depois nos

proporcionou ir até Nova Iorque. Minha primeira viagem até Nova Iorque foi por intermédio

da VARIG. Foi uma coisa muito curiosa que me aconteceu.

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A VARIG teria convidado o Sr. governador, Dr. Ildo Meneghetti, que não pôde ir,

acompanhado da esposa, declarou que não podia ir. Aí então ele mandou um ou dois

representantes, veio à Assembléia e convidou o Dr. Victor Graeff, que também não pôde ir. E

então a bancada maior era do PTB e o PTB escolheu o falecido Rubem... agora está me

faltando o nome dele...

- Porciúncula?

- Não, não, eu estava com o nome dele, daqui a pouco me lembro. Então como ele tinha

convidado o PTB veio convidar, digamos, a Frente Democrática. E o primeiro partido a ser

convidado foi o PSD, eram quinze deputados. Vai daqui, vai dali, nenhum pode. O último,

que declarou que não podia, foi o falecido Aldo Arioli, de Erechim. Vai para o Partido

Libertador, eram sete e ele convida um por um e o último que diz que não poderia ir era o

nosso grande tribuno, Paulo Brossard, porque a senhora estava esperando nenê e ele não

podia. Na UDN o Dr. Victor Graeff disse que não podia ir, o Dr. Poty também não podia ir,

então disseram: “Você vai ter de ir”, “então se é isso eu vou”. E fui naquela primeira viagem.

E lá chegando vi como se mistificam as coisas: “Os americanos estão interessados no nosso

petróleo, tal e coisa!”. Eu passei lá sete dias e não consegui sentir nada, que estivessem

preocupados com o nosso petróleo. Tudo mistificação! Quer dizer, às vezes criam essas coisas

contra, arrumam um inimigo que não é inimigo! Então na questão do petróleo eu acho que foi

muito interessante o que nós fizemos, mas tudo que entra num exagero, no meu entender, não

sou dono da verdade, eu acho pretensioso.

Eu ainda poderia acrescentar que nas outras legislaturas eu tive, lá com a zona sul, uma

participação, primeiro com o Parga Torres no negócio das estradas, depois com o Dr. Noé

Freitas, nós tivemos um grande trabalho lá, porque a questão da eletricidade na zona sul era

muito ruim, e consegui, com a colaboração da imprensa falada e escrita, com que o Dr. Noé lá

fosse e ao menos na época, mais ou menos (???). Assim as coisas foram até que eu,

participando de várias comissões, isso eu gostaria de dizer, essa sim eu vou enumerar, nas

comissões permanentes: fui membro da Comissão de Serviço Público e Assistência Social,

membro da de Constituição e Justiça nos anos de 53 e 54, membro da Comissão de Finanças e

Orçamento, de 55 a 57, presidente da Comissão de Obras Públicas e fui eleito membro da

Comissão de Redação Final em cinco de cinco. Comissões Parlamentares de Inquérito eu

praticamente participei de todas, e comissões especiais eu praticamente sempre participava,

porque naquela época nós precisávamos nos deslocar para o Rio de Janeiro, como eu era

solteiro na época, sempre estava disponível para ir, porque o Dr. Victor não, o Dr. Alcides

não, o Dr. Poty não, nunca podiam. Então eu é que, mais ou menos, ia. E sempre então

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participei, até que em 61, os primórdios de 64, aqueles movimentos, e eu estive então

participando com a minha UDN, indo aos meus municípios, essa coisa toda, antes da contra-

revolução de 64. Faço questão de destacar: contra-revolução, porque havia uma revolução

preparada, uma revolução sindicalista. As Forças Armadas fizeram uma contra-revolução e

amparada na família, vocês que são muito jovens não sabem. As senhoras saíram para as ruas

e fizeram um movimento em favor da lei, da Constituição e aí que saiu a contra-revolução de

64. Daí eu fiquei mais algum tempo e, indicado pelo meu partido, passei um período de

Diretor do Banco do Rio Grande, isso é que eu poderia... a memória me socorre até aqui.

- O Sr. mencionou sua participação nas comissões...

- Todas elas estão aqui relacionadas!

- Eu lhe pergunto, já que o Sr. mencionou essas aí, a Mesa Diretora ao longo de sua

trajetória enquanto Deputado Estadual o Sr. também chegou a participar da Mesa Diretora?

- Sempre tive a preocupação, porque nesse meu período de catorze anos de Assembléia,

nos quais eu fui nove líder de bancada, eu sempre procurei com que os membros da minha

bancada participassem de Mesa Diretora, disso e daquilo, porque eu entendia que como líder

eu não devia advogar em causa própria. E nunca advoguei. Só passei rapidamente uma vez na

segunda vice-presidência, mas não era o que eu desejava. O que me preocupava era que a

UDN fosse projetada, eu na liderança fazendo os entendimentos políticos, mas nunca eu indo

para um cargo, sempre procurando projetar um correligionário. Estou às ordens para mais

alguma pergunta.

- O Sr. participa na Assembléia, o Sr. esteve na Assembléia durante um período

marcado por momentos muito importantes...

- Muito importantes!

- O Sr. falava agora do movimento de 64 e eu me lembrava de 1960, da renúncia do

Jânio Quadros e depois do Movimento da Legalidade. Gostaria que o Sr. nos contasse como

o Sr. presenciou todos esse fatos.

- Eu posso lhe contar o seguinte. Quando nós, quando houve aquele movimento e nós

não tínhamos comunicação com o resto do Brasil, o governador Brizola conseguiu aqui mais

ou menos, fazer o movimento e nós na Assembléia nos movimentamos. O deputado Getúlio

Marcantônio, deputado Mesquita, um jovem que eu não lembro o nome, e eu conseguimos

uma caminhonete da Secretaria das Obras Públicas, em que era titular o Dr. João Magalhães,

e ele nos proporcionou um motorista com essa caminhonete e gasolina suficiente para nós

chegarmos a Florianópolis. Então saímos daqui e fomos até Florianópolis, para de lá nos

comunicarmos, porque aqui, quando nós saímos, não tinha nenhuma rádio podendo divulgar.

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Felizmente, quando chegamos a Florianópolis, já havia sido debelado o problema, e já as

rádios aqui... Porque a nossa intenção era de Florianópolis comunicar para o Brasil o que

teria, ou estava acontecendo no Rio Grande, porque se dizia muita coisa que não era

verdadeira.

- Isso foi nos primeiros dias?

- Logo que irrompeu a situação, nós fomos para lá. Foi um percurso com muita

dificuldade porque diziam que estavam atacando e essa coisa toda, mas nós chegamos muito

bem a Florianópolis, e também o Alexandre Machado estava nisso.

- E, particularmente, a renúncia do Jânio Quadros, como o Sr. viu isso, porque a UDN

tinha no Jânio o seu representante, vamos dizer assim.

- Realmente nós o apoiamos mas o Jânio era uma pessoa assim que a gente não podia

confiar totalmente, ele era ciclotímico no meu entender, um homem muito inteligente. E eu

acho que, quando ele renunciou, e parece que hoje já se tem isso como verdade, ele não

renunciou para valer, ele pensou que ao renunciar não fosse aceita a renúncia e ele queria

voltar então com maiores poderes para a Presidência da República. Aquilo criou problema,

depois o Dr. João Goulart, que era o vice, estava na China, então foi aquele problema todo.

Até ele chegar aqui e aí o governador Brizola fez o Movimento da Legalidade, que realmente

então conseguiu fazer com que ele assumisse a Presidência da República. Com todos aqueles

entendimentos que fizeram na época, inclusive a instalação de um parlamentarismo que foi

mais uma acomodação.

- E a posição dos diferentes partidos dentro da Assembléia, nesse período, era para que

se consolidasse realmente, para que se efetivasse a posse do Dr. João Goulart?

- Sim, entendíamos, e acho que todo mundo, era consenso isso que o seguinte: se ele

tinha sido eleito ele tinha que ser escolhido. Não tinha outra escolha, eu acho que aquele que é

eleito tem de cumprir o seu mandato senão nós estamos ferindo o princípio básico da

democracia e da eleição livre.

- Eu agora gostaria que o Sr. nos falasse um pouco do que o Sr. lembrar, o Sr. trouxe

as anotações, dos projetos que o Sr. teve oportunidade de propor aqui na Assembléia. O que

o Sr. lembra disso?

- Eu lhe confesso que eu tive sempre muita preocupação, eu acho que o Brasil tem lei

demais, o que precisa é cumprir as leis que existem. Eu não tenho assim, eu não me destaquei

muito apresentando projetos de lei. Eu sempre fui muito atuante na Assembléia, modéstia à

parte, fui muito atuante, porque eu era líder de bancada, e como líder de bancada nunca deixei

de esclarecer e tive uma passagem como líder, num dia 17 de setembro, não lhe posso precisar

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o ano, mas posso lhe contar o fato. Anunciava-se a vinda do Dr. Carlos Lacerda, governador

do Rio de Janeiro, homem do qual a gente podia divergir mas tinha que respeitá-lo pela sua

cultura, pela sua coragem cívica, e eu posso mesmo dizer que o Carlos Lacerda não sei se era

melhor quando escrevia ou quando falava. Ele era exuberante e era maravilhoso. Eu líder de

bancada, houve um determinado momento na Assembléia que só quem o defendia era eu, não

por minhas qualidades, faço questão de dizer que não era isso, mas pela minha posição de

líder, uma vez que o PSD queria o retorno do Dr. Juscelino. O Partido Libertador, que era

outro aliado nosso, havia tido uma indisposição política com o Dr. Lacerda, os outros meus

dois colegas não estavam muito... Então houve um momento que só eu o defendia, tanto é que

umas duas ou três vezes fui ao Rio de Janeiro e pessoalmente conversei com ele e até almocei

na casa do Dr. Carlos Lacerda. Ele vem ao Rio Grande do Sul, para num dia 20 de setembro

nós irmos a Santa Maria, no dia 17 eu peço minha inscrição no Grande Expediente e consigo

tentar fazer, consegui, mas começo o meu discurso anunciando a vinda do Dr. Carlos Lacerda.

Foi uma sessão muito tumultuada, mas tumultuada mesmo, tanto é que, em dado momento,

quando eu debatia com o falecido Wilson Vargas, que era meu adversário mas não era meu

inimigo, e tanto ele não era meu inimigo que quando ele me jogou um copo com água, ele não

jogou para acertar, eu faço questão de destacar isso, ele jogou para o alto para fazer tumulto,

já não digo o mesmo de um deputado do PTB, de Santa Maria, ferroviário, que jogou para me

acertar, mas felizmente não me acertou. Eu fazia meu discurso com a veemência que eu

precisava fazer, em dado momento, quando houve aquele tumulto, a Assembléia fica

interrompida...

[fim do lado B da fita 1]

[início do lado A da fita 2]

- ... e esse é um detalhe que eu faço questão de destacar, se (???) “deputado Bachini já

agora as coisas serenaram deixe esse aparte de seu discurso para amanhã”, “isso ninguém

me peça. Esse discurso tem de ser proferido hoje, hoje que eu vou fazer”, “mas não é

possível o ambiente está muito carregado, está tudo muito...”, “seja o que for eu vou terminá-

lo hoje, amanhã esse discurso não tem valor nenhum, os meus sessenta mil correligionários

do Rio Grande do Sul, que eu não deixei de enfrentar o problema hoje, na hora exata”. Então

me lembro que veio um líder do PTB, eu me dava com todo mundo, não havia animosidade

pessoal, havia divergências, “então nós vamos fazer o seguinte, nós vamos retirar o Dr.

Wilson”, o Wilson não me preocupava, eu sabia que o Wilson não... tanto é que ele estava

armado, ele usava arma, eu nunca usei, eu não sou de usar armas, e não atirou em mim porque

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não quis, o que não aconteceu tempos depois em outra situação com outra pessoa, ele teve um

problema... Bom, quando deu aquele negócio, eu reinicio meu discurso, mas antes de reiniciá-

lo, o Sr. Augusto de Carvalho, que era um líder udenista do tempo de Borges de Medeiros, pai

do Luís de Carvalho que depois foi muito tempo meu diretor na Assembléia, se aproximou de

mim e disse: “Bachini tens revólver?”, digo: “não, não uso”, “queres o meu?”, “não, não”.

Diz ele para mim: “então fica tranqüilo que eu vou ficar nas tuas costas”. Isso é uma

passagem que eu quero ressaltar. Não sei se vocês conhecem a Assembléia velha, eu estava

nesse lado de cá e atrás de mim tinha várias pessoas quando eu fazia meu discurso, porque se

sabia que aquela ia ser uma sessão agitada. Quando eu reiniciei o discurso só ficou atrás de

mim o Augusto de Carvalho, os outros todos desapareceram, e eu não os condeno, eu só

quero ressaltar que o Augusto de Carvalho ficou até o fim ao meu lado. Acho que isso foi uma

passagem da Assembléia que marcou muito porque, como líder, eu não podia deixar de fazer

aquele discurso.

Aí chega o Dr. Lacerda, no dia 20, e nós vamos para Santa Maria. Aí Deus é muito

bom. Na tarde daquele domingo, daquele 20 de setembro, o PTB de Santa Maria fez um

comício e churrasco lá no interior, e como todo bom comício da época era sempre regado com

cerveja ou mais alguma coisa. E quando nós descemos no aeroporto de Santa Maria, e

fizemos o percurso do aeroporto até a cidade, encontramos no decorrer de cada mil, cinco mil,

três mil metros, um corvo, que era o que eles chamavam o Dr. Carlos Lacerda: “o Corvo”.

Choveu muito à noite e não saiu o comício, porque se sai o comício naquela noite haveria

morte. No dia seguinte, segunda-feira, no dia seguinte, parece que era uma segunda-feira, sai

o comício, nós ficamos... eu me lembro, eu tenho uma vaga idéia assim, tem o Banco

Industrial, na época, nós ficamos no Banco Industrial, do lado de cá estava o pessoal do PTB

e do lado de cá o Exército, e se não me falha a memória o comandante era o comandante

Kruel. Começou o discurso o Lacerda era um homem de uma coragem cívica fora do comum

e começou a argumentar, e começou o “zum zum” e tem uma passagem até pitoresca, um

cidadão que era vereador de uma localidade ali perto, me disse: “deputado Bachini, se eles

não nos atacam, porque nós não o atacamos”, eu digo: “mas nós não viemos aqui para

atacar ninguém, nós queremos é cumprir a nossa missão democrática”. E o Lacerda fez um

belíssimo, como sempre fazia, belíssimo discurso. Não houve nada de maior, também o

Exército garantiu e nós terminamos essa situação sem nenhum prejuízo pessoal.

- Isso foi no ano de 1963?

- Olha, o ano eu não lhe posso precisar, eu sei que meu discurso na Assembléia foi a 17

de setembro ele chegou e nós fomos a Santa Maria e aí ficamos na casa de um reformado da

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Brigada, tenente, que nos deu um aparato lá todo especial e nos garantiu a nossa situação

durante o período em que estivemos em Santa Maria.

- Mas já retrata a tensão política de todo esse período dos anos sessenta...

- Muita gente pensa, nós vivemos a política no Rio Grande a tal ponto que em uma das

convenções da UDN, em Salvador ou Recife, um correligionário lá me cobrou porque nós

éramos tão poucos no Rio Grande, nós éramos três deputados, digo: “vá fazer política no Rio

Grande do Sul”. Porque na época o PTB era ardoroso, tinha uma bancada enorme e era muito,

muito preocupado com suas idéias e queria as impor na “voz do mais homem”, isso nunca

deu, eu nunca aceitei.

- O Sr. foi um opositor, digamos assim, bastante forte do governo Brizola, de 58.

- Fui.

- A gente, pesquisando nos Anais da Assembléia, há uma passagem em que o Sr. faz

uma denúncia do desaparecimento de veículos oficiais, o Sr. lembra dessa passagem? Seriam

220 veículos oficiais que teriam sumido durante o governo Brizola.

- Não posso lhe dar detalhes, a minha memória não guardou tudo, mas sempre tive

assim, de fato, não sei se pela minha obrigação de desempenhar a minha liderança pelo

melhor que me fosse possível, mas como eu estive catorze anos e desses nove eu fui líder, eu

nunca deixei de contestar qualquer uma crítica a um correligionário meu, ao Lacerda, ou a

quem quer que fosse, ou ao governo. Porque sempre eu entendi que no momento que eu

integrei a Frente Democrática, depois integrei a outra coligação, eu tinha compromissos

porque eu acho que a gente quando entra numa coligação e é governo, a gente não pode só

ficar com o bônus, você também tem que ficar com o ônus, você tem de arrostar com as

conseqüências de ser oposição ou de ser governo, não pode agradar dois senhores, ou você é

oposição ou você é o governo. Por isso eu achei absurdo o que fizeram agora recentemente

com os deputados que votaram com o governo, mas se eles são deputados do governo,

elegeram o governo, e o governo acha que não tem outra saída, eles tem de enfrentar a

posição. Porque ninguém quer mais impostos, não, mas nós não podemos deixar, se o governo

federal não cumpre aquilo que prometeu, se não nos dá o que é de direito, e a prova está que

agora recentemente o presidente do Tribunal, Stefanello, mostrou a parcialidade do governo

federal com relação ao Rio Grande do Sul. Então eu acho que aí o deputado tem de ficar com

o seu governo.

- No período em que o Sr. foi deputado, o Sr. já mencionou um episódio, as sessões da

Assembléia ainda funcionavam no prédio antigo. Lhe pergunto como o Sr. recorda do

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andamento dos trabalhos naquelas sessões e se o Sr. participou da tramitação para a

instalação do novo prédio, como foi...

- Isso eu participei, participei, e não esperava, tanto é que eu pretendia continuar como

deputado, não era minha intenção sair da Assembléia, mas as injunções partidárias, como saiu

um udenista e um do Partido Democrata Cristão, tinha de ir para lá um udenista e um

democrata-cristão. Foi pelo Partido Democrata Cristão o Dr. José Jacques e pela UDN eu.

- Outra pergunta que eu gostaria de lhe fazer, é se o Sr. lembra das discussões que

ocorreram em torno da campanha para realização do plebiscito lá em janeiro de 1963, que

decidiria pela permanência do parlamentarismo ou pela volta ao presidencialismo, o Sr.

lembra dessas discussões?

- Me lembro, me lembro, em primeiro lugar eu acho que o parlamentarismo que se

instalou não era aquele parlamentarismo (??) do Dr. Raul Pilla, não. Aquilo foi apenas uma

acomodação para acertar com o Dr. João Goulart, que deveria assumir. Depois, não havia um

preparo, porque em princípio eu quero dizer o seguinte, eu acho que o problema não estava só

na forma de governo, porque se também as pessoas não são boas, se os partidos não são

firmes não vai adiantar nada. O que eu acho é o seguinte, que na minha época havia uma coisa

muito interessante, nós tínhamos a fidelidade partidária. A fidelidade partidária é uma coisa

que vocês jovens, que acredito, não a viveram, não podem ter idéia do que significa. Eu me

lembro que, como líder de bancada, por algumas vezes eu fui chamado ao partido e,

principalmente, a convite do falecido e grande político Adel Carvalho, que era da minha

UDN, para que eu desse explicações, para que eu, perante o partido, justificasse a minha

atitude, o meu comportamento em função do assunto debatido. Confesso até que a primeira

vez me surpreendeu, não muito agradavelmente. Mas lembro que na saída, o Adel Carvalho,

que era um homem muito inteligente, muito simpático, na época era mais velho que eu, ele

me bateu no ombro e disse: “deputado, veja a maravilha que é, você antes defendeu uma tese,

um ponto de vista, como líder da bancada, hoje você sai com o partido na mão. Hoje a sua

tese, o seu ponto de vista, é o ponto de vista do partido”. Então a fidelidade partidária, que eu

temo que não venha tão cedo, foi uma coisa muito boa que nós tivemos no nosso mundo

político. E acho que um dos males da nossa democracia brasileira é justamente que nós não

temos fidelidade partidária, me causa tristeza, me causa até revolta que deputados se elejam

por uma legenda e antes mesmo de prestarem seu compromisso eles já mudem de partido, não

dando a menor satisfação para aquele eleitorado que o elegeu.

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- Então, na sua interpretação o período anterior que o Sr. mencionou, nos anos 50, nos

anos 60, eles foram mais produtivos nesse sentido do que o período atual, agora, por essa

questão da fidelidade?

- No meu entender, com o devido respeito a quem possa pensar o contrário, eu diria o

seguinte: a nossa democracia brasileira tem uma falha, mas uma falha imperdoável, num

primeiro lugar porque ninguém se elege sozinho, eu faço questão de dar esse depoimento. Eu

fui eleito quatro vezes, nunca me elegi sozinho, eu me elegi porque a minha legenda partidária

dava direito a três deputados e eu fui um dos três mais votados. Se eu fui votado pelos meus

correligionários eu devo obrigação e atenção a eles, eu não posso me eleger com o esforço

deles e depois servir a outro partido. Eu acho que uma das falhas clamorosas da democracia

brasileira é essa falta de fidelidade partidária, isso é um escárnio, politicamente para mim é

assim.

- Bom, nós estávamos falando de 1963 e então eu entro no período seguinte e lhe

pergunto como foram as reações dentro da Assembléia Legislativa à intervenção dos

militares em 1964?

- Eu posso lhe dizer o seguinte, a minha interpretação é a seguinte. Em 64 os militares

não fizeram uma revolução, eles fizeram uma contra-revolução. Se o Sr. souber e se lembrar

daquele comício de 13 de abril, em que os sargentos se rebelaram, em que a hierarquia estava

sendo desrespeitada, se você se der conta que as famílias saíram para as ruas para pedir ordem

nesse país eu entendo que o movimento militar não foi uma revolução, foi sim uma contra-

revolução. O que eu acho que houve erro, foi que o período deveria ter sido menor. O Gal.

Castelo Branco, que não aceitou a reeleição, ali, dali em diante, tinha que se ter começado a

fazer de novo a democracia brasileira. Eu acho que o erro das Forças Armadas foi que eles

não tiveram força suficiente, ou outra qualquer razão que eu ignoro, de não deixar o período

se prolongar por muito tempo, porque na verdade houve restrições da liberdade e eu sou

sempre contra restrição de liberdade, menor ou maior, porque em verdade para cada período

em que você tem falta de liberdade, o país atrasa, no mínimo, para cada ano, dez anos de vida

política.

- E nesse primeiro momento como é que ficou o ambiente dentro da Assembléia?

- Eu quero lhe dizer que aconteceu uma coisa interessante, eu, por exemplo, não cassei

nenhum colega meu, porque já não mais estava na Assembléia, eu já estava no banco. E não

condeno ninguém porque a situação daquela época, é que as coisas eram assim. Nós

estávamos também com uma Assembléia que não tinha a força e a vitalidade que precisa ter.

Os deputados, eu não os condeno, eu não fui deputado nenhum tempo com o período militar.

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Todo o período militar eu estava no banco e do banco eu fui para o Tribunal de Contas,

Procurador, onde permaneci por quase vinte anos. Então não lhe posso dar detalhes porque lá

não estava.

- Uma das conseqüências do pós-64 foi o fechamento dos partidos políticos, o Sr. ainda

era filiado à UDN até o fim dos partidos, em 65?

- Eu vou só lhe dar uma resposta dizendo o seguinte: eu sou udenista até hoje,

politicamente eu sou um saudosista viúvo, porque mataram minha UDN. A UDN era assim

para nós, udenistas, era mesmo quase uma religião. Não vou dizer que éramos perfeitos mas

nós tínhamos expressões assim, Bilac Pinto, Carlos Lacerda, expressões assim notáveis,

homens que eram idealistas, não vou dizer que nós éramos perfeitos, mas nós tínhamos uma

plêiade de líderes de fazer com que a juventude se empolgasse e havia muito idealismo.

Quando eu digo isso eu não digo só na nossa UDN, eu acho que os partidos com fidelidade

partidária eram muito mais coesos, eram muito mais unidos, não eram tão partidos como

ficaram depois, partido no sentido de quebrados, de esfacelados. Porque veja, hoje eu ainda

estou vendo na notícia um cidadão que foi líder da UDN por vários anos, hoje está com a

maior desfaçatez dizendo que foi para o PMDB, porque no PMDB ele tem chance de ser

candidato a governador de Pernambuco. Quer dizer, onde está o idealismo desse cidadão? Isso

eu não me conformo. Se estou antiquado, me desculpem mas eu penso assim.

- O Sr. chegou a entrar para a ARENA depois do fim da UDN?

- Eu concorri depois pela ARENA, da seguinte maneira, houve um determinado

momento que o partido do governador Synval Guazzelli me chamou ao Palácio e me pediu

que eu concorresse a deputado federal, em 1974, e eu o fiz. E aí aconteceu uma coisa da

seguinte maneira: todos diziam que a ARENA ia ganhar a eleição, porque a ARENA tinha

doze deputados e o MDB tinha dez, que nós iríamos fazer oito deputados. Como eu fiquei na

quinta suplência, eu fiz dezenove mil e tantos votos. O que é curioso é o seguinte, eu deixei

minha última eleição em 1962, e eu vim, a pedido do governador Guazzelli, porque não tinha

um representante da UDN, eu concorri em 1974. Vocês jovens não podem imaginar o que isso

representa. Já vou lhes dar um panorama rápido. Eu perdi doze gerações de eleitores, de 1962

a 1974, e entram novas, doze a mais, porque nesse período foram morrendo correligionários e

foram aparecendo jovens que não me conheciam como político porque eu tive doze anos

separado, mas dei minha contribuição, fiz dezenove, quase vinte mil votos, só não me elegi

porque a ARENA, que pretendia fazer vinte deputados, ao contrário, perdeu dois, e o MDB

não só ganhou os oito como ganhou mais.

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- E dentro da ARENA, no início ao menos, ainda era possível notar a presença dos

antigos partidos, porque, creio eu, tenha sido bastante difícil organizar a ARENA juntando-se

uma porção de partidos que tinham lá suas diferenças...

- Eu acho que houve um erro, não se pode, de uma hora para outra, fechar as comportas,

quer dizer, só um partido, de centro, e um partido de esquerda, como acho que está errado

hoje, que tem partidos que eu pergunto onde eles se diferenciam. Se diferenciam na sigla e

não vejo hoje se fazer nenhuma campanha em termos dos princípios, dos estatutos, das idéias,

é tudo, mais ou menos, na base de um personalismo. Na nossa época não era bem assim, nós

já tínhamos a preocupação de mostrar as teses que nós defendíamos, em torno delas nós então

fazíamos as nossas campanhas. Eu acho que foi um erro, de uma hora para outra, comprimir

demais. Esse foi um erro. Tanto assim que eu concorri pela ARENA, mas eu continuo

udenista. Eu sempre digo, eu continuo um udenista. E acho que, se amanhã ou depois,

surgisse um partido, nenhum outro agora, agora não porque já está fora de cogitação, mas foi

um erro do governo revolucionário ter terminado com os partidos, ao menos todos, devia ter

deixado, no mínimo, uns cinco ou seis.

- Sr. Bachini, quando o Sr. deixa a direção do Banrisul o Sr. ocupa ainda algum cargo

público, nos anos 60, quando o Sr. já deixa a Assembléia, ocupa a direção do Banrisul, até

quando...

- 1965 a 1967, estive dois anos e três meses.

- Aí, depois disso?

- Depois disso fui nomeado Adjunto Procurador do Tribunal de Contas, onde me

mantive por quase vinte anos, dezenove anos e pouco. Lá então terminei me aposentando, a

pedido, mas próximo dos setenta anos.

- Eu lhe perguntaria, o Sr. foi vereador lá no início da sua carreira e depois várias

vezes deputado...

- Quatro vezes, só não completei o quarto mandato.

- Isso, exato. Então eu lhe perguntaria, ou lhe pediria para fazer um paralelo, ou a

diferença principal, entre o parlamento municipal e o parlamento estadual.

- Já começa que a área de competência é bem menor. Nós tínhamos só o nosso

município de Pelotas e, quando eu vim para cá em 1951, o Rio Grande do Sul tinha 92

municípios, e hoje, segundo se diz, tem 496. Então veja como houve mudança de política e de

comando executivo, 496. Há uma diferença da seguinte maneira, o vereador, como o prefeito,

fazem um “corpo a corpo” com o eleitor. Há uma proximidade enorme, e isso então eu acho

que dá mais autenticidade para o representante, mas, em compensação, ele é mais assediado e

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é mais cobrado. Agora, eu acho que a vereança tem muita significação, só me parece que ela

deveria ser um pouco diferente na distribuição, eu acho que às vezes, Câmaras de Vereadores,

se reúnem uma vez por mês, não tem por que tantos vereadores. Eu acho que devia ser da

maneira seguinte, acho que três seria pouco, mas deveria ser 5, 7, 9, 11, 13 e assim

sucessivamente. Por quê? Porque na verdade o vereador, eu que faço o contato com o eleitor,

já o deputado faz mais esporadicamente, faz mais nas campanhas políticas, porque aquele

eleitor lá do interior não pode vir a todo momento aqui na Assembléia para conversar com o

deputado. Mas com o vereador ele pode, ele está sempre ali, está cobrando, está examinando e

vendo se está tudo certo ou errado. Agora é uma experiência muito boa, acho que nesse ponto

eu ganhei muito tendo sido vereador em Pelotas.

- Eu lembrei, o Sr. chegou a ser sub-prefeito também em Pelotas?

- Sub-prefeito.

- Essa já tinha passado mas eu lembrei agora, então só para...

- Eu fui sub-prefeito e fui sub-prefeito naquele período em que esteve um

desembargador na governança do estado, e foi prefeito Sérgio Abreu e aí eu fui sub-prefeito.

A primeira eleição do nosso candidato à Presidência da República, Brigadeiro Eduardo

Gomes, eu era sub-prefeito na minha terra natal, e comandei todo o trabalho de lá e nunca

ninguém viu uma expressão minha, a favor deste ou contra aquele, porque eu entendia que

com a autoridade de sub-prefeito eu tinha a obrigação de manter a ordem e realmente a ordem

foi muito boa e não houve nenhum problema.

- Sr. Bachini, de nossa parte nossos questionamentos são esses e eu gostaria de saber

se o Sr. gostaria de colocar mais alguma questão e se não eu lhe pediria, para nós

concluirmos, que o Sr. definisse qual a sua contribuição, qual sua participação na vida

política aqui do Rio Grande do Sul?

- Bom, eu sou muito agradecido pelo convite, espero também que me desculpem

algumas omissões, e também já são decorridos, que eu saí da Assembléia, quarenta anos.

Apesar de eu julgar que tenho uma memória relativamente boa é bem provável que eu tenha

me esquecido de coisas interessantes. Eu acho que desde o momento em que eu comecei a me

movimentar eu tive quase que a necessidade de ser líder, porque, como eu fui o primeiro

cidadão da zona colonial do município de Pelotas, que se deslocou para a cidade com aquelas

dificuldades da época, porque hoje lá na minha terra tem três ou quatro ônibus que levam

estudantes para Pelotas, e eu tinha de fazer aquele trajeto, como vocês viram, de mais ou

menos seis, oito horas, o que dificultava muito. Como eu fui o único representante de lá a me

formar depois, em Direito, eu mais ou menos fiquei assim com uma liderança obrigatória,

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porque eu era o único. Não é falsa modéstia não, eu acho o seguinte, que eu era obrigado a

fazer a liderança. Por injunções fui vereador, advoguei dez anos, tive sempre o amparo desse

grande amigo que foi o Dr. Tancredo do Amaral Braga. Vim para cá, e por dois anos quis

manter meu escritório de advocacia em Pelotas quando o Sr. meu pai me disse, com sua

experiência, “tu não vais resistir, vais ter de te definir, ou fica com a Assembléia ou fica com

a banca”, e eu optei pela Assembléia. Acho que nesse período eu sempre estive muito atento

a todos os problemas do Rio Grande do Sul, mas dei uma atenção especial durante meus

catorze anos, à zona sul, não só a Pelotas, mas a toda a zona sul. Preocupação que eu sempre

tive, porque acho que nós da zona sul, pela nossa condição, de estarmos na parte meridional

temos sido esquecidos, e como nossas economias são diferentes da zona norte, nós tivemos

grandes extensões territoriais, as fazendas e essas coisas todas... Vejam que os municípios

novos são todos aqui de cima, não são da zona sul, nós da zona sul temos muito pouco. Então

eu acho que dentro de minhas possibilidades eu devo ter desempenhado um papel o melhor

que eu pude. Acho que levei muita coisa que faltava para a minha terra, acho que defendi

sempre a boa causa da zona sul e espero que a zona sul agora, com esse estaleiro de Rio

Grande, com esse problema do plantio que estão fazendo agora, da Votorantim e outras, de

árvores, nós tenhamos também uma indústria moveleira lá, porque nós estamos muito

necessitados disso. Tenho a consciência tranqüila de que fiz o que me foi possível, se não fiz

tudo o que desejava é porque as minhas forças, a minha capacidade não permitiu. Estou

sempre às ordens dos jovens para qualquer questão. Muito Obrigado.

- Obrigado.