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Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 29, n. 2, p. 237-246, 2011 1 Recebido para publicação em 5.2.2011 e na forma revisada em 6.5.2011. 2 Professor Associado, Dep. de Biologia Geral, Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, 84030-900 Ponta Grossa-PR, <[email protected]>; 3 Professor Livre Docente, Dep. de Produção Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – FCA-UNESP, Caixa Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP, <[email protected]>. LEVANTAMENTO DE PLANTAS DANINHAS AQUÁTICAS NO RESERVATÓRIO DE ALAGADOS, PONTA GROSSA-PR 1 Assessment of Aquatic Plants from Alagados Dam, Ponta Grossa-PR ROCHA, D.C. 2 e MARTINS, D. 3 RESUMO - O monitoramento de macrófitas da represa Alagados – um reservatório artificial de água que abastece parcialmente a população do município de Ponta Grossa-PR – se faz necessário, uma vez que resíduos urbanos, bem como dejetos de áreas rurais, são descartados direta ou indiretamente nesse ambiente. Os objetivos deste trabalho foram realizar o inventário de plantas aquáticas coletadas entre agosto de 2007 e julho de 2008 no entorno do lago, como medida de monitoramento da área; indicar a frequência das espécies e apresentar um diagnóstico sobre o crescimento populacional destas; e identificar áreas onde a colonização por macrófitas é intensa, podendo tornar-se problema ambiental. Para realizar esse inventário, foram efetuadas 10 coletas em 48 pontos de amostragem ao longo das margens do lago da represa. Exsicatas foram depositadas no Herbário da Universidade Estadual de Ponta Grossa (HUPG). Foram amostradas 54 espécies, distribuídas em 16 famílias de angiospermas, 8 monocotiledôneas e 8 dicotiledôneas, e outras duas famílias de pteridófitas. Palavras-chave: macrófitas, planta anfíbia, planta emergente, planta aquática flutuante. ABSTRACT - A check-list of the macrophytes in the Alagados artificial dam, which supplies part of the population of Ponta Grossa-PR, is necessary, since urban and rural waste is dropped directly or indirectly into this environment. The objectives of this work were to make an inventory of the aquatic plants collected between August 2007 and July 2008 in the lake surroundings to monitor the area; to indicate species frequency, to present a diagnosis on species population growth; and to identify areas where colonization by macrophytes is intense and could become an environmental problem. To carry out this inventory, 10 collections were conducted in 48 sampling points along the margins of the dam’s lake. Exsiccates were deposited in the Herbarium of the Universidade Estadual de Ponta Grossa (HUPG). A total of 54 species were sampled, distributed in 16 families of flowering plants, 8 monocotyledons and 8 dycotyledons, and two other families of ferns. Keywords: macrophytes, amphibium plant, emergent plant, floating aquatic plant. INTRODUÇÃO A presença de plantas em ambientes aquá- ticos continentais é fundamental para o equilí- brio tanto de ecossistemas naturais, como lagos, rios e riachos, quanto dos artificiais, como reservatórios de hidrelétricas, represas e açudes para abastecimento de água. Entre- tanto, tem sido cada vez mais necessário o monitoramento das espécies que ocorrem nesses ambientes, uma vez que estes sofrem constantes pressões antrópicas e se alteram. A represa em estudo está localizada no segundo planalto paranaense, a 20 km do mu- nicípio de Ponta Grossa, numa região denomi- nada Campos Gerais, cuja formação geológica, clima, temperatura, altitude, relevo, vegetação e fauna têm merecido estudos mais aprofun- dados nos últimos anos (Melo et al., 2007).

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1 Recebido para publicação em 5.2.2011 e na forma revisada em 6.5.2011.2 Professor Associado, Dep. de Biologia Geral, Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, 84030-900 Ponta Grossa-PR,<[email protected]>; 3 Professor Livre Docente, Dep. de Produção Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, UniversidadeEstadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – FCA-UNESP, Caixa Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP, <[email protected]>.

LEVANTAMENTO DE PLANTAS DANINHAS AQUÁTICAS NO RESERVATÓRIO

DE ALAGADOS, PONTA GROSSA-PR1

Assessment of Aquatic Plants from Alagados Dam, Ponta Grossa-PR

ROCHA, D.C.2 e MARTINS, D.3

RESUMO - O monitoramento de macrófitas da represa Alagados – um reservatório artificialde água que abastece parcialmente a população do município de Ponta Grossa-PR – se faznecessário, uma vez que resíduos urbanos, bem como dejetos de áreas rurais, são descartadosdireta ou indiretamente nesse ambiente. Os objetivos deste trabalho foram realizar oinventário de plantas aquáticas coletadas entre agosto de 2007 e julho de 2008 no entorno dolago, como medida de monitoramento da área; indicar a frequência das espécies e apresentar umdiagnóstico sobre o crescimento populacional destas; e identificar áreas onde a colonizaçãopor macrófitas é intensa, podendo tornar-se problema ambiental. Para realizar esse inventário,foram efetuadas 10 coletas em 48 pontos de amostragem ao longo das margens do lago darepresa. Exsicatas foram depositadas no Herbário da Universidade Estadual de Ponta Grossa(HUPG). Foram amostradas 54 espécies, distribuídas em 16 famílias de angiospermas, 8monocotiledôneas e 8 dicotiledôneas, e outras duas famílias de pteridófitas.

Palavras-chave: macrófitas, planta anfíbia, planta emergente, planta aquática flutuante.

ABSTRACT - A check-list of the macrophytes in the Alagados artificial dam, which supplies part ofthe population of Ponta Grossa-PR, is necessary, since urban and rural waste is dropped directly orindirectly into this environment. The objectives of this work were to make an inventory of the aquaticplants collected between August 2007 and July 2008 in the lake surroundings to monitor the area;to indicate species frequency, to present a diagnosis on species population growth; and to identifyareas where colonization by macrophytes is intense and could become an environmental problem. Tocarry out this inventory, 10 collections were conducted in 48 sampling points along the margins ofthe dam’s lake. Exsiccates were deposited in the Herbarium of the Universidade Estadual de PontaGrossa (HUPG). A total of 54 species were sampled, distributed in 16 families of flowering plants,8 monocotyledons and 8 dycotyledons, and two other families of ferns.

Keywords: macrophytes, amphibium plant, emergent plant, floating aquatic plant.

INTRODUÇÃO

A presença de plantas em ambientes aquá-ticos continentais é fundamental para o equilí-brio tanto de ecossistemas naturais, comolagos, rios e riachos, quanto dos artificiais,como reservatórios de hidrelétricas, represase açudes para abastecimento de água. Entre-tanto, tem sido cada vez mais necessário omonitoramento das espécies que ocorrem

nesses ambientes, uma vez que estes sofremconstantes pressões antrópicas e se alteram.

A represa em estudo está localizada nosegundo planalto paranaense, a 20 km do mu-nicípio de Ponta Grossa, numa região denomi-nada Campos Gerais, cuja formação geológica,clima, temperatura, altitude, relevo, vegetaçãoe fauna têm merecido estudos mais aprofun-dados nos últimos anos (Melo et al., 2007).

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A proliferação desequilibrada de deter-minadas plantas aquáticas em reservató-rios de hidrelétricas causa graves prejuízosambientais e econômicos para a sociedade,entre os quais problemas como competição esubstituição de espécies nativas, geração deenergia, navegação, pesca, prática de esportesnáuticos, proliferação de insetos e doenças(Carvalho et al., 2003; Martins et al., 2008,2009, 2011).

Segundo Scremim-Dias (2000), as dife-rentes formas de vida das plantas aquáticasrefletem a zonação ecológica das espécies, queapresentam respostas adaptativas às altera-ções do nível da água em função da sua capaci-dade de resistir à submersão ou ao desseca-mento. Seis diferentes formas de vida forampropostas por Irgang et al. (1984), conforme onível de inundação que suportam: flutuantesfixas (FF), flutuantes livres (FL), submersasfixas (SF), submersas livres (SL), anfíbias (AF)e epífitas (EP).

O monitoramento de macrófitas no reser-vatório de abastecimento de água ou de usinashidroelétricas tem sido uma preocupação naúltima década. Na represa Alagados isso sefaz necessário, uma vez que resíduos urbanosindustriais e residenciais, bem como dejetosde áreas rurais, são descartados direta ou indi-retamente nesse ambiente. Essas interferên-cias antrópicas sem planejamento e controlefavorecem a eutrofização do lago e o desequi-líbrio do ambiente, provocando o desenvolvi-mento populacional de determinadas espéciesem detrimento de outras, como observado porDomingos (2011). O monitoramento pode darsuporte para medidas de prevenção do aumentodo volume de plantas no reservatório, que com-promete a qualidade ambiental e a qualidadede serviços prestados a comunidade.

O objetivo deste trabalho foi realizar oinventário de plantas aquáticas ocorrentesna represa Alagados, em Ponta Grossa-PR,como medida de monitoramento da área, bemcomo indicar as principais espécies e sua fre-quência e realizar um diagnóstico sobre oavanço populacional destas.

MATERIAL E MÉTODOS

A represa Alagados é um reservatório artifi-cial de água localizado próximo aos municípios

de Ponta Grossa, Castro e Carambeí, no Estadodo Paraná-Brasil, numa microbacia queabrange os rios Pitangui e Jotuba, principal-mente. Esse reservatório abastece, em parte,a população do município de Ponta Grossa,além de ser utilizado para gerar energia elé-trica (Figura 1A). Na margem direita, próximoà barragem e à estação de captação de água,está instalado o Iate Club de Ponta Grossa.

Para realizar esse inventário, foram pro-gramadas 10 coletas em 48 pontos de amostra-gem ao longo das margens do lago da represa,conforme mostrado na Figura 1B. A represaapresenta extensão aproximada de 15 km,largura média de 500 m e profundidade de15 m na região próxima à barragem, com va-riações de 2 a 5 m no restante da área. Umaparticularidade nessa represa é a presença degrandes troncos de árvores mortas, que perma-necem na área e comprometem a navegaçãodurante os períodos de seca, quando o nível daágua torna-se mais baixo. As coletas ocorreramno período de agosto de 2007 a julho de 2008;não foi possível a navegação nos meses desetembro de 2007 e janeiro de 2008.

As coletas foram feitas com o auxílio debarco a motor, cedido pela SANEPAR, que man-tém um convênio com a UEPG através doNUCLEAM para realização de estudos nesselocal. Os exemplares amostrados continhamramos reprodutivos, com exceção de plantasque não produzem flores, as pteridófitas, paraa montagem de exsicatas, as quais foram depo-sitadas no Herbário da Universidade Estadualde Ponta Grossa (HUPG), inserido no Index

Herbariorum e no programa Taxon-line, umarede paranaense de coleções científicas, o queo torna uma importante fonte de pesquisa eensino sobre o conhecimento da flora para-naense.

As identificações foram feitas com baseem comparações com exsicatas já depositadasnesse herbário, bem como com outras depo-sitadas no Herbário do Museu BotânicoMunicipal (MBM), em Curitiba, e também commaterial de literatura especializada da área.

A terminologia para classificar as plantaspor categorias, de acordo com as formas devida, foi feita com base em Irgang et al. (1984).Para a análise fitossociológica, foramutilizados parâmetros descritos por Müeller-Dombois & Ellenberg (1974).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Um diagnóstico preliminar das condiçõesambientais no entorno da bacia Alagados foielaborado pelo Núcleo de Estudos Ambientaisda Universidade Estadual de Ponta Grossa(NUCLEAM-UEPG); a partir deste estudo, foi

elaborado o programa de recuperação am-biental da Bacia Hidrográfica do ManancialAlagados, envolvendo parceiros como aCompanhia de Saneamento Básico do Estadodo Paraná (SANEPAR), a Companhia deEletricidade (COPEL) e o Instituto Ambientaldo Paraná (IAP) (Pilatti, 2002, 2003). O presente

Figura 1 - Localização da represa Alagados, Ponta Grossa, Paraná-Brasil (A) e indicação dos pontos de amostragem de plantasaquáticas (B) – agosto de 2007/julho de 2008.

(A)

(B)

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trabalho foi inserido nesse programa, comoum dos 17 projetos que foram desenvolvidosem 2007/2008 junto ao NUCLEAM-UEPG.

A Tabela 1 apresenta a relação de plantasamostradas no entorno da represa. Foramamostradas 54 espécies, distribuídas em16 famílias de angiospermas, 8 monocotile-dôneas e 8 dicotiledôneas, e outras duas famí-lias de pteridófitas. Do total de exemplaresamostrados, somente três Poaceae e umaCyperaceae foram identificadas apenas emnível de família.

Esses dados apresentam divergênciasquantitativa e qualitativamente, em compa-ração com os apresentados num inventáriopreliminar realizado por Moro et al. (2009)na represa Alagados, que relataram 22 famí-lias, 30 gêneros e 42 espécies, sem no entantoapresentar a listagem de espécies ou afrequência destas. Também nessa obranão há esclarecimento quanto ao número decoletas ou ao número de pontos de amostra-gem realizados para resultar nesses valores.

Comparativamente, exemplares de 10 famíliasrelatadas por esses autores não foram amos-trados nesse relatório; entretanto, seis outrasaqui amostradas não constam da relaçãodesses autores. Ressalta-se que a maior diver-gência entre essas listagens encontra-seno número de representantes das famíliasPoaceae e Asteraceae, indicando perda dabiodiversidade e antropização do ambiente.

A estação de captação de água da SANEPAR(Figura 2A) foi estabelecida como o ponto 1 decoleta (Figura 1B). Na margem direita em rela-ção à estação da SANEPAR, nenhuma plantafoi amostrada nos pontos 2, 3, 4 e 5 (Figura 1B),onde se localiza o Iate Clube de Ponta Grossa(Figura 2B). Às margens da represa tambémsão observadas propriedades rurais comatividades agropecuárias (Figura 2C). Emalguns pontos, observa-se o desequilíbrio doambiente (Figura 2D-F).

No entanto, a numerosa quantidade defamílias, gêneros e espécies identificados noentorno da represa (Tabela 1) mostrou que o

Figura 2 - Áreas antropizadas às margens da represa Alagados, Ponta Grossa-PR, e os efeitos sobre o ambiente. (A) barragem eestação da SANEPAR. (B) vista geral do Iate Clube de Ponta Grossa; (C) propriedade rural com atividades agropecuárias; (D-F).efeitos do desequilíbrio ambiental.

(A)

(B)

(D)

(E)

(C) (F)

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Tabela 1 - Relação de espécies amostradas na represa Alagados, Ponta Grossa-PR, no período de agosto de 2007 a julho de 2008

C = categorias. AF = anfíbia. EM = emergente. EP = epífita. FF = flutuante fixa. FL = flutuante livre. f = frequência absoluta (número de

amostras/total de pontos).

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ambiente ainda preserva considerável diver-sidade biológica, e o monitoramento dessadiversidade é essencial para que o desequi-líbrio seja minimizado.

Esse inventário registrou as maiores fre-quências (entre 0,58 e 0, 46) para Nymphoides

indica (Menyantaceae), Cyperus giganteus

(Cyperaceae), Ludwigia sp. e Polygonum

acumintatum (Polygonaceae) (Tabela 1 eFigura 3). Os elevados valores devem serobservados com cautela, pois refletem colo-nização e/ou crescimento populacionalacelerado dessas plantas.

A ocupação estratificada de macrófitas,conforme salientaram Irgang et al. (1984) eScremin-Dias (2000), foi observada. Geral-mente, as áreas mais distantes do filme d’águasão ocupadas por grandes populações deCyperus giganteus (Figura 3I), enquanto espé-cies de poligonáceas e grandes populações deLudwigia sp. (Figura 3F) habitam o ambientemais próximo ao filme d’água, em solo inun-dado a maior parte do ano. Nymphoides indica

(Figura 3B) coloniza grandes áreas permanen-temente inundadas (Figura 4).

Essa zonação ecológica reflete os dife-rentes graus de adaptação de que essas espé-cies necessitam para tolerar o estresse dodessecamento ao qual ficam submetidas du-rante o período de seca, entre julho e outubro,quando os níveis de água do reservatóriodiminuem, formando uma faixa de praia àsmargens do lago. As plantas anfíbias (AF), queocupam os pontos mais distantes do lago,devem ser as que mais toleram o desseca-mento, pois somente em períodos curtosdurante o ano permanecem com o corpovegetativo parcialmente inundado. As plantasemergentes (EM) são mais suscetíveis aodessecamento que as anfíbias e mais tole-rantes que as espécies flutuantes livres (FL)ou fixas (FF) e as submersas fixas ou livres(SF e SL). Provavelmente, os diferentesgraus de tolerância ao dessecamento dessasmacrófitas contribuem para o sucesso e oestabelecimento delas em relação a outras,favorecendo o aumento populacional nesseambiente.

A ciperácea C. giganteus é uma plantaanfíbia, enquanto as poligonáceas e ona-gráceas podem ser classificadas como plantas

emergentes, conforme a proposta de Irganget al. (1984) e em conformidade com Pott & Pott(2000). No entanto, Ridge (1987) considera queas plantas emergentes também podem serclassificadas como plantas anfíbias, uma vezque a definição indica serem plantas que sereproduzem sexuadamente no ambienteaquático, onde passam a maior parte do seuciclo de vida, tolerando os períodos de des-secamento e sobrevivendo nesse ambienteaéreo. No presente trabalho, após observaçõesin loco, optou-se por manter a terminologia deIrgang et al. (1984). Contudo, foi observado quetanto as poligonáceas como Ludwigia sp. sóiniciaram a floração após o aumento do níveldas águas no reservatório.

Essas macrófitas emergentes são muitofrequentes no ambiente e se beneficiam como assoreamento e a eutrofização do lago parareproduzir-se e dispersar-se, aumentando abiomassa submersa, pois parte de seu corpovegetativo permanece sob o filme de água,elevando a sua turbidez, além de causar difi-culdades de navegação.

É relevante, portanto, o fato de não teremsido amostradas plantas submersas livres.Segundo Bini & Thomaz (2005) e Carvalhoet al. (2005), quanto maiores os valores deturbidez da água, menor a colonização porplantas submersas. Além disso, segundoThomaz (2006), as espécies submersas prefe-rem ambientes oligomesotróficos.

Por outro lado, três espécies flutuantesestão também entre as mais frequentes naárea em estudo. Nymphoides indica é umaplanta flutuante fixa, e as duas espécies desalvínia são flutuantes livres, cujo aumentopopulacional também pode interferir nacaptação de luz por parte das plantas sub-mersas ou emergentes, pela ocupação total dasuperfície da água, interferindo na navegaçãoe na oxigenação da água e provocando prejuízosambientais (Figura 2F). Um fator agravanteda presença dessas espécies flutuantes é aelevada capacidade de deslocamento que elastêm num ambiente lótico, o que pode compro-meter o uso de equipamentos para geração deenergia e tubulações para captação de água,elevando assim os custos da manutenção deprodução e serviços. A espécie N. indica é fixano substrato, porém em determinada época do

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Figura 3 - Diversidade de espécies vegetais amostradas na represa Alagados, Ponta Grossa-PR, no período de agosto de 2007 a julhode 2008. (A) Ludwiguia sericea. (Onagraceae); (B) Nymphoides indica (Menyantaceae); (C) Eichhornia crassipes (Pontederiaceae);(D) Salvínia spp. (Salvinaceae); (E) Alternanthera philoxeroides (Amaranthaceae); (F) Ludwiguia sp. (Onagraceae); (G) Juncus

microcephalus (Juncaceae); (H) Polygonum acuminatum (Polygonaceae); (I) Cyperus giganteus (Cyperaceae); (J) Rhynchospora

corymbosa (Cyperaceae); (K) Echnodorus sp. (Pontederiaceae).

Figura 4 - Estratificação das macrófitas na represa Alagados, Ponta Grossa-PR. A linha vermelha indica o nível da água em diferentesperíodos ao longo do ano. AF = anfíbias (ou palustres); EM = emergentes; FF = flutuantes fixas; FL = flutuantes livres; SF =submersas fixas.

(A) (B) (D) (E)(C)

(F) (G) (I) (J)(H) (k)

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ano, ao reproduzir-se, solta fragmentos docorpo vegetativo e se dispersa no lago. Esseperíodo coincide com a cheia.

Macrófitas flutuantes livres que infestamreservatórios de hidrelétricas e atingem asturbinas geradoras de energia podem cau-sar quebra e paralisação de equipamentos(Martins et al., 2003). Registrou-se pequenaocorrência de aguapé, Eichhornia crassipes

(Figura 3C), considerada a principal plantadaninha do tipo flutuante livre no mundo. Issopode ser justificado pelas temperaturas baixasque atingem a região, localizada em latitudesuperior a 40° (Thomaz, 2006).

A presença de plantas flutuantes livres estárelacionada à maior disponibilidade de fósforoe nitrogênio na água – nutrientes limitantespara o desenvolvimento de espécies com essaforma de vida (Thomaz, 2006). Na represa Ala-gados, esses componentes podem estar disponí-veis por decomposição da matéria orgânica oupor carreamento de adubos agrícolas.

A presença de espécies de Asteraceae ede Poaceae (Tabela 1) pode ser interpretadacomo mais um fator indicativo de ambienteantropizado.

As grandes populações de macrófitas foramobservadas na margem direita da represa, to-mando como referência a estação da SANEPAR.Essa ocupação mais intensa na margem direi-ta (Figuras 1B e 2A) pode estar relacionada à

direção dos ventos, predominante na regiãode nordeste para sudoeste (Cruz, 2007).

As três maiores colonizações de macrófitasforam registradas nas regiões de entradas dosrios que constituem a microbacia: Pitangui(pontos 18 e 19), rio Jotuba (pontos 25, 26 e 27)e Moquém (Figura 1). Nessas três áreas, a na-vegação já está parcialmente comprometida.Resíduos agrícolas, como fertilizantes, e osresíduos provenientes de atividades agropecuá-rias, como dejetos de animais que são carrea-dos pelos rios, possivelmente estão favorecendoo desequilíbrio populacional. DOMINGOS, et al.(2011) comentam que rios e lagos tem sofridoeutrofização devido ao aporte de nutrientesprovenientes de dejetos industriais ou agrícolaspromovendo produtividade biológica, afetandoa vegetação aquática.Segundo Thomaz (2006),fatores abióticos também podem ser respon-sáveis pelo estabelecimento das macrófitas emdeterminados pontos de lagos e represas, riose açudes, entre eles a baixa velocidade da águae o assoreamento das margens.

Investigações futuras poderão ser reali-zadas para verificar quais e quantos dessesfatores devem estar interferindo e favorecendoa explosão populacional observada paradeterminadas macrófitas nessas três áreasindicadas com maior grau de infestação, vistoque já está em andamento um programade recuperação da Bacia Hidrográfica doManancial Alagados (Pilatti, 2003).

Figura 5 - Ninhos de pássaros na represa Alagados, Ponta Grosa-PR. (A) construído sobre o filme d’água com Nymphoides indica;

(B) construído no entorno do lago, sobre escapos de Cyperus giganteus.

(B)(A)

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A importância das macrófitas foi verificadain loco nesse ambiente, como abrigo e ambien-te de reprodução de alguns pássaros (Figura 5),indicando como a fauna se comporta nessereservatório; esse conhecimento poderá auxi-liar na tomada de decisões futuras.

Os dados de diversidade biológica e defrequência das espécies vegetais que ocupama área da represa Alagados, bem como o ma-peamento das maiores colonizações nas trêsentradas de rios, podem servir de apoio paraatitudes que visem à conservação e pre-servação do ambiente, a fim de melhorar aqualidade da água oferecida à sociedade.

Prioritariamente, existe a necessidade demonitoramento das principais espécies coloni-zadoras, particularmente das flutuantes, paraconter a dispersão e evitar futuros problemaspor danos aos equipamentos de geração deenergia. Em médio prazo, será necessárioinvestigar e minimizar as causas que favore-ceram a grande colonização de macrófitas nastrês entradas de rios.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq, pela bolsa concedida. À SANEPAR,pelo apoio logístico, em especial ao sr. CarlosDaniel Mendes, que auxiliou diretamente nascoletas.

LITERATURA CITADA

BINI, L. M.; THOMAZ, S. M. Prediction of Egeria najas

and Egeria densa occurrence in a large subtropical reservoir(Itaipu Reservoir, Brazil-Paraguay). Aquat. Bot., v. 83, n. 1,p. 15-22, 2005.

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