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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS Edição 68 [ 15/12/2011 a 28/12/2011 ]

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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 68[ 15/12/2011 a 28/12/2011 ]

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Sumário

CINEMA E TV...............................................................................................................4Estado de Minas - Um herói improvável .........................................................................................4Folha de S. Paulo - Casa de Criadores exalta moda-espetáculo....................................................5Folha de S. Paulo - "Órfãos" se despedem do ator e diretor Sergio Britto, no Rio..........................6Folha de S. Paulo - Ator era apaixonado por tudo o que se nutria de drama..................................7O Estado de S. Paulo - Vidas cruzadas em Brasília........................................................................8Folha de S. Paulo - Ancine adia pela 2ª vez consulta pública da lei da TV paga............................9O Estado de S. Paulo - Poesia em mil melodias...........................................................................10Correio Braziliense - Usina de filmes O brasiliense Coletivo Casa 30 caminha para produção nacional.........................................................................................................................................11Correio Braziliense - Metade homem, metade detetive.................................................................12Folha de S. Paulo – Documentário mostra intimidade do ator......................................................13Folha de S. Paulo – 'Teus Olhos Meus' conquista público e prêmios de festivais.........................14Folha de S. Paulo – Festival homenageia cineasta Selton Mello..................................................14

TEATRO E DANÇA....................................................................................................15Folha de S. Paulo – Teatro: Festival planeja levar peças brasileiras para Edimburgo..................15Folha de S. Paulo - Orçamento barra viagens de grupos nacionais..............................................16Folha de S. Paulo - Trabalhos premiados em Praga são tema de mostra....................................17Folha de S. Paulo - Panorama apresenta vitrine de diversidade...................................................17Folha de S. Paulo – Teatro: Prêmio Shell anuncia indicados cariocas do segundo semestre......18O Estado de S. Paulo - Um renovado Pinóquio.............................................................................18

ARTES PLÁSTICAS...................................................................................................19Folha de S. Paulo - 'Caos e Efeito' é divisor de águas na história das mostras em SP................19O Estado de S. Paulo - Traços ciganos de um mestre..................................................................20O Estado de S. Paulo - Obra de Resende ameaçada...................................................................20O Estado de S. Paulo - Uma outra Tarsila....................................................................................21O Estado de S. Paulo – Relações para criar significados.............................................................22Folha de S. Paulo - Retrospectiva expõe a versatilidade de Maria Bonomi, 76............................23Correio Braziliense - Criador sem moldura ...................................................................................24Folha de S. Paulo – Os valores e a cultura / Artigo / José Roberto Teixeira Coelho.....................26Folha.com – Sobrinho quer criar centro cultural com espólio de Sergio Britto ............................27Folha de S. Paulo – Fernanda Gomes constrói paisagem entre terra e mar.................................27

FOTOGRAFIA............................................................................................................28Estado de Minas - FUNARTE » Mostra de fim de ano .................................................................29

MÚSICA......................................................................................................................30Correio Braziliense - Ah, esses moços... .....................................................................................30Estado de Minas - Puro êxtase .....................................................................................................33Estado de Minas - Filhote do clube ..............................................................................................35Estado de Minas - Quem precisa de guitarra? .............................................................................36Folha de S. Paulo - Novos CDs de Tulipa Ruiz e Otto são escolhidos em edital da Natura.........37O Estado de S. Paulo - As dores de João Gilberto........................................................................37Estado de Minas - Nova geração do rock .....................................................................................38Correio Braziliense - O ilimitado ..................................................................................................39O Estado de S. Paulo - A primeira boa-nova.................................................................................40Jornal de Brasília - Mulherada com samba no pé ........................................................................41Folha de S. Paulo - A lei do mais caro..........................................................................................42Folha de S. Paulo - Sem patrocínio é inviável, diz Flora Gil..........................................................43Folha de S. Paulo - Na internet, site ensina a investir por meio de incentivos fiscais...................44Folha de S. Paulo - João Gilberto abre o mundo de afetos com a voz / Artigo / Miriam Chnaiderman.................................................................................................................................45Folha de S. Paulo - Nelson Freire faz recital de piano no Theatro Municipal................................47Estado de Minas - Como os bons vinhos .....................................................................................47El País – La vuelta de Chico Buarque ..........................................................................................48Estado de Minas - Rede Criativa ..................................................................................................48

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Estado de Minas - Caipira de classe.............................................................................................50Folha de S. Paulo - Eu nasci assim Eu cresci assim.....................................................................52Folha de S. Paulo - Por temor de disputas judiciais, reedições em CD saem mutiladas...............53Folha de S. Paulo - Direito moral deu a vitória ao inventor da bossa nova / Análise / Ronaldo Lemos............................................................................................................................................54O Estado de S. Paulo - Parahyba, o Mr. Samba Jazz...................................................................55Folha de S. Paulo – Roberto Szidon deixa gravações referenciais de Villa-Lobos e Liszt............56Correio Braziliense - Um Brasil que bate no peito ........................................................................56O Estado de S. Paulo - Morre Roberto Szidon..............................................................................58

LIVROS E LITERATURA...........................................................................................59Estado de Minas - Pai e cúmplice ................................................................................................59Folha de S. Paulo - Negros não passam de 4% nas últimas cinco bienais...................................61Folha de S. Paulo - Em suas obras, artistas brancos buscam beleza negra.................................62Folha de S. Paulo - Flip faz dez anos e planeja edição especial...................................................62Folha de S. Paulo - Padre Daniel, 95, devolve poesia ao mundo..................................................62O Estado de S. Paulo - O novo leitor na mira dos imortais...........................................................64O Estado de S. Paulo - A tristeza poética na dor do viver.............................................................65Folha de S. Paulo - Paris vê a arte contemporânea do Brasil.......................................................66Folha de S. Paulo – Livros financiados pela Rouanet viram brindes de Natal..............................68O Estado de S. Paulo - Davi contra Golias....................................................................................68Correio Braziliense - O rio de palavras de Guimarães Rosa.........................................................70O Estado de S. Paulo - A arte exclusiva de Waltercio...................................................................71

ARQUITETURA E DESIGN........................................................................................73Folha de S. Paulo - Centro Niemeyer da Espanha fecha no dia do aniversário do arquiteto .......73Le Monde (França) - Et de nulle part surgit Brasilia......................................................................75Folha de S. Paulo – Novo IMS empilha espaços expositivos........................................................77

MODA.........................................................................................................................78Zero Hora - História de vestir.........................................................................................................78

POLÍTICAS CULTURAIS...........................................................................................80Folha de S. Paulo - Cultura dependente / Editorial........................................................................80

OUTROS.....................................................................................................................80Folha de S. Paulo - Ilustrador se divide entre sucesso e polêmica nos EUA................................80O Estado de S. Paulo - Um museu como mirante.........................................................................81Folha de S. Paulo - Brasileiro bom................................................................................................82Folha de S. Paulo - Espumante gaúcho é a bandeira da produção de vinhos nacionais..............85Correio Braziliense - A primeira exposição....................................................................................86Folha de S. Paulo – Sérgio / Artigo / Fernanda Torres .................................................................86

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CINEMA E TV

ESTADO DE MINAS - Um herói improvável

Veteranos do Casseta & Planeta ressaltam o talento do "novato" Marcelo Adnet, que estrela o filme As aventuras de Agamenon - o repórter. A estreia nos cinemas será em 6 de janeiro

Adnet e Luana Piovani formam um lindo casal na falsa cinebiografia de Agamenon Mendes PedreiraAna Clara Brant *

(15/12/2011) - São Paulo – Uma figura tão “importante” como ele, que testemunhou momentos históricos como o naufrágio do Titanic, viu a chegada do homem à Lua, a queda do Muro de Berlim e o atentado ao World Trade Center ou, mais recentemente, o casamento do príncipe William com Kate Middleton e até o episódio de Ronaldo Fenômeno com três travetis só poderia ter gente de peso atuando no filme que relata sua trajetória. As aventuras de Agamenon – o repórter, que tem estreia nacional dia 6, é uma produção cinematográfica que trata das peripécias do “lendário jornalista” que desde 1989 tem uma coluna domincial em O Globo e foi criado pelos cassetas Marcelo Madureira e Hubert Aranha. O longa conta com participações mais que especiais de gente como Fernando Henrique Cardoso, Jô Soares, Caetano Veloso, Ruy Castro (o biógrafo não autorizado do personagem), Nelson Motta e Zeca Pagodinho, e narração de ninguém menos que Fernanda Montenegro.

Na coletiva bem descontraída realizada ontem em um hotel em São Paulo, os papeis se inverteram. Para descontrair, antes de começar, o humorista Marcelo Madureira, que vive o melhor amigo de Agamenon, o proctologista Jacintho Leite Aquino Rêgo, tido como a única pessoa com quem o velho jornalista se abre, disparou a fazer perguntas aos repórteres. Ao longo da entrevista, foi difícil não ouvir piadas e comentários maldosos não só de Marcelo e Hubert, como de Marcelo Adnet, que vive o protagonista mais jovem, e do próprio diretor Victor Lopes e do produtor Flávio Tambellini. “Foi muito difícil fazer os beijos técnicos com a Luana Piovani (que vive Isaura, a mulher de Agamenon). Aliás, foram beijos semitécnicos. O mais complicado foi a suruba técnica”, brincou Adnet.

O comediante revelado pela MTV foi muito elogiado pelos colegas de elenco e apontado por Hubert como o melhor humorista da nova geração. “Este foi um grande mérito do filme: mesclar comediantes de diferentes épocas”, comentou Hubert. “A gente tinha pensando em um ator mais jovem para viver o Agamenon na juventude. E tanto eu como o Marcelo Madureira, e mais as torcidas do Flamengo e

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do Corínthias, consideramos o Adnet o melhor e mais inteligente humorista dessa nova geração. A escolha foi feliz pelo talento e pela sintonia de humor que ele tem com a gente.”

Marcelo Adnet confessou que nunca havia imaginado que algum dia trabalharia ao lado de pessoas que tanto admira e que se sentiu um privilegiado. “Lembro-me de assisti-los quando era criança. E o mais engraçado era que via o Casseta & Planeta como um grupo só. Algo único. E são pessoas completamente diferentes. Estilos de humor diferentes. Apesar de eu ser do pessoal do stand up, eles me influenciaram demais”, disse. Foi então que Marcelo Madureira disparou: “Fica tranquilo, xará. Você vai superar isso. Ter trabalhado com a gente. Tudo passa...” E o colega Hubert emendou: “ Você é do stand up né. Com todo o respeito, mas hoje todo mundo faz stand up. Até o Alexandre Frota. O cara perde o emprego hoje e vai fazer stand up. O ex-ministro dos Esportes Orlando Silva tá fazendo um”.

Piadas à parte, Hubert contou que foi um grande desafio levar para as telas a vida do colunista de um jornal carioca e que a intenção era retratar um outro Agamenon no cinema. “Ele faz parte de um jornalismo que não existe mais. Daqueles repórteres jurássicos, que dizem que cobriram todos os grandes acontecimentos. Viviam nas redações barulhentas, onde entrava todo mundo. A gente tinha que fazer um personagem de carne e osso, porque tem gente que nem o conhece; nunca o leu. Mas esse é o mais interessante. Um personagem completamente absurdo, irreal, mas que consegue falar do que aconteceu semana passada”, declarou Hubert, que se prepara para estrear em abril o novo projeto, Casseta & Planeta vai fundo. “O formato vai ser bem diferente do nosso antigo programa. Ele será temático, mais reality, será feito muito na rua e vamos contar com gente nova como a ex-BBB Maria Melilo. A Maria Paula saiu numa boa, vai se dedicar a outras coisas. É uma nova fase da nossa carreira. A gente precisava parar e ver o que tinha que ser mudado e estamos apostando bastante nele”, resumiu.

* A jornalista viajou a convite da produção do filme

Personagem da Notícia

AGAMENON MENDES PEDREIRA - COLUNISTA

É tudo mentira

Agamenon Mendes Pedreira foi criado por Hubert e Marcelo Madureira, integrantes do grupo Casseta & Planeta. Desde 1989, ele tem uma coluna no Segundo Caderno do jornal O Globo e recentemente ganhou sua versão televisiva, encarnado por Hubert e com narração de Cid Moreira, no Fantástico. Logo no começo da publicação da coluna não havia a menção "humor" e os mais desavisados pensavam tratar-se de um colunista como outro qualquer, porém seus textos com segundas – e às vezes terceiras – intenções causavam muitas dúvidas, controvérsias e discussões. O personagem tem, inclusive, três livros publicados: Ajuda-te a mim mesmo, Agamenon na Copa e Agamenon Mendes Pedreira: O homem e o minto – Memórias de um picareta ético.

FOLHA DE S. PAULO - Casa de Criadores exalta moda-espetáculo

30ª edição do evento abriu a temporada de inverno 2012 com apresentações no Cine Joia PEDRO DINIZ, COLABORAÇÃO PARA FOLHA

(16/12/2011) Enquanto o estilista Ronaldo Fraga causa polêmica com seus comentários sobre a "morte da moda" e a relevância questionável dos desfiles como formato de apresentação, a 30ª Casa de Criadores terminou na última quarta-feira levantando a bandeira da "moda-espetáculo".Durante os três dias em que ocupou o Cine Joia, casa de shows recém-inaugurada no centro de São Paulo, o evento -que abriu a temporada de inverno 2012 na cidade- teve desfiles, música ao vivo na apresentação de Walério Araújo e banda de rock.

A cantora Shirley Carvalho interpretou a música "Rolling In The Deep", da britânica Adele, no desfile de Araújo, que encerrou o primeiro dia da CdC.

Já no último, o skatista Alex Poisé levou ao palco amigos famosos, ao som de rock pauleira, para apresentar a nova coleção de sua grife Sumemo.

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Entre os convidados, o chef Alex Atala e Badauí, vocalista da banda CPM 22.

Ao todo, 28 marcas apresentaram suas coleções de inverno na Casa.

Na lista, grifes conhecidas do público fashionista, como Der Metropol, que foi buscar na dor da morte as referências para sua coleção esportiva, e Jadson Raniere, destaque em recente edição do jornal "The New York Times" e que fez um bom trabalho com tricô em seu desfile.

"Nada supera o contato com a roupa. Assistir a um desfile é, acima de tudo, uma experiência sensorial", afirma André Hidalgo, idealizador do evento.

"Além disso, servimos de vitrine para que jovens estilistas possam exibir suas coleções a um público especializado", completa.

Ao contrário do que acontece em eventos de grande porte, como a São Paulo Fashion Week, marcas inexpressivas do ponto de vista comercial engordam o line-up da CdC.

Alçadas à passarela por concursos de talentos promovidos pela organização, como Ponto Zero (para universitários) e Fashion Mob, essas grifes têm em comum o viés experimental de suas roupas.

Bom exemplo é Luiz Leite, vencedor da primeira edição do Fashion Mob -passeata fashion que ocorre todo ano em que centenas de estilistas concorrem a uma vaga no evento de Hidalgo.

O designer fez um inverno limpo, branco e experimentou diversas proporções em seu masculino.

Se a Casa de Criadores vale mais pelos shows do que pelas roupas em si, ponto para Arnaldo Ventura, que levou os tambores japoneses do grupo de percussão Shinkyodaiko ao Cine Joia.

O estilista fez barulho com roupas inspiradas no Oriente e não se preocupou se em algum ponto iria pecar pelo excesso de cor e estampas. Fazia parte do seu show.

FOLHA DE S. PAULO - "Órfãos" se despedem do ator e diretor Sergio Britto, no Rio

Artista foi enterrado ontem no cemitério São Francisco Xavier (19/12/2011) DO RIO - Cerca de 50 "órfãos" de Sergio Britto acompanharam na manhã de ontem o enterro do corpo do ator e diretor de teatro, no cemitério São Francisco Xavier (Rio de Janeiro). Britto morreu aos 88 anos por insuficiência respiratória. Amigos e parentes se definiram como aprendizes e lembraram a dedicação com que ele atuou até o fim. Antes de ser enterrado, o sobrinho Paulo Brito fez questão que o tio fosse aplaudido. "Um ator tem que ser aplaudido", disse ele, seguido pelos amigos no momento do sepultamento.

"Somos todos órfãos de Sergio Britto. Ele só fez ensinar. Ele praticamente só respirou teatro desde que decidiu seguir o caminho do palco", disse a atriz Renata Sorrah, com quem Britto atuou em "Os Veranistas". A peça inaugurou o Teatro dos Quatro, em 1978.

Companheira de palco de Britto por diversas vezes, a atriz Nathália Timberg afirmou que "a coisa mais linda que ele deixa é o legado".

"Ele tinha uma sede pelo conhecimento, era curioso, tinha paixão pelo teatro", disse ela, para quem o ator "morreu menino, com vontade de aprender".

Ela sugeriu aos proprietários do Teatro dos Quatros, na Gávea, que o imóvel fosse rebatizado com o nome de Sérgio Britto. Ela disse que a ideia foi aceita.

A atriz Totia Meireles afirmou que "é difícil não seguir o seu exemplo, seu amor e respeito pelo palco."

A diretora Isabel Cavalcanti, que prepara um documentário sobre o ator, disse que Britto sempre se portou como um "operário do teatro".

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FOLHA DE S. PAULO - Ator era apaixonado por tudo o que se nutria de drama

Depoimento Sergio Britto (1923 - 2011)

Morto no sábado, Britto era um "ser beckettiano" como Thomas, que veio ao Brasil a convite do ator

Convivíamos como tias que fofocam e falam sério, que sentem nostalgia até dos tempos que não vieram GERALD THOMAS, especial para a Folha, de Londres(19/12/2011) A maior questão para o autor sempre foi: como reduzir à palavras os grandes sentimentos e as fortes emoções que se tem durante uma vida?

Esse dilema me bate na cara justamente quando essa, a maior "questão", é testada por meio da morte de um de meus melhores amigos e parceiro de trabalho de décadas.

Como escrever sobre Sergio Britto, "minha vida, minha morte, meu amor" -palavras de Valmont, personagem do nosso "Quartett", de Heiner Mueller-, como Tônia Carreiro dizia baixinho, ao som ensurdecedor dos cellos, enquanto Sergio se deixava cair no palco como se fosse um Tristão que não queria mais sua Isolda, justamente por ter sido testado pelo dilema de se saber demais e não conseguir representar tantos símbolos ao mesmo tempo.

Sergio Britto caído no palco do teatro Laura Alvim, no Rio, em 1986, com Philip Glass sentado, mudo (ou quase), dizendo: "Esse ator é simplesmente maravilhoso".

Mas foi aqui, em Londres, que tudo começou.

Conheci Sergio aos meus 16 anos, em Chalk Farm, onde fica o teatro The Roundhouse. Ele estava de passagem com a peça "Autosacramentales", de Calderon de La Barca. Vinha desde o Brasil com meu telefone, dado por Sergio Mamberti (veja o papo com os dois em geraldthomas.net).

Se me perguntarem se há alguém neste planeta com quem sempre tive total afinidade, a resposta é imediata: Sergio Britto.

NOSTALGIA

Aliás, este sábado [dia 17]está horrendo! Acordei mal e queria visitar o túmulo de Karl Marx, em Highgate. Desisti. Dei meia volta e cheguei em casa me sentindo mal. Fui avisado da morte de Sergio. Meu primeiro impulso foi escrever à minha futura-ex-eterna-para-sempre sogra Fernanda Montenegro, com quem me correspondi ainda ontem [sexta], mas com leveza, numa típica troca de e-mails de fim de ano. Mal sabíamos.

Devo a Sergio a vida do meu teatro no Brasil. Mas não é assim tão fácil. A troca foi recíproca. Convivíamos como duas tias que fofocam e falam sério, daquelas que sentem nostalgia até dos tempos que ainda não vieram.

Discordávamos. E como! Mas discordávamos a respeito de teatro. Só falávamos de teatro: das diferenças entre as culturas, do atraso estético do teatro brasileiro nos anos 1980, do formalismo do teatro inglês e das vanguardas que cresciam em Nova York, no "off off Broadway".

"Sergio! Você está roncando!", eu o cutucava nas costelas quando íamos ao National Theatre, em Londres, ou à Broadway, em Nova York. Assim que os refletores diminuíam sua intensidade, ele dormia. "Roncando? Como você se atreve?", ele reagia. "Quieto, Sergio! O Michael Gambon e o Alan Bates estão ouvindo você berrar na plateia." Era muito engraçado.

MÚSICA

Sergio era um surdo mal assumido. E afirmava ter uma "eterna ameba" que o fazia dormir na plateia -e até no palco! Certa vez, em "Quatro Vezes Beckett", Sergio dormiu em cena, enquanto a cortina se abria. Rubens Correa, lá atrás, era quem dava a primeira deixa, berrando a palavra "música!". Sergio

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tinha de reagir, dizendo algo típico dos diálogos de Beckett. Essa peça, o "Teatro 1", era uma pré-etapa do que viria a ser o "Fim de Jogo", aquela memorável e imortal peça em que Hamm e Clov se pegam, se atazanam, do início ao fim.

Antes disso, estava em Nova York, dirigindo o La MaMa, e Sergio me visitava com frequência. Insistia em que eu fosse dirigi-lo no Teatro dos Quatro, na Gávea, no Rio.

Eu nunca sabia como encarar seus convites. Foi quando Julian Beck, criador do Living Theater, disse: "Vá ao Brasil. Lá terá dinheiro e palcos maiores. Quando retornar para Nova York, estará nas capas dos cadernos culturais". E assim foi.

Fui. Sergio Britto, Ítalo Rossi e Rubens Correa, numa montagem quase espelho da nova-iorquina, mas com uma peça a mais: o "Nada" (terra coalhada de ruínas....).

"Chica, traz aquele feijão bem forte. Ele gosta forte, lembra?", berrava Sergio, num de seus vários apartamentos em Copacabana, no Leblon, em Santa Tereza.

Chica cuidava de tudo. Inclusive de sua videoteca de filmes e de teatro. Sergio era ator, diretor, produtor, professor e apaixonado por tudo o que se nutria de drama, do palco falado ao cantado.

De certa forma, Sergio e eu éramos dois seres beckettianos. Vivíamos numa atmosfera de eterna discordância e pequenos beliscões e petelecos, muito carinho e muito amor.

"Você ainda está aí?", Hamm (cego), pergunta a um Clov inquieto. "Como eu poderia não estar?"

O ESTADO DE S. PAULO - Vidas cruzadas em Brasília

Longa de Mauro Giuntini teve seus atores premiados no Recife, em 2008

LUIZ CARLOS MERTEN

20/12/2011 - Quatro anos podem não ser uma vida, mas são um período grande. Foi preciso tudo isso para que Simples Mortais finalmente chegasse ao circuito nacional. O longa brasiliense de Mauro Giuntini foi feito em 2007, ganhou prêmios importantes no Cine PE do ano seguinte - os Calungas de melhor ator e melhor ator coadjuvante, para Chico Sant'Anna e Eduardo Moraes -, mas só agora, na sexta-feira, estreou em São Paulo.

É o velho problema do cinema brasileiro, polarizado entre tendências opostas - o filme miúra, de arte, e o blockbuster. Um sai pequenino, com poucas cópias, e em geral é massacrado pelo mercado. O outro ganha circuito amplo, atinge o público, mas, com raras exceções, recebe pancadas dos críticos, que o acusam de ser 'descerebrado'. O sucesso de O Palhaço, de Selton Mello - 1,3 milhão de espectadores -, está abrindo um precedente importante, uma terceira via. É pouco provável que, por ela, trafegue o filme de Giuntini. O Palhaço chegou lá porque teve uma distribuidora - a Imagem - que bancou 200 cópias para um filme que, pela lógica de mercado (autoral, delicado), teria, talvez, pouco mais que o número de cópias de Simples Mortais.

Mesmo que, eventualmente, não atinja um grande público, Simples Mortais não pode nem deve ser descartado. O filme tem potencial para dialogar com o público. No Recife, a plateia do Cine-Teatro Guararapes, a maior do Brasil - são mais de 2.000 lugares sentados - foi generosa no aplauso, especialmente na cena que valeu aos atores os seus prêmios. Eles fazem pai e filho. Fumam um baseado e, pela primeira, vencem as barreiras geracionais e conseguem se comunicar.

Cinéfilos de carteirinha devem se lembrar da cena similar em O Selvagem da Motocicleta, Rumble Fish, de Francis Ford Coppola, quando os personagens de Dennis Hooper e Mickey Rourke, também pai e filho, se unem para outro baseado. Representam o encontro da geração da bebida (o pai) com a das drogas (o filho). Depois da observação feita pelo repórter quando o filme passou no Cine PE, o diretor Giuntini decidiu rever a obra cultuada de Coppola. Ele não se lembrava de Rumble Fish e certamente não pensou no filme durante a fase de roteiro e realização de seu filme. "Mas é impressionante como o filme estava enraizado no meu inconsciente. As duas cenas têm tudo ver."

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Giuntini, de 46 anos, é docente há mais de dez. Ele conta como é seu processo. "Trabalho muito com improvisação quando ainda estou preparando ou escolhendo os atores. Com o Chico (que faz o pai), já tinha uma relação profissional. Havia filmado com ele. O Eduardo foi meu aluno e foi assim que o conheci. Fui seu orientador, num trabalho de conclusão de curso. A cena dos dois foi uma surpresa para mim. Nos ensaios, ela nunca teve aquela potência. Algo se passou enquanto filmávamos. Dispunha de um ótimo material na montagem."

Simples Mortais conta três histórias que vão se articulando, no formato que os críticos chamam de 'multiplot' e para o qual os norte-americanos têm uma definição muito particular. É um filme 'ônibus'. O mexicano Alejandro González Iñárritu adquiriu notoriedade em anos recentes com seus filmes que narram várias histórias simultâneas, mas não era ele que Giuntini tinha como referência. "Fiquei impactado quando assisti a Short Cuts - Cenas da Vida, de Robert Altman. Foi um filme muito importante para mim. Fortaleceu meu desejo de fazer cinema e contar histórias daquele jeito."

A origem. Desde Nashville, em 1975, Altman sempre gostou de soltar a câmera entre numerosos personagens, uma lição que, conscientemente ou não, talvez tenha absorvido de Luis Buñuel, O Discreto Charme da Burguesia. "Quando fui estudar cinema nos EUA, comecei a pesquisar sobre o assunto. Todo mundo só falava de Iñárritu, mas D.W. Griffith, lá em Intolerância, em 1915, já trabalhava com multiplot." Três histórias - compondo um painel das frustrações dos brasilienses. O professor que não consegue escrever seu livro de poesias, o pai músico que toca em churrascarias para aumentar o faturamento, a jornalista de TV que sonha ter um filho (e o companheiro não quer).

Todas essas histórias se combinam num desfecho em suspenso, dentro de um elevador - e justamente essa metáfora é considerada um tanto banal, enfraquecendo a força do filme cuja melhor parte é justamente a que trata de pai e filho. Giuntini conta que fez o filme com B.O., baixo orçamento. Foram R$ 750 mil de produção, mais R$ 100 mil para o lançamento. Giuntini conversou com duas ou três distribuidoras, mas não fechou nenhum acordo. Como consequência, ele próprio está lançando seu filme, o que explica o atraso e o número reduzido de cópias. Uma em São Paulo, outra no Rio e as demais que já estavam em Brasília (desde 16 de novembro). Cinco, no total.

De quais filmes brasileiros Giuntini gostou, recentemente? Ele cita dois - O Céu Sobre os Ombros, de Sérgio Borges (e diz que se trata de um Simples Mortais mais radical) e Alegria, de Felipe Bragança e Marina Meliande. Cabe ao público reverter a situação e impedir que Simples Mortais, com seus prêmios no Recife, esteja sendo lançado pro forma, somente para o sacrifício.

FOLHA DE S. PAULO - Ancine adia pela 2ª vez consulta pública da lei da TV paga

Assessoria garante que o texto da legislação será aberto para debate na internet, mas não confirma nova data

Medida pretende estimular produção nacional independente e tem prazo de validade estabelecido de 12 anos ELISANGELA ROXO, DE SÃO PAULO

(20/12/2011) A lei 12.485 (antigo PL 116), sancionada pela presidente Dilma, cria novas regras para o mercado de TV paga.Sua regulamentação deveria estar disponível na internet, a partir de amanhã, para consulta pública -mecanismo utilizado para que partes interessadas possam debater seu conteúdo.

Pela segunda vez, no entanto, a consulta foi adiada -agora sem previsão de uma nova data para entrar no ar.

Manoel Rangel, presidente da Ancine (Agência Nacional de Cinema), confirmou em seminário sobre os efeitos da legislação, realizado no último mês de novembro, que a consulta estaria disponível no site da Ancine (www.ancine.gov.br) no dia 16 de dezembro e permaneceria on-line por 45 dias.

A consulta pública é necessária por conta de alguns pontos polêmicos não esclarecidos pelo texto da lei.

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Na semana passada, porém, a agência informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que os regulamentos seriam aprovados nesta semana e que a consulta pública seria aberta até amanhã.

Uma nova reunião, no entanto, deve acontecer amanhã. E ela pode ser concluída sem a sugestão da nova data para o debate, já que é necessário consenso entre os diretores da Ancine sobre os pontos que serão abertos para a consulta.

Como parte da equipe da Ancine já se encontra em recesso de Natal, é possível que o debate tenha início apenas no mês de janeiro.

"Está demorando, mas espero que a Ancine não mude de ideia", diz Marco Altberg, presidente da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de TV.

"Não tenho problema com o adiamento desde que a Ancine nos dê um prazo razoável para a adaptação. Vamos ficar de olho", diz o vice-presidente regional da Turner, Anthony Doyle. "É melhor ficar para janeiro do que abrir agora a discussão", opina Alexandre Annenberg, presidente da Associação Brasileira de TV por Assinatura.

Entre outras medidas, a legislação cria uma cota para produção independente brasileira no horário nobre da TV por assinatura (veja ao lado).

Um ponto que pode vir a ser consultado é justamente a definição de horário nobre, que é diferente para canais adultos e infantis.

Essa cota é semanal e deve ser cumprida gradualmente nos próximos três anos. Os canais que já têm a grade de programação composta por produções independentes nacionais e estrangeiras -como séries, filmes e desenhos- teriam de se adequar.

A lei também determina que a publicidade exibida pelos canais se atenha ao máximo de 25% da programação (seis horas diárias). A regulamentação deve criar mecanismos para que o próprio assinante identifique abusos.

PRAZO DE VALIDADE

A nova lei foi assinada pela presidente Dilma no último dia 12 de setembro e terá a primeira etapa de implementação válida a partir do próximo 12 de março.

Um dos objetivo da legislação é estimular a produção independente de programas no Brasil. A ideia é que, após o término da validade de 12 anos da lei, esse tipo de incentivo à produção independente para TV não seja mais necessário no país.

O ESTADO DE S. PAULO - Poesia em mil melodias

Em encontro com parceiros, o múltiplo Geraldo Carneiro fala de seus ofícios

ROBERTA PENNAFORT

21/12/2011 - Poeta, letrista, roteirista de TV e de cinema, tradutor, amigo dos amigos, os novos e os da vida toda, e pai de Vinicius, caçula de três, homônimo daquele que foi o maior - e que apaga sua primeira velinha dias depois de o pai soprar 60, em junho de 2012.

Múltiplo há mais de 40 anos, desde que começou a escrever, o mineiro-carioca Geraldo Carneiro fecha dezembro recobrando o fôlego para dar cabo dessas e de outras realizações. Dois roteiros de filmes e dois livros o aguardam depois do réveillon.

Gravado em 2006 por conta de um projeto do Sesc e lançado agora pela Biscoito Fino, o CD Gozos da Alma foi o fio condutor de um bate-papo entre Geraldo, Wagner Tiso e Danilo Caymmi na última sexta-feira, que passou por seu trabalho com música, seus surtos de poesia e causos das décadas de amizade.

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Os sofás eram os da casa de Geraldo, no Jardim Botânico, entre o piano, os livros e pacotes de presentes de Natal. Danilo canta duas faixas do CD: a rasgada A Flor e o Cais, de Geraldo e Tiso, e o Choro de Nada, de Geraldo e Eduardo Souto Neto, o primeiro parceiro, ainda no colégio.

É essa sua música mais conhecida, graças às gravações de Vinicius, em 1975, e, três anos depois, de Tom Jobim. "Tudo o que eu quero fazer o Vinicius já fez antes de mim", brincou o maestro quando lembrado por Geraldo da coincidência.

"A gente se conhece desde 68, vimos a Copa de 70 juntos, sentados na cama de Dorival Caymmi. A gente torcia contra, por causa da ditadura, mas veio o gol do Jairzinho e quebramos o estrado pulando", rememorou Geraldo. "Mas a vida é tão confusa que só temos duas parcerias. Ainda vamos fazer um CD com canções de amor", disse Danilo.

Tiso, "maestro delirante", chega, e lembra que os encontros entre os dois sempre foram mais "para fazer farra do que música". "Quando mostro música para o Geraldinho, ele dá pitaco, é músico também." O piano foi o primeiro instrumento, seguido do violão. Mas ele diz que suas melodias são medíocres.

Retrospectivo - dos anos 60 para cá -, o CD tem parcerias com Francis Hime (destaca-se O Amor Passou) e John Neschling (como a brejeira Rita Baiana), além de Egberto Gismonti (Palhaço), coautor mais constante.

CORREIO BRAZILIENSE - Usina de filmes O brasiliense Coletivo Casa 30 caminha para produção nacional

22/12/2011 - O ano de 2011 termina cheio de possibilidades para o Coletivo Casa 30, que acaba de ganhar edital para criar um dos documentários do Memória do Esporte Olímpico Brasileiro, da ESPN Brasil e Petrobras. O grupo de produtoras brasilienses de cinema vai filmar o documentário Maria Lenk — A essência do espírito olímpico, que conta a história de uma das atletas mais importantes da história da natação no Brasil. A obra integra conjunto de nove curtas-metragens de 26 minutos a serem exibidos no TV ESPN Brasil.

O diretor Iberê Carvalho, cineasta integrante do Coletivo, vai comandar o primeiro longa-metragem de ficção do grupo. O último Cine Drive-in é uma ficção sobre uma família que passa horas entre o cinema e o Hospital de Base de Brasília. A vida das personagens se mistura com o local histórico da

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cidade. O projeto tem financiamento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Em 2011, o Coletivo foi responsável pela direção de produção do filme O fim e os meios, de Murilo Salles, que teve set de filmagens em Brasília, em Maceió e no Rio de Janeiro.

Formado pelas empresas Pavirada Filmes, Quartinho Produções, Star Filmes, Artísticas e TMTA Comunicações, o Coletivo Casa 30 lança, em 2012, caixa de DVDs com cinco curtas-metragens infantis: Procura-se, O filho do vizinho, Sonhando passarinhos, Meu amigo, meu avô e Inexorável. Procura-se, O filho do vizinho e Inexorável somam oito prêmios.

CORREIO BRAZILIENSE - Metade homem, metade detetive

Felipe Moraes

22/12/2011 - O paulista Paulo Levy sempre teve um relacionamento íntimo com a palavra. Trabalhou como redator publicitário durante 15 anos. Depois, fundou uma empresa de e-books, uma das primeiras no Brasil, em 2000. A experiência, que hoje ele considera precoce demais, durou até 2001. Nos cinco anos seguintes, gerenciou a filial paulistana da editora Objetiva, até fundar seu próprio selo, Bússola. E é por ele que Levy lança o seu primeiro romance, Réquiem para um assassino. E engana-se quem pensa que ele vinha rascunhando qualquer coisa entre as idas e vindas no mercado literário. A trama apareceu para ele unicamente numa visão, numa viagem que fez a Paraty, litoral fluminense, em julho de 2010.

A narrativa da “iluminação”, aliás, parece saída da ficção. Levy andava na beira da praia, seguindo a orla num ponto em frente à igreja de Santa Rita. Subitamente, talvez inspirado pelo movimento cíclico da maré, veio-lhe uma imagem: largado num trecho de lodo seco, estava deitado um corpo imóvel. Com flashes da cena latejando na cabeça, o autor conversou com policiais civis e membros do corpo de bombeiros. “Queria saber quais seriam os procedimentos num caso como esse, se o caso era crível ou algo assim. Foi realmente uma epifania que me aconteceu e me senti impelido a escrever. Sempre tive vontade de escrever, mas não sabia sobre o que escrever”, diz o escritor.

A narrativa é ambientada na fictícia Palmyra, cidade histórica do Rio de Janeiro. Quem encontra o cadáver abandonado é o delegado Joaquim Dornelas, protagonista da história. Seguindo a trilha de detetives amargos dos filmes noir, Dornelas é um solitário: vive longe da mulher e dos filhos, mal consegue fechar os olhos à noite e entorna doses de cachaça como quem bebe copos d’água. Com um histórico particular riscado de tristezas, ele entrega-se à carreira. Mas é justamente nos

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desdobramentos do misterioso cenário visto no litoral que ele encontra algum alento. “Sigo a rotina do delegado, mas a vida pessoal dele faz parte da história. Isso traz humanidade para o personagem. Os investigadores de hoje não podem ser perfeitos como o Sherlock Holmes, cuja vida pessoal nem aparecia nos livros. Hoje em dia, o leitor tem interesse em personagens reais, possíveis”, comenta o estreante

Influência paternaLevy não dispensa uma boa leitura de romances policiais ou uma reprise de qualquer filme de Alfred Hitchcock — Frenesi (1972) é o seu favorito do diretor britânico. Recentemente, movido pela foto de um amigo vista no Facebook, tirada na casa onde Ian Fleming escreveu a saga do agente 007, na Jamaica, comprou uma porção de volumes do inglês. Mas a maior inspiração, ele reforça, vem do pai. “Ele foi e é um grande leitor de espionagem: John le Carré, Frederick Forsyth, Ken Follett. Nenhum escritor me influenciou mais do que ele. Depois que o Dornelas nasceu, consegui entender a influência do meu pai”, diz.

Atualmente, o paulista conversa com produtoras para a produção de uma série de filmes baseada em Dornelas. Até por isso, já está adiantado na composição do segundo livro, pretendido para o ano que vem. “Minha ideia é fazer um romance por ano”, planeja. Resta saber se, para isso, ele precisará fazer uma visitinha a Paraty, a Jamaica de Paulo Levy.

FOLHA DE S. PAULO – Documentário mostra intimidade do ator

(22/12/2011) COLABORAÇÃO PARA A FOLHA - Um operário do teatro. Um homem vaidoso. Um ator que, mesmo com sua importância histórica, não gostava de ser reverenciado. Essas definições fecham um breve perfil de Sergio Britto que a atriz e diretora Isabel Cavalcanti pretende mostrar em um documentário gravado desde 2009.

Com o título provisório "O Homem das Mil Fábulas", o filme ainda está em fase de produção e deve estrear no ano que vem.

Desde que foi chamada por Britto para dirigir a peça "A Última Gravação de Krapp / Ato sem Palavras 1", a diretora estreitou laços com o ator.

Isabel Cavalcanti passou a filmá-lo nas coxias e na vida íntima.

Conseguiu cenas preciosas, como o atraso de dez minutos do espetáculo provocado por um jogo do Fluminense. "Cala a boca, eu tenho que ver o jogo", Britto retrucou quando lhe disseram para entrar em cena.

A diretora lembra que suou frio quando o ator fez a primeira leitura da peça de Samuel Beckett.

"Eu sofri pensando em como falar para ele: 'Não é nada disso, não é esse o caminho'", conta. "Mas, quando falei, ele se abriu e perguntou: 'Então qual é o caminho?' Ele não gostava de ser reverenciado", completa.

INTIMIDADE

Também sobressai nas gravações o perfil de um homem que não tinha medo de falar sobre nada.

"[No filme], ele não fala sobre ter se assumido gay porque isso nem era uma questão para ele. Mas fala abertamente sobre sua vida íntima, sobre seus namorados. O Sergio adorava falar sobre sexo", conta a diretora. (GF)

O legado de Britto Itens do acervo artístico deixado pelo ator

ANOTAÇÕES

Segundo amigos e familiares, Sergio Britto fazia anotações sobre todas as obras a que tinha acesso. Ele deixa uma vasta coleção de críticas e reflexões assinadas por ele

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VÍDEOS

Há desde registros de trabalhos pessoais a filmes do cinema mudo; há peças filmadas, nacionais e estrangeiras, com destaque para trabalhos de grandes diretores, como Peter Brook, e gravações adquiridas em viagens -uma delas com o bailarino russo Baryshnikov

FOTOS

O ator guardou retratos em preto e branco e coloridos, em papel de muitas peças brasileiras, especialmente das montagens em que atuou, como "Quatro Vezes Beckett", de Gerald Thomas, e "A Última Gravação de Krapp/ Ato Sem Palavras 1", de Samuel Beckett

RECORTES DE JORNAIS

Críticas, perfis e textos para o teatro foram arquivados durante toda a vida do ator, provavelmente desde o início da sua carreira, no Teatro Brasileiro de Comédia. Ainda não um levantamento final

FOLHA DE S. PAULO – 'Teus Olhos Meus' conquista público e prêmios de festivais

Estreante, diretor Caio Sóh venceu nomes como Selton Mello AMILTON PINHEIRO, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(23/12/2011) O anúncio do prêmio de melhor filme de ficção segundo o público da última edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo causou surpresa. Não havia um só jornalista, diretor de cinema ou pessoa envolvida com o meio cinematográfico que conhecesse ou tivesse ouvido falar em Caio Sóh, diretor de "Teus Olhos Meus".Durante a Mostra, o longa não recebeu atenção dos jornalistas que cobrem o festival. Mesmo após a premiação, o silêncio perdurou, o que é curioso, dado que Caio Sóh venceu diretores como Selton Mello ("O Palhaço") e Beto Brant ("Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios").

"Não consigo entender por que ninguém quis falar sobre o meu filme. Será por conta da temática, de abordar um tema tabu, de uma certa precariedade técnica do filme?", questiona Sóh.

O filme, segundo o diretor um tanto autobiográfico, conta a história do jovem Gil (Emílio Dantas), que adora beber, tocar violão e encontrar os amigos e a namorada. Numa noite, discute com o marido de sua tia (Paloma Duarte) e sai de casa. Em seguida, encontra um homem maduro, o produtor musical Otávio (Remo Rocha), com quem se envolverá.

AÇÃO ENTRE AMIGOS

A produção foi realizada com um orçamento inferior a R$ 5 mil, uma câmera na mão, ajuda de amigos atores -que não receberam cachê e cederam suas casas para locações- e todas as dificuldades esperadas para um filme sem recursos.

"Se não fosse a ajuda dos amigos, seria impossível fazer esse projeto", afirmou o diretor à Folha, em João Pessoa (PB), quando subiu ao palco para receber mais um prêmio de público, na noite de encerramento da sétima edição do Fest Aruanda, que aconteceu no último dia 14.

Sóh não se considera um cineasta, mas um ator/poeta. Apesar disso, ele conta já ter planos para um longa protagonizado pelos atores Otávio Muller e Vladimir Brichta, a ser rodado no primeiro semestre de 2012.

No caso de "Olhos", ele diz ter sonhado com a história do filme e, no dia seguinte, escrito a versão quase definitiva do roteiro. Os trunfos do longa são a montagem baseada em cortes ágeis, a trilha sonora assinada por Maria Gadú (em parceria com Maycon Ananas e Aureo Gandur) e uma direção de atores competente.

FOLHA DE S. PAULO – Festival homenageia cineasta Selton Mello

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O ator e diretor Selton Mello será homenageado na Mostra de Cinema de Tiradentes, que acontece entre 20 e 28 de janeiro e terá como tema "O Ator em Expansão". O festival também exibirá uma retrospectiva de filmes com a participação de Mello, como "O Palhaço" e "O Cheiro do Ralo".

TEATRO E DANÇA

FOLHA DE S. PAULO – Teatro: Festival planeja levar peças brasileiras para Edimburgo

Mostra prevista para 2012, no Rio, fecha parceria com maior vitrine mundial do teatro, na Escócia

Programado para junho, Cena Brasil Internacional irá 'exportar' espetáculos também para a França

Cena da peça alemã "Leo", que estará no festival Cena Brasil Internacional

GABRIELA MELLÃO, DE SÃO PAULO

(15/12/2011) Surge em junho de 2012 um novo festival internacional de teatro no país. Intitulado Cena Brasil Internacional, o evento idealizado pelo produtor Sérgio Saboya e apoiado pelo Centro Cultural Banco do Brasil chega para alterar a relação dos artistas nacionais com as duas principais vitrines mundiais de artes cênicas: os festivais de Avignon, na França, e de Edimburgo, na Escócia.

Até hoje, o teatro brasileiro foi pouco mais do que um estranho na grade desses dois eventos. De 2004 a 2011, por exemplo, foram apresentados 7.393 espetáculos em Avignon. Nesse período, somente o grupo franco-brasileiro Dos à Deux representou o país no festival -em duas ocasiões, 2005 e 2010.

O cenário não é diferente em Edimburgo. "Não mais do que um ou dois espetáculos brasileiros compõem nossa programação anualmente", diz a diretora do festival, Faith Liddell.

Esse quadro pode se transformar com o Cena Brasil Internacional. A parceria inédita com os dois festivais prevê uma mostra de teatro brasileiro em ambos, composta por seis trabalhos.

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SELEÇÃO

O Cena Brasil Internacional acontece no Rio de Janeiro e deverá ter versões mais enxutas nas cidades de São Paulo e Brasília. Em sua grade está prevista a apresentação de espetáculos inéditos de 12 companhias brasileiras e oito internacionais.

Esses 20 grupos se encontram para um intercâmbio artístico, no qual compartilham, por meio de palestras e workshops, seus processos de trabalho.

A programação prevê ainda a exibição de 20 peças (não necessariamente inéditas) nacionais.

A escolha das obras que irão para Edimburgo e Avignon não será feita por um corpo de curadores, mas pelos membros dos grupos que estarão no festival.

Os artistas, obviamente, não poderão votar em seus próprios trabalhos. "Minha intenção é colocar o poder de decisão na mão desses grupos", fala Saboya.

GRUPO ALEMÃO

Entre os coletivos já escalados para a residência do Cena Brasil Internacional estão o carioca Amok (de trabalhos elogiados como "Kabul" e "O Dragão"), que estreia "Histórias de Família", e o alemão Circle of Eleven.

Este último vai apresentar pela primeira vez no país o espetáculo "Leo", solo de teatro físico no qual, usando o vídeo como recurso ilusionista, o protagonista Tobias Wegner dá a impressão de desafiar as leis de gravidade em cena (a imagem à direita dá uma ideia do que os alemães aprontam).

A peça estreou no último Festival de Edimburgo, onde venceu os prêmios ThreeWeeks Editors' Award, Scotsman Fringe First Award e o Carol Tambor Best of Edinburgh Award -o que garantiu ao trabalho uma temporada off-Broadway em janeiro e fevereiro de 2012.

"Ricardo 3º", do grupo Clowns de Shakespeare, "Beckett", dos irmãos Guimarães, e "A Tecelã", de A Caixa do Elefante Teatro de Bonecos, também irão compor a grade do evento, segundo Saboya.

O novo festival tem orçamento de R$ 3 milhões e ainda está em fase de captação. O CCBB garantiu um terço desse valor, e o restante está sendo levantado.

"O orçamento vai determinar o tamanho do festival, mas não se o evento se realiza ou não", diz Francisco Raposo, gerente de programação do CCBB.

FOLHA DE S. PAULO - Orçamento barra viagens de grupos nacionais

(15/12/2011) DE SÃO PAULO - Eduardo Okamoto foi o único representante do Brasil a integrar o Festival de Teatro de Edimburgo neste ano, com o monólogo "Agora e na Hora de Nossa Hora".Segundo o ator, a principal dificuldade foi orçamentária. "Nossa viagem foi planejada por mais de cinco anos e só aconteceu pelo fato de a peça ser um solo e, portanto, ter custos reduzidos", conta.

Sua experiência também mostrou que é importante armar estratégias para atrair público e curadores de outros festivais.

A presença de uma mostra de teatro do Brasil em Edimburgo e Avignon elimina os principais entraves à participação de artistas do país.

Apresentados em conjunto, os espetáculos brasileiros têm chance de atrair mais público do que se fossem apresentados separadamente.

Ao mesmo tempo, não é preciso se preocupar com as finanças. Custos de viagem, hospedagem e alimentação dos artistas serão cobertos pelo Cena Brasil Internacional.

A diretora do festival de Edimburgo, Faith Liddell, mostra-se atraída pela possibilidade de introduzir a cena brasileira no evento. "Esta parceria é importante para nossa reputação, afinal, nossa identidade é revelar o teatro mundial e nosso público praticamente não conhece o brasileiro", afirma. (GM)

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FOLHA DE S. PAULO - Trabalhos premiados em Praga são tema de mostra

Exposição na Funarte de São Paulo reúne projetos brasileiros de cenografia

Brasil ganhou prêmio no evento tcheco pela 2ª vez; criações de Bia Lessa e Gabriel Villela estão em exibição GUSTAVO FIORATTI, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(15/12/2011) Os projetos brasileiros de cenografia que em junho ganharam a Triga de Ouro da Quadrienal de Praga estão reunidos agora na exposição "'Personagens e Fronteiras: Território Cenográfico Brasileiro". A mostra está em cartaz na sede da Funarte, em São Paulo.O prêmio é a distinção máxima do evento, entregue sempre a um país por sua representação na mostra (a principal da cenografia mundial). O Brasil foi laureado pela segunda vez -a primeira vitória foi em 1995. A curadoria foi de Antonio Grassi, presidente da Funarte.

Segundo ele, a exposição que entra em cartaz em São Paulo é parecida com a que foi exibida na capital da República Tcheca. São mais de 20 projetos desenhados para música, teatro, dança e artes plásticas.

PORTAS GRAFITADAS

As cenografias reunidas são assinadas por profissionais como Bia Lessa e por diretores como Antonio Araújo (do Teatro da Vertigem) e Gabriel Villela.

Na mostra, cada projeto é representado por vídeos e objetos de cena, que ocupam uma única instalação de tapumes. Entre as peças estão três portas grafitadas pela dupla Osgemeos, parte de uma série feita para o show do pernambucano Siba em 2008. As portas foram emprestadas por um colecionador.

Há documentários curtos também, um deles sobre o artista plástico curitibano Hélio Leites, artesão com veia de filósofo que profere frases do tipo "fazer o que a gente não gosta é o pior desemprego do mundo".

Também faz parte da mostra a coleção exibida na seção "Figurinos Radicais", com quatro trabalhos, entre eles, o figurino de Marina Reis para a performance "Mulher e Homem Refluxo", produzida em parceria com Peri Pane.

Evento é um dos principais da cenografia

A quadrienal de Praga é um dos mais importantes eventos internacionais direcionados especificamente à cenografia, iluminação e figurino. Realizado desde 1967, discute a aplicação de tecnologia nas artes e também a relação com o design.

FOLHA DE S. PAULO - Panorama apresenta vitrine de diversidade

Festival do Sesi, em sua 11ª edição, investe na formação de público e no apontamento das demandas da área FLÁVIA COUTO, COLABORAÇÃO PARA FOLHA

(15/12/2011) Final de ano é época de fazer balanço dos acontecimentos. Na dança também é assim, algumas mostras são dedicadas às produções recentes e também expõem os caminhos trilhados por profissionais da área.Nessa lógica, o Panorama Sesi de Dança em sua 11º edição, reuniu oito espetáculos bem diferentes. Diversidade que dá uma ideia do quanto a dança se expandiu no Brasil e fora dele.

A boa novidade na edição é a companhia suíça Alias, dirigida pelo brasileiro Guilherme Botelho. O coreógrafo fez carreira na Europa e é pouco conhecido por aqui.

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Os dois espetáculos trazidos, "Le Poids des Éponges" (2002) e "Sideways Rain" (2010), captam dois momentos distintos de Botelho. O primeiro se aproxima de dança-teatro com recursos surpreendentes, como uma chuva que cai em cena.

Já o segundo se concentra no corpo. Os bailarinos atravessam ininterruptamente o palco e a repetição contínua altera a percepção do público. É a questão das emergências vividas atualmente.

A curadora do Panorama, Ana Francisca Ponzio, acerta ao possibilitar que a plateia familiarizada ou não com dança, possa conhecer o trabalho maduro de Botelho.

A mostra se completa com outras ricas vertentes de criação. Antônio Nóbrega (com o espetáculo "Naturalmente - Teoria e Jogo de uma Dança Brasileira") evolui no intuito de conceber a dança popular brasileira como base de sua linguagem contemporânea.

Cristian Duarte ("The Hot One Hundred Choreographers"), Jorge Garcia ("Memórias Paralelas") e Maurício de Oliveira ("Jardim Noturno") são expoentes de alto nível da cena paulistana.

E ainda, em momento histórico, o Ballet Stagium comemora 40 anos com espetáculo feito especialmente para a ocasião.

Por fim, os mineiros da Companhia Mário Nascimento estreiam "Território Nu".

O Panorama Sesi de Dança é eficaz como vitrine das criações. E, junto a outros festivais que discutem políticas para a dança, soma esforços na formação de público e no apontamento das demandas desse campo profissional. Merece mais que uma edição por ano.

FOLHA DE S. PAULO – Teatro: Prêmio Shell anuncia indicados cariocas do segundo semestre

(21/12/2011) DE SÃO PAULO - O Prêmio Shell, mais importante láurea do teatro brasileiro, anunciou ontem os concorrentes aos troféus do segundo semestre no Rio. A peça "Palácio do Fim" foi a recordista de indicações e concorre em quatro categorias, incluindo direção, para José Wilker, e atriz, com Vera Holtz.

"Judy Garland - O Fim do Arco-Íris" concorre em três categorias, com destaque para o elenco: Gracindo Júnior e Claudia Netto disputam troféus.

Na categoria autor, Eduardo Bakr ("4 Faces do Amor") e Rodrigo Nogueira ("Obituário Ideal") se juntam aos indicados no primeiro semestre, Felipe Rocha ("Ninguém Falou Que Seria Fácil") e Pedro Brício ("Me Salve, Musical").

A lista completa dos indicados está no site www.shell.com.br/teatro. Os premiados serão anunciados no começo do ano que vem.

O ESTADO DE S. PAULO - Um renovado Pinóquio

Balé dirigido pela mestra Susana Yamauchi revive boneco de Collodi

22/12/2011 - Seria apenas um espetáculo de fim de ano de alunos de balé, não fosse Pinochianas um tour de force envolvendo grandes talentos, entre eles o da coreógrafa e diretora do espetáculo, Susana Yamauchi, responsável por colocar em cena a livre adaptação de um dos maiores clássicos da literatura italiana, As Aventuras de Pinóquio, de Carlo Collodi. Anunciando as novas diretrizes pedagógicas da Escola de Dança de São Paulo, Pinochianas antecipa o que será a transformação da instituição (hoje precariamente abrigada sob o Viaduto do Chá) a partir da mudança para sua nova casa, o prédio que está sendo construído ao lado do Conservatório Dramático e Musical.

Pinochianas reuniu 350 alunos da escola num espetáculo de dança coletiva que não destacou nenhum solista. De maneira inusual, a diretora Susana Yamauchi dividiu as 14 cenas do espetáculo entre alunos de diferentes estágios e idade, reunindo-os apenas no ensaio geral. Sem se preocupar em ser fiel à narrativa literária, ela construiu "paisagens temáticas" que acompanham a transformação

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do boneco em menino e sua consequente relação com o mundo real. Desse confronto emerge, vitoriosa, a figura amplificada da marionete - todos os pequenos bailarinos são Pinóquios. Eles tiram o espectador de sua zona de conforto, num espetáculo que tem tanto a solenidade da morte como o descompromisso da festa.

Pinochianas é, antes de tudo, um balé que não subestima a inteligência do espectador. O figurinista Fábio Namatame interpretou esse confronto entre realidade e imaginário como um jogo suprematista sintonizado com a eclética trilha do compositor Ed Cortês, que recria não só o universo folclórico brasileiro como reverencia Nino Rota na cena em que Pinóquio encontra as marionetes do circo. O suprematismo de Namatame, que faz uso contrapontístico de roupas multicoloridas, se traduz em malhas sobre o fundo negro do funcional cenário de Felippe Crescenti - o que destaca as faixas verticiais dos figurinos, especialmente na sequência em que Pinóquio se perde num labirinto de corpos.

Nesse aggiornamento do drama de Pinóquio - saqueado, morto e ressuscitado pelo amor de um faxineiro (Ronaldo Ramos) -, o boneco vira até vítima de bullying escolar, uma das melhores sequências desse espetáculo emocionante, grandioso.

ARTES PLÁSTICAS

FOLHA DE S. PAULO - 'Caos e Efeito' é divisor de águas na história das mostras em SP

Crítica/Artes Plásticas

Ao romper fórmulas, Paulo Herkenhoff se destaca entre cinco curadores que enfocam os dilemas de sua função FABIO CYPRIANO, CRÍTICO DA FOLHA

(15/12/2011) A exposição "Caos e Efeito", no Itaú Cultural, é um divisor de águas na história das mostras da cidade.Concebida por cinco curadores, que segundo a instituição são os cinco com maior projeção na primeira década do século 21 no país, ela revela os dilemas do que significa expor obras de arte.

Quatro deles, Fernando Cocchiarale, Lauro Cavalcanti, Moacir dos Anjos e Tadeu Chiarelli, organizaram seus módulos em formatos convencionais: conjuntos de obras que ilustram ideias, mas que poderiam estar reunidas em livro, já que a exposição não demanda vivência.

Moacir dos Anjos, por exemplo, em sua seção "As Ruas e as Bobagens" parte da série "Espaços Imantados" (1968), de Lygia Pape, que registra concentrações de pessoas em locais públicos, como uma roda de capoeira ou a banca de um camelô.

São imagens que apontam como ações cotidianas são capazes de transformar seu entorno. A partir daí, o curador reúne trabalhos que podem se relacionar com tal efeito, mas que são tão contidos e domesticados no espaço expositivo que contradizem a própria ideia de Pape.

É justamente esse dilema -de ideias que não acontecem no espaço expositivo porque são apenas ilustrações delas- que permeia grande parte do trabalho curatorial atual.

Mostras de arte contemporânea se transformaram em tediosas sequências de obras que apenas validam conceitos. Por isso, serviços educativos dos museus ganham relevância: o discurso se sobrepõe ao trabalho artístico.

RUPTURA

No entanto, tudo isso não estaria tão explícito se Paulo Herkenhoff, em seu módulo "Contrapensamento Selvagem", não tivesse rompido de maneira tão radical com essa fórmula fácil.

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Sua mostra é o próprio caos. Nela, torna-se difícil identificar a autoria de muitos trabalhos e até mesmo o que pode ser uma obra de arte. Mas, afinal, não tem sido essa uma questão essencial da arte desde os anos 1960, acabar com os limites entre arte e vida?

Em parte isso ocorre graças ao trabalho do artista carioca radicado em Recife Fernando Perez, responsável pela maior parte dos objetos que envolvem a exposição e a transformam num conjunto orgânico, uma experiência que só pode ser de fato vivenciada no espaço.

Transgressor, polêmico, só com artistas de fora do eixo Rio-São Paulo, Herkenhoff cria um oásis frente ao marasmo burocrático que a arte contemporânea atravessa.

O ESTADO DE S. PAULO - Traços ciganos de um mestre

Nova edição da Gráfica celebra a obra do caricaturista Cássio Loredano

(18/12/2011) Publicada quatro vezes ao ano, a revista Gráfica - Arte/Internacional, que tem por editor Oswaldo Miran, destaca em sua mais nova edição, dupla, de número 73/74, a ilustração. A obra do caricaturista Cássio Loredano, colaborador do Estado, é apresentada por meio de um conjunto farto de seus trabalhos e ainda por trecho de texto do desenhista, humorista e escritor Millôr Fernandes. Mas há ainda muito mais na edição da revista, como a exibição de criações do gravurista uruguaio Maurício Planel, que explora a técnica da colagem.

"Fragmentado, cigano, olhar espantado de quem não se surpreende" - assim Millôr Fernandes define Loredano, mestre da caricatura na imprensa desde 1972, mas que iniciou sua carreira no jornalismo primeiro como repórter, em 1968. "Em 30 anos Loredano 'fotografou' na sua rolefléquici Marguerite Duras e Nara, Billie Holiday e Maria Bethânia, se espalhou pelo Estadão (se prêmios valem alguma coisa ganhou tantos que nem cito), teve contato íntimo e de patota, talvez até de movimento, com Chico Caruso, Trimano, Elifas Andreato, esteve no Pasquim, passou pelo O Globo, andava no Jornal do Brasil, viram-no publicado no Jornal de Lisboa, foi personagem de publicações em Barcelona, Madri, e mais muitos lugares que nem sei e nunca vou saber", define de uma maneira descontraída Millôr no texto extraído do livro Loredano Alfabeto Literário (Editora Capivara/2002).

A revista Gráfica traz, assim, uma espécie de panorama de trabalhos do caricaturista, dedicando páginas inteiras às suas obras. Por meio de seu traço, o artista representa, por exemplo, um magro poeta Carlos Drummond de Andrade diante de uma pedra, numa referência ao famoso poema do escritor, ou a autora Clarice Lispector em preto e branco apenas com um de seus olhos verdes, o que o destaca. Mas tantas outras personalidades da cultura desenhadas por Loredano figuram na edição, entre elas, os músicos Cartola (ilustração reproduzida ao lado), Jorge Ben, Zé Ketti e Pixinguinha; a intelectual norte-americana Susan Sontag; ou, em duplas, os filósofos Karl Marx e Engels e os espanhóis Buñuel e Lorca. Até o pintor irlandês Francis Bacon não escapou do olhar do caricaturista, ganhando, em seu traço, bochechas gigantes.

Já na seção dedicada às criações do uruguaio Maurício Plantel, um amplo conjunto de trabalhos que apresenta o universo da colagem. Em suas obras, Plantel mistura o desenho e a imagem apropriada (ilustrações ou fotografias), abrindo campo, assim, para composições de "um tempo de fantasia" ou "fábulas visuais", como escreve Luis Trimano.

A revista Gráfica foi criada em 1983 e, atualmente, é impressa em Curitiba, no Paraná, pelo grupo Posigraf. Com pequenos textos e grande espaço para as imagens, a publicação, neste novo número, tem uma sobrecapa especial com gravura do designer paranaense Marcos Minini. Mais ainda, a publicação apresenta um ensaio fotográfico de Lina Faria na qual estão registros de paredes e muros clicados em Curitiba. O número também apresenta como um clássico os trabalhos tipográficos do italiano Italo Lupi, autor da identidade visual da Trienalle de Milão e um pôster encartado criado por ele. Já a capa é assinada por Cau Gomez.

O ESTADO DE S. PAULO - Obra de Resende ameaçada

Prefeitura de Porto Alegre pretende remover Olhos Atentos por falta de segurança, mas artista rebate acusação

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ELDER OGLIARI, PORTO ALEGRE

O município de Porto Alegre planeja remover a obra Olhos Atentos, de José Resende, das proximidades da Usina do Gasômetro, no centro da cidade. A possibilidade foi admitida pelo prefeito José Fortunati (PDT) ao jornal Metro. A justificativa é que a escultura está deteriorada e oferece risco ao público que circula pela área, à margem do Lago Guaíba, sobretudo nos fins de semana. A decisão gerou polêmicas em redes sociais, com defesas da manutenção da estrutura no mesmo local, sob o argumento da não interferência do poder público em obras de arte, e da posição da administração municipal.

A discussão considera a possibilidade de interação do público com a obra. Criada como uma espécie de escultura e instalação, Olhos Atentos foi doada à cidade pela Bienal do Mercosul de 2005. A estrutura metálica tem base no dique sobre o qual passa a Avenida Beira-Rio e se projeta para o espaço livre, em direção ao lago, como uma passarela. Inicialmente, os visitantes caminhavam sobre as grades e vigas de ferro para observar o Guaíba e tirar fotos com a paisagem do lago ao fundo. Desde 2009, no entanto, só alguns ainda fazem isso clandestinamente porque a obra está interditada.

A suspensão do uso da estrutura pelo público deve-se ao desgaste da obra. A corrosão deteriorou parcialmente a grade de metal pela qual os visitantes caminhavam e pode ter prejudicado também a base. Desde a interdição, a prefeitura buscava alternativas para o monumento, mas não chegou a anunciar nenhuma solução que passasse pela restauração e manutenção da obra no mesmo local.

"Todos fomos surpreendidos. Foi uma declaração infeliz do prefeito de Porto Alegre, não foi boa política dele tentar fazer algo na surdina. E isso está causando repercussão", disse Resende ao Estado. "Os cálculos são todos perfeitos. O que deteriorou foi o piso, que deveria ter sido feito com o mesmo material que se usa nas calçadas, como o respirador do metrô. Na verdade, a peça foi feita com outro material. Não há risco de cair. A melhor solução é apenas restaurar o piso." Segundo ele, a Fundação Bienal do Mercosul, que doou a peça, mobilizou-se para reformar a obra, mas a prefeitura não respondeu. / COLABOROU CAMILA MOLINA

O ESTADO DE S. PAULO - Uma outra Tarsila

Em livro, Maria Alice Milliet revê obra da pintora modernista e sua relação com Paris

ANTONIO GONÇALVES FILHO

Contar a história do modernismo brasileiro e de sua principal representante nas artes visuais, Tarsila do Amaral (1886-1973), exige não só conhecimento das relações da artista com o protagonista dessa história, Oswald de Andrade (1890-1954), como das articulações de ambos para projetar o trabalho da pintora na Europa. A crítica Maria Alice Milliet mostra, em Tarsila (Editora M 10, 276 págs., R$ 300), que o confronto entre a arte dos amigos parisienses de Tarsila e as pinturas da artista abre uma nova trilha para o estudo da modernidade brasileira - em particular, da antropofagia cultural proclamada pelo primeiro marido da pintora, não por acaso o autor do Manifesto Antropófago que deu início ao movimento, em 1928 - isso se desconsiderarmos que Macunaíma, de Mário de Andrade, seu verdadeiro marco zero, começou a ser escrito em dezembro de 1926, embora publicado em 1928.

Maria Alice Milliet, convidada pela família de Tarsila para escrever o livro, patrocinado pela Brasilprev Seguros e Previdência, segue o caminho aberto por outra crítica, Aracy Amaral, para desenvolver esse confronto. Ambas, aliás, são ex-diretoras de uma instituição habituada a confrontos pedagógicos entre artistas, a Pinacoteca do Estado. Aracy Amaral chamou a atenção, por exemplo, para a influência do pintor alemão Hans Baluschek (1870-1935) na formação da consciência social de Tarsila, antes uma modernista que circulava pelos salões elegantes de Paris. Militante envolvido em movimentos de trabalhadores, Baluschek foi perseguido pelo regime nazista e denunciado como artista "degenerado" em 1933.

O livro Tarsila mostra as duas fases da vida da artista, a rica e ambiciosa pintora que mantinha relações com a intelectualidade francesa para ter acesso às melhores galerias parisienses nos anos 1920, e o período de decadência financeira de sua família, após o crack da Bolsa de Nova York, em 1929. A autora acompanha a evolução da pintura de Tarsila como se esta fosse uma Zelig de saias vestida por Poiret, tão preocupada com a autoimagem como em cultivar amigos em Paris que, de

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fato, facilitaram sua carreira (entre eles, o poeta Blaise Cendrars, que recomendou a ela fazer sua primeira exposição como uma parisiense, "não como uma manifestação sul-americana").

Aluna de André Lhote, ela foi atrás de Léger, emulou o estilo do mestre e, entusiasmada com a escultura de Brancusi, não só comprou uma escultura sua (Prometheus, de 1911) como tratou de pintar um autorretrato (em 1924) que traçasse uma correspondência analógica com uma das esculturas mais conhecidas do romeno, La Muse Endormie (A Musa Adormecida, 1909-10). Nesse jogo mimético, Tarsila, antenada com a sedução que a arte africana exercia sobre Picasso, Brancusi, Matisse e Man Ray, também escolheu a máscara do romeno e, intuitiva, concluiu que esse apreço pela arte primitiva podia ser bastante útil para quem vinha de uma terra de índios - com um rico folclore e um mundo mítico ainda inexplorado nos anos 1920.

Maria Alice Milliet chama a atenção não só para como a depuração formal de Brancusi repercute na sinuosidade da pintura modernista de Tarsila como sua posterior atração pelo primitivismo de Henri Rousseau (1844- 1910). As naturezas-mortas e as tipologias alegóricas de Rousseau constituem um modelo para as paisagens "antropofágicas" produzidas, em especial, em 1929. Outra aproximação feita pela crítica ajuda a ver um dos quadros de referência do modernismo, A Negra (1923), que antecede a fase Pau-Brasil, como um cruzamento híbrido das mulheres de Picasso, de uma pequena escultura de Brancusi, feita no mesmo ano (La Négresse Blanche), além de pinturas de Lhote, Gleizes, Léger e, sobretudo, de uma foto que Tarsila guardava em seu álbum de viagens com a imagem de uma mulher negra, a sua babá.

O ESTADO DE S. PAULO – Relações para criar significados

Camila Molina

21/12/2011 - "É uma Bienal que quer se definir por relações entre artistas. O leitmotiv é a ideia de constelação, o conceito de que as coisas só ganham significado quando estão relacionadas", diz o venezuelano Luis Pérez-Oramas, curador-geral da 30.ª Bienal de São Paulo, marcada para ocorrer em setembro de 2012. História e contemporaneidade, assim, vão se entrelaçar na próxima exposição, que terá entre 110 e 115 artistas participantes. Mais ainda, será uma mostra criada a partir de uma crença "na variedade da beleza", diz o curador de "A Iminência das Poéticas", título da edição que vem sendo preparada.

Ainda falta tempo até a abertura da 30.ª Bienal, mas o projeto da mostra já está praticamente definido. De Nova York, Oramas concedeu entrevista à reportagem depois de oito meses de trabalho dedicado exclusivamente à concepção da edição do evento. A lista completa dos artistas será anunciada entre fevereiro e março, mas alguns dos integrantes da exposição, em adiantadas "conversações", já são citados pelo curador. Entre os brasileiros, o concretista Waldemar Cordeiro, o neoconcretista Hélio Oiticica, o jovem Pablo Pijnappel, que vive na Alemanha e nunca expôs no Brasil, e Ricardo Basbaum. Entre os estrangeiros, o fotógrafo August Sander (1876-1964) e Franz Erhard Walther - ambos alemães -, o pintor francês Bernard Frize, o holandês Hans Eijkelboom, o norte-americano Mark Morrisroe, o italiano Bruno Munari e o colombiano Nicolás París.

"O Brasil vai prevalecer. É um polo cultural e primeira potência da América Latina e será uma Bienal que quer assumir o lugar em que ocorre. Mas gosto de dizer que a seleção, em geral, é muito equilibrada, internacional", afirma Oramas. "A arte latina é uma presença óbvia, um dos momentos mais vibrantes da arte está acontecendo neste continente."

O projeto de Luis Pérez-Oramas, curador do Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, foi escolhido em dezembro de 2010 pela direção da Fundação Bienal de São Paulo para a 30.ª mostra da instituição. Desde então, o venezuelano e os cocuradores Tobi Maier, André Severo (artista gaúcho) e Isabela Villanueva vêm se dedicando ao desenvolvimento da edição. Oramas, que depois vai realizar a retrospectiva da artista brasileira Lygia Clark para o MoMA, marcada para maio de 2014, adianta alguns pontos das "constelações" da 30.ª Bienal.

Será uma mostra com cerca de 40% de obras inéditas ou comissionadas para a ocasião; repleta de recortes monográficos dedicados ao trabalho de criadores contemporâneos e históricos - não terá nenhuma obra de Lygia Clark, ele diz; e a abrangência da exposição para outros espaços da capital paulistana para além da "casa" da instituição, o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Ibirapuera. "Nos

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interessa reconhecer o espaço de São Paulo com sua dinâmica e matizes sociais, sem ser demagógico." Oramas cita parcerias em andamento com o Masp - a ideia de comissionar obras de até três artistas em diálogo com o importante acervo do museu paulistano -, com o Instituto Tomie Ohtake e as Casas Museus da Prefeitura de São Paulo.

O projeto de "A Iminência das Poéticas" inclui cinco módulos. Levando em consideração que a anterior 29.ª Bienal tinha mais de 800 obras de 159 artistas, Oramas conta que havia um "sentimento geral" de que a 30.ª mostra deveria ter número menor de participantes. "Levamos em consideração que deveríamos apresentar a complexidade dos processos criativos", afirma. As exibições monográficas de artistas terão peso na exposição e o curador fala na concepção de nichos que promoverão pontuações por meio de "contrapontos" entre os trabalhos. "É mostra contemporânea, mas quer constituir campos históricos, funcionando como arqueologia do presente", completa. As informações são do jornal.

FOLHA DE S. PAULO - Retrospectiva expõe a versatilidade de Maria Bonomi, 76

Artista ítalo-brasileira reconta toda a sua trajetória, das gravuras às esculturas públicas, em mostra em Brasília

Jorge Coli assina curadoria de exposição que reúne cerca de 270 peças, divididas em três eixos temáticos

Obra ‘A Ponte’, de Maria Bonomi, que integra a exposição em Brasília

NÁDIA GUERLENDA CABRAL, DE BRASÍLIA

(21/12/2011) "Da Gravura à Arte Pública", retrospectiva da ítalo-brasileira Maria Bonomi, 76, reúne cerca de 270 peças na exposição mais ampla feita sobre a artista, que é gravadora, escultora, pintora, muralista, figurinista e cenógrafa. Apesar de ter como marca registrada as gravuras, Bonomi é também reconhecida por suas obras públicas. É dela, por exemplo, a fachada do edifício Jorge Rizkallah Jorge, na rua Bela Cintra, em São Paulo, e a escultura "Plexus", na praça Oswaldo Cruz, no início da avenida Paulista.

Parte dessas obras está representada em fotos na mostra em Brasília. Com curadoria de Jorge Coli, é guiada por três eixos: o panorama (a formação), o útero (o feminino) e o calabouço (a arte política).

O primeiro foca as xilogravuras e outras técnicas gráficas e pictóricas desenvolvidas ao longo da vida pela artista, que desde cedo frequentou importantes círculos culturais no Rio e em São Paulo.

Estão nesse espaço alguns dos desenhos feitos na infância -aos seis anos, a artista fez ilustrações em nanquim para o livro "Cobra Norato", do poeta Raul Bopp.

E também sua obra mais recente, "A Ponte". "Essa obra representa a questão da minha vida atualmente: não sei de onde vim nem para onde vou", afirma.

Bonomi faz questão de exibir as matrizes de suas obras, com o intuito de aproximar o público do seu processo de criação.

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O segundo espaço, todo vermelho e espelhado, traz como destaque a obra "Paris Rilton", em alusão à herdeira da cadeia de hotéis Hilton.

Trata-se de uma escultura em bronze cercada de outras menores. Em seu interior oco, há revistas, perucas, acessórios. Um vídeo de Valter Silveira, com críticas à cultura consumista, completa a obra.

Por fim, "o calabouço" traz lembranças da artista sobre a Segunda Guerra Mundial (1939-45) -que a obrigou a vir para o Brasil ainda criança- e outros temas políticos, como a prisão na ditadura.

No espaço sombrio e cheio de grades, são retratadas as "várias depressões" de Bonomi, como ela define.

Fica patente a diversidade da artista. "Eu uso todos os meios que me fornecem, eu tenho esculturas feitas com laser. Você imagina o que teria feito o Picasso com [arte] digital? O Miró com raio laser? A gravura não é uma técnica, é uma linguagem."

Bonomi diz que escolheu Brasília, fora do eixo cultural Rio-São Paulo, para sediar a exposição por considerar que a cidade tem "uma liberdade e uma independência que nenhum espaço cultural tem no país".

CORREIO BRAZILIENSE - Criador sem moldura

Inclassificável pela crítica, obra de Bernardo Cid ganha retrospectiva na Caixa Cultural, que abriga ainda reconstituição de evento histórico no Rio de Janeiro

Nahima Maciel

22/12/2011 - Bernardo Cid (1925- 1982) não se enquadrava com facilidade. Um crítico de São Paulo até tentou encaixar a obra do artista no movimento da nova figuração capitaneado por Wesley Duke Lee, mas era difícil cercá-lo de conceitos e definições muito precisas. O curador Sergio Pizoli compreendeu essa complexidade desde a primeira vez em que colocou os olhos sobre uma pintura escura e pesada, povoada por figuras humanas um tanto desconjuntadas. Quando olha a reunião de obras de Fazer arte — A obra oculta de Bernardo Cid, exposição em cartaz na Caixa Cultural, Pizoli compreende melhor a sensação: “São pinturas que beiram o preto, o marrom. As figuras têm uma formação de desintegração, ele vai fundo nessa coisa da fisicalidade, da pele, do músculo, das veias.

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Quando você olha, é de uma delicadeza pictórica, tem uma sobreposição de cores, uma velatura como se fosse aquarela”.

De fato, a manipulação das cores na obra de Bernardo Cid beira o sombrio sem, no entanto, descartar um clima etéreo. Suas figuras pairam em coloridos translúcidos. A transparência funciona como recurso para expor os contrastes e as delicadezas buscados pelo pintor. Combinar esses dois mundos funcionava como desafio, mas também como reflexo da própria história do artista.

Cid nunca seguiu estudos formais em artes visuais. A formação em engenharia elétrica diz muito sobre os caminhos pictóricos e formais do artista paulistano. “Era uma pessoa extremamente meticulosa, e isso vem dessa coisa de ser engenheiro eletrônico, aquela coisa de solda, fiozinhos, pontinhos. Ele era bastante preciosista”, conta Pizoli. Obras como Integrações, de 1967, e Reflexões, da década de 1970, vêm carregadas de uma riqueza de detalhes que faria inveja a Hieronimus Bosch e seu Jardim das delícias.

A particularidade da obra do pintor, no entanto, está na diversidade de linguagens pelas quais transitou durante o amadurecimento da obra. “Você reconhece o Cid como um artista único. Ele tem um trabalho muito diferenciado de toda a produção dos anos 1960 e 1970, quando tinha o realismo mágico. Eles conviveram, trocaram influências, mas a exposição tenta mostrar como o artista foi chegando na pintura dele.”

Desenho com unhasOs grafismos marcam as primeiras obras de Cid. Por vezes excessivos, esses traços acabam depurados ao longo do tempo. Uma aparência aquarelada também permeia especialmente as pinturas. Minucioso, o artista chegou a desenhar com as unhas: riscava o papel para depois cobrir os traços com grafite. Às vezes, interessava-se pelo universo tridimensional e em um desses desvios ganhou o concurso para desenhar a estatueta do Prêmio Jabuti. No casco do animal esculpido em bronze, Cid imprimiu letras para lembrar a importância da escrita e da leitura no percurso da humanidade. As investidas na escultura eram ocasionais, e a exposição da Caixa se concentra em desenhos, pinturas e gravuras, especialmente as litografias concebidas quando o artista estava doente e desenganado.

Pizoli escolheu montar a exposição de maneira a evidenciar a trajetória e o processo criativo do artista. Colocar desenhos, pinturas e gravuras lado a lado tem função didática e serve como prova da coerência visual e conceitual de Cid. A repetição de figuras, uma certa tendência arquitetônica na

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composição e a translucidez marcam todas as fases. Mais abstrato no início da década de 1960, figurativo e com uma postura mais econômica em relação aos recursos gráficos na década de 1970, o artista chegou a investir em uma fase de trabalhos políticos, engajados contra a ditadura, mas sem abrir mão da identidade pictórica que o tornava facilmente reconhecível no meio artístico da época. A aproximação com os poetas concretos e, em particular, com Pedro Xisto levou Cid a incorporar o texto às obras.

Durante muito tempo, o artista passou a escrever atrás das pinturas e o curador levou algumas citações para as paredes da galeria. O livre trânsito pelas linguagens e movimentos era uma das marcas da personalidade do pintor e o principal motivo de Pizoli evitar qualquer tipo de classificação. “O desenho dele é muito especial, particular, não consigo rotular. Ele tem uma participação surrealista? Sim. Tem essas coisas do realismo mágico? Sim. Tem figuras especiais pintadas? Ok. Mas não se enquadra.”

FOLHA DE S. PAULO – Os valores e a cultura / Artigo / José Roberto Teixeira Coelho

JOSÉ ROBERTO TEIXEIRA COELHO é professor titular de Ação Cultural da USP, autor de "História Natural da Ditadura" (2006, vencedor do Prêmio Portugal Telecom), entre outros livros, e curador do Masp (Museu de Arte de São Paulo).

O cancelamento de uma exposição de arte no Rio foi objeto de recente reportagem da "Ilustrada", na qual o foco caiu em partes iguais sobre a censura a uma obra, os valores de quem paga pela arte, e sobre as leis de incentivo cultural, que, diz o texto, delegam às empresas o poder de decidir o conteúdo cultural a mostrar e, portanto, subentende-se, são (também) as culpadas.

Aqui não se discutirá a censura à arte. Censura é inaceitável, fim. Assentado isto, os pontos a discutir são dois: 1) de onde podem vir os valores que orientam a escolha da arte a apoiar e 2) as leis de incentivo que conferem poder de escolha à sociedade civil.

O título maior daquela notícia dizia: "Valores corporativos ditam o financiamento cultural". É verdade. Valores, corporativos e outros, sempre o fazem. Na história das sociedades ocidentais, esses valores foram e têm sido ditados pela Igreja, pelo Estado e pela sociedade civil (que inclui a iniciativa privada).

Embutidos nesses atores estão curadores, críticos e artistas, igualmente procurando impor seus valores -estéticos, morais, ideológicos, comerciais. É assim que as coisas funcionam. Quando se critica os "valores corporativos", subjaz a ideia de que há outros melhores para impor esse "diktat".

Quais? Nem a Igreja (qualquer delas) nem o Estado (qualquer deles, com qualquer governo) têm mais legitimidade do que a sociedade civil (com essa sua parte, a iniciativa privada) para ditar valores à arte.

De resto, por lei a igreja não mais o pode fazer. Quanto ao Estado, é imensa ingenuidade, ou perversão, supor que ele (qualquer que seja, e seja qual for seu governo) ditará valores culturais mais adequados. A história o comprova. Resta a sociedade civil, com todo o seu espectro e suas inúmeras opções.

Os "valores corporativos" (expressão ruim: a igreja também tem seus valores corporativos, como o Estado) não são os únicos, nem os decisivos, dentro da sociedade civil. Mas dela fazem parte.

A questão, portanto, não é saber se valores, quaisquer que sejam, podem ser ditados à arte: eles são sempre ditados. Cabe escolher o caminho mais favorável à arte e à sociedade. As leis de incentivo fiscal, com sua delegação da escolha à sociedade civil, são parte do cenário, e parte importante, uma vez que o mercado da cultura é incipiente, e o Estado, ausente.

É preciso continuar lembrando que a criação dessas leis significou uma ansiada independência (embora relativa) da sociedade civil diante do Estado que a oprimira durante 20 anos. Mesmo porque cultura é uma questão da sociedade civil, não do Estado.

As leis de incentivo à cultura continuam sob ataque. E sua defesa é tímida ou inexistente, sobretudo em público. Parece politicamente correto combatê-las, mesmo se todos os demais incentivos em

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todos os demais terrenos sigam sem contestação. Pode-se discutir se o incentivo fiscal deve ser apenas para o artista independente ou se cabe também para a instituição.

Mas o sistema da arte precisa dos dois: o artista fazendo sua parte, a instituição pondo-o em contato com seu público e com a história. A medida dessa distribuição é o que cabe discutir. A instituição corporativa pode ter seu espaço, e as instituições artísticas sem corporações a mantê-las, idem. Ao lado do Estado, outro ator naquilo que lhe cabe.

A arte, ainda mais que a cultura, é um combate pelo gosto. E esse combate se apoia em valores, todos conflitantes. Só desse conflito surge algo estimulante. Cabe compensar o sistema ali onde os pesos se tornam desiguais, não aboli-lo ou a algum de seus atores.

FOLHA.COM – Sobrinho quer criar centro cultural com espólio de Sergio Britto

GUSTAVO FIORATTI, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(22/12/2011) O ator Sergio Britto, que morreu no último sábado aos 88 anos por complicações respiratórias, foi um meticuloso arquivista de sua própria memória. Fazia anotações de tudo. Sobre arte e, mais frequentemente, sobre teatro, o campo de expressão que o colocou entre os artistas mais importantes do país.

"Ele via uma peça, chegava em casa e escrevia", atesta o sobrinho do ator, Paulo Brito, um dos responsáveis pelo espólio. "Era muito disciplinado. Pedia inclusive para amigos fazerem comentários, criticarem espetáculos", completa o diretor Eduardo Tolentino, que o dirigiu em "Recordar É Viver" (2010).

Pois essas anotações permanecem guardadas, esperando. Assim como estão guardadas as coleções de vídeos e DVDs, os programas de espetáculos, os recortes de jornais e as fotos que podem vir a formar um dos mais interessantes acervos sobre a história do teatro brasileiro.

Segundo o sobrinho do ator, a ideia é organizar o legado de Britto em um centro cultural, ainda sem endereço determinado, provavelmente no Rio de Janeiro, sua cidade natal. O projeto ainda é embrionário e carece de um patrocínio. Também não há um levantamento exato dos itens que pertencem a essa coleção.

Paulo, que hoje tem 60 anos e é músico, por enquanto rejeita a ideia de levar a coleção ao Instituto Moreira Salles, que mantém acervos importantes, como o que foi deixado pelo ator Paulo Autran.

O sobrinho de Britto também quer publicar, em breve, um livro com uma longa entrevista realizada com seu tio nos últimos anos.

Com o título "Diálogos", o trabalho faz um apanhado de pensamentos do ator: relembra a passagem pelo Teatro Brasileiro de Comédia, em São Paulo, passa pela formação do Teatro dos Sete ao lado de Fernanda Montenegro e aborda a parceria com Gerald Thomas, quando o encenador chegou ao Brasil.

O novo título complementaria a memória de Britto já publicada, a autobiografia "O Teatro e Eu", em que ele detalha episódios de sua carreira e de sua vida pessoal. Há, por exemplo, passagens da juventude, como uma tentativa de suicídio num quarto de hotel, que o sobrinho de Britto classifica como um evento já ligado ao teatro.

"Ele contava que voltou do hospital e decidiu ir ao restaurante do hotel mesmo com as ataduras nos punhos... Como se estivesse entrando em cena", conta Paulo. "Com isso, meu tio dizia que o ator é sobretudo um comunicador."

FOLHA DE S. PAULO – Fernanda Gomes constrói paisagem entre terra e mar

Obras da artista ocupam sala do MAM do Rio com vista para orla e cidade

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Ela ficou conhecida nos anos 80 com obras que mesclavam repertório minimalista e objetos íntimos e domésticos SILAS MARTÍ, NO RIO

(23/12/2011) Fernanda Gomes espalhou suas obras no chão de uma enorme sala no Museu de Arte Moderna do Rio. Mandou remover as divisórias de gesso e a película escura que bloqueia a luz do sol, abrindo janelas para a vista do mar de um lado e da cidade do outro."Queria libertar esse espaço de qualquer interferência", diz Gomes, caminhando entre as peças no museu do aterro do Flamengo, onde faz agora uma retrospectiva. "É uma paisagem poderosa, de mar paradisíaco e vida urbana arrebatadora, caos e riqueza difíceis de absorver."

No caso, são as obras que absorvem esse impacto. Suas esculturas e instalações parecem restos de um naufrágio calculado, esquecidos ali como marcadores de um tempo suspenso entre a fúria da cidade e a calma da orla.

"Arte não precisa ter medo do mundo. Gosto da paisagem aqui dentro", diz Gomes. "É a percepção do espaço que vai se entranhando, um acúmulo de perspectivas."

Desde os anos 90, quando despontou na arte do país, Gomes vem arquitetando essas paisagens minimalistas, de fragmentos de objetos domésticos a planos neutros de madeira, plástico e tecido.

Ela alterna nessas obras a forma pura de telas em branco e restos de madeira e resquícios da vida pessoal, de pontas de cigarro e copos d'água a um paraquedas estendido no chão do museu.

Mas nada disso chega a existir como objeto isolado. Tudo parece sempre depender de sua posição no espaço e se articula em conjunto como um arranjo de formas que se alastram -cenário que desperta mais dúvidas do que consegue oferecer respostas.

"Prefiro a surpresa a algo esquemático", diz a artista. "É um processo lento, de fazer a exposição no lugar, um dia depois do outro. Acaba sendo um amálgama do espaço com a obra, é difícil dissociar uma coisa da outra."

Tanto que, neste ano, Gomes fez outras duas mostras em que o ambiente se fundia com as peças. No Centro Cultural São Paulo, ocupou uma galeria envidraçada, em que a luz do sol mudava ao longo do dia a percepção das obras.

Em Guadalajara, também levou suas peças minimalistas, que arriscam desaparecer no espaço, ao 23º andar de um prédio modernista, com vista panorâmica para toda a cidade mexicana.

Mas em todos os casos, uma coisa prevalece. É a paleta reduzida de cores, brancos e marrons quase apagados, que serve para fazer reverberar o entorno das peças, como se digerisse o espaço.

"Tem o branco que rebate tudo, absorve o tempo, a sujeira", diz Gomes. "É aí que vejo as coisas que não via antes, sinto o espaço no corpo."

Raio-x: Fernanda gomes

VIDA

Nasceu no Rio, em 1960. Sua obra é conhecida a partir dos anos 90 por reunir objetos banais do cotidiano, que são recombinados ou rearranjados em instalações

CARREIRA

Depois de participar do Panorama de Arte Atual Brasileira, em 1990, é convidada para bienais do mundo todo na mesma década. Esteve na Bienal de São Paulo em 1994 e na Bienal de Istambul, em 1995. Também foi escalada para a Bienal de Veneza em 2003

FOTOGRAFIA

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ESTADO DE MINAS - FUNARTE » Mostra de fim de ano

Jaula do Rio de Janeiro, fotografada por Frederico Câmara para a mostra Visão do paraíso Brasil (Parte 1)Ailton Magioli

(15/12/2011) - Distinguidos com o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2011 (Estação Funarte de Artes Visuais Belo Horizonte), o fotógrafo Frederico Câmara e as artistas Raquel Kogan e Lea van Steen inauguram exposições hoje à noite, na Funarte MG – a mostra fica em cartaz até janeiro. Em Visão do paraíso – Brasil (Parte 1), Frederico apresenta a primeira parte de seu projeto, realizado em 15 cidades brasileiras, inclusive as mineiras BH, Ipatinga e Varginha.

Natural de Governador Valadares, o fotógrafo inaugurou o trabalho em 2003, na Alemanha (Stuttgart), onde foi artista residente de instituição de pesquisa durante nove meses. “Lá, comecei a trabalhar com fotos e paisagens, descobrindo as paisagens artificiais das jaulas de zoológicos”, relata Frederico Câmara, que pretende publicar um atlas sobre o tema. Japão, China, Cingapura, Reino Unido, Irlanda e Noruega foram países também fotografados por ele antes de iniciar o trabalho no Brasil, que ele dividiu em quatro regiões geográficas.

A primeira, o Centro, inclui Minas, Rio, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Roraima e Acre, e está sendo apresentada na mostra da Funarte MG. No local são projetadas fotos coloridas de 2,30cm x 1,85cm. O objetivo do artista é promover estudo da representação da paisagem do interior das jaulas, artificial – além do uso de esculturas, pinturas, fotografias e outros elementos da cultural local, ele já encontrou, no caso da China, até personagens de histórias em quadrinhos e, no Reino Unido, um Sol artificial.

Norte-Nordeste, Estado de São Paulo e o Sul serão as outras três partes a serem fotografadas por Frederico. “Até quando tiver recursos, estarei fotografando”, anuncia ele, que já editou pequenos catálogos das mostras da China e Reino Unido, além de um website. Em BH, lança, paralelamente à exposição, livreto com imagens e textos.

Efeitos óticos

Já a dupla Raquel Kogan e Lea van Steen, que produziu até então 12 trabalhos conjuntos, traz à capital mineira Ponte, videoinstalação interativa e imersiva, por meio da qual o próprio público se

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envolve em uma série de efeitos óticos. “São fenômenos que a gente vê todo dia e acaba não percebendo”, afirma Raquel, lembrando que a interação envolve inclusive o visitante.

“Acaba funcionando de maneira diferente em cada espaço onde ela é montada”, adverte a artista. Em São Paulo, no nono andar do Sesc Paulista, havia visão onírica, tendo por pano de fundo a Avenida Paulista. “Trata-se de uma série de consequências”. A projeção em tela tem em frente um vidro, responsável pelo efeito ótico.

Centros culturais

Acostumada a fornecer mão de obra para elencos como os do Balé Bolshoi e do Cirque du Soleil, além dos naipes de algumas orquestras internacionais, a periferia de Belo Horizonte, enfim, é apresentada à própria cidade por meio da Mostra BH 2011 – Centros Culturais. Sob a responsabilidade do músico e produtor cultural Santone Lobato, do Tambolelê, música, teatro, dança, cinema, literatura, exposições e oficinas produzidas nos centros culturais dos bairros da capital serão levadas ao público, com direito inclusive a um espetáculo cênico-musical (Garimpo), especialmente montado para a mostra.

“Ao conceber o festival, pensei em quebrar a invisibilidade a que estão submetidos os artistas da periferia de BH, muitos dos quais hoje integrados a companhias e orquestras internacionais”, afirma, orgulhoso, o percussionista Santone Lobato, ele mesmo sediado, com o Grupo Tambolelê, no Bairro Glória. “A seleção dos artistas acabou resultando em grande vitrine do que é feito nos confins da cidade, apesar de solenemente ignorado”, acrescenta Santone, contabilizando a participação de sete companhias de teatro, cinco grupos de dança e várias bandas, além de artistas plásticos, grafiteiros e outros profissionais que estão na ativa nos centros culturais da cidade.

MÚSICA

CORREIO BRAZILIENSE - Ah, esses moços...

Os paulistas Dan Nakagawa e Pipo Pegoraro, e o mineiro Flávio Renegado são alguns dos cantores e compositores da cena independente que renovam a música brasileira com boas ideias e poesia caprichada

Teresa Albuquerque

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Dan Nakagawa fez do segundo disco, O oposto de dizer adeus, um projeto coletivo que envolve clipes para todas as canções

(15/12/2011) Talvez você não ligue o nome à pessoa, mas tenha a sensação de já ter visto Dan Nakagawa em algum lugar. Sim, ele é ator e fez algumas novelas (Pé na jaca, Bang bang etc.). O que pouca gente sabe é que se trata de um ótimo cantor e compositor. Ney Matogrosso soube assim que o ouviu. Tanto que incluiu uma música dele, Um pouco de calor, no disco Inclassificáveis (2008). A faixa também era uma das 12 do CD de estreia do autor, O pequeno círculo, lançado pela Lua Music em 2005. E apesar das boas críticas que recebeu à época, Dan só agora, seis anos depois, lança o segundo álbum, o surpreendente O oposto de dizer adeus.

O longo intervalo, ele explica, é porque sua relação com a arte é amadora — e assim ele quer que seja por toda a vida. “Não me sinto obrigado a compor ou a fazer discos. A música, pra mim, é apenas um veículo para comunicar. Fiquei muito tempo sem compor porque não tinha nada urgente a ser dito.” Nesse período, ele atuou em algumas novelas, compôs trilha para um grupo alemão de dança, viajou bastante. Quando teve algo a dizer, fez isso em 10 canções, escritas ao longo de quatro meses. “Posso ficar anos sem encostar no violão e compor um disco inteiro em poucos meses. Quando tenho algo pra ser dito, entro em surto criativo, não durmo, não como, é horrível! (risos)”

Paulistano, 36 anos, Dan Nakagawa é um cara cheio de referências, que cita filósofos como Heráclito e Nietzsche, mas está longe de ser pedante. A MPB dos anos 1970 — Gal Costa, Caetano Veloso, Jorge Mautner, Secos & Molhados — é influência forte, assim como Beatles e Stones, Janis Joplin e Jimi Hendrix… “Tenho admiração por essa gente que sonhava com um mundo coletivo, que pregava o amor livre, que lutava contra o lado obscuro do ser humano. Cresci ouvindo tudo isso, fez parte da minha educação”, observa.

Da igreja ao OficinaDan montou sua primeira banda quando tinha 10 anos. Uma banda mesmo, com bateria, guitarra, violão, baixo e voz. “Eu tocava uma guitarra vermelha que mal conseguia segurar (risos). A gente tocava Ultraje a Rigor, Milton Nascimento e Beatles. Já era metido”, brinca o cantor, que começou a compor aos 14. Em Nova York, onde morou por um tempo, um dia foi parar numa igrejinha nada turística no bairro do Harlem. “Fiquei em estado de choque ao ver as pessoas cantando com aquela urgência e verdade. Chorei uma hora seguida”, conta ele, que acabou sendo convidado pelo diretor do coral a participar do grupo. “No fundo, só fingia que cantava. Queria é estar ali do lado deles pra tentar pegar, por osmose, um pouco daquela verdade.”

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A experiência artística mais importante, no entanto, foi o ano que passou no Teatro Oficina, com Zé Celso Martinez Corrêa. “Acho o teatro libertador. Me sinto desconfortável, exposto, estranho, frágil, e isso é o que me instiga no trabalho de ator. Gosto de me colocar nesse estado”, comenta. “No Oficina, me entendi como artista brasileiro. Nossa veia antropofágica, a vontade de ‘provocar’ alguma coisa no seu público, de fazer ao vivo e vivo, é uma sensação inexplicável de estar onde se deseja estar, de fazer o que se deseja fazer.”

À sua maneira “amadora” de fazer o que bem quer, Dan Nakagawa criou, em esquema caseiro, um álbum ótimo — que, na verdade, vai além do CD. O oposto de dizer adeus foi o ponto de partida para um coletivo que envolve site (www.dannakagawa.com.br), clipes (para todas as músicas), fotos e textos. “Vi que o assunto do disco — a expansão da primavera, a ligação entre as pessoas, a coletividade, a afirmação da vida contraditória etc. — precisava ser levado a ferro e fogo”, justifica o compositor, que convidou amigos artistas plásticos, fotógrafos, atores, diretores e músicos para o projeto. Entre eles, os cantores Pélico, Tulipa Ruiz e Blubell. “Foi um alvoroço, da noite para o dia estávamos todos trabalhando nisso.” Porque decidiu fazer algo maior (do que ele), o disco atrasou um ano. Mas veio melhor que a encomenda.

Três perguntas - Dan Nakagawa

Ney Matogrosso gravou uma música sua, vocês fizeram shows juntos também. Ele é uma referência importante pra você? Tudo começou no Teatro Oficina, quando fizemos o primeiro show. Foi mágico! “Era um gesto hippie, um desenho estranho”... Saímos tão eufóricos que, no fim, Ney disse: “Vamos fazer mais e gravar um DVD!”. Logicamente, eu topei. Ney é referência pra mim em vários aspectos, primeiro por ser o artista visionário e desbundado que é, mas talvez a referência dele como homem íntegro seja a mais importante pra mim.

Por falar em influências, em seu trabalho há citações a Heráclito e Nietzsche… Você sempre se interessou por filosofia?É uma curiosidade que tenho. Não sou um estudioso, mas leio uma coisa ou outra que me inspira bastante. Heráclito, por exemplo, é um filósofo pré-socrático que já tinha uma visão de mundo bastante oriental, de opostos complementares: o seco molha, o frio esquenta, o duro amolece e por aí vai... Também fala da ideia de a vida estar em constante transformação, apesar de sempre parecer a mesma — “nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos”, eu até uso isso numa música. Já o que me interessou em Nietzsche foi o mito do eterno retorno. Usei essa dúvida para afirmar a vida em O oposto de dizer adeus, do jeito mais misterioso que a vida me parece, às vezes com sentido e às vezes sem nenhum.

Pélico, Celso Sim, Tulipa Ruiz e Blubell participam do CD. De longe, pelo menos, a impressão que se tem dessa interessante cena paulistana é que ela funciona em turma, com discos gravados e shows montados com a ajuda dos amigos…Esses são alguns dos meus amigos talentosos que admiro e que chamei pra participar do disco cantando, compondo, batendo palma (risos). Agora, eu não concordo com essa história de cena paulistana. Tem gente do Brasil todo fazendo música da mais alta qualidade. No meu disco mesmo, eu tenho uma parceria com o Nelo Johann, que é de Porto Alegre. Tem o Filipe Catto, que também é do Sul, tem a Karina Buhr, que é do Nordeste, tem o Momo, do Rio, enfim, a cena é da música brasileira!

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O OPOSTO DE DIZER ADEUSSegundo disco de Dan Nakagawa, produzido por ele e Rogério Bastos. Lançamento independente/YB Music, 10 faixas. Preço: R$ 16,90. Ouça, baixe e veja os clipes no site www. dannakagawa.com.br.

ESTADO DE MINAS - Puro êxtase

O disco Gozos da alma celebra o prazer da convivência do poeta e compositor Geraldo Carneiro com a arte. No país da melodia, fazer letra é "farra", garante ele

Geraldo Carneiro joga em todas: literatura, música, teatro, cinema e TV

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Walter Sebastião(15/12/2011) “Música é uma divindade que traz grandes alegrias”, afirma Geraldo Carneiro, de 59 anos, mineiro de Belo Horizonte que mora no Rio de Janeiro desde a infância. Ele também ama outra divindade: a poesia. Credita às vibrações das musas sua paixão pelas artes – é escritor, atua em cinema, teatro e televisão. Com vários livros publicados, esse poeta se tornou um dos mais brilhantes letristas da MPB. Quem duvida é só ouvir o disco Gozos da alma (Biscoito Fino). A mágica já começa com a canção-título. A parceria de Geraldo Carneiro e Francis Hime transforma em sambista carioca o poeta inglês John Donne (1572-1631), dono de versos cujo sensualismo erotiza a relação com alma.

Gozos da alma traz 12 faixas, parcerias do mineiro com Wagner Tiso, Egberto Gismonti, Astor Piazzolla (que pediu letras a ele), John Neschling, Nando Carneiro, Eduardo Souto Neto, Francis Hime e Afrorreggae. O disco reúne os cantores Mart’nália, Danilo Caymmi, Lenine, Olivia Byington e Zezé Motta. Todas as letras são comentadas pelo autor. Ele chega a dizer que não compôs mais do que aquilo que está no disco. Só acrescentaria ao repertório Água e vinho, parceria com o amigo Egberto Gismonti.

“Esse disco é a celebração de parceiros por quem tenho admiração total. Não são apenas grandes artistas, mas gente cujas qualidades humanas sustentaram muitos sonhos. É uma delícia conviver com quem tem a música dentro de si”, conta. E revela: às vezes, gosta mais de algumas canções que de outras. Porém, essas oscilações não fazem tanta diferença. “Todas me deram alegria inexplicável, êxtase de no mínimo 48 horas. Fazer letra é o lado mais gozoso da vida”, garante.

O poeta e compositor avisa: não sabe falar de seu ofício. “As letras surgem de graça, submissas ao desejo do outro”, resume. Situação avessa à poesia, “que é uma compulsão”. E garante: “Fazer letra é farra”. Não há fórmula para compor. “Há desde letras simples e minimalistas, quase dadaístas, até Chão de estrelas. A diversidade possível é enorme”.

Namoro Geralmente, Geraldo Carneiro procura seguir o espírito da música, atitude que compara à do escultor que fica namorando o mármore. Acredita em ouvido lógico. “Tenho uma hipótese maluca: a letra é um fixador da melodia. As pessoas se acostumam com a música, com a letra e, mais tarde, a melodia pode voar sozinha”. Canção do amor rasgado, parceria com Danilo Caymmi feita para a mulher dele, surgiu em cinco minutos. Naquele dia, o poeta estava exausto. Outras letras levaram um ano para ficar prontas. “São mistérios”, garante.

Geraldo Carneiro faz diferença – “mas pouca” – entre poemas e letras: “Até hoje não sei o que é uma coisa e o que é a outra”. Poesia exige nível de leitura mais denso; letra necessita de maior comunicabilidade. “Francis Hime musicou poemas que eu havia publicado em livro. Aí, já fiquei desconfiado de que não era poesia”, ironiza. Algumas de suas letras acabaram se tornando poemas. E vice-versa. “A música tem o dom de reunir as mais disparatadas informações”, observa.

Geraldo Carneiro começou sua carreira no fim dos anos 1960. Na década de 1970, participou do movimento da chamada poesia marginal. Aqueles jovens poetas, com humor e escracho, driblaram as agruras do cotidiano imposto pela ditadura militar. Na juventude, o mineiro participou das bandas O Poder Avassalador da Lapa e Barca do Sol. Estudou filosofia e letras, é tradutor, autor de peças de teatro, roteirista de filmes e escreve para a TV – em parceria com Alcides Nogueira, assinou o remake de O astro, recentemente exibido pela Rede Globo.

Fala, Geraldinho

• Autodefinição“Rodo bolsinha no calçadão da cultura brasileira. Fazem propostas indecorosas ou de coração para mim. Fico fascinado, sinto que posso fazer e faço. Fico na maior felicidade em participar de projetos dos outros. Adoro poder atender encomendas.”

• Música “Por excesso de trabalho, ouço pouca música – o aparelho de escrever está longe do de música. Mas ouço de tudo, sou onívoro: jazz, bossa nova, rock and roll, Jimi Hendrix. Música boa, independentemente de gênero, é a que faz sonhar.”

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• Parceria“Esse pingue-pongue metafísico leva a lugares imprevisíveis. O resultado do jogo está sempre mudando. Ainda tem os momentos em que o intérprete coloca a voz e o da regravação. Com raras exceções, gosto de tudo. Embarco direto no que o intérprete faz.”

• Rio de Janeiro “O nosso sonho, como mineiros, é fugir para o Rio de Janeiro. É a esperança de conquistar o paraíso, com suas sereias, suas graças naturais e sobrenaturais. A cidade tem muito dos nossos sonhos de libertação erótica, anímica, metafísica.”

• Mestres “Na música: Tom Jobim, Egberto Gismonti, Astor Piazzolla. Em letra: Bob Dylan, Chico Buarque, Aldir Blanc, Vinicius de Moraes. Eles têm as qualidades de sempre da poesia: clareza, senso de humor, lirismo, linguagem fresca e, às vezes, conceitos inovadores.”

• Televisão“Foi amor à primeira vista. Ver filmes de Frank Capra, John Ford e Orson Welles, na Sessão da tarde, deixou a sensação de que TV é máquina do tempo. Todos os heróis populares, dos mais cretinos aos mais sublimes, estão lá. A televisão faz de mim o que quer, fico como índio que ganhou radinho de pilha.”

• Eles ou elas? “Tem sempre um João Gilberto para atrapalhar a tese de que elas cantam mais. Hoje é muito variado, há muita gente com voz boa.”

ESTADO DE MINAS - Filhote do clube

Rodrigo Borges lança Qualquer palavra na loja Fnac do BH ShoppingEduardo Tristão Girão

(15/12/2011) Herdeiro do Clube da Esquina, o cantor e compositor belo-horizontino Rodrigo Borges (filho de Marilton) dá um passo à frente com o lançamento de seu disco de estreia, Qualquer palavra, que une a tradição harmônica mineira ao balanço do pop. O show de lançamento será hoje à noite, na loja Fnac do BH Shopping, com entrada franca.

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“Acompanho meu pai na noite desde menino. Aos 17, passei a tocar profissionalmente, ele foi meu grande professor. Essa é uma responsabilidade boa, de fazer música com qualidade. Quero seguir a trilha de letras bem-elaboradas e harmonias estruturadas”, diz Rodrigo, de 36 anos. A maioria das canções é assinada por ele, sendo que duas foram extraídas do disco Os Borges (1980), que reúne seus familiares.

A produção do álbum ficou a cargo dele e de Tatá Spalla. “Foi uma parceria perfeita, pois ele foi guitarrista do Seu Jorge e é suingueiro como meu pai. Ambos pertencem à escola da harmonia mineira”, conta ele. Marilton tocou piano rhodes em todas as 10 faixas e, hoje, se apresentará ao lado do filho (violão e guitarra) com Juliano Nunes (baixo).

No estúdio, Rodrigo contou com a presença de Lô Borges e Lenine, que cantaram em Deixa tudo ser e Qualquer palavra, respectivamente. O repertório de hoje inclui todas as canções do disco, além de My love (Paul McCartney), Superwoman (Stevie Wonder) e Qualquer caminho, esta última a única canção com letra e música de Márcio Borges.

O artista, que toca frequentemente nos bares Godofredo (às sextas) e Marilton’s, já divulgou seu trabalho em São Paulo e, atualmente, negocia data no Rio de Janeiro. Ano que vem, já tem data marcada na agenda: 3 de fevereiro, em Salvador (BA), com Lenine. Na sequência, quer mostrar o novo trabalho em teatros da capital mineira.

ESTADO DE MINAS - Quem precisa de guitarra?

Eles tocam apenas com baixo, bateria e vocal. A banda The Hell's Kitchen Project lança disco hoje, no Studio Bar. Grupo mistura rock, electro e batidas dançantes

A banda mineira The Hell's Kitchen Project lança A hell of a day, seu CD de estreiaJoão Renato Faria

(15/12/2011) Apenas vocal, baixo e bateria. Essa inusitada formação é a fórmula da The Hell's Kitchen Project, uma das bandas mais interessantes surgidas recentemente na cena belo-horizontina. E que lançar o seu primeiro disco hoje, no Studio Bar, às 22h. O álbum A hell of a day chega para coroar o trabalho do grupo, que há cinco anos mistura rock, electro e batidas dançantes. Por mais diferente que possa parecer, o som é de alto nível e faz o público superar rapidamente a ausência de uma guitarra no palco. “Muita gente ainda estranha quando vê a banda pela primeira vez. Mas a

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gente compensa isso com muita energia ao vivo. Então, no fim do show já está todo mundo acompanhando”, avalia o baterista Leo Braca.

Formado em 2006, o trio, que conta também com o baixista Fernando Craviée e o vocalista Jon Bazko, resolveu abandonar o instrumento de seis cordas por conveniência. “Éramos de outra banda, que acabou. Mas continuamos com a vontade de tocar e resolvemos tentar sem guitarrista mesmo”, recorda Leo Braca. “Quando entramos no estúdio pela primeira vez, o som saiu tão fácil que vimos que podia dar certo”, conta. De lá para cá, a banda fez inúmeros shows em BH e no interior de Minas e também rodou por festivais pelo Brasil, passando por Bahia, São Paulo e Pará.

Para a gravação de A hell of a day, o trio convidou o produtor Chico Neves, que já trabalhou com nomes como Los Hermanos, o Rappa e Hebert Viana. “Conhecemos o Chico por um amigo em comum e ele abraçou a ideia do disco. Tivemos um diálogo muito bom no estúdio, ele deu muita liberdade para a banda e deixou tudo aberto para o que queríamos fazer”, avalia o baterista.

Além de virar parceiro, o produtor presenteou a banda com uma mixagem no exterior. “Foi uma surpresa. Estávamos finalizando a montagem depois da gravação, quando ele disse que ia mandar para a Inglaterra, para ser mixado lá por um parceiro”, explica Leo Braca. O responsável em questão foi Ben Fingley, que tem no currículo trabalhos com Paul McCartney, Beck e Sting. O calibre do profissionalismo no estúdio deixa bem claro o caminho que o grupo quer percorrer daqui para a frente. “Pensamos na banda como produto de exportação mesmo. Queremos consolidar o nosso público aqui, mas há sim a intenção de tentar alguma coisa no exterior”, detalha o baterista.

No show de hoje, além de ganhar o CD, que está incluso no preço do ingresso, o público vai conferir algumas surpresas. “Estamos preparando repertório caprichado e além das músicas do disco, vamos mostrar uma inédita e algumas versões. Vai ser para incendiar mesmo”, finaliza Leo Braca.

FOLHA DE S. PAULO - Novos CDs de Tulipa Ruiz e Otto são escolhidos em edital da Natura

(15/12/2011) DE SÃO PAULO - Tulipa Ruiz, Tom Zé, Otto e Milton Nascimento foram alguns dos nomes escolhidos neste ano pelo programa de incentivo à música brasileira promovido pela Natura.

A empresa de cosméticos destinará aos selecionados R$ 1,5 milhão, via Lei Rouanet ou Lei do Audiovisual, ao todo. O valor é 50% maior que o total distribuído no ano passado.

A cantora Tulipa Ruiz foi escolhida no edital com o projeto de gravação do seu segundo CD, com músicas inéditas, e uma turnê de shows pelo país.

Otto também foi selecionado pelo programa com um projeto de disco novo (The Moon 1111). Ele deve realizar dois shows de lançamento, em São Paulo e em Recife.

O projeto escolhido de Tom Zé terá a gravação de um CD e a realização de dois shows para celebrar seus 75 anos.

Já Milton Nascimento vai celebrar seus 50 anos de carreira com um DVD gravado ao longo de sete shows, no ano que vem.

O edital deste ano também selecionou a diretora Patrícia Francisco, com um filme sobre a cantora e compositora Dona Inah, e o pesquisador Rodrigo Alzuguir, com uma biografia do compositor Wilson Baptista.

O ESTADO DE S. PAULO - As dores de João Gilberto

ROBERTA PENNAFORT / RIO (15/12/2011) Geriatra e amigo de João Gilberto há cerca de dez anos, o médico Jorge Jamili garante: não é uma mera gripe que está tirando o cantor dos palcos, mas também não é que ele tenha uma doença grave, que esteja sendo mantida em sigilo. A pressão psicológica que a turnê comemorativa de seus 80 anos lhe impõe é a responsável por prostrá-lo na cama de casa. Ou seja: João queria

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fazer os shows, mas o próprio corpo o está impedindo. Conforme a data foi se aproximando, o quadro foi piorando.

"Eu nunca o vi desse jeito. Há um mecanismo psicossomático dessa pressão que faz com que ele fique debilitado, debilitado mesmo, mais magro. Em todo idoso, as vias aéreas superiores e as articulações são o que sentem primeiro. A coluna reclama. Não é um piti, é real. Ele não é um excêntrico, um louco. Tem problemas físicos, sente muita dor. Se pudesse, não estaria assim", disse ontem Jamili, fã do pai da bossa nova. "Não sei quanto é físico e quanto é somatizado."

Sem poder dar muitos detalhes, para não expor a intimidade do paciente, o geriatra - que costuma atendê-lo em sua casa, onde, em tempos melhores, cantam mantras juntos -, contou que ele tem duas hérnias. É uma na cervical e outra na lombar, e ambas doem muito quando ele faz shows, por causa da posição do violão e do estresse - João, sabe-se, é um perfeccionista, e precisa se sentir em sua melhor forma para se apresentar.

Trata-se da síndrome do escrivão, explicou Jamili, que acomete os braços e provoca espasmos quando a pessoa repete o movimento que lhe causa dor. "São problemas pertinentes à idade, não é tuberculose, câncer. Ele apresenta um temperamento, que todos conhecemos, que não tolera bem a pressão. E não é um senhor 100% saudável, não é da geração saúde. Por exemplo: eu já falei 2.800 vezes para que mude a alimentação (Jamili é nutrólogo e praticante da medicina ortomolecular), mas João só faz o que quer, é teimoso, como todo senhor de 80 anos." O estado de saúde jamais permitiria que ele entrasse num avião para ir a São Paulo, tampouco que pegasse um carro até o Municipal, acrescentou.

Nos últimos shows no Japão, em 2006, contou, foi preciso muita conversa para que se convencesse a viajar. "Teve o mesmo problema. Há uma certa ilusão de que há relação entre o estado atual e a questão dos ingressos (parte encalhou por causa dos altos preços), mas não tem absolutamente nada a ver. No Japão, estava tudo lotado, o baque financeiro acabaria com a sua vida, e ainda assim ele apresentou essa resistência. A cabeça dele não gira em torno de dinheiro."

ESTADO DE MINAS - Nova geração do rock

A exemplo do pai, Roberto de Carvalho, e da mãe, Rita Lee, Beto Lee declara seu amor ao gênero. Músico acaba de lançar o disco Celebração & sacrifício no Rio de Janeiro

Beto Lee gosta de ouvir a opinião dos pais sempre que termina um trabalho novo

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Ailton Magioli

(16/12/2011) No palco, o comportamento é prático e simples. “É chegar, inspirar, expirar e pirar”, dá a dica Beto Lee, de 34 anos, o filho mais velho de Rita Lee e Roberto de Carvalho, que teve show de lançamento de Celebração & sacrifício, segundo disco solo de carreira (terceiro, com o que gravou com o Trio Galaxy) – quarta-feira, no Studio RJ.

Roqueiro brasileiro assumido, Beto aposta no potencial de faixas como Tente acreditar em mim (com Kiko Zambianchi) e Eu quero desapego (com Tadeu Patolla e Leandro Parente) para conquistar os fãs via rádio, não descartando sequer a hipótese de ter uma delas na trilha de novela da Globo, como quer a maioria dos artistas em busca do sucesso, atualmente. Para o filho de Rita Lee – a “vovó” do rock tupiniquim e a quem Beto deu a neta Isabella, de 5 anos –, o gênero vai muito bem no Brasil.

“Há bandas muito boas que fazem rock. É a opção de cada uma”, diz. “Erasmo e Roberto Carlos estão aí fazendo rock até hoje”, completa, sem deixar de lado os oitentistas Barão Vermelho e Titãs, que sobreviveram ao pagode e sertanejo. Às bandas mais jovens, Beto Lee acredita que falta tempo de estrada até se solidificarem no mercado do rock’n’roll. “Conheço vários músicos que, de repente, acabam mudando de rumo. Não sei se por opção ou se são mesmo obrigados a fazer isso”, diz, admitindo que tudo normalmente é uma “reunião de marketing”.

E ele já foi convidado a uma dessas reuniões? “Uma vez, um produtor sugeriu que eu fizesse um som igual ao de uma banda em voga. Mandou comprar um bonezinho, uma bermuda”, afirma, admitindo não ser um cara que possa ser moldado. “Nasci no clubinho”, afirma, desvencilhando-se do assunto. Acrescenta que muitos jovens músicos “chutam o que têm de bom para ganhar dinheiro”. Distante do comportamento da mãe, que, no auge de carreira, exibia-se ferina, Beto Lee não foge à defesa das origens, ainda que garanta que Rita Lee e Roberto de Carvalho não fiquem fuçando a vida dele.

Ele conta que gosta de mostrar os discos que faz aos pais. “A opinião deles é importante, mas sempre tem aquela coisa de família”. “É de boa!”, suaviza a relação, provando no próprio disco novo ser um fã da mãe – sempre toca nos shows pérolas de Rita Lee na época de Os Mutantes e Tutti-Frutti. Da última, além de resgatar Corista de rock, a faixa de abertura do disco Entradas e bandeiras, de 1976, Beto convidou o baixista Lee Marcucci para tocar nos rocks rasgados Tente acreditar em mim e Eu quero desapego.

“Corista de rock é um lado B, não um hit”, faz questão de dizer o fã do clássico. “Todos somos coristas”, ressalta, salientando a necessidade dos solos de guitarra no rock. Outros convidados de peso em Celebração & sacrifício são Kiko Zambianchi – “um músico muito subestimado, que cresci ouvindo” – o “velho brother” Supla, em Going with you, e Skowa, em Era tarde demais. Paralelamente à careira solo, Beto se desdobra em apresentador de TV, tendo integrado inclusive a cobertura do Rock in Rio do canal a cabo MultiShow.

CORREIO BRAZILIENSE - O ilimitado

Aos 80 anos, Cauby Peixoto lança caixa com três álbuns e planeja discos dedicados a Chico Buarque e Ivan Lins

Rosualdo Rodrigues

(17/12/2011) Aos 80 anos, Cauby Peixoto ignora completamente as limitações impostas pela idade quando o assunto é cantar. Gravou um disco em 2009 (Cauby interpreta Roberto), um CD/DVD em 2010 (Cauby sings Sinatra) e, mal teve tempo de descansar, partiu para a produção de mais de três álbuns em 2011. A voz do violão, Caubeatles e Ao vivo — 60 anos de música compõem a caixa O mito, com a qual ele comemora seis décadas de carreira. A voz se mantém firme, a vaidade também. “Estão lindos (os discos), receberam muitos elogios, muitos elogios”, apressa-se em ressaltar (assim, sublinhando pela repetição), Cauby, antes de qualquer pergunta.

O grande incentivador desses projetos é o produtor Thiago Marques Luiz, cujo empenho encontra correspondência na empolgação de Cauby pelo trabalho. Thiago lembra, por exemplo, que, nem tinham terminado de gravar o disco dedicado a Roberto, e recebeu um telefonema do cantor perguntando quando começariam a gravar o de Sinatra. “Cauby vive um momento feliz da carreira.

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Do alto dos seus 80 anos, tem o privilégio de cantar o que quer e de ocupar, ainda, o posto de maior cantor do Brasil. Seja acompanhado de grande orquestra, seja em voz e violão”, elogia o produtor.

Some-se à empolgação a segurança de quem tem muita experiência. Cauby assegura que, 60 anos depois, não é atormentado por expectativas ou ansiedades ao subir ao palco ou entrar em estúdio: “Tiro de letra. Gosto de cantar, nasci para cantar”. Também não precisa de muitos ensaios. “Gravamos direto”, garante o cantor, referindo-se aos discos recém-lançados. Dois deles registrados em estúdio e o terceiro, ao vivo, no Teatro Fecap, em São Paulo, em dois shows que contaram com participações de Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo, Ângela Maria, Emílio Santiago, Fafá de Belém e Vânia Bastos. “Os convidados foram escolhidos pelo Thiago, junto comigo”, conta.

No palco, ele recebe um a um com elogios. A modéstia, no entanto, é deixada de lado ao comentar o encontro com Ângela Maria, na música Gente humilde. “Para mim, é um dueto que deu certo. É difícil arranjar uma outra cantora para cantar comigo, e um cantor para cantar com a Ângela também é muito difícil”, valoriza.

Pedido de mestreCauby diz que a ideia de fazer uma caixa com três discos foi de Thiago, mas o produtor afirma que o álbum de voz e violão foi um pedido do próprio artista: “E como o professor não pede, manda, em apenas quatro sessões de estúdio fizemos o disco”. Em A voz do violão, Cauby é acompanhado por Ronaldo Rayol, músico que ele conheceu em 2008, apresentado por Thiago Marques, quando faziam a série de shows de lançamento da coletânea Maysa, esta chama que não vai passar. “Mas foi em 2009, quando produzi Cauby interpreta Roberto, que os laços musicais entre eles se estreitaram. Ronaldo assinou metade dos arranjos do disco e passou a ser o diretor musical da banda de Cauby”, lembra Thiago.

O afeto entre cantor e músicos, aliás, é explícito. Cauby costuma tecer elogios aos colegas em plena apresentação — “olha esse baixo”, chama a atenção, durante uma música, maravilhado. “Minha relação com os músicos é ótima, eu os trato como irmãos”, diz ele, que não poupa elogios a Rayol. “Fizemos um show em que ele foi aplaudido de pé quando tocou Granada”, lembra.

Entre os três CDs, o cantor assume a preferência: “Gostei muito dos Beatles,”, diz, referindo-se a Caubeatles, no qual interpreta 12 canções do quarteto britânico. O disco dá sequência ao projeto de homenagear compositores e intérpretes que Cauby admira. Depois de Roberto, Sinatra e Beatles, ele diz que gostaria de dar sua versão a músicas de Chico Buarque ou de Ivan Lins: “São músicas que requerem um cantor que cante bem. Mas, por enquanto, são projetos para o futuro”. E questionado sobre que cantor da nova geração chama a sua atenção, Cauby é taxativo: “Emílio Santiago” (em entrevista que deu poucos dias depois de falar com o Correio, Cauby se mostrou mais atualizado. Disse que gostaria de gravar com Luan Santana: “Vi Luan Santana diversas vezes cantando na tevê e isso me chamou atenção. A voz, a presença de palco... Gostei”).

Querido dos críticosTerça-feira, Cauby Peixoto foi anunciado como o vencedor do Grande Prêmio da Crítica, da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), pelo conjunto da obra. A escolha é feita por 55 críticos da cidade de São Paulo e indica os melhores do ano na música e em outras áreas artísticas, como artes visuais, cinema, dança, teatro e literatura. Cauby receberá o troféu em cerimônia marcada para 13 de março de 2012.

O ESTADO DE S. PAULO - A primeira boa-nova

O paulistano Rodrigo Campos faz de Bahia Fantástica, seu 2.º disco, uma obra memorável para abrir 2012

RAMIRO ZWETSCH , ESPECIAL PARA O ESTADO - O Estado de S.Paulo

Tão longe, tão perto: a movimentação geográfica motiva e define a música do compositor e cantor paulista Rodrigo Campos. Seu segundo disco, Bahia Fantástica (previsto para o primeiro trimestre de 2012), surgiu de uma inspiração improvável - um lugar distante, praticamente desconhecido do músico, uma ficção de cartão postal. É a história inversa de São Mateus Não É Um Lugar Assim Tão Longe, de 2009. As canções narram experiências vividas de fato durante a infância e juventude no

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bairro periférico de São Paulo: a morte de amigos, a sinuca da quarta-feira, etc. Mesmo assim, o distanciamento foi importante - só depois que se mudou para Pinheiros é que as composições começaram a brotar. "Eu já tinha saído de São Mateus, mas a sensação ainda era muito viva porque eu compus essas músicas no primeiro momento que eu saí de lá. Comecei um processo de lidar com aquela saudade, com aquela distância. Eu estava tirando São Mateus de dentro de mim", elucida Rodrigo.

Estranho no ninho, sem família nem namorada e tampouco amigos mais próximos, o período que sucedeu o lançamento do primeiro disco foi de uma certa depressão criativa. "Eu percebi que ainda saía coisas sobre São Mateus, mas de um jeito mais subjetivo. Eu não queria mais falar da periferia de um jeito tão cronológico", lembra. "Só que eu não sabia que isso era um disco ainda, eu só estava compondo e tal. E aí eu fui pra Bahia."

A viagem foi rápida, uma semana e meia. Foi o suficiente para interferir profundamente no processo criativo de Rodrigo. "Sempre tive preconceito com isso. Minha atitude como músico sempre foi aproximar aquele som que eu gosto do meu cotidiano. Às vezes eu via esse movimento de sambistas que moravam em São Mateus falando da Lapa, de não sei da onde... 'Porra, os caras moram aqui e ficam falando da Lapa'. E de repente me vi falando da Bahia."

Rodrigo Campos aponta no front dos novos compositores da música brasileira como uma das apostas mais certeiras. Seu novo disco consegue superar o primeiro com um horizonte mais amplo. Seus arranjos são matadores. Ao fazer música, conta histórias com temáticas cinematográficas. É um cronista cheio de groove.

JORNAL DE BRASÍLIA - Mulherada com samba no pé

Saia Bamba conquista cada vez mais espaço no DF e prepara primeiro álbum

Camilla Sanches

(18/12/2011) Sete mulheres, vários instrumentos, muito samba. Este é o Saia Bamba, formado por Ju Rodrigues (vocal e pandeiro), Itana Moraes (vocal e violão), Cris La Plata (voz e cavaquinho), Inaê Moraes (percussão), Tati Moraes (rebolo), Mariana Sardinha (surdo) e Amanda Rodrigues (cajón e tamborim).

Juntas, oficialmente, desde setembro de 2009, as meninas – todas de Brasília – resolveram se unir num mesmo grupo para cantar clássicos de Paulinho da Viola, Benito de Paula, Dona Ivone Lara, Clara Nunes e Beth Carvalho. “Só a velha guarda, os grandes sambistas brasileiros”, enfatiza uma das vocalistas, Ju Rodrigues. “Nossa base é o samba de raiz”, observa ela. “Porém, agregamos ao nosso som umas boas pitadas de samba-rock e o soul-samba, também conhecido pelos cariocas como samba-funk”, acrescenta.

MPB E SAMBA A banda costuma, ainda, incluir no repertório canções da música popular brasileira e de outros estilos musicais e “sambear”, segundo Ju. Sucessos conhecidos nas vozes de musas da Música Popular Brasileira como Roberta Sá, Ana Carolina e Paula Lima, ganham novas releituras.

Mas nem só de clássicos e versões vivem as brasilienses. Elas também compõem. Em dois anos de estrada, já são 13 faixas autorais prontas e algumas no forno, quase prontas para caírem no gosto dos fãs, os “bambetes”. “É uma forma carinhosa que encontramos para chamá-los”, explica Ju Rodrigues. São, na maioria, mulheres, além de alguns homens que seguem as meninas pelos bares e casas de shows onde elas costumam se apresentar.

BAMBETES

“Eles cantam, dançam e fazem até coreografias para as nossas músicas. Depois, até nos ensinam a dançar igual”, comenta a vocalista, em tom de gratidão, pelo reconhecimento ao trabalho.

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Para 2012, que bate à porta, as artistas planejam um EP (mini álbum) com quatro faixas. O lançamento, inclusive, já tem data marcada. Será logo após o Carnaval. Por falar na folia de Momo, o grupo também deve se apresentar durante o feriado, um dos mais esperados pelos brasileiros. “Ainda não definimos a agenda, mas estamos com apresentações em vista”, adianta a cantora.

Conhecidas de casas locais como o Espaço Cultural do Choro – antigo Clube do Choro de Brasília –, onde subiram ao palco duas vezes, e do Feitiço Mineiro, para a qual retornam no dia 13 de janeiro, o Saia Bamba apresentou- se no último domingo, dia 11, no projeto Gente do Bem, organizado pelo Jornal de Brasília.

E quem quiser curtir as vozes, a batucada e o samba no pé dessa mulherada não precisa esperar muito. Daqui a três dias, elas estarão no Bar do Calaf (Setor Bancário Sul), animando mais uma noite como principal atração do projeto Quarta Devassa com Saia Bamba. “Nos apresentamos até o dia 28 deste mês, justamente no encerramento da programação da casa”, antecipa Ju.

Antes de iniciar a temporada 2012, uma parada estratégica. “Queremos trabalhar muito ano que vem, por isso vamos tirar uns dias de recesso para repor as energias. Isso é essencial para darmos continuidade ao trabalho.”

SAIBA + No repertório do Saia Bamba, três músicas não podem faltar: Vou Sair, Solidão a Dois e Hoje Eu Vi o Sol Raiar. Todas elas autorais.

O grupo é formado por sete mulheres, como foi dito no início da reportagem, porém, a sétima integrante, Amanda Rodrigues, não aparece na foto abaixo porque está licenciada do grupo por três meses.

Afastada, para se dedicar a projetos pessoais paralelos, a instrumentista retorna ao grupo ano que vem.

FOLHA DE S. PAULO - A lei do mais caro

Rouanet inflaciona mercado; sem incentivo, preços vão às alturas Mônica Bergamo, colunista da folha

MARCUS PRETO, de São Paulo(19/12/2011) O fracasso da turnê de 80 anos de João Gilberto reforça a tese: nem um dos maiores artistas brasileiros sobrevive hoje sem recursos públicos das leis de incentivo à cultura.

Anunciada há seis meses e cancelada na semana passada, a série de shows não fazia uso da Lei Rouanet para captar recursos (ela permite que patrocinadores abatam do imposto parte do dinheiro investido em cultura).

Os produtores afirmaram que tentaram convencer mais de cem empresas a investir na turnê. Em vão. Decidiram retirar da bilheteria todo o dinheiro para cobrir os custos. E também seus lucros.

O preço dos ingressos foi às alturas -de R$ 500 a R$ 1.400. Resultado: boa parte encalhou. Shows foram adiados -a assessoria afirmou que o cantor estava gripado.

Na última hora, os Correios toparam investir R$ 300 mil nas apresentações do Rio e de SP. Pouco. E tarde demais.

Segundo artistas e produtores, hoje não é mais possível sobreviver sem incentivo.

"Se não uso a Rouanet, não consigo patrocínio. De cada dez empresas, sete perguntam de cara: tem lei de incentivo?", fala Flora Gil, empresária e mulher de Gilberto Gil. "Posso fazer show sem patrocínio? Posso. Mas o preço dos ingressos vai subir."

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FOLHA DE S. PAULO - Sem patrocínio é inviável, diz Flora Gil

Chico Buarque é um dos poucos artistas que não usam incentivo; empresas 'editam' arte, diz a atriz Fernanda Torres

Com prestadores de serviço cobrando mais por causa da Rouanet, eventos não se pagam mais pela bilheteria COLUNISTA DA FOLHA, DE SÃO PAULO

(19/12/2011) Flora Gil diz que, para o artista, seria mais confortável se o mercado funcionasse sem o dinheiro das empresas."O artista teria que se alinhar apenas com ele mesmo -não com uma marca. Não precisaria ir a reuniões e mais reuniões, nem citar o patrocinador em entrevistas. Mas, sem esse dinheiro, hoje, os projetos são inviáveis."

Chico Buarque é um dos poucos que resistem: ele não usa o dinheiro público da renúncia fiscal. Até há pouco, era até mais radical: não buscava nem mesmo patrocínio de empresas para os shows.

Em 2006, cedeu em parte: sua turnê foi bancada pela TIM -mas sem incentivo. Neste ano, seguradoras financiam suas apresentações.

"Até o fim dos anos 90, com o mercado fonográfico ainda vivendo a exuberância de seus anos dourados, nos contratos dos principais artistas com suas respectivas gravadoras havia uma cláusula denominada 'tour support'", verba que financiava parte da turnê de lançamento dos discos, diz Vinicius França, empresário de Chico.

"Colocava-se uma produção de pé e os shows estreavam com suas contas praticamente zeradas." Com o declínio do mercado fonográfico, a verba deixou de existir.

MAIS CARO

Os custos de produção, por outro lado, subiram, "incluindo profissionais e equipamentos cada vez mais sofisticados", diz França. "Hoje é virtualmente impossível para quem pretende fazer longa turnê de qualidade assumir sozinho esses custos."

Marisa Monte, outro caso raro, também conseguiu "dinheiro bom", do marketing das empresas, sem renúncia, para uma turnê. Em 2006, foi bancada pela Natura, uma das poucas empresas que investem ao menos parte em cultura sem renúncia fiscal.

Neste ano, representantes de Marisa procuraram a empresa. Mas, em 2012, a companhia só investirá em projetos do Natura Musical, mais baratos e incentivados. São R$ 1,5 milhão em seis projetos. A turnê anterior dela foi estimada em R$ 5 milhões.

ESTRATOSFERA

No passado, espetáculos se bancavam com a receita da bilheteria -e o público não tinha que dar as calças em troca da entrada de um show ou teatro, como ocorreu agora no caso de João Gilberto.

Mas as leis de incentivo inundaram o mercado de dinheiro e inflaram os preços da produção cultural.

"Quando sabem que você tem Rouanet, o preço das coisas vai para a estratosfera", diz o ator Juca de Oliveira.

"Os custos sobem pela pressuposição de que seu espetáculo tem apoio, e, portanto, dinheiro. Então [os prestadores de serviço] sobem o preço. Os financiamentos elevaram todos os custos, sobretudo de divulgação."

Juca estava tentando montar, "a sangue frio", ou seja, sem leis de incentivo, um espetáculo baseado num livro de Lya Luft. "Eu ia mendigar a divulgação por aí."

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"E, como se não bastasse, o Brasil é imenso. Sem avião não se chega a lugar nenhum. Calcule o custo de uma peça com apenas dois atores, equipe de luz, som e produção, junte a alimentação, transporte e o hotel; a bilheteria não cobre de jeito nenhum", diz a atriz e colunista da Folha Fernanda Torres.

SHAKESPEARE

"Antigamente, os artistas faziam uma cooperativa e ganhavam um percentual da bilheteria. E aí se fazia permuta de madeira, de roupa, a produção era extremamente barata. Ou pelo menos palatável", diz Juca de Oliveira.

"Vamos ter que voltar a discutir o tema. Não faz sentido que apenas pessoas que têm patrocínio possam fazer teatro. Fica tudo desesperadamente pobre."

Ele diz que hoje os produtores captam recursos pela Lei Rouanet -e tiram o espetáculo de cartaz quando esse dinheiro acaba, mesmo que esteja fazendo sucesso.

"Antigamente, se a peça lotava, ficava anos no teatro", diz o ator, que ficou seis anos em cartaz com o espetáculo "Meno Male", quatro com "Caixa Dois" e cinco com "Hotel Paradiso."

"Gosto de viver da bilheteria, como Shakespeare, com os dois olhos na máquina registradora. E hoje as pessoas vivem do dinheiro da lei."

Fernanda lembra que empresas acabam "editando" a arte conforme a conveniência do marketing. Cita mostra da americana Nan Goldin, censurada no Oi Futuro (Rio).

"O mundo corporativo não comporta a vida mundana, apaixonada, torta e nada exemplar de Goldin", diz.

"Entregar a cultura nas mãos do marketing ou no retorno da bilheteria não funciona inteiramente, o governo e a sociedade têm de se envolver. A arte, na maior parte do tempo, é uma atividade que opera no vermelho." (MÔNICA BERGAMO E MARCUS PRETO)

FOLHA DE S. PAULO - Na internet, site ensina a investir por meio de incentivos fiscais

Cultivo.cc pretende atrair dinheiro para pequenos projetos ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, de São Paulo

(19/12/2011) Conseguir aprovar seu primeiro projeto na Lei Rouanet não é o que tira o sono da produtora Camila Boer, 34.

Dureza mesmo, ela aposta, será a etapa seguinte: encontrar um patrocinador que banque os R$ 3 milhões estimados para "Que Samba É Esse?", projeto que inclui série de shows e documentário sobre o samba-rock do cantor Jorge Ben e companhia.

Muito produtor já gastou sola de sapato na mesma via-crúcis pela qual Boer passa.

Para contornar esse caminho, uma nova plataforma na internet quer fazer o meio de campo entre projetos com dificuldades para captar recursos e potenciais investidores.

O diferencial do Cultivo.cc (www.cultivo.cc) é aliar a lógica do "crowdfunding" a leis de incentivo fiscal do Brasil.

"Crowdfunding" quer dizer financiamento da multidão -uma espécie de "vaquinha" do século 21. Com a ajuda de redes sociais, como Twitter e Facebook, levanta-se pequenas quantias até que se chegue à bolada necessária para realizar um projeto.

A prática funcionou até catapultar a campanha de Barack Obama.

ENTRAVES DA ROUANET

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O portal trabalhará com três leis federais de isenção fiscal: Rouanet, Audiovisual e Esporte. Será uma vitrine de projetos para possíveis mecenas, investindo em processo ativo de captação de recursos.

Há várias formas de financiar uma proposta e debitar esse valor no Imposto de Renda. Via Rouanet, apoiar shows de MPB, por exemplo, rende descontos parciais no imposto. Outros setores, como artes plásticas, dão 100% de isenção ao investidor.

Isso tudo dentro de um limite do quanto se pode aplicar do IR: 4% para pessoas jurídicas e 6% para as físicas.

O problema é que, hoje, burocracia, "juridiquês" e desconhecimento sobre a lei funcionam como espantalhos para o investidor, diz o designer Gustavo Junqueira, 27, um dos quatro sócios do Cultivo.

Em outras palavras: fora grandes empresas, há muito "peixe pequeno" por fora da lei. Vai pelo ralo a chance de que "as pessoas possam ver o que está sendo feito com o dinheiro do imposto".

Em 2010, o Ministério da Cultura deu sinal verde para que projetos captassem cerca de R$ 5 bilhões pela Rouanet, mas só se angariou 30% desse valor, segundo os dados mais recentes da pasta.

Para o colunista da Folha Ronaldo Lemos, o problema é "conjugar a boa ideia com a realidade burocrática da Rouanet". Ele lembra propostas similares que não avançaram, como perguntar no formulário de declaração do IR: "Quer contribuir para projetos culturais? Marque um X aqui".

A vantagem do Cultivo.cc "seria aproveitar a internet para isso, sem necessidade da cooperação da Receita", diz Lemos.

FOLHA DE S. PAULO - João Gilberto abre o mundo de afetos com a voz / Artigo / Miriam Chnaiderman

Chamar o cantor de 'complicado' e 'personalista' é resquício de uma antiga visão da bossa nova como 'reacionária'

Fazem caricatura da postura de João Gilberto, mas ele nunca deixou de ser aquele que quer cantar o que ama

João Gilberto se apresenta com banquinho e violão no auditório do ibirapuera em SP (Tuca Vieira/Folhapress)

MIRIAM CHNAIDERMAN é psicanalista, documentarista e ensaísta, ESPECIAL PARA A FOLHA

(19/12/2011) Eram os anos 60. A avenida Paulista ficava forrada de flores amarelas que caíam das árvores de seus casarões. Naquela paisagem, a voz de João Gilberto soava como um trovão dissonante.

Aqueles sons estranhos não se pareciam com nada conhecido na nossa música.

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Sons de jazz, em um samba americanizado? Em uma delicadeza ímpar, o baiano João Gilberto parecia estar cantando unicamente para aquele que o escutava.

Nosso "um cantinho, um violão, esse amor e uma canção", nosso "o pato", que queria cantar alegremente, foram pelo mundo afora.

Naquele momento, aqui, a bossa nova era considerada reacionária, individualista, burguesa. Antes da briga entre a música engajada e o tropicalismo houve outra bobagem, que foi contrapor o samba de raiz à bossa nova.

Parece que tudo isso perdura. O cancelamento recente do show de João Gilberto volta a colocá-lo no rol dos "megastars" complicados e personalistas.

Resquício daquela antiga visão acadêmica que, por meio da análise das letras da bossa nova, apontava um intimismo burguês reacionário.

João Gilberto sempre foi "um cantinho, um violão". Nos teatros municipais do mundo todo, em pleno Carnegie Hall, cantando para multidões, João Gilberto sempre reclamou de falhas técnicas, pois sempre quis "um cantinho e um violão".

Tem fama de ser intransigente, genioso. É sempre temido em suas atitudes.

Fazem caricatura de sua postura. O fato é que João Gilberto nunca deixou de ser aquele baiano que saiu de

Juazeiro e que quer cantar aquilo que ama.

Sua obra é absolutamente coerente com sua proposta inicial, quando tocou o violão da música "Chega da Saudade" para o disco pioneiro "Canção do Amor Demais" (1958), em que Elizete Cardoso (1920-1990) canta as composições de Vinicius e Jobim.

O violão deixou de ser um mero acompanhamento nas músicas. As letras tornam-se falas de intimidade.

Há um enlevo, um prazer no puro som do "bim, bom": "É só isso o meu baião, e não tem mais nada não, o meu coração pediu assim, só".

Um solitário afirmando seu jeito de ser entre o baião e o coração. Seus silêncios e respiros recriam nosso mundo sonoro. Ele adora concertar o belo, como costuma dizer.

João Gilberto só grava depois que atinge a perfeição total nos seus acordes dissonantes. Tem sempre uma vogal a ser reinventada para dar conta do que quer cantar.

SEM ESQUEMA

Como manter "um cantinho, um violão" no esquema dos shows de hoje, quando o telão substituiu o olhar direto, onde o "show business" determina o que criar e como cativar o público, onde fica difícil manter qualquer singularidade que não passe pelo que a massa determina e compra?

João Gilberto parece não se adaptar ao mundo de hoje. Continua tímido, atrapalhado, lutando para poder continuar sendo o que é.

Se isso o folcloriza, se isso o torna "estranho", se isso horroriza sua vizinhança (dizem até que um gato seu chegou a se suicidar), isso não tem nada a ver com a grandeza de sua criação.

Como inventor que é não se subordina às pressões todas, ainda que isso o leve à solidão. Psicopatologizar sua postura é não poder se defrontar com a peculiaridade do que inventou.

Só nos resta a gratidão pelo que ele continua a nos proporcionar. Com sua doce voz, ele nos instrumenta para o mundo dos afetos. Algo que, em nosso cotidiano, está cada vez mais em desuso.

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FOLHA DE S. PAULO - Nelson Freire faz recital de piano no Theatro Municipal

JOÃO BATISTA NATALI, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(19/12/2011) Nelson Freire, 67, apresenta-se hoje, no Theatro Municipal de São Paulo, com peças de Robert Schumann (1810-1856), Sergey Prokofiev (1891-1953), Enrique Granados (1867-1916) e Franz Liszt (1811-1886). Um repertório diversificado para o qual o pianista diz não haver um destaque particular. "Eu me empenho em tudo, e todas as obras têm o mesmo grau de importância."

O mesmo programa foi apresentado há oito dias no Municipal do Rio. Freire diz tê-lo reunido pela primeira vez entre abril e maio, para uma turnê que o levou à França, Bélgica e Itália.

Com meio século de carreira, Nelson Freire atravessa uma fase particularmente feliz. Ele recebeu neste ano a Legião de Honra do governo francês e, há um mês, seu primeiro título de doutor honoris causa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Quanto ao repertório que interpretará hoje, o pianista nunca chegou a gravar Granados ou Prokofiev. Deste último, as "Oito Visões Fugitivas", diz ele, são obras em que o russo se revela por meio de peças curtas com diferenças de andamento.

ESTADO DE MINAS - Como os bons vinhos

Ângela Maria lança disco comemorativo dos 60 anos de carreira. Há oito ela estava longe dos estúdios

Carolina Braga

21/12/2011 - Ângela Maria já se dava por satisfeita. Afinal, eram mais de 50 anos de carreira, muitas paradas de sucesso, êxitos de vendas, para que enfrentar dilemas da indústria fonográfica contemporânea? Foi pensando assim que a estrela do samba-canção brasileiro ficou oito anos longe dos estúdios. “Houve aquela crise muito grande da pirataria, as fábricas fechando, dispensando seus artistas, e eu estava no meio disso. Aí me deu aquela revolta. Porque parece que vende muito disco, mas não. É a pirataria que ganha”, explica.

Mas a artista sucumbiu ao argumento apresentado pelo marido. “Você não vai fazer isso com seus fãs, eles não têm culpa”, disse o empresário Daniel D’Ângelo. Assim, aos 83 anos e comemorando 60 de carreira, a Sapoti volta ao mercado fonográfico em disco com o sugestivo nome de Eu voltei. O clima nostálgico extrapola os limites de O portão, clássico de Roberto e Erasmo Carlos, que abre o álbum.

Repertório A produção é assinada por Thiago Marques Luiz. “Ele gravou um CD com 30 músicas. Todas são daquele tipo que, quando a gente canta, o povo vibra. Foi uma gravação muito alegre, com risadas e brincadeiras”, conta a intérprete. Entre as 12 faixas estão Esse cara (Caetano Veloso), Espelho de camarim (Ivan Lins e Vitor Martins), Olhos nos olhos (Chico Buarque), Eu não sei (Jair Amorim e Evaldo Gouveia) e A chuva caiu (Tom Jobim e Luiz Bonfá). “São todas canções que gostaria de ter gravado primeiro”, revela.

É este o caso de Se queres saber, lançada por Emilinha Borba na década de 1940. Na versão de Ângela Maria, os vocais são divididos com um parceiro de longa data: Cauby Peixoto. “Ele nunca se esquece de mim e eu nunca me esqueço dele”, frisa. Esta é a única participação especial do álbum.

Se há algo que pode surpreender os ouvintes neste retorno de Ângela Maria é o tom em que ela canta as músicas. “É que vai chegando uma certa idade e a voz muda também”, justifica. A cantora não esconde que nutriu certa apreensão ao se dar conta de que não conseguiria cantar no mesmo tom do passado. Mais uma vez, foi o marido quem deu a força. “Ele me disse: ‘Todo mundo sabe que você canta muito. Não precisa mostrar mais nada em relação à sua voz. Agora, você vai cantar dois ou três tons abaixo’. Não sabia que tinha um grave tão interessante”, surpreende-se.

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Inclusive, a passagem do tempo não parece ser algo que intimida Ângela Maria. Pelo contrário. “Sou uma mulher que envelheci naturalmente. Estou com 83 anos, não tenho rugas, nunca fiz plástica e não tenho essa preocupação”, garante.

PERFILRegistrada Abelim Maria da Cunha, Ângela Maria adotou nome artístico para não ser identificada pela família nos concursos de que participava. Ganhava todos e foi cantar no famoso Dancing Avenida. Gravou o primeiro disco em 1951. Entre os sucessos da carreira estão Não tenho você, Babalu, Cinderela, Moça bonita, Vá, mas volte, Garota solitária, Falhaste coração, Canto paraguaio, A noite e a despedida, Gente humilde e Lábios de mel.

EL PAÍS – La vuelta de Chico Buarque

Espanha – 21.12.11 – Cultura

Es Brel, Dylan o Serrat, en portugués. Músico y poeta patrimonio colectivo. Probablemente el creador de canciones más admirado, querido y respetado por los brasileños: la única unanimidad nacional, se llegó a escribir de él en Brasil; y la actriz Fernanda Montenegro, gran dama del teatro, dijo que Chico no tiene defectos, que es perfecto.

Cinco años y una novela después –la premiada Leche derramada-, Chico Buarque ha vuelto a grabar un disco (Chico) y regresa a los escenarios. Todas las semanas, del 5 al 29 de enero, y de jueves a domingo, cantará en Vivo Rio, una sala de Río de Janeiro con capacidad para 2.000 personas. Salir a escena ya no le supone a este gran tímido el sufrimiento de antaño, hasta le tomado gusto a cantar en público.

A sus 67 años, y con unos cuarenta discos publicados -y cuatro novelas-, el autor de clásicos como O que será, Construção o A banda sigue escribiendo canciones llenas de ingenio. Chico Buarque, artesano de palabras puestas en canción, se introduce en la piel de los más desvalidos, cuenta como casi nadie la vida cotidiana y habla en femenino con una sensibilidad poco frecuente. En el último disco habla con delicadeza de una relación virtual en la red entre un carioca y una moscovita (Nina), de un hombre solitario que camina por la calle (Querido diario) y de la violencia que conlleva la esclavitud (Sinhá) o se burla de la autoría y los supuestos ladrones de canciones ajenas (Rubato). Con el narrador desmemoriado de Barafunda le hace un guiño al anciano moribundo de Leche derramada y sus olvidos selectivos y, en Essa pequena, confiesa con tierna ironía el amor urgente de un hombre mayor por una jovencita: “Mi tiempo es corto, el tiempo de ella sobra / Mi cabello es ceniza, el de ella color de calabaza / Temo que no dure mucho nuestra novela, pero soy tan feliz con ella”. Historias que desfilan sobre fondo de blues, vals, baião, marcha o samba.

Cuando en noviembre de 2006, tras varios lustros de ausencia, Chico Buarque se presentó seis noches seguidas en el Coliseu de Lisboa, con entradas agotadas, comenzaba sus conciertos con una samba de 1939 cuyo primer verso dice: “Volví a cantar porque sentí saudade".

ESTADO DE MINAS - Rede Criativa

Centro de pesquisa audiovisual instalado na Barroca, a Teia celebra 10 anos com extensa produção. Espaço reúne alguns dos mais importantes nomes dos realizadores mineiros

Gracie Santos

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21/12/2011 - Os créditos de Balança mas não cai – O Edifício Tupis, longa recém-lançado de Leonardo Barcelos, trazem a câmera de Pablo Lobato e o roteiro de Sérgio Borges. Em O céu sobre os ombros, filme premiado de Borges, está a “parceria criativa” com Clarrisa Campolina, que divide a direção do também premiado Girimunho com Helvécio Marins, obra com produção de Luana Melgaço. Mais antigo, o documentário Aboio, de Marília Rocha, tem montagem de Clarissa. Por trás desses nomes está sempre presente o da Teia, produtora instalada no Bairro Barroca, que, em janeiro de 2012, completa sua primeira (e prolífica) década. Para celebrar, está previsto o lançamento de livro e novo site, que disponibilizará todos os filmes produzidos.

A verdadeira rede criativa reúne hoje alguns dos principais nomes da produção audiovisual mineira, os já citados Pablo Lobato, Marília Rocha, Clarissa Campolina, Sérgio Borges e Leonardo Barcelos – Marins deixou a Teia há cerca de três meses, enquanto Bruno Pacheco integrou a produtora apenas durante dois anos. Na produção, Luana Melgaço tem sido (importante e recorrente) presença. O melhor: apesar de eles todos trocarem figurinhas, pode-se ver na produção de cada um traços independentes, diferenciados. Eles conseguem se envolver nos projetos uns dos outros (ainda que não seja constante nem obrigatório), mantendo o mais importante: a individualidade. Tanto é verdade que não há qualquer semelhança entre personagens, narrativa ou condução das tramas em nenhuma das obras citadas.

Leonardo, Luana e Clarissa se conheceram primeiro. Formaram-se em rádio e TV pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2000. “Alugamos a casa (na Barroca) porque todos estavam sem lugar para trabalhar. A ideia foi unir esforços, um local coletivo de trabalho, com equipamentos”, conta Leonardo Barcelos. Ele lembra que a participação na Mostra de Tiradentes em 2003 foi a primeira com o nome da Teia, estreia oficial. Passaram a fazer reuniões, projetos, divulgação. Começaram a se profissionalizar.

“No começo, fizemos programas de TV, institucionais, era preciso faturar. À medida que fomos fazendo projetos autorais, começamos a depender menos desses trabalhos. E também a ser convidados para desenvolver trabalhos paralelos para artistas plásticos, cantores etc.”, ele diz. A pergunta que não quer calar: a Teia tem uma marca?. “Não, se nossos trabalhos forem vistos separadamente por pessoas que não sabem da história, ninguém vai perceber semelhanças entre as obras”, acrescenta.

A partir de 2007, os curtas tiveram continuidade, mas vieram intercalados pelos primeiros longas, projetos que demoraram a ficar prontos (caso de Girimunho e Balança...). Marília Rocha foi

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supreprodutiva, lançou Aboio, Acácio e A falta que faz. Pablo fez (frutífera) parceria com Cao Guimarães em Acidente. “Pablo passou a enveredar para as artes plásticas. Marília se dedica muito ao documentário, fez mestrado na área, é mais acadêmica. Sérgio Borges segue outro caminho, envolve-se com o ser humano e suas questões. Clarissa prefere pesquisas, descobrimentos, sempre trabalha muito com os outros. Já eu diria que sou mais sensorial, fico muito dentro de mim. Meus filmes falam do que estou passando no momento. Luana Melgaço tem experiência com leis de incentivo, e faz produção para quase todos os projetos”, analisa Leonardo.

Projeto do qual os integrantes da Teia se orgulham, de acordo com ele, é o Tecer, promovido no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes, imersão (durante três dias, em 2010) sobre a produção atual, pegando filmes antigos e novos com a participação de convidados de peso. “Temos planos de voltar com o Tecer, estimular discussões sobre a imagem, o que ela é, o que quer dizer, quais são as categorias”, afirma Leonardo, para quem o melhor da Teia, até hoje, “ foi a possibilidade de evolução junto com as pessoas, o aprendizado conjunto”. E o pior? “Lidar com a burocracia, ter que administrar. É a calculadora, um bicho estranho. Dá para viver do trabalho, mas não somos abastados, tudo tem um preço”, avalia.

Sem regras Uma das fundadoras da Teia, Clarissa Campolina é certamente quem mais circula entre as obras da produtora. Montou filmes de Marília e também foi sua diretora assistente. Codirigiu e montou com Sérgio Borges e foi assistente de direção com Pablo. Também dividiu a direção com Helvécio Marins. “Trabalhei com quase todos. Às vezes, participamos de alguma forma, mesmo não entrando nos créditos. Mas pode ser também que alguém esteja fazendo um trabalho e a gente nem saiba. Às vezes, temos trocas intensas e, quando não assumimos um papel, podemos dar alguma opinião”, explica.

Clarissa não descarta certas influências estéticas entre eles, mas assegura que, com o tempo, cada um foi encontrando seu caminho. “O melhor e o pior da Teia são a mesma coisa: é difícil criar novas estruturas o tempo todo. Vira e mexe estamos nos reorganizando. Isso, ao mesmo tempo dá muita vida para as obras e nos permite estar sempre em movimento. A partir da ideia do filme, a estrutura se modifica para servi-lo. Essa possibilidade de estarmos sempre pensando no que estamos fazendo é boa, mas é também o que cansa, dá trabalho”. A diretora cita ainda as participações paralelas, de gente que em determinado momento se agrega à Teia. Exemplos: Pablo trabalhou com Cao Guimarães. Ivo Lopes Araújo veio fazer a fotografia de O céu sobre os ombros (também no filme está presente Ricardo Pretti, que, a exemplo de, Luiz Pretti, vem participando de obras da Teia). Já o grupo mineiro O Grivo é parceiro constante em trilhas sonoras.

ESTADO DE MINAS - Caipira de classe

Inezita Barroso completa 60 anos de carreira e lança caixa com os primeiros discos da carreira. Apresentadora há 30 anos de Viola, minha viola, ela não quer saber de sertanejo universitário

Ana Clara Brant

21/12/2011 - Há pelo menos três décadas ela reina absoluta nas manhãs de domingo com seu programa Viola, minha viola, que valoriza a cultura popular e a música caipira. Contrariando a família quatrocentona, a paulistana Ignez Magdalena Aranha de Lima, de 86 anos, que mais tarde viria a ser conhecida por Inezita Barroso, se apaixonou pela viola quando ainda era uma criança e chegava a pular a janela da casa da fazenda dos tios onde passava as férias só para apreciar as modas tocadas pelos colonos. “A primeira vez que escutei o instrumento, eu tinha apenas 7 anos e fiquei louca, maravilhada, e comecei a aprender sozinha, só de ouvir mesmo”, lembra a artista, que este ano completou seis décadas de carreira e acaba de lançar uma caixa especial de seis CDs com os sete primeiros LPs que gravou pela velha Copacabana Discos, entre 1955 e 1962. “Nunca esperei nada. Não imaginava chegar a todo esse sucesso. Sempre fui andando pela vida para ver o que ia dar. Então vou indo, vou indo…”, conta ela em entrevista ao Estado de Minas, no apartamento onde vive, em São Paulo.

Com cerca de 80 discos gravados, Inezita, que chegou a se formar em biblioteconomia, sempre fez questão de valorizar a legítima música de raiz e tem no currículo clássicos como Ronda (Paulo Vanzolini) e a caipiríssima Moda da pinga – Marvada pinga (Ochelsis Laureano e Raul Torres). “A música ficou famosa na minha voz, mas nunca gostei de cachaça. E sempre tem alguém me dando

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uma de presente. Mas gosto é de uísque e cerveja, e ainda bebo. Estou numa fase da minha vida que está na hora de fazer o que quero!”, enfatiza ela, que faz questão de distinguir música caipira da sertaneja. “São dois trilhos completamente diferentes que nunca vão se encontrar!” Leia a seguir trechos da entrevista da cantora.

O campoNasci em São Paulo, sou do signo de Peixes. Um horror, né? Pisciano tem que fazer força demais na vida (risos). Nada cai no colo. Então, por isso tive que brigar muito. Porque sou de uma família tradicional, de nome, e meu avô não gostava de campo, de interior. Ele teve 18 filhos, todos os homens foram fazendeiros, e as mulheres se casaram com fazendeiros. Então, ficou mais caipira do que cidade. Nas férias, a gente ia para as fazendas da família.

Viola e a mulherEra feio naquele tempo uma mulher tocar violão, viola, dizer que é artista. Comecei a tocar viola na fazenda. Os colonos se reuniam às 17h, depois do serviço do campo, e iam tocar viola. E aí eu grudava neles. Mas minhas primas não iam porque achavam feio. Imagina, mulher tocar viola... E os colonos também tinham complexo com a gente. Queria tocar junto e eles falavam que mulher não tocava viola, que era proibido. Foi uma briga minha desde os 7 anos.

SucessoDepois que entrei para a rádio, televisão, tudo mudou. Com o sucesso é assim: “Eu que ensinei ela a tocar violão, eu que ensinei a minha sobrinha.” Mas ninguém me ajudou não. E aí meu pai falou: “Vai aprender piano também, que é um instrumento básico”. Fiz três conservatórios de piano, mas não toco mais. Só uso o piano ou teclado para fazer arranjo. Os calos da viola e do violão na tecla do piano não prestam.

SertanejoMúsica sertaneja e música caipira são dois trilhos que não vão se encontrar nunca. E agora então, o sertanejo universitário. O que é isso? Palhaçada. Isso não é música de raiz! Uma não tem nada a ver com a outra. Nem com a viola, porque é muito raro eles tocarem viola. Eles têm é banda. No programa que eu faço, o Viola, minha viola (vai ao ar aos domingos, às 9h, na TV Cultura) não entra de jeito nenhum. Nem teclado. Uso o meu em casa pra harmonizar o coral, mas nunca toquei em público. Imagina, chegar com um tecladinho em público! Não dá, não combina!

CaipiraTem muita gente que acha que caipira é xingação. Ainda tem uma cidade no interior de São Paulo que você não pode dizer “fulano é caipira”. Porque o termo ficou desvalorizado. Então, nas minhas palestras, eu começo: “Caipira não é um mendigo”, e daí vai. Mas eles pensam que é um idiota sem dente, tem tifo, usa maleta e tem calo no pé, anda descalço. Mas o caipira é uma criatura doce, honesta e muito inteligente. Tipo João Pacífico, pai da cultura de raiz; fez até o quarto ano primário na roça e com 10 anos ele escrevia poesia para os professores.

TelevisãoMeu programa vai completar 32 anos. Em todo lugar do Brasil que a gente vai é aquele amor, aquele carinho. Conhece na rua, a ponto de você não conseguir sair, não poder ir ao supermercado, na feira. Você é cercado, querem autógrafo, foto. O assédio é grande. Tem um publico cativo. De vez em quando aparece gente que foi no primeiro Viola, minha viola. Também tenho um programa na Rádio Terra que traz muita moda de viola, música caipira, receitas, superstições. Vai ao ar às 6h, todo sábado.

RotinaHoje, tirando as apresentações, viola mesmo toco quando preciso fazer um arranjo. Aí mobilizo os instrumentos. Mas morar dentro de apartamento é um inferno. Já teve gente reclamando aqui no prédio. Mas é a minha profissão e vou cantar quando precisar. É muito chato. São Paulo tem esse defeito. Não temos mais fazenda e sinto falta do ambiente rural.

AtrizFiz sete filmes, mas eles não tinham nada a ver com ambiente rural. Fiz comédias, ganhei um prêmio de melhor atriz em Mulher de verdade. Era muito interessante. Infelizmente, os filmes se perderam no tempo. A Vera Cruz já estava sem dinheiro. A distribuição era terrível e tinha um domínio norte-

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americano muito grande. Também fiz muito teatro infantil, escrevi uma peça com o Paulo Autran, que era muito meu amigo.

Mário de AndradeMinha tia era vizinha dele na Barra Funda, um bairro aqui de São Paulo. Lembro-me bem dele. Mas nunca tive coragem de falar com o Mário. Sabia quem era ele, minha tia estudou com ele no conservatório de piano. Mário de Andrade era um crânio e no meu trabalho de biblioteconomia lia muito as coisas dele. Quando me casei, meu cunhado, Maurício Barroso, era de teatro, me perguntou se eu não queria conhecer o Mário de Andrade. Eu disse que desde os 9 anos era louca para isso. O Maurício marcou um dia, ele não pôde; marcou outro dia, ele estava doente; e acabou falecendo um tempo depois.

Minas e JKFui muito amiga do Juscelino Kubitschek. Porque o meu maestro na Record era o Hervé Cordovil (compositor e pianista), que era mineiro. E ele falou: “Vamos conhecer o governador Juscelino”. E então fizeram o Peixe vivo numa versão em homenagem a ele. Eu gravei. E cantei muito no palácio, em BH. Muitas vezes ele me mandou chamar em São Paulo, no começo de Brasília, quando a cidade não tinha nada. Era muita terra. Tinha um hotel, o palácio do governo, tudo estava sendo construído. Chegava lá toda chique, com vestido caríssimo. Quando me levavam para o palácio para encontrá-lo, o JK estava de meia, com os pés cruzados em cima de uma mesinha. E falava: “Pode entrar minha querida e pode tirar os sapatos, porque sei que você morre de dor no pé”. A gente ficava até as 3h da manhã cantando.

Caçar sapoJK ficava tocando violão, cantando seresta. Dona Sarah só olhava pela porta e falava que ia dormir porque estava cansada. Nossa, que tempo bom. Teve uma vez que eu estava aqui em casa, em São Paulo, e tocou o telefone: “Alô, aqui é o Jusça.”. Aí perguntei: “Jusça, que Jusça?” ”É o Juscelino!” Aí eu disse: “Ah, vai caçar sapo na lagoa. Para de me amolar” e bati o telefone. Dez minutos depois, o assessor ligou e falou que eu tinha desligado o telefone na cara do presidente da República. Eu queria morrer, fiquei muito sem graça.

SaúdeEstou bem, graças a Deus, porque parei de seguir a recomendação médica (risos). Graças ao bom Deus sou muito teimosa. Os médicos sempre recomendam: “Não coma isso, não faça aquilo.” Tive que tomar uns remédios com cortisona e fiquei deste tamanho. Vou dar um jeito de dar um sumiço nesses remédios e vou tomar coisas de caipira, que é mais natural, agride menos. Mandaram não beber álcool. Como assim, não tome álcool? Já estou velha e não vou mudar meus costumes a essa altura da vida. Eu tomo remédio de gota com cerveja.

Brasil na caixaO box O Brasil de Inezita Barroso reúne seis CDs com gravações do auge da carreira da cantora, entre 1955 e 1962. São 89 faixas remasterizadas, que contemplam os sete primeiros LPs e mais bônus de temas registrados em álbuns coletivos. É um trabalho feito com o capricho que a artista merece. Além da reprodução das capas originais e dos textos dos LPs, o pacote tem ainda biografia da cantora, escrita por Rodrigo Faour e, num cuidadoso trabalho de pesquisa, a história das composições. O organizador entrevistou Inezita sobre cada disco e apresenta curiosidades num faixa a faixa com comentários da artista. A música caipira do interior do Brasil ganha assim um resgate competente e completo, feito com o respeito devido. Entre as canções, clássicos populares como Marvada pinga, Lampião de gás, Fiz a cama na varanda, Peixe vivo, Luar do sertão, Tristeza do Jeca, Azulão, Sussuarana, De papo pro á, Prenda minha e Uirapuru. Memória afetiva de muitas gerações.

FOLHA DE S. PAULO - Eu nasci assim Eu cresci assim

Vetos de artistas desfiguram reedições de clássicos da MPB MARCUS PRETO, DE SÃO PAULO

(21/12/2011) Não é fácil ser um álbum clássico da música popular brasileira nos dias atuais. A cada nova reedição em CD, é a foto do cantor que some da capa, o projeto gráfico que surge reformulado ou faixas fundamentais que são extirpadas dos disquinhos.

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Em casos extremos, até o título do LP original pode mudar com o decorrer do tempo. Ou sumir de vez.

Nos últimos anos, o consumidor de música tem engolido todo tipo de perda de conteúdo quando vai à loja comprar um CD retirado de acervo das gravadoras.

E não entenda por "acervo" apenas fonogramas pré-históricos. Essas alterações acontecem principalmente em discos lançados originalmente nos anos 1970 e 1980.

O ouvinte compra o CD por causa "daquela" música. E, quando coloca do disco para rodar, cadê? Roubaram.

FOLHA DE S. PAULO - Por temor de disputas judiciais, reedições em CD saem mutiladas

Caso João Gilberto x EMI foi um dos responsáveis por maior domínio de artistas sobre relançamentos

Consultas a músicos e designers resultam com frequência em faixas extirpadas e alterações da imagem das capas

MARCUS PRETO, DE SÃO PAULO

(21/12/2011) Na semana passada, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a EMI deve ressarcir João Gilberto pela reedição, em único CD, dos três primeiros LPs do cantor -entre eles, o clássico "Chega de Saudade" (1959), pedra fundamental da bossa nova.

A ação já tramitava havia quase duas décadas e, agora, está "resolvida". Ou melhor, está mais embrulhada ainda, já que os discos não podem voltar às prateleiras das lojas.

Quando eles voltarão? "Ainda não sei como, juridicamente, isso vai ser resolvido", diz Jorge Lopes, diretor comercial da gravadora.

O caso só torna ainda mais precavidas as empresas fonográficas. Para fugir de processos, a cada reedição, as gravadoras vão em busca de novas autorizações de músicos, compositores, fotógrafos e capistas envolvidos na criação do álbum original.

E, como quem pede autorização está sujeito a receber um "não" como resposta, os discos vão sendo desmontados de sua identidade entre um relançamento e outro.

Exemplos disso são as novas capas de "Edu e Bethânia" (1966), "Jorge Ben 10 Anos Depois" (1973) e "Gal Canta Caymmi" (1976). Em reedições atuais, todos eles perderam as capas originais "por razões jurídicas".

Por que essas "questões" não atrapalharam os primeiros relançamentos?

Segundo Marcelo Fróes, responsável por reedições importantes, como as caixas de Gilberto Gil e Gal Costa, quando as gravadoras começaram a reeditar LPs em formato de CD, adaptações gráficas eram feitas sem respeitar o design ou a foto originais.

"Isso gerou descontentamento e processos, que, depois de anos, geraram indenizações absurdas e mau hábito na relação entre velhos capistas e gravadoras", diz.

Mais graves são casos em que faixas são extirpadas das reedições em CD como se não tivessem existido nos LPs.

Isso ocorre, em geral, por desentendimentos das gravadoras com os compositores ou, em caso de morte, com os familiares responsáveis por seus espólios.

É isso o que proíbe, há mais de 30 anos, que o cantor Fagner reedite as canções que escreveu sobre textos de Cecilia Meirelles (veja ao lado).

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O mesmo vai acontecer nos próximos dias, quando uma caixa com álbuns de Inezita Barroso chegar às lojas.

Ficarão de fora os clássicos "Viola Quebrada", que tem letra de Mário de Andrade, e "Azulão" e "Modinha", com versos de Manoel Bandeira.

"Os representantes de Mário de Andrade queriam R$ 4 mil para liberar essa sua parceira, e isso inviabilizaria todo o projeto", diz Rodrigo Faour, outro veterano nas reedições. "Quanto a Manuel Bandeira, ficamos três meses no encalço dos herdeiros e não tivemos resposta."

Roberto Carlos também costuma desaparecer com faixas em álbuns -seus e dos outros. O caso mais emblemático é com "...E que Tudo Mais Vá pro Inferno" (1978), de Nara Leão.

Conforme ficou mais fervoroso na fé católica, Roberto passou a implicar com a canção. Até que a excomungou. Resultado: o álbum de Nara teve que ser relançado com outro título e sem a faixa.

Ney Matogrosso fez parecido na caixa "Camaleão", que traz seus primeiros álbuns.

Gravado originalmente em 1983, "...Pois É" voltou sem a canção "Calúnias" -aquela do refrão "Telma, eu não sou gay". Segundo Faour, responsável pela caixa, Ney diz ter sido obrigado pela gravadora a incluir a música. "Quando fiz o relançamento, exigiu que ela saísse."

FOLHA DE S. PAULO - Direito moral deu a vitória ao inventor da bossa nova / Análise / Ronaldo Lemos

(21/12/2011) COLUNISTA DA FOLHA - Quando o CD "O Mito" foi lançado em 1988 pela EMI, o mundo era diferente. Havia lojas de disco, e a internet era um experimento. Era o início da era dourada das gravadoras, com a chegada do CD e a chance de revender todo o catálogo no novo formato. João foi procurado pela EMI para autorizar o lançamento, mas não concordou com os valores. A EMI foi em frente e lançou até uma versão nos EUA, "The Legendary João Gilberto".

O disco reunia os três primeiros álbuns do cantor e uma faixa do filme "Orfeu do Carnaval". A ordem das músicas era diferente, a capa era nova e o mais importante: as faixas foram remasterizadas para digital, com nova equalização e transformando mono em estéreo.

Nada satisfeito, João Gilberto processou a EMI. A decisão ocorreu na semana passada, 23 anos depois.

Desde então o mercado da música mudou completamente. As lojas desapareceram, e o iTunes chegou ao Brasil. A EMI nem existe mais: foi comprada pela Universal e pela Sony, prováveis herdeiras da indenização.

O argumento da ação foi que João Gilberto teve seu direito moral violado. O direito autoral tem dois lados: um econômico, negociável, e outro "moral", inegociável, que permite ao autor impedir mudanças na obra que afetem sua reputação ou honra.

Na visão do STJ, as mudanças na remasterização descaracterizaram o original, e João Gilberto deve ser indenizado.

É curioso como o direito "moral" muitas vezes torna-se o último recurso para artistas que cederam os direitos econômicos sobre sua obra para uma gravadora.

Valendo-se deles, conseguem renegociar os termos do contrato e impedir alterações ou novas edições.

O direito moral enfrenta novos desafios. Está em curso outro processo de mudança de mídia. Os discos objeto da controvérsia, por exemplo, estão à venda no iTunes.

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São oferecidos em formato de áudio comprimido com apenas 220 megabytes ("O Mito" tem 450). O que foi perdido na nova remasterização? Resta saber, assim, se a qualidade de áudio na internet está à altura de João Gilberto.

O ESTADO DE S. PAULO - Parahyba, o Mr. Samba Jazz

Lendário baterista do Trio Mocotó lança CD em que reúne nata do gênero

JOTABÊ MEDEIROS

22/12/2011 - João Carlos Fagundes Gomes, o João Parahyba (já lendário baterista do Brasil, ao lado de Wilson das Neves e Mamão) esteve na propulsão de uma das grandes revoluções musicais do País, o samba jazz (ou samba joia, como costumava ser chamado). Foi quando integrou o grupo paulista Trio Mocotó. Formado nos anos 60, o trio se tornou famoso acompanhando Jorge Ben Jor (que na época era só Jorge Ben) em Charles Anjo 45, no 4.º Festival Internacional da Canção, em 1969.

Sabe a música Comanche, de Ben Jor? Bom, Comanche era o apelido do Parahyba (esse codinome vem da família, dona da fábrica de cobertores Parahyba, de São José dos Campos). "Eu era cabeludo, sempre amei usar bandana na cabeça, e com a calça psicodélica e a bota navajo que ganhei de um amigo que tinha ido a Tucson, Arizona, ficou mesmo parecendo um comanche", ele conta. "Meu sonho é ficar velhinho que nem o Willie Nelson."

Quando o guitarrista mexicano Carlos Santana veio ao Brasil, saiu perguntando atrás de um certo percussionista chamado Comanche, que viu em um vídeo e com quem queria tocar (o encontro só não se efetivou porque a produção do show marcou touca).

Após mais de 40 anos de carreira, e depois de acompanhar meio mundo pelo planeta afora (de Dizzy Gillespie a Chico Buarque, de Paulinho da Viola a Martinho da Vila e Ivan Lins), Parahyba resolveu "retornar a tudo aquilo que aprendeu no início da carreira". Voltou ao samba jazz. Acaba de lançar, pelo selo Sesc, o disco O Samba no Balanço do Jazz, no qual faz uma homenagem à geração com a qual conviveu nos anos 60.

"Eu caí dentro de um caldeirão onde estavam o (baterista) Milton Banana e (os pianistas) Luiz Eça e Cesar Camargo Mariano. Eu fui aluno e era tratado como colega", lembra. Ele faz o show do disco no próximo dia 27, no novo Sesc Santo Amaro.

O disco tem como produtor o norte-americano Roy Cicala, que produziu álbuns de Lennon, Sinatra, Prince, e atualmente está radicado em São Paulo. Parahyba conheceu Roy por acaso, no estúdio de Apollo 9, no Ibirapuera. "Tinha lá um senhor com cara de marceneiro, com um martelo e um formão, batendo na porta", lembra. "Era o Roy Cicala. O cara tinha produzido Frank Zappa, é mole? E estava ali fazendo a manutenção da porta do estúdio, que estava rangendo." Foi providencial. "O disco só podia ter um técnico que conhecesse a sonoridade da época. Era o Cicala."

Recentemente, quando o Estado redescobriu um disco que Dizzy Gillespie tinha gravado havia 36 anos com o Trio Mocotó, Parahyba demonstrou qual era sua avaliação da euforia dos críticos ao redescobrir a experiência. "Principalmente, me sinto bem feliz em ver que um conjunto que era considerado como apenas um grupo de música ligeira seja agora considerado no exterior pelo seu devido valor, que é o de levar a simplicidade e alegria da MPB", afirmou.

De fato, o Mocotó tinha um comprometimento com aquilo que Parahyba define com simplicidade: o prazer de tocar. Essa atmosfera reaparece tranquilamente no álbum, na condução de bandleader com que o músico manobra seu sexteto - Beto Bertrami (piano), Rudy Arnaut (guitarra), Giba Pinto (contrabaixo), Ubaldo Versolatto (sax e clarineta) e Janja Gomes (samples). "Não vai ser igual, isso não é possível. É mais um tributo àquela época, com uma relação muito emocional com todo mundo."

Os convidados são chiquérrimos, as composições mais ainda. Além de tocar piano, Laércio de Freitas cedeu uma música inédita, o samba choro Búzios. Amilton Godoy é outro luxo, tocando Batráquio, que o Zimbo Trio só tinha gravado uma vez na carreira. O sambalanço atravessa Nanã, de Moacir

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Santos; Sambou Sambou, de João Donato; Batida Diferente e Estamos Aí, de Maurício Einhorn e Durval Ferreira; entre outras.

"Uma coisa que eu quero que fique clara é o seguinte: não é o disco do João. É o som de um grupo. O que eu fiz foi reunir gente que compreendesse a linguagem do samba jazz", ele avisa.

"Os músicos da primeira geração do samba jazz tocavam e improvisavam com um grau de intensidade sonora que pouco tinha a ver com a leveza das sofisticadas canções de Jobim, Newton Mendonça e Vinicius de Moraes", escreve o crítico Carlos Calado, acrescentando que foram mais influenciados pelo cool jazz de Gerry Mulligan e Shorty Rogers e o bebop de Charlie Parker e o hard bop de Art Blakey.

Parahyba nunca se acomodou num rótulo ao longo da carreira. Suas andanças o levaram a desembocar na eletrônica, trabalhando nos anos 1990 com o produtor Suba. Recentemente, tocou em metade do novo disco de Rita Lee (a outra metade tem Yggor Cavalera, do Sepultura, na bateria).

FOLHA DE S. PAULO – Roberto Szidon deixa gravações referenciais de Villa-Lobos e Liszt

Morto de ataque cardíaco anteontem em Düsseldorf, pianista gaúcho deu o primeiro concerto aos nove anos IRINEU FRANCO PERPETUO, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(23/12/2011) Poucos pianistas brasileiros tiveram uma carreira fonográfica tão bem-sucedida quanto o gaúcho Roberto Szidon, morto anteontem em decorrência de um ataque cardíaco, aos 70 anos, na cidade alemã de Düsseldorf.No tempo em que a indústria fonográfica era realmente relevante, nenhuma etiqueta tinha tanto prestígio no mundo erudito quanto o selo amarelo da Deutsche Grammophon.

Szidon gravou prolífica, embora não exclusivamente, para a firma alemã, e alguns de seus registros ainda hoje são referência.

Caso não apenas de autores brasileiros, como Villa-Lobos e Radamés Gnattali, mas também da integral das sonatas do russo Aleksandr Scriábin (1872-1915).

Ou do item que marca seu legado de forma decisiva: as 19 "Rapsódias Húngaras", de Franz Liszt (1811-1886), que nunca saíram de catálogo, relançadas em diversos formatos desde a aparição inicial, nos tempos do LP, em 1973.

Em Liszt, Szidon demonstra um pianismo expansivo, centrado no brilho sonoro e em proezas de elevado virtuosismo técnico. Não por acaso, sua gravação aparece sempre como uma das referências de excelência da obra, ao lado da do mítico György Cziffra (1921-1994).

ACOMPANHADOR

Para conhecer uma outra faceta, vale visitar seu talento de pianista acompanhador, em uma gravação amadurecida do ciclo de canções "Dichterliebe", de Schumann, com o barítono Thomas Quasthoff, para o selo RCA Victor.

Nascido em Porto Alegre, Szidon deu o primeiro concerto aos nove anos de idade, aprimorando-se em Nova York, na década de 1960, com a húngara Ilona Kabos (1893-1973) e o refinadíssimo pianista chileno Claudio Arrau (1903-1991), fixando-se na Alemanha em 1967.

Rompendo com a convenção de tocar tudo de cor estabelecida por Liszt no século 19, Szidon costumava se apresentar com uma partitura à sua frente, lendo até mesmo os itens de bis.

CORREIO BRAZILIENSE - Um Brasil que bate no peito

Oswaldo Montenegro inspira-se em ritmos nacionais para compor o álbum de inéditas De passagem

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Irlam Rocha Lima

23/12/2011 - Com o pé na estrada desde a década de 1980, Oswaldo Montenegro está sempre de passagem. Ao usar essa expressão como título do seu novo CD, o cantor e compositor deixou implícito que a inquietude continua sendo algo a ser perseguido. Sem esmorecer, ele precisou ultrapassar vários obstáculos para obter o reconhecimento e conquistar posição de destaque na música brasileira — responsável por levá-lo a se expressar artisticamente, também, no teatro, na televisão e no cinema.

Em De passagem, 41º título de sua discografia, o consagrado cancionista vai além, ao trazer para o repertório, estilos como xaxado, baião, blues e rap, com letras que vão da rebeldia ao ceticismo. “Sou um compositor brasileiro. Isso significa multiplicidade. Nós, artistas verde e amarelo, temos todo tipo de influência. Somos resultado desse caldeirão. Daí, a variedade de ritmos”, explica Montenegro.

Autor de nove das 12 faixas do álbum, ele assina ainda os arranjos e produção, toca violões, piano, teclado e percussão, tendo a companhia de Madalena Salles (flautas), Alexandre Meu Rei (guitarras, baixo e percussão) Caíque Vandera (piano e teclado), Pedro Mamede (bateria) e Sérgio Chiavazzoli (bandolim). São músicos com quem tem trabalhado há bastante tempo. “É importante tê-los comigo. A intimidade que se estabelece influencia no resultado do que a gente quer passar”, justifica.

Todas as músicas do De passagem são inéditas e foram compostas neste ano. Não importa por quê, que abre o repertório, é um xaxado moderno e arretado com texto que tem como tema a extinção. A vida quis assim, uma das canções registradas nesse projeto, é de autoria de Mongol, que volta a ser interpretado por Montenegro. O velho e bom Menestrel exibe a conhecida competência como melodista em Eu quero ser feliz agora, Velhos amigos e Pra ser feliz.

Concurso de clipesSucesso imediato nas rádios e na web, Eu quero ser feliz, que em momentos soa como um rap, virou tema de um concurso de clipes, no qual o cantor premiará com R$ 30 mil os vencedores (acesse wwww.oswaldomontenegro.com.br/concurso). “Já temos muitas inscrições e ideias variadas. Os interessados em participar poderão se inscrever até 31 de janeiro”, anuncia. “Serão escolhidos dois clipes e cada autor receberá R$ 15”, acrescenta.

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O blueseiro surge com vigor na bela Sem susto (Oswaldo Montenegro e José Alexandre), que remete ao tema que permeia todo o disco. Num dos trechos da letra, diz: “Os amigos da estrada vão e vêm/ E vai saber? Pra que tanto vai e vem, por quê?”. A canção que dá título ao trabalho foi escrita a seis mãos por Léo Pinheiro, Tião Pinheiro e J. Bulhões; enquanto a ritmada Palma é de autoria de Ulysses Machado, parceiro de Montenegro no sucesso Intuição.

De passagem, o show, estreou em 25 de novembro, no Citibank Hall, em São Paulo. Depois, foi levado a cidades do interior paulista e do Rio Grande Sul. Com agenda cheia de compromissos, o cantor diz que está ansioso para apresentar-se em Brasília com o trabalho, mas ainda não tem nada confirmado. “Todo show que estreio, quero sempre fazê-lo em Brasília, onde tudo começou artisticamente para mim”, comenta.

Homem produtivoAo longo da carreira, Oswaldo Montenegro é dono de vários sucessos. A dança dos signos, por exemplo, ficou em cartaz, no Rio de Janeiro, de 1982 a 1989, sendo assistida por 1 milhão de espectadores. O filme Léo e Bia (exibido em setembro no 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro), que marcou a estreia do artista como cineasta, foi premiado no Cine PE (Festival de Cinema de Pernambuco), em 2010, e ganhou versão em DVD já à venda em lojas.

De passagemCD de Oswaldo Montenegro com 12 faixas, lançamento da APE Music, com distribuição da Microservice. Preço médio: R$ 24,90.

Carinho de fãFã de Oswaldo Montenegro há mais de 30 anos, a brasiliense Marina Fernandes, que mora em Fortaleza desde 1983, assistiu a incontáveis shows do cantor, acompanhou a trajetória dele e, ao longo do tempo, catalogou vasto material iconográfico publicado sobre o ídolo. Esse acervo serviu de base para O Menestrel, livro com 162 páginas que lançou pela editora Biblioteca 24 horas. À parte desse material, ela juntou uma série de poemas que escreveu para demonstrar sua admiração por Montenegro.

POEMA“Sua imagem reflete um sonhoMinha vida se resume assimEm cada rua por onde passoVejo você em mim”Imagem, de Marina Fernandes

O ESTADO DE S. PAULO - Morre Roberto Szidon

Pianista brasileiro radicado na Alemanha, autor de gravações antológicas, estava com 69 anosJOÃO LUIZ SAMPAIO

23/12/2011 - Morreu na manhã de quarta-feira, em Dusseldorf, na Alemanha, o pianista brasileiro Roberto Szidon. Ele estava com 69 anos e foi vítima de um ataque cardíaco. Nascido em Porto Alegre, viveu boa parte de sua vida fora do País, primeiro nos EUA, onde estudou com Claudio Arrau, e, mais tarde, na Europa.

Szidon andava distante dos palcos nos últimos anos. Nas décadas de 70 e 80, no entanto, foi um dos mais célebres artistas brasileiros em atividade no exterior. Iniciou seus estudos no Rio Grande do Sul e fez seu primeiro recital aos 9 anos. Na hora de optar por uma carreira, resolveu estudar medicina. Mas, no quinto ano do curso, abriu mão da vida médica para voltar à música. Pouco depois, deixaria o País, para onde voltaria mais tarde apenas para apresentações em recitais e concertos com orquestras.

Ainda nos anos 60, pouco depois de completar 20 anos, gravou o primeiro disco com obras de Villa-Lobos - e desde então sua interpretação para peças como Rudepoema seriam tidas como antológicas. Mas seu interesse pelo repertório nacional não se limitava ao autor das Bachianas. Na

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discografia de Szidon há álbuns dedicados a autores que vão de Radamés Gnatalli a Marlos Nobre, passando por Ernesto Nazareth e uma infinidade de outros nomes (Chiquinha Gonzaga, Glauco Velásquez e Francisco Mignone entre eles) reunidos na coletânea Cem Anos de Piano Brasileiro. "Fisicamente, é um jovem que aparenta 22 anos (tem 31), gordinho, tipo baby-face, de fala mansa e cordial, com pinta de estudante, de filhinho de mamãe. Mas quando se senta ao piano, a transformação que se opera - nele e no ouvinte - é quase sobrenatural", definiu o escritor Carlos Heitor Cony em um perfil do pianista publicado em 1975 na revista Manchete.

Para a Deutsche Grammophon, sua discografia também se abriu para o grande repertório. Gravou Scriabin, Schumann, Beethoven. Nos anos 70, a imprensa afirmava que o número de álbuns vendidos só o colocava atrás de Herbert Von Karajan e Dietrich Fischer-Dieskau. Na mesma época, um jornal alemão, após um de seus recitais, sugeriu que ele fosse a reencarnação de Liszt. "Pessoas ligadas ao espiritismo me diziam isso sempre", ele se divertia em uma entrevista à revista Manchete e, em seguida, definia o que, em sua opinião, caracterizava um grande intérprete. "Você é um bom pianista se apresenta características como um fraseado bonito ou uma técnica sólida. Mas será um excelente pianista se fizer o possível para ser honesto com relação ao compositor e sua partitura e, nesse processo, souber inserir um pouco daquilo que você é. Mas fundamental, não importa o que outros possam dizer, é aceitar que só há um critério para dizer se uma obra é bem ou mal interpretada: se o músico soube tomar como ponto de partida absoluto a proposta do compositor."

Boa parte da sua discografia não está mais disponível. Em sites de venda na internet, por exemplo, um LP em que interpreta Nazareth, parte de uma coleção dedicada à "música romântica para piano" no Brasil, chega a ser vendido por R$ 380. Da mesma forma, é difícil mesurar o que seu baú de inéditos pode esconder, em especial no que diz respeito a gravações feitas ao vivo com grupos como a Filarmônica de Londres, a Sinfônica de Viena ou a Orquestra de Cleveland, das quais era convidado regular.

Em uma entrevista de 1981, ele brincava que não gostava de se impor limites. "Um dia, quem sabe, vou até gravar um disco como cantor, por que não?", disse. "O problema será encontrar um pianista bom, porque, sem modéstia, devo dizer que acompanho muito bem cantores." Um de seus últimos registros comerciais foi feito no início dos anos 90, quando gravou o Dichterliebe e o Liederkreiss de Schumann ao lado do barítono Thomas Quasthoff. E ali mostrou que a brincadeira tinha mesmo um fundo de razão.

LIVROS E LITERATURA

ESTADO DE MINAS - Pai e cúmplice

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O jornalista José Ruy Gandra com os filhos Pedro e PauloThaís Pacheco

(15/12/2011) Ao imaginar um jornalista que foi repórter do jornal Folha de S.Paulo, editor das revistas Veja São Paulo, Exame e Vip e diretor de redação das revistas Web!, Viagem e Turismo, National Geographic e revista do Fantástico talvez seja possível criar a imagem de um homem rude. Gerenciar equipes e informações, enfrentar horários de trabalho nada comuns, lidar diariamente com a dura realidade durante 25 anos de carreira pode criar, no imaginário, a ideia de uma pessoa envelhecida ou amargurada.

Mas o dono desse perfil, José Ruy Gandra, está aí para provar o contrário. Há nove anos largou a rotina para trabalhar em casa e poder conviver som seu segundo filho, Pedro fruto do segundo casamento. Neste tempo, durante seis anos escreveu as colunas Pátrio poder, na revista Vip, e Coração de pai, na revista Crescer, sobre as relações entre pais e filhos.

“Quando o Pedro tinha 1 ano, Paulo tinha 14 e veio morar comigo. Era um ap de dois dormitórios, então, eles dormiam juntos. De um lado do quarto tinha um pôster de pano do Nirvana, do outro lado um baita pôster do Buzz do Toy Story. Nessa hora disse que queria escrever sobre isso”, lembra Gandra.

Com incrível sensibilidade escreveu sobre o tema durante seis anos. Agora, lança o livro Coração de pai, com 45 crônicas. Vinte delas foram publicadas em colunas nas revistas e, no livro, sofreram pequenas edições. As demais são inéditas. “Se esse livro fosse lido pelos dois já estava bom. Acho que é um presente que pude dar, passar para eles a experiência da minha vida. Não tenho nenhuma dúvida de que em algum momento isso vai iluminar o caminho deles”, conta o jornalista.

Gandra defende: “Os filhos nos amam a vida inteira só que, durante boa parte dela, não sabem disso”, brinca o jornalista, que descobriu isso ao perder o pai, aos 20 anos. “Achamos que os pais são eternos e estão absolutamente à disposição da gente. Pai tem fim. Foi o que aprendi muito cedo”, conta. O livro tem tocado muito as pessoas, o que o autor atribui ao fato de ter exercitado sua sensibilidade aguçada, de perceber os meninos. “Mas foi também um exercício de entrega, de construir uma relação e uma cumplicidade”.

A cumplicidade pode ser criada com as ferramentas existentes: “Crianças são seres absolutamente imersos em poesia. Se você as leva para ver uma árvore de Natal de cinco metros, elas vão enxergar uma de 50. Essa carga poética que os filhos trazem permite estabelecer uma linguagem

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extremamente cúmplice com eles, de olhar as coisas até com um toque de fantasia”, conta o jornalista, que hoje é avô. O caçula, Pedro, tem 13 anos. O mais velho, Paulo, tem 28 e um filho.

FOLHA DE S. PAULO - Negros não passam de 4% nas últimas cinco bienais

Obra de Emanoel Araujo é raridade na cena de arte contemporânea do país

Afrodescendentes estão fora das grandes galerias e têm presença tímida nos acervos dos maiores museus do país SILAS MARTÍ, DE SÃO PAULO

(15/12/2011) Um enorme livro branco lançado na semana passada esmiúça a trajetória do maior artista negro vivo no Brasil.No texto, o crítico Paulo Herkenhoff chama a obra de Emanoel Araujo de "superação da melancolia sem expectativas" num "ambiente contemporâneo com presença escassa de artistas negros".

Nome consagrado, institucionalizado e agora em vias de digestão pela história da arte, o baiano de Santo Amaro da Purificação se firmou como escultor construtivo depois de sólida trajetória no campo da gravura, também alicerçada na geometria.

"Essa é uma linguagem universal", conta Araujo. "Mas juntei geometria e um simbolismo afro-brasileiro, partindo dos mitos e lendas de um vocabulário religioso."

Herkenhoff enxerga o mesmo uso dessa "inteligência plástica africana" na obra de Rubem Valentim, morto há 20 anos, que também figura na historiografia pouco farta dos negros da arte brasileira.

"Este é um país preconceituoso em tudo, que tem pouca memória e onde as pessoas são mortas-vivas", diz Araujo sobre a quase ausência de negros na arte contemporânea daqui. "Ninguém quer olhar para o Brasil."

Nas últimas cinco edições da Bienal de São Paulo, a presença de negros escalados para a mostra não passou de 4%, em média, sendo que nenhum deles era brasileiro.

Eles também estão ausentes dos times das maiores galerias do país -Fortes Vilaça, Luisa Strina e Millan- e têm presença discreta nos acervos do Masp, do MAM de São Paulo e da Pinacoteca do Estado, que já foi dirigida por Emanoel Araujo.

"Não existe um botão 'negro' para fazer pesquisa", diz Teixeira Coelho, curador do Masp, sobre negros no acervo. "Nunca foi uma preocupação saber se o sujeito é branco ou preto. Temos algo de arte africana, mas nem sempre o artista é negro."

Coelho também atribui a ausência ao fato de poucos desses artistas chegarem a "existir como profissionais".

Na turma que acaba de se formar em artes plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo, uma das escolas mais tradicionais do país, não havia negros.

"Tem um que é bem mulato, mas nenhum negro", diz Marcos Moraes, professor da Faap. "Não há um número significativo, mas acho que a gente não olha mais com essa perspectiva étnica, racial."

Nesse ponto, Herkenhoff enxerga um "vínculo de interesses econômicos" entre universidades e galerias, que causa uma "obstrução ativa" do mercado para negros.

"Quem perde é a história quando põe de lado esses artistas", diz Herkenhoff. "Emanoel Araujo mostra como nossa história é decepada, cheia de buracos. É uma riqueza tratada como um problema."

'NEGÃO 100%'

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Outro problema é identificar um artista como negro num país miscigenado como o Brasil. Luisa Strina, uma das galeristas mais poderosas do país, diz que nunca trabalhou com artistas negros porque não conhece nenhum.

Mas Araujo e Herkenhoff apontam Marepe, representado por ela, como um exemplo de um bom artista negro. "Se você achar que negro é um negão 100%, então não há negros", diz o crítico de arte Rodrigo Naves. "Mas existe esse complicador indiscutível na nossa sociedade."

Naves também lembra o paradoxo da era colonial, em que brancos não faziam trabalhos manuais, como escultura e pintura, o que fez com que os mestres do barroco, como Aleijadinho, fossem negros, filhos de escravos.

FOLHA DE S. PAULO - Em suas obras, artistas brancos buscam beleza negra

(15/12/2011) DE SÃO PAULO - Brancos olham muito para os negros. Se os negros não costumam estar por trás das obras em grandes mostras, eles figuram em fotografias, vídeos e telas como objeto da criação de artistas brancos.Na Bahia, ponto de partida de artistas como Emanoel Araujo e Rubem Valentim, fotógrafos brancos como Pierre Verger e Mário Cravo Neto dedicaram suas carreiras à documentação de rituais religiosos e da vida cotidiana de afrodescendentes.

Em imagens em preto e branco, a cor da pele virou elemento plástico, de fortíssimo contraste, contra o sol esgarçado dos trópicos.

Cravo Neto explorava essa pele escura com destreza, criando composições quase táteis, em que os poros de seus retratados pareciam se fundir com a película fotográfica, o que críticos chamaram de "carnalidade da imagem".

Esse mesmo elemento também fascinou o norte-americano Robert Mapplethorpe, que tratava seus modelos quase como esculturas de mármore, identificando no corpo dos negros um aspecto pétreo que tentou imortalizar em sua fotografia.

Miguel Rio Branco, em fotografias coloridas, também explorou essa beleza de cores vibrantes quando retratou boxeadores no Nordeste.

Íntimo do apartheid, o sul-africano Pieter Hugo, branco descendente de holandeses, fotografa negros com ar exótico em vários países africanos, como atores da indústria cinematográfica da Nigéria ou grupos que criam hienas e outros animais selvagens como bicho de estimação.

Na contramão disso tudo, a última Bienal de São Paulo abriu espaço para alguns artistas angolanos, todos negros, que refletem sobre questões políticas, em especial resquícios sangrentos da guerra civil, em suas obras.

Mas, mesmo nesses trabalhos, parece prevalecer um olhar mediado, a busca por uma espécie de futurismo africano, plástico e fantástico, que não agredisse olhos europeus -mais um abismo em preto e branco. (SM)

FOLHA DE S. PAULO - Flip faz dez anos e planeja edição especial

(15/12/2011) DE SÃO PAULO - A Flip (Festa Literária de Paraty) completa dez anos em 2012 e planeja edição especial. Entre os destaques, está a volta de autores que participaram de outras edições, como o inglês Ian McEwan, de "Reparação", que veio ao Brasil em 2004. Também está prevista a publicação de livro comemorativo com os melhores momentos desses dez anos.

FOLHA DE S. PAULO - Padre Daniel, 95, devolve poesia ao mundo

Professor de filosofia pernambucano ganhou prêmio literário da Biblioteca Nacional por seu livro de estreia

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Autor, que não poderá ir à cerimônia de entrega hoje no Rio, diz que escrever é "uma espécie de vômito da beleza" FABIO VICTOR, DE SÃO PAULO

(15/12/2011) Ao telefone, da cama de um hospital recifense, Daniel Lima diz o que entende por poesia."É uma espécie de vômito da beleza. A gente tem necessidade de soltar a beleza que percebeu do universo, o impulso irresistível de restituir a beleza vista por nós ao mundo a que ela pertence".

Aos 95 anos, Daniel Lima está lúcido e solar. Ainda assim, às vezes parece confuso.

Como quando foi informado pela reportagem, há uma semana, que acabara de receber um prêmio da Biblioteca Nacional pelo seu primeiro livro, "Poemas" (Cepe, R$ 45, 416 págs).

"Não é uma brincadeira não?", perguntou.

Não era uma brincadeira. Sequestrados por uma professora amiga entre as dezenas de inéditos que ele mantém guardado, os versos resultaram numa antologia de antemão não autorizada, mas depois assentida.

Reunião de quatro livros, a obra foi inscrita pela "professora-ladra", Luzilá Gonçalves Ferreira ("roubei mesmo", diverte-se ela), no prêmio literário. Concorreu com outras 50 obras na categoria poesia. Padre Daniel, como é conhecido -há muito não exerce o sacerdócio, mas continua padre-, bateu nomes como Ferreira Gullar e Affonso Romano de Sant'Anna.

A cerimônia de entrega do prêmio, pelo qual ganhará R$ 12,5 mil, é hoje no Rio. Ainda no hospital, Lima será representado por Luzilá Ferreira.

"É para acreditar mesmo, não é?" -ele continuava desconfiado da notícia. "Não me faça bancar o idiota, viu?"

Não. Daniel Lima não tem nada de idiota.

"Fico arrasado pela beleza que consegui apanhar na palavra que é tão pobre. Eu mesmo adoeço quando escrevo muita poesia."

E agora está no hospital porque adoeceu de quê?

"Adoeci de Daniel", responde rindo. "O mundo é muito importante, eu fico meio desorientado. Para me enquadrar nele eu tenho de sofrer e adoeço."

Amigos contam que o poeta está saudável e foi parar no hospital porque não queria comer, andou anêmico. Mas deve ter alta em breve.

UNANIMIDADE

Composto por Alexei Bueno, Antônio José Jardim e Frederico Gomes, o júri escolheu o livro por unanimidade.

"Eu não o conhecia e acho que ninguém o conhecia. A obra dele impressiona muitíssimo, não tive a menor dúvida [em escolhê-lo]. É uma descoberta da poesia brasileira", afirma Jardim, professor de literatura da UFRJ.

Ele diz que Lima "consegue aliar a força do pensamento a tamanha dimensão poética". "É a poesia como a força da palavra."

Escritora, professora de literatura na UFPE e ex-aluna de Lima, Luzilá Ferreira relata que foi cativada pela originalidade do poeta. "Ele alia simplicidade a um conhecimento extraordinário do fazer poético, do ritmo, do domínio das palavras."

Segundo amigos, Daniel Lima tem pelo menos 27 livros inéditos, 14 de filosofia. Amiga dele há 50 anos e que hoje o acolhe em sua casa, a ex-bibliotecária Célia Veloso disse ser impossível calcular o

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número exato. "Ele passou a vida escrevendo e espalhando livros, os ratos iam comendo... Só escreveu para ele e para os amigos", conta.

Nascido em Timbaúba (PE) em 2 de maio de 1916, Lima foi pároco em Nazaré da Mata e ensinou filosofia em universidades do Recife. Ligado a setores progressistas da Igreja, atuou nas Ligas Camponesas de Francisco Julião.

O ESTADO DE S. PAULO - O novo leitor na mira dos imortais

Ana Maria Machado toma posse hoje e quer sua diretoria mais perto das UPPs

MARIA FERNANDA RODRIGUES (15/12/2011) Ana Maria Machado é autora de mais de uma centena de livros para adultos e crianças e já perdeu as contas dos prêmios que ganhou - o Hans Christian Andersen, mais importante do mundo na área de literatura infantil e juvenil, foi um deles. Agora, ela corre para terminar um título juvenil antes que sua vida fique ainda mais atribulada. Secretária-geral da Academia Brasileira de Letras em 2011, ela assume hoje, em cerimônia no Petit Trianon, no Rio de Janeiro, às 17 horas, a presidência da entidade e se torna a segunda mulher a ocupar o cargo. A primeira foi Nélida Piñon, em 1997.

Sua eleição, vencida por unanimidade em 8 de dezembro, não chegou a ser uma surpresa, embora nunca tivesse sido planejada pela escritora, que virou imortal em 2003. "Eu não tinha o projeto de ser presidente, mas quando entrei na diretoria como secretária, esse seria um caminho natural porque tradicionalmente secretário-geral passa a ser presidente. Então, eu sabia que ia deslizar para este cargo, que é de muito sacrifício e trabalho."

Mas ela terá ainda alguns dias para se acostumar com a novidade. Amanhã, a ABL entra em recesso e só volta em janeiro, quando começará, de fato, o trabalho da nova diretoria. Ao lado dela estarão Geraldo Holanda Cavalcanti (secretário-geral), Domício Proença Filho (primeiro-secretário), Marco Lucchesi (segundo-secretário) e Evanildo Bechara (tesoureiro).

Conferências, shows de música popular e erudita, filmes, exposições e leituras dramáticas são algumas das atividades corriqueiras da ABL que devem continuar na agenda.

Três centenários, no entanto, vão marcar o ano. Jorge Amado e Evandro Lins e Silva serão lembrados nos 100 anos de nascimento e o Barão do Rio Branco, no de sua morte. "Queremos fazer

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uma revisão crítica da obra de Jorge Amado e abrir possibilidades para que outros também façam isso no Brasil e no exterior. Vamos ver como ele é recebido hoje", comenta.

Nos últimos anos a ABL tem tentado mudar sua imagem: quer mostrar que o espaço é aberto a toda a população e que seus imortais estão ligados em novas ideias e tecnologias. Tanto que no ano passado, cinco deles ganharam e-readers em sorteio. Um pouco antes, em 2007, os acadêmicos subiram os morros do Cantagalo e do Pavão-Pavãozinho para tomar chá com as crianças da comunidade. Além disso, a ABL tem perfil no Facebook e no Twitter.

Ana Maria considera a ABL um grande, e atuante, centro cultural e quer continuar no caminho da abertura, mas com algumas mudanças. "Minha gestão vai coincidir com o momento em que as UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) serão implantadas e tenho muita vontade de ver se a gente desenvolve parcerias para ajudar a fazer com que a literatura brasileira esteja mais presente em áreas que não tiveram esse contato antes, mas isso não significa ir tomar chá na favela", diz. "Eu quero fazer um trabalho de formação de mediadores de leitura e contribuir para o aumento do número de novos leitores."

Ela conta que a diretoria ainda vai estudar todas as possibilidades de fazer uma gestão mais social, mas já diz que uma das ideias é usar algum imóvel herdado de seus membros como ponto de partida. "Temos a intenção de colaborar ao máximo com a implantação de centros culturais e de pontos de leitura, inclusive com a possibilidade de usar algum imóvel." Entretanto, diz que esta não é exatamente uma promessa, já que não há nada concreto.

O fato dela ser uma reconhecida autora de livros infantis e juvenis não vai mudar o andamento das atividades da ABL. "Não misturo os canais. Esta não é uma academia com adjetivo. O único adjetivo ali é o nacional", diz. Ela garante que o gênero já é coberto em debates e que crianças são sempre bem-vindas - mais de 5 mil estudantes foram lá este ano. Eles são recebidos por atores vestidos com roupa de época, que contam a história da Academia e dos acadêmicos. A presidente diz, no entanto, que é difícil ir além. "Não é possível fazer mais do que isso. Você não tem espaço nem tempo porque são duas sessões por dia às segundas, quartas e sextas-feiras."

Para conciliar a nova função ao trabalho de escritora, o único remédio é acordar mais cedo e esticar o dia, diz Ana Maria Machado, que completa 70 anos em 24 de dezembro, e que entrou pela primeira vez na ABL, ainda estudante, na companhia de Manuel Bandeira.

O ESTADO DE S. PAULO - A tristeza poética na dor do viver

Esse é o tema dos contos de A Palavra Ausente, do carioca Marcelo Moutinho

MARIA FERNANDA RODRIGUES

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(15/12/2011) Em comum, os personagens de A Palavra Ausente (Rocco), livro de contos que o carioca Marcelo Moutinho lança hoje em São Paulo, têm aquela dor que é própria do viver, do estar, ou querer estar, só, e do esperar - um gesto, um sinal, um carinho, uma palavra qualquer.

"Eles têm uma tristeza que eu qualificaria como benigna, poética. A beleza das coisas levemente tristes num tempo de ditadura da alegria", comenta Moutinho. São, de fato, histórias bonitas e simples que retratam pessoas comuns que esperam que a vida entre nos eixos depois de uma perda ou que só se acostumam a viver mais ou menos bem, mais ou menos felizes.

É o caso do filho, adulto, que dá banho no pai doente e ausente no conto Água, que abre o livro. Ou da idosa Dalva em Interlúdio, que ainda espera, como sempre esperou, o toque do telefone. Em Jogo-Contra, um garoto reluta em convidar o pai para assistir ao campeonato de futebol do bairro com medo de fracassar. Supera a insegurança, faz o convite, perde a partida e ainda deixa um prejuízo para o pai, que não liga e está feliz só por estar ali. Morte, separação, demissão são alguns dos temas da obra.

Quando Moutinho viu que a questão da ausência marcava tudo o que vinha escrevendo espontaneamente, tratou logo de criar outras histórias para fechar o livro, que lança agora, dez anos depois de sua estreia com Memória dos Barcos (7Letras). Isso porque ele prefere, como diz, a ideia de "contos orgânicos", que estão na obra por algum motivo, a uma mera coletânea de textos escritos de forma aleatória.

Nesses dez contos, as relações familiares são quase onipresentes. E todas as histórias se desenrolam em ambientes nem tão ricos nem tão pobres, algo que o autor vem buscando desde seu título anterior Somos Todos Iguais Nesta Noite (Rocco) por achar que a classe média baixa seja pouco retratada pela literatura contemporânea.

"Me incomoda um pouco essa concentração de histórias no universo da classe média alta ou da favela e periferia, ignorando um mundo que há no meio e a vida dessas pessoas com seus amores, suas dores e epifanias."

Outros dois temas pouco presentes na literatura contemporânea, apesar de impregnados no imaginário brasileiro, na opinião de Moutinho, são o futebol e o carnaval. Aliás, duas paixões do escritor.

Império Serrano roxo, foi num dos ensaios da escola carioca que ele viu, no banheiro, o senhor responsável pela limpeza dançando com o rodo enquanto empurrava a urina ralo abaixo. "Foi comovente ver a estupenda e contida alegria daquele homem naquela situação, num banheiro com cheiro de mijo, suor e desinfetante barato. Ver a forma como ele, sem nunca ter lido Calvino, intuitivamente, procurou, dentro do inferno, o que não é inferno."

Moutinho, que é também jornalista, deixou o lado repórter para lá e só imaginou como poderia ser a vida desse faxineiro. Criou então Silas, protagonista do conto Folia, que não chega exatamente a dançar com o rodo no banheiro - talvez o faça na imaginação, mas que prepara o uniforme cinza, sem graça, como se fosse dia de desfile e ele ainda fosse o mestre-sala. É nessa rotina que ele procura um sentido para sobreviver aos dias sem Áurea, sua porta-bandeira.

Alguns dos textos já haviam sido publicados em outras coletâneas. Cavalos-Marinhos, por exemplo, foi escrito para Como Se não Houvesse Amanhã (Record), de contos inspirados em músicas da Legião Urbana, e narra o dia da mudança de um casal gay recém-separado.

Embora esteja escrevendo um romance pela primeira vez, Marcelo Moutinho é um grande defensor do conto e receia que o gênero tenha o mesmo destino da poesia dentro das editoras brasileiras, ou seja, pouco espaço e interesse editorial.

FOLHA DE S. PAULO - Paris vê a arte contemporânea do Brasil

Baseada em livro de Roland Barthes, exposição recebe 22 artistas que refletem sobre construção cultural do país

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Mostra se relaciona com obras e movimentos da cultura brasileira que tratam de raça e nacionalidade LENEIDE DUARTE-PLON, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

(20/12/2011) O "auriverde pendão de minha terra" cantado por Castro Alves no poema "Navio Negreiro" recebe os visitantes da exposição "Mythologies-Mitologias", na Cité Internationale des Arts, em Paris.Mas a bandeira do artista plástico Beto Shwafaty está manchada de petróleo. Fotos de Getúlio Vargas e de Lula coladas no mastro, ambos exibindo a mão negra de óleo, completam a obra de 2010 intitulada "From Abstract Orders to Material Progress".

A exposição de 22 artistas contemporâneos brasileiros, aberta no dia 6, tem o livro de Roland Barthes "Mitologias" como inspiração para especular em torno de temas da nossa construção cultural.

Para a curadora Kiki Maz

zucchelli, a mostra "leva em conta a posição que a arte brasileira ocupa no cenário internacional e reflete sobre sua autorrepresentação".

Os artistas são jovens e a maioria nasceu nas décadas de 70 e 80. Entre eles, a mais velha é a mineira Tamar Guimarães, de 44 anos, que reside em Copenhague e participa com o vídeo "Tropical Blow Up", de 2009. Outros oito artistas da mostra vivem e trabalham na Europa.

Com a preocupação de apresentar produções menos conhecidas, a mostra tem trabalhos que se relacionam com alguma obra, momento ou movimento específicos de nossa cultura ou tratam de questões relativas a raça, nacionalidade e território.

"São mitologias incorporadas em nossa cultura como tais [como a do 'tropical', do 'concretismo', entre muitas outras] de que os artistas presentes na exposição se utilizam para construir seus trabalhos", diz a curadora.

PROJEÇÃO BRASILEIRA

"Mitologias" parte da constatação de que a arte contemporânea brasileira vem ocupando, na última década, lugar de destaque no circuito.

"Esse fenômeno é perceptível tanto no âmbito institucional, de grandes museus e galerias públicos, quanto nas feiras de arte, galerias comerciais e casas de leilão, que contam cada vez mais com a participação de brasileiros", diz Mazzucchelli,

Entre as reflexões sobre nossas mitologias se destacam "Clarividência" (2008), de Tonico Lemos Auad, batatas-doces suspensas por 'fois' de couro; "Concerto para a Mão Esquerda" (2011)", de Deyson Gilbert e Roberto Winter, e duas jacas da série "Brasília, 2010", de Erika Verzutti.

O pôster "Nova Cartografia Tropical, 2011", de Pablo León de la Barra, alia a imagem do cacho de banana com dezenas de nomes de pessoas ou obras "tropicais" ao verdadeiro manifesto que diz a certa altura: "Ser tropical não é uma questão de localização, é uma questão de atitude".

Nesse cacho de bananas, por exemplo, Werner Herzog ("Fitzcarraldo", de 1982) ocupa uma banana lado a lado com Glauber Rocha, Lygia Pape ("Divisor", de 1968), Claude Lévi-Strauss, Augusto Boal ("Teatro do Oprimido", de 1971), Beatriz Milhazes, Paulo Freire, Tarsila do Amaral e Jean-Baptiste Debret, entre muitos outros.

"Panamericana (Flag 1) Version II, 2011", de Alexandre da Cunha, é a foto de uma praia paradisíaca, sobreposta por formas geométricas em preto e branco, formando um desenho que se assemelha ao de uma bandeira.

"Temos a imagem clichê do trópico paradisíaco [dos mitos edênicos das narrativas dos colonizadores europeus] sobreposta pela rigidez construtiva que caracteriza nossa arte concreta", explica a curadora.

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FOLHA DE S. PAULO – Livros financiados pela Rouanet viram brindes de Natal

Patrocinadores podem usar 10% dos exemplares para esse fim; restante vai para bibliotecas e para a venda

Segundo editores, incentivo fiscal permite que publicações de luxo cheguem a livrarias por valores abaixo do custo FABIO CYPRIANO, CRÍTICO DA FOLHA

(22/12/2011) Já virou tradição de Natal: no fim de ano, grandes bancos presenteiam seus clientes com sofisticados livros de arte, viabilizados por meio da Lei Rouanet -que permite abatimentos no imposto de renda dos patrocinadores que invistam em cultura. Isso significaria, então, que os brindes de Natal desses bancos estariam sendo pagos pelo contribuinte?

Sim, mas somente em parte. Mais exatamente, de acordo com a lei, o patrocinador recebe 10% da tiragem do livro, para seu uso -e, no caso, essa é a parcela destinada aos clientes.

"Sem lei de incentivo é inviável fazer um livro de arte", defende Isabel Diegues, editora da Cobogó, que neste fim de ano lança o livro "Pintura Brasileira Século XXI", com apoio do Credit Suisse.

No caso dessa publicação, segundo Diegues, foram impressos 3.000 livros com o apoio de lei, pela qual foram captados R$ 316 mil. Desse total, cerca de 900 exemplares devem ir para bibliotecas e instituições públicas.

A publicação chega às livrarias pelo valor de R$ 160. "Sem o patrocínio, teríamos que cobrar pelo menos R$ 300", avalia Diegues.

Segundo a assessoria de imprensa do Credit Suisse, quando há interesse em presentear um número de clientes que exceda a cota de 10%, o grupo arca com a impressão extra de exemplares

No ano passado, a mesma Cobogó lançou "Adriana Varejão - Entre Carnes e Mares", que foi ofertado como brinde natalino pelo banco Pactual.

Em 2011, o Pactual distribui a seus clientes o livro "Cachaça", realizado pelo fotógrafo Araquém Alcântara em sua editora, a Terra Brasil, com texto de Manoel Beato.

"Seria extremamente difícil fazer um livro de qualidade, hoje, sem o apoio de lei de incentivo", conta Alcântara, que já publicou 44 livros sobre o Brasil. "Cachaça" obteve, pela lei, R$ 581 mil.

"Graças a ela posso distribuir quase um terço da tiragem a bibliotecas do país [uma contrapartida obrigatória da lei] e cobrar R$ 120 na livraria, quando o livro não sairia por menos de R$ 220."

Entre as categorias de livros de arte que figuram com mais frequência entre lançamentos de fim de ano, estão os livros de instituições museológicas organizados há 30 anos pelo banco Safra.

"Fazemos isso com o envolvimento dessas instituições, e não entregamos o livro apenas a clientes, mas o distribuímos pelo país", conta o banqueiro Carlos Alberto Vieira, presidente do conselho de administração do Safra.

A publicação do banco neste ano aborda o Museu da República, no Rio, para o qual captou via lei R$ 195 mil.

Segundo Alcântara, "é possível haver desvios no cumprimento da lei" -que está para ser alterada no Congresso- mas, para Diegues, "o controle por parte do MinC está muito mais rígido".

O ESTADO DE S. PAULO - Davi contra Golias

Donos de editora em Portugal, irmãos ousam ao investir em poeta brasileiro

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PAULO NOGUEIRA

22/12/2011 - Em pleno turbilhão de uma crise econômica que abala os alicerces da União Europeia e ameaça desintegrar o próprio euro, uma pequena editora portuguesa rema contra a maré e desafia a conjuntura adversa, no melhor estilo Davi contra Golias. E uma das armas da editora Eucleia (a deusa grega da boa reputação e da glória) é um poeta brasileiro chamado... Davi. A ousadia parece ainda mais temerária quando se sabe que a poesia de Davi Araújo, de 31 anos, é inédita no Brasil. Enfim, uma arma secreta.

Audácia sim, mas não bravata fútil - é o que garantem os jovens donos da Eucleia, os irmãos João Reis, de 26 anos, e Natália, de 22 anos. Tradutores poliglotas, são pau para todas as obras que publicam, com exceção do design dos livros, aliás esmeradíssimo.

No Hemisfério Norte e sobretudo na Europa, o mercado editorial patina numa bifurcação: de um lado, editores de perfil 'indie' e culturalista; do outro, colossos caçadores de best-sellers, açambarcadores de casas editoriais, para quem o livro é uma mercadoria e ponto. Em Portugal, a tentacular editora Leya (também estabelecida no Brasil) nasceu há três anos, através da aquisição meteórica das cinco maiores casas editoriais do país. O proprietário da Leya, o magnata Paes do Amaral, também dono de um canal de TV, confessou que "não tinha o hábito de ler".

Mas não será um suicídio comercial publicar um autor estrangeiro ainda inédito na sua própria terra, durante uma crise sísmica? Os irmãos Reis discordam: "Não achamos que essa circunstância afete muito a opinião do leitor português. O maior risco reside no fato de se tratar de poesia - e em língua portuguesa. Aqui, é tão arriscado editar um português desconhecido quanto um brasileiro. Claro que a crise atrapalha - até aos grandes -, mas uma empresa pequena que não faz loucuras e investe na qualidade pode vingar, se pensar a longo prazo".

Davi Araújo não é o único brasileiro no catálogo da Eucleia, que só tem um ano de vida. Há outro novíssimo (Botika, autor de dois romances já lançados no Brasil) e um canônico (Aloísio Azevedo e seu O Cortiço). Nesse caso, a nacionalidade é mais um obstáculo, como admitem os Reis: "Somos grandes apreciadores da literatura brasileira. Infelizmente, em Portugal ela está pouco divulgada e o público mostra desinteresse. A crítica também não ajuda, pois ignora os autores brasileiros".

Mas há aliados inesperados: acontece que as redes sociais não se limitam a irrigar a Primavera Árabe ou a atiçar os Indignados espanhóis. Davi Araújo contatou a Eucleia através do Facebook, solicitando a amizade de João e Natália. Depois, submeteu-lhes a sua obra, que foi analisada e aprovada.

Livro Ruído, de 220 páginas (algo raro para uma estreia), saiu em setembro, com tiragem inicial de 500 exemplares. O autor revela uma voz singular e madura, e uma expressão lírica sedutora, esgrimindo ampla gama de recursos poéticos. Há uma sincronia feliz entre significado e significante, como no poema Vernaculáceo:

"Aja o som em cada pranto, haja o rito...

aja o dom em cada santo, haja o mito...

e o espanto, portanto;

haja o dito... aja o bom em cada quanto,

haja o grito... aja o tom em cada canto".

A destreza verbal não se compraz meramente num malabarismo ornamental. Por vezes desconcertante, a imagética é sempre límpida e objetiva, ainda que impressionista. Os versos ora roçam o sálmico, ora o resolutamente profano, quase o blasfemo. A verve constante exerce um efeito de distanciamento e desarma o sentimental (mas não o sentimento), como no verso: "A boemia é dose". Ou neste outro: "Nado na água e trepo em árvores, apenas respectivamente".

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Davi Araújo organiza judiciosamente o uso de coloquialismos, cuja incontinência poderia resvalar para o prosaico e o trivial. Mas nem sempre se esquiva à tentação das aliterações que perturbam o sentido:

"Tabuada iníqua que sempre míngua linda, ou acróstica.

Língua calejada de uma cobra

que nos linka acrobática. Broca que me marca a cabeça

como certa cor acústica.

Cigana que grita contra algum kharma, flor ou suástica".

O melhor do poeta está na reflexão sobre o ofício poético e nas ruminações sobre o devir ontológico: "Quando o tempo chegar/Ele não irá mais embora/Vamos nos desgovernar agora/O tempo há de reinar, senhora".

Será que esse Davi brasileiro jogará em casa? O exemplo português está aí. Ele lembra que se a literatura nem sempre é um negócio da China, também não precisa se reduzir às bugigangas postiças de uma loja chinesa.

CORREIO BRAZILIENSE - O rio de palavras de Guimarães Rosa

Com edição limitada, coletânea reedita Grande sertão: veredas e traz obra inédita do escritor que revolucionou a linguagem do romance

23/12/2011 - Um dos grandes nomes da literatura latino-americana, o escritor Guimarães Rosa ganha importante registro (Milla Petrillo/CB/D.A Press/Reprodução/D.A Press - 23/04/86)Um dos grandes nomes da literatura latino-americana, o escritor Guimarães Rosa ganha importante registro

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João Guimarães Rosa era assim, quando não existia uma palavra que definisse o que queria dizer ou quando a sonoridade não era aquela que gostaria que tivesse, ele inventava. Foi desse modo, com a linguagem que aprendeu e criou, que ele escreveu Grande sertão: veredas, obra-prima da literatura brasileira. O clássico foi reeditado para voltar a ser como os exemplares dos anos 1950 e 1960. Começa com a capa, um fac-símile de uma página do livro que se tornaria o Grande sertão, à época com o nome provisório de Veredas mortas.

A nova edição seria apenas mais uma entre as dezenas que já saíram, mas uma novidade torna o livro especial: ele vem em um box, acompanhado de outras duas publicações. Uma delas é A boiada, relato inédito do escritor, resultado de uma expedição para conhecer os rincões de Minas Gerais, em 1952. Páginas dos cadernos de viagem de Guimarães são reproduzidas tais como foram redigidas pelo escritor, às vezes de próprio punho, a lápis, à caneta. E algumas vezes datilografadas, com rabiscos, correções e anotações do autor. Toda a história é toda contada pelas reproduções dos originais. No fim, duas professoras especializadas na obra, Sandra Vasconcelos e Mônica Meyer, comentam os textos.

Vozes potentesO outro livro que acompanha o box traz depoimentos, declarações e opiniões inéditas de nomes como Antonio Cândido, Haroldo de Campos, Antonio Callado, Décio Pignatari, Paulo Mendes da Rocha e Sérgio Sant'Anna sobre escritor e obra. Como romance literário, a obra provou que “o sertão é do tamanho do mundo”, ganhando traduções em vários idiomas. Para satisfazer a curiosidade dos leitores, acompanham impressões de capas das edições publicadas em países como Itália, Alemanha, Argentina, Holanda, França e Dinamarca.

A nova versão de Grande sertão: veredas, lançada pela editora Nova Fronteira, não faz parte de nenhuma comemoração no calendário de Guimarães Rosa. Ele nasceu em 1908, portanto, o centenário de nascimento passou. O livro foi editado em 1956: o cinquentenário também passou. A ideia do box surgiu com a oportunidade de lançar a primeira edição com os escritos de A boiada, antes restritos aos pesquisadores do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo (USP).

Mesmo com o ineditismo de textos e um luxuoso acabamento, a coleção deixa a sensação de que está faltando alguma coisa. Tal como as três obras que compõem o box, Sagarana, livro de contos publicado em 1946, merecia um novo tratamento e inclusão na coletânea. Foram impressas apenas 10 mil cópias, vendidas exclusivamente pela Livraria Saraiva ao preço de R$ 94,90.

GRANDE SERTÃO: VEREDASCaixa comemorativa com três livros. Nova Fronteira. R$ 94.90.

O ESTADO DE S. PAULO - A arte exclusiva de Waltercio

Livro do escultor, Outra Fábula, que conclui outro, Salas e Abismos, é lançado só para colecionadores

ANTONIO GONÇALVES FILHO

23/12/2011 - A arte do carioca Waltercio Caldas, feita da eliminação do excesso, ganhou, desta vez, um adendo. Trata-se de Outra Fábula, edição para colecionadores da Cosac Naify que complementa o livro Salas e Abismos, lançado pela mesma editora no ano passado, por ocasião da reabertura, no Rio, da exposição homônima realizada no Museu Vale, em Vila Velha (ES) no final de 2009. A caixa, com tiragem de apenas 300 exemplares numerados e assinados, é um exercício de síntese, uma instalação em formato de livro em que Caldas usa os nomes de artistas de sua predileção num ambiente gráfico semelhante às 12 salas que mostrou na exposição do Museu Vale.

Waltercio, um dos artistas brasileiros mais conceituados entre críticos e curadores estrangeiros, fez um livro sem verbo. O que liga os nomes de Mondrian, Braque, Matisse, Velázquez, Picasso e Morandi não é nem mesmo um tênue fio que poderia, de alguma forma, sugerir uma interpretação heterodoxa da história da arte. Construir Outra Fábula, diz Waltercio, foi para ele mais uma questão escultórica do que literária. "Penso na arte como um fluxo de rupturas, cada uma delas contribuindo para o fluxo do rio da arte", explica Waltercio, que subverte a metáfora do rio que corre para o mar ao

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criar um "ambiente gráfico" em que os nomes dos artistas citados não deságuam no espaço do indiferenciado, mas no próprio rio do qual partiram. Tradição e ruptura nadam juntas nele.

Pioneiro na elaboração do que se chama "livro de artista" - obra de caráter experimental equivalente a uma peça visual -, Waltercio começou a produzir para o suporte com Aparelhos (1978), logo seguido por Manual da Ciência Popular (1981) que, apesar do título, não é uma didática exploração da poética construtivista do artista e sua relação conturbada com o olhar fotográfico, ao qual resistem seus objetos. Antes, o escultor já assinara livros exclusivos, sendo os casos mais radicais as obras Voo Noturno (1967), com três exemplares, Quem É, Quem É (1969), exemplar único, e O Colecionador (1974) tiragem de três exemplares.

No entanto, o grande impacto viria mesmo em 1996 com O Livro Velázquez. Não há nele a intenção de "explicar" a obra do pintor espanhol nem a meta pedagógica de promover uma revisão na história da arte. Por meio de imagens fora de foco do quadro As Meninas e do próprio texto, Waltercio tira o leitor de sua zona de conforto e lhe dá em troca uma possibilidade de (re)ver a construção do espaço por Velázquez, ao remover os protagonistas de sua obra-prima e deixar apenas o ambiente para que o olho passeie por ele à procura das figuras fixadas em sua remota lembrança da pintura.

A ausência, nas obras de Waltercio Caldas, é até mais importante que a presença, pois é ela que desperta o fluxo da memória e faz com que o espectador invada esse ambiente e seja por ele invadido, deixando-se levar por sua instabilidade. Em certo sentido, Outra Fábula radicaliza a experiência de O Livro Velázquez, ao sugerir a construção de um ambiente "habitado" por grandes nomes que já serviram de inspiração para esculturas e instalações do artista. Morandi segue como um dos nomes associados com maior frequência a Waltercio depois de 1975, ano em que ele assinou uma peça com duas pequenas garrafas de porcelana branca separadas por uma rolha que, interposta entre elas, faz com que o olho redesenhe o espaço, fazendo surgir um terceiro vasilhame, virtual, desestabilizador, entre as duas.

A série Veneza, de 1997 (ano em que o artista representou o Brasil na Bienal de Veneza), está repleta de obras produzidas em aço inoxidável que remetem às formas de Morandi e passam por uma metamorfose. Objetos tridimensionais transformam-se em desenhos, que, por sua vez, sugerem outras formas, construídas mentalmente no espaço pelo espectador num estimulante exercício gestáltico.

Waltercio não faz paródia da história da arte. Acredita nela para valer, mas recusa a adjetivação. Não existe a palavra "morandiano" em seu dicionário. "É preciso, por exemplo, buscar mais as diferenças entre a arte dos etruscos e Giacometti do que suas relações de semelhança", observa, concluindo que o "desconhecido" migra de uma época para a outra - e isso é o que lhe interessa, justamente essa relação com o mistério, o enigma, que faz sua arte avançar, não a simples citação.

Objetos banais do cotidiano - entre os quais as garrafas de Morandi - oferecem múltiplos significados estéticos. A tarefa do artista é, de fato, repensar o trabalho anterior a ele, o que justifica a presença de nomes como Morandi, Matisse, Mondrian ou Velázquez num livro como Outra Fábula. Se, nesse gênero narrativo tipicamente oriental (depois incorporado por Esopo), os protagonistas são animais ou forças da natureza, na "fábula" de Waltercio o que importa é a evocação de nomes que não aceitem sobreposições, mas convidem o espectador a pensar numa escultura ou num ambiente como menos importantes do que o lugar que eles ocupam - em outras palavras, imaginar um objeto pode ser um exercício mais estimulante do que ter esse objeto físico diante dos olhos.As formas sugeridas tomam o lugar das coisas, dos objetos, como nas telas de Morandi. Essa é a "moral" da "outra fábula" de Waltercio.

A palavra chave para entrar nesse universo fabular, garante o artista, é transparência, como no livro de Velázquez, em que o artista torna o campo pictórico opaco, embaçado, justamente para colocar um ponto de interrogação sobre a imagem translúcida do mestre espanhol

Ele fez o mesmo no livro dedicado a Matisse (1978), jogando talco para forjar a experiência dessa opacidade e desfazer o jogo ilusório da reprodução gráfica do mestre francês, que sempre defendeu a ideia de uma visão infantil, inaugural, do mundo. "Matisse é só uma sugestão, porque não fiz um livro sobre artistas, mas com palavras, nomes quase abstratos", diz Waltercio , cuja atuação é mais associada ao trabalho escultórico e às instalações, a despeito de seu passado gráfico. Também um

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pouco por isso, justifica, Outra Fábula existe. Afinal, Waltercio pertence a uma geração em que as monografias sobre artistas eram escassas e a oportunidade de fazer um livro de artista, quase nula.

ARQUITETURA E DESIGN

FOLHA DE S. PAULO - Centro Niemeyer da Espanha fecha no dia do aniversário do arquiteto

(15/12/2011) DA BBC BRASIL - Os 104 anos do arquiteto Oscar Niemeyer estão sendo lembrados de maneira peculiar na Espanha nesta quinta-feira. Centenas de manifestantes gravaram um vídeo de parabéns ao brasileiro em frente ao centro cultural projetado por ele, em Avilés, que fecha as portas no dia de seu aniversário.

Os parabéns cantados em português, espanhol e inglês fazem parte da campanha popular "Eu apoio o Centro Niemeyer". Trata-se de um último apelo para impedir o fechamento do espaço cultural em virtude de uma disputa política.

O centro ficou aberto por menos de um ano. Foi inaugurado no dia 25 de março de 2011 com um concerto da banda de jazz do cineasta Woody Allen.

Única obra do arquiteto na Espanha, o centro conta com teatros, cinemas, auditórios, salas de exposição, espaços gastronômicos e uma área aberta inspirada na Praça dos Três Poderes, de Brasília, além de um mirante parecido com o do Museu de Niterói.

Mas o projeto que colocou o pequeno município de Avilés, de 80 mil habitantes, no mapa cultural da Espanha mudou de rumo após as eleições regionais.

O novo governo conservador e a administração do Centro Niemeyer entraram em conflito e a decisão foi não renovar a licença de funcionamento do complexo, que vencia no dia do aniversário do arquiteto.

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O próprio Niemeyer entrou na briga pelo centro, divulgando carta aberta em apoio à diretoria (BBC Brasil)

A disputa começou com acusações mútuas. O governador Francisco Alvarez-Cascos criticou a programação dos eventos (coordenada por nomes como Stephen Hawking, Paulo Coelho e Woody Allen) e disse que a contabilidade estava irregular.

A direção do centro negou qualquer erro nas contas, entregando a documentação à Justiça. Os diretores também acusaram o governo regional de perseguição e tentaram negociar até o último momento.

DERROTA

A reunião final, na passada segunda-feira, durou 13 horas e acabou sem acordo, sob ameaças de processos milionários das partes.

Centro cultural fecha um ano após ser aberto em meio a uma briga política que envolve o governo (BBC Brasil)

Para o diretor geral do centro, Natálio Grueso, o fechamento do espaço cultural significa "uma derrota da sociedade civil".

"Em quatro meses o governo fez de tudo para acabar com o Centro Niemeyer: críticas com desprezo à programação, negação da legitimidade da direção, acusações de irregularidades sem prova alguma. Eles também se fecharam ao diálogo e até a ouvir os pedidos dos cidadãos, de artistas e intelectuais, nem mesmo os de Oscar Niemeyer", disse Grueso à BBC Brasil.

Grueso insistiu em que todas as contas e documentação foram entregues à Justiça "porque não temos nada que esconder" e "porque é intolerável que se questione a honra e dignidade dos profissionais com quem trabalhamos".

DESGOSTO

Entre os pedidos para que o Centro não fosse fechado estavam os de artistas como o ator americano Kevin Spacey que, antes de atuar na peça Ricardo III, encenada em Avilés, disse ao público que saísse às ruas "para enfrentar à arbitrariedade política contra o Centro Niemeyer".

O arquiteto brasileiro também tentou intervir. Em uma carta aberta divulgada em outubro, Niemeyer usou expressões como "notícias inquietantes", "lamento" e "desgosto" ante a ameaça de fechamento do centro, "um projeto que realizei com o maior carinho", dizia.

Sobre as acusações contra os administradores, afirmava: "Solidarizo-me com Natálio e seus companheiros de trabalho". "Confio em que o pior não aconteça", afirmou então.

A população de Avilés se uniu no movimento "Eu Apoio o Centro Niemeyer". A campanha teve passeatas, protestos e uma corrente humana com quatro mil pessoas ao redor do espaço cultural.

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Os moradores também iluminaram o centro com velas e colheram dez mil assintauras. Em vão. O último ato foi a homenagem, com sentimento de desgoto, ao ilustre aniversariante.

LE MONDE (FRANÇA) - Et de nulle part surgit Brasilia

Bruxelles, envoyée spéciale

La capitale fédérale du Brésil a été édifiée en quarante mois. Un défi architectural et humain que relate le festival Europalia, à Bruxelles

De 1956 à 1961, le Brésil vit des années dorées. En cinq ans, le pays s'invente une épure moderniste, fondatrice de l'identité brésilienne contemporaine sur la scène mondiale. La crise politique ouverte après le suicide du président autocrate Getulio Vargas, en 1954, trouve son issue dans l'élection de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976), en janvier 1956. Maire de Belo Horizonte, dans l'Etat du Minas Gerais, et gouverneur de ce même Etat, ce type élégant au front large avait un slogan prometteur : " Cinquante ans de progrès en cinq ans ". Elu, il s'attelle vite à la tâche, porté par son époque. Il lance le projet de la nouvelle capitale fédérale, Brasilia, vitrine de la destinée et du futur radieux du Brésil, sans se soucier de creuser la dette (" Cinquante ans d'inflation en cinq ans ", persiflèrent les critiques).

Le Festival biennal des arts et de la culture Europalia présente, parmi une vingtaine d'autres, une exposition consacrée à cette cité " allusive ", selon les termes de l'écrivain Guimaraes Rosa, parce qu'en en observant les prémices on comprend la construction d'une nation moderne et mystique, audacieuse et inégalitaire. " Building Brasilia " montre à Bruxelles, jusqu'au 15 janvier 2012, 62 photographies de Marcel Gautherot, Peter Scheier et Thomaz Farkas, mises en regard avec des Polaroids récents et oniriques de la capitale. Les images du Français Marcel Gautherot (1910-1996), ami de l'architecte communiste Oscar Niemeyer, sont peuplées de ces " hommes-fourmis " construisant les coupoles du Congrès, les carcasses fantomatiques des ministères, la couronne d'épines de la cathédrale.

La fascination exercée par Brasilia vient de ce que la nouvelle capitale, construite à partir de rien, en moins de quatre ans, sur un plateau (le Planalto Central), est née d'un projet radical. Le Corbusier, qui est venu au Brésil en 1937 et fut coauteur en 1947 avec Oscar Niemeyer du siège de l'ONU à New York, avait imaginé en 1951 la ville nouvelle de Chandigarh, en Inde, appliquant la charte d'Athènes de 1933, avec ses zones (administratives, industrielles, résidentielles) clairement définies. Son influence fut décisive. Mais Brasilia a une symbolique extrême, conquérante et futuriste. L'implantation de ce modèle moderne dans le Planalto Central, désertique, se fait par le biais de " noyaux techniques

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Le palais des Congrès de Brasilia en 1960. MARCEL GAUTHEROT/ INSTITUTO MOREIRA SALLES

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de peuplement " qui deviendront des " villes satellites " où se sont réfugiés les travailleurs et les laissés-pour-compte - un échec pour l'architecte Oscar Niemeyer.

Ce dernier souhaite bannir la propriété privée ; il réorganise la vie à Brasilia en unidades de vizinhaças, " unités de voisinage ", conçues pour les employés administratifs ou les serviteurs de l'Etat. Avec l'urbaniste et architecte Lucio Costa, il imagine des immeubles sur pilotis, des maisons et leur garage reproduits à l'identique, puis des demeures ministérielles en bord de lac.

Le modèle fascine le DJ américain Jeff Mills, 48 ans, pionnier de la musique techno, re-mixeur inspiré de la musique du film Metropolis, de Fritz Lang, et qui prépare un projet musical et plastique sur Brasilia. " Cette ville du futur peut être un modèle de colonisation vers d'autres planètes, raconte-t-il. La structure est étonnante, l'architecture d'Oscar Niemeyer aussi. On a amené des gens de nulle part pour la construire et l'habiter. Je voudrais savoir comment pensent les habitants de Brasilia, ceux qui côtoient de près cette architecture et ceux avec qui on a constitué des réservoirs humains à côté, parce qu'ils pouvaient servir. "

" Point névralgique de la planète ", située à la confluence exacte des trois grands fleuves sud-américains (Amazone, Rio de la Plata, Sao Francisco), la région de Brasilia a attiré depuis longtemps bien des millénaristes, réfugiés sur le Planalto mis à l'abri d'une possible montée des eaux par son altitude (environ 800 mètres), ainsi que les amateurs d'ovnis - un aéroport pour soucoupes volantes a été aménagé à Alto Paraiso, dans le nord de l'Etat de Goias. Les autorités n'ont pas hésité à jouer du mysticisme pour justifier la folle et coûteuse construction de la capitale - Iara Kern, auteure du livre ésotérique Brasilia Secreta, suggère ainsi que Juscelino Kubitschek est une réincarnation du pharaon Akhenaton...

L'année 1957, l'urbaniste Lucio Costa (1902-1998) gagne le concours officiel en dessinant une croix sur un papier blanc : " Le geste primaire qui prend possession d'un lieu, le signe de croix, disait-il. Deux axes, deux croisements. Axe gouvernemental, axe résidentiel. Commerce et culture au croisement. " Le Planalto Central est tout en horizons et en nuages changeants. En été, les pluies sont torrentielles. En hiver, le ciel est pur, l'homme habite au plus près de la Voie lactée. " Le ciel est la mer de Brasilia ", disait Lucio Costa. Roberto Burle Marx, paysagiste magicien (1909- 1994), a dû s'ingénier à créer de l'ombre, de vastes plans d'eau. Il a fallu trouver des plantes rampantes pour protéger le sol contre la sécheresse et l'érosion. Apporter de plus loin, du nord, des palmiers buritis.

Surgie en 1822, au moment de l'indépendance du Brésil, l'idée de faire table rase de la mémoire coloniale (avec la ville de Rio de Janeiro comme capitale) ressurgit un siècle plus tard : une première pierre est posée pour le centenaire de l'indépendance. Au début des années 1920, la colonisation intérieure du Brésil est en marche. Claude Lévi-Strauss, arrivé au Brésil en 1935, en rappelle le processus dans Tristes Tropiques : " Curitiba, capitale du Parana - l'un des 26 Etats fédéraux du Brésil - , est apparue sur la carte le jour où le gouvernement décida de faire une ville. "

Belo Horizonte fut créée de même. Goiania aussi, en 1933, dont l'anthropologue français évoque la construction : " Comme aucun accident naturel n'était là pour importuner les architectes, ceux-ci purent travailler sur place, comme ils l'eussent fait sur des épures, (...) une plaine sans fin qui tenait du terrain vague et du champ de bataille, hérissée de poteaux électriques et de piquets d'arpentage (...). Cadmus - fondateur de Thèbes dans la mythologie grecque - , le civilisateur, avait semé les dents du dragon. Sur une terre écorchée et brûlée par le souffle du monstre, on attendait de voir pousser les hommes. " Ce que la romancière Clarice Lispector traduira plus tard à propos de Brasilia : " Les deux architectes n'ont pas pensé construire de la beauté, ce serait facile : ils ont édifié la frayeur inexpliquée. "

La construction de Brasilia, en quarante mois, est une performance technologique, avec acheminement des matériaux par avion, travail du béton armé, audaces équilibristes. Elle surfe sur une immense vague de nouveautés, industrielles et culturelles. Installée en 1953 à Sao Paulo, Volkswagen fabrique ce qui sera les ingrédients nécessaires du paysage brésilien pendant les cinq décennies suivantes : la camionnette Combi, assemblée avec 50 % de pièces nationales, et la Fusca, la fameuse Coccinelle, qui sort de l'unité de fabrication Anchieta, inaugurée à Sao Bernardo dos Campos (sud de l'Etat de Sao Paulo) par Kubitschek en 1959.

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Le Brésil de cette époque, c'est aussi la révolution de la bossa-nova, musique aux formes souples et à l'architecture rigide. En 1956, Vinicius de Moraes, grand poète et diplomate dissipé, réfléchit à une tragédie, Orfeu da Conceiçao, une Phèdre noire et populaire. Il cherche un décorateur et trouve ainsi Oscar Niemeyer. Ses volutes de papier ressemblent aux coupoles du Congrès. Pour la musique, il embauche le dandy Antonio Carlos Jobim. Adapté au cinéma par Marcel Camus, Orfeu Negro est Palme d'or à Cannes en 1959, alors que Brasilia est en voie d'achèvement.

En 1960, " tout conspirait à notre cause. Le monde nous regardait avec un mélange d'envie et d'admiration. Vinicius de Moraes avait composé Orfeu. Nous étions le pays du "il l'a dit, il l'a fait" ", écrivait le quotidien O Globo. En 1960 toujours, on inaugure à Sao Paulo TV Excelsior, en partie financée par la richissime famille Simonsen. Jean-Paul Sartre, qui est en visite avec Simone de Beauvoir - ils sont guidés par l'écrivain bahianais Jorge Amado, qui veut les amener à Brasilia -, y est invité. L'entretien diffusé dure cinq heures. " Comment une télévision capitaliste, demande Sartre, peut-elle dépenser autant d'argent pour que nous puissions poursuivre notre campagne pour le socialisme ? " Réponse : au Brésil tout est alors un peu différent.

Véronique Mortaigne

FOLHA DE S. PAULO – Novo IMS empilha espaços expositivos

Arquitetos Marcelo Morettin e Vinicius Andrade projetam museu vertical para ser futura sede do centro cultural

Prédio terá três salas expositivas, biblioteca, cinema e auditório e deverá receber grandes exposições temporárias SILAS MARTÍ, DE SÃO PAULO

(22/12/2011) Um prédio de vidro na avenida Paulista será a nova sede do Instituto Moreira Salles em São Paulo. No lugar da casa acanhada que divide com uma agência bancária em Higienópolis, o centro cultural pretende construir até 2014 um novo museu vertical. Serão três salas expositivas empilhadas uma sobre a outra, todas com pé-direito duplo para abrigar obras de arte de grandes dimensões.

Foi essa a solução que os arquitetos Marcelo Morettin e Vinicius Andrade, nomes fortes da nova arquitetura paulista, encontraram para abrigar 1.200 metros quadrados de área expositiva num terreno estreito entre a Bela Cintra e a rua da Consolação.

O projeto segue alguns preceitos clássicos do modernismo forjado no Brasil, como um andar térreo que se funde com a calçada e a predominância de ângulos retos.

Mas também incorpora elementos contemporâneos, como a distribuição vertical e a fachada translúcida, que deve expor os espaços internos ao movimento da Paulista.

"É um material afastado da fachada original, como uma segunda pele, que revela um pouco do interior sem expor tudo", explica Morettin. "Esse museu não poderia dar as costas para a Paulista. A gente se preocupou em criar uma relação franca com a cidade."

De certa forma, o novo IMS lembra dois outros projetos recentes de centro cultural vertical: o Museu da Imagem e do Som, que está sendo construído no Rio pelo escritório americano Diller Scofidio + Renfro, e o New Museum, projeto da dupla japonesa Sanaa, em Nova York.

Mas enquanto Manhattan tem um prédio que lembra caixas empilhadas, forradas com uma treliça metálica também translúcida, São Paulo terá uma enorme caixa retangular abrigando uma série de volumes irregulares, que desafiam as linhas ortogonais de fora.

"Tivemos vontade de fazer um prédio forte, que se impusesse na Paulista", diz Morettin. "Mas os espaços lá dentro quebram essa imagem, criam um contraponto entre suas formas mais livres e a concisão da fachada."

ESTREIAS EM SP

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Além das três salas de exposição, o museu terá uma biblioteca de fotografia, um auditório e um cinema. Tudo isso faz parte da estratégia do IMS de ampliar a presença em São Paulo, onde até hoje só realizou grandes mostras em parceria com outros museus.

Mantendo todo seu acervo na sede carioca, o instituto pretende usar os espaços livres no novo museu para abrigar mostras temporárias maiores e mais frequentes.

Segundo Flávio Pinheiro, superintendente do IMS, a ideia é que as exposições passem a estrear em São Paulo e depois seguir para o Rio, ao contrário do que ocorre hoje.

MODA

ZERO HORA - História de vestirMuseu da Moda, em Canela, apresenta a evolução da vestimenta ao longo dos séculos

MODA

(27/12/2011) Exposta em manequins, a moda que vestiu diferentes povos por todo o mundo revela a evolução das roupas e a razão pela qual o modo de vestir marca gerações. Saída dos livros, a história das vestimentas ganha formas reais em 150 modelos confeccionados especialmente para o Museu da Moda, que será inaugurado hoje em Canela.

Idealizado por dois anos pela estilista porto-alegrense Milka Wolff, 69 anos, o memorial percorre a linha das costuras e dos tecidos de forma fidedigna, desde a Antiguidade. Ao entrar no museu, a pirâmide egípcia revela os detalhes que, em 3 mil metros quadrados, se tornam mais ricos em peças e adereços.

– Procurou-se fazer tudo o mais real possível, para ser um marco para quem gosta e estuda moda. Até então, toda essa história estava apenas em livros – reforça Milka, que empregou no museu sua experiência de 53 anos trabalhando com moda.

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Por essa preocupação, o que se vê nas vestimentas são tecidos parecidos com os que se usavam em cada época. Por exemplo: entre romanos, egípcios, assírios e persas, um tear antigo lembra que, até por volta de 1700, tudo era feito de forma manual, inclusive as costuras.

Sabendo desses detalhes, explicados no museu, é possível imaginar o trabalho para a confecção de um vestido da rainha francesa Maria Antonieta. Em um dos modelos expostos, réplica do final do século 18, um vestido de tafetá de seda pura e fios de ouro evidencia a riqueza real e o peso para se manter elegante. Armado com ferro, o manequim suporta quase 10 quilos.

– Selecionamos as roupas que tinham mais importância para mostrar o que marcou cada época – explica a estilista.

Da Antiguidade, passando pela Idade Média, pelo Iluminismo, pela Renascença e pela Era Napoleônica, a história segue ao segundo pavilhão, onde as vestes do século 19 se revelam menos volumosas, mas não com menos detalhes. Dez vestidos lembram a história da princesa Diana. Para não deixar dúvidas da semelhança, Lady Di aparece em fotografias usando os modelos recriados para o museu.

[email protected] FRANZOSI | Sucursal da SerraMuseu da Moda

> Rodovia Canela – Gramado (ERS-235), 1.810

> Aberto diariamente, a partir de hoje, das 9h às 18h

> R$ 30 (adultos) e R$ 15 (crianças e pessoas acima de 60 anos)

> Telefone: (54) 3282-1121

Linha do tempo

ANTIGUIDADE A PARTIR DE 4000 A.C.

Basicamente em cores neutras e com alguns adornos, são destacadas peças dos povos gregos, egípcios, assírios e persas.

ERA MEDIEVAL DE 512 A 1430

Cortes mais retos, assim como na Antiguidade, mas com mais cores.

RENASCENÇA DE 1431 A 1770

Há mais cores e diferentes tecidos, com rendas e bordados. Mostra a evolução em decotes e mangas.

ILUMINISMO DE 1711 A 1785

Apresenta os vestidos armados e dá início à era das costuras com máquina.

RAINHAS EUROPEIAS

Réplicas de vestidos de rainhas da dinastia Bourbon mostram a riqueza das vestimentas. Uma réplica de traje de Ana da Áustria, em veludo verde, pesa 20 quilos.

SÉCULO 19 E 20

Dividido em Belle Époque, Avant-garde e as décadas separadas desde 1950, a evolução da moda nesses dois séculos fica evidente em cortes, cores e volumes.

SÉCULO 21

Em um salão de mostras temporárias, a moda do século 21 estará em mutação. A exposição começa com vestidos luxuosos para festas e noivas. Depois de seis meses, deve receber os clássicos do cinema, coincidindo com o Festival de Cinema de Gramado.

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POLÍTICAS CULTURAIS

FOLHA DE S. PAULO - Cultura dependente / Editorial

(20/12/2011) A ideia de que a indústria cultural no Brasil seria "inviável" sem a captação de recursos por intermédio de leis de incentivo deve ser vista com cautela. É certo que iniciativas com menos capacidade de obter retorno no mercado demandam para subsistir algum tipo de apoio do Estado, seja diretamente, seja por intermédio de estímulos fiscais concedidos a empresas.

Ocorre que a legislação em vigor dissuade o setor privado de investir capital próprio na cultura -e, indiretamente, estimula a transferência de dinheiro público para projetos propensos ao êxito comercial.

A explicação para esse desvio é mais simples do que sua correção. Ao facultar, por meio de leis como a Rouanet, o direito de repassar para a cultura recursos que seriam gastos em impostos, o Estado concede às empresas o poder de decidir que propostas serão beneficiadas.

O Ministério da Cultura não concede as verbas, apenas verifica se os projetos atendem às exigências e permite a captação. Uma vez autorizados, tanto um instituto ligado a um banco quanto um cantor de sucesso ou um pesquisador do folclore brasileiro do século 18 podem pleitear o apoio financeiro de companhias privadas ou estatais.

Como estas obedecem à lógica do retorno publicitário, tendem a contemplar as iniciativas com maior probabilidade de atrair as atenções do público e da mídia -em geral concentradas na região Sudeste, em mãos de produtores preparados para praticar o necessário lobby nos departamentos de marketing.

Não há dúvida de que as leis de incentivo propiciaram um bem-vindo florescimento cultural no país. Mas, com o passar do tempo, alguns vícios se tornaram patentes. O atual modelo infla valores de produção, desestimula a concorrência e premia a ineficiência.

Em reportagem publicada ontem pela Folha, profissionais da área afirmam que os custos disparam quando se sabe que o projeto é beneficiado pela legislação de incentivo. Afinal, quem paga a conta é o "patrocínio" -na realidade o Estado ou, em última instância, o contribuinte, que ainda se vê submetido, como consumidor de cultura, aos preços muitas vezes salgados pedidos nas bilheterias.

O meio cultural tornou-se dependente dessa espécie de capitalismo sem risco, paraestatal, praticado por agentes privados com acesso a dinheiro público. Nada disso, aliás, é estranho a uma certa cultura empresarial brasileira, habituada a proteções e benesses oficiais.

Como se sabe, está em curso uma proposta para alterar a Lei Rouanet, que poderá corrigir algumas dessas distorções. É importante reconhecer que a cultura merece apoio do Estado, em especial nas atividades de formação, no reconhecimento da pluralidade e nas manifestações com menos oportunidades mercadológicas. Nos demais casos, o poder público deveria atuar, sobretudo, como indutor do genuíno investimento privado -deixando de ser seu mal disfarçado substituto.

OUTROS

FOLHA DE S. PAULO - Ilustrador se divide entre sucesso e polêmica nos EUA

Ricardo Cortés assina desenhos de best-seller que aborda sono das crianças

Antes de "Vai Dormir, P*##@", de Adam Mansbach, ele teve rejeitado livro infantil sobre maconha

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Ilustração de ‘É Só uma Planta’, de Ricardo Cortés, que fala sobre maconha

VERENA FORNETTI, DE NOVA YORK

(15/12/2011) O americano Ricardo Cortés, 38, tem passado conflituoso com o mercado editorial.Há cerca de cinco anos, quando tentou lançar "É só uma Planta", livro para crianças sobre maconha, bateu à porta de uma dúzia de editoras e ouviu "não".

Neste ano, entretanto, ao assinar as ilustrações de outro livro polêmico, "Vai Dormir, P*##@", virou sucesso.

A obra, escrita por Adam Mansbach, 35, tem formato de obra infantil, mas é voltada para adultos. Faz troça com o desespero dos pais ao por os filhos para dormir.

A mistura de versos singelos e palavrões já vendeu mais de 500 mil exemplares na América do Norte. A editora Sextante não divulgou os números do Brasil.

Mansbach, que escreveu o livro baseado nas frustrações ao colocar a filha na cama, brinca: "Existem coisas em casa que devem ser mantidas fora do alcance das crianças. O livro é uma delas".

"Não só mostra um nível de exasperação inadequada com que todos nos identificamos, mas expressa uma vulnerabilidade que me fez entender que eu não estou sozinho", resenhou um pai.

Neste mês, Cortés lança a terceira edição de "É Só Uma Planta". Há versão digital gratuita no site justaplant.com/portuguese.

O livro fala de uma menina que sente um cheiro "diferente" no quarto dos pais e começa a pesquisar a planta -conversando, por exemplo, com uma médica e um policial favoráveis ao uso.

A abordagem é controversa. Susan Lissim, de Nova York, escreveu: "Seria útil um livro para crianças explicando quem usa, por que, responsabilidades, implicações legais, mas não é o caso."

Cortés destaca que não acha que crianças devam experimentar maconha, mas defende que são um público adequado para a discussão da criminalização.

"Crianças estão envolvidas: há famílias dilaceradas pela prisão de pais que fazem uso recreativo de maconha."

Ele critica o tratamento diverso entre os livros. "Uma história para adultos fingindo ser um livro infantil, embora com palavrões, é mais fácil de digerir para a cultura dominante do que um livro infantil real lidando com assunto sério como maconha."

O ESTADO DE S. PAULO - Um museu como mirante

IMS apresenta novo projeto que deve revitalizar ambientes para as artes na Paulista

JOTABÊ MEDEIROS

21/12/2011 - A oferta cultural da financista Avenida Paulista deve melhorar consideravelmente em breve. Suprida por espaços esparsos (como o Centro Cultural da Fiesp, o complexo Reserva Cultural da Gazeta, o Itaú Cultural, o Masp e a Casa das Rosas), o maior centro capitalista do País deve

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receber agora os 1,2 mil m² do novo museu do Instituto Moreira Salles (IMS), entre as ruas Bela Cintra e Consolação.

O projeto, resultado de um concurso aberto em setembro, foi apresentado nesta segunda-feira pelo IMS. O vencedor é o escritório Andrade Morettin Arquitetos, que bateu cinco entre os melhores escritórios do País: Bernardes Jacobsen Arquitetura, SPBR Arquitetos, Una Arquitetos, Studio MK 27 (de Marcio Kogan) e Arquitetos Associados.

Serão três andares com cinema e auditório para 200 pessoas, uma biblioteca de fotografia, salas de aula para cursos, cafeteria, loja e administração. O edifício será acessível diretamente a partir da calçada da Paulista, já que haverá uma espécie de praça sob o edifício, um vão livre, aberto ao público. A construção, de aço e com fachada de vidro (uma "pele" dupla, que inclui u-glass, um vidro industrial) se inicia a 15 metros de altura do térreo. "Remete um pouco ao metrô, àquela coisa veloz. O visitante entra e de repente é lançado no edifício, quando vê já está dentro", diz o arquiteto Marcelo Morettin.

Morettin e seu sócio, Vinicius Andrade, buscaram valorizar, com seu projeto vencedor, a interface do prédio com o ambiente urbano. O arquiteto Vinicius Andrade considera que o edifício é também uma reação ao discurso de que o solo da Avenida Paulista só pode se valorizar enquanto mercadoria - discurso exacerbado recentemente pelo fechamento do Cine Belas Artes, um xodó da cidade.

"(O museu) é um mirante, mas ao mesmo tempo é um espaço urbano", diz Andrade. Os dois fundaram o escritório há 14 anos e, entre seus feitos, contam-se um centro cultural da Petrobrás em Itaboraí, o Instituto de Pesquisa HPV e o Edifício Comercial Box 298 (São Paulo), além de projetos temporários em instituições americanas, como o Bronx Museum, em Nova York, e o Museum of Contemporary Art, de Chicago.

São influenciados pela escola paulista de arquitetura, mas também admitem um leque amplo de referências, como Rem Koolhaas, Herzog & De Meuron e dos franceses Lacaton & Vassal, cujo entendimento da arquitetura consiste em evidenciar a montagem e as estruturas como parte da ação estética. O Museu do IMS na Paulista também se vale dessa estratégia, embora não seja transparente. "Não é imagético, não é um edifício que alguém veja e diga: ah, que bonitinho. É muito mais do que isso", diz Morettin."É muito mais contemporâneo que moderno. O moderno é às vezes intransigente."

A escolha da Andrade Morettin foi de responsabilidade de um júri que tinha personalidades da arquitetura, como Karen Stein, do MoMA (e jurada do prêmio Pritzker); Ricardo Koshalek, do Hirshhorn Museum; e Jean-Louis Cohen, do Institut Français d'Architecture, entre outros.

Até então, o IMS mantinha em São Paulo apenas a galeria da Rua Piauí, em Higienópolis, aberta em 1996, que a instituição considera de espaço insuficiente para abrigar mostras grandes.

FOLHA DE S. PAULO - Brasileiro bom

Seis especialistas provam espumantes nacionais, sem saber qual marca estavam bebendo, e escolhem os dez melhores para o Ano-Novo

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Funcionário gira manualmente as garrafas de vinho dentro dos caves (Ayrton Vignola - 09.dez.2009/Folhapress)JULIANA SAAD, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, e PRISCILA PASTRE-ROSSI, DE SÃO PAULO

(21/12/2011) No embalo da boa reputação dos espumantes brasileiros, que têm ganhado prestígio e fama internacionais, seis especialistas provaram, às cegas e a convite da Folha, 20 marcas de representatividade em São Paulo e, sem saber o que estavam bebendo, escolheram os dez melhores para a noite de Ano-Novo. Participaram da degustação no restaurante Eñe, no último dia 12, o especialista em vinhos Aguinaldo Záckia Albert, os colunistas da Folha Patrícia Jota e Josimar Melo, e os sommeliers Gabriela Monteleone, do D.O.M, Gianni Tartari, do Emiliano, e Manoel Beato, do Fasano.

As garrafas foram compradas em lojas, empórios e supermercados algumas horas antes da degustação, para que não houvesse problemas com a armazenagem.

A compra dos rótulos -apenas brut, o espumante seco, que é o mais produzido e consumido no Brasil- foi feita com base nas sugestões de profissionais da área.

Dada a proximidade das festas de Natal e Réveillon, as marcas que não estavam disponíveis para pronta-entrega foram desconsideradas.

O passo seguinte foi resfriar as garrafas, para servir os espumantes na temperatura ideal: entre 6ºC e 8ºC.

Tarefa para a sommelière do Eñe, Geíza Abreu, 20, que trocou por algumas horas o espumante espanhol -cava-, servido no restaurante, pela produção nacional.

À frente do serviço, foi ela quem comandou as quase três horas de vaivém de 120 taças numeradas e 20 garrafas, também numeradas, e embrulhadas em papel alumínio para tapar os rótulos.

MÉTODO

A cada gole, uma pausa. Após cada pausa, muitos comentários. Ao fim dos comentários, algumas anotações.

Considerações feitas, cada degustador deu nota de um a dez para cada espumante.

Eles seguiram as recomendações do método de avaliação mais comum e difundido no mundo, criado pelo italiano Giancarlo Bossi.

Ele leva em conta os exames gustativo (de características como acidez, equilíbrio, intensidade e maciez), visual (cor, limpidez e perlage -as borbulhas) e olfativo (fineza, intensidade e qualidade).

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Especialistas avaliam espumantes nacionais

A convite do 'Comida', o consultor e crítico de vinhos Aguinaldo Záckia, os colunistas Josimar Melo e Patrícia Jota, e os sommeliers Gabriela Monteleone, do D.O.M., Gianni Tartari, do Emiliano, e Manoel Beato, do Fasano, provaram 20 rótulos em degustação às cegas; pontuação foi de 1 a 10

Casa Valduga Premium Brut 2006

Nota média 8,5

Preço R$ 43,90

Método 'Champenoise'

Impressões Maduro, tem notas de amêndoas e presença mineral

Vallontano Brut

Nota média 8,3

Preço R$ 43,50

Método Charmat

Impressões Boas estrutura e persistência. Lembra o champanhe. Boca floral, com acidez viva

Angheben Espumante Brut

Nota média 8

Preço R$ 43

Método 'Champenoise'

Impressões Persistente. Pode acompanhar uma refeição. Fruta e acidez presentes

Privillege Peterlongo Brut

Nota média 7,7

Preço R$ 35,41

Método Charmat

Impressões Equilibrado e agradável, tem final longo. Boa efervescência

Perini Champenoise Brut

Nota média 7,6

Preço R$ 32,80

Método 'Champenoise'

Impressões Equilibrado,maduro e cremoso na boca. Com aromas de confeitaria

Salton Reserva Ouro Brut

Nota média 7,5

Preço R$ 35,90

Método Charmat

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Impressões Cítrico, com notas de frutas tropicais e boa acidez. Aroma floral

Almadén Brut

Nota média 7,1

Preço R$ 15,90

Método Charmat

Impressões Floral e fresco. Aromas de "tutti frutti", jasmime banana. Bom corpo e pouca acidez

Salton 100 Anos

Nota média 7,1

Preço R$ 99

Método 'Champenoise'

Impressões Maduro, complexo e bem equilibrado. Com boa acidez, nota de fruta e toque de hortelã

Casa Valduga Arte Brut 2010

Nota média 7

Preço R$ 43

Método 'Champenoise'

Impressões Notas frescas e cítricas, aromas de maçã-verde e toque floral. Maduro

Ponto Nero Gran Reserva Extra Brut

Nota média 6,9

Preço R$ 24,90

Método Charmat

Impressões Aroma de frutas tropicais e notas de tostado, defumado. Pouca acidez

FOLHA DE S. PAULO - Espumante gaúcho é a bandeira da produção de vinhos nacionais

O consumidor sabe que o espumante nacional é, muitas vezes, superior aos similares importados

AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT é autor de "Borbulhas: Tudo sobre Champanhe e Espumantes" (ed. Senac, 168 págs, R$ 55), ESPECIAL PARA A FOLHA

(21/12/2011) O mesmo papel que o vinho malbec desempenha na Argentina e o carmenère, no Chile, é exercido, no Brasil, pelo vinho espumante, especialmente o da serra gaúcha.

Ganhando medalhas em concursos internacionais e plenamente aceito no mercado interno, é uma verdadeira bandeira do vinho brasileiro.

Hoje, o consumidor sabe que o espumante nacional é, muitas vezes, superior aos similares importados, exceções feitas ao champanhe francês e ao franciacorta italiano.

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O seu principal fator de qualidade é o microclima da serra gaúcha. Situada no paralelo 29 de latitude sul, seu terreno montanhoso oscila entre os 600 m e os 1.000 m de altitude. O terreno é ondulado, de difícil mecanização, e seu solo é ácido, argiloso, na sua maior parte de arenito recoberto de basalto.

Os verões ali são amenos e os invernos frios, e o índice de chuvas é alto, variando entre os 1.700 e 2.000 mm/ano.

Essa umidade excessiva, aliada à insolação deficiente -características também encontradas na região francesa de Champanhe- seriam complicadores para a produção de vinhos normais, mas são bem-vindas para a produção de bons espumantes.

Nesse caso, a uva deve ter acidez alta e o vinho não deve ter alto grau alcoólico -para dar frescor. Os processos fermentativos geram aromas finos, nítidos e delicados. A acidez contribui para o desenvolvimento e a preservação dos aromas.

A serra gaúcha engloba as cidades de Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Flores da Cunha, Pinto Bandeira e Garibaldi, esta última considerada a capital do espumante brasileiro. Colonizada por imigrantes italianos saídos do Vêneto e do Trentino-Alto Ádige, que ali chegaram a partir de 1870, a produção de espumantes teve início no fim dos anos 1920, e ganhou impulso nas décadas seguintes.

As uvas utilizadas são a chardonnay, a pinot noir e a riesling itálica. A vinificação é feita tanto pelo método tradicional quanto pelo Charmat. Some-se a isso tudo a tecnologia moderna e o trabalho sério e temos o padrão de alta qualidade atingido pelos melhores produtores.

As festas de final de ano são um bom momento para brindar -com orgulho- com as borbulhas da serra gaúcha.

CORREIO BRAZILIENSE - A primeira exposição

A Exposição nacional o foi primeiro grande evento do Rio de Janeiro. Guardadas às proporções, foi mais ou menos como preparar a cidade para receber as Olimpíadas ou a Copa do Mundo. Na época, a capital fluminense contava com 800 mil habitantes. A exposição incrementou o volume de pessoas a circularem pelas avenidas cariocas e trouxe mais 1 milhão de pessoas.

Organizada pelo então prefeito, Pereira Passos com a intenção de exibir as reformas realizadas na cidade, a Exposição nacional aconteceu em mais de 30 pavilhões nos quais os estados brasileiros trataram de apresentar suas culturas e histórias. É o contexto e o resultado do evento que a mostra 1908 — Um Brasil em exposição, sobre a Exposição nacional tenta recuperar. “Queremos repensar esse momento de grande globalização do Brasil. O início do século 20 foi de internacionalização dos aspectos econômicos e culturais do país, um pouco como está acontecendo hoje”, repara Margareth da Silva Pereira, curadora da mostra.

Para conseguir reunir as fotografias e os desenhos apresentados na galeria principal da Caixa Cultural, ela recorreu aos arquivos do Museu Histórico Nacional, Biblioteca Nacional, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e Museu da República, todos no Rio de Janeiro. “A exposição deixou vestígios mais no plano cultural e intelectual”, explica a curadora. “Foi um grande evento e teve um grande impacto no desenvolvimento da cidade.” Mostras do gênero viraram moda na época e serviam como cartão de visita da prosperidade do país em tempos de industrialização e crescimento.

FOLHA DE S. PAULO – Sérgio / Artigo / Fernanda Torres

(23/12/2011) Minha mãe me deu a notícia: "O Sérgio, Nanda. Faleceu. Hoje".

Ficamos mudas ao telefone.

2011 levou Sérgio Britto e Ítalo Rossi. Os dois, junto com ela e meu pai, foram parceiros inseparáveis durante os 20 primeiros anos mortais de profissão e jamais se perderam de vista.

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John Gielgud viveu quase cem anos e viu toda a sua geração ir embora. Na compilação de cartas do ator britânico, o vazio provocado pela morte de companheiros mostra a melancolia de se ter a sorte de viver muito.

Sérgio dizia que se descobriu ator após uma real tentativa de suicídio, fingindo para os parentes a dor que deveras sentia.

Do quarteto, Ítalo e minha mãe possuíam o talento nato para o palco; meu pai se dividiu entre a ribalta e a coxia, foi ator, diretor e produtor, e Sérgio se revelou o mosqueteiro mais inquieto do grupo.

Principal idealizador do Grande Teatro Tupi, convenceu o bando a se engajar na teledramaturgia.

Fizeram 450 especiais de TV: tragédias gregas e dramas burgueses, O'Neill e Martins Penna, Sheridan e Noel Coward.

"Se surgia um nome quente, Sérgio logo se dispunha a trabalhar com ele", diz Fernanda.

Foi dirigido por Gianni Ratto, no Teatro dos Sete; pelo argentino Lavelli, em "A Gaivota"; por Ademar Guerra, em "Missa Leiga"; importou Gerald Thomas de Nova York e participou da inacreditável turnê de "Autos Sacramentais", de Pedro Calderón de la Barca, comandada por Vitor Garcia.

A experiência diz muito a respeito do espírito desbravador de Britto. Garcia concebeu o olho de Deus: um gigantesco diafragma de câmera fotográfica que se movia graças a pás gigantescas que abriam e fechavam o orifício.

Os atores, correndo risco de perder um pé, representariam saltando de pá em pá, obedecendo o ritmo de funcionamento da engrenagem. Inclinada no início, a criação terminaria aberta e na vertical. Através dela, se veria o homem avançar em sua busca por Deus.

Quanta audácia já teve o teatro!

A estreia aconteceria em um festival em Persepólis, no Irã, junto às ruínas dos palácios de Xerxes, Dario e Artaxerxes.

As toneladas de cenário se extraviaram em Roma. Quando finalmente pousaram na Mesopotâmia, o olho de Deus travou. Garcia, em protesto, decidiu que os atores fariam o espetáculo nus sobre um palco pelado. Fiasco total.

Ao ver o elenco adentrar o tablado como veio ao mundo, duas senhorinhas teriam comentado em tom audível: "Le sauvage brésilien! Le sauvage brésilien!"

Sérgio era um deles.

Eu fui a Cordélia de seu "Rei Lear". Era uma montagem confusa, apertada em um teatro de shopping.

Eu ria sem parar em cena; ria morta, ria em pé. Sérgio foi de uma paciência infinita. Nos gostávamos por osmose, antes mesmo de eu vir ao mundo.

Quando os primeiros aparelhos de vídeo cassete chegaram ao Brasil, Britto organizou um videoclube com raridades do teatro, da música e do cinema. Muita gente se educou ali. Mauro Rasi escreveu "O Baile de Máscaras" inspirado neste acervo e nos sócios do Teatro dos Quatro: Sérgio Britto, Mimina Roveda e Paulo Mamede.

Alérgicos a carnaval, o trio se fecha em um apartamento para assistir às quinhentas horas de "Berlin Alexanderplatz", de Fassbinder, durante os três dias de folia. É uma obra preciosa de Rasi.

Proponho uma leitura pública em nome dos ausentes.

Sérgio chamou por minha mãe dois dias antes de sua partida. No hospital, ela reconheceu os sinais do fim, tão semelhantes aos do Fernando, e se despediu do amigo.

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Não pude, ou não consegui, ir ao velório e nem ao enterro. E só chorei quando entrou o e-mail do Domingos de Oliveira confessando que também não tinha ido "por razões que espero poder explicar depois". Domingos é outro homem de teatro a quem amo como família.

Explicar a importância de um ator é um ato inútil. Destaca-se os êxitos, minimiza-se os fracassos, mas o resultado é sempre datado, enfadonho e impessoal.

Sérgio, Ítalo e meu pai são a juventude da minha mãe, a minha infância e a história do teatro brasileiro nos últimos cinquenta anos. Só Shakespeare dá conta de uma imensidão dessas.

O resto é silêncio.

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